Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
NA CONTEMPORANEIDADE
Desta forma, a arte no Brasil, teve em suas raízes a crítica da conjuntura social. É de
perguntar-se se ela hoje desempenha a mesma função, pois contraditoriamente, estamos diante
de uma arte nacional cada vez mais sufocada pelas condições sociais. A arte como conteúdo
escolar tornou-se uma disciplina massacrada pelas propostas neoliberais que atendem aos
anseios de organizações multilaterais. Atualmente, como disciplina escolar, como podemos
denomina-lá? Libertação, reprodução ou alienação?
A afirmação acima, referida, apresentada por Ana Mae Barbosa data de final da
década de 80. Em outra parte do mesmo texto, ela explicita que “em 17 anos de ensino
obrigatório da arte não desenvolveu a qualidade estética da arte-educação nas escolas”. O que
ela concebe como qualidade estética é o fato do ensino de artes não ter adquirido o seu
verdadeiro papel de transformação social. Esta configuração ainda está presente na atual
conjuntura educacional do ensino que, por sua vez, dogmatiza o ensino de Artes como lazer e
recreação.
3
De acordo com a Constituição, o ensino escolar deve incluir a arte no seu currículo.
Porém, ainda dispomos de uma superficial formação docente, conseqüencia da escassa
consolidação de cursos nas instituições federais e estaduais.
Fragmentou-se a função social da arte devido às exigências técnicas das novas práticas
pedagógicas tornando-a uma disciplina insipida e árida. O que fazer com a aula de artes, como
enquadrá-la dentro das perspectivas histórico-culturais? Sabe-se que as formas metodológicas
são aspectos relevantes no que diz respeito ao entendimento da função social da arte. Estas
formas devem apoderar-se da arte tornando-a um recurso ativo no processo de ensino-
aprendizagem.
Para tanto, necessita-se de uma reformulação nas práticas pedagógicas. Estas práticas,
por sua vez, são cada vez mais resultados da interferência do sistema econômico. Desta
forma, estendem-se às relações capitalistas no ambiente escolar, sufocando o
desenvolvimento de uma criticidade, liberdade e mudança social.
Os PCNs enfatizam o ensino voltado para formação do homem cidadão. Este homem
cidadão que é flexível às exigências do mercado e está disposto aceitar as condições impostas
pelo capital. Ser cidadão na era da globalização é pertencer á massa social que possibilita a
6
Ocorre uma dicotomia entre o conteúdo escolar e a sua função social. O conteúdo
escolar promove o desenvolvimento das habilidades e competências, mas será que tais
conteúdos estão articulados com a humanização do homem? A arte como síntese da
capacidade artística, intelectual e prática do homem deveria ser conteúdo escolar que
direcionasse a fruição do aluno enquanto ser que aprecia, comove e se sensibiliza diante do
que lhe é comunicado pela obra de arte. Este ser que deve ser formado e capacitado para ser
ativo, crítico e responsável.
Como buscar a liberdade, se não lhe foi oferecida a capacidade de pensar, mas
somente de ajustar, acomodar? “Por isso, toda vez que se suprime a liberdade, fica ele um ser
meramente ajustado ou acomodado”. (FREIRE, 1979, p.42).
forças sociais. Este empenho a que o ensino de Artes se dispõe vai além das esferas da
sociedade capitalista, tenta ultrapassar os limites impostos pelo mercado mundial.
A arte como disciplina escolar torna-se um instrumento social que propicia ao homem
o desenvolvimento do seu intelecto, da sua racionalização acerca da sua prática material,
porque ela possui um conteúdo que apresenta a produção do homem enquanto construção
social. Logo, para compreendê-la, faz-se necessário conhecer a historicidade de sua produção.
Conhecer este processo histórico, possibilita que o aluno realize uma compreensão da arte
como produção humana, sendo assim, ao compreendê-la ele é capaz de realizar uma reflexão
acerca da sua realidade e verificar como os valores estão constituídos socialmente.
