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UNIVERSIDADE DE SOROCABA

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
CURSO DE LETRAS – LICENCIATURA EM INGLÊS

Jassiara Queiroz de Lima

CONSTRUÇÃO DE SENTIDO EM HIPERTEXTO

Sorocaba/SP
2010
Jassiara Queiroz de Lima

CONSTRUÇÃO DE SENTIDO EM HIPERTEXTO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como exigência parcial para obtenção do Diploma
de Graduação em Língua Inglesa, da
Universidade de Sorocaba.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes

SOROCABA/SP
2010
Jassiara Queiroz de Lima

CONSTRUÇÃO DE SENTIDO EM HIPERTEXTO

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como


requisito parcial para obtenção do Diploma de
Graduação em Língua Inglesa, da Universidade
de Sorocaba.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA:

Ass.:___________________________
Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes, UNISO

Ass.:___________________________
Prof.ª Ma. Daniela Aparecida Vendramini Zanella,
UNISO

Ass.: __________________________
2º Exam.:
Dedico este trabalho aos meus pais queridos,
Ariosvaldo e Sebastiana, à minha avó Ana, que
me deixou sua sabedoria para recordar e apegar,
aos meus padrinhos, Felizardo e Maria de
Lourdes, ao professor Luiz Fernando, à minha
irmã Ariana e minha amiga Paula, com toda
minha afeição.
AGRADECIMENTOS

Ao Professor Luiz Fernando Gomes, que é a epítome da compreensão e


incentivo, e quem me estimulou a realizar este trabalho e me ajudou a dar outro
olhar ao curso, e quem admiro muito.

A todos os professores que influenciaram a minha vida acadêmica, sempre


me recordarei de todos eles.

Aos meus adorados pais e irmã pelo apoio massivo e por me embalaram nos
momentos difíceis.

À minha queridíssima amiga Paula, pelas palavras que abrandam, pertinentes


e contínuas, por existir e fazer parte da minha vida.

Aos meus amigos, meus padrinhos e familiares todos que de uma forma ou
de outra contribuíram para este trabalho e por quem sou.

A Deus e Nossa Senhora por tudo e sempre.


Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

há que sentar-se na beira


do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.

(Pablo Neruda)
RESUMO

Em decorrência do uso cada vez mais contínuo das mídias inseridas na


cultura da tecnologia e da comunicação e mediadas pelo computador, o presente
trabalho faz um apanhado de estudos teóricos tanto relacionados ao hipertexto
como questões tratadas sobre o texto, desde suas concepções, abordagens e
também propósitos. São apresentadas inicialmente as estruturas que compõem o
texto impresso apresentadas por Koch (2003), de como ele é lido e que processos
cognitivos ele demanda; também os tipos de leitores descritos por Santaella (2004),
que contempla o leitor do texto digital como leitor imersivo e agente de sua leitura e
ainda as estratégias de leitura. Já o hipertexto é tratado desde suas terminologias e
concepções até os tipos de leitores, como eles leem e com quais objetivos, para
compreender como é que o leitor atribui sentido nas leituras do hipertexto digital,
tema que Gomes (2010) analisa. São apresentadas as distinções e semelhanças de
ambas as formas de leitura, como a linearidade, intertextualidade, a função tanto do
autor como do leitor de textos e as escolhas do leitor, quando do texto na tela do
computador. Escolhas que serão feitas através dos caminhos que o leitor deseja
traçar, através dos links. O hiperlink também é estudado na pesquisa, pois é parte
constituinte do hipertexto; sua disposição, sobre o que trata, a forma como é
apresentado e outros elementos que fazem parte dele são intimamente importantes
em um hipertexto, pois é partir dele que o leitor irá fazer suas leituras. Através desta
pesquisa foi possível concluir que a leitura do hipertexto sendo distinta em partes, da
leitura do texto impresso por conter links que podem ou não dar sequencia à leitura
e por esse fator, não seguir a linearidade, exige adaptação das estratégias utilizadas
no texto impresso e ainda, o desenvolvimento de novas estratégias.

Palavras-chave: Texto. Hipertexto. Leitura. Hiperlink. Construção de sentido.


ABSTRACT

Due to the increasing use of media inserted in the information and


communication technology, this research provides an overview of theoretical studies
about both text and hypertext and issues such as concepts, approaches and
purpose. Initially the main discussions are the composition of the linear text
discussed by Koch (2003), how it is read and its cognitive process, intention of
readers, reading strategies and types of readers described by Santaella (2004) who
contemplates the hypertext reader as an agent of its own reading. Hypertext is
studied with emphasis in its conceptions, terminologies, the readers and their ways of
reading to comprehend its importance and possibilities and how the readers give
meaning to their reading, subject analyzed by Gomes (2010). This research presents
the distinctions and similarities of both forms of reading, such as the linearity,
intertextuality, the function of both the author and the reader of hypertexts and the
reader's choices. Also, the reader of hypertext has a huge chance of being interactive
with the text once the information is connected through the hyperlinks. Through this
research was possible to realize that the reading of hypertext is in parts distinct from
the conventional reading because it contains hyperlinks that may or may not provide
sequence to the reading and therefore do not follow the linearity, and it requires
adaptation from the strategies from the linear text or the creation of new strategies.

Keywords: Text. Hypertext. Reading. Hyperlink. Meaning.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 9
4 ESTRUTURAS DO TEXTO........................................................................... 10
4.1 O que é texto.......................................................................................................10
4.2 Os processos cognitivos da leitura ......................................................................12
4.3 A intertextualidade do texto .................................................................................13
4.4 Os tipos de leitores..............................................................................................15
4.5 Os tipos de leitura e suas estratégias .................................................................17
5 O HIPERTEXTO E SUAS CONCEPÇÕES ................................................... 19
5.1 Construindo o sentido na leitura hipertextual ......................................................20
6 CONCLUSÃO ............................................................................................... 29
6 REFERÊNCIAS............................................................................................. 30
9

1 INTRODUÇÃO

Em consequência da utilização cada vez maior de mídias digitais que nos são
proporcionadas atualmente, o hipertexto tem levantado questionamentos em
decorrência de seu uso através de suas características distintas daquelas do texto
impresso. Ao navegar em sites hipertextuais, o leitor se depara com diversos outros
links que o levará a outros hipertextos e que dificilmente manterão uma sequência
ou evidente semelhança com o primeiro. Isso pode desestruturar a construção uma
vez que o leitor se encontra numa situação em que há diversas informações todas
aglomeradas e fragmentadas, intercaladas através dos hiperlinks. O hiperlink é um
sistema de informações dispostas pelo autor a fim de construir uma associação
entre elas e disponibilizar atalhos para outros hipertextos que podem interferir
positivamente ou negativamente na construção de sentido. Esses hiperlinks são
distribuídos de acordo com a escolha do autor e é preciso que ele os libere
respeitando uma ordem que enriqueça a navegação do leitor, e não que interrompa
as leituras. Para que isso ocorra, é importante que os hiperlinks ofereçam coesão e
coerência e que o autor use de táticas para fornecer hiperlinks que sustentem
alguma similaridade e assim evitar a não-compreensão de quem os utiliza.
No hipertexto não existe a linearidade que encontramos no texto impresso, o
que implica em uma leitura mediada por escolhas e buscas determinadas pelo leitor
que compreende seus limites e objetivos e também uma leitura que pode levar a
lugares diversos dentro da concepção do que é hipertexto e de como ele se
constitui.
Portanto, com o uso cada vez mais constante do computador para (além de
outras finalidades) a leitura de informações diversas com as quais leitores se
deparam a todo tempo no hipertexto, é preciso esboçar as distinções e similaridades
do texto convencional e do hipertexto e também importante que o usuário saiba
compreender suas limitações e oportunidades e saiba como lidar com a leitura
hipertextual.
Com a internet e a hipermídia tomando um espaço cada vez maior no mundo
hoje (mesmo que ainda haja a hierarquização do logocentrismo como o maior e mais
importante das linguagens), é importante que elas sejam usadas como meio para o
letramento vinculado a uma cultura onde o texto impresso é o que mais prevalece.
Como vimos, o hipertexto tem conceitos muito diferentes do que se diz respeito à
produção de textos em papel, como ressalta Santaella (1981) quando defende que a
leitura não se limita apenas à codificação da escrita de livros e nem a empregada no
papel, mas faz parte de uma multiplicidade de tipos de leitores.
Sendo assim, o hipertexto oferece uma outra forma de produção textual onde
o leitor não mais se limita à passividade da leitura e se norteia de acordo com as
informações que quer acessar e também há a possibilidade de adicionar suas
próprias informações ao hipertexto, onde os fragmentos são peças fundamentais
para a não-totalidade da escrita e da leitura, que leva a outros infindáveis caminhos
repletos de informações como dito anteriormente.
Partindo do tema mencionado anteriormente sobre a crescente utilização do
hipertexto e do suporte digital em geral, este estudo tem como objetivo explanar as
teorias sobre os moldes de ambos os formatos de texto, o impresso e o digital, e
examinar como é feita a construção de sentido no hipertexto, partindo do
10

