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Comunicación (ALAIC)
Comunicación en sociedades diversas:
Horizontes de inclusión, equidad y democracia
San José, Costa Rica, 30, 31 de julio y 1 de agosto 2018
Marina Feldhues1
1
Mestre em Comunicação na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Brasil,
marinafeldhues@gmail.com.
Resumo: Os fotolivros ampliaram as possibilidades de construção de narrativas com
fotografias. O presente trabalho reflete sobre como o encontro da fotografia e com o
livro pode potencializar a experiência da narrativa pelo leitor.
INTRODUÇÃO
Os fotolivros vêm sendo compreendidos como livros fotográficos temáticos, que
contam alguma coisa. São livros de cunho mais autoral. Funcionam como obra (no caso
dos livros de artista fotográficos) e/ou como projeto específico de um fotógrafo. São
livros autônomos, que têm vida própria, não são apêndices de exposições fotográficas,
ou antologias, ou portfólios. Ultrapassam a questão meramente expositiva. As imagens
fotográficas são protagonistas, ou dividem o protagonismo, na comunicação da
mensagem. As fotografias são consideradas mais em relação umas às outras e ao todo
do livro, do que em sua individualidade. Tais livros normalmente são gerados pela
cooperação entre imagens fotográficas, texto, design e materiais gráficos e, em geral,
possuem uma potência narrativa. Eles portam mundos, realidades que acontecem no
livro, podem ser fonte de informação e de experiências.
Para este trabalho, nos interessa refletir sobre essa potência narrativa que se
configura nos fotolivros, mais especificamente observando as estruturas narrativas que
advém dos encontros entre as imagens fotográficas e o objeto livro, possibilitando
continuidades e rupturas espaço-temporais e até mesmo revigorando alguns
entendimentos sobre o ato de narrar.
Para tal reflexão, pensaremos o livro apenas em seu formato tradicional, códice,
formado por páginas sequenciadas, agrupadas umas às outras em uma das extremidades.
Tomaremos por base os estudos sobre livros, como um suporte experimental,
desenvolvidos por Ulises Carrión e Edith Derdyk e os conceitos de imagem, narração e
intervalo trabalhados por Didi-Huberman, Walter Benjamin e Tim Ingold. Como corpus
de investigação, veremos uma sequência da publicação A Margem (2013) do Coletivo
Garapa e do fotolivro Illuminance (2011) da Rinko Kawachi.
3. ILLUMINANCE
A Figura 2 mostra um “capítulo” do fotolivro Illuminance da japonesa Rinko
Kawachi. À diferença da sequência de A Margem (Figura 1), em que as imagens do
nadador mergulhando em posições variadas passeiam pelas páginas e nos possibilitam
criar um encadeamento sensório-motor entre elas (um mergulho no livro), em
Illuminance as imagens são todas de um mesmo tamanho e ocupam uma mesma posição.
A percepção de movimento é menor, o ritmo é mais lento dado a equivalência de
tamanho e posicionamento das imagens. As páginas duplas sempre apresentam pares
de imagens, apenas a página inicial e a final do capítulo apresentam apenas uma imagem,
a qual faz par com uma página em branco. É pela presença dessa página em branco no
início e no final dessa sequência de imagens que somos levados a entender a sequência
como um “capítulo” no fotolivro.
Figura2 - Sequência de Illuminance.
Fonte: KAWACHI, 2011.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O livro em si, como vimos, é uma estrutura espaço-temporal. O encontro dessa
estrutura com as imagens fotográficas pode possibilitar diferentes experiências espaço-
temporais, que são notadamente marcadas pela percepção de um ritmo que envolve as
imagens e a própria estrutura do livro, já que como dissemos “a imagem impressa está
presa na matéria do livro”, a ponto de que não faz sentido no caso dos fotolivros falar de
narrativa visual ou fotográfica e narrativa do fotolivro, como se fossem coisas separadas,
como se pudéssemos separar a experiência háptica da visual.
As articulações entre as imagens, em conteúdo e forma, a aproximação, o
posicionamento e o sequenciamento das imagens nas páginas podem potencializar a
experiência da narrativa pelo leitor. As imagens mostram o mundo, a organização das
imagens é o caminho proposto e as relações que surgem na imaginação do leitor é
percurso narrativo individual e subjetivo que um fotolivro pode proporcionar.
BIBLIOGRAFIA
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