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Dossier Entrevista
José Morais
Educação para e a aprendizagem
o Desenvolvimento da leitura e da escrita
Sustentável
Alunos com multideficiência Unidades de Ensino Estruturado ALUNOS CEGOS
e com surdocegueira congénita para Alunos com Perturbações e com BAIXA VISÃO
do Espectro do Autismo Orientações Curriculares
Organização da resposta educativa
Normas Orientadoras
Directora
Maria Emília Brederode Santos
05 Editorial
Editora O TERCEIRO D
Teresa Fonseca
Produtor Maria Emília Brederode Santos
Rui Seguro
Redacção
Elsa de Barros, Helena Skapinakis 06 Notícias... entre nós
Secretariado de redacção
Carla Delfino
09 Notícias... além fronteiras
Colaboradores permanentes
Carlos Batalha, Teresa Gaspar
Colaboram neste número 10 Diário de um professor
Adelaide Borges, Ana Paiva, Dora Pacheco, Susana Dolores
Eunice Peixoto, João Paulo, Manuel Carvalho Gomes,
Manuel Pedroso, Maria Alexandra Forte, O contacto com a realidade que encontrou
Mariana Hancock, Patrícia Ramalho,
na Comissão de Protecção de Crianças e
Pedro Miguel Dias, Sérgio Nogueira,
Susana Dolores, Viriato Soromenho-Marques Jovens (CPCJ) de Grândola transformou
Revisão
António Simões do Paço (Edições Pluma) a visão que esta professora
Fotografia de Língua Portuguesa tinha
Jorge Padeiro, Ana Maria Bettencourt
Ilustração e capa da escola.
Dinis Mota
Destacável
Célia Martins, Elisa Travessa, Ilusinda Logrado,
Isabel Preto e Julieta Mendes
Projecto gráfico
14 Lá fora
Entusiasmo Media/White Rabbit Cooperação europeia em educação
Paginação
Atelier Gráficos à Lapa e formação: o Quadro Estratégico para 2020
Rua S. Domingos à Lapa, n.º 6 Teresa Gaspar
1200-835 Lisboa
Impressão Neste artigo, dá-se conta dos objectivos
Editorial do Ministério da Educação
Estrada de Mem Martins, n.º 4 – S. Carlos
e resultados alcançados com o
Apartado 113 – 2726-901 Mem Martins programa de trabalho Educação
Distribuição
CTT – Correios e Formação 2010 e apresenta-se
Rua de São José, n.º 10 o Quadro Estratégico para a
1166-001 LISBOA
Tiragem Educação e Formação 2020.
13 500
Periodicidade
Trimestral
Depósito legal
N.º 41105/90 18 Entrevista a José Morais
ISSN Níveis de referência para melhorar
a aprendizagem da leitura e da escrita
0871-6714
Propriedade
Direcção-Geral de Inovação
e de Desenvolvimento Curricular Elsa de Barros
Av. 24 de Julho, n.º 140 José Morais, coordenador do estudo sobre os níveis de
1399-025 Lisboa
Preço referência de desenvolvimento da leitura e da escrita,
e 3 (Isento de IVA) fala sobre os principais objectivos deste estudo,
como está a decorrer no terreno e qual o
Isento de registo ao abrigo do Decreto
Regulamentar 8/99 de 9/6 antigo 12.º, n.º 1B impacto esperado no sistema educativo.
As opiniões expressas nesta publicação
são da responsabilidade dos autores e não
reflectem necessariamente a orientação
do Ministério da Educação.
24 Dossier
Educação para o
Revista Noesis
Desenvolvimento Sustentável
Redacção Como se pode educar para o desenvolvimento sustentável?
Av. 5 de Outubro n.º 107 – 8.º
Neste dossier reflecte-se sobre as implicações deste conceito e
1069-018 Lisboa
Telefone 217 811 666 mostram-se respostas de algumas escolas a este desafio.
Fax 217 811 863
revistanoesis@sg.min-edu.pt
04 05 Sumário
54 Reflexão e acção
Como usar canções na aula de línguas
Pedro Miguel Dias
A música pode marcar presença
em diferentes momentos de uma
aula de línguas, através do recurso
a materiais autênticos, essenciais
para transmitir uma língua viva.
60 Meios e materiais
62 Visita de estudo
Visitar os três porquinhos…
no Museu do Trabalho Michel Giacometti
Elsa de Barros
O Museu do Trabalho Michel Giacometti desafia
os visitantes mais novos a viverem a história
de “Os três porquinhos”, percorrendo os diferentes
núcleos do museu.
Destacável
À descoberta da I República
Célia Martins, Elisa Travessa, Ilusinda Logrado,
Isabel Preto e Julieta Mendes
Apresenta um conjunto de actividades
destinadas a alunos dos 2.º e 3.º ciclos do
ensino básico, que poderão ser desenvolvidas
pelos docentes de diferentes áreas curriculares
no âmbito das comemorações do Centenário da
Implantação da República Portuguesa.
Editorial
O TERCEIRO D
Festival de Verão
Coros, orquestras e bandas de crianças e jovens estão convidados
a participar no II Festival Internacional de Música da Juventude
que vai decorrer na cidade de Bratislava entre 8 e 11 de Julho. Os
concorrentes deverão inscrever-se até ao dia 15 de Abril. ::
Para mais informações consultar
http://www.choral-music.sk/en/festival/detail/5
Presença portuguesa em Havana HS
Diário de
Susana Dolores
Professora de Língua Portuguesa na Escola EB 2,3 D. Jorge de Lencastre,
Susana Dolores respondeu ao desafio que lhe foi lançado para ter um pé
na escola e outro na Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ)
de Grândola. O contacto com esta realidade paralela ao mundo da escola
deu-lhe um outro olhar sobre os alunos e transformou grandes problemas
a nível escolar em pequenos problemas comparados com a realidade com
a qual se deparou.
Sexta-feira 24 de Julho
Uma proposta surpreendente
Último dia de trabalho antes do início das férias. Ano lectivo encerrado,
relatórios entregues, papéis arrumados, pensamentos virados para o
descanso que se aproxima… E de repente, uma proposta perfeitamente
inesperada por parte da Direcção do Agrupamento – ser a representante
do Ministério da Educação na Comissão de Protecção de Crianças e
Jovens (CPCJ) de Grândola. Socorro! O que é que eu faço? Na minha
cabeça, o ano lectivo seguinte já estava mais ou menos definido: tinha
sido seleccionada, juntamente com a coordenadora do Departamento
de Línguas, para a implementação na escola dos Novos Programas de
Português, o que implicaria uma redução no número de horas lectivas,
mas iria, obviamente, dar continuidade às turmas que leccionara no
ano anterior. E agora? Aceitar o cargo na CPCJ implica ter apenas
meio horário na escola, isto é, uma única turma. Por outro lado,
não aceitar significa dizer não a um novo desafio, com sérias
probabilidades de vir a arrepender-me mais tarde. E achava eu
que ia ter umas férias tranquilas… Socorro!
Terça-feira 1 de Setembro
Um ano diferente
Início de mais um ano lectivo. Dei por mim a pensar numa
professora da faculdade (confesso que já não me lembro do
nome) que uma vez nos disse que pertencia ao grupo, cada vez
mais reduzido, de “parvos” que estão no ensino por gosto. A
verdade é que eu, quase duas décadas depois, ainda continuo
a incluir-me nesse grupo. E é por isso que, neste início de ano
lectivo, não consigo deixar de me sentir um pouco apreensiva.
Aceitei a proposta da Direcção e vou dividir o horário entre
a CPCJ e a escola. Ou seja, eu, que sempre fui professora a
tempo inteiro, vou agora ser professora apenas a meio tempo. É
muito estranho! Mas, por outro lado, ter apenas uma turma vai
permitir-me ter mais disponibilidade para preparar materiais
e actividades e, claro, para corrigir as resmas de trabalhos que
costumo pedir aos alunos. Decididamente, este vai ser um ano
diferente!
Terça-feira 15 de Setembro
O reencontro com os meus meninos
14h55. Primeira aula de Língua Portuguesa com o 9.º A, turma que acompanhei, como professora e
directora de turma, ao longo de todo o terceiro ciclo e que tem, neste ano lectivo, apenas uma cara nova, o
Diogo.
Confesso que este é para mim o momento mais aguardado dos três anos. Por um lado, vamos trabalhar
Camões e Gil Vicente, o que me agrada sempre bastante. Por outro, iniciar as actividades, depois de
dois anos de trabalho conjunto, é bem mais fácil: as apresentações estão feitas, as regras definidas, a
metodologia de trabalho já não é segredo para ninguém. Portanto, “mãos à obra e vamos começar a
trabalhar que o 9.º ano espera por nós!” Resposta imediata: “Trabalhar?! Já na primeira aula?!” Era
inevitável. Afinal, há coisas que nunca mudam…
Quinta-feira 17 de Setembro
Um outro olhar
Início do trabalho na CPCJ. Reunião da Comissão
Restrita.