pressuposto de que com a não-linearidade de informações no hipertexto, o sentido


vai ser constituído de outro jeito, diferente daquele feito na leitura no papel.
Mas como é possível transformar ou mudar as formas de leitura para o
formato digital levando em conta os problemas que o hipertexto acarreta quanto à
construção de sentido? Como concebê-la no hipertexto? Quais características e
exigências o hipertexto determina e que vão diferenciar na forma de construir
sentido no suporte digital?
Essas questões serão tratadas no decorrer da pesquisa através de estudos
teóricos que proporcionem argumentos pertinentes sobre texto e suas semelhanças
e disparidades com o texto digital.

4 ESTRUTURAS DO TEXTO

Com a finalidade de pesquisar sobre o texto no suporte digital, faz-se


necessário um apanhado teórico das estruturas que constituem o texto desde suas
características mais simples e imprescindíveis e assim criar um panorama para
embasar as análises sobre a textualidade no hipertexto. Assim sendo, neste capítulo
serão abordados temas referentes à construção, composição e leitura dos textos, o
que o pressupõe e sua finalidade, de forma que sejam apresentados os temas e
teorias mais pertinentes para essa pesquisa, e assim aprofundar essas questões no
âmbito digital.

4.1 O que é texto

Por meio das teorias sócio-interacionais, o texto é considerado uma atividade


interacional que acarreta um objetivo ou finalidade. Trata-se de indivíduos que em
sua relação com os outros através de diversos fatores, é capaz de produzir um texto
escrito, pressuposto por uma realização de diversas atividades cognitivo-discursivas
(Koch, 2003). A atividade verbal “teoria da atividade (social) humana, que se
especifica em uma teoria da atividade (comunicativa) verbal” (Koch, 2003, p.13) tem
três fatores importantes: motivação, finalidade e interação. Isso quer dizer que a
atividade precisa provir de um interesse e ter uma finalidade, ambos formados
através da situação que o indivíduo se encontra.

Podemos dizer, numa primeira aproximação, que textos são resultados da


atividade verbal de indivíduos socialmente atuantes, na qual estes
coordenam suas ações no intuito de alcançar um fim social, de
conformidade com as condições sob as quais a atividade verbal se realiza.
(Koch, 2003, p.26).

Koch (2003) define o texto como não sendo totalizador do sentido, e sim
como uma ferramenta para tal. O texto pode ser uma forma de obtenção de pistas
que leva a leitura a lugares muito mais profundos, que é de onde se pode construir o
11

sentido. Para chegar a esse nível e assim, poder construí-lo, é necessário que sejam
usadas as estratégias cognitivas e interacionais.
As estratégias cognitivas, entendidas aqui como instrução do conhecimento,
não se baseiam apenas nas construções e características dos textos, mas também
por seus leitores e seus conceitos. Estão relacionadas a objetivos, informações que
o texto oferece e questões de personalidade do leitor.

Desta forma, as estratégias cognitivas consistem em estratégias de uso do


conhecimento. E esse uso, em cada situação, depende (...) da quantidade
de conhecimento disponível a partir do texto e do contexto, bem como de
suas crenças, opiniões e atitudes, o que torna possível, no momento da
compreensão, reconstruir não somente o sentido intencionado pelo produtor
do texto, mas também outros sentidos, não previstos ou mesmo não
desejados pelo produtor. (Koch, 2003, p.35).

Assim sendo, pode-se dizer que o leitor adiciona à produção textual, sentidos
próprios de seu conhecimento, uma vez que o texto não oferece as informações
prontas, mas sim caminhos para a construção do sentido.

O sentido de um texto não advém da soma de frases que o constituem, mas


decorre do todo, através de dois planos de organização do texto, o
macroestrutural e o microestrutural, que constituem, respectivamente, a
coerência e a coesão, dois níveis distintos, porém intimamente
relacionados. (Trevisan, 1992, p.20)

A coesão e a coerência são mencionadas pela autora por serem parte


imprescindível na construção do sentido. A coesão é o plano da junção apropriada
de elementos linguísticos, ou seja, como eles são sequenciados; já a coerência está
relacionada a noções mais profundas que encontramos no texto, que contém
informações organizadas. A produção textual sustenta a construção do sentido
quando o texto é considerado coerente, uma vez que a coerência é elemento
essencial na produção e comunicação do texto. A coerência do texto é captada pelo
leitor uma vez que ele obtém a ideia macroestrutural do texto, ou seja, a coesão, que
lhe permite compreender do que o texto se trata e então chegar ao sentido. Trevisan
(1992) salienta que para chegar à coerência, é preciso ter a noção das
macroestruturas semânticas.

Ele considera macroestruturas as estruturas semânticas de um nível


superior, que se derivam de sequências proposicionais a partir do texto,
com a ajuda de macrorregras. As macrorregras têm a ver com estruturas
temáticas, e sua função cognitiva é essencial para a compreensão do texto.
Sem elas, um usuário da língua será incapaz de estabelecer a coerência
textual, de inferir os temas ou conteúdos de discussão global. (van Dijk
1980 apud Trevisan, 1992, p. 21)
12

A autora relaciona a coerência com a posição do leitor quanto ao texto,


afirmando que ela não está contida no texto, mas é desenvolvida através da
interpretação e que diversos sentidos são possíveis, já que é provável tornar frases
coesas também coerentes quando relacionando a coerência com o processo
cognitivo do leitor. Desse modo, é possível dizer que o leitor, tendo papel decisivo na
leitura, toma a coerência como ponto de partida para que o sentido do texto seja
criado.

A construção da coerência, portanto, depende fundamentalmente do


receptor, de sua atitude de cooperação, de sua habilidade em desvendar o
sentido do texto e, especialmente, de sua bagagem cognitiva. (Trevisan,
1992, p. 23)

Vários fatores influenciam para que o leitor tenha papel imprescindível da


leitura, tomando como um desses fatores, seu conhecimento de mundo, que
engloba todas as informações absorvidas pelo leitor em sua memória. Esse
conhecimento está armazenado na memória e auxilia o leitor a fazer relações do que
sabe com o que lê. Para essa conexão existir, é preciso que haja uma semelhança
entre o conhecimento de mundo tanto do leitor, como do produtor do texto. Um
elemento que pode facilitar essa conexão é a inferência.
As inferências são definidas pela autora como “conexões realizadas a partir
dos elementos formais fornecidos pelo texto” (Trevisan, 1992, p. 53). As inferências
têm como desempenho compreender as informações que o texto não traz, ou seja, o
leitor faz conexões na leitura para conseguir ter também informações que não estão
contidas no texto. São considerados alguns tipos de inferências tais como:

As informacionais (...) realizadas pelo leitor ao tentar responder às questões


como “quem, o que, onde e quando”, cujas respostas precisa conhecer para
entender o texto.
As inferências elaborativas e avaliativas (...) respondem às questões “como”
e “por que”, respectivamente. (Trevisan, 1992, p. 56)

A inferência avaliativa implica uma leitura que vai além daquela somente
literal que o texto oferece. É uma inferência que ocorre quando o leitor compreende
o que está por traz do texto, seu objetivo, o que ele acarreta e o que quer passar.
“Assim, o leitor leva em conta o comportamento que não é explicitado no texto e
preenche as lacunas existentes através das inferências”. (Trevisan, 1992, p. 56) O
contexto, além do papel de cada leitor, também tem sua função no processo de
inferência, pois no ato da leitura o conhecimento prévio não acontece apenas
através da junção de palavras e frases, mas sim de acordo com as situações
contidas no texto.

