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A actual versão baseia-se na versão


apresentada no Encontro, tendo sido
enriquecida com alguns “slides”
adicionais e alguns textos ou figuras
suplementares.

Que Serviço Público de Educação queremos para Portugal?


Fundação Gulbenkian – 14 de Fevereiro de 2011
Que Serviço Público de Educação
queremos para Portugal?

1. Uma exigência de CIDADANIA

2. Uma exigência de QUALIDADE

3. Uma exigência de PORTUGAL

4. Uma exigência de LIBERDADE

Que Serviço Público de Educação queremos para Portugal?


Fundação Gulbenkian – 14 de Fevereiro de 2011
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Que Serviço Público de Educação
queremos para Portugal?

1. Uma exigência de CIDADANIA

2. Uma exigência de QUALIDADE

3. Uma exigência de PORTUGAL

4. Uma exigência de LIBERDADE

Que Serviço Público de Educação queremos para Portugal?


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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Declaração Universal dos Direitos do Homem

 Art. 26º, nº 3: “Aos


pais pertence a prioridade do
direito de escolher o género de educação a dar
aos filhos

Constituição da República Portuguesa:


Artigo 16º, nº 2: Os preceitos
constitucionais e legais relativos aos
direitos fundamentais devem ser
interpretados e integrados de harmonia O Estado
com a Declaração Universal dos Direitos português não
cumpre estes
do Homem. preceitos!
Porque não nos
indignamos?
Que Serviço Público de Educação queremos para Portugal?
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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia

 Artigo 14º (Direito à educação)


nº 3: São respeitados, segundo as legislações nacionais
que regem o respectivo exercício, [1] a liberdade de
criação de estabelecimentos de ensino, no respeito
pelos princípios democráticos, e [2] o direito dos
pais de assegurarem a educação e o ensino
dos filhos de acordo com
as suas convicções religiosas,
O Estado
filosóficas e pedagógicas. português não
cumpre estes
preceitos!
Porque não nos
indignamos?
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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Constituição da República Portuguesa

 Artigo 36º (Família, casamento e filiação):


nº 5: “Os pais têm o direito e o dever de educação e manutenção
dos filhos”
 Artigo 67º (Família):
nº 1: “A família, como elemento fundamental da sociedade, tem
direito à protecção da sociedade e do Estado e à
efectivação de todas as condições que permitam a
realização pessoal dos seus membros”

nº 2: “ Incumbe, designadamente, ao Estado para


O Estado
protecção da família: português não
cumpre estes
c) “Cooperar com os pais na educação preceitos!
dos filhos” Porque não nos
indignamos?
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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Constituição da República Portuguesa
 Artigo 74º (Ensino):
nº 1: “Todos têm direito ao ensino com garantia do direito à
igualdade de oportunidades de acesso e êxito
escolar”
nº 2: “Na realização da política de ensino incumbe ao Estado:
a) “Assegurar o ensino básico universal, obrigatório
e gratuito”
e) “Criar um sistema público e desenvolver
o sistema geral de educação pré-escolar”
O Estado
português não
cumpre estes
preceitos!
Porque não nos
indignamos?
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1 - Uma exigência de CIDADANIA
O Estado
Constituição da República Portuguesa português não
cumpre estes
preceitos!
Porque não nos
 Artigo 75º (Ensino público, particular e cooperativo): indignamos?

nº 1: “O Estado criará uma rede de estabelecimentos


públicos de ensino que cubra as necessidades de toda
a população”
nº 2: “O Estado reconhece e fiscaliza o ensino particular e
cooperativo, nos termos da lei”

√ Com a revisão de 1982, o art. 75º da Constituição deixou de


consagrar (como fazia na redacção de 1976) o monopólio da rede
pública e o carácter supletivo do ensino privado.
Note-se bem: Os artigos da Constituição de 1976 foram
aprovados por maioria simples, enquanto as alterações
posteriores o foram por maioria qualificada de dois terços!

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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Constituição da República Portuguesa

√ A revisão de 1982 passou a impor ao Estado o


reconhecimento dos estabelecimentos de ensino
privado e a criação de uma rede escolar de
estabelecimentos públicos que cubra as
necessidades de toda a população.
√ Mas nada é dito, nem podia ser dito, no sentido de
privilegiar esta ou aquela escola e, muito menos,
tirar a liberdade às pessoas, obrigando à inscrição
na escola que os pais ou os alunos não querem!

