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Tópico Especial

Tratamento Interdiciplinar I: Considerações


Clínicas e Biológicas na Verticalização de Molares
Interdisciplinary Treatment I. Clinical and Biological
Considerations in Molar Uprighting

Resumo INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por finalida- A clínica ortodôntica cada vez mais
de mostrar diferentes abordagens na ver- vem sendo requisitada para trabalhar em
ticalização de molares com aparelhos fi- conjunto com outras especialidades devi-
xos e discutir, baseado em casos clíni- do às imensas possibilidades de melhoria
Reinaldo dos
cos, o tratamento ortodôntico integrado no prognóstico de tratamentos integra-
Marcos dos
R. P. Janson R. P. Janson com outras especialidades. A verticaliza- dos que a movimentação dentária pro-
ção de molares é uma terapia ortodônti- porciona. Cabe ao ortodontista cada vez
ca, muito utilizada em pacientes adultos, mais procurar conhecimentos relaciona-
de grande validade para os procedimen- dos com as outras especialidades, princi-
tos de prótese, periodontia e implante. palmente com a periodontia, a prótese e
Importantes benefícios podem ser con- a implantodontia, para que possa traçar
seguidos durante a movimentação de mo- o melhor plano de tratamento para os
lares inclinados devido à perda prema- pacientes. As oportunidades são muitas;
Paulo Martins
Ferreira tura de dentes posteriores, dos quais po- pois além da correção das más oclusões
demos citar: paralelismo dos dentes que de Cl I, Cl II e Cl III, dentárias ou
servirão de apoio à prótese fixa ou re- esqueléticas, que constituem a grande
movível, obtenção de espaço edêntulo maioria dos tratamentos ortodônticos,
adequado, eliminação ou redução de de- pode-se com movimentos específicos,
feitos ósseos verticais sem necessidade como por exemplo, com o tracionamen-
de procedimentos cirúrgicos e melhora to coronal radicular, corrigir defeitos ós-
na proporção coroa-raiz em molares com seos isolados, restaurar as distâncias bio-
envolvimento periodontal. Confeccionan- lógicas periodontais, possibilitar a restau-
do-se a prótese sobre dentes verticaliza- ração de dentes traumatizados assim
dos, seja ela fixa ou removível, restaura- como preparar o futuro local para um
se a função normal da mastigação, pois implante aproveitando-se um dente com-
se mantém as forças oclusais direciona- prometido periodontalmente. Da mesma
das ao longo eixo dos dentes preservan- maneira, com a intrusão é possível a re-
do dessa forma a saúde periodontal1, 2. abilitação do segmento poste-

Marcos dos Reis Pereira Janson *


Reinaldo dos Reis Pereira Janson **
Palavras-chave: Paulo Martins Ferreira ***
Tratamento interdisci-
plinar; Verticalização
de molares; Pequenos * Especialista em Ortodontia pela FOB-USP-BAURU.
movimentos ortodôn- ** Mestre em Reabilitação Oral pela FOB-USP-BAURU; Especialista em Periodontia pela FOB-USP-BAURU.
*** “Master of Sciences” em Periodontia pela Universidade de Boston, USA; Professor Doutor do Departamento de
ticos; Orto-perio. Prótese da FOB-USP-BAURU.

