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LITERATURA E SUAS FUNÇÕES

A literatura pode ser definida como:

- Um elemento de catarse

- Um elemento do conhecimento do mundo, tanto do passado, e do presente, como


da mentalidade de uma sociedade ou época.

- Um elemento essencialmente ligado ao homem, ao seu próprio conhecimento.Em si


mesmo, a outros, como um espelho de si mesmo, ou como ele sendo um espelho da
sociedade em si.

- Um elemento de formação e desenvolvimento em todos os campos do saber:


intelectual, moral, ideológico e até estético.

Funções de linguagem

funções = objetivos

A linguagem possui varias funções, isto é, vários objetivos. Quando a usamos, temos a
intenção de mencionar, convencer, explicar algo, etc.

1. Função emotiva – Emissor expõe sua opinião, seus sentimentos. Normalmente o texto está
em 1ª. Pessoa.

2. Função conativa ou apelativa – O objetivo é convencer o receptor para que ele mude de
opinião, compre algo, vote em alguém, va a algum lugar etc.

3. Função referencial ou informativa – Tem como base o contexto, o assunto. O objetivo é


apenas dar informação.

4. Função poética – A língua vem apresentada de maneira especial. A conotação e as figuras


de linguagem são usadas para passar uma mensagem.

5. Função fática – É a tentativa de se estabelecer contato, iniciar ou continuar uma


comunicação.

6. Função metalingüística - A língua explica a si mesmo. Essa função se vê clara no


dicionário ou na gramática, onde o idioma é usado parar tirar duvidas, esclarecer fatos sobre
ele mesmo.

Texto Literário

• Uso de metáforas especial


• Linguagem de ficção
• Muitas vezes, a mensagem está nas “entrelinhas”.
• O objetivo é externar sentimentos, criar situações.
CARACTERÍTICAS DO TEXTO LITERARIO:

Na denotação aparece:

- uma linguagem informativa, objetiva.

- A palavra é usada no seu real sentido.

EX: Ganhei um par de brincos dourados.

Na conotação aparece:

- Uma linguagem mais afetiva e subjetiva.

- A palavra é empregada no seu sentido figurado.

EX: Os anos que você esteve ao meu lado foram anos dourados.

Texto não-literário

• Seres e fatos reais


• As metáforas não são usadas
• Textos objetivos é informação.

GÊNEROS LITERÁRIOS

Objetivo:

Mostram a definição dos gêneros Épico, lírico e dramático, suas origens e como
foram usadas pelos escritores e também suas principais características.

Pré-requisito:

Seguir a seqüência das lições.

GÊNEROS LITERÁRIOS

Os textos literários, por apresentarem certas características podem ser agrupados de


acordo com estas. Por isso os gêneros literários podem ser definidos como conjunto de
textos que apresentam uma determinada característica, estabelecida.
Embora seja um pouco difícil ter uma classificação precisa, porque um texto pode agrupar
várias características de mais de um gênero, ou então um gênero pode evoluir e se
transformar.

CLASSIFICAÇÃO:

A partir do século XVI deu-se mais ênfase ao estudo especifico dos gêneros
literários. Embora a origem deles tenha por base a obra república, do filósofo grego, Platão
(428 a.c – 347 a.C.)

Foi com Platão e também Aristóteles que surgiu a classificação dos gêneros literários
em épico, lírico e dramático.

Para Platão, toda manifestação artística tem por base falsas situações, como se
fossem imitações transitórias.
De Platão ate hoje, já surgiram outras definições dobre o estudo dos gêneros
literários. Os gêneros literários podem ser definidos em três grandes grupos: épico, lírico e
dramático.

GÊNERO ÉPICO (NARRATIVO)

O gênero épico pode ser definido pelo seu aspecto narrativo e pela sua vinculação
aos fatos históricos ou pelas realizações humanas, que são reveladas pelo artista como
observados que mostra em sua obra o mundo exterior.É uma representação do mundo
objetivo e da ação do homem, nas suas relações com a realidade.

Objetivo do épico é apresentar a totalidade dos objetos, ou seja, a retratação da


realidade, com os aspectos, direções e acontecimentos que ela demonstra.

Aparece escrito tanto em prosa como em verso, predominando a forma narrativa.


Suas formas principais: epopéia e diferentes tipos de romances.

Epopéia é um poema de longo fôlego, que abrange assuntos grandiosos e


geralmente históricos. Sua estrutura é dividida em: proposição, invocação, dedicatória,
narração e epílogo. As epopéias mais destacadas são: Ilíada e Odisséia de Homero ( na
Grécia ); Eneida, Virgilio (Itália); e os Lusíadas, de Luís de Camões (Portugal).

Os elementos encontrados na epopéia:

- na forma: prosa ou versos;


- no gênero: épico (narrativo)
- no ponto de vista: objetivo ou objeto-subjetivo.

Principais Formas

Em Versos:

Uma narrativa rimada.

Romance:

De origem medieval, forma poética que aborda historias tradicionais, narrativas de


épocas antigas como novelas de cavalaria, de amor, de narrativas ou historias de guerras ou
conquistas marítimas e viagem.

EX: Os Lusíadas, que retrata as aventuras ocorridas na viagem dos portugueses


para o novo mundo.

Em Prosa:

- Romance:

Ao ouvir este termo, já se vem a mente, algo romântico, apaixonante. Na realidade


romance, do latim “romanice”, de “Roma”. Uma língua vulgar, nascida do latim e falada em
alguns países europeus após a queda do Império Romano.

A palavra romance significa um gênero narrativo voltado para a vida coletiva do


homem.

As características do romance são a pluralidade:

- Da ação
- Do tempo
- Do espaço
- Dos personagens
Novela:

Esta se posiciona entre o conto e o romance. Na verdade é uma narração


geralmente certa, com situações humanas fictícias, mas ordenadas e completos e que
apresentam um fundo de verdade. Assim como no romance, a novela apresenta a
pluralidade de tempo, espaço, ação e personagens.

É uma história onde logo no inicio já se pode ter uma compreensão dos fatos.
Diferente do romance, onde é preciso ter, lido todos os capítulos para entender a história.

Conto:

É uma narrativa com fragmentos da realidade, de episódios breves, e cheios de


ficção, pois pode apresentar dados exagerados e fatos apenas imaginados. Sua origem vem
do folclórico e popular, algo que surgiu de base para a criação coletiva da linguagem.

Crônica

É um texto de pequeno porte e com o enredo relacionado a política, teatro e


sociedade e a outros aspectos da vida cotidiana. Sua temática refere-se aos fatos do dia-a-
dia. Sua característica é o humor, a leveza e a linguagem coloquial.

Em geral, as características do gênero épico são:

- Um ponto de vista objetivo

- Texto em prosa ou verso

- Narração objetiva dos fatos de outros personagens.

GÊNERO LÍRICO

O gênero lírico tem como característica e manifestação do eu artista. Onde o artista


demonstra de maneira expressiva seus pensamentos e emoções, ou melhor, seu mundo
interior. Uma característica marcante do texto lírico é a musicalidade, ou seja, a exploração
da sonoridade. É predominantemente subjetivo, e sua origem que acompanhava os recitais
de poesias.

Por envolver a musicalidade, a mensagem devia ter uma linguagem precisa, tendo
cada palavra seu significado.

EX: Meu amor ensinou a ser simples


Como um largo de igreja
Onde não há nem um sino
Nem um lápis
Nem uma sensualidade

(Oswaldo de Andrade)

Este texto em verso, é denominado poema. E o autor usou de diversas figuras para
dar a idéia da simplicidade mostrou o “eu” do autor.

CARACTERÍSTICAS DO POEMA

Um poema possui os seguintes elementos:

- Versos: As que compõem o poema. Cada linha um verso.


- Estrofe: É a reunião dos versos, em blocos

- Ritmo: É o real conteúdo da poesia dado pela repetição mais ou menos regular da
intensidade poesia
- Metro: É a divisão das sílabas. A medida vazia do sentido reproduzida pelo número
regular de sílabas.

- Rima: É a regularidade sonora que pode estar tanto no meio como no final do
verso, quando não há rima, chama-se verso branco.

GÊNERO DRAMÁTICO

O estudo do gênero dramático vem desde a antiguidade clássica. O primeiro teórico


a usar os princípios deste gênero foi Aristóteles.

Até início do século XIX, dominava as teorias de Aristóteles, que dividia as peças
teatrais em tragédias e comédia. O gênero dramático procura representar o conflito do
homem com seu mundo.

De origem de ofícios religiosos, a tragédia mostrava os sentimentos nobres do


homem, já a comédia mostrava os baixos e instintivos sentimentos.

O drama nasce da concepção de que a vida não é só comédia ou só tragédia, mas


sim os dois ao mesmo tempo.

Na 1ª metade do século XX, o teatro passa a ser uma manifestação de


acontecimento, a redescoberta do crítico e reflexão do mundo.

O objetivo dessa nova forma de teatro era fazer o espectador analisar e refletir
sobre o mundo que o cerca. O teatro foi visto como um meio de comunicação, onde não só
transmite, mas também recebe e faz o ouvinte escutar e agir.

Características:

a)Lírico: representa uma visão subjetiva, interior e pessoal com predomínio


dossentimentos; expressão do eu; predomínio na poesia, embora também presente na prosa
(sonetos, liras, madrigais, hinos, haicais, epigramas etc.).

b)Épico ou narrativo: demostra uma visão mais racional e objetiva da realidade; mais
universal; retrata o mundo exterior: fatos, acontecimentos; predomina na prosa, mas
há poemas épicos (epopéia, romance, conto, crônica, novela).

c)Dramático: destinado à representação; gênero misto de diversos elementos: cenário,


música, dança, coreografia etc. (tragédia, comédia, farsa, auto, drama).

Principais gêneros em prosa

Romance: narrativa em prosa, com um único núcleo narrativo central; número maior de
personagens; análise psicológica das personagens.
Novela: narrativa em prosa com vários núcleos narrativos interligados e independentes.

Conto: narrativa curta tomada perto do clímax; conflito central que deve ser resolvido, poucas
personagens.

Crônica: episódio da vida real, tema do cotidiano, conflito não precisa ser resolvido.

LITERATURA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS

MÓDULO 4 – HUMANISMO

HUMANISMO

Tradicionalmente, o humanismo está associado com a Renascença.

Protágoras que disse que “o homem é a medida de todas as coisas”.

Este movimento envolveu todos os campos da sociedade, a saber, o intelectual, moral


e religioso. O objetivo dos humanistas era conseguir uma humanidade melhor. Seus ideais
baseavam-se na paz e sabedoria, que seria conseguida através do aperfeiçoamento das
qualidades intelectuais e morais dos homens.

O pensamento medieval começa a desaparecer e a idéia do Teocentrismo passa a dar


lugar ao antropocentrismo (a valorização do homem).

FIGURAS DE LINGUAGEM

As figuras de linguagem são recursos usados para dar maior ênfase ou sentido á
expressão. O estudo dessas figuras ajuda a entender melhor os recursos utilizados pelos
escritores em seus textos. Veja algumas das figuras de linguagem mais usadas:

Aliteração
Ocorre aliteração quando há repetição da mesma consoante ou de consoantes similares,
geralmente em posição inicial da palavra.

Exemplo:
"Toda gente homenageia Januária na janela."
(Chico Buarque)

COMPARAÇÃO

É uma comparação, ou seja, uma equivalência real entre um comparante e um


comparado por meio de um termo de comparação, uma frase, palavra ou locução, que deixa
claro a comparação na sentença.

EX: Ela é tão feia quanto briga na foice.

METÁFORA

A metáfora é uma comparação, mas de maneira indireta, porque não possui em


termos específicos de comparação. Ela associa idéias semelhantes, ou seja, usar uma palavra
fora do seu contexto normal para fazer parte de outro contexto.

EX: Nosso chefe é um leão.


METONÍMIA

Esta é a substituição de um termo por outro com o qual há uma relação de sentido.

Essa relação pode ser:

- Efeito pela causa


EX: Bebeu a morte
Bebeu veneno

- Continente pelo conteúdo

EX: Bebeu dois copos


Bebeu duas doses de wisque

- Autor pela obra

EX: Eu li a obra de machado de Assis.


Eu li machado de Assis.

CATACRESE

É como uma metáfora do dia-a-dia.Seu objetivo é desviar uma palavra do seu sentido
próprio para dar nome a outra coisa que não tem nome específico.

EX: Braço do sofá


Perna da mesa.

EUFEMISMO

É usado para amenizar o que é desagradável, através da substituição de palavras


graves e fortes, diretas por outras mais suaves, brandas.

EX: Ela passou dessa para melhor.


(quer dizer ela morreu)

IRONIA

É uso de palavras, expressões, mas que querem dizer o contrario do que está sendo
dito.
EX: Com governo honesto e sem corrupção não precisa ter medo do futuro.

ANTÍTESE

É usado para opor dois termos na mesma frase ou parágrafo, enfatizando seus
contrastes.

EX: Quando estou triste, aí que fico alegre.

ELIPSE
É quando uma ou mais palavras são omitidas na frase, mas que são subentendidas.

EX: Elas todos no quintal de casa.


(Quer dizer que elas todas estavam no quintal de casa) o verbo estar ficou em elipse.

ANÁFORA

É a repetição de palavras em intervalos regulares no final ou início de frase, serve para


enfatizar idéias.

EX: Pense em mim


Chore por mim
Liga pra mim

HIPÉBOLE

Este é o exagero intencional de uma idéia ou sentimento.