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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Constituição da República Portuguesa
Mário Pinto, “A Crise na Educação e a Infidelidade à Constituição”, Revista Nova Cidadania (Jan-Mar 2011):

“Depois das revisões sofridas, o Mas, do mesmo passo que se


art. 75º trata apenas da rede compromete a criar escolas
escolar; não conforma nem os públicas, conta também, de
direitos de liberdade nem os facto e de direito, com as
direitos sociais. privadas (que livremente
A Constituição impõe ao Estado poderão ser criadas e
a obrigação de garantir uma procuradas).
rede de estabelecimentos É por isso mesmo que, logo ali
públicos de ensino que tenha no artigo que precisamente
suficiente capacidade para trata da garantia de rede
satisfazer toda a procura escolar, a Constituição
efectiva, porque o Estado não reconhece juridicamente «o
pode obrigar os cidadãos a ensino particular e
criar escolas privadas. cooperativo»”.
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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Constituição da República Portuguesa
 Artigo 43º (Liberdade de aprender e ensinar):
nº 1: “É garantida a liberdade de aprender e ensinar.”
nº 2: “O Estado não pode programar a
educação e a cultura segundo
quaisquer directrizes filosóficas,
estéticas, políticas, ideológicas ou
religiosas.”

O Estado
português não
cumpre estes
preceitos!
Porque não nos
indignamos?
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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Constituição da República Portuguesa
Mário Pinto, “A Crise na Educação e a Infidelidade à Constituição”, Revista Nova Cidadania (Jan-Mar 2011):

“Portanto, o Estado pode criar curricular, etc. Como têm as


escolas; mas não pode universidades públicas.
programar nem dirigir o seu
Assim, a acção do Estado em
projecto educativo e a sua
matéria de educação (para além
actividade educativa, para
do dever geral de regular o
além do direito de regulação
exercício das liberdades para as
geral do ensino e de fiscalização
garantir) é apenas financeira e
e tutela de entes públicos
organizativa de recursos
autónomos.
materiais, sendo-lhe vedada
As escolas estatais têm qualquer opção educativa e
de ter autonomia devendo respeitar e apoiar o
dever e o direito de liberdade
perante o Estado:
educativa dos pais.”
científica, pedagógica,
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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Constituição da República Portuguesa
 Artigo 43º (Liberdade de aprender e ensinar):
nº 3: “O ensino público não será
confessional.”
nº 4: É garantido o direito de criação de
escolas particulares e cooperativas.”

√ As escolas privadas podem ser


confessionais, mas as escolas
públicas/estatais têm de estar
abertas a todas as confissões
religiosas que os seus
alunos/famílias desejarem.

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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Constituição da República Portuguesa

√ Uma escola que imponha paredes


vazias de símbolos religiosos é uma
escola anti-confessional. Nesse
caso, não poderá ser uma escola
pública.
√ Uma escola só é verdadeiramente
pública se nela puderem livremente
exprimir-se a religiosidade e a
irreligiosidade dos alunos/famílias
em causa, sem ninguém se sentir
ameaçado pela diferença.
√ Numa sociedade livre, as
manifestações de liberdade de uns
nunca poderão ser vistas como
ameaças à liberdade de outros.
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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Convenção de Protecção dos Direitos do Homem e das
Liberdades Fundamentais

 Artigo 9° (Liberdade de pensamento, de consciência e de religião)


Qualquer pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de
consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar
de religião ou de crença, assim como a liberdade de manifestar a
sua religião ou a sua crença, individual ou colectivamente, em
público e em privado, por meio do culto, do ensino, de práticas e
da celebração de ritos.
 Artigo 2º do Protocolo nº 1 adicional
A ninguém pode ser negado o direito à instrução.
O Estado, no exercício das funções que tem de
assumir no campo da educação e do ensino, O Estado
português não
respeitará o direito dos pais a assegurar cumpre estes
aquela educação e ensino consoante as preceitos!
suas convicções religiosas e filosóficas. Porque não nos
indignamos?
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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais
e Culturais

 Número 3º do artigo 13º


Os Estados Partes no presente Pacto comprometem-se
a respeitar a liberdade dos pais ou, quando tal for o
caso, dos tutores legais de escolher para seus filhos
(ou pupilos) estabelecimentos de ensino
diferentes dos poderes públicos, mas conformes
às normas mínimas que podem ser prescritas ou
aprovadas pelo Estado
em matéria de educação, e de assegurar
a educação religiosa e moral de seus
filhos (ou pupilos) em conformidade O Estado
português não
com as suas próprias convicções. cumpre estes
preceitos!
Porque não nos
indignamos?
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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Constituição da República Portuguesa
Citando Mário Pinto:

“Não se pode ser mais claro: ensino (Constituição, art.


