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I M AG E M

PA R A
O
FUTURO

TRÊS OBRAS DE
ALISSON E
PETER SMITHSON

Camila Medeiros
9810664

AUH0325 Aspectos da Linguagem Contemporânea


Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo

2021
Introdução que a guerra abalou as estruturas do movimento moderno
tradicional, encabeçado por Le Corbusier, abrindo espaço
A respeito de duas exposições realizadas pelos para uma crítica que estava mais conectada ao empirismo e
Smithson em 1956, Alisson disse que ambas refletiam à medida humana das coisas, em todos os sentidos. Menos
o direito de cada espaço ao unbreathed air – o ar não obviamente, está o sentido subjetivo do pós-guerra: a
respirado. Futuramente, ao tornar o casal seu objeto de estética da devastação como nomeia Kenneth Frampton2,
pesquisa e curiosidade, a pesquisadora Beatriz Colomina1 uma relação temporal com um desastre iminente ou que 3

pareceu fascinada pelo termo: o ar não respirado e todas acaba de acontecer, uma certa nostalgia com os tempos de
os inúmeros desdobramentos e análises que podem surgir paz.
dessa ideia. De fato, ela parece relevante porque há um Em 1956, quando realizaram as exposições Patio and
desenho bastante curioso feito por Alisson a esse respeito. Pavillion e House of the Future, Alisson e Peter Smithson já
1
Ilustra esse eixo que dá espaço e acesso ao ar não respirado e se haviam consagrado como os pais dessa nova geração de
coloca em evidência o valor que a casa do futuro desenhada arquitetos, pelo menos na Grã-Bretanha. Em contrapartida
por eles em 1956 dava a esse conceito, ao contrário das ao racionalismo funcionalista do movimento moderno,
outras casas que tomam um aspecto demasiado ordinário defendiam a ideia de um novo brutalismo, não como 4
ao lado dela. estética, mas como ética. O brutalismo seria uma solução
O casal dos Smithson pode ser considerado para a sociedade de massas porque suas características
um símbolo pop dos anos 1950, por mais que tenham construtivas e materiais permitem uma construção rápida e
rechaçado essa denominação em diversas ocasiões. Apesar funcional, o que no período do pós guerra era da mais alta
2
do renovado interesse na Casa do Futuro pelos críticos importância. Além disso, seu caráter brutal lhe permitia ao
de arquitetura do nosso século, Alisson e Peter Smithson mesmo tempo abandonar a ideia do arquiteto como autor,
1. Diagrama de Eixo do ar não respirado da
Casa do Futuro. são mais conhecidos como os pais da terceira geração do ou seja, a fuga da figura do arquiteto-herói, e dar identidade
1
Beatriz Colomina é uma arquiteta,
2. Alison and Peter Smithson em seu
movimento moderno, aqueles que encabeçaram o Team X ao edifício.
historiadora, curadora e teórica espanhola.
estudio em Cato Lodge, 1973. e que foram responsáveis pela ruptura com as estruturas Para além da ética brutalista, o pensamento dos É professora do programa de media
e modernidade na Universidade de
3. Alison and Peter Smithson, Collage para modernas dos CIAM e da Carta de Atenas. Smithson pode ser definido a partir da estética do As Princeton.
Golden Lane, 1952.
Sua história está intimamente ligada à Segunda Found que era, basicamente, uma nova maneira de ver 2
Kenneth Frampton: Historia Crítica da
4. Alisson and Peter Smithson collage para Guerra Mundial, no que tange a teoria, obviamente, uma vez o mundo, como um processo. O seu interesse por uma
o CIAM X. Arquitetura Moderna, p. 269
3
arquitetura mais próxima da medida humana e mais longe street were a living room”. 4 De fato, a fotografia representa
da monumentalidade, os levou a construir esse conceito de bem o ideal do casal: a beleza da vida cotidiana e o interesse
ver o extraordinário no ordinário e que era uma ferramenta pela domesticidade e seus limites.
para enfrentar-se com o mundo do pós guerra. Por mais doméstica e intima que pareça a fotografia,
Foi essa nova maneira de enxergar a realidade nada nela é casual. As cadeiras escolhidas ressaltam o
proposta pelo As Found que guiou o Indepent Group avanço das tecnologias. Alisson está de pé ao lado de uma
5 criado em 1952. Formado por críticos, artistas e arquitetos, cadeira de Breuer que era fruto da tecnologia da bicicleta e 7