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rior antagônico em áreas de perda entrando assim em contato direto rante a verticalização freqüentemen-
precoce de dentes posteriores e cor- com a região das papilas, podendo te obtém-se duas variáveis de força:
reção da topografia gengival de co- acarretar inflamações gengivais e uma no sentido distal e outra de ex-
roas de dentes anteriores quando futuras perdas ósseas. trusão, sendo esta responsável pela
estas se encontram desniveladas e - Cáries nas superfícies de contato redução da bolsa periodontal quan-
desta maneira, enumera-se uma distal do segundo molar: devido à difi- do presente. (Fig. 8,9,10,11, 12A,B,
grande lista de movimentos especí- culdade de higienização, decorrente do 13,14). Durante a extrusão dentá-
ficos que podem ser decisivos no pla- posicionamento dentário, é comum en- ria, desde que haja saúde periodon-
nejamento de tratamentos integra- contrar-se cáries interproximais. (Fig. 2) tal, com ausência de inflamação e
dos. Neste primeiro artigo será abor- - Extrusão do dente antagonista: controle da placa bacteriana6, tanto
dada a verticalização de molares, tó- os dentes sem contato oclusal ten- o osso alveolar quanto o periodonto
pico extremamente interessante tan- dem a extruir, dificultando a recons- tendem a acompanhar o dente no
to pela movimentação em si como trução protética. (Fig. 3) sentido oclusal7, 8, 9,10, 11. BROWN12, em
também pelos benefícios advindos - Alteração do espaço edêntulo: 1973, realizou trabalho para avaliar
desta, e que apresenta grande inci- com a mesialização dos molares, ob- o comportamento de bolsas periodon-
dência no dia a dia do ortodontista. viamente há diminuição do espaço tais localizadas na mesial de dentes
edêntulo, e desde que este não seja inclinados após a movimentação or-
FATORES RELACIONADOS: reconquistado, as próteses ficarão es- todôntica. Foram selecionados paci-
Geralmente os molares inclina- teticamente inadequadas. (Fig. 4 e 5) entes que apresentavam defeitos ós-
dos apresentam etiologia semelhan- - Colapso oclusal, principalmente seos por mesial de molares inclina-
te, ou seja, em um determinado pe- quando as perdas são bilaterais, oca- dos, com profundidade média de 8,0
ríodo o paciente teve um ou mais sionando trauma na região dos dentes mm, medidos da margem gengival ao
dentes posteriores extraídos, fre- anteriores superiores: Para cada 1mm osso, exibindo deposição de placa
qüentemente primeiros molares in- perdido de contato posterior dá-se, em bacteriana, inflamação gengival e
feriores, por causas diversas tais média, a diminuição de 3 mm na re- modificações proliferativas da arqui-
como doença periodontal, fraturas, gião anterior3; observa-se também que tetura gengival. Dois grupos foram
cáries extensas, iatrogenias e outros na perda bilateral, os contatos dentári- utilizados na pesquisa: no primeiro,
fatores e o espaço resultante não foi os migram para mesial, pelo posicio- chamado grupo controle, no qual a
restaurado. Como conseqüência, os namento anterior da mandíbula, oca- profundidade média da bolsa era de
dentes mais posteriores migram para sionando toque dos dentes anteriores 6 mm, foram realizados procedimen-
mesial e os dentes mais anteriores inferiores com os dentes anteriores su- tos de raspagem e alisamento radi-
migram para distal criando um qua- periores, determinando situação de cular inicial e posteriormente contro-
dro típico que envolve as seguintes trauma oclusal primário com risco po- lados pelos mesmos procedimentos
características: tencial de causar perdas ósseas na re- a cada 2 semanas, durante 7 meses.
- Modificação da anatomia óssea gião anterior se este persistir por perío- No segundo grupo, foram realizados
por mesial dos molares: o dente deve dos de tempo prolongados. (Fig. 6 e7) os mesmos procedimentos iniciais,
ser entendido (quando o periodonto porém em seguida foram iniciadas as
está saudável) como uma unidade BENEFÍCIOS DA VERTICA- verticalizações destes dentes com
dente-periodonto-osso, o que signifi- LIZAÇÃO DOS DENTES POSTE- aparelhos fixos. Os resultados encon-
ca que qualquer modificação em seu RIORES trados foram empolgantes. No gru-
posicionamento acarreta as mesmas Como já foi amplamente divulga- po controle houve redução da bolsa
modificações em seu periodonto; as- do na literatura4,5, as áreas de ten- em média de 1,0mm, enquanto que
sim sendo quando este se inclina, leva são e pressão do ligamento periodon- no grupo experimental houve uma
para um ponto mais apical a sua in- tal norteiam as modificações ósseas redução de 0,38mm com os proce-
serção conjuntiva e esta leva consigo induzidas pelo movimento ortodôn- dimentos iniciais e mais 3,12mm
a crista óssea e conseqüentemente a tico ocasionando reabsorção e neo- após a movimentação ortodôntica,
margem gengival, delineando situação formação ósseas subseqüentes. Na totalizando redução de 3,5mm. A
anatômica bem particular (Fig. 1 e 2). verticalização obtém-se benefícios verticalização foi realizada em mé-
- Áreas de impacção alimentar advindos destas modificações pecu- dia no tempo de 3 a 4 meses, per-
na região entre os pré-molares: com liares, e o processo é facilmente vi- manecendo em contenção por mais
a distalização que ocorre nos pré- sualizado se novamente levar-se em 3 meses. Concluiu-se, com base na
molares, abrem-se espaços entre consideração o aspecto de unidade pesquisa, que as modificações favo-
estes e os alimentos são impactados dente-periodonto-osso alveolar. Du- ráveis na topografia óssea e gen-

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FIGURAS 1 e 2 - Inclinação dos molares para mesial, com modificação topográfica gengival, que demonstra o conceito
de unidade dente-osso-periodonto, ou seja, de acordo com o movimento dentário, o osso e todo o periodonto de
sustentação tende a acompanhá-lo. Nota-se que o mesmo desenho delineado no osso (Rx) pode ser visualizado no
delineamento das margens gengivais (setas maiores). A seta menor demonstra presença de cárie incipiente nas superfícies
distal e mesial do ponto de contato dos molares.