 As escolas do Estado não 43º nº 2); e a obrigação de
podem ser impostas aos criar uma igualdade de
pais das crianças e jovens oportunidades para todos
pela via do monopólio do não lhe permite pagar a
financiamento público. gratuitidade do ensino nas
suas escolas e não o pagar
 O Estado não pode preferir
nas escolas livremente
uma escolas a outras, não
escolhidas pelos pais.
pode preferir as escolas
públicas às escolas  Tem que financiar o ensino
privadas. para todos, sem preferir
umas escolas a outras.”
 Porque está proibido de
fazer a programação do
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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Constituição da República Portuguesa
Citando Mário Pinto:

Os cidadãos, os que preferem uma


partidos e sindicatos escola e cidadãos que
podem preferir umas preferem outra escola.
escolas a outras, A Constituição não
porque têm liberdade permite esta
de opinião ideológica; discriminação.”
mas o Governo, no
cumprimento da
Constituição e da lei,
não pode discriminar
entre cidadãos
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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Lei de Bases do Sistema de Ensino (Lei nº 46/86)*

 Artigo 1º
nº 3: O sistema educativo desenvolve-se segundo um
conjunto organizado de estruturas e de acções
diversificadas, por iniciativa e sob
responsabilidade de diferentes instituições e
entidades públicas, particulares e
cooperativas.

O Estado
português não
cumpre estes
preceitos!
Porque não nos
* Lei com valor reforçado (com pequenas alterações: Leis nº 115/97, 49/2005 e 85/2009) indignamos?
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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Lei de Bases do Sistema de Ensino (Lei nº 46/86)*

 Capítulo VII - Ensino particular e cooperativo


Artigo 57º (Especificidade)
nº 1: É reconhecido pelo Estado o valor do ensino
particular e cooperativo como uma expressão
concreta da liberdade de aprender e
ensinar e do direito da família a orientar
a educação dos filhos.

O Estado
português não
cumpre estes
preceitos!
Porque não nos
* Lei com valor reforçado (com pequenas alterações: Leis nº 115/97, 49/2005 e 85/2009) indignamos?
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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Lei de Bases do Sistema de Ensino (Lei nº 46/86)*

 Artigo 58º (Articulação com a rede escolar)


nº 1: Os estabelecimentos do ensino particular e
cooperativo que se enquadrem nos princípios gerais,
finalidades, estruturas e objectivos do sistema educativo
são considerados parte integrante da rede
escolar.
nº 2: No alargamento ou no ajustamento da rede o
Estado terá também em consideração as
iniciativas e os estabelecimentos
particulares e cooperativos, numa
perspectiva de racionalização de meios, de O Estado
português não
aproveitamento de recursos e de garantia cumpre estes
de qualidade. preceitos!
Porque não nos
* Lei com valor reforçado (com pequenas alterações: Leis nº 115/97, 49/2005 e 85/2009) indignamos?
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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Lei de Bases do Sistema de Ensino (Lei nº 46/86)*

 Artigo 61º (Intervenção do Estado)


nº 2: O Estado apoia financeiramente as iniciativas e os
estabelecimentos de ensino particular e
cooperativo quando, no desempenho efectivo de
uma função de interesse público, se integrem no
plano de desenvolvimento da educação, fiscalizando
a aplicação das verbas concedidas.

O Estado
português não
cumpre estes
preceitos!
Porque não nos
* Lei com valor reforçado (com pequenas alterações: Leis nº 115/97, 49/2005 e 85/2009) indignamos?
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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Lei de Bases do Sistema de Ensino (Lei nº 46/86)*

 Mas quem é que tem de ser financiado? Quem precisa, que são as
crianças e os jovens (isto é as famílias) e não as escolas.
 O Estado entrega o dinheiro às escolas e não às famílias (para
entregarem às escolas) apenas porque é mais fácil sob o ponto de
vista administrativo.
 Mas o objectivo é financiar as famílias! Não é financiar as
escolas!
 Perder a noção do verdadeiro objectivo do financiamento do Estado
favorece o entendimento perverso de que o Estado deve financiar
todas as escolas de que ele é dono (mesmo aquelas que os
alunos rejeitariam se tivessem liberdade de escolha?!), mas não
deve ser financiar escolas de que não é dono (mesmo aquelas que
os alunos prefeririam se tivessem liberdade de escolha?!).

Que Serviço Público de Educação queremos para Portugal?