Primeiro contacto com alguns dos casos
acompanhados pela Comissão. Aqueles jovens que
eu, enquanto professora, estava habituada a ver, até
aqui, apenas como alunos aparecem agora como
elementos de agregados familiares, muitas vezes
extremamente complexos, com vivências bem pouco
adequadas à sua condição de jovens. E a partir daí,
olhamos para eles numa perspectiva completamente
diferente. Saber distinguir um verbo transitivo de
um verbo intransitivo torna-se um mero pormenor,
quando na nossa frente está uma criança para a qual
os maus-tratos (físicos ou psicológicos) são uma
constante.
12 13 Diário de um professor
Parece-me agora que vão ser muitos os momentos de frustração. Há situações que, por mais que nos
custe, não conseguimos alterar e outras que, por serem insustentáveis, se alteram, mas sem certezas de
melhoria. Como diz o presidente da Comissão, na escola, as nossas decisões traduzem-se em aprovações
e reprovações que podem ter repercussões na vida do aluno, mas a este nível, uma decisão interfere
mesmo, directamente, na vida da criança ou do jovem. Imagino que tenhamos de ficar contentes com as
pequeninas vitórias e aprender a viver com as desilusões.
Quarta-feira 23 de Setembro
Procuram-se ideias brilhantes
8h30. Aula de Formação Cívica. Há que dar continuidade ao projecto/concurso promovido pelo Instituto
Nacional para a Reabilitação, “Escola Alerta – acessibilidade a todos”.
No ano lectivo 2006/2007, alguns alunos da turma já haviam participado neste projecto, tendo feito
o levantamento, na escola e na comunidade, de algumas barreiras arquitectónicas que impediam ou
dificultavam o acesso a pessoas com incapacidade física. No ano lectivo anterior, quando os desafiei para
uma nova participação, surpreenderam-me com uma sugestão inovadora: encarar a questão da igualdade
de oportunidades numa perspectiva completamente diferente, focando o trabalho num dos alunos da
turma portador de síndroma de Asperger. Ainda tentei alertá-los para as dificuldades de um projecto
deste género, mas confesso que me deixei contagiar pelo entusiasmo de alguns alunos. O problema é que
nem sempre o entusiasmo vem acompanhado de ideias brilhantes, nem da dose necessária de espírito de
iniciativa e por isso, volta e meia, lá tenho de recorrer ao sermão para tentar pôr toda a gente a trabalhar.
No entanto, independentemente do resultado final (Um livro? Uma exposição? Uma apresentação em
PowerPoint?), a reflexão que os alunos vão fazendo e a vontade de transmitir informações e vivências
justificam, na minha opinião, todos os sermões que entretanto foram necessários.
Segunda-feira 2 de Novembro
De cá para lá, de lá para cá
Estou na Comissão, mas entre atendimentos,
abertura de processos e envio de correspondência, a
minha metade de professora não consegue deixar de
pensar que já estamos a meio do primeiro período e
que amanhã é o conselho de turma intercalar do 9.º
A. Preciso de preparar a reunião. E de elaborar uma
ficha de avaliação para a competência da leitura. E
de corrigir as fichas sobre conhecimento explícito da
língua. E as de compreensão oral. E de inventar mais
frases para os exercícios de divisão e classificação
de orações. E de convocar alguns encarregados de
educação. E de continuar a leitura/análise dos Novos
Programas de Português. E de fazer as actividades
propostas pela formadora. Trabalho! Trabalho!
Trabalho!
Começo a perceber que aquela minha teoria de que,
neste ano, iria ter mais tempo para preparação e correcção de materiais era um bocadinho utópica.
Aliás, é frequente ter de correr (literalmente) da escola para as instalações da CPCJ e vice-versa. E muitos
dias, depois de ter contactado na Comissão com alguma situação mais complicada, corro para a aula,
ansiosa por ouvir os comentários (e os disparates) típicos de jovens sem outros grandes problemas para
além da “preguicite” e de alguma falta de responsabilidade.
Bloco de notas
Sexta-feira 18 de Dezembro
Língua Portuguesa ou…
Matemática?
O tempo voa... É tempo de avaliar o trabalho
desenvolvido. Há muito que os alunos perceberam
que fazer a auto-avaliação não é dizer a nota que
gostariam de ter. Nem sequer dizer qual a nota
que acham que merecem. A auto-avaliação é uma
tarefa demorada e para a qual precisam de uma
calculadora. Há que pegar no portefólio e, com
De acordo com a lei de protecção de crianças e jovens
base nas pilhas de trabalhos feitos, calcular as
em perigo (Lei n.º 147/99, de 1 de Setembro), a criança
percentagens para cada uma das competências e
ou o jovem está em perigo quando se encontra numa
provar que a nota pretendida é merecida.
das seguintes situações:
São aulas em que há sempre braços no ar a pedir
ajuda: “Professora, falta-me a ficha sobre a divisão
• Está abandonada ou vive entregue a si própria;
de orações!”; “Professora, onde é que eu arquivo a
• Sofre maus-tratos físicos ou psíquicos ou é vítima de
notícia?”; “Professora, dá-me uma percentagem de
abusos sexuais;
214% para a leitura!” Perguntas e mais perguntas!
• Não recebe os cuidados ou a afeição adequados à
E ainda o aluno com síndroma de Asperger
sua idade e situação pessoal;
que, volta e meia, me trata pelo nome, e cujas
• É obrigada a actividades ou trabalhos excessivos
perguntas fogem, muita vezes, ao assunto que
ou inadequados à sua idade, dignidade e situação
estamos a tratar. O que seria de mim sem o meu
pessoal ou prejudiciais à sua formação ou
par pedagógico das sextas-feiras?
desenvolvimento;
Percorremos quilómetros para tentar “apagar
• Está sujeita, de forma directa ou indirecta, a
todos os fogos”: a ficha sobre a divisão de
comportamentos que afectem gravemente a sua
orações estava esquecida no caderno de Estudo
segurança ou o seu equilíbrio emocional;
Acompanhado, a notícia, obviamente, arquiva-
• Assume comportamentos ou se entrega a actividades
-se no separador da escrita, e os 214% afinal
ou consumos que afectem gravemente a sua saúde,
não eram mais de 21.4%... (Nada mau para uma
segurança, formação, educação ou desenvolvimento
competência cujo total é 30%.)
sem que os pais, o representante legal ou quem tenha
Entre fichas, dúvidas e calculadoras, vê-se o
a guarda de facto se lhes
orgulho que cada um tem no seu portefólio. Houve
oponham de modo
quem se esmerasse. “Inês esmiúça o Português”,
adequado a remover
da Inês, claro, ou o “Do ler ao escrever”, da
essa situação. ::
Rafaela, são só alguns exemplos. Espero, no
entanto, que os pais não vejam apenas a parte
estética, mas tenham (à semelhança do que
é pedido aos filhos) um olhar crítico sobre as
produções e reflexões dos respectivos
educandos. ::
14 15 Lá fora
Cooperação europeia
em educação e formação:
o Quadro Estratégico para 2020
A aprendizagem ao longo da vida constitui o
princípio orientador do quadro estratégico para
o desenvolvimento dos sistemas de educação e
formação até 2020, nos países da União Europeia,
integrando todos os níveis de educação e ensino.
Texto de Teresa Gaspar
Ilustração de Dinis Mota
No contexto da Estratégia de Lisboa, os Estados-membros acordaram,
em 2001, desenvolver a cooperação europeia em matéria de educação
e formação, tendo fixado objectivos comuns a serem alcançados no
horizonte de 2010.
Os progressos realizados com o programa de trabalho Educação e
Formação 2010, apesar de lentos, parecem indicar uma melhoria geral
dos sistemas de educação e de formação nacionais, designadamente
nos domínios da aprendizagem ao longo da vida, da modernização do
Na reforma do ensino
ensino superior e na aquisição de competências essenciais em todos os
níveis de ensino e formação, bem como na adopção do quadro europeu na União Europeia, muito
de competências essenciais enquanto referência para as reformas já foi alcançado mas ainda
curriculares em curso.
há muito para fazer.
No sentido de aumentar a eficácia da cooperação europeia encetada,
o Conselho Europeu, realizado em 12 de Maio de 2009, definiu um
quadro estratégico para o desenvolvimento dos sistemas de educação e
formação até 2020 nos diferentes países da União Europeia.
Numa breve síntese, apresentam-se de seguida os objectivos e resultados
alcançados com o programa de trabalho Educação e Formação 2010 e o
Quadro Estratégico para a Educação e Formação 2020.
europeu.
Nos diagramas seguintes, apresenta-se uma breve síntese
do Quadro Estratégico para a Educação e Formação 2020 aprovado:
2010 2020
Redução da percentagem de alunos de 15 anos com fraco Competências básicas − redução para menos de 15% dos alunos de 15
aproveitamento em leitura para menos de 20%. anos com fraco aproveitamento em leitura, matemática e ciências.
