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S. B. Kauer

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www.sbkauer.com

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Nota.
Essa é uma coleção de escritos produzidos em minha adolescência; possuo ainda outros, mas es-
tes estão datilografados... Até onde me lembro, foram escritos antes dos 15 anos. Neste e-book, os textos
estão sem edição. Por isso, peço compreensão da parte dos leitores. Muitas ideias aqui expressas não são
compatíveis com minha opinião atual. Será uma leitura rápida, alguns contos, alguns versos... Creio
que será interessante. Resolvi manter os textos originais, por isso, cada um leia, retenha o que é bom e
esqueça o que é ruim, afinal, se tratam de rascunhos de um adolescente.
O uso de trechos desta obra é permitido, desde que acompanhado da citação “Sidinei Bühler
Kauer, www.sbkauer.com”.

Um grande abraço, Sidinei.

Marcos.

Introdução:
Sabe o Marcos, eu tenho umas novidades dele para contar para você, quer ouvir?
Como é? Não conheces o Marcos? Então preste atenção que eu me encarrego de contar a história
dele.

Parte I
Marcos era um garoto de cinco pra seis anos quando o conheci, era um “tronquinho”, e
quando o chamavam de gordo ele dizia que era força (em partes eu até acreditei).
Sua estatura era o que se podia dizer, desenvolvida, embora sua forma de botijão de gás não a dei-
xava aparentar.
Como morava entre uma calma colônia de imigrantes europeus e uma agitada metrópole dos colo-
nizadores de mesma origem, era um menino acostumado com os bichos e com a poluição, com os
córregos e com os esgotos, a comer salada sem lavar e ficar bem e comer morangos industrializados
que o deixava “muito mal”.
Convenhamos que esta vida suburbana ajudava-o com algumas coisas, pois sabia fazer suas
“hortinhas” e “mexer” no computador, além de ter uma vida saudável no campo e um ensino de alta
qualidade na cidade.

Sidinei Bühler Kauer – www.sbkauer.com

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Sua família era unida e resolvia “todos os problemas que apareciam”, exceto o de que seu filho pre-
feriria ter uma mãe para cuidar dele a ver ela trabalhando na cidade longe dele para lhe comprar o
novo modelo de sandália que aparecia teve. E que ele gostava mais quando o pai trabalhava menos
horas e tiravam um tempo para lhe ensinar as coisas da terra do que agora que o seu pai saia para o
trabalho no armazém e só voltava tarde quando o filho já estava dormindo.
Infelizmente os pais dele até então não tinham percebido isso e cada dia que se passava sua
tristeza aumentava, porém para não chatear seus pais ele fingia que nada estava acontecendo.
Conheci por acaso aquele misterioso menino, foi em uma aula de informática voluntária que
eu estava dando na escola dele. Impressionei-me com o desempenho dele e...

Parte II
Após a aula falei-lhe em particular:
− Menino, você passa muitas horas na frente do seu computador?
− Que é isso professor! Eu só conheço computadô aqui da escola que eu uso para fazer os
meu trabalhos.
− Que acha de passar esse fim de semana na minha casa? Posso lhe ensinar muitas coisas.
− Perfeito sor, mais eu vô pedi pro meu pai e pra minha mãe se eles dexa.
− Me de seu endereço e qualquer coisa ligue para este número.
Na verdade o que eu queria era aprender algumas coisas com ele, afinal com cinco anos es-
tava na primeira série e muito bem!
Mas naquele instante o que me impressionou foi o seu nervosismo com aquela proposta,
ele sempre se esforçava para não errar as palavras e naquele instante proferiu um monte de “erros”
(e claro que para uma criança isso é normal, mas para aquele “geniosinho” (como diriam seus pais
em ocasiões futuras) aquilo foi muito estranho).

Parte III
− Mamãe, o professor de informática me convidou para passar o fim de semana com ele.
− Meu filho, você pode ser um geniosinho, mas é muito novo para trabalhar.
− Hum!!! Chega de... Desculpa mãe, o que eu quero dizer é que ele quer me ensinar algumas
coisas de informática.

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− Eu sabia, vou aceitar aquele outro trabalho a noite, aí compro um terreno na cidade e
mudamo-nos para lá.
Neste mesmo instante Marcos saiu chorando para o quarto e sua mãe comentou com sua
obstinação em “fazer-lhe bem”.
− Como pode, quando eu e Marcos (o marido dela) éramos pequenos, todos sabem que tan-
to os pais dele como os meus nem se importavam conosco e nada adquirimos até conhecermo-nos e
casarmos. Ah!