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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Lei de Bases do Ensino Particular e Cooperativo
(Lei nº 9/79)
 Artigo 6º
nº 2: No âmbito desta competência são,
designadamente, atribuições do Estado:
d) Conceder subsídios e celebrar contratos para
o funcionamento de escolas particulares
e cooperativas, de forma a garantir
progressivamente a igualdade de
condições de frequência com o
ensino público nos níveis gratuitos O Estado
e a atenuar as desigualdades português não
cumpre estes
nos níveis não gratuitos. preceitos!
Porque não nos
indignamos?
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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Lei da Liberdade do Ensino (Lei nº 65/79)

 Artigo 2º
e) Existência progressiva de condições de livre
acesso aos estabelecimentos públicos,
privados e cooperativos, na medida em que
contribuam para o progresso dos sistema
nacional de educação, sem
discriminações de natureza
económica, social ou regional. O Estado
português não
cumpre estes
preceitos!
Porque não nos
indignamos?
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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Estatuto do Ensino Particular e Cooperativo (DL
nº 553/80)

 Artigo 4.º
Compete ao Estado:
g) Promover progressivamente o acesso às escolas
particulares em condições de igualdade com
as públicas;

O Estado
português não
cumpre estes
preceitos!
Porque não nos
indignamos?
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1 - Uma exigência de CIDADANIA
Lei da Rede Escolar (DL nº 108/88)
 Artigo 2º (Rede escolar)
nº 1: As escolas particulares e cooperativas passam a fazer
parte integrante da rede escolar, para efeitos de
ordenamento desta.
 Artigo 4º (Dimensionamento da rede escolar)
O dimensionamento da rede escolar dependente do Ministério
da Educação, no que respeita ao seu alargamento, reconversão
ou ajustamento, terá obrigatoriamente em
consideração as iniciativas dos estabelecimentos
particulares e cooperativos, tendo em vista uma O Estado
melhor racionalização dos meios disponíveis, um português não
cumpre estes
melhor aproveitamento de recursos e a defesa e preceitos!
Porque não nos
garantia da qualidade do ensino ministrado. indignamos?
Que Serviço Público de Educação queremos para Portugal?
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Que Serviço Público de Educação
queremos para Portugal?

1. Uma exigência de CIDADANIA

2. Uma exigência de QUALIDADE

3. Uma exigência de PORTUGAL

4. Uma exigência de LIBERDADE

Que Serviço Público de Educação queremos para Portugal?


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2 - Uma exigência de QUALIDADE
A dimensão trágica

Não se indemniza uma criança que


não teve uma educação adequada,
pois perdeu-a para sempre.

Essa é a tragédia da educação sem


qualidade.
Quem é
responsável
por esta
tragédia?

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2 - Uma exigência de QUALIDADE
Liberdade de aprender e de ensinar
 Educar com qualidade é capacitar para o
caminho de realização pessoal de cada um.
 A busca do caminho de realização pessoal de
cada um só tem sentido se for feita em liberdade,
entendida esta como capacidade de optar
perante a experiência da realidade que
nunca cessamos de descobrir ao longo da vida.
 Por isso, educar com qualidade é educar
para a liberdade.
 Mas educar para a liberdade exige educar
em liberdade (de aprender e de ensinar).

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2 - Uma exigência de QUALIDADE
Educar em liberdade

Liberdade de aprender e ensinar


para que possa haver *
 … uma proposta de sentido
 … uma vivência coerente
 … capacidade crítica
Só assim será possível capacitar cada um para a
busca do seu caminho de realização
pessoal.
* Luigi Giussani, Educar é Um Risco, Diel, 1998 (tradução portuguesa de Il Rischio Educativo, 1995)

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2 - Uma exigência de QUALIDADE
Liberdade para a proposta de sentido

 Uma educação só existe no quadro de uma cultura, de


uma tradição (de uma proposta de sentido).
 Uma proposta de sentido tem a ver com valores. Mas os
valores não existem desligados e isolados.
 Cada povo foi, ao longo de séculos, afinando e
apurando a sua atitude orgânica face aos valores.
 Existem muitas “propostas de sentido”, mas todas
elas são feixes coerentes e equilibrados de valores. Só
nesse seio é que pode haver educação.
 Os maiores monstros da história são pessoas bem-
intencionadas, mas dirigidas por uma única finalidade.

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2 - Uma exigência de QUALIDADE
Liberdade para que a vivência seja coerente

 Um homem realiza-se no encontro com os outros.


Cada um é educado na sua vida pessoal e no
confronto com as vidas reais dos outros.
 A educação faz-se dentro de uma experiência de
vida (de uma vivência). Ela não é
fundamentalmente teórica, mas prática.
 A velha máxima «Diz-me e esquecerei. Mostra-me e
lembrar-me-ei. Envolve-me e compreenderei» mostra
bem como a educação implica uma envolvência numa
proposta coerente de vida: os pais, os professores
e ao amigos devem ser modelos coerentes dessa
proposta.
Que Serviço Público de Educação queremos para Portugal?
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2 - Uma exigência de QUALIDADE
Liberdade crítica (do grego "capaz de discernir“)
 O resultado de uma educação, realizada a partir de uma tradição
(proposta de sentido) e expressando-se dentro de uma
vivência coerente com essa proposta, tem de ser o de formar a
capacidade pessoal de usar critérios de escolha, selecção e avaliação
das realidade e das acções (usar a liberdade!).
 A proposta de vida é feita a um ser racional, que tem de ser capaz de
a julgar para realmente aderir a ela voluntariamente.
 A simples absorção de regras, orientações e valores não constitui
ainda educação, por muito detalhada e profunda que seja. Só
quando questionamos essas ideias e as aceitamos ou recusamos é
que se dá a verdadeira absorção educativa.
 A crítica é, pois, um elemento indispensável para a educação. E só
pode haver verdadeira crítica quando há liberdade.