Atualmente, verifica-se que a cultura material está articulada pelos fatores econômicos
que sustentam o neoliberalismo, portanto, a forma de ser do homem está de acordo com a
cultura material estabelecida.
Para tanto, urge rever as práticas educativas do ensino de artes para que elas não se
tornem álibis das relações sociais como estão postas. A arte como contexto reflexivo deve ser
um instrumento para que o aluno desenvolva o pensamento diante das questões sociais.
O aprendizado de artes deve ser um instrumento do pensamento. Isto foi afirmado por
Vygotsky em seus estudos, quando salientou a importância do ensino na formação social dos
indivíduos. Ensino esse que deve ser mediatizado pelo professor e promover uma relevância
social. No processo de aprendizagem, o aluno internaliza o pensamento abstrato de tal forma
que ele contribua para o seu processo de humanização e socialização. Neste aspecto, as
contribuições da teoria histórico-cultural são muito significativas nas práticas educativas que
devem ser realizadas.
do real, para encarnar uma condição em si – muitas vezes para ser real
a seu modo, para encontrar vida nas suas mensagens, alguns temas,
atravessando os séculos. Ora tira do artista a inspiração pura, ora a
capta imprevisíveis e imponderáveis ao meio circundante, ora antevê a
projeção de um destino ou a perspectiva de uma mudança. Constituída
na teia insondável da criação, a obra de arte inicia o seu grande
diálogo com a humanidade (KELLY, p.47, 1972).
Desenvolver a capacidade estética na criança desde as séries iniciais é uma tarefa tão
importante quanto o processo de alfabetização. A alfabetização possibilita ao aluno
compreender a escrita e a leitura de uma língua, ou seja, decodifica a sua linguagem, enquanto
o ensino de artes mostra como a linguagem pode ser materializada. São dois processos
decorrentes da ação e reflexão do homem. A alfabetização deveria extrapolar os limites da
compreensão da leitura e escrita, para que o aluno compreendesse a linguagem e reconhecesse
todas as formas de manifestação da mesma. Logo, a arte é uma manifestação da linguagem
que deve ser compreendida.
A atitude filosófica possibilita que o educando seja capaz de desvelar sua realidade,
crie condições de emancipação social. É por meio do pensar, dizer, fazer que se realiza o
desenvolvimento das funções psiquícas superiores, que desencadeia a humanização do ser
homem. Neste processo, os alunos constroem os seus valores de mundo.
Nesse quadro, os conteúdos de Artes são destituídos de suas funções sociais, porque se
tornam componentes da mecanização do ensino.
CONCLUSÃO
A educação escolar está inserida no contexto das transformações da sociedade
contemporânea. A escola, como instituição educativa tem o seu papel na formação de valores
sociais. Cabe à escola ser capaz de desenvolver propostas para que o ensino tenha a sua
função de transformação e libertação do homem.
Desta forma, o sistema econômico é a principal força motriz das questões educacionais
e o que se espera dela. As exigências educacionais são decorrentes dos acontecimentos
globalizados que atendem à formação de um novo tipo de homem.
A escola de hoje convive com a tensão gerada pela sociedade do conhecimento. Esta
tensão possibilita que a escola seja vista como uma instituição social permeada pelo
assistencialismo utilitarista dos governos federais. E o ensino é sufocado pela ampliação dos
meios de comunicação, que adentram o pensamento do indivíduo, manipulando as suas
competências sociais.
Atualmente, nos defrontamos com tendências educacionais que estão aliadas com a
ideologia capitalista, logo mantêm uma dependência social, cultural e econômica.
Sabe-se da importância que o ensino da arte tem nesta relação entre professores e
alunos, porém ainda as políticas educacionais não se comprometeram em definir o papel
essencial da arte como disciplina escolar.
exteriorizar os sentimentos que antes estavam sufocados pela massificação escolar, romper
com os limites do ensino tradicional e transcender o processo de ensino-aprendizagem.