EX: Ele come feito um leão.

PROSOPOPÉIA

É a figura que dá características humanas a seres inanimados, abstratos ou


irracionais. Um exemplo comum: são os filmes onde mostram animais com características
humanas.

EX: O rei leão

Gradação
Ocorre gradação quando há uma seqüência de palavras que intensificam uma mesma idéia.
Exemplo:
"Aqui... além... mais longe por onde eu movo o passo."

Polissíndeto
Ocorre polissíndeto quando há repetição enfática de uma conjunção coordenativa mais vezes
do que exige a norma gramatical (geralmente a conjunção e). É um recurso que sugere
movimentos ininterruptos ou vertiginosos.

Exemplo:
"Vão chegando as burguesinhas pobres,
e as criadas das burguesinhas ricas
e as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza."
(Manuel Bandeira)

Paradoxo
Ocorre paradoxo não apenas na aproximação de palavras de sentido oposto, mas também na
de idéias que se contradizem referindo-se ao mesmo termo. É uma verdade enunciada com
aparência de mentira. Oxímoro (ou oximoron) é outra designação para paradoxo.
Exemplo:
"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;" (Camões)

Assonância
Ocorre assonância quando há repetição da mesma vogal ao longo de um verso ou poema.
Exemplo:
"Sou Ana, da cama
da cana, fulana, bacana
Sou Ana de Amsterdam.” (Chico Buarque)

Onomatopéia
Ocorre quando uma palavra ou conjunto de palavras imita um ruído ou som.

Exemplo:
"O silêncio fresco despenca das árvores.
Veio de longe, das planícies altas,
Dos cerrados onde o guaxe passe rápido...
Vvvvvvvv... passou."
(Mário de Andrade)

"Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno."


(Fernando Pessoa)

Silepse
Ocorre silepse quando a concordância não é feita com as palavras, mas com a idéia a elas
associada.

a) Silepse de gênero
Ocorre quando há discordância entre os gêneros gramaticais (feminino ou masculino).

Exemplo:
"Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito."
(Guimarães Rosa)

b) Silepse de número
Ocorre quando há discordância envolvendo o número gramatical (singular ou plural).

Exemplo:
Corria gente de todos lados, e gritavam."
(Mário Barreto)

c) Silepse de pessoa
Ocorre quando há discordância entre o sujeito expresso e a pessoa verbal: o sujeito que fala ou
escreve se inclui no sujeito enunciado.
Exemplo:
"Na noite seguinte estávamos reunidas algumas pessoas."
(Machado de Assis)

Periodização da Literatura Brasileira:


ERA COLONIAL: 1500 – 1808 (chegada da família Real)
A era colonial dividiu-se em três períodos, a saber:

QUINHENTISMO (séc. XVI): conjunto de textos sobre o Brasil, que evidenciaram a condição
Brasileira de colônia de exploração.

FATOR HISTÓICO: Expansão marítima Ibérica (Espanha e Portugal)


Há duas manifestações literárias do Quinhentismo Brasileiro:

- LITERATURA INFORMATIVA (de caráter descritivo)


Também chamada literatura dos viajantes ou dos cronistas. Empenha-se em fazer um
levantamento da terra nova: sua fauna, flora e sua gente.

- LITERATURA DOS JESUÍTAS.


Literatura de cunho pedagógico, voltada ao trabalho da catequese. Nesse período destaca-se a
figura de Padre José de Anchieta, que produziria sermões, poesias e textos para teatro,
misturando a moral religiosa católica aos costumes indígenas.

- Características :
 oposição à cultura teocentrica da Idade Media
 Antropocentrismo e paganismo
 Ânsia de viver
 Valorização da beleza
 Culto da literatura greco-latina
 Preocupação formal
Autores e Obras: Principal: Luís de Camões (Os Lusíadas)

BARROCO: (1601 – 1768)


FATORES HISTÓRICOS: reforma e contra-reforma protestante.
- A característica maior do Barroco é a contradição. Expressa a dualidade de um
homem que oscila entre fé e prazer, celestial e terreno.
- A literatura barroca é rebuscada, baseada em uso abusivo de antíteses,
figuras de linguagem, inversões sintáticas e exageros, tornando-se, por vezes,
obscura.
- Duas tendências dominam o barroco: o cultismo (culto à forma perfeita e ao
jogo de palavras) e o conceptismo (jogo de idéias e argumentos).

- Características :
 Vocabulário selecionado
 Gosto por inversões sintáticas
 Figuração excessiva
 Sugestões sonoras e cromáticas
 Gosto por construções complexas e raras
 Conflito espiritual
 Consciência da efemeridade do tempo
 Morbidez
 Gosto por raciocínios complexos, intrincados.

Autores e Obras

- Bento Teixeira: autor da obra inaugural do barroco


brasileiro, Prosopopéia(1601), poema épico com forte influência de Camões.
- Gregório de Matos: principal nome do barroco brasileiro e até hoje objetivo de
polêmicas. Deixou obra lírica, satírica e religiosa, reunida em livro somente após
sua morte.

ARCADISMO: (1768 – 1808) Movimento que propõe uma volta aos modelos clássicos (Grécia
e Roma). FATOR HISTÓRICO: ciclo do ouro e Inconfidência Mineira.
Características: valorização da vida no campo, crítica a vida nos centros urbanos (fugere
urbem = fuga da cidade), uso de apelidos, objetividade, idealização da mulher amada,
abordagem de temas épicos, linguagem simples, pastoralismo e fingimento poético.
vocabulário simples, linguagem objetivas , clara , formal .
natureza estática
frases na ordem direta
ausência quase total de figuras de linguagem
manutenção de formas clássicas
pastoralismo
bucolismo
elementos da cultura greco-latina
convencionalismo e idealização amorosa
racionalismo
paganismo

Autores e Obras: Cláudio Manoel da Costa (autor de Obras Poéticas), Tomás Antônio
Gonzaga (autor de Liras, Cartas Chilenas e Marília de Dirceu)

ERA NACIONAL: 1836 – dias atuais


A era nacional dividiu-se em três períodos:

ROMANTISMO: inicia-se com a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves


de Magalhães (1836).
FATORES HISTÓRICOS: chegada da família Real, Independência e Lei Áurea.
Características :
linguagem subjetiva , popular, informal .
individualismo (egocentrismo).
Liberdade de criação : inspiração nacionalista e indianista .
Natureza dinâmica
Predomínio do sentimento sobre a razão
Espiritualismo e fé crista (religiosidade)
Lirismo .
1ª Geração - conhecida também como nacionalista ou indianista, pois os escritores desta fase
valorizaram muito os temas nacionais, fatos históricos e a vida do índio, que era apresentado
como " bom selvagem" e, portanto, o símbolo cultural do Brasil. Destaca-se nesta fase os
seguintes escritores : Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, Araújo Porto Alegre e Teixeira
e Souza.

2ª Geração - conhecida como Mal do século, Byroniana ou fase ultra-romântica. Os escritores


desta época retratavam os temas amorosos levados ao extremo e as poesias são marcadas
por um profundo pessimismo, valorização da morte, tristeza e uma visão decadente da vida e
da sociedade. Muitos escritores deste período morreram ainda jovens. Podemos destacar os
seguintes escritores desta fase : Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Junqueira Freire.

3ª Geração - conhecida como geração condoreira, poesia social ou hugoana. textos marcados
por crítica social. Castro Alves, o maior representante desta fase, criticou de forma direta a
escravidão no poema Navio Negreiro.

Autores e Obras

- Gonçalves Dias: considerado o primeiro poeta genuinamente nacional, deixou obra vasta
destacando-se Primeiros Cantos (1847)
- Alvares de Azevedo: maior nome da geração mal-do-século. Escreveu Lira dos Vinte
Anos (1853), Noite na Taverna (1855)
- Castro Alves: expoente da geração condoreira denunciou a escravidão, defendeu a
liberdade e exaltou a mulher. O navio Negreiro
- José de Alencar: defensor de uma literatura realmente brasileira, que aliasse consciência
nacional ao rigor estético. De sua vasta e influente obra, O
Guarani(1857), Iracema (1865), Ubirajar (1874), O Sertanejo (1875).
- Manuel Antônio de Almeida: deixou Memórias de um Sargento de Milícias(1855), importante
retrato do Rio de Janeiro do período joanino.

REALISMO: movimento literário que envolve três tendências distintas:

Romance Realista: 1881- publicação de memórias Póstumas de Brás Cubas.


Características: Manifesto em Prosa, crítica ao comportamento burguês e às instituições
sociais.

Romance Naturalista: 1881- publicação de O Mulato e O curtiço de Aluísio de Azevedo.


Características: o mundo pelas forças da natureza, homem condicionado ao meio que vive,
influencia do evolucionismo, realidade cientifica (positivismo), enfatiza cenas do mundo real,
descrição de ambientes e pessoas, linguagem coloquial, “desejos humanos, instintos, loucura,
violência, traição, miséria, exploração social” temas principais.

REALISMO E NATURALISMO ( 2A METADE DO SEC. XIX )

Prosa realista e naturalista :


- busca da verdade sensível
- tendência à observação
- objetivismo , ausência de idealização
- sensorialismo e sensualismo
- busca do rigor lógico
- predomínio da analise (psicológica ou social) sobre a ação
- Analise fiel da motivação dos personagens, mesmo em seus aspectos negativos
- Lentidão narrativa e descritiva.

Realismo Naturalismo
Retrato Fiel do Personagem Visão determinista e mecanicista do
homem
Lentidão Narrativa Centificismo

Interpretação do Caráter Personagens patológicas

Materialização do amor Incorporação de termos científicos e


profissionais

Determinismo e relação entre Determinista, Evolucionista, Positivista


causa efeito

Veracidade
Detalhes Específicos

Principais Obras Realismo/Naturalismo (com resumo)

Dom Casmurro

Por Machado de Assis

Realismo. A história toda se passa no Rio de Janeiro do Segundo Império e conta a história de
Bento e Capitolina, esta sendo descrita por José Dias, agregado da mãe de Bento, como tendo
"olhos de cigana"; a infância, onde surge a paixão com Capitu, primeiro estranha e depois mais
bem definida, a juventude de Bento no Seminário ao lado de Escobar, seu melhor amigo até a
morte deste por afogamento, o casamento de Bentinho e Capitu, após a mãe deste cumprir a
promessa de enviar um rapaz ao serviço da Igreja mandando um "enjeitadinho" ao seminário
no lugar de Bento e a separação devido ao ciúme de Bentinho por Capitu com Escobar, mesmo
depois deste morrer. Ele manda então a esposa e seu filho para a Europa por causa do ciúme,
quase matando-os antes envenenados. Seu encontro com o filho, muitos anos mais tarde, é
frio e distante, já que a todo o instante ele o compara com Escobar, seu melhor amigo que ele
achava o ter traído e ser o pai do então já jovem estudante de Arqueologia, que falece, meses
depois numa escavação no estrangeiro, sem jamais ver o pai novamente. Um romance
psicológico, sob o ponto de vista de Bentinho, nunca se tem certeza de que Capitolina traiu-o
ou não. A favor da tese da traição existe o fato que Bento sempre parece falar a verdade, as
semelhanças achadas por Bento entre seu filho e Escobar e o fato que os outros descreviam
Capitu como maliciosa quando esta era jovem. Contra a tese existe que Capitu reclamou de
seu ciúme e nunca efetivamente fez muita coisa que desse motivo de suspeita, exceto uma vez
em que manteve um segredo com Escobar, que era casado. Este humilde escritor acha que
Bento não foi traído, mas isso é essencialmente pessoal.

Memórias Póstumas de Brás Cubas


Por Machado de Assis

Realismo. A história é narrada por Brás Cubas, um defunto autor que após narrar sua morte e
funeral começa a contar a sua vida. Conta a infância, as travessuras, o primeiro namoro com
Marcela (interesseira e bela, fica pobre e feia), um namoro com Eugênia (que acaba pobre) e
mais tarde seu noivado com Virgília. Como Virgília casa com outro eles mais tarde se tornam
amantes. O romance era ajudado por Dona Plácida (que também morre pobre) e acaba quando
esta vai para o Norte com o marido. Conta então seu reencontro com o amigo Quincas Borba
(primeiro na miséria, depois rico, depois miserável e louco), que lhe expõem sua filosofia, o
Humanitismo. Cubas passa seguir o Humanitismo. Já deputado, não se reelege ou se torna
ministro e funda um jornal de oposição baseado no Humanitismo. Mais velho se volta para a
caridade e morre logo após criar um emplasto que curaria a hipocondria e lhe traria fama.