Parte IV
Mas ocorreu que os dias se passaram e chegou o fim de semana.
Marcos estava ansioso, no dia que sucedeu o de sua pergunta, ele recebeu um duvidoso “en-
tão tá” de sua mãe, com o qual pode ligar para mim e dar-me os detalhes.
Chegado o sábado...
− Maarcoos!!!
Foi o grito que soltei quando saí do carro e um sei lá o que alemão pulou em cima de mim.
− Boby, volta aqui seu malandro. Hã, hã, não se assuste não, o Boby só assusta estranho.
− Mesmo assim era melhor você manter ele preso.
− Acontece que eu fico o dia inteiro sonsinho então “pra não ter perigo” eu deixo ele solto.
− Pronto.
− Sim professor.
− Você sabe meu nome?
− Sei sim senhor.
− Então escute. Eu não sou seu professor agora, sou seu amigo. Por acaso você já chamou
um amigo de Professor ou de senhor?
− Não senh−Mauro.
− Assim está melhor.

Parte V
De manha sedo eu lhe mostrei minha casa, meus computadores (meu micro e meu Palm) E
levei-lhe ao shopping para jogar fliperama, almoçamos lá mesmo, e ali ele me surpreendeu:
− O Mauro. Tu não ias me ensinar.

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− E vou.
Após aquelas palavras percebi que havia alguma coisa errada nele, e só por milagre conse-
guiria descobrir em dois dias.
− De que religião você é.
− Meus pais não vão muito na igreja, mas meus avós paternos são católicos.
− Não te importarias de assistir um culto ecumênico?
− Não!
Senti uma secura naquele “não” que me deu maior certeza de que algo estava errado.
Levei-lhe ao culto e após tal ocasião, vi que seus olhos adquiriam um certo brilho que o dei-
xava “iluminado”.
Como as prédicas do padre e do pastor tinham sido sobre o mesmo assunto, isto é, nossa
missão na terra, não pude tirar muitas conclusões de seu “brilho”, afinal, teria ele achado a sua mis-
são na terra? Mas talvez ele estivesse pensando que sua missão era dar a volta por cima de algum
problema. Ambas as hipóteses eram pouco prováveis.
− Quer aprender agora?
− Até que enfim!
− Mas minhas aulas tem um preço.
− Lá se vai toda a conversa de que somos amigos e blá blá blá, você só quer tirar o dinheiro
de meus pais!
− Calma garoto, o preço é você me contar como faz para ser inteligente.
− Bom, e que eu sou assim.
Eu sabia que havia algo maior do que um “eu sou assim” por traz de sua “cabecinha”.
Ao término da tarde de domingo eu já tinha ensinado para ele o que em curso levaria um
mês!
Não pude mais repetir esses programas em fim de semana, pois eram os únicos dias que ele
tinha para ficar com os pais, mas em compensação nos dias de semana eu levava-o a casa de seus
avós paternos na segunda e para minha casa na quarta, sexta feira “largava” ele com seus avós ma-
ternos que à noite o “entregavam em casa”.
Como eu não tinha filhos nem esposa, Marcos se tornou como um filho para mim e passa-
ram-se cinco anos semelhantes a estes dias que lhes contei, porém nos dois anos seguintes a estes
cinco, minha empresa ordenou que eu trabalhasse uma temporada de dois anos na Indonésia, neste
tempo eu correspondia-me com Marcos, mas nunca obtivera resposta.

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Porém a seis meses do seu décimo terceiro aniversário, voltei e a coisa explodiu, o garoto
não era mais Marcos Júnior, era Marcos Prog o surfista das linguagens de programação. O menino
havia superado os meus programas e ficava cada vez mais fechado, exceto a mim, mesmo após esta
longa separação.