o grupo tinha como objetivo básico a criação de uma as cadeiras de Nigel e Peter são um design de Charles e Ray
estética integrada a vida contemporânea. Era uma estética Eames e expressam exatamente essa honestidade brutalista
antiacadêmica orientada pela cultura de massas que crescia de todos as suas estruturas expostas. A escolha por situar-se
a ritmo frenético e impressionava a todos na metade do ao centro da rua ressalta a contradição entre a estaticidade
século XX. Sobre o grupo, Peter Smithson afirma “it was the que implica a cadeira e a mobilidade da rua. Trata-se da
big thing of the moment: the recognition that the popular arts, importância do habitar a rua sobre o qual Peter disse “that
which had always been influenced by the fine arts, had moved was the world at that time. That is, the number of cars was
6
into another sphere. Too see advertising as popular art” 3 small. It was just possible to use the street in that way”5
Dentro de Sources, o casal de arquitetos, o fotógrafo
Parallel of Life and Art Nigel Henderson e o artista Eduardo Paolozzi realizam a
sua própria exposição: Parallel of Life and Art. Consistia
Em 1953, o Independent Group realiza uma basicamente em uma sala cheia de fotografias: o desafio do
exposição chamada Sources, na qual diversos subgrupos visitante estava em observar e fazer associações. Não havia
apresentaram suas obras. Dessa exposição, nasce a parceria texto, nem explicações sobre o significado das fotografias
entre os Smithsons, Nigel Henderson e Eduardo Paolozzi ou a razão para estarem aí, e, principalmente, para onde
5. Peter Smithson, Eduardo Paolozzi,
Alisson Smithson e Nigel Henderson em que rende, para além de uma frutífera amizade, a icônica estavam. O espaço, além do pensamento do As Found era
1956 (foto por Nigel Henderson)
foto dos quatro sentados em cadeiras no meio da Limesrton a grande questão: as fotografias estavam dispostas pelo
3
Beatriz Colomina: Friends of the Future: a
6. Perspectiva da proposta para montagem conversation with Peter Smithson, p. 07
Streeet no bairro onde moravam em Londres, e onde Peter espaço de maneira que elas mesmas criavam o espaço. Não
da exposição Paralel of Life and Art de 1953
4
Smithson vive até hoje. Beatriz Colomina, em sua entrevista havia lógica para qual estava posta lado a lado, o jogo estava B. Colomina, op. cit., p. 09
7. Nigel Henderson e Eduardo Paolozzi,
Estudo para Parallel of Life & Art, 1952. a Peter Smithson comenta a peculiaridade da foto “as if the nas associações que o espectador era capaz de fazer. 5
B. Colomina, op. cit., p. 10
5
Como o próprio nome diz, a exposição parte de um Found surge de uma imensa admiração dos Smithson pelo
entendimento de que as ciências e as artes podem ser vistas casal e de uma tentativa de universalização de seus hábitos.