FIGURA 3 - Extrusão do primeiro molar superior direito,


decorrente da ausência do antagonista inferior.

FIGURAS 4, 5 - Prótese de tamanho inadequado, deficiente esteticamente e adaptada sobre dentes inclinados. O ideal
seria a verticalização dos elementos inclinados, para posteriormente realizar a prótese.

FIGURAS 6, 7 - As perdas múltiplas bilaterais posteriores ocasionaram a migração do contato oclusal para a região
anterior, causando trauma de oclusão nos dentes anteriores superiores e abertura de espaços entre eles.

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FIGURA 8 - Topografia óssea FIGURA 9 - Durante a verticalização FIGURA 10 - No final do movimento
modificada devido à inclinação mesial ocorrem dois vetores de força, no observa-se a topografia óssea
do molar. Nota-se que o início da sentido distal e de extrusão, modificada pelo osso neoformado (ON)
inserção conjuntiva (IC), que pode ser tensionando as fibras nestas direções e a estabilidade da inserção conjuntiva
detectada com a sonda periodontal e conseqüentemente induzindo nova na mesma posição do início (IC), não
(SP), delineia a posição do osso. conformação do tecido ósseo (área havendo alteração na distância em
em destaque no osso). relação à junção cemento-esmalte
(JCE), demonstrando o conceito de
unidade dente-periodonto-osso
alveolar. (Diagramas modificados a
partir de WISE, KRAMER24).

FIGURA 11 - Radiografia de segundo e terceiro molar


inclinados, com modificação da topografia óssea e defeito
vertical na mesial do segundo molar (seta peq.) e no terceiro
molar lesão de furca (seta escura) e na distal (seta grande).

A B
FIGURA 12 - A) Rx da mesma área no final do movimento de verticalização dos molares. Notar o aumento da lesão no terceiro
molar, e início de neoformação na mesial do segundo molar (setas). B) Rx 8 meses após final do movimento e já com a prótese
definitiva. O terceiro molar foi extraído. Observar o nivelamento que ocorreu no delineamento ósseo e eliminação do defeito na
mesial do segundo molar, resultado exclusivo da movimentação dentária. Não houve intervenção cirúrgica. Obs: Neste caso o ideal
teria sido extrair o terceiro molar antes da movimentação, pois poderia ter ocorrido abscesso periodontal no decorrer do tratamento.

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FIGURA 13 - Vista lateral do caso antes do tratamento. FIGURA 14 - Vista lateral do caso finalizado onde pode-se
notar o tamanho adequado para os pônticos, paralelismo
entre as raízes, e modificação da topografia gengival similar
ao que ocorreu no tecido ósseo.

gival se deu devido ao movimento flamação, condiciona a resposta fa- nos níveis de inserção dos tecidos
tanto no plano horizontal (distal), vorável que pode ser atingida com o moles (recessões, sondagem da
quanto no vertical (extrusão), e que movimento ortodôntico. O reconhe- profundidade de bolsa, sondagem
bolsas infra-ósseas de oito mm po- cimento de arquitetura óssea pato- do nível de inserção conjuntiva). De
dem ser reduzidas em 3,5mm com lógica é essencial no correto plane- uma maneira indireta pode-se tam-
movimentos de verticalização. jamento dos casos; e embora não bém avaliar a situação periodontal
É interessante frisar que na pre- seja comum encontrar bolsas pro- radiograficamente; AKESSON et
sença de inflamação, a relação osso fundas e defeitos ósseos nas super- al.16, para testarem a confiabilida-
alveolar – junção cemento/esmalte fícies distais de molares inclinados de do exame radiográfico no diag-
pode não ser mantida, resultando na para mesial, com ausência de den- nóstico de doenças periodontais,
perda de inserção com aumento da tes em sua área distal, quando estes realizaram estudo em 237 focos de
proporção coroa/raiz, podendo ain- estiverem presentes e esta situação lesões periodontais, em 23 pacien-
da criar ou agravar problemas de ocorrer, efeitos indesejados da ver- tes, utilizando radiografias panorâ-
furca em dentes multirradiculares.2 ticalização podem incluir o agrava- micas, periapicais e interproximais,
BURCH et al.13, em 1992, realizou mento destes defeitos. Ao detectar-se e posteriormente essas áreas foram
trabalho estudando o comportamen- essas condições e decidir-se pela exe- sondadas com campo cirúrgico
to de 20 molares inferiores com le- cução do tratamento deve-se manter aberto para medir a distância do
são de furca submetidos ao movi- rígido controle da saúde periodontal osso ao plano oclusal. Tomadas as
mento de verticalização, por meio de nesta área, com raspagem e alisamen- medidas nas radiografias e no pró-
medições de 40 locais específicos (20 to radicular freqüentes, no intuito de prio local durante a curetagem, con-
no aspecto lingual e 20 no aspecto evitar abscessos e edemas que porven- cluiu-se que a perda óssea era su-
vestibular) pré e pós-ortodontia. No tura possam ocorrer14. bestimada em 13% a 32% nas ra-
aspecto vestibular, nove tiveram diografias panorâmicas, 11% a
agravamento do quadro, um teve Avaliando o Periodonto 23% nas interproximais e 9% a
melhora e dez não demonstraram Doença periodontal é um termo 20% nas radiografias periapicais,
alterações e no aspecto lingual, nove geralmente usado para descrever do- ou seja, pelas radiografias as per-
tiveram agravamento do quadro e enças inflamatórias provocadas por das ósseas parecem menores do que
onze permaneceram inalterados. Em bactérias e que afetam as estruturas realmente são, sendo portanto ne-
relação aos resultados o autor rela- de suporte dos dentes: gengiva, in- cessário complementar-se sempre o
ciona como possíveis causadores do serção conjuntiva e osso alveolar15. diagnóstico radiográfico com a son-
agravamento a higiene inadequada, As duas principais característi- dagem clínica, antes do planeja-
presença de placa bacteriana na re- cas da periodontite, em contraste mento definitivo. Para obter-se óti-
gião de furca e forças ortodônticas com a gengivite são, pelo menos do ma avaliação das condições perio-
inadequadas, com grandes compo- ponto de vista clínico, a perda de dontais, a sondagem do aspecto
nentes de extrusão. Por isso, a te- inserção conjuntiva e a perda ós- mesial e distal do dente deve ser rea-
rapia periodontal prévia ocupa pa- sea. Para se obter avaliação satis- lizada, em conjunto com a tomada
pel de extrema importância nestas fatória, deve-se medir a severidade de Rx periapical. Com força de son-
situações, pois o preparo inicial, com da inflamação (sangramento du- dagem “normal”, a ponta da son-
redução ou eliminação total da in- rante a sondagem) e as mudanças da penetra até exatamente ou