4.2 Os processos cognitivos da leitura


13

Além de questionamentos que tratam da recepção do texto, também são


apontados estudos que tratam de como o lemos, sendo eles os processos cognitivos
(Kleiman 1993). Os processos cognitivos se iniciam com o movimento dos olhos ao
ler o texto. Esse movimento é chamado de movimento sacádico. Assim sendo, o
leitor não lê palavra por palavra uma vez que o movimento sacádico não é linear,
mas fixa seus olhos em um determinado trecho, processo denominado fixação, e
depois muda para outro trecho, e assim acontece o movimento sacádico. As
fixações dependem do quão difícil é a leitura e isso influencia no movimento
sacádico, que pode ser rápido se o texto tiver informações de fácil compreensão
para o leitor.

Lemos 200 palavras por minuto quando o material for fácil, mais devagar
quando o material for complexo. Os olhos se movimentam muito mais
rapidamente do que a voz consegue pronunciar. (Kleiman, 2000, p. 33)

Os movimentos progressivo e regressivo também são fatores importantes


para a velocidade com a qual se lê, sendo o movimento regressivo mais usado
quando o texto é mais complicado e isso faz com que o leitor controle a leitura de
acordo com a compreensão. Com a fixação o olho lê a palavra claramente, mas com
os movimentos sacádicos, a visão é periférica. “Isso aponta para um fato
extremamente importante, a saber, que grande parte do material que lemos é
adivinhado ou inferido, não é diretamente percebido.” (Kleiman, 2000 p. 33)
O fato de o leitor controlar a leitura de acordo com a quantidade de
informação do texto que ele já tem conhecimento implica no uso da memória para
fazer relações sobre o que está sendo lido e o conhecimento que já está
armazenado na memória.
Um dos elementos que constituem a memória, é denominado de memória de
trabalho, que é o processo em que organizamos o que lemos em unidades
sintáticas. É essa memória que dá condição para que o leitor armazene o que lê em
unidades com significado. Esse processo é conhecido como fatiamento. Entretanto,
a memória de trabalho tem certas limitações, pois só consegue absorver sete
unidades significativas por vez. Quando o leitor passa dessa quantidade, “a memória
precisa ser esvaziada das unidades anteriormente estocadas, de maneira que
sempre trabalha com aproximadamente sete mais ou menos duas unidades (isto é,
entre cinco a nove unidades).” (Kleiman, 2000, p. 34)
A unidade significativa não precisa necessariamente ser letra ou palavra, mas
sim qualquer parte que contenha significado, sendo ela uma frase ou um trecho.
“Assim, quanto maior o elemento que tomamos como unidade significativa, maior
será a quantidade de material que podemos processar e manter na memória ao
mesmo tempo.” (Kleiman, 2000, p. 34)

4.3 A intertextualidade do texto

Outra característica do texto muito discutida, é a intertextualidade, ou seja, as


permutações e conexões que acontece entre textos.
14

Isso significa que todo texto é um objeto heterogêneo, que revela uma
relação radical de seu interior com o seu exterior; e, desse exterior,
evidentemente, fazem parte outros textos que lhe dão origem, que o
predeterminam, com os quais dialoga, que retoma, a que alude, ou a que se
opõe. (Koch, 2003, p. 59)

Koch (2003) ao apresentar a interação entre textos como fator importante e


constituinte do texto, partindo do pressuposto de que todo e qualquer texto pode
aludir ou conversar com outro, aponta dois tipos de intertextualidade, a de sentido
amplo e a de sentido restrito. A intertextualidade de sentido amplo é denominada de
interdiscursividade, apontando que um texto não se constrói sozinho, mas que vários
textos se relacionam e são mediadores entre si. Outro papel importante que a
intertextualidade exerce é o fato de que com a comparação entre textos “se podem
detectar as propriedades formais ou estruturais, comuns a determinados gêneros ou
tipos (...), que são armazenadas na memória dos usuários sob a forma de esquemas
textuais ou superestruturas”. (Koch, 2003, p. 61). Esses esquemas são facilitadores
das produções de texto.
A intertextualidade de sentido restrito é a relação que um determinado texto
faz com outros já produzidos anteriormente. Podem ser de conteúdo, quando os
textos tratam de mesmo assunto, explícito ou implícito: explícita o texto com qual se
faz intermédio é citado e implícito quando não ocorre citação, semelhanças ou
diferenças para argumentação, e outros intertextos de mesma autoria ou de outro
autor. “Todas essas manifestações da intertextualidade permitem apontá-la como
fator dos mais relevantes na construção da coerência textual.” (Koch e Travaglia,
1989 apud Koch, 2003, p. 64).
Sobre polifonia, Ducrot (1980 apud Koch 2003, p. 64) assinala que o termo é
utilizado

para designar, dentro de uma visão enunciativa do sentido, as diversas


perspectivas, pontos de vista ou posições que se representam nos
enunciados. Para ele, o sentido de um enunciado consiste em uma
representação (no sentido teatral) de sua enunciação.

Ducrot (1984 apud Koch, 2003) avalia dois tipos de polifonia: quando há um
enunciado e mais de um locutor, e quando há um enunciado e mais de um
enunciador.
Daí, Koch (2003, p.73) delimita as diferenças entre polifonia e
intertextualidade.

Na intertextualidade, a alteridade é necessariamente atestada pela


presença de um intertexto (...). Em se tratando de polifonia basta que a
alteridade seja encenada, isto é, incorporam-se ao texto vozes de
enunciadores reais ou virtuais, que representam perspectivas, pontos de
vista diversos, ou põe em jogo “topoi” diferentes, com os quais o locutor se
identifica ou não.
15

4.4 Os tipos de leitores

Santaella (2004) delimita os leitores em três tipos distintos, sendo eles o


contemplativo, o movente e o imersivo, e aponta também que a transformação de
um desse tipos para outro, requer mudanças cognitivas e perceptivas, aludindo para
a importância de se frisar suas diferenças. A autora afirma em um primeiro
momento, que a leitura não é aquele que se concebe através da impressão de
papel, mas que existe uma multiplicidade de leituras possíveis e também de leitores;
esse leitor pode ser o do jornal, da revista, dos quadrinhos, das imagens e vídeos.
Também de mapas, fotografias, cinema e pinturas e outras possibilidades
incontáveis. Partindo da apresentação desses leitores, Santaella procura explicar
quais as características cognitivas de cada um desses leitores acima mencionados.
O leitor contemplativo é o leitor da era dos livros, da leitura com o olho, leitura
silenciosa e meditativa, uma leitura que permite uma relação maior entre texto e
leitor, que não delimita tempo.

O leitor tinha tempo para considerar e reconsiderar as preciosas palavras


cujos sons – ele sabia agora – podiam ecoar tanto dentro como fora. E o
próprio texto, protegido de estranhos por suas capas, tornava-se posse do
leitor, conhecimento íntimo do leitor (...). (Manguel apud Santaella, 2004, p.
20)

Daí surgem as inúmeras possibilidades que o livro permite, como a


reprodução e propagação dos textos e a troca dos manuscritos pelo texto impresso.