Quincas Borba

Por Machado de Assis

Realismo. Continuação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba conta a história
do ex-professor primário Pedro Rubião de Alvarenga, que após cuidar do filósofo Quincas
Borba até a morte, recebe dele toda a fortuna sob a condição de tomar conta do cachorro, que
também tem o nome de Quincas Borba. Rubião muda-se então para o Rio. No caminho
conhece o casal Sofia e Cristiano Palha. Apaixonado por Sofia e ingênuo, Rubião vai sendo
explorado e aproveitado por todos os amigos, que lhe tomam dinheiro emprestado, lhe pedem
favores, jantam em sua casa mesmo quando ele não está, etc. Vai envolvendo-se sem sucesso
com a política e perdendo muito dinheiro com gastos exagerados e empréstimos. Cristiano e
Sofia (que não corresponde o amor) vão se aproveitando dele muito mais, subtraindo-lhe a
fortuna, saindo do estado original de dívidas para um de opulência no final. A medida que o
tempo passa, a decadência material e o desespero de não ter correspondido seu amor leva
Rubião a enlouquecer. Enquanto no começo travava "discussões" com Quincas Borba (o cão),
depois começa a pensar ser Napoleão III e Sofia sua esposa Eugênia. Passa a nomear todos
nobres e generais, ter visões, falar sozinho. Quando ao final é internado num manicômio, sua
fortuna não é mais 1% do que antes fora. Ele foge do manicômio e volta para Barbacena, de
onde saíra após enriquecer, levando apenas Quincas Borba. Enlouquecido e pobre, é recolhido
pela comadre e morre louco, corando-se Napoleão III, repetindo incessantemente nos seus
últimos dias a célebre frase "Ao vencedor, as batatas!" Narrado em terceira pessoa, cheio de
ironia sofisticada, uma personagem feminina dissimulada, uma dúvida constante (Quincas
Borba é o título por causa do cão ou do filósofo?), esta é uma das melhores e mais famosas
obras de Machado de Assis.

Esaú e Jacó

Por Machado de Assis

Realismo. Contada como que por um autor que teve acesso ao Memorial do Conselheiro
Aires, usa o volume último de seus cadernos. Começa contando a história de Natividade que,
grávida de gêmeos em 1871, consulta uma vidente. Esta lhe diz que seus filhos, apesar de
estarem brigando em seu ventre, terão grande futuro. Ao sair, de tão feliz, dá uma esmola
grande a um mendigo ("para as almas", mas ele guarda o dinheiro). Desde quando nascem os
jovens Pedro e Paulo tornam-se contrários. As disputas uterinas tornam-se políticas já que
Paulo é republicano e Pedro monarquista, Pedro tornar-se-á advogado, Paulo médico. Eles
estudam separados (Paulo em São Paulo, Pedro no Rio) e conhecem em 1888 a filha de um
casal de políticos, Flora, pela qual se apaixonam. E ela corresponde o amor aos dois. Assim os
irmãos desunidos unem-se e competem pelo amor de Flora. O Conselheiro Aires, amigo das
duas famílias, trabalha junto com os pais dela para que ela escolha um ou nenhum, mas
escolha. Assim transcorre o tempo com os irmãos discutindo a política desde a Abolição,
passando pela Proclamação da República e a queda de Deodoro (os pais de Pedro e Paulo e
os de Flora são políticos e nunca parecem saber quem estará no poder). A distância por vezes
separa o trio, mas eles permanecem (des)unidos. Flora é cortejada por outras, incluindo
Nóbrega, o mendigo de 1871 enriquecido mais tarde, mas ela rejeita a todos. Quando em 1892,
durante o estado de sítio declarado por Floriano Peixoto, Flora morre, os irmãos se unem na
dor e reconciliam-se. Um mês depois renasce a inimizade. Mais um ano e tornam-se deputados
(em partidos opostos, logicamente). Quando a mãe morre, pede que ambos tornem-se amigos
e eles juram que o farão. No ano seguinte são vistos sempre juntos na Câmara. No seguinte
àquele, desentendem-se novamente. Uma maravilhosa mostra da capacidade de Machado de
Assis, esta obra foge do maniqueísmo do esquema gêmeo bom - gêmeo mau, mantendo
sempre o ponto de vista que, apesar das divergências ou por causa delas, Pedro e Paulo são
dois lados da mesma moeda. É eficiente também em mostrar os anos de transição do Império
para a República.

Memorial de Aires

Por Machado de Assis

Realismo. Escrito sob a forma do diário do aposentado Conselheiro Aires, diplomata


aposentado que deixou a mulher morta em Bruxelas. Tudo se passa de 9 de Janeiro de 1888,
aniversário da volta do diplomata de Bruxelas ao Brasil, até o fim de agosto do ano seguinte.
Apesar de ter sido escrita por Aires e serem suas impressões que lemos (ele declara que
queimará o diário quando o acabar, se não morrer antes), a história é sobre Fidélia e Tristão.
Fidélia é uma viúva moça que ainda dedica ao marido, mesmo que só ao seu túmulo,
dedicação. Aires aposta com Rita, sua irmã, que ela recasará um dia; talvez até com ele. Rita é
"filha de empréstimo" do casal Aguiar e ainda muito triste pelo falecimento do marido e a
situação familiar geral, á que o casamento foi como um Romeu e Julieta que não uniu as
famílias, mas desuniu-as. Tristão é afilhado dos Aguiares e um tanto volúvel: indo a Lisboa
para se tornar advogado, torna-se médico e político. Volta então ao Brasil para visitar seus
padrinhos e "pais de empréstimo". Enquanto Aires vai narrando o cotidiano daquela situação,
como que fora dela como estava Brás Cubas em suas Memórias Póstumas, morre o pai de Rita
e ela finalmente se reconcilia com seu passado. Ela vai à fazenda paterna fazer os arranjos e
volta mais tarde. A medida em que o tempo passa Tristão e Rita vão aproximando-se, até que
ele se apaixona por ela, fato que confessa a Aires, que também a admirava, mesmo que nunca
a dissesse e não fosse de modo apaixonado, como que apenas pela estética de o fazer. Quase
chegando o tempo de voltar a Lisboa pelos fins de 1888, Tristão vai adiando a partida até que
ele e Fidélia decidem se casar. Eles esperam a aprovação dos pais dele e depois até maio
para o casamento em si. O casamento procede bem e deixa o casal Aguiar felicíssimo pela
união dos "filhos" e pela permanência de Tristão que estava para partir. Alguns meses depois
do casamento Fidélia e Tristão decidem viajar a Europa e tentam convencer o casal Aguiar a ir
também, mas eles se negam. Eles recomendam ao Conselheiro que cuide do casal e, ao
chegar a Lisboa, Tristão encontra-se eleito deputado (ele tinha se naturalizado português) e
eles ficam, como era seu plano original; por isso aliás tentaram convencer o velho casal a
acompanhá-los. O livro acaba com uma anotação sem data após 30/08/1889, com o casal
Aguiar desolado pela partida dos "filhos". Contado todo sob a forma de um diário, com
anotações com datas ao invés de capítulos, este livro foi o último escrito por Machado de Assis,
e o foi para compensar a perda da esposa tem fortes tons autobiográficos. Entre os fatos
importantes estão o fato de que Aires está se retirando de cena, assim como o autor que
faleceu no ano da publicação do livro, encontra-se saudoso, é irônico, tem influência inglesa,
perdeu a esposa, etc. Remete também ao primeiro romance maduro do autor, Memórias
Póstumas de Brás Cubas, já que Aires encontra-se fora de cena (mas não tanto quanto Cubas)
e livre para falar sem estar preso a convenções.

O Cortiço

Por Aluísio de Azevedo

Naturalismo. O Cortiço conta principalmente duas histórias: a de João Romão e Miranda, dois
comerciantes, o primeiro o avarento dono do cortiço, que vive com uma escrava ao qual ele
mente liberdade. Com o tempo sua inveja de Miranda, menos rico mas mais fino, com um
casamento de fachada, leva-o a querer se casar com sua filha (e tornar-se Barão no futuro, tal
qual Miranda se torna no meio da história). Isto faz com que ele se refine e mais tarde tente
devolver Bertoleza, a escrava, a seu antigo dono (ela se mata antes de perder a liberdade). A
outra história é a de Jerônimo e Rita Baiana, o primeiro um trabalhador português que é
seduzido pela Baiana e vai se abrasileirando. Acaba por abandonar a mulher, parar de pagar a
escola da filha e matar o ex-amante de Rita Baiana. No pano de fundo existem várias histórias
secundárias, notavelmente as de Pombinha, Leocádia e Machona, assim como a do próprio
cortiço, que parece adquirir vida própria como personagem.

Romance Parnasiano: 1882-publicação de Fanfarras de Teófilo Dias.


A "Tríade Parnasiana": Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira
Caracteristicas: Objetividade, impessoalidade, busca da perfeição, uso de rimas ricas (evita a
utilização de palavras da mesma classe gramatical), vocabulário culto, temas mitológicos,
sonetos, metrificação e valorização de cenas e objetos.

FATORES HISTÓRICOS: guerra do Paraguai (1864 a 1870), construção da primeira estrada


de ferro do Brasil (1854), revolução federalista (Farroupilha) no Rio Grande do Sul (1893
e1895), revolta armada contra Floriano Peixoto (1893 e 1894) e a guerra de canudos (1896).

Preocupada com a forma e a objetividade; a “arte pela arte”, com seus sonetos
alexandrinos perfeitos. Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira formam a Trindade
Parnasiana.
O soneto, a métrica alexandrina (12 sílabas poéticas), a rima rica, rara e
perfeita, tudo isso se contrapondo aos versos livres e brancos dos românticos. Em suma, é o
endeusamento da Forma.
Alberto de Oliveira. Obras principais: Meridionais (1884), Versos e Rimas (1895), Poesias
(1900), Céu, Terra e Mar (1914), O Culto da Forma na Poesia Brasileira (1916).

- Raimundo Correia. Obras principais: Primeiros Sonhos (1879), Sinfonias(1883), Versos e


Versões(1887), Aleluias(1891), Poesias(1898).

- Olavo Bilac. Obras principais: Poesias (1888), Crônicas e novelas (1894), Crítica e fantasia
(1904), Conferências literárias (1906), Dicionário de rimas (1913), Tratado de versificação
(1910), Ironia e piedade, crônicas (1916), Tarde (1919).

- Francisca Júlia. Obras principais: Mármores (1895), Livro da Infância (1899), Esfínges (1903),
Alma Infantil (1912).
- Vicente de Carvalho. Obras principais: Ardentias (1885), Relicário (1888), Rosa, rosa de amor
(1902), Poemas e canções, (1908), Versos da mocidade (1909), Páginas soltas (1911), A voz
dos sinos, (1916).

* Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia formaram a chamada "Tríade


Parnasiana".

SIMBOLISMO: inicia-se com a publicação de Missal e Broqueis de Cruz e Souza (1893),


Faróis (1900), Últimos Sonetos (1905).
FARORES HISTÓRICOS: a Europa vivia num estado de alerta. Cada uma das potências
procurava aperfeiçoar seu material bélico.
• buscando uma forma nova , capaz de sugerir o mundo vago do inconsciente e a
inquietação metafísica , os simbolistas realizaram uma renovação da linguagem poética ,
percebida em suas características .
• Características :
• ênfase na sugestão e não na descrição
• expressão indireta através de metáforas e símbolos .
• exploração das correspondências entre a realidade sensível e a realidade espiritual e
emotiva.
• Mistura de sensações ( sinestesia ).
• Aproximação entre poesia e musica.
• Renovação do vocabulário poético
• Ânsia de ascensão espiritual
• Reação ao materialismo do estilo anterior
Pré-Modernismo: tem início com a obra Os Sertões de Euclides da Cunha (1902).
FATORES HISTÓRICOS: revolta da vacina (1903) e revolta da chibata (1910).

MODERNISMO: tem início com a semana de Arte moderna, em 1922.


FATORES HISTÓRICOS: início do séc. XX desenvolvimento científico e tecnológico. Telégrafo,
eletricidade, telefone, cinema, automóvel e avião.
Momento Histórico
- As máquina e o ritmo acelerado da civilização industrial se incorporavam à
paisagem brasileira.
- Problemas sociais antigos continuam sem solução, produzindo tensões e
conflitos graves. Os meios intelectuais sentem que é preciso reformar o
Brasil, mergulhado numa contradição grave: a mesmo tempo em que se
modernizava, mantinha uma organização social arcaica.

Características Literárias
- A 1ª fase é a de ruptura com o passado. Humor, uso do coloquial,
primitivismo, vanguardas, tudo é válido para criar uma literatura em
sintonia com os novos tempos.
- Na 2ª fase se estabelecem o romance regionalista, que retrata uma certa
região do pais, e a prosa intimista, que estuda o homem urbano.
- A 3ª fase nega algumas das propostas da 1ª e retorna o uso cuidadoso e
consciente da palavra. O número de correntes literárias e autores cresce, o
que torna difícil classificar essa fase.
Autores e Obras
- Mário de Andrade: deixou uma obra vasta e muito influente, onde os
destaques são Paulicéia. Ex: Macunaíma (1928)
- Oswald de Andrade: incorporou elementos das vanguardas européias em
seus poemas. Pau Brasil(1925)
- Manuel Bandeira: deixou obra lírica, precisa e simples, mas muito bem
construída. Ex: (1936),Itinerário de Pasárgada (1954)
- Graciliano Ramos: expoente do romance regional e de análise
psicológica. Ex: São Bernardo (1934)
- Carlos Drummond de Andrade: considerado o maior poeta da literatura
brasileira, deixou obra que expressa a angústia do homem contemporâneo.
Ex: A Rosa do Povo(1945)
- João Cabral de Melo Neto: um dos poetas brasileiros mais importantes,
deixou obra sem exageros sentimentais, precisa e seca. Ex: Morte e Vida
Severina (1956)
- Clarice Lispector: autora de obra voltada ao intimismo e ao mergulho na
psique dos personagens. Ex: A Hora da Estrela (1977).
- Guimarães Rosa: usando o sertão mineiro como cenário, criou obra que
investiga temas universais. Ex: Tutaméia (Terceiras Estórias) (1967).