como aspectos de uma mesma identidade. Foram expostas A Estética Eames trata de uma atitude de um colecionador.
mais de uma centena de imagens da vida: radiografias, A sua casa, a Eames House, é um nítido exemplo desse ideia
fotografias de jornais, imagens de ruínas, material do casal: a casa é quase como uma concha, um invólucro
antropológico e desenhos infantis, ao lado de objetos de que ganha vida após a vivência que se expressa em todos
arte antigos e obras de Jackson Pollock. Sobre essas escolhas esses pequenos objetos que colecionaram durante suas 9
7
Peter Smithson afirma “We responded with what the though vidas. O As Found, em paralelo, parte dessa mesma ideia,
was appropriate. The resources of imagery that were not mas a universaliza, retirando-a de um contexto privado e
available to the previous generations: photography, x-Ray, estendendo esse olhar de admiração do ordinário ao mundo.
quasi scientific stuff ”. 6 A exposição Parallel of Life and Art expressa essa intenção
O grupo estava dialogando com diversas pautas “la cambiante poesía virtual era una inmensa colección de
do período e vanguardas artísticas do passado. Não por ampliaciones fotográficas de imágenes extraídas de la vida, la
acaso figuravam obras de Jackson Pollock entre as imagens naturaleza, la industria y las artes” 7
dispostas na exposição. Ele, assim como a vanguarda Também dos Eames, os Smithsons aprenderam
dadaísta, se relacionava com o acaso, a aleatoriedade e a transformar imagens em arquitetura. A exposição era
8 o azar, que, por sua vez, se conectava ao As Found. Os essencialmente uma arquitetura de imagens que criavam
Smithsons afirmavam que na arte do As Found a imagem é um espaço dentro de um espaço. Em 1956, o grupo repetiria
descoberta no processo de realização da obra, outorgando essa dinâmica na exposição Patio and Pavilion: “a room
10
uma importância fundamental ao processo. Assim como inside a room, except that now the inside walls of the outer
nos action paintings de Pollock, em Parallel of Life and Art, a room were lined in aluminium, making the visitor, endlessly
arte não é imediata, ou parte de um único caminho fechado. reflected on the walls, part of the exhibit.” 8
7. Parallel of Life and Art, Londres, 1953.
A totalidade da obra é entendida paulatinamente conforme
8. Fotografia de menina dentro da exposição 6
B. Colomina, op. cit., p. 13
Parallel of Life and Art exhibition porNigel
o visitante se move no espaço. Patio and Pavillion
Henderson. 7
Dentre todas as relações que se podem estabelecer Nieves Fernández Villalobos: Utopías
Domésticas: la casa del futuro de Alisson y
9. Charles and Ray Eames House, 1949 entre a exposição e o mundo da arte, a Estética Eames, como Em 1956 os Smithson participaram de duas Peter Smithson, p. 30