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2 - Uma exigência de QUALIDADE
Liberdade de aprender e de ensinar

Existindo …
 … uma proposta de sentido
 … uma vivência coerente
 … capacidade crítica
… torna-se possível a busca em liberdade
do caminho de realização pessoal de
cada um.

Que Serviço Público de Educação queremos para Portugal?


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Que Serviço Público de Educação
queremos para Portugal?

1. Uma exigência de CIDADANIA

2. Uma exigência de QUALIDADE

3. Uma exigência de PORTUGAL

4. Uma exigência de LIBERDADE

Que Serviço Público de Educação queremos para Portugal?


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2 - Uma exigência de PORTUGAL
O sistema de ensino estatal tendencialmente
monopolista teve o mérito de assegurar:

 O ensino (obrigatório) gratuito a todos


os cidadãos;
 A generalização da escolaridade
obrigatória;
 A definição dos currículos em função
das necessidades do mercado de trabalho
das sociedades industriais dos séculos 19
e 20.

Que Serviço Público de Educação queremos para Portugal?


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2 - Uma exigência de PORTUGAL
… mas teve o demérito de:
1. Misturar o papel de “garante” do acesso a um direito
com o papel de “fornecedor” desse acesso;
2. Misturar o papel de “juiz” da qualidade de ensino com a
de “réu” dessa qualidade;
3. Desviar à atenção do Estado sobre as reais necessidades
educativas das crianças e dos jovens para as
necessidades das escolas (dos seus “factores de
produção”);
4. Os Ministérios de Educação passarem a ser Ministérios
das Escolas;
5. Incentivar o “controlo” político e burocrático do ensino;
Continua…
Que Serviço Público de Educação queremos para Portugal?
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2 - Uma exigência de PORTUGAL
… mas teve o demérito de: (Continuação…)
6. Centralizar e burocratizar a gestão das escolas, dos currículos e
dos docentes, transformando as escolas em repartições
públicas;

7. Impedir a inovação. É que, sem liberdade de escolha, não há


competição; sem competição, não há inovação; e, sem
inovação, não há progresso.

8. Permitir que as escolas se tornem reféns de grupos que


procuram veicular a sua ideologia e defendem, em primeira
instância, os seus interesses particulares;

9. Facilitar as concepções totalitárias da educação, do tipo «A


República educa os cidadãos»

Que Serviço Público de Educação queremos para Portugal? Continua… 40


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2 - Uma exigência de PORTUGAL
… mas teve o demérito de: (Continuação…)

10. “Privilegiar” as escolas estatais, designadamente através


do apoio financeiro prioritário ou mesmo exclusivo aos
alunos das “suas” escolas;

11. Desresponsabilizar progressivamente os pais


da educação dos seus filhos.

Quem é
responsável
por esta
tragédia?

Que Serviço Público de Educação queremos para Portugal?


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2 - Uma exigência de PORTUGAL
A caminho do futuro...
 A última década do século XX foi marcado por
importantes reformas em diversos países
 O traço comum destas reformas é:
• Fim do monopólio estatal na educação;
• Autonomia das escolas (não delegação de poderes!);
• Correspondente responsabilização (as consequências
das decisões são suportadas pelas escolas!);
• Liberdade de escolha da escola pelos pais e pelos
alunos;
• Financiamento às famílias e não às escolas.

Que Serviço Público de Educação queremos para Portugal?


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42
2 - Uma exigência de PORTUGAL
A caminho do futuro...
 Abordagem do FLE:
 Evitar o confronto ideológico reduzido à dicotomia
entre ensino estatal (público) versus privado.
 Não contestar qualquer tipo escola. Contestar, isso sim, a
descriminação que o Estado
faz entre escolas.
 A questão é de
liberdade, de
igualdade e de
qualidade do ensino
para todos.

Que Serviço Público de Educação queremos para Portugal?


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2 - Uma exigência de PORTUGAL
A caminho do futuro...
 Propor um SERVIÇO PÚBLICO DE EDUCAÇÃO
que garanta:
Os direitos fundamentais (para todos)
liberdade de aprender
liberdade de ensinar
A qualidade de educação
A sustentabilidade financeira dos encargos =
compatibilidade com as restrições orçamentais
do Estado.