Longe de ter sido mera realização técnica cômoda, o livro impresso foi um
poderoso instrumento para conferir a eficácia à meditação individual, para
concentrar o pensamento que, sem ele, estaria disperso, ao mesmo tempo
que assegurava, em um tempo mínimo, a difusão de ideias, criando, entre
os pensadores, novos hábitos de trabalho intelectual. (Febvre apud
Santaella, 2004 p. 21)

Santaella (op. Cit.) ainda acrescenta que:

Esse tipo de leitura nasce da relação íntima entre o leitor e o livro, leitura do
manuseio, da intimidade, em retiro voluntário, num espaço retirado e
privado, que tem na biblioteca seu lugar de recolhimento, pois o espaço de
leitura deve ser separado dos lugares de um divertimento mais mundano.
(...) É uma atividade de leitores sentados e imóveis, em abandono,
desprendidos das circunstâncias externas. (Santaella, 2004, p. 23)

Enfim, o leitor contemplativo é o leitor do texto tangível, do objeto sólido, o


leitor do papel, da meditação e que tem o tempo à sua disposição.
16

Já o leitor movente, também denominado por Santaella (2004) de


fragmentado, é o leitor da era pós-Revolução Industrial, da comunicação através da
publicidade, leitor do jornal e das notícias concisas em meio a uma sociedade
crescente e repleta de inovações.

Tudo foi se transformando em mercadoria e com ela nascia um novo tipo de


percepção do mundo, cada vez mais voltada para a proximidade, para o
imediato, para a segurança contra os riscos da cidade grande. O ser
humano passou a se preocupar muito mais com a vivência do que com a
memória. (Santaella, 2004, p. 27)

Com a publicidade veio as mensagens visuais e também as imagens, sendo


elas o alvo do leitor movente, fugaz, que assimila rápido e assimila muito.

É o leitor treinado nas distrações fugazes e sensações evanescentes cuja


percepção se tornou uma atividade instável, de intensidades desiguais. É,
enfim, o leitor apressado das linguagens efêmeras, híbridas, misturadas.
(...) Aparece assim, com o jornal, o leitor fugaz, novidadeiro, de memória
curta, mais ágil. Um leitor que precisa esquecer, pelo excesso de estímulos,
e na falta do tempo para retê-los. Um leitor de fragmentos, leitor de tiras de
jornal e fatias da realidade. (Santaella, 2004, p. 29)

É este, portanto, é o leitor que tem pressa, transitório, que não se permite
atrelar aos detalhes de sua leitura; o leitor mediador entre o leitor que
silenciosamente e sem correria lê os livros impressos, e o leitor da era digital;
O último leitor ao qual Santaella (2004) se atém é o leitor imersivo, digital.

A inscrição do texto na tela cria uma distribuição, uma organização, uma


estruturação do texto que não é de modo algum a mesma com a qual se
defrontava o leitor do livro em rolo da Antiguidade ou o leitor medieval,
moderno e contemporâneo do livro manuscrito ou impresso, onde o texto é
organizado a partir de sua estrutura em cadernos, folhas e páginas. O fluxo
sequencial do texto na tela, a continuidade que lhe é dada, o fato de que
suas fronteiras não são mais tão radicalmente visíveis, como no livro que
encerra, no interior de sua encadernação ou de sua capa, o texto que ele
carrega, a possibilidade para o leitor de embaralhar, de entrecruzar, de
reunir textos que são inscritos na mesma memória eletrônica: todos esses
traços indicam que a revolução do livro eletrônico é uma revolução nas
estruturas do suporte material do escrito assim como nas maneiras de ler.
(CHARTIER, 1999, apud Santaella, 2004, p. 32)

O leitor imersivo, ainda que sua leitura guarde semelhanças com o texto
impresso, se diferencia porque se trata de um leitor atuante, interativo e de uma
leitura que leva a outros infindáveis caminhos repletos de informações.
17

Trata-se, na verdade, de um leitor implodido cuja subjetividade se mescla


na hipersubjetividade de infinitos textos num grande caleidoscópico
tridimensional onde cada novo nó e nexo pode conter uma outra grande
rede numa outra dimensão. Enfim, o que se tem aí é um universo novo (...),
uma biblioteca virtual, mas que funciona como promessa eterna de se tornar
real a cada “clique” do mouse. (Santaella, 2004, p. 33)

É, portanto, um leitor que demanda novos processos cognitivos, que tem


outras percepções, um leitor da tecnologia digital, que por ser novo, é objeto de
muitos estudos.

4.5 Os tipos de leitura e suas estratégias

A leitura é diversas vezes concebida erroneamente como decodificação de


palavras, interpretação e acepção e até mesmo uma relação passiva do leitor com a
leitura, entre outras questões. Castello-Pereira (2003, p. 49) aponta que o leitor pode
fazer uma leitura com diversos escopos, podendo ser:

Com diferentes finalidades – ler para quê (para me informar, para estudar,
para me entreter,...); por diferentes razões – ler por quê (por obrigação, por
necessidade escolar ou do trabalho, por paixão,...); de diferentes formas,
modos, – ler como (leitura pública, leitura individual, leitura coletiva,...) (...)
Outros fatores podem ainda gerar diferentes leituras, como os suportes (um
mesmo texto pode ser lido de forma diferente dependendo de onde estiver
escrito).

Ferreira (2001 apud Castello-Pereira, 2003, p.50) acrescenta outros objetivos


de leitura.

Ler para ampliar conhecimento: o aluno lê para buscar conhecimentos,


instrução, domínio da norma culta. Ler por prazer: fazendo a apologia do
prazer, contesta o discurso da escola com seus deveres e obrigações e se
instala numa posição de leitor sem compromisso, que lê por prazer e
diversão; Ler para socializar-se: o aluno vê a leitura como um ato partilhado,
conjugado com outras pessoas, pela escuta de histórias. Ler para viver uma
fantasia – se identifica com o “leitor viajante” das campanhas de leitura e
dos slogans de coleções, busca na leitura a superação dos problemas reais.

A leitura de estudo, a qual tem por objetivo extrair tudo que o texto oferece,
sua ideologia, seus argumentos, suas discussões, etc. é a leitura dos estudantes e
dos intelectuais; é a leitura de quem, de acordo com Paulo Freire (2001, apud
Castello-Pereira, p. 55), assume o papel de fazê-lo, de quem tem questionamentos
sobre o mundo, faz leituras diversas sobre um mesmo assunto, dialoga com o autor
do texto e tem humildade para reconhecer que é preciso ter muitos instrumentos
para compreender um texto.
18

A leitura com o intuito de estudo apresenta estratégias apresentadas por


Britto (2002, apud Castello-Pereira, 2003, p. 57) sendo elas a sublinha, marcas
quaisquer que possam orientar a leitura, anotações de margem do texto,
fichamentos, resumos, esquema entre outras.
A estratégia de sublinhar um texto auxilia na compreensão e ajuda a enfatizar
as ideais centrais de um texto.

Permite que se faça um mapeamento do texto, destacando partes ou


subdivisões, tese, principais argumentos, contraposições, definições, etc.
Para isso, é importante perceber como o autor desenvolveu o texto. Essa
marcação (...) auxilia na concentração na hora da leitura, pois com um
objetivo, uma tarefa a realizar, uma ação concreta, se tem mais facilidade
de fixar a atenção na leitura e na compreensão de ideias. (Castello-Pereira,
2003, p. 57)

A autora ainda acrescenta que a sublinha auxilia o leitor quando este precisa
relembrar uma ideia ou para qualquer motivo que implique na retomada do que já
havia sido lido.
Os comentários ou anotações feitos durante a leitura também ajudam na
atribuição do sentido, pois é uma forma que o leitor tem de interagir com o que está
lendo (Britto, apud Castello-Pereira, 2003).