Parte VI
Quando voltamos a nos ver, conversamos como se aquele espaço de tempo nunca tivesse
existido, e além do mais ele disse-me que minha viagem fora boa para desmamá-lo de mim.
− Tenho novidades Mauro.
− Eu imagino...
− Meus pais morreram em um assalto, eu não estava em casa.
− Meus pêsames.
− Agradeço mas não abato. Fiquei um dia de folga e voltei ao trabalho bem disposto e mais
motivado ainda. (Trabalho autônomo de programação.)
− Se isso tiver alguma relação com o que te ensinei, fale-me e eu não lhe aparecerei mais.
− Tu fizeste-me certa vez uma pergunta que não calou. E, pois sobre ela sedimentei meus
mandamentos que me tornaram o que sou hoje.
− Qual é Prog?
− Perguntaste-me como eu fazia para ter tamanha inteligência.
− Vai me dar a resposta.
− Antes, só uma pergunta.
− Sim.
− És feliz agora.
− A partir de agora serei mais sociável, pois tu estas aqui e entristeceras se eu fechar-me.
− Só.
− Ainda antes da resposta quero lhe esclarecer que eu sei que você achava ou acha que tem
alguma coisa de errado comigo, e tinha, meus pais se matavam de trabalhar para me dar uma vida
que seus pais não os deram, mas não notavam que eu não era eles e que esse “tudo de bem” me dei-
xava deprimido, causava problemas e etc.
− Demorou mais acabei sabendo não é?
− É, a gora escute. Eu criei estes mandamentos para viver:

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Transformai o ruim em bom.
Tornar o deprimente motivador.
Usar os problemas como exercícios.
Valorizar a quem se esforça para te ajudar mesmo que te prejudiques.
Aproveitar cada oportunidade como um caro e as que falharem como gasolina.
Nunca esquecer do que te ensinam e pensar duas vezes antes de um “não faça” isso.

Parte VII
Novamente fui ordenado a viajar, para os Estados Unidos, onde fiquei vinte anos, casei-me
e tive uma filha.
Ao voltar, sabendo que ele estava separado (desta vez não ficamos sem comunicarmo-nos)
Erguia-lhe sobre um pedestal ao falar dele para minha filha e na minha volta em um jantar, quando
lhes apresentei, era como se tivessem nascido um para o outro.

As novidades
Agora que conhecem o Marcos e sua história, vem as novidades.
Já se passaram vinte anos dês do dia em que ele me contou os seus mandamentos, eu casei,
tive uma filha, Marcos também casou não teve filhos e foi infeliz, ai relembramos os velhos tempos.
Convidei-o para um jantar em minha casa e minha filha não parava de lançar-lhe um olhar
sedutor, então lhe disse em um momento de ausência dela:
−Quer um conselho de seu “sor” (cochichei-lhe), contei sua história para minha filha que
impressionou-se muito, mas nada comparado a quando apresentei-os. Reparou nos olhares que ela
lança-lhe, vai e torne-se pai de meus netos.
Decorreu-se que os dois começaram a namorar, noivaram... Casaram-se e terminei por se
avô.
O que acharam da novidade!

Fim

***

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E foi assim

Estava chovendo, o vento soprava. Mas ele não sabia o que se passava em seu coração.
Tinha ele a juventude em suas veias, dezessete anos mais precisamente. O nome, ao qual
não gostava, era Deodoro.
Sua paixão, assim propriamente dita, era pela linda, mas espalhafatosa, Dulce.
Como muitas outras histórias, aquela começou na escola, mas precisamente no segundo
ano do ensino médio.
Estudavam ambos na escola Ases da Mente, uma instituição de ensino com qualidade medi-
ana, uma boa qualificação se tratando de uma escola estadual. Ela era mais jovem, a um ano a dife-
rença não chegava. Estudavam na mesma sala, mas não pensem que desde pequenos, somente no
decorrente ano é se conheceram. Ele a amava, e sofria ao vê-la com outro(s). Ela por sua vez, via em
Deodoro um amigo, a quem contava muitas coisas, coisas estas que nem ao menos aos namorados
que arrumava havia contado. Dulce precisava dele, pois eram a idéia e sua execução.
Ambos tinham destaque perante os outros, mas o jovem agora tinha uma fonte de inspira-
ção.O poder de executar as idéias que ele não podia, tinha vergonha ou coisa semelhante, era ungi-
do àquela moça.
De fato que eram corpo e alma.
Ele tinha paixão por ela. (Digo tinha e não sentia, pois paixão neste e em outros casos, vem
de sofrimento). E ela Amizade por ele.
De tudo fazia ele para conquistar o coração daquela desajuizada. Mas cometeu o erro de
cansar-se da espera, e, foi justamente nesse momento que cresceu amor, sim amor no coração da
jovem. A semente que Deodoro plantara finalmente havia germinado, mas era tarde.
Agora, após tempos, o amor da moça dissipou-se, a paixão do jovem virou restolho de amor.
Mas, todavia que ouvem um som que aguce sentimentos, ou lêem um romance, choram.
Choram por que se amam, mas não se amam de fato, porque tem medo de falar-se. Sentem
medo de um fazer por ou não merecer o outro.
Queria eu saber até quando vão se olhar com gelo.
Queria eu saber quando vão deixar escapar as labaredas deste amor.

