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COMO ESCREVER E FALAR PÓS-MODERNAMENTE

Por Stephen Katz,


Professor Associado de Sociologia da Trent University, Peterborough,
Ontario, Canadá.

Tradução livre de: Josemar de Campos Maciel,


D. Psych.; Mag. S. Theol. Professor Adjunto da Universidade Católica
Dom Bosco em Campo Grande, Mato Grosso do Sul (o meu é mais
comprido, *risos)...

NOTA PRÉVIA: Este texto destina-se a uso educacional e privado.


Sua utilização para qualquer outro fim não está autorizada.
Combustível para o cérebro. Inflamável.

SEGUNDA NOTA PRÉVIA: Seguidores de Mr. Pickwick, almas


pequenas, animais semi-racionais perseguidores de índices e
colecionadores de picuinhas, cuidado. Este texto pode fazê-los
explodir.

TERCEIRA NOTA PRÉVIA: Caro leitor, se encontrar erros de


português, eu agradeceria de coração se suas sugestões me
alcançassem, seja pelos corredores, seja pelos e-lugares da vida.
Agora, leia o texto. Não perca tempo com estas notas prévias. E
Shalom, Salam, Peace, Paix, Paz procê!

P
ÓS-MODERNO TEM SIDO A PALAVRA DA MODA NA
ACADEMIA, NA ÚLTIMA DÉCADA. Revistas, jornais, artigos,
temas de conferências e cursos de universidade ressoaram os debates sobre o pós-
moderno que abordam a unicidade dos nossos tempos, onde a computação, economia
global e a mídia transformaram todas as formas de engajamento social. Sendo um
professor de sociologia que ensina sobre cultura, eu mesmo me coloco nesse
ambiente. De fato, eu tenho um grande interesse no tema do pós-moderno, tanto
enquanto movimento intelectual, como também enquanto um problema prático. Na
minha experiência, parece existir um fosso entre aqueles que vêem o fenômeno pós-
moderno como uma reproposição neo-conservadora daquelas mesmas armadilhas
corporativistas, e aqueles que vêem nela uma ruptura há muito esperada com todas
as doutrinas modernas sobre educação, estética e política. Naturalmente existem
muitas posições intermediárias, dependendo da forma como a pessoa situa as suas
melhores expectativas para o próximo milênio.
Mas sinceramente, a minha opinião é que o verdadeiro fosso não é tanto de
divergência de pensamento, mas linguístico. A postura pode ser tão importante
quanto a política, quando se trata de intelligentsia. Em outras palavras, não é
importante se você gosta ou não do pós-moderno; o que importa realmente, é que
você fale e escreva "pós-modernamente". Pode acontecer, por exemplo, que você
queira estabelecer conversação com os seus mandarins locais de teoria cultural, ou de
pensamento profundo e omnipresente, mas você não vai saber o que falar. Ou pode
acontecer mesmo que, quando você der alguma contribuição que você chega a
considerar relevante, ou até inteligente, seja ignorado ou olhado com uma certa
piedade. Aqui eu lhe proponho um guia rápido, para que você possa falar e escrever
pós-modernamente. Assim você não terá esse problema, e poderá participar de um
muito profícuo debate.
Antes de qualquer coisa, saiba que a linguagem clara e simples está totalmente
fora de questão. É realista demais, modernista demais, óbvia demais. A linguagem
pós-moderna exige que se usem jogos, trocadilhos, paródias e indeterminações como
técnicas críticas, para apontar este fato. Normalmente esta exigência é um pouco
difícil demais. Por isso a obscuridade é uma substituta bem aceita. Imaginemos, por
exemplo, que você queira dizer algo parecido com a seguinte frase: "nós precisamos
ouvir as opiniões dos povos excluídos da civilização ocidental para entender melhor os
preconceitos culturais que nos condicionam". Bem, é uma frase honesta, mas muito
simplista. Tome como exemplo a palavra "opiniões". Uma fala pós-moderna usaria
muito mais palavras como "vozes" ou, melhor ainda, "vocalidades". Ou, quem sabe,
"multivocalidades". Perfeito! Agora acrescente um adjetivo como "intertextual'', e você
está salvo. "Povos excluídos", Deus me livre, é simplééérrimo! Que tal tentar "outro
pós-colonial" ? Para falar pós-modernamente de maneira própria, é necessário
dominar um monte de referências cruzadas entre centenas de -ismos, como racismo,
sexismo, etarismo, e assim por diante. Por exemplo, "falogocentrismo" (maxismo
combinado com várias formas de lógica binária racionalista). Finalmente, a última
heresia: "nos condicionam" parece aqueles pijamas antiquados do vovô. Use frases e
verbos mais obscuros como, por exemplo, "mediar as nossas identidades em sua
gênese mesma". Assim, a frase final deveria soar parecida com "nós deveríamos ceder
a fala às multivocalidades intertextuais de outros pós-coloniais alheios aos modelos
eurocêntricos centrípetos, a fim de aprendermos sobre os precondicionamentos
falogocêntricos que mediam a gênese mesma das nossas identidades". Agora sim,
você está falando pós-modernamente!
Algumas vezes, porém, pode acontecer de você estar com pressa, e realmente