Percentagem de abandono escolar precoce não superior a 10%. Abandono precoce da educação e formação – percentagem de alunos que
abandonam o ensino e a formação deverá ser inferior a 10%.
Aumento da taxa de jovens de 22 anos de idade com ensino Educação pré-escolar – frequência de pelo menos 95% das crianças entre
secundário completo para 85%. os 4 anos e o início da escolaridade obrigatória.
Aumento de 15% dos diplomados em matemática, ciências e Conclusão do ensino superior – percentagem de adultos de 30 a 34 anos
tecnologia e redução das desigualdades de género. com nível de ensino superior deverá ser de pelo menos 40%.
Participação de pelo menos 12,5% de adultos em acções de Participação de adultos na aprendizagem ao longo da vida – pelo menos
aprendizagem ao longo da vida. 15% de adultos entre os 25 e os 64 anos.
1. Tornar a apren- – Estratégias de aprendizagem ao longo da vida e – Intensificação da mobilidade dos alunos ao nível
dizagem ao longo da reconhecimento e validação de aprendizagens do ensino superior e de outros níveis de ensino
vida e a mobilidade – Quadro Europeu de Qualificações e ligação aos
uma realidade sistemas nacionais de qualificação
2. Melhorar a qualidade – Aprendizagem de duas línguas além da língua materna – Investigação e boas práticas para o desenvolvi-
e a eficácia da – Desenvolvimento profissional dos professores e forma- mento de competências básicas nos domínios
educação e da dores e qualidade da formação inicial da leitura, da matemática e das ciências
formação – Governação e financiamento, promovendo a moderni- – Consideração das necessidades do mercado
zação do ensino superior, a qualidade da Educação e de trabalho “Novas competências para novos
Formação Profissional (EFP) e a sustentabilidade do empregos”
investimento público
3. Promover a – Abandono precoce da educação e da formação, – Educação pré-escolar: generalização da igual-
igualdade, a coesão melhorando as medidas de prevenção e investindo na dade de acesso e da qualidade da educação e
social e a cidadania cooperaçãoentre os sectores educativo geral e profis- apoio aos docentes
activa sional – Migrantes: aprendizagem mútua de boas práti-
cas de ensino
– Alunos com necessidades especiais: promoção
da educação inclusiva
4. Incentivar a inovação – Competências-chave transversais e sua integração – Desenvolvimento de métodos inovadores de
e a criatividade, nos currículos escolares e de formação, bem como nos ensino e aprendizagem e de formação com
incluindo o espírito processos de avaliação recurso a TIC
empreendedor, – Desenvolvimento de parcerias entre os estabe-
a todos os níveis lecimentos de ensino e formação e as empre-
da educação e da sas, as instituições de investigação, os actores
formação culturais e as indústrias criativas
18 19 Entrevista José Morais
José Morais
Da equipa convidada pelo Plano Nacional
de Leitura (PNL) para realizar o estudo sobre os níveis
de referência de desenvolvimento da leitura e da escrita,
José Morais, coordenador do estudo, e duas colaboradoras,
Cristina Carvalho e Isabel Leite, explicaram à Noesis quais
os principais objectivos do projecto, como está a decorrer no
terreno e qual o impacto esperado no sistema de ensino.
educação para O
desenvolvimento sustentável
30 33 No terreno
Educação para o Desenvolvimento Sustentável:
das teorias às práticas.
Manuel Carvalho Gomes
34 37 Feito e Dito
O pontapé na porta
Entrevista a Luísa Schmidt
Teresa Fonseca e Helena Skapinakis
38 41 Recursos
42 45 Prática em destaque
Siscoália – A ilha sustentável
Teresa Fonseca
46 49 Na sala de aula
Um projecto à medida dos alunos
Helena Skapinakis
50 53 Repórter na escola
Vamos proteger!
Manuel Carvalho Gomes
26 27 Dossier Educação para o Desenvolvimento Sustentável
Questões e razões
QUE SIGNIFICA
EDUCAR PARA O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL?
Com excessiva modéstia, tem decorrido em Portugal a Década da Educação para
o Desenvolvimento Sustentável, proclamada pelas Nações Unidas (2005-2014).
Com a excepção da Comissão Nacional da UNESCO e de algumas fundações e
organizações não-governamentais, as tentativas de estabelecer uma orientação
para a sustentabilidade nas políticas públicas de ambiente e educação acabaram
por fracassar. Um vazio que se sente mais numa altura em que os ‘riscos sistémicos’
da insustentabilidade se tornaram visíveis com as alterações climáticas.
Texto de Viriato Soromenho-Marques1
Ilustrações de Dinis Mota
Neste ensaio visa-se: a) esclarecer do que falamos investimento. Cada um desses pilares tem uma natu
quando usamos o conceito de desenvolvimento sus reza específica: são qualitativamente diferentes, não
tentável; b) sugerir alguns princípios para a elaboração podendo ser amalgamados numa igualdade numé
de intervenções pedagógicas nesta matéria. rica, que colidiria com a sua essência particular. Se
confrontarmos a análise do novo conceito de sus
> Desenvolvimento sustentável: tentabilidade com uma das clássicas concepções da
origens e significados filosofia ocidental chegaremos a resultados surpreen
Desde 1987 que o consenso mundial em torno da dentes. É o caso do contributo que pode ser retirado
necessidade de uma transição para um modelo de da teoria aristotélica da causalidade, que se encontra
desenvolvimento sustentável tem vindo a crescer. dispersa por várias obras do Estagirita. Que poderia
Mas qual é, efectivamente, o significado desse con dizer Aristóteles sobre o desenvolvimento sustentável2?
ceito? Embora não tenhamos ainda uma teoria Certamente que nos recordaria que o desenvolvimento
completamente consistente, registam-se algumas sustentável não é uma coisa, mas um processo
convergências. Uma delas, porventura a mais decisiva, dinâmico de transformação, ao qual se poderia aplicar
consiste em assinalar a existência de um triângulo a sua teoria das quatro causas:
da sustentabilidade, cujos vértices são os pilares • Causa eficiente: indica o princípio da mudança.
social, ambiental e económico. A discussão sobre • Causa material: identifica aquilo de onde algo
estratégias de sustentabilidade tem sido conduzida surge, ou mediante o que algo chega a ser.
sob o paradigma do que poderíamos designar como • Causa formal: a ideia ou o modelo que inspira
o triângulo equilátero: a tese segundo a qual cada a transformação, aquilo que já é, idealmente,
um desses pilares deve ter um peso e uma relevância antes de se plasmar na realidade concreta.
idênticas. É o modelo do equal footing. • Causa final: o fim, o telos, a realidade concreta e
Essa visão parece-me incorrer num erro colossal. Na discreta para a qual o processo de transformação
verdade, a sustentabilidade não obedece ao modelo de tende.
Tordesilhas, nem consiste numa negociação sindical
sobre salários, ou numa reunião de accionistas Se aplicarmos este quadro conceptual ao desenvol
para discutir a repartição de lucros ou as verbas de vimento sustentável, deparamos com este resultado:
28 29 Dossier Educação para o Desenvolvimento Sustentável
No Terreno
Educação para o
Desenvolvimento Sustentável:
das teorias às práticas
A expressão Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) passa a ser usada
regularmente a partir da Conferência de Joanesburgo (2002) e da proclamação da
Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável
(DEDS ou Década) para vigorar entre 2005 e 2014. O seguinte texto pretende
apresentar o panorama das actividades que neste momento acontecem
no terreno, em Portugal, no âmbito da Década.
Texto de Manuel Carvalho Gomes
Ilustrações de Dinis Mota
Feito e dito
O PONTAPÉ NA PORTA
Conciliando a vida académica com o jornalismo,
o percurso de Luísa Schmidt mostra
como cada um pode contribuir para a
sustentabilidade da grande casa onde
vivemos: acredita que é uma urgência
que deve mobilizar todos. Reconhecendo
o papel fundamental da educação,
considera que a escola não pode estar
ausente deste compromisso com as
gerações futuras e defende que só
poderá responder a estas novas
necessidades assumindo-se
como um laboratório de
sustentabilidade.
Entrevista deTeresa Fonseca
e Helena Skapinakis
Fotografias de Jorge Padeiro
Q uando e onde nasceu o con
ambiente não era prioritário. A questão
da Educação Ambiental ganha outra
ceito de desenvolvimento sustentável vez impulso com a criação do Instituto
(DS)? ou água suficientes. Por isso o DS é Nacional do Ambiente, em 1986. Entre
Surgiu na Conferência de Estocolmo, na fundamental para equilibrar a pressão tanto, por parte do Ministério da
sequência do Relatório Meadows sobre sobre os recursos naturais. Finalmente, Educação começa a haver uma preo
os “Limites do Crescimento”. Punha-se a vertente da governança, passa por uma cupação de integração da Educação
então, em 1972, a questão da capacidade maior aproximação entre governantes e Ambiental nos currículos, matéria que
de resposta do Planeta ao modelo de governados. A Agenda 21 concilia e aplica cria entusiasmo, e alguns professores
desenvolvimento e alertava-se para o conceito de DS nas quatro vertentes e aderiram. Mas inicialmente era res
as desigualdades que se faziam sentir. acrescenta uma dimensão que é a Agenda tritiva, muito ligada à conservação da
Em 1987, foi publicado o Relatório 21 Local: as comunidades organizarem- Natureza, à separação dos resíduos...
