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Autores
1
Erich Vidal Carvalho
2
Bruno do Valle Pinheiro
Publicação: Dez-2005
1
Pneumologista do Serviço de Pneumologia do Hospital Universitário da UFJF; Especialista em Pneumologia,
titulado pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.
2
Professor adjunto do Departamento de Clínica Médica da UFJF; Doutor em Pneumologia pela UNIFESP -
Escola Paulista de Medicina.
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ISSN 1519-521X
5 - Quais são os principais efeitos fisiológicos dos corticóides?
Os principais efeitos fisiológicos dos glicocorticóides são aqueles sobre o metabolismo
intermediário dos carboidratos, proteínas e lípides.
Ação sobre os carboidratos
Os corticóides tendem a promover elevação dos níveis séricos de glicose, resultado do seu efeito
antagônico à insulina, com redução da captação periférica da glicose e aumento da síntese
hepática de glicose (gliconeogênese). Além disso, estimula a síntese da enzima glicogênio-
sintetase, aumentando a produção e o armazenamento do glicogênio hepático.
Ação sobre as proteínas
Promovem aumento do catabolismo protéico, com tendência a balanço nitrogenado negativo.
Ação sobre os lípides
Os corticóides promovem a lipólise dos triglicérides do tecido adiposo, bem como a redistribuição
da gordura corporal. Nos estados de hipercortisolismo, verifica-se predominância de adiposidade
central (região dorsocervical e supraclavicular) e perda de tecido celular subcutâneo nas
extremidades.
Os corticóides apresentam outros efeitos fisiológicos sobre diferentes sistemas:
• sistema nervoso central (SNC): os corticóides afetam o SNC principalmente de forma
indireta, ao manter as concentrações normais de glicose, a circulação adequada e o
equilíbrio eletrolítico normal. Eles também modulam a permeabilidade da barreira
hematoencefálica a uma série de substâncias, têm efeitos sobre a memória e o humor.
• Células sangüíneas: os corticóides tendem a elevar o conteúdo de hemoglobina e de
eritrócitos do sangue, provavelmente em função da capacidade de retardar a
eritrofagocitose. Reduzem o número circulante de eosinófilos, linfócitos (resultado da
redistribuição das células, e não de sua destruição) e de basófilos e aumentam o número
de neutrófilos.
• Inflamação: os corticóides têm a capacidade de impedir ou suprimir o desenvolvimento das
manifestações da inflamação. Tal propriedade é utilizada com princípios terapêuticos,
como veremos adiante.
• Tecido ósseo: os corticóides apresentam, em situação fisiológica, efeitos benéficos sobre o
tecido ósseo, ao induzir a diferenciação de células da linhagem osteoblástica em
osteoblastos maduros.
• Metabolismo hídrico: o cortisol regula o volume de líquido extracelular ao retardar a
entrada de água dentro das células e ao promover a excreção renal de água. Esse último
efeito é mediado pela supressão da secreção de vasopressina, pelo aumento da filtração
glomerular e pela ação direta sobre os túbulos renais. Também apresenta um pequeno
efeito mineralocorticóide, sendo que doses elevadas de corticóide promovem a reabsorção
tubular do sódio e a excreção urinária do potássio.
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Tabela 1. Características farmacocinéticas e farmacodinâmicas dos corticóides
sistêmicos
Betametasona Dexametasona Hidrocortisona
Biodisponibilidade
após uso por via 76% 96%
oral
% ligada às
proteínas 64% 75% 92%
plasmáticas
Tempo para
Oral: 1 a 2 horas
concentração Oral: 1 a 2 horas
10 a 36 minutos IM: 8 horas
sérica máxima IV: imediato
IV: imediato
(Tmáx)
Metabolismo Hepático Hepático Hepático
Meia-vida de
6,5 horas 1,8 a 3,5 horas 1,5 horas
eliminação
Renal (menos de
Excreção 5% como droga Renal e fecal Renal
ativa)
Metilprednisolona Prednisona Prednisolona
Biodisponibilidade
após uso por via 88% 84% 99%
oral
% ligada às
proteínas 78% 65-91% 86%
plasmáticas
Tempo para
concentração Oral: 2 horas
2 horas 1,3 horas
sérica máxima IV: imediato
(Tmáx)
Hepático: a prednisona,
Principalmente hepático, no
forma inativa, é
Metabolismo entanto também sofre
convertida em
metabolismo em alguns tecidos
prednisolona
Meia-vida de
3 horas 2,5 a 3,5 horas 3,6 horas
eliminação
Excreção Renal Renal Renal
Obs: A porção dos corticóides não ligadas ás proteínas plasmáticas é que apresenta atividade
farmacológica.