não ter tempo para dominar nem mesmo o mais escasso número de sinônimos pós-
modernos necessários para evitar a total desgraça diante do público pós-moderno.
Aqui é importante saber que, mesmo que você diga a coisa errada, o que importa é
dizer da maneira certa. Isto me conduz a uma segunda estratégia importante a
respeito de falar pós-modernamente, que é a de usar tantos sufixos, prefixos, hífens,
travessões, sublinhados e absolutamente tudo o mais que seu computador (um
pressuposto indispensável para todo escritor pós-moderno) puder inventar. Para evitar
perdas de tempo, você pode fazer um breve guia de referência. Proceda assim: em
primeiro lugar, trace três colunas. Na coluna A coloque os seus prefixos: - pós, - hiper,
- pre, - de, - des, - re, - ex, e - contra, . Na coluna B vá colocando os seus sufixos e fins
de palavras, como - ismos, - ites, - ialidades, e - tricidades. Na coluna C acrescente
uma série de nomes altamente respeitados de Papas pós-modernos ou, ao menos, de
nomes respeitados que geram adjetivos impressionantes ou escolas de pensamento.
Por exemplo: Barthes (Barthesianismo - chique, não?), Foucault (Foucaultiano,
foucaultianismo), Derrida (Derridasiano, Derridasianismo - excelente! Quase
ininteligível, perfeito, pós-moderno!).
Agora, um teste. Você quer escrever ou dizer algo como por exemplo: "as
construções contemporâneas são alienantes". Belo pensamento mas, obviamente, um
pensamento inadequado do ponto de vista da linguagem pós-moderna. Você nem
sequer teria licença para comer mais bolachinhas com queijo fundido, escrevendo
desse jeito. Aliás, falando ou escrevendo desse jeito, é bem capaz de os
verdadeiramente pós-modernos colocarem você para limpar as bandejas de queijo e
torradinhas, depois da reunião. Não. Não faça a besteira de escrever simples desse
modo. Como fazer, então? Vá para as suas três colunas. Use o prefixo - pre. Use - post.
Melhor ainda, use vários prefixos, todos ao mesmo tempo. É lindo! Assim, no lugar de
"construções contemporâneas", seja absolutamente criativo. "As
pré/pós/espacialidades da hiper-contemporaneidade contra-arquitetônica" soa muito
promissor. Depois, você vai ter que abandonar "alienantes", termo fraco e muito fora
de moda, substituindo-o por algumas palavras acompanhadas de belos sufixos da
coluna B. Que tal "antisociabilidade" ou, sendo ainda mais pós-moderno e, assim,
introduzindo ambiguidade na frase inteira, que tal "antisociabilidade/sedutividade"?
Belo, não? Agora, vá até a coluna C e apanhe alguns nomes importantes pós-
modernamente. Nomes importantes pós-modernamente são aqueles que escreveram
obras e discutiram temas que todos concordam terem sido ou serem de enorme
importância, mas que ninguém teve paciência nem tempo para ler. Os teóricos
europeus são os melhores, em caso de dúvida. Eu recomendo vivamente o francês
Jean Baudrillard, porque ele tem escrito um monte imenso de material difícil, sobre o
espaço pós-moderno. Não esqueça de mencionar alguma discussão sobre gênero.
Finalmente, acrescente algumas palavras eufemísticas para suavizar e amarrar esta
confusão, e não esqueça de empacotar tudo com belos hífens, travessões e
parênteses. Onde você vai chegar? A algo como a frase que segue: "As
pré/pós/espacialidades da hiper-contemporaneidade contra-arquitetônica nos
(re-)direcionam para uma recorrencialidade ambivalente de
antisociabilidade/sedutividade, esta mesma enunciada em um (des-)assexuado
discurso Baudrillardiano da subjeticivade fragmentada". Com uma frase assim, você
deveria ser capaz de ouvir um botão pós-industrial caindo assustado no soalho
retrocultural.
Em um dado momento alguém pode vir com a famosa pergunta: "Mas
exatamente sobre o quê você está falando?". Todo escritor ou orador verdadeiramente
pós-moderno deve chegar a este ponto, mas o risco de responder à pergunta deve ser
cuidadosamente evitado. Você deve sempre dar a impressão de que os seus
interlocutores não entenderam o centro da questão, e disparar em seguida uma outra
saraivada de verbosidade pós-moderna na direção deles, como uma "simplificação" ou
"clarificação" das suas afirmações originais. Se isso não funcionar, e se você tiver que
ceder ao terrível monstro moderno chamado "eu não sei"..., não tenha dúvidas,
complique. Nada de mais, diga apenas, por exemplo, algo como "a instabilidade da
sua questão deixa-me com sérios e sucessivos estratos subjacentes contraditórios de
responsorialidades incoadas cuja hiper/interconectividade não chega ao ponto de
expressar a coerência logocêntrica que é o objeto da sua busca. Posso afirmar apenas
que a realidade é mais estranha e as suas (des-)representações são menos confiáveis
do que o tempo que nos é dado nos permite individuar". Alguma questão mais? Não?
Então me passem o queijo fundido e as torradinhas, por favor...

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