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Fim

***

Eça de Assis Silva

Ele não era muito inteligente, mas nem por tal burro. Sabia calcular, ler (principalmente
quando o livro tinha gravuras) escrever e até mesmo interpretar. Seu pai era “grande”, mas não me
contenho a dizer grande em poder ou riqueza, sua aura era iluminada, sua voz tenra em tom, mas
com a rigidez do objetivismo.
O caro leitor deve estar se perguntando o nome do dito cujo protagonista, pois bem. Eça de
Assis Silva, assim que seu pai o nomeou.
Não pense que me confundi com estes acariciadores da mente, estes monstros literários, o
fato é que foi este mesmo o nome que Paulo da Silva (nome mais comum é difícil) deu a seu filho.
Sua mãe, Suzany Alencastro Silva, contestou muito no dia do registro, mas a voz de seu marido eco-
ou em seus ouvidos como ecoa a chuva nas telhas a quem está com sono, e ela concedeu.
A mãe de Silvinho (assim era chamado por muitos que não simpatizavam com seu nome)
não consta muito nesta história, talvez porque ela sempre estivesse a arrumar suas unhas ao invés
de ensinar o filho a honrar o nome.
Por outro lado, seu pai...
Paulo merecia receber o título de Dr. Paulo, afinal, seu grau de instrução, parecia-se com o
de um defensor de teses. Não é por mais, pois já lera todos os volumes do sebo, criado e nomeado
por ele, e o nome não poderia ser outro: Veríssimo de Andrade (percebe-se a mania dele de mistu-
rar nomes dos mestres literários para homenageá-los). Sua paixão pela literatura vinha dos ensi-
namentos de sua avó (Bisavó de Eça), Dona Maria Ferreira (Que de Ferreira não tinha nada, pois o
nome não passava de uma homenagem que seu pai fez a uma ex-namorada. Irônico, não?). Era uma
Senhora meiga, mas tão rígida como o titânio espesso. Pregava que quem lê, não lê apenas para si,
pois libera aos poucos o que aprendeu, e, talvez por isso seu neto, que em relação a tempo de vida
foi o que mais esteve com ela, tenha se saído um devorador de livros.

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Note então o amor de Dr. Paulo por seu filho. Por crer nas palavras de sua avó, procurou ler
o maior número de livros possível, na esperança de que seu filho estivesse tornando-se um leitor
passivo (assim como existem fumantes passivos, há os leitores passivos). Entretanto, também não
irei me conter as façanhas deste “paizão”, pelo fato de meu vocabulário ser pobre para relatar seus
feitos, mas isso não quer dizer que não falarei sobre algumas de suas façanhas.

II

Eça parecia ter preguiça de pensar, era mais fácil a ele perguntar do que raciocinar um
pouquinho, talvez este fato tenha ajudado a construir nossa amizade, pois foi através do seu rela-
xamento que eu o conheci.
Ocorreu que ele foi expulso da escola onde estudara desde criança, por colar. Os professo-
res tomaram esta providência não de supetão, mas avaliando que Silvinho sempre colou, eles até
falavam a seu pai, mas o Dr. Paulo não acreditava. Isso não importa.
O que importa de fato, é que daquele quarto de ano em diante ele começou a freqüentar a
8º série da E. E. Jorge Bastos. Casualmente, a escola que eu freqüentava.

Acordei naquele dia, e aprontei-me para ir a escola. Aqueles atos corriqueiros, pareciam i-
núteis. Todos os dias, levantar, escovar os dentes, trocar de roupa, tomar café, escovar os dentes de
novo, pentear o cabelo.../...Pegar o ônibus, chegar na escola, esperar uma hora até bater o sinal. Que
sufoco! Sem falar das provas, trabalhos e etc. Francamente, acho que ao completar o ensino médio o
aluno deveria receber uma aposentadoria.
Bom, de fato não é isso que importa, pois devo conter-me a contar a história de Eça.