Brundtland, também intitulado “O -se localmente e contribuírem para este Portanto ficou ali acantonada...
Nosso Futuro Comum”, que expande desenvolvimento. Sim, por isso o conceito de EDS entra
o conceito de DS: a necessidade de O conceito de Educação para o dificilmente: do lado do Ministério do
deixarmos para as gerações futuras pelo Desenvolvimento Sustentável (EDS) Ambiente havia uma tradição enraizada
menos os mesmos recursos de que nós está muito associado à educação da Educação Ambiental, ligada aos
usufruímos. Houve um momento alto na ambiental... temas estritamente ambientais; do lado
cimeira do Rio de Janeiro de 1992, onde Sim. Isto porque a educação é trans da escola, uma visão essencialmente
foi aprovada a Agenda 21, que consagra versal a tudo. Em 2001, a UNESCO curricular. A EDS é mais abrangente.
o conceito de DS e o operacionaliza. lança a Década da Educação para o Tem de integrar a dimensão ambiental,
O modelo de crescimento económico Desenvolvimento Sustentável, a decor mas também a social, a económica e
neoliberal centrava-se na vertente de rer entre 2005 e 2014. A questão am sobretudo a governança. Ora, não havia
mercado livre, considerando que o biental que se tornou visível em meados (nem há) grande apetência da parte
“resto” viria por acréscimo. Provou-se dos anos 70, com a primeira crise do do Governo (e isso é importante) para
que era precisa regulação e o conceito petróleo, com as primeiras marés negras integrar este novo conceito a todos
de DS passa por criar um tipo de mediatizadas e a evidente dependência os níveis de escolaridade. Apesar de a
desenvolvimento onde seja possível da energia fóssil, foi o detonador da Educação para a Cidadania abrir uma
equilibrar quatro vertentes. educação ambiental. E é por ela que frente nesta matéria, não é fácil que
Quais são essas vertentes? chegamos à questão do DS. Ora, hoje é esses conceitos e práticas entrem nas
Primeiro, a vertente económica e a da muito importante integrar a dimensão escolas.
coesão social, para que o desenvolvimento social e a dimensão de cidadania no Já há alguma avaliação? Qual é a
não implique desigualdade. Depois a conceito de Educação Ambiental. situação de Portugal?
vertente ambiental, que está hoje, com E qual é a situação de Portugal em Há um relatório de avaliação feito pela
preensivelmente, na ordem do dia. As particular? Comissão Europeia sobre como é que
sociedades emergentes (sobretudo a Na verdade, a Educação Ambiental a década está a decorrer nos vários
China e a Índia) querem “ocidentalizar- inicia-se em Portugal em 1973 com a Estados-membros. Inicialmente, a
-se” adoptando o nosso modelo de Comissão Nacional do Ambiente, que Comissão Nacional da UNESCO con
consumo. No entanto, se assim for, e tinha como missão fundamental a tactou-me para constituir um grupo
com o problema do crescimento de sua integração nas escolas. Com o 25 que contribuísse para a dinamização
mográfico, não irá haver energia, ar, de Abril, os valores eram outros e o da década. Coordenei esse grupo de
36 37 Dossier Educação para o Desenvolvimento Sustentável
Recursos
Recursos EDS
Desde o lançamento da Carta da Terra, em
2000, até ao recente balanço da educação
ambiental em Portugal, publicado este ano,
que a Educação para o Desenvolvimento
Sustentável tem feito o seu caminho, lá
fora e cá dentro, através de documentos
orientadores destinados a toda a sociedade
e de materiais e sítios para serem utilizados
por professores que queiram lançar-se neste
desafio com os seus alunos.
ECO-ESCOLAS – O BLOGUE
http://eco-escolas-portugal.blogspot.com/
Blogue promovido pela Associação Bandeira Azul (ABAE) que pre-
tende ser um espaço de partilha para todos os envolvidos na rede
Eco-Escolas, um programa que tem o objectivo de encorajar acções YOUTHXCHANGE
e reconhecer o trabalho de qualidade desenvolvido por escolas, no http://www.youthxchange.net/main/introduction.asp
âmbito da Educação Ambiental/Educação para o Desenvolvimento Sítio promovido pelo United Nations Environment Pro-
Sustentável. gramme (UNEP) e pela United Nations Educational, Sci-
entific and Cultural Organization (UNESCO), dirigido a
DECADA POR UNA EDUCACIÓN PARA LA SOSTENIBILIDAD professores que pretendam abordar o tema do consumo
http://www.oei.es/decada/ sustentável com os seus alunos adolescentes.
Sítio patrocinado pela Organização dos Estados Ibero-americanos Na página inicial, o professor encontra instruções sobre
(OEI) com documentos de apoio e materiais para professores que como navegar pelas nove salas temáticas disponíveis, com
desejem integrar a Educação para o Desenvolvimento Sustentável exemplos de planos de aula e pistas para integrar este tema
nas suas práticas e com informação sobre vários temas neste âmbito. no currículo específico de cada disciplina.
A secção “Como podemos contribuir?” inclui dois questionários Está também disponível um guião sobre consumo sus-
onde se apresentam linhas de orientação para participar concreta tentável traduzido para português em: http://www.youthx-
e activamente na promoção do desenvolvimento sustentável como change.net/
cidadãos e como professores. download/guide/text/guide%20text%20portuguese.pdf
YOUNG REPORTERS FOR THE ENVIRONMENT
http://www.youngreporters.org/
rubrique.php3?id_rubrique=31
Young Reporters for the Environment (YRE) é um programa da Foundation for
Environmental Education dirigido a alunos do ensino secundário que queiram
investigar na sua comunidade um tema relacionado com o ambiente. Neste
sítio estão disponíveis documentos de apoio e dicas para orientar os jovens jor-
nalistas na produção dos seus textos e é possível cooperar com outras escolas > Documentos orientadores
dos 17 países envolvidos no programa.
Carta da Terra
OXFAM EDUCATION Declaração de valores e princípios para a
http://www.oxfam.org.uk/education/ construção de um futuro sustentável, cuja
Página do Reino Unido da organização Oxfam, onde se pretende promover a edu- redacção envolveu um processo de consulta
cação para ajudar os jovens a compreender questões globais que afectam as suas a nível mundial. Com o lançamento da Car-
vidas e as suas comunidades, de forma a incentivar modos de vida sustentáveis. ta, em Junho de 2000, estabeleceram-se três
É possível pesquisar recursos por idade dos alunos, tipo, tema ou área curricular. objectivos para esta iniciativa: promover e
Ver também a página da organização em Espanha: apoiar o seu uso educativo, promover a sua
http://www.intermonoxfam.org/es/page.asp?id?4 disseminação, aval e implementação na so-
ciedade civil e procurar apoio por parte das
O PLANETA ENERGIA Nações Unidas.
http://www.oplanetaenergia.eu/#p4 Na página da Carta da Terra (http://www.
O Planeta Energia é uma ferramenta pedagógica para educadores, professores e earthcharterinaction.org/content/) é possível
crianças que pretende, através da arte e da interactividade, sensibilizar para os aceder a planos de aulas e actividades, conce-
temas da energia e das alterações climáticas. O Planeta Energia é uma iniciativa bidos por professores que a utilizaram como
do Centro de Informação Europeia Jacques Delors. ferramenta pedagógica. A página pode ser
consultada em castelhano, francês ou inglês.
REDE LUSÓFONA Texto disponível em http://www.aspea.org/
http://br.groups.yahoo.com/group/RedeLusofona/
Rede lusófona de Educação Ambiental, com ênfase na Carta da Terra e Educação DECENIO DE LAS NACIONES
Ambiental e suas múltiplas dimensões da sustentabilidade planetária. UNIDAS DE LA EDUCACIÓN PARA EL
DESARROLLO SOSTENIBLE: PLAN DE
EDUCAPOLES APLICACIÓN INTERNACIONAL
http://www.educapoles.org/ Plano apresentado em 2005 onde se deli-
Sítio da International Polar Foundation dedicado à educação, que tem como ob- neiam orientações para a aplicação inter-
jectivo sensibilizar os jovens para a importância da região polar no frágil equilí- nacional da Década da Educação para o De-
brio do clima do nosso planeta. senvolvimento Sustentável proclamada pelas
Estão acessíveis pequenos vídeos sobre expedições realizadas; encontram-se Nações Unidas e se definem sete estratégias
animações multimédia, pequenos contos e dossiers dedicados a temas como as para que os países interessados possam al-
regiões polares, o clima e as alterações climáticas, energia e biodiversidade – os cançar os objectivos da Década.
dossiers destinam-se sobretudo a alunos do 3.º ciclo e secundário, nas disciplinas Texto disponível em http://unesdoc.unesco.
de Ciências e Geografia. Para além disso, também está disponível uma galeria org/images/0014/001486/148654so.pdf
de fotografias sobre a vida na Estação Princess Elizabeth, a fauna e os povos do É também possível consultar uma versão em
Árctico, entre outros títulos. inglês.