Esses comentários podem ser resultantes de alguma ideia que o texto


suscitou, da lembrança de outros textos, de possíveis utilizações em
trabalhos ou estudos que estejam sendo desenvolvidos, bem como registrar
o assunto principal daquele parágrafo, para numa posterior leitura saber do
que se trata. (Castello-Pereira, 2003, p. 58)

O esquema é a estratégia que ajuda na organização das informações que o


leitor julga mais importantes distribuídas em tópicos ou qualquer outra forma que
possa permitir uma visualização rápida, podendo ser as palavras-chave do texto.
“Utilizam-se normalmente de colchetes, chaves, setas e outros símbolos que
possam ajudar na organização e visualização das ideias.” (Andrade, 1997 apud
Castello-Pereira, 2003, p.58)
Roteiro de leitura também é uma forma de organização em tópicos que auxilia
a orientar a leitura, podendo ser feita tanto pelo professor como pelo próprio aluno e
também com a elaboração de perguntas. E como toda leitura, depende do objetivo
do leitor.
Paráfrase é o excerto de um texto escrito de outra forma, mas que exprime o
mesmo conceito do original. “Consiste no desenvolvimento explicativo (ou
interpretativo) de um texto. Corresponde a uma espécie de tradução dentro da
própria língua, em que se diz, de maneira mais clara, num texto B o que contém um
texto A” (Othon Garcia, 1988 apud Castello-Pereira, 2003, p. 58). A síntese (ou
resumo) também é uma reescrita do texto original de forma diferente a juntar as
informações e conceitos mais importantes de um texto.
19

Resumir é uma tarefa complexa porque exige uma série de operações


mentais, é necessário analisar, compreender, selecionar, hierarquizar,
equivaler ideias, generalizar, suprimir, sintetizar, adaptar, construir,
memorizar, portanto envolve abstração. É uma estratégia de estudo
extremamente útil, pois além de ajudar na compreensão e desenvolver a
capacidade discursiva, possibilita verificar o entendimento e fixar os
conhecimentos. (Castello-Pereira, 2003, p. 58)

É importante destacar que existem diversas outras estratégias, e que seu uso
vai depender de vários fatores; é possível observar também que o uso ou
conhecimento de estratégias de leitura não são determinantes ou suficientes para o
valor qualitativo da leitura. O estudante e ou leitor precisa ser dedicado, ter domínio
das habilidades de exploração de um texto, ser questionador e reflexivo, praticar e
exercitar o ato da leitura.
Outro grifo também relevante, é que essas estratégias são usadas na leitura
do texto impresso e que podem ser transferidas para a leitura do hipertexto digital,
mas que para a leitura na tela, é possível que estratégias sejam modificadas ou até
mesmo criadas.

5 O HIPERTEXTO E SUAS CONCEPÇÕES

Apresentadas e entendidas as concepções fundamentadas que moldam o


texto, a construção do sentido e suas estruturas, podemos agora compreender a
textualidade do hipertexto.
O hipertexto tem acatado muitos conceitos e caracterizações ao longo dos
diversos estudos desde seu surgimento, sendo eles feitos por diferentes áreas, o
que ocasiona grande número de definições e daí, uma confusão quanto à sua
relevância e reais possibilidades.
O termo hipertexto foi criado nos anos sessenta pelo sociólogo Theodore
Nelson (1963), e ainda hoje é definido de diversas formas que variam de acordo com
o objeto de pesquisa, como dito anteriormente. O autor (1992, apud Koch, 2007),
considera o hipertexto como

um conceito unificado de ideias e de dados interconectados, de tal modo


que estes dados possam ser editados em computador. Desta forma, tratar-
se-ia de uma instância que põe em evidência não só um sistema de
organização de dados, como também um modo de pensar.

É importante esclarecer que há inúmeras estratégias que fazem com que a


leitura tenha valor qualitativo, mas que elas não são determinantes para a leitura de
estudo. O leitor tem que ter um papel de pesquisador,

Já Lévy (1993, apud Koch 2007) define hipertexto como:


20

um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras,


páginas, imagens, gráficos ou parte de gráficos, sequências sonoras,
documentos complexos que podem ser eles mesmos hipertextos. Os itens
de informação não são ligados linearmente, como uma corda com nós, mas
cada um deles, ou a maioria deles, estende suas conexões em estrela, de
modo reticular.

Coscarelli (1999 apud Dias 2008, p.25) apresenta uma definição bastante
simples e objetiva do termo, apontando que hipertextos “são sistemas que
gerenciam informações armazenadas em uma rede hierárquica de nós, conectados
através de ligações.”
Já Gomes (2007, p. 41) em sua definição mais atualizada do termo, menciona
o grande valor dos links para a concepção do hipertexto.

Defino hipertexto como o local e o resultado da interação ativa, verbal ou


não, entre interlocutores, enquanto sujeitos ativos que dialogicamente nele
se constroem e são construídos, acrescentando a presença de links e uma
existência exclusivamente eletrônica do hipertexto, como fatores
diferenciadores do texto tradicional. A presença de links altera, como vimos,
a intertextualidade, tornando-a mais incisiva e componente fundamental de
um hipertexto.

Pode-se concluir que o hipertexto é o texto transportado para o suporte digital,


que oferece novas formas de construir um texto e que apresenta características
diferentes das do texto impresso, que é fragmentado em partes diversas, que são
interligadas por links, e que a disposição destes “implica diretamente a produção do
texto e a construção de sentidos” (Gomes, 2007, p. 41), e o autor ainda acrescenta
“que o hipertexto representa uma continuidade da linha da oralidade, escrita, e
escrita hipertextual; e que ele mantém um caráter de hibridismo”.

5.1 Construindo o sentido na leitura hipertextual

Partindo de estudos linguísticos, o hipertexto traça certas características


diferentes daquelas do texto impresso, sem excluir as estruturas fundamentais de
como se produz e como se lê um texto.
Como essa pesquisa tem por finalidade os estudos da construção do sentido
no hipertexto, esse será estudado partindo do pressuposto de que (além de suas
outras características) é um texto, e assim apontar quais fatores imperam para que o
sentido seja constituído de forma diferente daquela do texto impresso.
Porém Koch (2005, apud Gomes, 2007, p. 111) afirma que o leitor de
hipertextos empresta suas competências textuais usadas para o texto impresso para
a leitura hipertextual e que o leitor hipertextual precisa ter a mesma competência
textual que tem para ler textos impressos.
21

Admitindo como certo que não existem textos – escritos ou orais –


totalmente explícitos, e que o texto se constitui de um conjunto de pistas
destinadas a orientar o leitor na construção do sentido; e, mais ainda, que,
para realizar tal construção, ele terá de preencher lacunas, formular
hipóteses, testá-las, encontrar hipóteses alternativas em caso de
“desencontros entre o dito e o não-dito”, tudo isso por meio de
inferenciamentos que exigem a mobilização de seus conhecimentos prévios
de todos os tipos, dos conhecimentos pressupostos como partilhados, de
conhecimento de da situação comunicativa, do gênero textual e de suas
exigências, a compreensão terá de dar-se de forma não-linear.

Já Orlandi (apud Gomes, 2007, p. 109) destaca a compreensão como forma


de construir sentido e aponta que compreender

é saber como um objeto simbólico (enunciado, texto, pintura, música, etc.)


produz sentidos. É saber como as interpretações funcionam. Quando se
interpreta já se está preso em um sentido. A compreensão procura a
explicitação dos processos de significação presentes no texto e permite que
se possam ‘escutar’ outros sentidos que ali estão, compreendendo como
eles se constituem.

Gomes menciona a continuidade tópica, ou seja, a manutenção do objetivo da


leitura como fator importante na construção dos sentidos na leitura do hipertexto,
pois é ela que constrói a coerência.