Ele chegou na escola, de meio simples como todos nós. A velha “charanga” (assim chamada
pelo barulho de sua lataria) chegava nada discreta, e nada discreto vinha Silvinho com sua cara de
leitão recém castrado. Chegou, olhou, sentou e disse um “oi”, meio que esbarrando nos beiços, e
digo beiços, ao invés de lábios, pelo fato deles estarem grosseiramente “inchados”.

− Bom dia para você também.


Pausa e voltei a dialogar.
− Tem nome.

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Pausa novamente.
− Se não tem nome, ao menos língua deve ter.
E para que fui falar aquilo?! O rapaz pulou sobre mim e descarregou uma raiva, que eu no
momento não sabia de que. Mas eu não deixei barato não. Dei três murros na boca do estômago
daquele agressor sem nome, que ele apartou de mim. Não digo que não levei uns “cascudos” tam-
bém, mas que ele saiu meio tonto, isso sim eu digo sem vergonha.
Ficamos os dois primeiros períodos sem trocar palavras. O problema é que o terceiro perí-
odo era de Ed. Física. Aí o bicho pegou.!
Por travessura de meus colegas, que gostavam de uma briguinha, fomos parar um de cada
lado do campo. Minha posição era de goleiro, porém, meus então amigos, disseram que eu teria que
mostrar bril, enfrentar ele. Eu até que não queria, mas lembre do meu olho, que naquele momento
já havia inchado. E o fogo foi antagônico ao que o leitor deve estar imaginando.

O professor apitou, e em menos de um minuto meu time já fazia um gol. E em seguida mais
outro, e outro, mais um... E assim o primeiro tempo terminou cinco a zero. O professor, que se cha-
mava Gabriel, mas de anjo não tinha nada (isso porque já tinha sido preso por assedio sexual a uma
aluna do médio), resolveu testar uma coisa:
− Alemão (assim que me chamavam na escola)! Volta pra tua posição. E Marcão (esse era
um jogador de peso, mas não que jogasse bem, ele era uma verdadeira bola), dá lugar pró Silvinho.
O time adversário (um) saiu de campo. Entrou o time dois (considerado o melhor da tur-
ma). E começou a peleia.
A bola mal saíra do centro e lá estava a bola, enrolada na rede. Foi um gol na gaveta, após
uma arrancada de Pablo e o “bubião” de Eça. Outro gol, desta vez drible de Eça, cabeceada e Pablo e
bicicleta de Anderson.
E assim seguiu o jogo.

O último período, foi de Ciências, e ele, o Silvinho, não entendia aquele blá, blá, blá, de â-
nions, cátions, valência e etc. Então eu tentei novamente puxar conversa. Nem que fosse apenas pa-
ra lhe explicar a matéria. E o fato sucedeu-se assim:

− Silvinho. Quer uma mão?


− Se não for na minha cara.
− Esquece...

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− Calma. Não vou partir para ignorância de novo.
− Seu nome não vou perguntar, afinal você já foi apresentado no primeiro período. Mas a-
cho que existem outras coisas a se falar.
− É. Pode começar me explicando essa matéria. Acontece que eu só colava na outra escola e
agora estou totalmente perdido.
− Vou te avisar logo. Aqui nessa escola, muita gente já se ferrou tentando colar. E caso quei-
ra que eu te de cola, pode esquecer.
− Eu não sou burro! Apenas um pouco preguiçoso. Mas não esquenta, eu vou mostrar ao
meu pai que ele não me criou mal, como ele deve estar pensando agora.
− Acha que ele está dizendo “Filho de peixe, peixinho é. Se meu filho é um burro, o que serei
eu?”
− Vai gozando, há de chegar o tempo de você me chamar de CDF.
− Espero mesmo que sim.

Aquele dia letivo acabou, porém voltei para casa com três certezas:
Eça era um rapaz forte, esperto e bem humorado.
Ah! E mais uma coisa, não tentem dizer a seus pais que olho roxo é bolada. Pois você pode
acabar ficando sem mesada!