40 41 Dossier Educação para o Desenvolvimento Sustentável
Recursos
Guião de Educação para a Sustentabilidade – Carta da Terra: ver Noesis n.º 69,
rubrica Meios e Materiais, pág. 57.
Guião de Educação do Consumidor: ver Noesis n.º 70, rubrica Meios e Materiais,
pág. 57.
Guiões disponíveis em http://www.dgidc.min-edu.pt/cidadania/Paginas/
Guioes_Pedagogicos.aspx
42 43 Dossier Educação para o Desenvolvimento Sustentável
Prática em destaque
Siscoália
A ilha sustentável
Passo a passo, ano a ano, Siscoália – a ilha sustentável vai ganhando corpo.
Projecto coordenado por Alexandra Forte e realizado na Área de Projecto do
12.º ano da Escola Secundária Dr. Ginestal Machado, estender-se-á até ao
final da Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável. A criação
de uma ficção deu lugar a uma realidade – um projecto em desenvolvimento
– com início em 2006 e final em 2015.
Na sala de aula
Os retoques finais
Acompanhando de perto o desenrolar dos trabalhos, o
professor dá as últimas sugestões a cada grupo. Todos já
olharam para os relógios e sabem que o tempo da aula não
pára. É preciso pensar nos detalhes finais dos projectos para
serem apresentados à turma.
Os jovens que escolheram o tema do stress decidiram
aplicar os inquéritos no terceiro período, antes dos exames
nacionais, e divulgar os resultados no átrio da escola,
embora Catarina realce que estão agora preocupados com
outro aspecto: “É preciso também apresentar medidas de
No entanto, as jovens não estão satisfeitas. Já decidiram combate.” No entanto, o professor, que entretanto se tinha
que querem trabalhar a questão da separação do lixo, mas aproximado, provoca-os com uma simples questão: “Como
não era bem assim que se imaginavam a agir e não queriam vão envolver a comunidade?” Os alunos trocam olhares
contribuir para produzir mais desperdício. Continuam, entre si, sem saber como responder.
então, entre si, a pensar num projecto à sua medida. As As jovens que desenvolviam o projecto da separação
palavras do professor ao apresentar a tarefa estão bem pre do lixo tinham também chegado a uma conclusão. Ana
sentes: o projecto pode ser pequeno, mas deve ser exequível, Catarina explica: “Vamos criar uma apresentação com
ou seja, elas devem ser capazes de efectivamente o realizar. imagens chocantes de lixo existente na escola e na zona,
O grupo da Daniela, Cátia, Eduardo e Carlos está mais acompanhadas de frases apelativas, para sensibilizar as
avançado. Querem contribuir para a preservação da escola, pessoas.” Como queriam dar visibilidade à apresentação,
criando um grupo que limpe os espaços exteriores, uma ou iriam projectar essas imagens no átrio da escola para todos
duas vezes por mês, depois das aulas. Para aliciarem volun verem. “E no fim relembramos como se deve separar!”,
tários, pensaram oferecer um lanche no final. “Para eles não conclui Fátima.
se fartarem, podemos variar a recompensa ou, pelo menos, Carlos, do grupo da limpeza da escola, apresenta, orgulhoso,
ir mudando o lanche”, propõe Daniela. a sigla que inventaram: “PAE: Protecção Ambiental Escolar!”
Ao ouvir a ideia destes alunos, João Paulo sorri: “Ainda bem Mas o grupo tinha tido mais ideias e Cátia dá os detalhes:
que as aulas acabam cedo!” Carlos explica porque é que “Para o lanche, pede-se apoio às empresas e os nomes dos
esse pormenor é tão importante: “É que aqui, às cinco, no voluntários são divulgados.” Entusiasmada, Daniela reforça
Inverno, já é noite.” Eduardo intervém, sentindo que isso não a explicação: “É para dar uma recompensa aos alunos que
é impedimento para que o projecto ganhe asas: “Mas limpar a participam no projecto!”
É tempo de partilhar os projectos
Faltam dez minutos para a aula acabar. O professor
relembra: “O vosso projecto deve ter uma estrutura que
se aplique a qualquer escola. Não se trata apenas do que
vocês, 9.º A, podem fazer, mas do que qualquer turma pode
também desenvolver. Muito bem! Chegou o momento de
cada grupo apresentar o projecto à turma.”
JOÃO PAULO EM DISCURSO DIRECTO
O grupo da Filipa avança primeiro. Explicam aos colegas
a sua ideia de projectar no átrio imagens chocantes
O ensino das ciências reveste-se, obrigatoriamente, de
relacionadas com o lixo que não foi devidamente tratado. uma componente cívica e de sensibilização ambiental que
Um dos colegas, atento, aproveitou para lembrar: “Quando não pode ser descartada. Se, por um lado, muitos temas
os pais vierem buscar as notas à escola, podem ver o do currículo nos podem facilmente encaminhar para os
trabalho!” Alexandra continua: “E pode ser projectado para temas da preservação ambiental, da gestão sustentável dos
os que vêm ter aulas à noite.” O projecto sobre o stress foi recursos naturais, enfim, do desenvolvimento sustentável,
também melhorado como uma sugestão do Eduardo: “Se por outro lado, os alunos são sensíveis a estas questões e
fizerem esses inquéritos também no segundo período, respondem prontamente, disponibilizando-se a ajudar ou
podem depois comparar os resultados com os inquéritos mesmo a dinamizar actividades, quando são estimulados,
aplicados no final do ano.” Finalmente, o último grupo, desafiados e/ou provocados.
Há, no entanto, diferenças de escola para escola que não
através de Eduardo, apresenta o projecto do PAE.
podem ser ignoradas quando se pretende desenvolver
Já em conversa tranquila na sala de professores, João
um projecto. Na condição de professor contratado, tenho
Paulo comenta a aula. Explica que percebeu que alguns
mudado de escola anualmente e comparo os alunos de
projectos, aparentemente, se afastaram da questão da
escolas de meios rurais e de meios urbanos. Não apenas na
promoção da saúde. Na aula seguinte, pretende regressar resposta aos estímulos, na literacia informática ou na forma
aos trabalhos e debater como é que aquela questão, na de interagir, mas também na sensibilidade em relação ao
verdade, está presente. Pensa também que quando os meio ambiente e aos recursos naturais.
alunos apresentarem por escrito os projectos, num O aluno de meio rural não tem grande preocupação com
exercício que os obrigará necessariamente a explicitar os a poluição atmosférica provocada pelo tráfego rodoviário,
objectivos que pretendem atingir, irão reflectir e perceber mas é sensível à pobreza ou à problemática dos fogos e da
de que forma estão também a contribuir para promover a destruição de habitats pela construção desordenada. Já o
qualidade de vida e a saúde. aluno urbano está mais preocupado com a gestão dos lixos,
No entanto, o seu objectivo para aquela aula era que, a poluição sonora e visual, o estacionamento desordenado e
a violência.
em 30 minutos, os alunos conseguissem pensar numa
Os projectos que se podem desenvolver a nível nacional
actividade concreta, dentro da temática abordada. O
ganham com estas diferentes realidades e sensibilidades,
professor esperava que desta forma se apropriassem
quando se constituem em redes de escolas e se assumem
do projecto que conceberam e se entusiasmassem com
como um espaço próprio onde se complementam as
a ideia de contribuir para tornarem o meio onde vivem ideias e as acções desenvolvidas. A divulgação e avaliação
mais sustentável. Só assim passariam efectivamente à de projectos congéneres tornam-se, desta forma,
acção. Apesar dos desvios, considera que os trabalhos dos fundamentais, por permitirem a criação de materiais
alunos eram “exequíveis e adequados à realidade escolar que podem ser partilhados e reutilizados, em articulação
e social em que vivem”. Por isso, conclui: “As propostas vertical e horizontal, ou que podem mesmo ser adaptados e
responderam às minhas expectativas.” :: apropriados por diferentes escolas.
50 51 Dossier Educação para o Desenvolvimento Sustentável
Repórter na escola
“VAMOS PROTEGER!”