A mudança do tópico A para o tópico B interrompe o processo de


construção do modelo mental do tópico A. Enquanto isso, um novo
esquema cognitivo tem que ser ativado para construir um modelo mental
para o tópico B. Se o modelo do tópico A for reativado mais tarde, ele será
menos vívido e menos detalhado, ficando menos presente do que teria
ficado se não tivesse havido mudança de tópico. EM textos com
descontinuidade tópica, portanto, o leitor irá detectar menos relações
semânticas e, consequentemente, atingirá um nível mais baixo de coerência
do que em textos com continuidade tópica. (Schnotz, apud Gomes, 2007, p.
113)

Schnotz (apud Gomes, 2007, p. 113) destaca que a leitura é guiada diversas
vezes pelas expectativas do leitor quanto aos padrões do texto convencional.
“Assim, quanto mais um texto atender às expectativas dos padrões (genéricos),
menos será a demanda cognitiva e maior será o nível de coerência.”
A coerência é tratada por Koch mais detalhadamente (2005, apud Gomes,
2007, p. 114).

Ao navegar por toda uma rede de textos, o hiperleitor faz de seus interesses
e objetivos o fio organizador das escolhas e ligações, procedendo por
associações de ideias que o impelem a realizar sucessivas opções e
produzindo assim uma textualidade cuja coerência acaba sendo uma
22

construção pessoal, pois não haverá, efetivamente, dois textos exatamente


iguais na escrita hipertextual.

Em se tratando do hipertexto e sua característica de não-linearidade e o


entrelaçamento de informações apontado por Lévy (1999), é possível dizer que a
construção do sentido no hipertexto é alterada de acordo com as relações que
existem entre os links, pois essas relações fazem parte do próprio sentido através de
associações semânticas, etc.

Caso o leitor, como um flaneur, passei desavisadamente de um link a outro


e, a partir do novo texto acessado, por meio de novos links a outros textos,
e assim sucessivamente, ele correrá o risco de formar, como foi dito, uma
grande conexão em cascata, quebrando a continuidade temática, como é
comum acontecer na conversação espontânea, em que um assunto puxa
outro, que puxa outro e mais outro, de tal forma que, ao final da interação, já
não é mais possível nomear o tópico da conversa, isto é, dizer sobre o que,
afinal, se falou. (Koch, 2005 apud Gomes, 2007, p. 112)

Essas características distintas sugerem que o leitor, ao fazer a leitura do texto


no computador, possivelmente mudará seu jeito de ler, e consequentemente
organizará as informações de maneira diferente. Porém, Perfetti (1996 apud Gomes,
2007, p. 10) aponta que

O processamento do texto implica o processo cognitivo que opera nos


domínios do texto e nos propósitos do leitor; portanto, o texto pressupõe um
leitor; por outro lado, o uso pressupõe um propósito que é o que motiva o
leitor a acessar múltiplos textos. Nesse caso, não se processa o texto, usa-
se o texto para algum propósito; portanto, o hipertexto pressupõe um
aprendiz ou alguém que o use para realizar alguma tarefa.

Portanto, pode-se dizer que para o autor, as discrepâncias entre texto e


hipertexto estão na escolha de como o leitor vê o texto e em seu objetivo quanto à
finalidade deste. “Em outras palavras, há que se distinguir se o foco está no
processo utilizado pelos leitores para obter as informações ou no uso que os leitores
fizeram dos textos, a serviço de seus objetivos.” (op.cit.).
Gomes (2007) aponta para um grande problema nas pesquisas sobre
hipertexto questionando como o leitor constrói a coerência quando lê vários textos
que não são organizados sequencialmente, atrelados pelos hiperlinks e que influi na
linearidade do texto e, por conseguinte, do sentido.
Rouet & Levonen (1996 apud Gomes, 2007) defendem que as informações no
hipertexto não são sequenciadas e o andamento da leitura é controlado pelo leitor, o
que permite que o leitor trace seus próprios caminhos na leitura. Portanto, o
progresso da leitura hipertextual depende das decisões do leitor, que precisa de uma
representação mental de como a informação está organizada.
23

Porém Dias (2008, p. 57) aponta os problemas na compreensão de hipertexto


apresentados por autores convencionais, denominados sobrecarga cognitiva e
desorientação.

A sobrecarga cognitiva é provocada pela constante necessidade de o


leitor tomar decisões sobre o destino de sua leitura, sobre qual link seguir,
prejudicando, assim, a sua atenção maior ao conteúdo apresentado no
texto. Já a desorientação é quando o leitor fica “perdido no hiperespaço”,
ou seja, quando não consegue mais localizar onde se encontra na estrutura
(hiper)textual.

O autor não acredita que a sobrecarga seja um grande problema nas leituras
de hipertexto pelo fato de que os leitores estão sempre fazendo escolhas e tomando
decisões. Já sobre a desorientação, ele observa que pode acontecer pela
organização do hipertexto. Ele também cita Roeut e Levonen (1996) para afirmar
que a organização e estruturação no hipertexto são relevantes para o leitor. “É
importante para o leitor saber qual é a sua localização atual na rede de informações
do hipertexto, para que possa ter noção do que já leu e para que possa localizar
melhor os nós que deseja.” (Roeut e Levonen 1996, apud Dias, 2008, p.58)
Daí o autor defende que para a leitura do hipertexto ter melhor resultado, ela
precisa fornecer uma boa estrutura e que problemas nessa leitura podem ocorrer
tanto quando o leitor não é experiente como quando o hipertexto não oferece
marcas que indiquem sua construção.
Gomes (2007), porém, afirma que para a leitura hipertextual ser eficiente, é
preciso seguir alguns tipos de estratégias de leitura, pois a estrutura do hipertexto de
oferecer diversas informações não garante a compreensão da leitura nem a
aprendizagem.

o hipertexto deve ter um impacto na educação e nas atividades de


aprendizagem, mas, mesmo assim, é apenas uma tecnologia que
armazena, manipula e apresenta informações que poderiam ser
apresentadas de outras maneiras. Ele pode ser mais compacto, permitir
recuperação mais facilmente e manipulação e assim por diante, mas é
ainda um meio de apresentação de informação. (Dillon, apud Gomes, 2007,
p. 101)

O fato de estudos apontarem que o hipertexto oferece uma leitura diferente


não se adiciona ao fato de que ela seja mais fácil ou que garanta melhores
resultados do que outros tipos de leitura. Gomes (op. Cit.) apresenta algumas
estratégias que podem ser usadas nas leituras hipertextuais.

No caso do hipertexto, devido à sua adicional flexibilidade de navegação, é


de se esperar que os leitores empreguem também uma variedade de
recursos, que expandem as estratégias utilizadas na leitura de textos
lineares. (Gomes, 2007, p. 103)
24

O autor apresenta as pesquisas feitas por Foltz (apud Gomes, 2007), que
aponta três tipos de estratégias para a leitura: a direta do começo ao fim do texto, a
leitura na qual o leitor lê um trecho e depois retorna revendo as sentenças e a leitura
na qual o leitor volta para sentenças anteriores no momento da leitura.
Há também as estratégias voltadas para a literatura, sendo elas a casual, sem
objetivo e que o leitor clica nos links somente por curiosidade, a leitura com
finalidade de procurar informações específicas e a leitura de coautoria. Gomes
(2007) afirma que independente da estratégia usada pelo leitor, ele tem a liberdade
de escolher os caminhos da leitura e construir sentido.

Não somente as habilidades do leitor e as características estáticas do texto


determinam sua compreensão, mas também seus sinais estruturais,
sintáticos e semânticos. Esses sinais (...) fornecem evidência para a
macrorrelevância das seções individuais do texto e determinam também o
que o leitor procura no texto e o que ele ignora. O leitor pode, então, saltar
seções que não julgue interessantes, ou seja, ler de maneira não linear.
(Foltz, apud Gomes, 2007, p. 105)

O autor ainda ressalta que para o texto ter coerência, não basta apenas
fornecer informações, pois para o texto fazer sentido, o leitor precisa recorrer ao
conhecimento prévio provido por leituras de nós que fazem parte do nó mais
relevante.