III

Dia pós dia, íamos nos tornando-nos grandes amigos. Ele, (não desmentindo o fato dele pa-
recer ter preguiça de pensar) tinha um brilho nos olhos quando se empolgava, de modo que o
mundo parecia ser seu brinquedo. Ele podia, ele sabia. Infelizmente, não sei o motivo, Eça não que-
ria.
Era como se ele fosse como o mar, que de tanto se redimir é maior que todos. E sempre di-
zia:
− Eu aprendi muito, mas só uso pouco. Não sei se conseguiria lidar com assuntos contro-
versos ao mesmo tempo. E de mais a mais, melhor faz quem sabe pouco e usa muito, do que aquele
que sabe muito porém não usa nada desse conhecimento.
Pelo fato que lhe contem em outrora, pode-se perceber que ao declamar esta frase filosófi-
ca, os olhos de Assis eram calorosos e brilhantes como um forno de derreter areia de quartzo. E a-

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quela energia, até me empolgava. Comecei a tentar transmitir calor e brilho similares a Eça nos
momentos em que ele se demonstrava opaco.
Imaginem só! Deu certo!
Silvinho começou a exercitar aquele intelecto. E eu também evoluí com ele. − notem que fa-
lo “com ele” e não “como ele” − Lancei um livro, “Os espelhos também iluminam”, e comecei a estu-
dar música.
O leitor com certeza deve querer saber o que ouve com Eça. Talvez um livro, uma sinfonia
inteira. Nada disso! Ele... Calma, isso é para a página seguinte. Vamos ficar com a adolescência, e
depois lhes conto como foi a vida adulta dele.

Assis ficou famoso, cansou da fama e parou. Digo-lhes, por quanto, que ele ficou famoso por
umas colunas no jornal, algumas entrevistas e programas em rádios e até televisão. Quando me re-
firo a dizer que ele “parou”, não digo de ser genial, ou de honrar seu nome, mas sim, parou de mar-
car compromissos, de dar entrevistas. Ou seja, fechou sua “firma de fama” sem demitir os emprega-
dos. Empregados estes, que eram o conhecimento, a sabedoria, a inteligência...

Passaram os anos. Tornamo-nos adultos, e logo ao completar dezoito anos, fui contratado
por um empreendimento financeiro.
Leve em conta, caro leitor, que Eça de Assis tem cinco meses a mais de vida do que eu. Ima-
ginaram as possibilidades? Quem contrataria um jovem de dezoito anos para ser secretário do ge-
rente e dono da empresa?
É nessas horas, que se pode ver que uma boa amizade também vale financeiramente.
Como sua imaginação deve ter lhe contado, meu patrão seria o respeitado Sr. Eça de Assis
Silva.
O que a empresa fazia?
É simples. Eça criou uma teoria que dizia:
“Se a literatura não reflete com precisão a realidade, façamos a realidade riscar as mesmas
linhas que a literatura”.
É simples, mas funcionava. O seu, digamos banco, criava planos literários para tirar empre-
sas do vermelho.
E funcionava assim:
O “banco” de Eça, financiava o dinheiro para o pagamento de dívidas de uma determinada
empresa, como por exemplo, a Interfarma, assessorava a dita empresa, com os ditos “planos literá-

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rios”, de forma que a empresa saia do vermelho e não voltava mais. Em troca da ajuda, a contrata-
dora de nossos serviços, além de pagar o juro, é claro, tinha de pagar ao Altenative Bank, uma ca-
rência de trinta por cento do lucro de quatro meses de serviço da empresa. A carência podia ser
paga em até um ano.
Parece utopia uma empresa que acaba de sair do vermelho pagar trinta por cento de sua
renda. Mas dava certo.
Gostei do serviço. Eça falou que havia tido inspiração ao criar sua meta, no livro “Os espe-
lhos também iluminam”. E minha função no Alternative era justamente essa, dar as idéias para que
Eça as aprimorasse e realizasse.

IV

− Calma Eça, a passagem dele não foi devaneio.


− Lembre-me de lhe dizer isso no enterro de seu pai.
− Amigo. Das obras e feitos de teu pai, tu és o mais perfeito. Por acaso ficarias feliz ao ver o
original de um livro teu lançado às águas?
− Você quer dizer que ao me enlutar estou cuspindo nos sonhos de meu pai?
− Ja mein Bruder!

Este diálogo foi um marco na vida de Eça de Assis. A morte de seu pai, caiu-lhe como uma
pedra sobre a cabeça.
Meses de luto, afundado naquele porão de trevas, Eça deu a ordem a mim:
− Caro amigo, venda o Altenative Bank.
Sem hesitar, cumpri a ordem de meu patrão. Não por que de fato ele mandasse em mim,
mas porque aquela voz dele... Aquela voz, parecia uma súplica em leito de morte. Vendi o tal banco,
e depois procurei entender o amigo.

− Caro Eça. Traduza suas lágrimas a linguagem dos homens.