10. Charles and Ray Eames House, 1949 eles mesmo a chamariam, e é a mais direta. O conceito do As exposições que tinham como tema o futuro: This is 8
Beatriz Colomina: Unbreathed Air, p.34
7
Tomorrow, realizada pelo Independent Group em que mais lado a lado com o grupo uma vez que foram para
expuseram Patio and Pavillion novamente com Nigel Dubrovinik para participar do CIAM X. “I was astonished.
Henderson e Eduardo Paolozzi. E House of the Future que When you go Away there is nothing. Two weeks later you
fez parte da exposição Ideal Home. Ao pensar o futuro, os come back: its a miracle!” 10 Nessas duas semanas, Nigel e
Smithson se aproveitam do caráter expositivo das obras Henderson “decoraram” o pavilhão como coloca Peter, com
para usá-las como laboratórios, desprendendo-se da ideia inúmeros objetos e fotografias: uma colagem de aparência
11 de protótipo. Sem vínculos com clientes reais, adquiriram pré-histórica, outro de uma espécie de vida vegetal, objetos
uma liberdade que os permitia concentrar-se em fazer crer cerâmicos e a imponente colagem realizada com Henderson
o futuro, seja na atmosfera de Patio and Pavillion ou no de um torso masculino que aparenta estar em estado de
cenário de House of the Future: não havia um compromisso decomposição feito da sobreposição de fragmentos de
real, o que os motivava a ser muito mais radicais. paisagens, rochas e outros estratos naturais.
Patio and Pavilion fez parte da exposição This is Segundo os Smithson, a primeira necessidade
Tomorrow na qual o Independent Group se dividiu em humana é o domínio de uma porção de mundo: o pátio. A
doze grupos menores, sendo um deles novamente Alisson segunda, a cobertura de um espaço definido: o pavilhão.
12 e Peter Smithson, Nigel Henderson e Eduardo Paolozzi. Dessa maneira, o grupo tentava recriar um habitat
Sobre a obra Peter disse que “we [ele e Alisson] designed simbólico que pretendia fazer o visitante reflexionar
13
a shed and an aluminon-faces plywood enclosure. And sobre as necessidades humanas fundamentais: espaço,
that´s all we did as architects. [Nigel e Eduardo] They did abrigo e intimidade; e suas atividades básicas: movimento,
9
the rest”. Materialmente, descrever essa obra é bastante contemplação e pensamento. O visitante exerce um papel
simples: a room inside a room como disse Colomina. Era fundamental na descoberta da obra: Assim como em Parallel
uma estrutura de madeira recoberta de alumínio, ou seja, of Life and Art, em que o espectador se deslocava pelo espaço
reflexiva, coberta por um telhado de plástico corrugado. O construído por fotografias realizando associações, em Patio
espaço era um recorrido em torno de um pátio central cujo and Pavilion, se oferece uma extensa coleção de objetos para
11. Patio and Pavilion, 1956 acesso estava impossibilitado ao visitante. que o espectador faça analogias e as interprete segundo sua
Arquitetonicamente falando, como afirmou Peter, própria visão. E ainda mais, a cobertura de alumínio das
12. Vista interior do pavilhão
9
Patio and Pavillion era isso, e esse foi o seu trabalho com paredes reflete os visitantes transformando sua condição B. Colomina, op. cit., p. 27
13. Patio and Pavilion, 1956. Desenho para
o catálogo da exposição Alisson, que depois de desenhá-lo não estavam sequer passiva de espectador em uma condição ativa de visitante: 10
B. Colomina, op. cit., p. 28
9
ao ver se refletido, torna-se parte da obra. wheels, a battered trumpet and other homely junk had been
“El pequeno cobertizo que dispusimos en el patio tiene excavated after the atomic holocaust” 12 Nesse espaço de
ese techo transparente para que los objetos colocados encima corpos ausentes, o visitante é convidado a habitá-lo e criar
de él hagan de signos de ocupación para quienes estén fuera, y sua própria história.
se conviertan para quienes estén dentro en signos de posesión O piso recoberto de areia, as colagens e a disposição
11
tanto como de ocupación” dos objetos faziam todo o espaço parecer uma grande
Essa maneira de ocupar o pavilhão, torná-lo escavação arqueológica. Apesar do nome This is Tomorrow,
habitável através de objetos, vem carregada de influências tudo na obra parecia remeter ao passado, a não ser pela 16