A leitura de hipertextos não é apenas um processo de leitura, mas de


soluções de problemas (e de navegação) e que os leitores leem as lexias
em torno da lexia que contém a informação desejada, a fim de manterem-se
sempre dentro de um mesmo contexto textual. (...) Os leitores de hipertexto
são oportunistas; procuram por pistas que os levam ao caminho mais
coerente dentro do texto. (Foltz, apud Gomes, 2007, p. 106)

Outro ponto discutido pelo autor é o letramento visual, importante para a


leitura de certos hipertextos “pois para se ler na tela é necessário saber interpretar
diferentes recursos visuais: ícones, imagens, cores, sons, tipos de letras, etc. e
integrar informações veiculadas por diferentes linguagens. (Gomes, 2007, p. 107)
Alguns autores destacam estudos que assemelham e ou diferenciam o texto
do hipertexto, como Koch (2005 apud Gomes, 2007), quando aponta que a diferença
entre texto e hipertexto está apenas na agilidade do acesso às informações uma vez
que com o texto impresso, o leitor demora mais para chegar a outros textos como,
por exemplo, as referências, e no formato digital, para obter uma nova informação
basta apenas um clique, mas assemelha ambos e defende que “o hipertexto, sendo
também um texto, está sujeito às mesmas condições básicas da textualidade, desde
que estas sejam entendidas (...), como princípios de acesso e não de boa formação
textual."
Outra autora que assinala semelhanças entre texto e hipertexto é Coscarelli
(2009). Ela defende que ambos são iguais quando há a eficiência tanto do autor ao
produzir os textos, quanto do leitor no processo da leitura, pois são poucas as
características que os diferem. Isso acontece, pois muitos pesquisadores discutem
25

sobre a diferença do texto para a sua versão eletrônica ser meramente tecnológica,
ou seja, o texto transportado do papel para o meio digital. Há de se destacar que a
versão eletrônica do texto é muito mais ágil e facilitadora e que novos gêneros tais
como o e-mail, são criados quando do texto no formato digital, e como aponta a
própria autora, “Isso certamente provoca mudanças no comportamento e no
pensamento do leitor e no produtor de textos.” (p.552), mas também afirma que as
novas modalidades de leitura advindas do meio digital não têm que substituir as
leituras do texto impresso, mas que devem ser adicionadas a ela.
Gomes (2007, p. 17), também aponta algumas similaridades entre texto e
hipertexto quanto à recepção do leitor e a interação.

O hipertexto também se constitui num evento textual-interativo, embora com


características próprias. (...) Estamos tomando aqui, portanto, uma visão
sociointerativa de texto e de hipertexto por entendermos que ambos são
eventos interativos, abertos a múltiplos sentidos, o que nos permite afirmar
que eles têm uma relação de semelhança, ao menos quanto à construção
de sentidos.

Como no hipertexto tratamos de várias informações separadas e vinculadas


pelos links, é possível dizer que “O hipertexto é, por natureza e essência,
intertextual, uma vez que, sendo um “texto múltiplo”, possibilita o acesso a inúmeros
textos, através dos links.” (ibidem), e o autor também acrescenta

que o hipertexto representa uma continuidade da linha da oralidade, escrita,


e escrita hipertextual e que ele mantém um caráter de hibridismo, como
esclarece Braga, decorrente do meio que demanda uma nova modalidade
linguística: a escrita digital ou escrita eletrônica.

Braga (2003 apud Gomes, 2007) dá enfoque para diferenças entre texto e
hipertexto quanto ao uso de outros textos, por acreditar que no hipertexto o acesso a
outro material é disponibilizado, enquanto que no texto impresso a leitura a outros
textos é apenas aconselhada e não necessariamente essencial para a leitura.
Outra característica do hipertexto que se difere do texto impresso é o limite de
associações,

o hipertexto pode remeter a associações que estão não apenas “dentro” dos
limites de um mesmo hipertexto, mas também “fora” dele (links internos e
links externos respectivamente). Segundo Braga (2003, p. 77), isso se dá
por que, enquanto na produção de textos tradicionais somos exclusivos, isto
é, selecionamos as informações, devido a questões de espaço, no
hipertexto ocorre o contrário, tendemos a ser inclusivos, devido às
facilidades do meio. (Braga, 2003 apud Gomes, 2007, p. 18)

Um dos fatores do texto bastante relevante para o hipertexto, é a


intertextualidade, componente essencial do hipertexto, já tratado anteriormente.
26

De acordo com Araújo e Lobo-Sousa (2009), muitos dos autores que estudam
o hipertexto apresentam a intertextualidade de forma genérica, e isso acaba fazendo
com que haja uma confusão entre definições de intertextualidade e hipertexto, pelo
fato de o hipertexto ser constituído de vários documentos justapostos.
Os autores ressaltam que para tratar da intertextualidade, se faz necessário
mencionar o dialogismo bakhtiniano, retomado por Kristeva (1969) e sua definição
“todo texto se constrói como um mosaico de citações, todo texto é a absorção e
transformação de um outro texto” (apud Araújo; Lobo-Sousa, 2009, p. 568)
Araújo e Lobo-Sousa (2009, p. 568) explicam que

Essa consideração é importante porque segundo Kristeva, qualquer texto é


um conjunto de outros textos, muitas vezes inconscientes; logo, o intertexto,
ou seja, aquilo que se possa perceber da relação de dois textos, pode não
ser um objeto facilmente recuperável ou perceptível, mas estar diluído por
todo o texto ou, ainda, a partir dele.

Gomes (2007), baseando-se em estudos feitos por Koch (2005 apud Gomes)
também ressalta a eficiência do evento dialógico na leitura do hipertexto.

O conceito de texto como um evento dialógico, de interação entre sujeitos


sociais – contemporâneos ou não, co-presentes ou não, do mesmo grupo
social ou não, e em diálogo constante permite- nos, de acordo com Koch,
dizer que o hipertexto também se constitui num evento textual-interativo,
embora com características próprias. (Gomes, 2007, p. 17)

Koch (2005, apud Gomes, 2007, p. 72) exemplifica uma dessas


características:

Uma delas é não haver limitação do interlocutor, que pode ser qualquer um
desde que conectado à rede, já que o hipertexto não constitui um texto
realizado concretamente, mas apenas uma virtualidade.

Quando da intertextualidade no hipertexto, Araújo e Lobo-Sousa citam Xavier


(2003 apud Araújo; Lobo-Sousa, 2009), que explica as duas formas de
intertextualidade apontadas por Koch (1990 apud Araújo; Lobo-Sousa, 2009), sendo
elas de forma e conteúdo,

a primeira ocorre quando o produtor de um dado texto repete expressões,


enunciados e trechos de outros textos. Já a intertextualidade de conteúdo
se realiza no interior de uma mesma cultura, por meio de textos de uma
mesma época e áreas de conhecimento. A intertextualidade de conteúdo
pode se dar explícita ou implicitamente. (Xavier, 2003, p. 285 apud Araújo;
Lobo-Sousa, 2009, p. 571)
27

Nas leituras hipertextuais, a intertextualidade explícita (também denominada


de hiperintertextualidade) é a mais comum em decorrência da presença de links
dispostos no hipertexto e que irrefutavelmente apresenta outros.
Porém, os autores apontam erros nessa categorização por ela ser muito
abrangente e também mal definida, pois o sentido amplo da intertextualidade no
hipertexto implica que ela só ocorra em decorrência da existência dos hiperlinks e o
fato de os hipertextos estarem ligados, excluindo análises mais a fundo. É como se o
único objeto de pesquisa fosse o hipertexto primeiro apenas, e não aos quais está
relacionado. Braga (2005, apud Araújo; Lobo-Sousa, 2009) afirma que quando o
hipertexto é adotado por esses formatos, o papel do hiperlink acaba sendo
eliminado, o que seria um ponto negativo.