Resumos das escolas literárias de todas as eras:

Quinhentismo (século XVI)

Representa a fase inicial da literatura brasileira, pois ocorreu no começo da


colonização. Representante da Literatura Jesuíta ou de Catequese, destaca-
se Padre José de Anchieta com seus poemas, autos, sermões cartas e hinos.
O objetivo principal deste padre jesuíta, com sua produção literária, era
catequizar os índios brasileiros. Nesta época, destaca-se ainda Pero Vaz de
Caminha, o escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral. Através de suas cartas
e seu diário, elaborou uma literatura de Informação ( de viagem ) sobre o
Brasil. O objetivo de Caminha era informar o rei de Portugal sobre as
características geográficas, vegetais e sociais da nova terra.

Barroco ( século XVII )

Essa época foi marcada pelas oposições e pelos conflitos espirituais. Esse
contexto histórico acabou influenciando na produção literária, gerando o
fenômeno do barroco. As obras são marcadas pela angústia e pela oposição
entre o mundo material e o espiritual. Metáforas, antíteses e hipérboles são
as figuras de linguagem mais usadas neste período. Podemos citar como
principais representantes desta época: Bento Teixeira, autor de
Prosopopéia; Gregório de Matos Guerra ( Boca do Inferno ), autor de várias
poesias críticas e satíricas; e padre Antônio Vieira, autor de Sermão de Santo
Antônio ou dos Peixes.

Neoclassicismo ou Arcadismo ( século XVIII )

O século XVIII é marcado pela ascensão da burguesia e de seus valores.


Esse fato influenciou na produção da obras desta época. Enquanto as
preocupações e conflitos do barroco são deixados de lado, entra em cena o
objetivismo e a razão. A linguagem complexa é trocada por uma linguagem
mais fácil. Os ideais de vida no campo são retomados ( fugere urbem = fuga
das cidades ) e a vida bucólica passa a ser valorizada, assim como a
idealização da natureza e da mulher amada. As principais obras desta época
são: Obra Poética de Cláudio Manoel da Costa, O Uraguai de Basílio da
Gama, Cartas Chilenas e Marília de Dirceu de Tomás Antonio Gonzaga,
Caramuru de Frei José de Santa Rita Durão.

Romantismo ( século XIX )

A modernização ocorrida no Brasil, com a chegada da família real portuguesa


em 1808, e a Independência do Brasil em 1822 são dois fatos históricos que
influenciaram na literatura do período. Como características principais
do romantismo, podemos citar : individualismo, nacionalismo, retomada dos
fatos históricos importantes, idealização da mulher, espírito criativo e
sonhador, valorização da liberdade e o uso de metáforas. As principais obras
românticas que podemos citar : O Guarani de José de Alencar, Suspiros
Poéticos e Saudades de Gonçalves de Magalhães, Espumas Flutuantes
deCastro Alves, Primeiros Cantos de Gonçalves Dias. Outros importantes
escritores e poetas do período: Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo,
Junqueira Freire e Teixeira e Souza.

Realismo - Naturalismo ( segunda metade do século XIX )

Na segunda metade do século XIX, a literatura romântica entrou em declínio,


juntos com seus ideais. Os escritores e poetas realistas começam a falar da
realidade social e dos principais problemas e conflitos do ser humano. Como
características desta fase, podemos citar : objetivismo, linguagem popular,
trama psicológica, valorização de personagens inspirados na realidade, uso de
cenas cotidianas, crítica social, visão irônica da realidade. O principal
representante desta fase foi Machado de Assis com as obras : Memórias
Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro e O Alienista.
Podemos citar ainda como escritores realistas Aluisio de Azedo autor de O
Mulato e O Cortiço e Raul Pompéia autor de O Ateneu.

Parnasianismo ( final do século XIX e início do século XX )

O parnasianismo buscou os temas clássicos, valorizando o rigor formal e a


poesia descritiva. Os autores parnasianos usavam uma linguagem rebuscada,
vocabulário culto, temas mitológicos e descrições detalhadas. Diziam que
faziam a arte pela arte. Graças a esta postura foram chamados de criadores
de uma literatura alienada, pois não retratavam os problemas sociais que
ocorriam naquela época. Os principais autores parnasianos são: Olavo Bilac,
Raimundo Correa, Alberto de Oliveira e Vicente de Carvalho.

Simbolismo ( fins do século XIX )

Esta fase literária inicia-se com a publicação de Missal e Broquéis de João da


Cruz e Souza. Os poetas simbolistas usavam uma linguagem abstrata e
sugestiva, enchendo suas obras de misticismo e religiosidade. Valorizavam
muito os mistérios da morte e dos sonhos, carregando os textos de
subjetivismo. Os principais representantes do simbolismo foram: Cruz e Souza
e Alphonsus de Guimaraens.

Pré-Modernismo (1902 até 1922)

Este período é marcado pela transição, pois o modernismo só começou em


1922 com a Semana de Arte Moderna. Está época é marcada pelo
regionalismo, positivismo, busca dos valores tradicionais, linguagem coloquial
e valorização dos problemas sociais. Os principais autores deste período
são: Euclides da Cunha (autor de Os Sertões), Monteiro Lobato, Lima Barreto,
autor de Triste Fim de Policarpo Quaresma e Augusto dos Anjos.
Modernismo (1922 a 1930)

Este período começa com a Semana de Arte Moderna de 1922. As principais


características da literatura modernista são : nacionalismo, temas do cotidiano
(urbanos) , linguagem com humor, liberdade no uso de palavras e textos
diretos. Principais escritores modernistas : Mario de Andrade,Oswald de
Andrade, Cassiano Ricardo, Alcântara Machado e Manuel Bandeira.

Neo-Realismo (1930 a 1945)

Fase da literatura brasileira na qual os escritores retomam as críticas e as


denúncias aos grandes problemas sociais do Brasil. Os assuntos místicos,
religiosos e urbanos também são retomados. Destacam-se as seguintes obras
: Vidas Secas de Graciliano Ramos, Fogo Morto de José Lins do Rego, O
Quinze de Raquel de Queiróz e O País do Carnaval de Jorge Amado. Os
principais poetas desta época são: Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de
Andrade e Cecilia Meireles.

Resumos de Obras
A HORA DA ESTRELA de Clarice Lispector
A obra inicia com um prefácio, em forma de dedicatória, em que ela se propõe uma reflexão
desenvolvida através dos verbos dedicar, dedicar-se e meditar. A seguir, uma seqüência de
subtítulos que sugerem vários aspectos do livro: A culpa é minha /ou/ A hora da estrela /ou/ Ela
que se arranje /ou/ O direito ao grito etc.
A narrativa é lenta, em conseqüência das inúmeras digressões do narrador Rodrigo S.M
(Descrever me cansa, (...). Como é chato lidar com fatos, o cotidiano me aniquila, estou com
preguiça de escrever esta história...). Há mistura de notações generalizantes (Às vezes só a
mentira salva, "O sofrimento é sempre um encontro consigo mesmo: sofrer amadurece") com
indicações nuas e cruas (Depois que ele desapareceu, eu, para não sofrer, me divertia amando
mulher. O carinho de mulher é muito bom mesmo, eu até aconselho porque você é delicada
demais para suportar a brutalidade dos homens e se você conseguir uma mulher vai ver como
é gostoso, entre mulheres o carinho é mais fino). Há registros íntimos (Escrevo por não ter
nada a fazer no mundo: sobrei...) e observações de pertinência social (Nascera inteiramente
raquítica, herança do sertão, (...). Essa moça não sabia que ela era assim como um cachorro
não sabe que é cachorro, (...) nem se dava conta de que vivia numa sociedade técnica onde
ela era um parafuso dispensável).
Há vários trechos em que se fazem considerações sobre o papel do escritor brasileiro
moderno e a condição indigente da população brasileira:
Antecedentes meus do escrever? Sou um homem que tem mais dinheiro do que os que
passam fome, o que faz de mim de algum modo um desonesto. (...) através dessa moça dou o
meu grito de horror à vida. A vida que tanto amo. São abundantes as reflexões sobre a figura
feminina, sua condição social e individual, sua condição humana transcendental: Teria ela o
sensação de que vivia para nada? Nem posso saber, mas acho que não (...). Mas eu que não
chego a ser ela, sinto que vivo para nada, (...). Quando acordava não sabia mais quem era. Só
depois é que costumava datilografar; ouvia freqüentemente a Rádio Relógio, não só para saber
as horas, mas para aprender coisas curiosas, que ela achava sempre lindas. Teve um
namorado, Olímpio de Jesus, também nordestino, operário de metalúrgica cujo sonho era ser
açougueiro e mais tarde deputado. Acabou abandonando o namoro com Macabéa para ficar
com uma amiga dela, Glória, uma carioca, oxigenada, de família classe média baixa. Sentindo-
se infeliz, Macabéa, a conselho de Glória, foi consultar uma cartomante, Madama Carlota, que
acertou tudo a respeito de seu passado e predisse coisas maravilhosas em relação ao seu
futuro. Ao sair da casa da mulher, Macabéa foi atropelada e acabou morrendo, eis a Hora da
estrela, quando um fotógrafo registra sua trajédia...
AMAR, VERBO INTRANSITIVO de Mário de Andrade
É um romance que conta a história de Fraülein e Carlos. Fraülein é contratada pelo pai de
Carlos, Sousa Costa, rico burguês de origem portuguesa, para ensinar a arte do amor ao filho.
As preocupações do pai dirigem-se à possibilidade do filho perder-se em encontros com
prostitutas comuns ou mesmo ficar doente. Fraülein é introduzida na casa da família como
governanta e procura manter uma postura discreta diante dos familiares, principalmente por
causa da três irmãs do rapaz. Segue suas atividades ensinando alemão e piano para as moças
e para Carlos. Aos poucos vai se insinuando para o rapaz, que acaba sendo tomado de amores
pela governanta. Dona Laura, mãe de Carlos, percebe o envolvimento do filho e conversa com
Fraülein. Sousa acaba contando para a mulher o trato feito e o motivo de suas preocupações
com o filho. O casal decide pela permanência de Fraülein. Fraülein e Carlos vivem um idílio
amoroso, mantido em segredo, o rapaz aproveita as horas de estudo sozinhos na biblioteca do
pai para amar a governanta. Depois passa a encontrá-la em seu próprio quarto. Como já havia
combinado antes com Fraülein, Sousa surpreende o filho num desses encontros e manda a
governanta embora. Carlos sofre muito com a separação, mas acaba aceitando as saudades e
prosseguindo sua vida de menino rico. Fraülein continua sua profissão tomando outro aluno,
Luís, para ensinar a arte do amor. Os dois se encontram durante um carnaval, rapidamente
cada um segue seu caminho.
A ROSA DO POVO de C. Drummond de Andrade

Obra-chave dentro da produção de Drummond, A rosa do povo, publicada em 1945, reflete a


maturidade que o poeta alcançou desde sua estréia. Nela, conforme já se afirmou, além de
acentuado progresso técnico-formal, estão presentes duas conquistas decisivas para a
evolução de nossa literatura: o realismo social, particularmente penetrante e que não se
restringe, apenas ao lirismo da poesia engajada; a poesia metapoética, alimentada pela
reflexão introspectiva sobre o sentido da escrita como obra de arte.

Este é o mais extenso e o mais variado dos livros de Drummond ( 55 poemas, alguns longos).
Nele desfilam os principais temas de sua obra; o verso livre e a estrofação irregular alternam
com versos de métrica tradicional dispostos em estrofes regulares; o estilo ora é
"puro"(elevado, "poético" ), ora é "mesclado"(mistura de elevado e vulgar, sério e grotesco).
Livro difícil, é dos mais discutidos e apreciados da poesia moderna brasileira.

Obra de linguagem poética com participação social.

Os poemas de A rosa do povo foram escritos nos anos sombrios da ditadura de Vargas e da
Segunda Guerra Mundial. Os acontecimentos provocam o poeta, que se aproxima da ideologia
revolucionária anticapitalista de inspiração socialista, e manifesta sua revolta e sua esperança
em poemas indignados e intenso.

Temas: eu- estar no mundo ( o amor, a família, o tempo, a velhice), a metapoesia (poesia pela
própria poesia), eu igual ao mundo,...

Portanto, em A rosa do povo, o poeta testemunha sua reação ante a dor coletiva e a miséria do
mundo moderno, com seu mecanismo, seu materialismo, sua falta de humanidade. Essa fase
enriqueceu sua essencialidade lírica e emocional, e, através da profunda consciência artística,
o poeta atingiu a plenitude, a cristalização, a humanização, sob a forma suave e terna, em que
o itabirano mergulha no lençol profundo de sua província e de seus antepassados, para melhor
compreender a "máquina do mundo", a angústia de seu tempo, o desarvoramento do homem
contemporâneo, com um largo sentimento de fraternidade.

Em A Rosa do Povo, livro de Carlos Drummond de Andrade, ao qual pertence


o poema "O Elefante", objeto central deste trabalho, encontra-se também o
poema Procura da Poesia, em que o poeta coloca seu conceito acerca da
construção da arte poética:

"Penetra surdamente no reino das palavras.

Lá estão os poemas que esperam ser escritos.


Estão paralisados, mas não há desespero,

há calma e frescura na superfície intacta."

Em O Elefante, encontramos uma relação semelhante à desse texto acima


transcrito: o poeta será aquele que se coloca diante de seu desígnio - a palavra
-, esperando decodificá-la, nomeá-la poeticamente; feito isso, estabelece-se a
relação criador/criação, autor/material. Tal fusão será tão intensa, que
chegaremos ao momento em que um se confundirá com o outro, num mesmo
instante poético.

