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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SAO PAULO


P ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA
REGISTRADO(A) SOB N°
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELA-


ÇÃO 994.07.117693-4 (548.119.4/4-00), da Comarca de SÃO PAULO,
em que é APELANTE FABIANO DE CAMPOS e APELADO SÉR-
GIO RITO NICOLAU.

ACORDAM, em Nona Câmara de Direito Privado do


Tribunal de Justiça, por votação unânime, em dar provimento ao recurso,
em conformidade com o voto do relator.

Participaram do julgamento os desembargadores JO-


SÉ LUIZ GAVIÃO DE ALMEIDA e GRAVA BRAZIL, que o presi-
diu

São Paulo, 24 de agosto de 2010.

JOAQ>e#RLOS GARCIA
RELATOR

Apelação - 994.07.117693-4 - SÃO PAULO - VOTO 17828 1


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VOTO

EMENTA - Responsabilidade civil - Ofensa à honra - Injúria - Senten-


ça de improcedência - Apelo do autor - Consistente - Prova suficiente
da afronta gratuita e preconceituosa - Sentença reformada - Apelo
provido.

1. FABIANO DE CAMPOS ajuizou ação de conhecimento


em face de SÉRGIO RITO NICOLAU visando condenação do réu à compensação
pecuniária dos danos imateriais causados por ofensas ultrajantes (fls. 02/06).

Sobrevieram contestação (fls. 71/76), réplica (fls. 81/84) e sen-


tença de improcedência, com condenação do autor nos encargos da sucumbência,
inclusive, verba honorária fixada em 10% do valor atualizado da causa, observado o
disposto no art. 12 da Lei n°. 1.060/50 (fls. 189/192). Rejeitados, os embargos de de-
claração (fls. 194/199).

Inconformado, o autor apelou. Sustenta que, nos idos de 2004,


trabalhava como cabo eleitoral de Claudete Alves, então candidata a vereadora pelo
PT-SP; na época, o comitê da candidata se situava na Rua Duarte de Azevedo 489,
em Santana, SP; em 25.08.2004, por volta das 14h00, uma equipe de funcionários da
Prefeitura deu início à poda de um alfeneiro plantado perto do comitê; o autor assistia
aos trabalhos quando o réu, saindo de uma escola vizinha, atravessou a rua, criticou
duramente a equipe de funcionários e logo em seguida se pôs a injuriar o autor: "E
você, o que está olhando??? O que é seu preto??? Seu macaco!!! Preto macaco!!! O
que vai fazer??? Vai me roubar??? Seu preto!!! Macaco!!! Ladrão!!! O que vai fa-
zer??? Vai entrar na minha casa e me roubar??? Seu macaco!!!" (sic; fl. 03); o autor
não reagiu às ofensas, mas como o réu continuou a agredi-lo verbalmente, acionou
uma viatura da PM, que compareceu ao local dos fatos e anotou os dados dos envol-
vidos; logo em seguida, o autor lavrou o boletim de ocorrência n°. 6249/2004 junto ao
9o D.P. e requereu a instauração de um inquérito policial (fl. 10/11); para amenizar a

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humilhação sofrida, o autor intentou esta demanda para requerer o pagamento de in-
denização pecuniária; sua pretensão foi rejeitada em primeira instância, mas a senten-
ça deve ser reformada para que a ação seja julgada procedente; o magistrado reconhe-
ceu que o réu proferiu expressões injuriosas, mas ficou em dúvida sobre a potenciali-
dade lesiva das palavras empregadas contra o autor; o juiz deveria ter se pronunciado
claramente acerca da culpa pelo evento danoso; não há dúvida de que o réu agiu com
a intenção de manchar a honra do requerente; ao prestar depoimento pessoal, o réu
reconheceu que houve discussão com os funcionários da Prefeitura (fl. 143); os fun-
cionários ouvidos como testemunhas confirmaram que foi o réu quem deu início à
discussão; não há prova nos autos de que as testemunhas arroladas pelo réu - que
alegaram não terem ouvido ofensas - estivessem presentes no local dos fatos; tais
testemunhas eram subordinadas ao réu por vínculo empregatício; ainda que tais tes-
temunhas estivessem nas redondezas, decerto não ouviram a discussão tão bem quan-
to os funcionários da Prefeitura, que participaram do bate-boca; as três testemunhas
arroladas pelo autor confirmaram que o réu estava sozinho quando atravessou a rua; o
dano suportado pelo autor foi agravado pelo fato de as ofensas terem sido proferidas
na presença de terceiros; caracterizaram-se nos autos os pressupostos da responsabili-
dade civil; ainda que a sentença de improcedência seja mantida, o autor deve ser isen-
tado do ônus da sucumbência, pois é beneficiário da assistência beneficiária (fls.
205/214).