Essa consideração negligencia (...) os diversos sentidos estabelecidos pelos


links, que vão desde associações semânticas a comentários mais
aprofundados. (...) As ligações estabelecidas pelos links vão além de
expansões ou relações secundárias, passando a ser centrais na
estruturação do texto, já que as próprias relações estabelecidas pelos
hiperlinks passam a ser parte constitutiva de seu sentido. (Araújo; Lobo-
Sousa, 2009, p. 573)

Outra ressalva dos autores é a de que no hipertexto acontece um processo


contrário do da leitura convencional, pois na leitura do texto impresso, a menção
acontece a um texto já manifesto, enquanto que no hipertexto, o link leva o leitor a
um documento desconhecido.
Para finalizar, eles observam que a maior parte de hipertextos apresenta
intertextualidade, mas que ela não é inerente ao uso do hiperlink quando se tratando
do sentido amplo; já no sentido restrito, a intertextualidade acontece através dos
hiperlinks.
Os links são comumente citados quando se tratando do hipertexto, pois como
aponta Gomes (2007) eles são “elementos constitutivos do hipertexto” (p. 32),
porém, diversas vezes sua importância passa despercebida. O link nada mais é do
que a ligação entre um documento e outro, e ele pode ser organizados nas páginas
hipertextuais de diversas formas, e Mcknight, Dillon e Richardson (1991, p.3 apud
Gualberto, 2008, p.57) indicam que não há regra para a disposição deles.

Um link é arbitrário no sentido de que não existem regras para dizer onde o
link deve ser feito. O link pode ser feito entre dois nódulos, os quais o autor
(ou o leitor) considera ser conectado de alguma forma. Em alguns sistemas,
os links são categorizados, isto é, existem vários tipos de links e o autor
deve especificar qual tipo gostaria que fosse usado. (MCKNIGHT, DILLON e
RICHARDSON, 1991, p.3, tradução nossa)

Gomes (2007) aponta que a forma como os links são colocados nos
hipertextos vai ter efeito na construção do sentido. Marcuschi (2005, apud Gualberto,
2008) afirma que as ligações que ocorrem através dos links ajudam na construção
da coerência, pois os hiperlinks incitam expectativas por parte do leitor e,
consequentemente servem como instrumentos interpretativos. Koch (2005 apud
28

Gualbert, 2008) ressalta que o link contribui para a construção da coerência porque
oferece caminhos para o leitor.
Gualberto (2008) também menciona a relevância dos links para a construção
da coerência:

Não há dúvida de que qualquer texto só adquire sentido por meio da leitura,
mas pode-se afirmar que, em função de alguns dispositivos específicos
como os hiperlinks, o hipertexto potencializa a leitura multisequencial e a
construção de sentidos, noções já presentes no suporte impresso.
(Gualberto, 2008, p. 58)

A autora também chama a atenção para a linearidade em se tratando de


leitura hipertextual ao citar Santaella (2004), apontando que ela é rompida em forma
de blocos associativos.
Há dois tipos de link, podendo ele ser interno “ou de um local a outro no
mesmo documento” ou externo, “ou ainda uma referência de documento a outro”
(Gomes, 2007). Outro fator ligado ao link é que ele pode ser confundido com outros
termos que fazem parte dele.
Esses termos são, entre outros, âncora, lexia, actema e episódio, definidos de
forma breve aqui por serem considerados partes integrantes da leitura do hipertexto
com construção de sentido.
De acordo com o autor, as âncoras são “uma área dentro do conteúdo de um
nó que é a fonte ou o destino de um link.” (W3C apud Gomes, 2007). O link é
composto por duas âncoras, sendo uma de partida, e a outra de chegada.
Já a lexia, “é a unidade básica de informação num hipertexto e é formada por
textos hipermodais ou por textos verbais, imagens, vídeos, sons, narrações e ainda
ícones e botões.” (Gomes, 2007, p. 63) Os dois últimos são actema e episódio,
sendo o primeiro caracterizado como o ato de seguir um link e o segundo, é o
conjunto de actemas que são coerentes para o leitor.
Ao se fazer distinções entre os significados de termos referentes aos links, de
sua recepção, para o local onde ele leva entre outros, evidencia-se a importância de
tratá-lo como parte constituinte do hipertexto e atribuição de sentido, porque é ele
que tem o papel de atrelar hipertextos, sendo eles na mesma página, ou quando se
refere a outro documento, ainda que os autores vejam seu uso de formas diferentes.
29

6 CONCLUSÃO

Koch (2007), em seu artigo sobre a construção do sentido em hipertexto,


afirma que o conjunto de recursos possível dentro de um hipertexto (som, imagem,
animação) é ampliado e que obtém novos significados a partir das diversas opções
que o hipertexto oferece a seu leitor. Opções essas que são oferecidas através da
conexão entre hiperlinks, elementos indispensáveis na continuidade da leitura e
consequentemente do sentido, os quais contêm informações distintas, fato que
altera a forma de ler, pois o hipertexto não oferece a leitura linear do texto impresso.
Daí a forma diferente nas concepções do que é autor e leitor e quais seus
respectivos papeis e também no que é atribuição do sentido, uma vez que o autor é
“construtor de dispersões de sentido e o leitor autor de configurações de sentido em
um sistema previamente programado (Bellei, 2002, apud Koch, 2007, p.34). O leitor
precisa saber organizar as informações do hipertexto.

É ele próprio o responsável pela “edificação” de seu texto. E, para tanto,


deverá não apenas mobilizar seus conhecimentos linguísticos, textuais,
enciclopédicos, interacionais, como utilizar recursos próprios para a leitura,
tendo em vista que o hipertexto é um labirinto formado de uma infinidade de
textos, versando sobre infinitos temas, em uma extensa rede que possibilita
múltiplos caminhos de leitura, e que lhe exige, portanto, o estabelecimento
de conexões coerentes entre os segmentos do texto linguisticamente
materializados. (Koch, 2007, p. 35)

Os conhecimentos linguísticos mencionados pela autora referem-se aos


estudos sobre o texto impresso, que podem ou não ser aplicados na leitura
hipertextual, porém estudos de texto impresso oferecem estratégias que não podem
ser aplicadas quando para a leitura do hipertexto. Sublinhas e anotações de
margem, por exemplo, estratégias muito usadas na leitura do texto impresso, não
poderiam ajudar um indivíduo que lê na tela. Bastante é estudado e especulado
sobre outras questões pertinentes ao hipertexto, porém, em uma parte importante
que é o leitor e o sentido de sua leitura, certos assuntos se mantêm inexistentes,
pois ainda não se sabe as estratégias que um hiperleitor pode recorrer quando
precisa de um subsídio na leitura da tela. Sendo essa pesquisa apenas teórica, é
importante ressaltar a necessidade de pesquisas empíricas sobre a leitura na tela
para verificar quais estratégias são usadas pelos leitores e quais possivelmente
podem ser criadas.
30

6 REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Júlio César; Lobo-Sousa, Ana Cristina. Considerações sobre a


intertextualidade do hipertexto. Linguagem em (Dis)curso, Palhoça, SC, v.9, n. 3,
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CASTELLO-PEREIRA, Leda Tessari. Leitura de Estudo: ler para aprender a


estudar e estudar para aprender a ler. Campinas: Alínea. 2003.

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_____. Textos e Hipertextos: Procurando o equilíbrio. Linguagem em (Dis)curso,


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compreensão. 2008. 146 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) –
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hipertexto enciclopédico digital. 2008. 202 f. Tese (Doutorado em Estudos
Linguísticos) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Minas
Gerais.

KLEIMAN, Angela. Oficina de Leitura: teoria e prática. 7. ed. Campinas: Pontes,


2000.

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SANTAELLA, Lúcia. Navegar no ciberespaço: O perfil cognitivo do leitor imersivo.


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TREVISAN, Eunice. Leitura: Coerência e Conhecimento Prévio (uma exemplificação


com o frame carnaval). Santa Maria, RS: Universidade Federal de Santa Maria,
1992.

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