Alunos dos 5.º e 6.º anos de escolaridade, em pequenos grupos, mostram como se
contribui para o desenvolvimento sustentável no Clube do Ambiente da Escola
Francisco Ornelas da Câmara, em Praia da Vitória, Açores: portáteis com imagens
a passarem, livros especializados em fauna e flora espalhados sobre a mesa e olhos
atentos, absortos e cheios de energia, que pesquisam sobre plantas e animais.
Texto de Manuel Carvalho Gomes
Fotografias de Ana Maria Bettencourt
O banco de imagens do Clube do Ambiente possui fotografias digitais que foram, muitas delas, registadas pelos alunos em
saídas de campo para estudar a biodiversidade. Destaque-se que algumas mereceram o reconhecimento da Universidade
dos Açores, que as utilizou no seu Portal da Biodiversidade, que pode ser consultado em
http://www.azoresbioportal.angra.uac.pt/
O sítio do clube está disponível em http://clubambientefoc.no.sapo.pt/
com informação sobre as suas publicações nos domínios da flora e da avifauna dos Açores
Ao longo da visita, os alunos respondem às questões que o orientador colo- Álvaro Areias visto à lupa
ca e têm também oportunidade de mostrar o que sabem. Para concluir a Álvaro Areias, gestor de toda esta energia, é
questão da biodiversidade, Paulo Barcelos detém-se diante de uma planta ao mesmo tempo professor de Português e
muito conhecida e explica: “A hortênsia é uma espécie invasora trazida do de História e coordenador do Programa Eco-
Japão há 150 anos. Mas está actualmente com um programa de controlo por Escolas.
No clube, os alunos dizem que ele é “fixe”,
ser fortemente competitiva.”
pois não “briga” com eles.
Nos encontros de ambiente onde tem
“parecem brindeiras”
participado, ao princípio, todos pensam que
No domínio da geodiversidade, o maciço do Pico Alto mostra a grande varie-
é professor de Ciências. Depois reconhecem
dade de rochas da ilha Terceira. Num campo de escórias, observa-se a bagaci- que, pelo facto de ser professor de Português,
na, pedra-pomes, obsidianas (vidro vulcânico) e bombas vulcânicas. Ao longo a sua relação com o ambiente tem mais
da visita, Paulo Barcelos tinha chamado a atenção para o facto de não poderem “alma”.
levar nada do que viam para casa: “Este é um espaço que deve ser respeitado.”
No entanto, aqui há muitas rochas e na mão da Ana Carolina é depositado
cuidadosamente um exemplar destas bombas, que é levado para enriquecer
o espólio do clube. Pedro Pereira aproveita para comentar: “Parecem “brindei-
ras!” E, para a reportagem, acrescenta: “É um bolo típico da ilha Terceira, que
parece um pão e que é oferecido como brinde nas festas.”
Em jeito de conclusão, entusiasmado com o desempenho habitual dos alu-
nos em qualquer saída de campo, mesmo sem a sua presença, Álvaro Areias
comenta que o contacto com a Natureza é essencial para fortalecer a ligação
Quanto à responsabilidade
com o património que pertence a todos. E termina, acrescentando que as
social, assumida no âmbito das
suas próprias motivações têm origem no facto de ter sido criado em con- questões ambientais, o próprio declara:
tacto com a Natureza, “numa terra onde abundam as nascentes e a água cris- “Não hesitarei em afirmar que o meio onde
talina ainda corre nas ribeiras, numa terra onde se avistam as montanhas nasci, cresci e sempre vivi terá tido um
cobertas pela floresta nativa dos Açores e onde o mar é uma constante”. :: papel determinante na génese da minha
sensibilidade ecologista e das preocupações
Nota: A saída de campo foi realizada no âmbito do projecto Cidadania e Sustentabilidades que tenho desde sempre manifestado pelas
para o Século XXI: Caminhos para Uma Comunidade Sustentável nos Açores, financiado questões que dizem respeito à preservação
pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento. do nosso património natural.”
54 55 Reflexão e acção
O
uvir música é uma das actividades de tempos livres preferidas pelos jovens,
havendo quem lhe dedique até 40 horas por semana, aproximadamente o
mesmo tempo consagrado à escola. Muitos autores falam da importância
de usar música em contexto educativo e abundam os artigos e capítulos
de livros com metodologias para aplicar essa técnica ao ensino das línguas e de outras
disciplinas.
Importa definir que tipo de música iremos utilizar com os nossos alunos. Há autores
que defendem o recurso à música clássica, mas essa não deverá ser a nossa única
opção: pode ser usada para criar ambiente ou como motivação para a escrita, mas há
todo um leque de actividades que dependem de usarmos música associada a texto, um
requisito natural numa aula de línguas.
Existem ainda métodos de ensino com canções adaptadas ao nível de aprendizagem
dos alunos e estruturadas especificamente para ensinar certos conteúdos, mas poder-
se-ia objectar que essas canções não permitem o efeito de familiaridade quando os alu-
nos reconhecem um tema que já ouviram na rádio ou na Internet, além de não serem
materiais autênticos, essenciais para transmitir a língua viva.
Assim, e dada a preferência dos jovens pela música pop e rock, consideramos que esta
poderá ser uma ferramenta útil, desde logo por poder tornar as aulas menos monóto-
nas e manter a atenção dos alunos ou poder ser utilizada como “artefacto mnemónico”,
facilitador da memorização.
Globalmente, e excluindo a formação musical propriamente dita, podemos falar de qua-
tro tipos de utilização pedagógica para uma peça musical:
actividades distintas e combináveis en-
tre si. Apresentam-se a seguir algumas
sugestões de actividades possíveis, com
destaque para o ensino de um determi-
nado conteúdo linguístico ou cultural.
a) Para controlar a duração de uma actividade: os alunos têm até ao fim da peça Esta proposta de tipologia poderá natu-
escolhida para terminar a realização dessa actividade – uma forma de controlar ralmente ser corrigida e alargada.
o evoluir da aula mais motivadora e menos geradora de tensão;
b) Para criar ambiente: o professor escolhe uma peça musical como motivação para 1. Actividades antes de ouvir a
ou ilustração de um conteúdo a leccionar; por exemplo, um compositor do século canção:
XVI numa aula sobre Camões; ou para criar uma dinâmica específica dentro do > Prever vocabulário usado a partir do
grupo (acalmar, dar energia, etc.); título, artista ou género musical;
c) Para recompensar os alunos: o professor cede uma parte da sua aula para ouvir uma > Prever conteúdo a partir da melodia;
peça musical, no que poderá ser um momento mais descontraído da mesma, assi- > Prever conteúdo a partir de uma il-
nalar uma ocasião especial (um aniversário, uma efeméride, o final de um período ustração;
lectivo) ou marcar uma pausa numa sequência de actividades mais exigentes; > Procurar informação sobre o artista
d) Para ensinar um determinado conteúdo linguístico ou cultural: o professor in- ou sobre dados presentes no texto;
troduz uma peça musical para, nomeadamente, treinar uma estrutura gramatical, > Discutir lista de referências
exemplificar uma modalidade do discurso ou apresentar uma tradição local. culturais, de vocabulário ou de
expressõesrelevantes fornecida
Como se depreende, a música pode marcar presença em diferentes momentos de pelo professor.
uma aula, mesmo fora do âmbito estrito da disciplina de Educação Musical, em
56 57 Reflexão e acção
9. Actividades para desenvolvimento Como se vê, são inúmeras as actividades possíveis: prever
da expressão escrita: o fim dos versos; continuar a canção ou escrever uma
> Prever a terminação de versos ou estrofes letra alternativa; escrever sobre o conteúdo da canção,
– em função da gramática sobrea relação entre letra e melodia, sobre o artista, sobre
– em função da rima o género musical; comparar versões diferentes da mesma
– em função da lógica narrativa canção (por exemplo, “Os Senhores da Guerra” interpre-
> continuar a letra da canção; tada pelos Madredeus e pelos Moonspell); responder a
> responder a questões colocadas pela canção; perguntas colocadas pela canção (por exemplo, quando
> discutir relações com outros textos Joan Osborne canta “What if God was one of us?”); dis-
> outras canções com abordagens opostas ao mesmo tema cutir a relação da canção com outros textos (por exemplo,
> textos jornalísticos “Fast Car” de Tracy Chapman e um artigo de jornal sobre
> textos literários: o desemprego) ou com outras artes (uma canção e um
directamente relacionados com a canção filme, um poema ou romance, um quadro); etc.
com a mesma temática da canção
> discutir relações com outros meios (pintura, vídeo, teatro, 10. Actividades para debate oral na turma:
cinema…); > Sobre a apreciação individual da canção;
> descrever a canção > sobre aspectos temáticos da canção;
– aspectos musicais (ritmo, instrumentos utilizados, tom, > sobre aspectos culturais referidos na canção;
etc.) > sobre questões gramaticais;
– personagens > sobre aspectos linguísticos ambíguos;
– tempo e lugar > sobre as relações da canção com outros textos;
– história > sobre as relações da canção com outros meios;
– temática > sobre o género musical.