A dialética criador/criação é um dos pontos mais abordados pela arte literária


moderna, tanto em sua escritura como em sua crítica. Modernamente, o
conteúdo é conseqüência do trabalho que o poeta faz com a palavra, e não
mais sua causa. A criação poética passa a ser exatamente essa relação entre
o autor e seu material.

Segundo Alfredo Bosi, em O Ser e o Tempo na Poesia, o homem, ao criar,


coloca-se como o "deus" da criação, a partir do momento em que, como o
"Grande Criador", tem o poder de nomear os seres. Nomear significa
reconhecer, identificar; no nome, encontra-se toda a vivência do criador: é
como ele vê o mundo, como entra em contato com ele, como estabelece esta
inter-relação. No caso do poeta-criador, este mundo a ser reconhecido é o
"reino das palavras"; a palavra é o seu desafio maior, no desígnio de nomeá-la,
dando-lhe sentidos especiais, tornando-a poética.

Sendo assim, ao nomear, é como se se colocasse diante da vida, criando um


processo metalingüística dela. É o reconhecimento de que a "Grande Obra" do
Criador está incompleta... Afinal, é como se Ele deixasse uma parte - pequena
apenas na aparência -a essa sua criatura, que se transforma em criador ao
relacionar-se com ela.

A sensibilidade do poeta reconhece tudo isso: à imagem do Criador, que se


estende em sua Grande Obra, desdobra-se na criação... desdobra-se tanto,
até chegar a um momento em que não há diferença entre um e outro - criador
e criação fundem-se num único espaço e tempo, sem limites, como resistência
- conforme coloca Alfredo Bosi - diante da rotulação pré-estabelecida.

Assim, também busca algo, ao mesmo tempo grande e grandioso em seu


desígnio: sua criação é um elefante; não é o elefante, mas um elefante; não se
pretende único, definido, específico, mas busca apenas ser um, modestamente
composto de "poucos recursos"; é grande (elefante), porém, indefinido (um). É
como se houvesse aí o primeiro de uma seqüência de paradoxos: "o elefante"-
como nós o conhecemos- é definido ao extremo (visível e espalhafatoso em
sua forma), mas "um elefante"- este, criado pelo poeta - será indefinido, etéreo,
com todo o direito a sê-lo... é sua criação, em sua capacidade de perceber a
forma, que pede para ser interpretada.

O material de que será composto sairá da observação da "vida presente" (de


que o poeta fala em "Mãos Dadas"), parte a parte, ainda etéreo, indefinido:
"Um tanto de madeira / tirado a móveis velhos / talvez lhe dê apoio". É assim o
pretenso apoio do elefante- "móveis velhos"; o mundo, a vida já existente, que
o poeta pretende recriar.

Sua essência mantém a estrutura diáfana: "... o encho de algodão, / de paina,


de doçura". Ele é leve - é tudo o que não esperávamos de um elefante!
As orelhas são "pensas", mantendo a estrutura inicialmente delineada: tem
nelas, pela sua audição, seu acesso inicial - embora ineficiente - ao mundo.
Mas "a parte mais feliz / de sua arquitetura" é a tromba. O elefante, como
observamos no prosseguimento da montagem, terá nela seu acesso mais
possível: é possível sentir o cheiro do mundo, inalá-lo e envolvê-lo no
enchimento de doçura e algodão, todavia é pouco possível ouvi-lo e
comunicar-se com ele. Quem enxergaria um elefante tão etéreo ("Vai meu
elefante/ pela rua povoada, / mas não o querem ver")?

Tal impossibilidade de comunicação será ainda mais flagrante na tentativa de


figurar as presas. Todos sabemos que o mundo valoriza o marfim; mata-se por
ele... e é exatamente essa parte que o criador não consegue edificar - esta ele
deixa para os circos; seu elefante é para a rua.

Na atitude de o poeta colocá-lo na rua, localiza-se o ponto alto de tensão do


poema: o elefante é a criação do poeta mandada às ruas, num desejo de
contato sensacionista, num desejo de comunicação... é querer atingir o
mundo... o criador expõe-se através da criatura, no início da fusão entre o
autor e o material.

A tensão resulta do fato de que o eu poético não concretizará seu desejo. O


primeiro índice disso está no fato, já anteriormente mencionado, de não
conseguir figurar as presas, exatamente aquilo que, de forma mais
convencional, é observado num elefante. A riqueza de sua criação irá parta os
olhos - "a parte do elefante / mais fluida e permanente, / alheia a toda fraude",
pois, enquanto portais da alma, os olhos transmitem e geram vida; assim
sendo, ninguém mata por eles: ninguém os ambiciona, porque ninguém os
entende.

Nessa tensão, o elefante, ingenuamente, tenta o contato, pois "sai à procura de


amigos": "e move lentamente / a pele costurada / onde há flores de pano / e
nuvens, alusões / a um mundo mais poético / onde o amor reagrupa / as
formas naturais". É esta a sua arma maior: o amor. Como Platão, também
acredita no Amor como energia maior do Mundo Inteligível, capaz de
reagrupar, articular o que se apresenta desarticulado.

Sua inocência é tão etérea quanto sua forma incognoscível; sua percepção
não é suficiente para captar sua imensa fragilidade ("a cauda ameaça deixá-lo
ir sozinho").Num processo de gradação, consegue ser "todo graça", embora
"as pernas não ajudem / e seu ventre balofo / se arrisque a desabar / ao mais
leve empurrão". O ventre, refúgio da vida, é preenchido também de doçura...
mas ainda falta, sempre falta, e ele ainda está "faminto" Como não é visto,
corre o risco de ser empurrado; como é apenas costurado, corre o risco de
arrebentar e desabar. Mesmo assim, sustenta "sua mínima vida", mesmo que
não haja "...na cidade / alma que se disponha / a recolher em si/ desse corpo
sensível / a fugitiva imagem".

Sensível e engraçado, dois adjetivos paradoxalmente entrelaçados. O


paradoxo se dá devido à existência de dois ângulos de enfoque: ele é sensível
em sua essência; é engraçado a partir do olhar alheio - é tocante, mas não é
tocável. É como se os seres, no máximo, conseguissem ter pena dele... mais
daí a tocá-lo, há uma grande distância, visto que, para chegar-se perto do que
não se conhece, dá medo, é arriscado, principalmente se for algo que pode
desabar a qualquer momento, de tão pesado. É um peso a não compreensão...
o elefante está balofo de tanta vida; ele respira pela tromba enorme. É vivo
demais para que se possa suportar, daí a idéia da comicidade... o riso
preenche a lacuna deixada pela falta de entendimento: algo cômico torna-se
algo descompromissado e, por conseguinte, não há razão para se entender.
O mundo recua... e ele avança, acentuando o paradoxo inicial; tudo porque "o
campo de batalha" o convida. Em detrimento do riso alheio, o elefante mantém-
se faminto. É a tensão do Eu X Mundo que se reforça: os outros riem; ele tem
fome. A contraposição intensifica-se na conjunção adversativa utilizada pelo
poeta - "mas" - revelando toda a desarmonia, a desarticulação entre o universo
do criador/criatura e o do mundo.

"Mas faminto de seres / e de situações patéticas" - também (e, talvez,


principalmente) o patético faz parte da "vida presente"; porém é preciso
entendê-lo para poder prosseguir. O patético riso é o desafio para chegar-se
aos "encontros ao luar / no mais profundo oceano / sob a raiz das árvores / ou
no seio das conchas / de luzes que não cegam / e brilham através dos troncos
mais espessos" - é a máxima docilidade, que busca atingir o que o comum
jamais atinge, o estrato vivo e essencial de cada ser, a luz, brilho na totalidade,
desde o "profundo oceano", chegando ao "seio das conchas" - o fora (oceano,
árvores) e o dentro (conchas)... num caminho ascendente, sem causar danos a
nada, "sem esmagar as plantas / no campo de batalha".

Mais importante que tudo é caminhar "à procura de sítios, / segredos,


episódios / não contados em livro", aquilo que "os homens ignoram", por
trazerem a "pálpebra cerrada"; novamente, para o homem, é preciso ignorar
por medo de surpreender-se.

Feito de "nuvens" e "flores de pano", ele "volta fatigado / as patas vacilantes /


se desmancham no pó". Os passos, até agora desengonçados e constantes,
fraquejam, por alguns instantes, tristes e cansados.

"Ele não encontrou o de que carecia, / o de que carecemos, / eu e meu


elefante, / em que amo disfarçar-me." Até esse instante do poema, tínhamos
um elefante andando sozinho, buscando sozinho, qual personagem criado, "o
de que carecia, / o de que carecemos". O pronome demonstrativo o é neutro: a
essência buscada é vaga, ampla, grande demais, pois é luz (como
anteriormente se mencionou), toda resumida no demonstrativo o; é a
simplicidade reforçada.

A criação carece... o criador carece... mais do que isso, um carece através do


outro e vice-versa. Enfim, "eu e meu elefante, / em que amo disfarçar-me",
num momento de epifania para o leitor: o elefante fabricado é o poeta e sua
poesia (autor/material). Desta vez, o gauche do "Poema das Sete Faces"
transformou-se num grande e desengonçado elefante, mantendo, em sua
origem, o estigma de personagem torta: "caiu-lhe o vasto engenho / como
simples papel", descolado, "e todo o seu conteúdo / de perdão, de carícia, / de
pluma, de algodão, / jorra sobre o tapete, / qual mito desmontado"... imagem
triste que pode gerar a idéia de que o criador vai desistir.

Novamente, contrariando nossas expectativas, com a forma simples que lhe é


característica, ele afirma: "Amanhã recomeço".

Recomeçar, reconstruir, refazer... a poesia, constante diálogo com o mundo, perpetua-se na


certeza da possibilidade de busca... é a palavra tornando-se vida, continuamente
DOM CASMURRO de Machado de Assis

1835 – Pedro de Albuquerque Santiago casa-se com D. Maria da Glória Fernandes. Tendo
nascido morto o primeiro filho, ela promete a Deus que se o segundo vingar e for varão, fará
dele um padre.

1842 – Nasce o segundo filho e recebe o nome de Bento Santiago.


1846 – Morre o pai de Bentinho. Sua mãe está com 31 anos.

1857 – Ano da denúncia de José Dias. Bentinho está com 15 anos.

1859 – Bentinho sai do seminário. Também sai seu grande amigo Ezequiel Escobar.

1863 – Bento termina seus estudos superiores em São Paulo e volta para casa.

1865 – Bentinho e Capitu casam-se. Também Ezequiel Escobar se casa com Sancha, uma
amiga de Capitu.

1867 – Nasce o filho do casal, recebendo na pia batismal o primeiro nome do amigo Ezequiel
Escobar.

1871 - Ezequiel Escobar morre afogado pelas ondas revoltas do mar num dia de ressaca.
Durante o velório fala-se do "recente" gabinete Rio Branco.

1872 – Capitu chama a atenção do marido para a grande semelhança dos olhos de Ezequiel
com os do falecido Ezequiel Escobar. Separação disfarçada: Bentinho manda mulher e filho
para a Suíça. Morre D. Glória. José Dias também falece. Capitu morre e o filho, já adulto, volta
ao Brasil e fica com Bentinho durante seis meses. Ezequiel viaja para o Oriente Médio e morre
na Palestina, sendo enterrado nas imediações de Jerusalém.

1897 – Bentinho, viúvo e solitário, resolve escrever um livro sobre sua vida.

O último parágrafo é um atestado de que ainda continua acreditando que foi enganado pela
mulher e pelo amigo: "... uma coisa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, que a
minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos e tão queridos também, quis o
destino que acabassem juntando-se e enganando-me... A terra lhes seja leve".