da estética Eames, porém, a diferença fundamental entre atmosfera do dia seguinte. Influenciados pela vivência
o que os Eames realizaram em sua residência e o que os da guerra, sua proximidade temporal e o medo de sua
Smithson realizaram nesse pavilhão está na interpretação e repetição, os Smithson criaram um cenário do amanhã
14
no significado encontrado nesses objetos e na sua relação em que o passado remoto da guerra e um futuro imediato
com o espaço. Se na Eames House os objetos tornam aquela possível se fundem. É uma reflexão teórica sobre um habitar
a casa intima e pessoal do casal, em Patio and Pavilion, a sua simbólico de tempo que um dia foi o amanhã.
ocupação é universal, os objetos falam do mundo, de um
passado e futuro coletivo. House of the Future
É na sua crítica a essa exposição que Kenneth
Frampton cunha o termo estética do dia seguinte ou da A Casa do Futuro, apesar de ter caído em
15 devastação. Há uma relação temporal profunda com o esquecimento dentro do conjunto das produções dos
momento do pós guerra e com essa iminência do terror. A Smithson, representa de maneira única essa faceta artística
17
sensação que o pavilhão passa é de uma paisagem devastada, do casal e, principalmente, é um grande exemplar da
11
em que seu habitante parece estar ausente, como se tivesse conjuntura da década de 1950: o que estava sendo discutido, Nieves Fernández Villalobos: Utopías
14. Nigel Henderson, Head of a Man, 1956 Domésticas: la casa del futuro de Alisson y
fugido as pressas de uma tragédia. Presencia-se um instante qual era a mentalidade do presente por trás dessa idealização Peter Smithson, página 49 : Peter Smithson:
15. Patio and Pavilion, 1956. Pessoas Signs of Occupancy, AD (Fevereiro 1972),
passado no momento presente, como se os objetos ainda de futuro. p. 91-97
refletidas nos painéis de aluminio.
se movessem levemente pela passagem de uma pessoa Essa casa, assim como as outras obras apresentadas, 12
16. Patio and Pavilion, 1956. Pessoas B. Colomina: Unbreathed Air, p. 49
caminham sobre o chão coberto de areia. correndo que quase o derrubou. “One could not help but era parte de uma exposição: a Ideal Home: 60 years back – Reyner Banham, The New Brutalism:
Ethic or Aesthetic? (Stuttgart: Reinhold
17. Patio and Pavilion, 1956.
feeling that this particular Garden shed, with its rusted bicycle / 60 years ahead,. Sem esse compromisso com o real tão Publishing, 1966) 65.
11
caro usualmente ao campo arquitetônico, o casal refutou em sua fachada que dizia House of the Future. Como Parallel
o pressuposto dos 60 anos ao futuro, alegando que era of Life and Art e Patio and Pavilion, a Casa do Futuro era
demasiado tempo para que se pudesse prever as mudanças. também um espaço dentro de um espaço. Adentramos essa
Então os Smithson propuseram uma casa para dali a 25 caixa para encontrar nos em amplos corredores, em que
anos, ou seja, para 1981. vemos que outros curiosos fazem o mesmo caminho que
18
A casa era basicamente um cenário. Suponha-se que nós, ao redor da casa. Através de aberturas formadas por
em 25 anos o plástico seria o grande material de construção, curvas estranhas e sinuosas conseguimos espiar o interior
então a casa fez-se parecer de plástico quando em realidade da casa e a vida doméstica de seus dois habitantes do futuro,
foi feita de madeira e revestida de pintura. Nem mesmo os Ann e Peter. Através desses buracos orgânicos observamos
vidros eram verdadeiros, eram, em realidade, fios de nylon sem poder adentrar uma casa igualmente peculiar, com
conectados do teto ao chão aparentando divisórias de uma suas lisas superfícies de plástico que parecem conectar toda
alta de parede de vidro. E todas essas escolhas estavam a casa como um único volume escavado. O caminho nos
condicionadas precisamente pelo caráter expositivo da leva a uma escada e subimos ao nível superior da casa, onde,
20
obra, como explica Peter: enfim, nossa curiosidade é aliviada: agora conseguimos
“It was made like in theatre. It wasn´t real. It was made out olhar a casa como em um voo de pássaro e entender seus
of plywood. It was like an early airplane, where you make a espaços sinuosos em totalidade que se entremeiam ao redor
series of forms, then un run the skin over them. The house was do pátio: o espaço central, o eixo do unbreathed air. Ainda
19 made in ten days. The exhibition contractor was fantastically assim, seguimos meros espectadores, observando a vida