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2 - Uma exigência de PORTUGAL
A caminho do futuro...
 Ponto de partida:
Rede Escolar
Escolaridade
obrigatória “Repartições “Repartições
públicas” quasi-públicas”

Exemplos: O Instituto
As escolas
Escolas Estatais estatais em geral
de Odivelas e o
Colégio Militar

As actuais escolas privadas


Escolas As actuais escolas
com contratos de
Privadas privadas em geral
associação *

* Os contratos de associação têm uma natureza precária, não dando garantias de


continuidade aos pais e, por isso, também aos seus professores e restante
trabalhadores e aos promotores das escolas.
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2 - Uma exigência de PORTUGAL
A caminho do futuro...
 Ponto de chegada:

Rede Escolar
Escolaridade Serviço
obrigatória Serviço Público de
Independente de
Educação
Educação

As escolas que As escolas que não


aceitam os aceitam os
Escolas Estatais e
requisitos do requisitos do
Privadas “Serviço Público de “Serviço Público de
Educação” Educação”

Que Serviço Público de Educação queremos para Portugal?


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2 - Uma exigência de PORTUGAL
A caminho do futuro...
Eduardo Marçal Grilo e Guilherme Oliveira Martins, “Escola pública e serviço
público de educação”, Semanário EXPRESSO (8 Março 2008):
“Não deve, porém, confundir-se escola pública e serviço público
de educação, pois que este tanto pode ser prestado por
instituições públicas como por instituições privadas, sejam estas
jardins de infância, escolas básicas ou secundárias,
universidades ou politécnicos.
Deste modo, o serviço público tem que ver com a prestação de
educação e aprendizagem segundo uma lógica de interesse
geral, mobilizando a iniciativa e a criatividade social.”

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2 - Uma exigência de PORTUGAL
Serviço Público de Educação

 Garante a liberdade de aprender:


• Ensino gratuito (propinas pagas pelo Estado) e
universal;
• Escolha da escola por parte do aluno ou da família;
• Garantia de vaga numa escola prestadora do SERVIÇO
PÚBLICO DE EDUCAÇÃO;
• A escola não pode escolher os alunos; quando a procura
é superior à oferta, terá de haver sorteio entre os
candidatos; *
• Criação da figura do conselheiro local para a educação.
* Estudos demonstram que só há segregação se a escolas puderem seleccionar os seus
alunos. Em qualquer caso, maior é a actual segregação introduzida pelo zonamento.

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2 - Uma exigência de PORTUGAL
Serviço Público de Educação

 Garante a liberdade de ensinar:


• Qualquer iniciativa de escola pode aderir, devendo
respeitar determinados requisitos:
 Projecto educativo integra o currículo nuclear;
 Respeito pelos valores civilizacionais;
 Participa, solidariamente com as outras escolas, na
garantia do direito de educação a todos;
 Não selecciona os alunos;
 Não cobra propinas para além do que lhe é pago pelo
Estado.

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2 - Uma exigência de PORTUGAL
Serviço Público de Educação

 Garante a liberdade de ensinar:


• O financiamento é feito às famílias e não às
escolas;
• É concedido financiamento adicional para
necessidades específicas (necessidades
especiais, background cultural dos alunos,
localização geográfica, especificidade do
projecto educativo)
• As escolas podem receber outras fontes de
financiamento (mas excluindo propinas)

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2 - Uma exigência de PORTUGAL
Serviço Público de Educação

 Garante a qualidade da educação:


• Porque as escolas gozam de ampla
autonomia:
Na escolha do projecto educativo, sendo
responsabilizada pelos respectivos resultados;
Na definição do calendário escolar e do horário;
Na adaptação dos currículos e da pedagogia às
necessidades concretas de cada aluno;
Na selecção e contratação dos professores;
Na gestão administrativa e financeira.

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2 - Uma exigência de PORTUGAL
Serviço Público de Educação
 Garante a qualidade da educação:
• Através da regulação da concorrência saudável
entre as escolas
 Avaliação (do “valor acrescentado” em cada aluno):
• Exames nacionais e avaliação externa;
• Apoio à realização e publicação de estudos comparados;
 Apoio pedagógico e à gestão
 Inspecção:
• Pedagógica;
• Administrativa e financeira.

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2 - Uma exigência de PORTUGAL
Serviço Público de Educação
 Garante a sustentabilidade financeira dos encargos
• Medidas permanentes:
 as alterações terão de ser compatíveis com as restrições
orçamentais do Estado;
 o “contrato de associação” é substituído por “contrato de
serviço público de educação”;
 as escolas do Estado adquirem total autonomia e também
assinam os mesmos “contratos de serviço público de
educação”;
• Medidas temporárias:
 A escolha dos professores pelas escolas tem de dar prioridade
aos actuais docentes;
 O alargamento a novas escolas deverá ser gradual.
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2 - Uma exigência de PORTUGAL
Serviço Público de Educação
 Garante a sustentabilidade financeira dos
encargos
Estrutura do Ministério da Educação: a maior
parte dos actuais serviços do Ministério da
Educação transformam-se em entidades
autónomas de assessoria e apoio às escolas,
evoluindo de acordo com as receitas que por essa
via conseguirem obter.