GRANDRE SERTÃO: VEREDAS de Guimarães Rosa


Grande Sertão :Veredas - travessia que Riobaldo, narrador-personagem, faz em suas
memórias a fim de narrar suas vivências a um "senhor" durante três dias. Travessia que
Guimarães Rosa faz através do caráter insólito e ambíguo do homem, tornando uma
experiência individual (Riobaldo ) em caráter universal - "o sertão é o mundo".
A primeira parte do romance (até aproximadamente à página 80), Riobaldo faz um relato
"caótico" e desconexo de vários fatos (aparentemente sem relações entre si ), sempre expondo
suas inquietações filosóficas (reflexões sobre a vida, a origem de tudo, Deus, Diabo, ...) -Eu
queria decifrar as coisas que são importantes. E estou contando não é uma vida de sertanejo,
seja se fôr jagunço, mas a matéria vertente. "O discurso ambivalente de Riobaldo (...) se abre a
partir de uma necessidade, verbalizada de maneira interrogativa". No entanto, há uma grande
dificuldade em narrar e organizar seus pensamentos : Contar é muito dificultoso. Não pelos
anos que se já passaram. Mas pela astúcia que tem certas coisas passadas - de fazer balancê,
de se remexerem dos lugares. É o compadre Quelemém de Góis que lhe socorre em suas
dúvidas, mas não de forma satisfatória, daí a sua necessidade de narrar.
A partir da página 80, Riobaldo começa a organizar suas memórias. Fala da mãe Brigi,
que o obrigava à esmolação para a paga de uma promessa. É nessa ocasião, à beira do
"Velho Chico", que Riobaldo se encontra pela primeira vez com o garoto Reinaldo, fazendo
juntos uma travessia pelo rio São Francisco. Riobaldo fica fascinado com a coragem de
Reinaldo, pois como este afirma : "sou diferente (...) meu pai disse que eu careço de ser
diferente (...).
A mãe de Riobaldo vem a falecer, sendo ele levado à fazenda São Gregório, de seu
padrinho Selorico Mendes. É lá que Riobaldo toma contato com o grande chefe Joca Ramiro,
juntamente com os chefes Hermógenes e Ricardão. Selorico Mendes envia o seu afilhado ao
Curralinho, a fim de que tivesse contato com os estudos. Posteriormente, assume a função de
professor de Zé Bebelo (fazendeiro residente no Palhão com pretensões políticas. Zé Bebelo,
querendo pôr fim aos jagunços que atuavam no sertão mineiro, convida Riobaldo a participar
de seu bando. Riobaldo troca as letras pelas armas. É desse ponto que começa suas
aventuras pelo norte de Minas, sul da Bahia e Goiás como jagunço e depois como chefe.
O bando de Zé Bebelo faz combate com Hermógenes e seus jagunços, onde este acaba
por fugir. Riobaldo deserta do bando de Zé Bebelo e acaba por encontrar Reinaldo ( jagunço do
bando de Joca Ramiro), ingressando no bando do "grande chefe". A amizade entre Riobaldo e
Reinaldo acaba por se tornar sólida , onde Reinaldo revela o seu nome - Diadorim - pedindo-
lhe segredo. Juntamente com Hermógenes , Ricardão e outros jagunços , combate contra as
tropas do governo e de Zé Bebelo .
Depois de um conflito com o bando de Zé Bebelo, o bando liderado por Hermógenes fica
acuado, acabando-se por se separar , reunindo-se posteriormente . O chefe Só Candelário
acaba por integrar-se ao bando de Hermógenes , tornando-se líder do bando até o encontro
com Joca Ramiro . Nessa ocasião , Joca Ramiro presenteia Riobaldo com um rifle , em
reconhecimento à sua boa pontaria (a qual lhe faz valer apelidos como "Tatarana" e "Cerzidor")
. O grupo de Joca Ramiro acaba por se dividir para enfrentar Zé Bebelo , conseguindo capturá-
lo . Zé Bebelo é submetido a julgamento por Joca Ramiro e seus chefes - Hermógenes ,
Ricardão, Só Candeário , Titão Passos e João Goanhá - acabando a ser condenado ao exílio
em Goiás .
Depois do julgamento, o bando do grande chefe se dispersa, Riobaldo e Diadorim
acabam por seguir o chefe Titão Passos. Posteriormente, o jagunço Gavião-Cujo vai ao
encontro do grupo de Titão Passos para informar a morte de Joca Ramiro, que foi assassinado
à traição por Hermógenes e Ricardão ("os judas"). Riobaldo fica impressionado com a reação
de Diadorim diante da notícia. Os jagunços se reúnem para combaterem os judas .
Por essa época , Riobaldo tem um caso com Nhorinhá (prostitutriz), filha de Ana Danúzia.
Conhece Otacília na fazenda Santa Catarina, onde tem intenções verdadeiras de amor.
Diadorim, em determinada ocasião, por ter raiva de Otacília, chega a ameaçar Riobaldo com
um punhal.
Medeiro Vaz junta-se ao bando para a vingança, assumindo a chefia. Inicia-se a travessia
do Liso do Sussuarão. O bando não agüenta a travessia e acaba por retornar. Medeiro Vaz
morre. Zé Bebelo retorna do exílio para ajudar na vingança contra os judas, tomando a chefia
do bando.
Por suas andanças, o bando de Zé Bebelo chega à fazenda dos Tucanos, onde são
encurralados por Hermógenes. Momentos de grande tensão. Zé Bebelo envia dois homens
para informarem a presença de jagunços naquele local. Riobaldo desconfia de uma possível
traição com esse ato. O bando de Hermógenes fica acuado pelas tropas do governo e os dois
lados se unem provisoriamente para escaparem dos soldados . Zé Bebelo e seus homens
fogem à surdina da fazenda, deixando os hermógenes travando combate com os soldados.
Riobaldo oferece a pedra de topázio a Diadorim, mas este recusa, até que a vingança tenha
sido consumada .
Os bebelos chegam às Veredas-Mortas. É um dos pontos altos do romance, onde
Riobaldo faz o pacto com o Diabo para vencerem os judas. Riobaldo acaba assumindo a chefia
do bando com o nome de "Urutu-Branco"; Zé Bebelo sai do bando. Riobaldo dá a incumbência
a "seô Habão" para entregar a pedra de topázio a Otacília, firmando o compromisso de
casamento. O chefe Urutu-Branco acaba por reunir mais homens ( inclusive o cego Borromeu e
o menino pretinho Gurigó).
À procura dos hermógenes, fazem a penosa travessia do Liso do Sussuarão, onde
Riobaldo sofre atentado por Treciano, que é morto pelo próprio chefe. Atravessado o Liso,
Riobaldo chega em terras baianas, atacando a fazenda de Hermógenes e aprisionando sua
mulher . Retornam aos sertões de Minas, à procura dos judas. Encurralam o bando de
Ricardão nos Campos do Tamanduá-tão, onde o Urutu-Branco mata o traidor. Encontro dos
hermógenes no Paredão. Luta sangrenta. Diadorim enfrenta diretamente Hermógenes,
ocasionando a morte de ambos. Riobaldo descobre então que Diadorim se chama Maria
Deodorina da Fé Bittancourt Marins, filha de Joca Ramiro.
Riobaldo acaba por adoecer (febre-tifo). Depois de se restabelecer, fica sabendo da
morte de seu padrinho e herda duas fazendas suas. Vai ao encontro de Zé Bebelo, o qual o
envia com um bilhete de apresentação a Quelemém de Góis : Compadre meu Quelemém me
hospedou , deixou meu contar minha história inteira. Como vi que ele me olhava com aquela
enorme paciência - calma de que minha dor passasse; e que podia esperar muito longo tempo.
O que vendo, tive vergonha, assaz .
Mas , por fim , eu tomei coragem , e tudo perguntei:
-"O senhor acha que a minha alma eu vendi , pactário?! "
Então ele sorriu, o pronto sincero, e me vale me respondeu :
-"Tem cisma não. Pensa para diante. Comprar ou vender, às vezes, são as ações que são as
quase iguais ..."
(...)
Cerro. O senhor vê. Contei tudo. Agora estou aqui, quase barranqueiro. (...) Amável senhor me
ouviu, minha idéia confirmou: que o Diabo não existe. Pois não? O senhor é um homem
soberano , circunspecto. Amigos somos. Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se fôr ...
Existe é homem humano. Travessia.

MACUNAÍMA de Mário de Andrade

O herói sem nenhum caráter que vira estrela

Rapsódia escrita em 1926 e publicada em 1928, traz uma variedade de motivos populares que
Mário de Andrade juntou de acordo com as afinidades existentes entre eles. Trata-se de uma
espécie de "coquetel" do folclórico e do popular do Brasil. Mário de Andrade mistura o
maravilhoso e o sobre-humano ao retratar as façanhas de um herói que não apresenta
rigorosos referenciais espaço-temporais – Macunaíma é o representante de todas as épocas e
de todos os espaços brasileiros. Macunaíma, que leva o subtítulo de "herói sem nenhum
caráter", é também o nome do personagem central, um herói ameríndio que trai e é traído, que
é preguiçoso, indolente, mas esperto e matreiro, individualista e dúbio. Destituído da auréola
idealizada dos românticos, Macunaíma é o índio moderno, múltiplo e contraditório. Nasce na
selva, filho de uma índia tapanhumas, fala tardiamente e só anda quando ouve o som do
dinheiro. Vira príncipe e trai o irmão Jiguê ao brincar com as cunhadas, primeiro Sofará e
depois Iriqui. Vira homem e mata a mãe, enganado por Anhangá. Casa-se com Ci, a mãe do
mato, guerreira amazonas da tribo das Icamiabas. Macunaíma torna-se o Imperador do Mato
Virgem. Após seis meses, tem um filho. A criança morre, transformando-se em planta do
guaraná. Ci, cansada e desiludida, vira a estrela Beta da Constelação Centauro. Antes de
morrer, porém, Ci deixa ao esposo a muiraquitã, uma pedra talismã que lhe daria a garantia de
felicidade. Mas o herói perde a pedra que acaba nas mãos do rico comerciante peruano
Venceslau Pietro Pietra, colecionador de pedras em São Paulo. Em companhia de seus dois
irmãos – Maanape e Jiguê – vem para São Paulo a fim de reconquistar a pedra, que simboliza
seu próprio ideal. Porém, Venceslau, que está disfarçado de comerciante, é na verdade o
gigante Piaimã, comedor de gente; por isso, as investidas de Macunaíma contra ele não dão
resultado. Só depois de apelar para a macumba Macunaíma consegue derrotar o gigante.
Reconquistada a pedra, Macunaíma retorna ao Amazonas e se deixa atrair pela Iara, perdendo
definitivamente a pedra. Como já não vê mais graça no mundo, vai para o céu, onde se
transforma em estrela da Constelação Ursa Maior, ficando relegado ao brilho inútil das estrelas.

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS

Viagem em torno da própria vida

Memórias Póstumas de Brás Cubas, de 1881, é considerada a obra divisora de águas não só
da literatura brasileira, marcando o início da estética realista, como também da literatura
machadiana, pois estabelece a ruptura do escritor com os padrões românticos. Ao substituir a
linearidade da narrativa, a preferência pela ação e a leve caracterização das personagens por
uma lógica independente da cronologia, que permite ao narrador viajar pelo tempo sem perder
o rumo dos acontecimentos, torna possível a inserção de cuidadosas reflexões em qualquer um
dos capítulos, ou permite a condução dos acontecimentos sem ficar à mercê da necessidade
de encadear os assuntos um após outro. Porém, a grande ruptura ocorre na preferência do
autor não pelo enredo, mas pela caracterização das personagens, analisadas através de seus
aspectos comportamentais, isto é, através da postura que assumem diante dos acontecimentos
e da sociedade em que vivem. A obra é narrada em primeira pessoa, por um morto que se
propõe analisar a si e aos outros. Começa de sua morte e seu delírio e num salto retorna à
infância, relatando seus amores adolescentes pela prostituta espanhola Marcela, e a ruptura do
caso amoroso, quando o pai decide enviá-lo à Europa. Seu envolvimento com Virgília, esposa
de Lobo Neves, aborda o problema banal de um caso de adultério e é motivo de inúmeras
reflexões do narrador. Importante também é a amizade do narrador com Quincas Borba,
filósofo mentor da teoria do humanitismo, cuja síntese está na frase: "Ao vencedor, as batatas".
Nessa viagem que Brás Cubas faz em torno de sua própria vida, as constantes de Machado de
Assis vão sendo marcadas: pessimismo, ironia e humor, principalmente no último capítulo,
quando afirma com profundo niilismo: "Não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa
miséria".

O amor, o ciúme, o caos psicológico

Com 148 capítulos curtos e em sua segunda experiência com foco narrativo em 1ª pessoa,
Machado de Assis escreve Dom Casmurro, o mais famoso de seus romances. Através do
narrador-personagem é desvendada ao leitor somente uma parcela da realidade, impregnando
a narrativa de subjetivismo, unilateralidade e ambigüidade. Bento (Dom Casmurro) resolve
reconstruir sua vida a partir do fracasso de seu casamento com Capitu. Marcado pelo ciúme
doentio, expressão da insegurança do protagonista, Bento passa a acreditar na traição de sua
esposa com Escobar, o amigo que o acompanha desde os tempos de seminário. Se houve ou
não traição, o volume não deixa claro, mas o interessante da obra é o estudo dos aspectos
psicológicos, responsável pela perfeita análise das seqüelas que dominam a mente corroída
pelo ciúme. Acrescenta-se a elaboração de uma das mais fortes personalidades femininas que,
página por página, é reconstruída, sedimentada pela obsessão de um homem que jamais
conseguiu esquecê-la.

MORTE E VIDA SEVERINA de João Cabral de Melo Neto

Características:

Estilo: linguagem elaborada com precisão e rigor matemático, cerebrina, concreta, realista; todo
adorno e elemento desnecessário é subtraído, recriando-se, através de palavras, a mesma
atmosfera de seca, privação e morte que acompanha o retirante.

Estrutura: peça teatral (auto de natal), construída a partir de dezoito subitens que assinalam a
jornada de Severino. Cada subitem equivale a um pequeno ato ou cena, em que se narram
aspectos relativos às pessoas, à miséria e à região que é focalizada pelo escritor.

Composição das cenas: primeiras doze cenas, narram as peregrinações do herói, iniciadas
com um prólogo em primeira pessoa, explicando quem é ele e a que vem. O protagonista
assiste às diferentes formas de morte com que se depara em sua trajetória, não participando
da ação, exceto em três de seus encontros: na 2ª cena, em que dois homens transportam um
defunto numa rede; na 6ª cena, quando conversa com uma carpideira; e, na 12ª cena, ao
encontrar o mestre carpina. Nas restantes, Severino apenas contempla a morte morrida ou
matada, mas morte fruto da miséria, da fome, da seca, da problemática distribuição de rendas
do Nordeste, dos problemas sociais... Seis cenas finais: em que constam o anúncio do
nascimento, as loas, a predição das ciganas e a entrega das oferendas. Arremata a peça uma
breve conclusão.