Recurso contrariado com preliminar de deserção (fls. 218/224).

É o relatório.

2. O recurso preenche os requisitos de admissibilidade.

Deferido o benefício da Assistência Judiciária (fl. 14) e rejeita-


da a impugnação oposta pelo réu por decisão contra a qual não se interpôs recurso
(apenso, fl. 30), insubsistente a deserção arguida.

Preliminar, portanto, rejeitada.

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3. No mérito, o apelo convence.

Ao contrário do que entendeu o digno magistrado, a prova co-


ligida é suficiente para se reconhecer a procedência da demanda. Com efeito, as três
testemunhas arroladas pelo autor confirmaram que o réu, em meio a desentendimen-
tos com operários da Prefeitura Municipal, passou gratuita e preconceituosamente a
chamar o autor - que nada tinha a ver com os fatos - de "preto", "macaco" e "ladrão"
(fls. 149, 156 e 161).

As testemunhas arroladas pelo réu confirmaram que a poda da


árvore gerou discussão com os funcionários da Prefeitura, mas negaram que tenha
havido ofensa à honra do autor (fl. 168 e 174). Ambas relataram que a discussão, de
início atinente à amplitude da poda, teria adquirido coloração política: o réu, do PV,
teria se oposto ao corte radical da árvore que encobria o outdoor da candidata do PT,
pretendendo que a ação dos funcionários se resumisse à poda. O autor, cabo eleitoral
do PT, teria ameaçado intervir junto à candidata do PT para que ela "fechasse" a es-
cola pertencente ao réu (fls. 169 e 175).

Essa versão é de todo inverossímil. Primeiro, porque tais tes-


temunhos, de pessoas direta ou indiretamente vinculadas ao réu por relação de em-
prego ou interesse negociai (realização de palestras na escola do apelado), devem ser
recebidos com reserva; segundo, porque, se estavam do outro lado da rua, no interior
ou na frente da referida escola, não teriam a mínima condição de ouvir os insultos
pespegados pelo réu, sobretudo porque os operários operavam motosserra e o autor
além de não fazer parte do grupo de servidores municipais, deles estava apartado, na
sede do comitê em que trabalhava como segurança; terceiro, porque não faz o mínimo
sentido dizer que o autor ameaçara o réu com represália da candidata à vereança em
cujo comitê ele trabalhava, uma, porque réu e a candidata são de municípios diferen-
tes, essa, de São Paulo, aquele, de Guarulhos.

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Aliás, a versão das testemunhas do réu, notadamente com rela-


ção à ameaça de represália, sequer foi confirmada pelo no depoimento pessoal que ele
prestou. Verbis (fl. 144):
Ele estava na porta (do comitê). Ele estava tirando sarro. Na
hora não falei nada. Aí eu perguntei para ele se eu tinha cara
de palhaço. Eu sou do partido verde (sic). Ele achou que eu
sou algum tonto ou trouxa. Eu estava lutando por aquilo que
eu acredito. Perguntei se eu tinha cara de palhaço para ele es-
tar rindo de mim

Ora, ninguém, nem mesmo as testemunhas de defesa, ouviu a


palavra palhaço. O que a prova dos autos evidencia com muita clareza é temperamen-
to grosseiro e abusado do réu, o ranço racista de sua fala, a petulância de quem - por
ser médico, empresário e político - tem o dever social de respeitar as diferenças, agir
com ponderação e de ser coerente com os princípios ideológicos que diz defender, de
reverência à pessoa humana.

A prova sustenta com folga a inversão do resultado.

Resta estimar o valor da compensação, que não pode ser tão


excessiva quanto pleiteada na inicial, pena de enriquecimento ilícito, nem tão baixo
que signifique desprezo ao patrimônio moral do lesado e insignifícância para o ofen-
sor. Levando em consideração essas circunstâncias e o escopo de tal espécie de repa-
ração, de todos conhecida, sobretudo, a abjeção do notório preconceito racial contra o
negro, a quem o País e a humanidade tanto devem, fixa-se a condenação em R$
15.000, 00, corrigidos a partir dessa data, que é algo próximo a 40 salários mínimos,
base de cálculo de que se tem valido a jurisprudência, sobretudo essa Câmara, para tal
dimensionamento.

Considerando, ainda, que a condenação em valor inferior ao


pleiteado na inicial, por ser ato de prudente valoração judicial, não implica decaimen-
to do pedido, o réu deverá arcar com os encargos de sucumbência, inclusive, verba
honorária arbitrada em 10% do valor atualizado da condenação.

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3. Por esses fundamentos e para esse fim, dá-se provimento à


apelação, observando que os juros de mora, por versarem ilícito absoluto, contar-se-
ão da data do fato (CC, art. 398).

JOÃO CARpCS GARCIA


ATOR

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