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2 - Uma exigência de PORTUGAL
Serviço Independente de Educação
 As escolas da rede educativa que não desejarem
aderir aos requisitos do SERVIÇO PÚBLICO DE
EDUCAÇÃO poderão funcionar como ESCOLAS
INDEPENDENTES, sendo que
• podem seleccionar os alunos;
• não estão obrigadas a garantir, solidariamente, o
acesso aos alunos da vizinhança;
• são livres de cobrar as propinas que desejarem;
• o montante de financiamento do Estado às famílias
é inferior ao que é concedido aos alunos das escolas
que prestam o serviço público.

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Que Serviço Público de Educação
queremos para Portugal?

1. Uma exigência de CIDADANIA

2. Uma exigência de QUALIDADE

3. Uma exigência de PORTUGAL

4. Uma exigência de LIBERDADE

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4 - Uma exigência de LIBERDADE
A liberdade está em perigo (1)

1. O Estado considerar que as suas iniciativas são


mais valiosas do que as iniciativas dos cidadãos é
a visão típica dos inimigos da liberdade. É a visão
que alimenta todos os regimes totalitários.
2. Não nos deixemos enganar! Todos os regimes
totalitários são contra a liberdade de educação.
3. Talvez não seja claro, mas os inimigos da
liberdade de educação que por aí andam são,
infelizmente para eles e para nós, inimigos da
liberdade

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4 - Uma exigência de LIBERDADE
A liberdade está em perigo (2)

4. Sem liberdade de educação, todas as outras


liberdades têm tendência a definhar, começando
pelas liberdades de pensamento, de consciência, de
religião e de expressão.
5. Sem liberdade de educação, nunca teremos uma
cultura de verdadeira liberdade em Portugal e o risco
de a democracia não se consolidar estará sempre
presente.

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4 - Uma exigência de LIBERDADE
A liberdade está em perigo (4)

Já alguma vez
pensaste no facto
de que nos querem
fechar num espaço
cercado?

Onde estão
os inimigos
da
liberdade?

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4 - Uma exigência de LIBERDADE
A liberdade está em perigo (4)

Onde estão
os inimigos
da
liberdade?

“Ok, podem ter liberdade de expressão,


mas cuidado com a linguagem!”

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4 - Uma exigência de LIBERDADE
A liberdade está em perigo (3)

Onde estão
os fora de
lei?

• Só há liberdade no
espaço público se nele
puderem exprimir-se todas as
opções dos cidadãos.
• Numa sociedade livre, os espaços públicos são
espaços de liberdade e não espaços vazios de liberdade.
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Anexo – Os retrógrados… (1)

Extractos do artigo de Mário Pinto: “A Recente Lei do Ensino Superior


- Uma Lei Retrógrada”, Jornal PÚBLICO de 11/12/2000

Diz a Resolução do Parlamento Europeu sobre a liberdade de ensino


na Comunidade Europeia (14-03-1984, parágrafo 9): "o direito à
liberdade de ensino implica, para os Estados membros, a obrigação
de tornar possível, também no plano financeiro, o exercício prático
deste direito, e de conceder às escolas privadas as subvenções
públicas necessárias ao exercício da sua missão e ao preenchimento
das suas obrigações em condições iguais àquelas de que beneficiam
os estabelecimentos públicos correspondentes, sem discriminação a
respeito dos organizadores das escolas, dos pais, dos alunos e do
pessoal."

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Anexo – Os retrógrados… (2)

Outros países da Europa vêm, desde há muitos anos, nesta linha do


respeito pela liberdade de ensino dos cidadãos e da sociedade civil,
estabelecendo estatutos de grande autonomia para as escolas
privadas, com regimes de financiamento que não discriminam
injustamente as escolas privadas das escolas públicas. Talvez mereça
destaque, ainda, pelo seu grande prestígio jurídico, a doutrina que o
Tribunal Constitucional federal Alemão estabeleceu, em decisão já
dos anos oitenta, no sentido de que a liberdade de criação de
escolas privadas, na sua dimensão positiva, postula que o Estado crie
condições efectivas, incluindo financeiras, para que essa liberdade
possa ser exercida efectivamente. E que, na sociedade actual, há
uma presunção de que as escolas privadas (expressão da liberdade
fundamental dos cidadãos) não podem ser criadas e mantidas sem o
auxílio do Estado.
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Anexo – Os retrógrados… (3)