NOITE NA TAVERNA de Álvares de Azevedo

É uma coletânea de contos que apresenta características bastante singulares, uma vez que as
personagens se juntam para contar fatos macabros passados em suas vidas ou criados a partir
da imaginação. Assim, cada caso configura um conto, sendo que o primeiro "Uma noite do
século" e o último "Ultimo beijo de amor" acabam por reunir as personagens. Os outros contos
são: Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann, Johann. Dessa forma a independência de
cada texto, se tomados os narradores e os elementos narrativos separadamente, desaparece
quando surge um narrador em terceira pessoa que reúne as personagens na taverna. Nesse
caso a independência seria aparentemente anulada em função da unidade. Álvares de
Azevedo, na verdade, monta um mosaico narrativo, fazendo com que as personagens circulem
entre os vários textos, criando para alguns leitores e críticos a possibilidade de classificar o
texto como novela, se tomado como um todo. Mas a presente obra apresenta sete partes que
podem ser consideradas como contos. Cada parte apresenta uma epígrafe (citação de um
texto que se enquadra com o tema do conto), e ainda uma epígrafe geral. A epígrafe geral
refere-se à aparição do pai de Hamlet, da obra homônima de Shakespeare. Traduz a idéia de
medo, fantasia, noite, que dominará o tom geral da obra. Tudo começa numa taverna, onde
vários personagens (protagonistas do contos) se reúnem para contar episódios de suas vidas
entre baforadas em cachimbos e copos de vinho (tudo bem no clima spleen = tédio da vida, do
Romantismo). O tom geral dos contos é melancólico e macabro (relativo à idéia de morte que
paira no ar e que vem se confirmar no final).

O CORTIÇO de Aluísio Azevedo

João Romão, português, bronco e ambicioso, ajuntando dinheiro a poder de penosos


sacrifícios, compra pequeno estabelecimento comercial no subúrbio da cidade (Rio de Janeiro).
Ao lado morava uma preta, escrava fugida, trabalhadeira, que possuía uma quitanda e umas
economias. Os dois amasiam-se, passando a escrava a trabalhar como burro de carga para
João Romão. Com o dinheiro de Bertoloza (assim se chamava a ex-escrava), o português
compra algumas braças de terra e alarga sua propriedade. Para agradar a Bertoleza, forja uma
falsa carta de alforria. Com o decorrer do tempo, João Romão compra mais terras e nelas
constrói três casinhas que imediatamente aluga. O negócio dá certo o novos cubículos se vão
amontoando na propriedade do português. A procura de habitação é enorme, e João Romão,
ganancioso, acaba construindo vasto e movimentado cortiço. Ao lado vem morar outro
português, mas de classe elevada, com certos ares de pessoa importante, o Senhor Miranda,
cuja mulher leva vida irregular. Miranda não se dá com João Romão, nem vê com bons olhos o
cortiço perto de sua casa. No cortiço moram os mais variados tipos: brancos, pretos, mulatos,
lavadeiras, malandros, assassinos, vadios, benzedeiras etc. Entre outros: a Machona, lavadeira
gritalhona, "cujos filhos não se pareciam uns com os outros"; Alexandre, mulato pernóstico;
Pombinha, moça franzina que se desencaminha por influência das más companhias; Rita
Baiana, mulata faceira que andava amigada na ocasião com Firmo, malandro valentão;
Jerônimo e sua mulher, e outros mais. João Romão tem agora uma pedreira que lhe dá muito
dinheiro. No cortiço há festas com certa freqüência, destacando-se nelas Rita Baiana como
dançarina provocante e sensual, o que faz Jerônimo perder a cabeça. Enciumado, Firmo acaba
brigando com Jerônimo e, hábil na capoeira, abre a barriga dó rival com a navalha e foge.
Naquela mesma rua, outro cortiço se forma. Os moradores do cortiço de João Romão chamam-
no de "Cabeça-de-gato"; como revide, recebem o apelido de "Carapicus". Firmo passara a
morar no "Cabeça-de-Gato", onde se torna chefe dos malandros. Jerônimo, que havia sido
internado em um hospital após a briga com Firmo, arma uma emboscada traiçoeira para o
malandro e o mata a pauladas, fugindo em seguida com Rita Baiana, abandonando a mulher.
Querendo vingar a morte de Firmo, os moradores do "Cabeça-de-gato" travam séria briga com
os "Carapicus". Um incêndio, porém, em vários barracos do cortiço de João Romão põe fim à
briga coletiva. O português, agora endinheirado, reconstrói o cortiço, dando-lhe nova feição e
pretende realizar um objetivo que há tempos vinha alimentando: casar-se com uma mulher "de
fina educação", legitimamente. Lança os olhos em Zulmira, filha do Miranda. Botelho, um velho
parasita que reside com a família do Miranda e de grande influência junto deste, aplaina o
caminho para João Romão, mediante o pagamento de vinte contos de réis. E em breve os dois
patrícios, por interesse, se tornam amigos e o casamento é coisa certa. Só há uma dificuldade:
Bertoleza. João Romão arranja um piano para livrar- se dela: manda um aviso aos antigos
proprietários da escrava, denunciando-lhe o paradeiro. Pouco tempo depois, surge a polícia na
casa de João Romão para levar Bertoleza aos seus antigos senhores. A escrava compreende o
destino que lhe estava reservado, suicida-se, cortando o ventre com a mesma faca com que
estava limpando o peixe para a refeição de João Romão.
O NAVIO NEGREIRO de Castro Alves

'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço

Brinca o luar — dourada borboleta;

E as vagas após ele correm... cansam

Como turba de infantes inquieta.

'Stamos em pleno mar... Do firmamento

Os astros saltam como espumas de ouro...

O mar em troca acende as ardentias,

— Constelações do líquido tesouro...

'Stamos em pleno mar... Dois infinitos

Ali se estreitam num abraço insano,

Azuis, dourados, plácidos, sublimes...

Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...

'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas

Ao quente arfar das virações marinhas,

Veleiro brigue corre à flor dos mares,

Como roçam na vaga as andorinhas...

Donde vem? onde vai? Das naus errantes

Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?

Neste saara os corcéis o pó levantam,

Galopam, voam, mas não deixam traço.

Bem feliz quem ali pode nest'hora

Sentir deste painel a majestade!

Embaixo — o mar em cima — o firmamento...

E no mar e no céu — a imensidade!


Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!

Que música suave ao longe soa!

Meu Deus! como é sublime um canto ardente

Pelas vagas sem fim boiando à toa!

Homens do mar! ó rudes marinheiros,

Tostados pelo sol dos quatro mundos!

Crianças que a procela acalentara

No berço destes pélagos profundos!

Esperai! esperai! deixai que eu beba

Esta selvagem, livre poesia

Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,

E o vento, que nas cordas assobia...

Por que foges assim, barco ligeiro?

Por que foges do pávido poeta?

Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira

Que semelha no mar — doudo cometa!

Albatroz! Albatroz! águia do oceano,

Tu que dormes das nuvens entre as gazas,

Sacode as penas, Leviathan do espaço,

Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.

II

Que importa do nauta o berço,

Donde é filho, qual seu lar?

Ama a cadência do verso

Que lhe ensina o velho mar!

Cantai! que a morte é divina!


Resvala o brigue à bolina

Como golfinho veloz.

Presa ao mastro da mezena

Saudosa bandeira acena

As vagas que deixa após.

Do Espanhol as cantilenas

Requebradas de langor,

Lembram as moças morenas,

As andaluzas em flor!

Da Itália o filho indolente

Canta Veneza dormente,

— Terra de amor e traição,

Ou do golfo no regaço

Relembra os versos de Tasso,

Junto às lavas do vulcão!

O Inglês — marinheiro frio,

Que ao nascer no mar se achou,

(Porque a Inglaterra é um navio,

Que Deus na Mancha ancorou),

Rijo entoa pátrias glórias,

Lembrando, orgulhoso, histórias

De Nelson e de Aboukir.. .

O Francês — predestinado —

Canta os louros do passado

E os loureiros do porvir!
Os marinheiros Helenos,

Que a vaga jônia criou,

Belos piratas morenos

Do mar que Ulisses cortou,

Homens que Fídias talhara,

Vão cantando em noite clara

Versos que Homero gemeu ...

Nautas de todas as plagas,

Vós sabeis achar nas vagas

As melodias do céu! ...

III

Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!

Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano

Como o teu mergulhar no brigue voador!

Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!

É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...

Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!

IV

Era um sonho dantesco... o tombadilho

Que das luzernas avermelha o brilho.

Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros... estalar de açoite...

Legiões de homens negros como a noite,

Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas

Magras crianças, cujas bocas pretas

Rega o sangue das mães:


Outras moças, mas nuas e espantadas,

No turbilhão de espectros arrastadas,

Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente...

E da ronda fantástica a serpente

Faz doudas espirais ...

Se o velho arqueja, se no chão resvala,

Ouvem-se gritos... o chicote estala.

E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,

A multidão faminta cambaleia,

E chora e dança ali!

Um de raiva delira, outro enlouquece,

Outro, que martírios embrutece,

Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra,

E após fitando o céu que se desdobra,

Tão puro sobre o mar,

Diz do fumo entre os densos nevoeiros:

"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!

Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .

E da ronda fantástica a serpente

Faz doudas espirais...

Qual um sonho dantesco as sombras voam!...


Gritos, ais, maldições, preces ressoam!

E ri-se Satanás!...

Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus!

Se é loucura... se é verdade

Tanto horror perante os céus?!

Ó mar, por que não apagas

Co'a esponja de tuas vagas

De teu manto este borrão?...

Astros! noites! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados

Que não encontram em vós

Mais que o rir calmo da turba

Que excita a fúria do algoz?

Quem são? Se a estrela se cala,

Se a vaga à pressa resvala

Como um cúmplice fugaz,

Perante a noite confusa...

Dize-o tu, severa Musa,

Musa libérrima, audaz!...

São os filhos do deserto,

Onde a terra esposa a luz.

Onde vive em campo aberto

A tribo dos homens nus...

São os guerreiros ousados


Que com os tigres mosqueados

Combatem na solidão.

Ontem simples, fortes, bravos.

Hoje míseros escravos,

Sem luz, sem ar, sem razão. . .

São mulheres desgraçadas,

Como Agar o foi também.

Que sedentas, alquebradas,

De longe... bem longe vêm...

Trazendo com tíbios passos,

Filhos e algemas nos braços,

N'alma — lágrimas e fel...

Como Agar sofrendo tanto,

Que nem o leite de pranto

Têm que dar para Ismael.

Lá nas areias infindas,

Das palmeiras no país,

Nasceram crianças lindas,

Viveram moças gentis...

Passa um dia a caravana,

Quando a virgem na cabana

Cisma da noite nos véus ...

... Adeus, ó choça do monte,

... Adeus, palmeiras da fonte!...

... Adeus, amores... adeus!...


Depois, o areal extenso...

Depois, o oceano de pó.

Depois no horizonte imenso

Desertos... desertos só...

E a fome, o cansaço, a sede...

Ai! quanto infeliz que cede,

E cai p'ra não mais s'erguer!...

Vaga um lugar na cadeia,

Mas o chacal sobre a areia

Acha um corpo que roer.

Ontem a Serra Leoa,

A guerra, a caça ao leão,

O sono dormido à toa

Sob as tendas d'amplidão!

Hoje... o porão negro, fundo,

Infecto, apertado, imundo,

Tendo a peste por jaguar...

E o sono sempre cortado

Pelo arranco de um finado,

E o baque de um corpo ao mar...

Ontem plena liberdade,

A vontade por poder...

Hoje... cúm'lo de maldade,

Nem são livres p'ra morrer. .

Prende-os a mesma corrente

— Férrea, lúgubre serpente —

Nas roscas da escravidão.


E assim zombando da morte,

Dança a lúgubre coorte

Ao som do açoute... Irrisão!...

Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus,

Se eu deliro... ou se é verdade

Tanto horror perante os céus?!...

Ó mar, por que não apagas

Co'a esponja de tuas vagas

Do teu manto este borrão?

Astros! noites! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão! ...

VI

Existe um povo que a bandeira empresta

P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...

E deixa-a transformar-se nessa festa

Em manto impuro de bacante fria!...

Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,

Que impudente na gávea tripudia?

Silêncio. Musa... chora, e chora tanto

Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Auriverde pendão de minha terra,

Que a brisa do Brasil beija e balança,

Estandarte que a luz do sol encerra

E as promessas divinas da esperança...

Tu que, da liberdade após a guerra,


Foste hasteado dos heróis na lança

Antes te houvessem roto na batalha,

Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!


Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

O MULATO de Aloísio Azevedo


"Raimundo, o mulato, nasceu de uma escrava com um
português rico, o qual desposou uma mulher de alta
sociedade, que, desconfiada dos amores clandestinos
do marido, manda açoitar a escrava e tenta matar
Raimundo. No entanto, o pai o esconde e o entrega a um tio,
que mais tarde o faz estudar em Portugal.A mulher de alta
sociedade, que era amante do cônego Dias, o vilão da
história, é morta pelo marido numa ocasião em que ele
surpreende os amantes. Como vingança, o cônego o
assassina. Raimundo, que ignora toda a história, resolve
voltar a São Luís do Maranhão,aos vinte e seis anos,
para liquidar uns bens que possuía na terra natal e
desvendar o mistério em torno de seu nascimento.
Lá hospeda-se na casa de um tio, onde vive a prima,
Ana Rosa, que o seduz. Apaixonados, pretendem casar-se,
mas o preconceito contra a marginalidade de Raimundo
impede que o façam. Ana Rosa engravida, a fim de forçar a
família a aceitar sua união com Raimundo, mas o plano
fracassa. Um caixeiro de seu pai, de quem tem ojeriza, e que
a corteja, oferece-se como seu marido. Durante uma tentativa
de fuga do casal, o pretendente de Ana Rosa acaba
assassinando Raimundo, industriado pelo mesmo cônego
que lhe matara o pai... e cujas atrocidades ele já conhecera.
Cinco anos depois desses acontecimentos, Ana Rosa
reaparece feliz: casara-se com o caixeiro e se tornara mãe de
três filhos."