fast. It was not a prototype. It was like the design of a masque, futura alheia, praticada por esses dois personagens.
like theatre. Which is extraordinary. Like all exhibitions they A casa, apesar de ter sido pensada para um futuro
18. Modelo da Casa do Futuro ao lado de live a life of say a week our fours weeks in reality, but then they dali a 25 anos, é claramente um reflexo do contexto dos
outras casas propostas na exposição Daily
Mail Ideal Home. go on an on forever. Like the Barcelona Pavillion before it was anos 1950. Após a guerra, o cenário era o de explosão da 21
13
19 Peter Smithson. Desenho volumetrico reconstructed.” sociedade de consumo: novas tecnologias permitiam maior
da combinação de várias Casas do Futuro,
1997.
Fica claro que a casa era pura imagem. Ao final de conforto e o olhar cada vez mais distante das formas de
uma linha de casas ordinárias, estava uma enorme caixa viver do passado recente antes da guerra, principalmente
20 Axonometria da Casa do Futuro.
branca sobre a qual não se via nada que nos dissesse do que no que tangia a vida íntima e o trabalho doméstico. A Casa
21. Habitantes observam do caminho
exterior a vida dentro da Casa do Futuro. se tratava esse elemento, a não ser pelo anúncio brilhante do Futuro dos Smithson prometia uma vida cômoda através 13
B. Colomina, op. cit., p. 11
13
da inserção da tecnologia do universo doméstico. Ou seja, Beatriz Colomina define a casa como um objeto sexual e
o futuro não se expressava somente na sua materialidade de sua experiência como um peep show16, que é basicamente
plástico que conformavam as superfícies lisas e contínuas, o ato de espiar dentro de uma casa através de um pequeno
mas também nos seus aparelhos que transformam o buraco e que era muito comum nos primórdios da indústria
trabalho doméstico em um jogo de apertar botões. E Peter pornográfica.
aponta esses aspectos em retrospectiva de maneira muito Segundo Colomina, a Casa do Futuro era ao mesmo
otimista: “And it turned out to be more or less true: controlled tempo a exposição de uma casa e uma casa em exposição.
air, humidification, lighting under control, all the kitchen Fazer parte da exposição significava adentrar esse espaço
14
stuff, refrigeration” intermédio e espiar por dentro de suas aberturas esquisitas a
Mais do que isso, a casa foi pensada como um um casal que encenava uma vida doméstica, cujo fator sexual
protótipo muito especifico, trazendo o conceito de aludiu até mesmo Peter: “With the glass screen going across
22 obsolescência para arquitetura: “Unlike the mass-produced the face of the courtyard, the assumption is that you can see
American Houses of the period, this was more like a car, in the the person in the bathroom (...) Therefore it assumes that the 24
sense that the whole product would be mass produced, rather occupants are young people, when the body is still beautiful”
17
than parts, and that to chande anything in it, as I think Alisson . Portanto, até mesmo dentro do universo criado da casa
said, would be like trying to get a bigger glove compartment havia um componente sexual. Fora dele, o visitante assumia
for your car. That is, more complicated and more expensive a posição de um voyeur.
15
than getting rid of the whole thing and buying another car.” O visitante se vê, portanto, no papel do curioso,
23 A Casa dos Smihtsons, portanto, era uma imagem aquele que espia a vida alheia, um espetáculo que pode
do futuro: suas lisas superfícies sinuosas abrigavam o casal observar, mas jamais participar. A casa, mais do que cenário,
que encenava uma domesticidade projetada para dali vinte é imagem porque não é experienciada verdadeiramente
22. Sala de Estar com a mesa exagonal, e cinco anos. Mas não passava mais do que isso, um cenário. como espaço. Não se pode tocar, pisar, caminhar; a única
carrinho de servir, e cadeiras desenhadas
pelos Smithson, de plástico. Era basicamente uma relação entre invólucro e conteúdo: interação permitida é através do olhar, balizada pelo
14
B. Colomina, op. cit., p. 17
23. Chuveiro e banheiro expostos à visão a caixa é a envolvente que separa o exterior do interior, invólucro exterior que conduz o movimento e pelas suas
do jardim. 15
habitante de visitante. Por mais que se possa adentrar a aberturas que conduzem a mirada. O que se vê é a imagem do B. Colomina, op. cit., p. 22