E como tem sido a nossa orientação, em Portugal? Tradicionalmente,


Portugal concede privilégio ao ensino do Estado, e maltrata o ensino
privado. Em vez de apoiar a iniciativa cultural livre e responsável dos
cidadãos, no pluralismo da sociedade civil, prefere dar vantagens à
iniciativa política do Estado (na tradição pombalina, republicana,
estado-novista e, enfim, estatista do nosso primeiro texto
constitucional de 1976).
Numa brevíssima resenha da nossa evolução mais recente, dir-se-á
que, desde a Revolução de Abril, a orientação consagrada na
Constituinte foi estatista, com a imposição do princípio do ensino
oficial para toda a população e a recusa de consagrar expressamente
o princípio da liberdade de escola privada.

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Anexo – Os retrógrados… (4)

A breve prazo, porém, reconheceu-se que tal orientação era


violadora da própria Declaração Universal dos Direitos do Homem. E
foi por isso que, logo três anos depois, em 1979, a Assembleia da
República aprovou, em grande consenso, como verdadeiro pacto de
regime, a chamada Lei de Bases do Ensino Particular e Cooperativo
(Lei 9/79), onde inequivocamente se contrariava o texto
constitucional. O qual, por sua vez, foi alterado logo na primeira
revisão constitucional de 1982. Desde então, a legislação portuguesa
sobre a liberdade de ensino (isto é, em termos práticos, sobre a
escola privada) desenvolveu-se a partir daquela Lei de Bases, a meu
ver com duas características evidentes.

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Anexo – Os retrógrados… (5)

Por um lado, afirmando sempre os princípios da liberdade de ensino


e de escola privada, com expressa aceitação do direito de livre
escolha entre as escolas públicas e privadas e com a consequência
do dever de o Estado apoiar também financeiramente as escolas
privadas. Por outro lado, deixando para o Governo uma grande
liberdade de concretizar esses apoios financeiros, com base num
critério de progressividade e de disponibilidade de recursos
financeiros. Quer dizer: boa orientação de princípios, pelo
reconhecimento da liberdade do ensino privado e do serviço público
das escolas privadas; mas fraca concretização dos meios de apoio a
esse serviço público.

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Anexo – Os retrógrados… (6)

(…) Inexplicavelmente (temos vindo a assistir ao) enfatizar, em


matéria de financiamento, da ideologia vencedora na Constituinte de
1976 para as escolas privadas - estabelecendo que "as carências do
serviço público de educação em áreas de formação consideradas
prioritárias para o País podem, enquanto subsistirem, ser supridas
por contratos-programa por tempo determinado", ou por apoio
directo aos alunos que "não tenham lugar nos estabelecimentos da
rede pública". A própria acção social escolar nas escolas privadas
apenas está admitida em termos de poder beneficiar de apoio
financeiro do Estado - simples possibilidade legal, portanto. No
espírito da lei está claramente o reavivamento de uma concepção de
rede pública detentora do monopólio da prestação de serviço
público do ensino, que as escolas privadas apenas precária e
supletivamente podem exercer.
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Anexo – Os retrógrados… (7)

(Vale a pena citar) a posição de Sousa franco acerca da liberdade de


ensino. Citarei apenas uma breve passagem de um seu artigo: "não
sendo o ensino só um bem mercantil, porque há-de ele ser caro nas
instituições de ensino privado e cooperativo, e barato nas instituições
de ensino público? Penso que só há lima resposta para isto: é que
esta situação resulta de o Estado querer fazer uma discriminação e
querer empurrar a generalidade da população para o ensino público,
dificultando o acesso dos pobres à liberdade de opção escolar". E
afirma ainda Sousa Franco: ·0 problema central está na paridade
financeira entre escola pública e privada, sem a qual não há
igualdade e não há liberdade efectiva de escolha do tipo de ensino"
(v. Artigo em Ensino livre. Uma fronteira da hegemonia estatal,
(1994).

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Anexo – Os retrógrados… (8)

Conclusão: (Vinca-se) o monopólio dos privilégios das escolas


públicas, e marginalizam-se as escolas privadas, em vez de as apoiar
e aproximar das escolas públicas, de acordo com uma correcta
interpretação da liberdade de educação e cultura dos cidadãos e
com um desígnio de vitalização da sociedade civil - orientação que é
cada vez mais consensual na Europa das democracias pluralistas.

Mais de 20 anos depois, voltamos a 1979, com a questão (reaberta)


da escola privada supletiva. Para onde nos encaminhamos? Para uma
concepção estatista, de privilégio da escola oficial? Ou para a
liberdade de ensino, com um regime de paralelismo escolar?

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