OS LUSÍADAS (episódios "Inês de Castro" - III, 118 a 135 e "O Velho do Restelo" - IV, 90 a
104) – Camões

O lirismo no amor e a aventura nas navegações

Publicada em 1572, Os Lusíadas é a epopéia do povo português. A obra é composta de 10


cantos, repartidos em 1102 estrofes em oitava-rima (oito versos por estrofe e rima em
ABABABCC) e decassílabos heróicos. A epopéia camoniana é dividida em três partes:
Introdução (proposição, invocação e dedicatória); Narração e Epílogo, tendo como assunto a
viagem de Vasco da Gama às Índias. A narração tem início quando as caravelas de Vasco da
Gama já estão navegando pelo Oceano Índico, portanto, em plena viagem. Os navegantes são
supervisionados pelos deuses do Olimpo e decidem o destino dos navegantes após a
realização de um concílio. Os portugueses encontram em Vênus uma preciosa aliada e em
Baco o mais ferrenho inimigo. Na costa oriental da África os portugueses aportam em
Moçambique e depois em Melinde, cujo rei pede a Vasco da Gama que conte a história do
país, motivo dos cantos três e quatro. Dois episódios serão destacados dentro da história de
Portugal.
O primeiro é protagonizado por Inês de Castro, jovem que acompanha D. Constança de
Castela, princesa prometida a D. Pedro, filho de Afonso IV de Portugal. Jovem de rara beleza,
Inês atrai a atenção do príncipe herdeiro que, após a morte da esposa, casa-se secretamente
com ela. Afonso IV, ouvindo conselhos daqueles que viam nela mais uma aventureira a serviço
da Espanha, manda matá-la.
O inconformado D. Pedro, ao assumir o trono português, fez de sua amada a rainha de seu
povo, desenterrando-a e coroando-a. Camões obtém um efeito extraordinário ao inserir na
epopéia este episódio essencialmente lírico. No canto seguinte (IV), Gama prossegue,
narrando a história de Portugal desde a dinastia de Avis (D. João I) até a partida da armada
para a Índia. Nas últimas estâncias do canto está inserido o episódio de O Velho do Restelo.
Portugal vive uma fase de euforia quando do início das grandes navegações. Em meio à
preparação da partida das naus rumo às grandes conquistas surge O Velho do Restelo,
representando a oposição passado x presente, antigo x novo. O Velho chama de vaidoso
aqueles que, por cobiça ou ânsia de glória, por sua audácia ou coragem, se lançam às
aventuras ultramarinas. O Velho do Restelo simboliza a preocupação daqueles que antevêem
um futuro sombrio para a Pátria.

OS SERTÕES de Euclides da Cunha: Pré-Modernismo do Brasil

Nota Preliminar

Escrito nos raros intervalos de folga de uma carreira fatigante, este livro, que a princípio se
resumia à história da Campanha de Canudos, perdeu toda a atualidade, remorada a sua
publicação em virtude de causas que temos por escusado apontar.

Demos - lhe, por isto, outra feição, tomando apenas variante de assunto geral o tema, a
princípio dominante, que o sugeriu.

Intentamos esboçar, palidamente embora, ante o olhar de futuros historiadores, os traços


atuais mais expressivos das sub-raças sertanejas do Brasil. E fazêmo-lo porque a sua
instabilidade de complexos de fatores múltiplos e diversamente combinados, aliada às
vicissitudes históricas e deplorável situação mental em que jazem, as tomam talvez efêmeras,
destinadas a próximo desaparecimento ante as exigências crescentes da civilização e a
concorrência material intensiva das correntes migratórias que começam a invadir
profundamente a nossa terra.

O jagunço destemeroso, o tabaréu ingênuo e o caipira simplório serão em breve tipos


relegados às tradições evanescentes, ou extintas.

Primeiros efeitos de variados cruzamentos, destinavam-se talvez à formação dos princípios


imediatos de uma grande raça. Faltou-lhes, porém, uma situação de parada, o equilíbrio, que
Ihes não permite mais a velocidade adquirida pela marcha dos povos neste século.
Retardatários hoje, amanhã se extinguirão de todo.

A civilização avançará nos sertões impelida por essa implacável "força motriz da História" que
Gumplowicz, maior do que Hobbes, lobrigou, num lance genial, no esmagamento inevitável das
raças fracas pelas raças fortes.

A campanha de Canudos tem por isto a significação inegável de um primeiro assalto, em luta
talvez longa. Nem enfraquece o asserto o termo-la realizado nós filhos do mesmo solo, porque,
etnologicamente indefinidos, sem tradições nacionais uniformes, vivendo parasitariamente à
beira do Atlântico, dos princípios civilizadores elaborados na Europa, e armados pela indústria
alemã — tivemos na ação um papel singular de mercenários inconscientes. Além disto, mal
unidos àqueles extraordinários patrícios pelo solo em parte desconhecido, deles de todo nos
separa uma coordenada histórica — o tempo.

Aquela campanha lembra um refluxo para o passado.

E foi, na significação integral da palavra, um crime.

Denunciemo-lo.

E tanto quanto o permitir a firmeza do nosso espírito façamos jus ao admirável conceito de
Taine sobre o narrador sincero que encara a História como ela merece:

“il s’ irrite contre les demi vérités que sont des demi faussetés, contre les auteurs qui n’altèrent
ni une date, ni une généalogie, mais dénaturent les sentiments et les moeurs, qui gardent le
dessin des événements et en changent la couleur, qui copient les faits et défigurent l'âme; il
veut sentir en barbare, parmi les barbares, et, parmi les anciens, en ancien. "

Euclides da Cunha.

São Paulo, 1901

QUINCAS BORBA de Machado de Assis

A História gira em torno da vida de Rubião,


amigo e enfermeiro particular do filósofo
Quincas Borba (maruja em "MP de BC"-1881).
Quincas Borba vivia em Barbacena e era
muito rico, e ao morrer deixa ao amigo toda a
sua fortuna herdada de seu último
parente.Trocando a pacata vida provinciana
pela agitação da corte, Rubião muda-se para o
Rio de Janeiro, após a morte de seu amigo,
causado por infecção pulmonar.Leva consigo
o cão, também chamado de Quincas Borba,
que pertencera ao filósofo e do qual deveria
cuidar sob a pena de perder a herança.

Durante a viagem de trem para o Rio de


Janeiro, Rubião conhece o casal Sofia e
Palha, que logo percebem estar diante de um
rico e engenuo provinciano.Atraído pela
amabilidade do casal e, sobretudo, pela beleza
de Sofia, Rubião passa freqüentar a casa
deles, confiando cegamente no novo amigo.

PALHA E SOFIA

Palha, este novo amigo, se destaca como um


esperto comerciante e administra a fortuna de
Rubião, tirando parte de seus lucros. Com o
tempo, Rubião sente-se cada vez mais atraído
por Sofia, que mantém com ele atitude
esquiva, encorajando-o e ao mesmo tempo
impondo uma certa distância.

SOCIEDADE
Por Outro lado, a ingenuidade de Rubião
torna-o presa fácil de várias outras pessoas
interessadas e oportunistas, que se
aproximam dele para explorá-lo
financeiramente.

Aos poucos, acompanhando a trajetória de


Rubião, percebe-se como funciona a
engrenagem social da época. Como ocorre a
disputa entre as pessoas, as lutas pelo poder
político e pela ascensão econômica da época,
dessa maneira, o romance projeta um quadro
também bastante crítico das relações sociais
da época.

A Corte era a capital, o Rio de Janeiro, cuja a


moda era ditada pela tendência Francesa.

LOUCURA

Depois de algum tempo, Rubião começa a


manifestar sintomas de loucura, que o levara a
morte, a mesma loucura de que fora vítima o
seu amigo, o filósofo Quincas Borba, de quem
herda a fortuna.

Louco e explorado até ficar reduzido à miséria,


o destino trágico de Rubião exemplifica a tese
do Humanitismo.

A FILOSOFIA

Seguindo a trajetória do Humanitismo, a


filosofia inventada por Quincas Borba, de que
a vida é um campo de batalha onde só os
mais fortes sobrevivem.

Os fracos e ingênuos, como Rubião, são


manipulados e aniquilados pelos mais fortes e
mais espertos, como Palha e Sofia, que no
final, estão vivos e ricos, tal como dizia a teoria
do Humanitismo.

" HUMANITAS "

Esse Principio de Quincas Borba: nunca há


morte, há encontro de duas expansões, ou
expansão de duas formas.

Explicando de uma melhor maneira, criou a


frase: "Ao vencedor às Batatas!", principio
este, que marcou e é o enfoque principal do
enredo.

- "Supõe-se em um campo e duas tribos


famintas. As batatas apenas chegam para
alimentam somente uma das tribos, que assim
adquire forças para transpor a montanha e ir à
outra vertente, onde há batatas em
abundância; mas se as duas tribos dividirem
em paz as batatas do campo, não chegam a
nutri-se suficientemente e morrerão de
inanição. A paz, neste caso, é a destruição; a
guerra, é a esperança. Uma das tribos
extermina a outra recolhe os despojos. Daí a
alegria da vitória, os hinos, as aclamações. Se
a guerra não fosse isso, tais demonstrações
não chegariam a dar-se.

Ao vencido, o ódio ou compaixão... Ao


vencedor, as batatas !"

SÃO BERNARDO de Graciliano Ramos

Características:

Estilo: linguagem enxuta e seca, primando pela escolha do vocábulo exato e correto. Frases
curtas e tensas, nascidas da necessidade de dar vazão ao ato de escrever e de analisar o
mundo rude.

Narrador: em primeira pessoa, Paulo Honório é o protagonista da história por ele narrada.

Cenário: fazenda São Bernardo, na região de Viçosa, Alagoas. O tempo da narração coincide
com a eclosão da Revolução de Outubro de 1930.

Personagens: Paulo Honório, marcado pelo signo da posse, é exemplo de um homem que luta
para obter o que deseja. Partidário da opinião do que os fins justificam os meios, enriquece,
compra e reconstrói a fazenda objeto de todas as suas lutas. Sente necessidade de preparar
um herdeiro para as terras, por isso casa-se. Por não conseguir exercer sua vontade férrea
sobre a mulher, começa a sentir um ciúme doentio. Madalena: professora primária de vasta
cultura, tendendo a difundir idéias socialistas. Procura ser justa com os trabalhadores braçais
da fazenda, como Marcelino, a velha Margarida, entre outros; divide suas opiniões com o ex-
proprietários das terras e professor Luís Padilha. Encontra diálogo entre os freqüentadores
mais cultos de S. Bernardo, como o advogado Nogueira, o Pe. Silvério, o jornalista Gondim,
provocando o ciúme do marido que a acua cada vez mais, levando-a ao suicídio.

Enredo: Paulo Honório resolve repassar a sua vida a partir do fracasso de seu casamento.
Remonta ao passado, permitindo ao leitor o conhecimento do meio bruto que lhe calcificou a
alma, pois o personagem conhece, desde cedo, a mais dura realidade da vida. No intervalo que
o faz passar de trabalhador braçal a dono de fazenda, vai sendo sedimentada a mente doentia
e possessiva do protagonista. Sentindo necessidade de preparar um herdeiro para a fazenda,
casa-se com Madalena, mulher de boa índole e idéias humanitárias. Da diferença de caráter de
ambos, surge o ciúme doentio do narrador.

VIDAS SECAS de Graciliano Ramos

É a história da retirada de uma família de nordestinos: Fabiano, sinha Vitória, o menino mais
novo, o menino mais velho e a cachorra Baleia. O motivo da retirada é a seca. Desde o início
tomamos contato com a terra árida do sertão e o sofrimento da família de Fabiano. Não existe
comunicação entre os membros da família. As crianças não possuem nomes, acentuando o
processo de animalização das personagens para ressaltar a vida mesquinha dos retirantes. Ao
contrário, a cachorra possui nome e pensamento (humanização dos animais). A mãe é
obrigada a matar o papagaio para alimentar a família. Fabiano mal sabe expressar-se, embora
admire os que conseguem falar bem. Tenta imitar as palavras difíceis. É preso pelo soldado
amarelo, que representa a autoridade do governo. A prisão foi injusta, o que leva Fabiano a
analisar sua situação de homem-bicho, considerando-se vencido e sem ilusões em relação à
vida dos filhos. Sinha Vitória, como o marido, é impaciente com as crianças. Sua ignorância é
menor que a do marido. Consegue raciocinar com clareza e sabe contar. Baleia consegue
pensar e sentir como um ser humano. Fica doente, o que leva Fabiano a pensar que está com
hidrofobia e matá-la. A agonia do animal desperta o processo de auto-análise. A cachorra não
entende os motivos do dono. Fabiano reencontra o soldado amarelo perdido na caatinga e
percebe a possibilidade de vingança num local onde sua superioridade física é evidente. Mas
acaba ensinando o caminho ao soldado. A seca volta e prenuncia a miséria e a fome. As
árvores enchem-se de aves de arribação. Fabiano volta a analisar sua vida. Sinha Vitória
mostra-se otimista em relação ao futuro e transmite um pouco de paz ao marido. Os retirantes
deixam a casa da fazenda onde vivem por causa da seca e retomam a andança sem destino
do início da obra.

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