– linguagem utilizada
– emoções ou sentimentos sugeridos A canção pode servir de motivação para debates envol-
> realizar trabalho de pesquisa vendo toda a turma, permitindo aos alunos desenvolver
– sobre o artista ou banda a sua capacidade de raciocínio e de argumentação. Pode
– sobre aspectos temáticos da canção discutir-se qualquer questão linguística ou cultural já
– sobre aspectos culturais referidos na canção referida ou partir da música para questões mais vastas
– sobre questões linguísticas (por exemplo, debater a imagem da mulher numa canção
> escrever uma letra completamente nova sobre a mesma base e num vídeo como “Candy shop”, do rapper 50 Cent). Uma
instrumental mesma canção pode alimentar vários temas: “Gangsta’s
> comparar versões da mesma canção por artistas diferentes Paradise”, de Coolio, aborda a violência urbana, os gangs,
– diferenças na interpretação a falta de expectativas dos jovens e o abandono escolar
– diferenças no texto precoce; a canção tem várias expressões coloquiais e am-
> escrever uma carta bíguas, como “Lyin’ in chalk”, que podem ser analisadas
– ao artista pelo grupo para determinar o seu significado; a
– a um personagem do texto canção foi o tema principal da banda
– a outra pessoa que tenha ouvido a canção sonora do filme Dangerous
> redigir composição Minds
– sobre a canção
– sobre o artista
– sobre o género musical
– sobre a música em geral
Os alunos ilustram a letra e/ou a melodia da canção, recor-
rendo a desenhos, pintura, colagens ou outros meios. Podem
depois expor e comparar as diferentes interpretações obtidas.
/ Mentes perigosas, pelo que pode levar ao visionamento do Podem ainda observar imagens fornecidas pelo professor e co-
filme e a um debate sobre a relação dos jovens com a escola e mentar a relação entre a peça musical e essas imagens.
o seu próprio futuro.
13. Outras actividades:
11. Actividades de tradução do texto: Durante a escuta:
> Traduzir com dicionário; > Dançar;
> Corrigir uma tradução automática; > Dramatizar o texto;
> Comparar diferentes traduções; > Actuar em playback.
> Analisar falsos cognatos presentes no texto; Depois da escuta:
> Analisar expressões coloquiais e calão. > Transpor estruturas estudadas para novos contextos;
> Cantar letra alternativa com a mesma melodia;
O texto pode ser traduzido, na totalidade ou parcialmente, > Escrever uma mnemónica usando a mesma melodia;
com ou sem recurso ao dicionário. Os alunos podem corrigir …
ou comentar traduções feitas por um tradutor automático ou Trabalhos de projecto:
por outras pessoas, ou comparar as soluções adoptadas por > Elaborar um “cancioneiro” da turma (com ou sem
tradutores diferentes: por exemplo, foram publicados dois tradução);
livros com traduções distintas de poemas de Leonard Cohen, > Organizar um coro da turma;
que os alunos poderiam analisar. Seria ainda possível partir > Elaborar um exercício a partir de uma canção, pelos
das traduções para reflectir sobre questões linguísticas como alunos, para ser resolvido pelo resto da turma.
os falsos cognatos (false friends) ou o uso do calão. …
12. Actividades de ilustração do texto Os alunos podem ainda realizar actividades mais lúdicas como
e/ou da melodia: cantar (com ou sem acompanhamento), dançar ou fazer play-
> Os alunos produzem ilustração (desenho, back, usar a melodia para escrever uma mnemónica com maté
fotografia, vídeo…); ria escolar, dramatizar o texto, escrever versões alternativas da
> Os alunos recortam ilustrações de canção ou usá-la como ponto de partida para o trabalho da aula,
revistas e jornais; aprofundando os temas abordados, ou para trabalhos de pro-
> Os alunos relacionam o texto com imagens jecto. Por exemplo, organizar um concurso de karaoke ou fazer
fornecidas pelo professor. um cancioneiro da turma, com as suas canções preferidas. ::
Bibliografia
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RAUSCHER, F. H., SHAW, G., & KY, K. (1993). “Mozart and spatial reasoning”. Nature, (365) 611.
60 61 Meios e materiais
O meu livro de
política
Jorge Sampaio
Texto Editores (2009)
Portal Insafe
Vamos Cantar os clássicos!
http://www.saferinternet.org
Catarina Molder
Editorial Caminho (2009) O acesso à Internet é cada vez mais universal. A Internet
14,90 e proporciona o acesso a recursos e serviços, facilita a
De uma grande vontade de levar a canção erudita até às comunicação e permite a diversão. A sua utilização segura
crianças nasce a obra Vamos Cantar os Clássicos! é fundamental e deve ser uma preocupação de todos.
Catarina Molder convida as crianças a ouvir algum do repertório Preocupação que não pode ficar de fora da escola e é um
mais emblemático deste género. O toque especial deste trabalho tópico importante para a disciplina de Formação Cívica, como
reside no facto de as canções serem interpretadas em português, aliás está previsto para o 5.º ano.
uma mais-valia para um belo serão passado em família! Recentemente foi lançado o Portal Insafe (http://www.
O CD inclui canções dos mais variados compositores, passando saferinternet.org) no âmbito do Programa Safer Internet, da
pelos portugueses Carrapatoso, Delgado e Lopes-Graça. A Comissão Europeia. Neste sítio encontramos uma descrição
autora, acompanhada ao piano por Francisco Sasseti, dá voz dos projectos nacionais dos diferentes Estados-membros da
a todas as canções, começando por as apresentar de forma UE e temos acesso aos respectivos sites/portais e aos recursos
divertida, para que os ouvintes percebam melhor a canção. Para aí disponibilizados. Nestes sítios a exploração dos principais
além das belas ilustrações, o livro contém as letras e pequenos assuntos relacionados com uma navegação segura é feita
textos que introduzem cada uma das canções. a partir de recursos dinâmicos como pequenos vídeos que,
Desde a canção de embalar de Brahms às famosas Truta e mesmo sendo em língua estrangeira, podem constituir um
Rosinha do Prado de Schubert, passando pelo Lied alemão e a excelente ponto de partida para uma discussão em sala de
mélodie francesa com Fauré e Poulenc, fazem ainda parte desta aula sobre temas como os riscos da publicação de fotos online,
viagem canções luminosas e surpreendentes como o musical de ciberbullying, assédio, ética online, direitos de autor, etc.
Gershwin e a música de sabor brasileiro de Waldemar Henrique. O blogue associado a este portal permite aos interessados
Sozinhas ou acompanhadas pelos pais, as crianças têm a manterem-se actualizados nas temáticas relacionadas com a
oportunidade de conhecer belas obras musicais da chamada segurança na Internet.
música clássica, através de uma obra de elevada qualidade, Também referenciado neste portal, e especificamente
tanto ao nível das traduções dos textos como da expressividade dirigido à comunidade educativa portuguesa, existe o portal
envolvente da voz, em cumplicidade com o piano. www.seguranet.pt, onde pais, professores e alunos podem
Em contexto escolar, os docentes poderão desenvolver um encontrar informação e um conjunto de actividades interactivas
trabalho interessante de audição e interpretação vocal, em torno destas temáticas. Uma série de jogos organizados
instrumental ou corporal das peças musicais, apresentando de acordo com os ciclos de escolaridade permite aprender de
de seguida as respectivas obras interpretadas nas línguas forma divertida e é lançado um conjunto de actividades para a
originais. Como trabalho interdisciplinar, poder-se-á trabalhar comunidade educativa como ponto de partida para participar
os textos em inglês (ou francês), conhecer a obra integral de num concurso.
que faz parte uma canção, preparar uma apresentação pública Boas e seguras navegações!
de uma canção, pesquisar sobre a vida dos compositores... ::
Ana Paiva
Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular
Carlos Batalha
Escola EB 2,3 de Vialonga
62 63 Visita de estudo Museu do Trabalho Michel Giacometti
03
02
01
3. Entrar numa mercearia
de antigamente, na casa de
madeira
“ele é pequenino” e corrige: “Serve As crianças só param de correr à porta
para passar a ferro.” O porquinho da casa de madeira, onde o porquinho
aproveita para esclarecer que a avó do meio as espera, tranquilizando
2. Viagem ao tempo dos colocava carvão dentro do ferro, que Francisco, que faz beicinho com medo
avós na casa de palha tirava da lareira com a ajuda de uma do lobo mau: “Não tenham medo,
“Gosto de descansar e de me tenaz. que o lobo não entra aqui! A minha
espreguiçar!”, confessa o porquinho Com grande orgulho, o porquinho casa de madeira é mais segura. Para a
mais novo, enquanto se enrosca num apresenta o seu bebé Abílio que dorme fazer, fartei-me de trabalhar, carreguei
molho de palha, colocado à entrada de sossegado numa caminha de palha e tábuas, preguei pregos...”