− É simples. Com tanto dinheiro, esqueci que tinha família!
− Soube enfrentar a fama e não ao dinheiro.
− Exatamente. Pensei que por não ter sido pego pelo gato, o leão me pouparia.
− Há tempo de reconstituíres família!
− Queres dizer o que com isso?

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− Não és Eça ou Assis por abstração. Sabes do que falo.
− E poderei erguer-me do pó?
− Esqueceste que és o mar?
− O mar. Sim, o mar!
A voz dele começou naquele instante a emitir a radiação que antes apenas seus olhos libe-
ravam. Porém tremula.
− O fato de estar trancado neste porão prova isto. Achas que não presta mais a nada. No en-
tanto se ergueres a cabeça, verás que pode progredir na vida. Seja novo homem. Crie um Eçinha de
Assis Silva para você!

E eis que novamente meu conselho persuadiu Eça. Hoje ele é casado, não tem grandes em-
preendimentos, nem ao menos é famoso ou rico.
Ah! E não posso de me esquecer do Paulo Silva Neto, em homenagem ao avô.
E francamente, o Paulinho realmente puxou ao avô. Se trabalhasse em circo competiria com
o engolidor de espadas, só que engolindo livros.

A mulher de Eça nada se parecia com Dona Suzany. Era participativa na criação do filho e
além de tudo era muito formosa e meiga.

Meu amigo trabalha de secretário em uma nacional que produz softwares.


E eu? Eu estou aqui sentado, fofocando a vida daquele amigo tão especial.

Fim

***

Lição obscura

Tudo começa e tudo tem um fim.

Tudo tem seu lado bom

E seu lado ruim.

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Por mais pura que uma mente possa ser, tem sue lado positivo e seu lado negativo.
A fúria nasceu com o homem e com ele vai morrer. É um sentimento injustiçado em nossos
dias, pois na verdade é um sentimento bom, quando usado de forma correta.
Posso afirmar e sei que o leitor já deve ter observado, ou sentido na pele, a utilidade da fú-
ria benigna. Afinal ela é um sentimento que pode fazer transparecer a face divina, o poder concedi-
do a nós humanos.

Vem aquela força

E brotam em mim calores de fúria.

Transparece em mim tamanha energia

E sou capaz de corrigir as injustiças.

É incrível e desmascara qualquer magia.

Mas o nosso lado obscuro da mente contaminou esse estado sublime, e hoje a fúria é muitas
vezes descrita como um estado de desespero (o que não deixa de ser) só que de utilidade maligna.
Por tal tome cuidado, averigúe até que ponto sua natureza humana pode permanecer mor-
ta. Ou a fúria humana lhe tomará o coração e serás tu, nada mais que uma bactéria a contaminar o
reservatório de benevolências.

Cuidado com o que cria.

Pois o fogo queima até o palito que o gerou.

E pense no que Cristo diria.

O Homem com sua mania de mudar, mudou o curso d’água, a temperatura da terra. Mas
não mudou o destino da pedra de apenas observar, nem o seu, de adulterar e por isso pagar.

Sobre toda coisa recebeu poder o homem

Mas não sobre si mesmo.

E por isso vai destruindo

E como pode sobrevivendo.


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E sobre hipóteses de razão sua vida vai apodrecendo.

É triste ver o quão somos maus, é bom ver o quanto podemos ser bons. E lutamos num cabo
de guerra contra essa natureza que tenta nos dominar.

Somos fortes

E queremos ser fortes.

Mas largamos as trevas nossas sortes.

E continuamos a mudar. Remédios matam pessoas, policiais são traficantes.


O que nos sobra?
Sobra tentar mudar essa situação, sobra tentar ser o mais óbvio possível (compreenda o
sentido). Ou seja: Se for político, obviamente tente melhorar o que estiver debaixo de seu governo,
se for eclesiástico, obviamente ensine.

Pois o dom vem e fica

E se não utilizado

Ele se recolhe e no seu interior fica resguardado.

Utilize o que tem, e faça o melhor possível. Tenha coragem e seja seguro.

Afinal o mundo é de quem chuta

E não do reserva que sabe fazer o gol.

O erro sempre começa pelo começo. Os pais ensinam errado e o filho faz errado, filho de
peixe peixinho é.
Errado!
A educação recebida na infância é a estruturação da vida, mas o caráter em si, já nasce com
a pessoa, e se altera com experiências pessoais. Sendo assim filho de traficante pode um dia vir a
ser presidente.