24. Atrizes na sala de vestir da casa. Vê- caixa, é impossível adentrar a casa, e o espectador deve futuro, que, como uma propaganda própria dos anos 1950, 16
B. Colomina: Unbreathed Air, p. 41
se como o mobiliário e as paredes da casa
parecem parte do mesmo objeto. contentar-se com essa experiência de observador passivo. vende uma vida doméstica perfeita, encenada, literalmente 17
B. Colomina, op. cit., p. 22
15
por seus dois personagens. Influenciados pelo pós-guerra, o aparato tecnológico da casa dos Smithson partia do desejo
a ideia de futuro dos Smithson não poderia deixar de ser consumista propagado pela sociedade norte-americana,
utópica: um futuro brilhante, tecnológico e sensual. além do fato de que a enorme maioria dos produtos eram
A Casa do Futuro não passa, sob essa perspectiva, de importados de lá.
uma simulação. Nada ali tinha a intenção de ser de fato real. No entanto, tanto a Casa do Futuro quanto a
No entanto, a obra não simula somente a ideia superficial Disneylândia se configuram como simulacros pois são
de futuro. Mais do que isso, a casa pode ser considerada colocadas “no imaginário a fim de fazer crer que o resto é real,
um simulacro, ou seja, “nunca mais passível de ser trocado quando toda Los Angeles e a América que a rodeia já não são
pelo real, mas trocando-se em si mesmo, num circuito reais, mas do domínio do hiper real e da simulação. Já não se
ininterrupto cuja referência e circunferência se encontram trata de uma representação falsa da realidade (a ideologia),
18
em lado nenhum”. A ideia de futuro dos Smithson não se trata-se de esconder que o real já não é o real e, portanto,
25 concretiza nem nunca se concretizará porque parte de um de salvaguardar o princípio da realidade” 21. A Disneylândia
ideal que é simulação em si mesmo. Se o referencial é a visão não é a simulação de um mundo mágico frente a um mundo
utópica do presente projetada no futuro, não há referencial. fracassado. É, na verdade, a própria sustentação da ideia de 27
De simulação passa a simulacro pois seu referencial está que o mundo real não fracassou. Assim como a Casa do
na própria simulação: “uma estratégia de real, de neo-real, Futuro não é uma simulação utópica do futuro em contraste
e de hiper-real, que faz por todo o lado a dobragem de uma com o presente distópico da década de 1950. Parte da própria
19
estratégia de dissuasão” certeza de que o presente está cheio de oportunidades que
A Casa do Futuro, assim como a Disneylandia, é nos levarão a esse futuro, e aí está a chave para o simulacro:
26
um modelo de simulacro, “seleção do american way of life, esse presente não existe, é a própria ideologia.
panegírico dos valores americanos transposição idealizada de Ao vender a ideia de futuro, os Smithson estão
20
uma realidade contraditória” . Não por acaso a comparação vendendo uma ideia de presente. E é por isso que a Casa do
é tão direta. Apenas um ano antes da exposição Ideal Homes Futuro foi tantas vezes retratada como pop. Havia uma clara 18
Jean Baudrillard: Simulacros e Simulação,
25. Vista iterna da casa através da porta de p. 12
entrada.
foi aberta a Disneylândia, em 1955. Ainda que a Casa do alusão à propaganda, ao mundo da imagem que foi captado
19
Futuro estivesse inserida no contexto inglês, no momento por artistas norte-americanos como Warhol e Linchenstein, J. Baudrillard, op. cit., p. 12
26. Vista interna desde o caminho exterior.
do pós-guerra, o american way of life se havia incrustrado no ainda que Peter sempre tenha negado essa posição: “They 20
J. Baudrillard, op. cit., p. 14
27. Planta da Casa do Futuro sem os seus
buracos de observação. imaginário do Ocidente como objeto de consumo. E mesmo were not just copying it, there was a transformation. But, 21
J. Baudrillard, op. cit., p. 21
17
nevertheless, underneath, they were not taking a position, they era um habitat simbólico que respondia não somente a
were celebrating it. Whereas for me and Alisson, the question necessidade básica de abrigo, mas ao que o casal considerava
of the observation of the arts was not exactly a question of fundamental: o pátio. Ambas as obras são invariavelmente
celebrating. We take a position” 22. A posição tomada pelos voltadas para o interior, protegidas, são espaços dentro
Smithson parece ser a traduzida na estética do As Found, de espaços. A aparência exterior ou sua conexão com o
de universalizar a perspectiva de mundo que vê o ordinário mundo é a última das suas preocupações. As duas obras
como extraordinário, e que não está necessariamente são basicamente invólucros que têm o seu centro no pátio