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Tabela 2. Equivalência entre os diferentes corticóides sistêmicos
Potência
Efeito mineralo- Meia-vida
Corticóide antiinflamatória Dose equivalente
corticóide biológica
relativa
Hidrocortisona 1 20 1 8 a 12 horas
Prednisona 4 5 0,8 12 a 36 horas
Prednisolona 4 5 0,8 12 a 36 horas
Metilprednisolona 5 4 0,5 12 a 36 horas
Triancinolona 5 4 0 12 a 36 horas
Deflazacort 2,5 a 3,5 6 0,25 24 a 36 horas
Betametasona 20 a 30 0,75 0 24 a 72 horas
Dexametasona 20 a 30 0,75 0 24 a 72 horas
Obs.:
1- A meia-vida plasmática corresponde aos níveis hormonais no sangue, enquanto a meia-vida
biológica refere-se ao tempo de disponibilidade do fármaco nos tecidos.
2- De acordo com a duração da ação biológica, os corticóides podem ser classificados em: curta
ação (hidrocortisona), média ação (prednisona, prednisolona, metilprednisolona, triancinolona e
deflazacort) ou longa ação (betametasona e dexametasona).
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Pulsoterapia
É um esquema terapêutico em que se utiliza doses muito elevadas de metilprednisolona, por um
curto período de tempo (aproximadamente 1 g/dia de metilprednisolona por um prazo de até cinco
dias seguidos).
14 - Qual o melhor horário para administração do corticóide a pacientes que fazem uso
crônico dessa medicação?
Partindo do princípio de que é necessário respeitar os aspectos fisiológicos para se reduzir os
riscos com a corticoterapia, o paciente que faz uso de corticóide sistêmico deveria receber a
medicação pela manhã, ao acordar. Desta forma, o ritmo circadiano estaria sendo mantido.
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Tabela 3. Efeitos colaterais dos corticóides sistêmicos
Sistema Principais efeitos colaterais
Pele e tecidos
Adelgaçamento da pele e equimoses.
moles
Olhos Catarata e glaucoma.
Cardiovascular Hipertensão arterial, aterosclerose periférica e coronariana.
Gastrointestinal Ulcera péptica, hemorragia digestiva e pancreatite.
Renal Hipocalemia e alcalose metabólica.
Gênito-urinário e
Irregularidade menstrual e redução da fertilidade masculina e feminina.
reprodutor
Músculo-
Osteoporose, miopatia, necrose da cabeça do fêmur e úmero.
esquelético
Sistema nervoso
Transtornos do humor, psicoses e pseudotumor cerebral.
central
Imunológico Redução da imunidade.
Hiperglicemia, descompensação de diabetes, obesidade central (depósito
Endócrino e
de gordura), acne, hirsutismo, síndrome de cushing e interrupção do
metabólico
crescimento em crianças.
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250 mcg de ACTH sintético IV ou IM e dosar o cortisol plasmático antes, 30 e 60 minutos
após a injeção. O encontro de um cortisol sérico maior que 20 mcg/dl (nos casos em que a
aplicação for IM considera-se como ponto de corte o valor de 16 mcg/dl) em qualquer uma
das medidas indica que a adrenal apresenta função normal. Valores menores indicam
supressão da função da glândula.
20 - Como proceder quando um paciente que faz uso crônico de corticóide necessita ser
submetido a procedimento cirúrgico?