Desempenhar ações que contribuem para uma transformação social numa perspectiva
materialista histórica no ensino de artes da atualidade é confrontar-se com as novas exigências
educacionais. Estas exigências estão em conformidade com o Plano Nacional de Educação
que tem os seguintes objetivos:
Estas reformas educacionais tiveram seu início nos anos 90 com o governo de Collor
de Mello, que pretendeu inserir o Brasil no cenário político mundial sob o comando de
organismos multilaterais. Em parceria com a OMC e com o Banco Mundial, delineou-se no
Brasil uma educação voltada para suprir as necessidades da economia globalizada, e com isto
configurou-se uma desestabilidade educacional.
15
Qual a relação que podemos obter no que diz respeito à democratização do ensino
quando estamos diante de uma sociedade capitalista em que a expressão do aluno na mais
sutil manifestação artística é suprimida? Falar em democratização do ensino na atual
conjuntura social é mascarar a atual realidade do ensino público. A principal função da escola
que seria a transmissão do conhecimento é massificada pelas burocracias administrativas e
pelo assistencialismo social.
A arte como disciplina escolar está deficitária no sistema de ensino público, porque
apresenta escassa formação docente e estrutura espacial e material que não atende à demanda
de alunos. Há fatores que a imedem de torná-la relevante no sistema de ensino. Não é dado à
arte o seu devido valor cultural e social. Ela é vista como uma disciplina que, muitas vezes,
não necessita de avaliação, de registro e formação profissional.
Ainda dominam na sala de aula os temas banais, folhas para colorir e variações
técnicas sob o comando de atividades mimeografadas. As imagens de artistas nacionais e
internacioanis são destituídas de seu caráter histórico, sendo utilizadas como objetos de
apreciação e reprodução. Onde encontraremos as imagens de artistas que contam a história do
Brasil e do mundo, se somente os livros didáticos forem capazes de apresentá-las? Mas
somente o livro didático como meio de divulgação de imagens não é capaz de transmitir o
valor da obra de arte. Diante de tal realidade, a mediação do professor capacitado em artes, é
primordial, para que este tipo de ensino seja visto como uma disciplina e não como uma
atividade.
Portanto, a arte não deve ser somente compreendida sob o aspecto da imagem, da
dança, do som. Porque a arte possui no seu interior o conteúdo, que é resultado das práticas
sociais e que são incorporadas nas interioridades individuais.
16
Como então possibilitar que a arte esteja inserida no sistema educacional de ensino
numa perspectiva materialista histórica se as condições educacionais estão voltadas para o
controle social? A arte possui um grande poder de sensibilização frente às questões sociais,
porque ela exprime a capacidade do homem de manifestar as práticas sociais.
É necessário trazer para a escola a arte que circunda o meio social, a arte que está na
mídia, na arquitetuta, nas vitrines, nas ruas, na moda, a fim de que o educando compreenda a
arte como produção social. Para que ele também possa produzir objetos de arte que serão
narrativas de sua história de vida. Assim, a arte produzida na escola pode apresentar aspectos
do contexto social que os educando estão inseridos, servindo-lhe de instrumento para a
interação entre o professor e aluno.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Fernando A.. Isto é arte? Uma reflexão sobre a arte contemporânea e o papel do
arte-educador. Cadernos de Textos: Educação, Arte, Inclusão. Rio de Janeiro, v. 1, n.3, p.11-
17, agost./dez. 2002.
BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2002.
BERG, Evelyn in BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. 5. ed. São Paulo:
Perspectiva, 2002.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 6.ed. São Paulo: Editora Ática, 1997.
ENGELS, Friedrich. Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica. In: MARX, Karl,
ENGELS Friedrich. Textos filosóficos. Lisboa: Editorial Presença, s.d.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 9.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1979.
GUTIÉRREZ, Francisco. Educação como práxis política. São Paulo: Summus Editorial,
1988.
KOSIK, Karel. A dialética do concreto. 3.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação
escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2003.
PEIXOTO, Maria Inês Hamann. Arte e grande público: a distância a ser extinta.
Campinas: Autores Associados, 2003. Coleção polêmicas do nosso tempo, 84.
VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. As idéias estéticas de Marx. 2.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1978.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 6.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.