28
conectada ao consumo, mas mais próxima a posição tomada onde se estabelce sua conexão com o mundo, vertical, uma
pelos Eames, de colecionadores. moldura do céu.
O pátio como espaço central engendra uma nova
Conclusão concepção de privacidade que será a pauta da década de
1950. Cada vez mais as casas se fecham para o exterior e
Essa propaganda norte-americana para a vida se abrem em um espaço livre interior. Na Califórnia, as
doméstica perfeita em que se concretizou a Casa do Futuro, Case Study Houses serão protótipos para as novas casas
era, na verdade, a paisagem do medo, como coloca Beatriz suburbanas, mesclando novas tecnologias industriais e
Colomina; “the H.O.F. was full of defenses. Almost every novos ideais de domesticidade, baseados no american way 30
29
detail of the house can be explained as a defensive system of life. Assim como a Casa do Futuro, o pátio será o espaço
against pollution, noise, dust, cold, views, germs, and visitors” central do desenvolvimento da sociabilidade familiar. A
23.
E é precisamente pela sua capacidade em proteger-se casa é um refúgio da modernidade, da urbanização, do caos
do mundo exterior que a Casa do Futuro é a imagem de da vida no pós-guerra.
tranquilidade. É o que define o unbreathed air, o ar não A guerra é o panorama de fundo dessas duas obras
contaminado, o eixo que conecta os habitantes refugiados dos Smithsons. O pátio da Casa do Futuro e de Patio and
28. Casa do Futuro. Vista para o pátio
interno
do mundo a sua porção de céu e de ar privado através do Pavilion não é somente um refúgio do exterior, como
pátio. E é ao redor dele que se conforma a casa. nos protótipos das Case Study Houses. Dentro da lógica
29. Fotografia dos atores que interpretavam
Ann e Peter, os moradores da casa Para os Smithsons, essa é a conexão entre a Casa expositiva em que se inseriam, o pátio é um espaço seguro
22
do Futuro e Patio and Pavillion: o acesso primordial à uma em um mundo antes ou depois da guerra. A iminência B. Colomina, op. cit., p. 08
30. Desenhos da Casa do Futuro em
exposição
porção de céu. Mesmo que não configurasse uma casa, da guerra é o que conecta essas duas obras. Em Patio and 23
B. Colomina, Unbreathed Air, p. 48
19
Pavilion nos deparamos com um cenário pós destruição. Bibliografia
Adentrar essa espaço era como “walking into a house
abandoned by the owners during a course of an evening meal, BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e Simulação. Editions
or into a ruined mine shut down by impendind desaster and Galilée, 1981.
24
never re-opened”
A Casa do Futuro, por outro lado, se coloca como COLOMINA, Beatriz. Unbreathed Air: Alisson e Peter
um cenário de um dia seguinte mais distante. A estética da Smithson: from the house of the future to the house of
devastação vinte e cinco anos depois. Uma casa totalmente today. Gray Room Spring and Massachusetts Institute of
defendida contra um mundo exterior diferente do que Technology, 2004.
conhecemos, mas que nos permite uma vida cômoda
através das novas tecnologias. Nosso contato com o mundo COLOMINA, Beatriz. Friends of the Future: a conversation
é através do céu, transformado em privado pela casa. O with Peter Smithson. October Magazine and assachusetts
pátio é o seu centro de tranquilidade, o seu jardim do éden Institute of Technology, 2000.
em oposição ao mundo caótico do qual nos defendemos.
“The Smithsons built a hole” 25 nos diz Beatriz HIGHMORE, Ben. Rough Poetry: Patio and Pavilion
Colomina. O centro de tudo é esse eixo do unbreathed Revisited. Oxford University Press, 2006.
air, a necessidade básica do ser humano, o seu contato
desnaturalizado com o mundo. O centro da simulação NIEVES, Fernandéz Villalobos. Utopías Domésticas: la
de um futuro utópico em seu interior e diatópico em seu casa del futuro de Alisson y Peter Smithson. Barcelona,
exterior. Fundacion Caja de Arquitectos, 2012.

24
B. Colomina, Unbreathed Air, p. 49

23
B. Colomina, Unbreathed Air, p. 54
21

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