O uso crônico de corticóide sistêmico pode comprometer a integridade do eixo hipotálamo-hipófise-
adrenal (HHA), de tal forma que durante um novo estresse, como em cirurgias, a resposta
fisiológica das adrenais pode ser inadequada e advir sinais de insuficiência adrenal. Assim, quando
um paciente em corticoterapia tiver que ser submetido a procedimento cirúrgico, é necessário que
o médico tome as medidas necessárias para que não ocorra falência adrenal.
Partindo do princípio de que se conhece o estado de integridade do eixo HHA (conforme avaliação
sugerida anteriormente), pode-se recomendar as seguintes condutas:
Pacientes sem supressão do eixo HHA
Manter a dose usual de corticóide durante a manhã, sem necessidade de suplementação.
Pacientes com supressão do eixo HHA
• Pequenas cirurgias ou procedimento sob anestesia local (exemplo: herniorrafia inguinal):
manter dose usual do corticóide pela manhã, sem necessidade de suplementação.
• Estresse cirúrgico moderado (exemplo: revascularização periférica, prótese de joelho):
manter dose usual na manhã da cirurgia. Administrar 50 mg de hidrocortisona IV na
indução anestésica e, posteriormente, 25 mg a cada oito horas por 24 horas. Após esse
período, retornar à dose habitual.
• Estresse cirúrgico grande (exemplo: gastrectomia, proctocolectomia): manter a dose usual
na manhã da cirurgia. Administrar 100 mg de hidrocortisona IV na indução anestésica e,
posteriormente, 50 mg a cada oito horas por 24 horas. Após esse período, reduzir a dose
pela metade a cada dia, até atingir a dose habitual.
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26 - Quais as principais indicações dos corticóides sistêmicos em pneumologia?
Os corticóides sistêmicos são utilizados em várias situações clínicas da pneumologia. Entre as
principais podemos citar:
• exacerbações da DPOC;
• asma: nas crises de asma e, eventualmente, no tratamento de manutenção das formas
graves da doença;
• doenças pulmonares difusas tais como fibrose pulmonar idiopática, sarcoidose,
pneumonites de hipersensibilidade, granuloma eosinofílico pulmonar, acometimento
pulmonar por colagenoses, etc;
• vasculites pulmonares: Churg-Strauss e Wegener.
• pneumocistose com insuficiência respiratória.
Alguns estudos iniciais têm demonstrado benefícios no uso de corticóide sistêmico na pneumonia
grave e na fase fibroproliferativa da síndrome do desconforto respiratório agudo.
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• sua indicação deve ser em pacientes que se mantêm sem melhora após sete a dez dias de
evolução da SDRA.
• O paciente não deve apresentar sinais clínicos ou microbiológicos de infecção
descontrolada. Na vigência de infecção, ela deve ser primeiramente tratada e, uma vez
estabilizado o paciente, o corticosteróide poderá ser prescrito;
• Não há consenso sobre a dose a ser usada. Recomendamos a empregada no estudo de
Meduri, em função dos bons resultados encontrados:
• dose de ataque de 2 mg/kg
• 2 mg/kg/dia, fracionada de 6-6 horas, entre o 1 e o 14 dia
o o
38 - Leitura recomendada
American College of Rheumatology Ad Hoc Committee on Glucocorticoid-Induced Osteoporosis.
Recommendations for the prevention and treatment of glucocorticoid-induced osteoporosis: 2001
update. Arthritis Rheum 2001;44:1496-1503.
Czock D, Keller F, Rasche FM et al. Pharmacokinetics and pharmacodynamics of systemically
administered glucocorticoids. Clin Pharmacokinet 2005;44:61-98.
Richter B, Neises G, Clar C et al. Glucocorticoid withdrawal schemes in chronic medical disorders.
A systematic review. Endocrinol Metab Clin North Am 2002;31:751-762.
Rhen T and Cidlowski JA. Antiinflammatory action of glucocorticoids – New mechanisms for old
drugs. N Engl J Med 2005;353:1711-1723.
Welsh GA, Manzullo EF, Nieman LK. The surgical patients taking costicosteroids. In: Rose BD (ed),
Up To Date, 2005.
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