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Infelizmente a sociedade atual descrimina todos que não pertençam a sua hierarquia de
mesmices, ela não aceita um filho de assassino tornar-se policial.

O alicerce segura a casa;

mas se ela não possuir vigas e paredes firmes

O teto cairá.

Todos temos uma força adormecida, todos podemos, só depende o quê?


Não entendeu? Eu explico.

Podemos tudo que queremos,

Se realmente o queremos,

Pois no fundo só queremos o que sabemos que podemos.

Ou seja, só pensamos em derrubar uma árvore quando o nosso subconsciente sabe que po-
demos derrubá-la, mas o que nos falta às vezes é a coragem de executar esses planos utópicos.
Eu mesmo, quando pequeno queria uma bicicleta de marchas, parecia impossível, mas a ti-
ve. Sonhava com um computador, o que realmente naquele momento era impossível, mas com o
tempo, o tive também. E mais ousado sonho era lançar um livro, é não é que lancei!
A escolha deve ser feita:

Querer tudo e não ter nada,

Ou querer pouco e ter esse pouco

Viver esse estilo da Terra fracassada

Ou viver feliz, mas para estes “conservadores” ser um louco.

Tudo é tão complicado até se descobrir o quão fácil pode ser. E quando descobrirmos que
tudo é fácil, achamos que tem algo errado e fica tudo difícil novamente.
O homem complica tudo com essa mania de sempre achar um defeito nas coisas. Por outro
lado, se todos achassem que está tudo perfeito, tudo seria corriqueiro.
Na verdade o que se precisa neste mundo é de pessoas com capacidade de percepção, pes-
soas estas que saibam mudar o necessário e a ora de parar.
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É difícil saber o que fazer,

Mas nem por isso devemos deixar de tentar voar.

É difícil saber o que querer,

Mas nem por isso devemos parar de sonhar.

Na verdade o que a humanidade espera é que os problemas sejam sempre os mesmos, só


que não raciocina que para isso seria preciso não resolver mais os problemas. Sendo assim estamos
em um nó. E quem não vai desembaraçando o fio aos poucos, acaba por morrer sufocado por ele.

A vida é como uma corda

Vive dando nó.

E quem não sabe deles escapar,

Acaba sem o ar da esperança ficar.

Assim sendo, problemas vem de soluções, e sem soluções os problemas cressem como dívi-
da de dinheiro pego de agiota.
Nunca desista de resolver seus problemas. Peça conselhos, porém nunca se esqueça de que
os problemas podem ser iguais, mas as soluções não.

Meu problema pode andar

No mesmo barco que o seu.

Mas o alvejante de minha alma,

Pode ser a tinta que tinge teu breu.

E o breu continua, pois o homem semeia as pragas e sai em busca de pulverizastes para a-
cabar com elas.
Como pode um ser desenvolvido ter atitudes tão primitivas?
O homem caminha apressadamente para os esgotos que criou. Afinal se aproxima cada vez
mais de ser apenas um verme.

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É claro que não são todos, afinal alguns tem certa percepção.O problema são os que se a-
cham tão importantes que vendam os olhos para mostrar sua “sabedoria”, sem levar em conta que
tal ato atrofia mais ainda seus cérebros.

Muitos têm capacidade.

Mas são vaidosos e acham não mais precisarem aprender.

E vão atrofiando, atrofiando, atrofiando...

E a memória genética transmite as marcas dessas tolices. Nascem crianças (quão grande é
seu sofrimento, imagino eu) com braços a menos, cabeças a mais. Sua tecnologia é tão valiosa, e tão
útil que um grande feito a simboliza: Chernobyl! Será necessário dizer mais algo? Receio que não.
Cresça ó humanidade, cresça. Teu pai esta se cansando de esperar e a besta apronta-se para
o grande abate.

Ouçam o chamado...

É um aviso.

Falo e comprovo, jamais me faço omisso.

Queria eu saber dirigir minha própria vida e saber se o que faço é certo, mas por quanto
não sei, sigo meu caminho, tentando mapear as zonas que passo. Tentando clarear quem está em
breu maior do que o qual sem motivo tento me enterrar.

A escolha pode ser feita.

Tornar-se transgênico,

Ou semear vida e ser parte da colheita.

Usar “vidatóxico”

Ou gozar a tranqüilidade de um descanso único.

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