casa. “A minha casa é bem fofinha e conta que acabou de fazer uma sopa Já mais confiantes, as crianças ouvem
tem muitas coisas velhinhas, do tempo de grão para ele comer. Mas assim que a explicação do porquinho, seguindo
dos avós. Querem ver?”, pergunta, se menciona a sopa de grão, ouve-se com o olhar a direcção para onde ele
convidando as crianças a entrarem em o uivar do lobo que se aproxima cada aponta. “Estão a ver estas prateleiras
sua casa. vez mais e, sem se fazer anunciado, muito altas? Fui eu que as construí
Já dentro de casa, o porquinho vai já está à porta de casa do porquinho, e tive de fazer aquele escadote para
buscar uma forquilha e pergunta às queixando-se: “Estou cheio de fome! poder chegar lá acima”, prossegue
crianças se conhecem aquele objecto. Está a apetecer-me uma sopa de grão!” o porquinho, enquanto as crianças
Os mais novos, na verdade, não sabem “Temos de fugir!”, avisa o porquinho observam os artigos existentes na
qual o nome da alfaia agrícola, mas perante a ameaça, e as crianças correm mercearia do tempo dos bisavós,
Francisco constata que “tem dentes”. atrás dele pelos corredores do museu. entre os quais se contam conservas,
Mais à frente, o porquinho segura bolachas, farinha e sabão.
num ferro de engomar antigo e Satisfeito com a obra feita, o porquinho
questiona os visitantes: “E isto, sabem convida as crianças a visitar o seu
o que é?” “É um ferro”, responde escritório, onde lhes mostra o cofre-
Tomás, uma das crianças mais novas forte, a secretária e a máquina de
do grupo. “Serve para regar as flores”, escrever, destacando o armazém que
acrescenta. Beatriz, pouco mais velha, fica logo ao lado, atulhado daquilo a
explica do alto dos seus três anos que que chama “um monte de coisas velhas”.
de conservas, aproveitou para reconstruir o edifício com tijolos e cimento
e, entretanto, aprendeu com as operárias como se enlatavam as sardinhas.
Vendo o interesse das crianças na sua narrativa, propõe: “Querem aprender
a fazer conservas?” A resposta é um entusiasmado coro de “sins”.
Aproveitando a vontade de colaborar dos mais novos, o porquinho mais velho
propõe um plano para dar uma lição ao lobo: “Vamos fazer conservas e, se o
lobo vier aqui, damos-lhas todas para ele comer. Ele vai ficar tão, tão cheio, que
nunca mais entra em nossas casas para almoçar sem ser convidado. Boa?”
As crianças não podiam achar a ideia melhor e ficam muito atentas à
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explicação para aprenderem a fazer conservas. O porquinho dá uma lata
e quatro sardinhas de borracha a cada uma e ensina como devem ser
colocadas: duas sardinhas em baixo e duas em cima, viradas ao contrário,
para ocuparem menos espaço.
Depois de devidamente esclarecidos, os pequenos visitantes metem mãos à
O aparecimento do lobo à porta do obra e num instante dão por terminada a sua tarefa. O lobo pode chegar a
escritório vem desviar o centro das atenções, qualquer momento e não há tempo a perder! O uivar do lobo a aproximar-
voltando a assustar Francisco, que aperta se causa uma grande excitação, agora que as crianças estão preparadas para
a mão da educadora com força. Uivando colocar o plano em prática. “Ele julga que é muito esperto, mas vai ser muito
de fome, o lobo reclama mais comida, mas bem enganado”, ri-se o porquinho mais velho, com ar trocista.
explica que não é assim tão mau, porque
não comeu a sopa toda, teve o cuidado de Tal como previsto, o guloso do lobo comeu as sardinhas todas e, no fim,
deixar um bocadinho para o bebé, e agora ficou muito mal disposto. “Prometes que não andas mais atrás de nós e
até se contenta com um ratinho pequenino. destes meninos?”, questiona o porquinho mais velho. “Prometo, prometo!”,
O porquinho do meio e as crianças assegura o lobo, agarrado à barriga. “Olha que se voltares a ser maroto
chegam a um acordo com o lobo: este vamos buscar estes meninos à escola para nos ajudarem!”,
deixa-as sair da casa de madeira e, a adverte o porquinho mais velho, propondo, por fim,
seguir, pode entrar para comer o ratinho. que todos festejem a recente amizade com uma grande
Assim que se vêem fora de casa, as roda. Tudo está bem quando acaba bem! ::
crianças não arriscam e... pernas para
que vos quero, para casa do porquinho
Outras visitas guiadas
mais velho, onde talvez se possam sentir,
finalmente, seguras! Introdução ao Museu do Trabalho: Para alunos do 5.º
ao 12.º ano, inclui visita a todos os espaços do mu-
4. Aprender a fazer sardinhas seu, com explicação do funcionamento da antiga fábrica
conserveira e apresentação das três colecções patentes ao
em conserva, na casa de pedra público.
O porquinho mais velho descansa as Mercearia Liberdade: Para todas as idades, conta com a presença de uma
crianças, já depois de estas estarem a salvo personagem da época que propõe a comparação entre os produtos do tempo dos
bisavós e os da actualidade, a exploração dos cheiros e das formas, bem como o
dentro de sua casa: “Não se preocupem desenvolvimento de noções matemáticas, a partir das caixas de medidas e das
que a minha casa é muito forte! Olhem só balanças de dois pratos iguais.
para verem como construí a minha casa: é Mundo Rural (Colecção Etnográfica Michel Giacometti): Para todas as idades,
centra-se na exploração das alfaias agrícolas, acompanhada pela dramatização
de tijolo. Rodrigo, toca aqui e diz como é
dos movimentos do trabalho do campo, pela audição dos sons recolhidos por
que é o tijolo.” Rodrigo não se faz rogado Giacometti e pelo visionamento de filmes.
e afirma, tocando no tijolo: “É duro, forte Indústria conserveira (da lota à lata): Para todas as idades, pressupõe a vivência de
e pesado.” um dia de trabalho na fábrica, no qual os visitantes participam vestidos de
operários, passando por todas a etapas de produção da indústria conserveira,
O porquinho conta que, quando saiu de
desde a chegada do peixe à fábrica até à saída do produto já enlatado. Inclui a
casa da mãe, foi viver para a antiga fábrica apresentação das profissões tradicionais de Setúbal ligadas à indústria conserveira.
66 67 Com olhos de ver
A moda, os modos,
de modo que...
Texto de Adelaide Borges
Coordenadora do Curso de Design de Moda da E. P. Magestil – Escola de Moda de Lisboa
M
uito se tem falado, estudado, conjecturado, sobre o fenómeno da moda,
força alimentadora de várias actividades económicas e profissionais
gerando lucros incomensuráveis.
O que faz impulsionar uma indústria que bianualmente se obriga a renovar
esteticamente, nos desfiles de prêt-à-porter, de haute couture, feiras do sector e imprensa
especializada, utilizando o fascínio da efemeridade a seu favor, propondo estilos,
seduzindo o consumidor, incitando ao desejo, traduzindo mensagens para vender o
produto?
A moda comunica numa linguagem não verbal, o estilo, a identidade psicológica e
social do individuo que a veste. Os seus significados resultam da intenção e expressão
do estilo do designer que a propõe e das múltiplas possibilidades de combinações
e interpretações por parte de quem veste e de quem a vê. Por sua vez, as pessoas
ao apropriarem-se desses significados adaptam-nos às suas próprias intenções, em
determinada época e lugares.
Assim, torna-se necessário que as reacções emocionais e psicológicas, explícitas ou
subliminares, que os diferentes vestuários causam em quem veste e a quem observa
sejam analisadas, entendidas e controladas no processo criativo de moda.
O design de moda, sendo uma das áreas do design, segue os seus fundamentos,
concebendo o produto de moda, vestuário ou acessórios, apresentando cores,
materiais, formas e efeitos, respeitando a sua função, adequando o produto ao
consumidor final, tendo em conta a sua exequibilidade técnica, apoiando a sua
viabilidade.
O processo metodológico consiste na mistura de peças e componentes de vestuário
conhecidos e testados, com uma nova e estimulante abordagem, gerando combinações
e produtos diferentes. A silhueta, a cor e a textura são os pontos-chave do design
de moda, manipulados em diferentes repetições e ritmos, de gradações, materiais,
padrões, detalhes e ornamentos.
Por fim, as novas propostas de roupa adquirem novas interpretações e ideias nas
imagens e identidade que cada marca difunde – em desfiles, catálogos, outdoors, sites,
editoriais de moda.
A moda comunica a todo momento percepções e significados e nós somos todos
ouvidos! ::
Sugestões de actividades
Tema do dossier:
Educação para a Saúde
(n.o 81, 2010)
Espaço Noesis
Av. 24 de Julho, 140 C
1399-025 Lisboa
1 Ano 10,00 e
2 Anos 19,00 e
A partir do n.o
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Assinatura da Revista Noesis | Trimestral
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