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bem próxima das fibras mais coronais atenção a esses fatores para evitar entre as raízes, à separação dessas
da inserção conjuntiva, dependendo problemas durante ou após o trata- e confecção de próteses unitárias. No
das condições de saúde do periodonto, mento. Se por acaso houver a ne- arco superior, lesões de Classes II e
como demonstrado por LISTGARTEN cessidade de intervenção cirúrgica III podem ser tratadas com amputa-
et al.17. Considerando a melhora no as- gengival, deve-se aguardar um pe- ção de uma das raízes, geralmente
pecto vertical da crista óssea após o ríodo de pelo menos 60 dias para a mais afetada. A desvantagem des-
movimento de verticalização, a deter- início da terapia ortodôntica. ta alternativa é que o tratamento en-
minação do nível exato da inserção Correção cirúrgica de defeitos ós- volverá ainda o tratamento endo-
conjuntiva é extremamente importan- seos: Na verticalização de molares dôntico dos canais e restauração
te no intuito de antecipar as modifica- a atenção em relação a defeitos ós- protética do dente. Defeitos de furca
ções subseqüentes ao tratamento. seos pré-existentes recai sobre es- requerem cuidados especiais duran-
tes dentes. Dentre os possíveis de- te a terapia ortodôntica, pois podem
Cirurgias periodontais: Quando feitos que podem ocorrer, os mais apresentar agravamento do quadro.
realizar? comuns são: a) defeitos de furca: Baseado nisto, o ideal é manter vi-
Cirurgias gengivais: Com respei- defeitos de furca podem ser classifi- sitas constantes ao periodontista a
to ao movimento de verticalização, cados22 como incipientes ou Classe cada 2 ou 3 meses dependendo da
poucas são as situações onde, pre- I, em que a perda horizontal não gravidade. Realizando controle ade-
viamente, torna-se necessário inter- excede um terço da largura do den- quado, esses defeitos tendem a se
vir cirurgicamente no tecido gengi- te; moderados ou Classe II, em que manter inalterados e podem e de-
val. Há consenso na literatura18,19, a perda horizontal dos tecidos pe- vem ser corrigidos depois de atingi-
20,21
, em relação à necessidade de riodontais de sustentação excede um da a posição final e ideal do dente.
enxerto gengival antes da movi- terço da largura do dente, mas não b) Defeitos de três paredes ósseas:
mentação ortodôntica, que preconi- abrange a largura total da área da podem ser tratados com terapia re-
za este procedimento periodontal em bifurcação; ou avançados ou Classe generativa, realizando-se enxerto ós-
áreas que apresentam ausência ou III, em que a destruição periodontal seo autógeno ou alógeno com mem-
quantidade mínima de gengiva horizontal abrange toda a área de branas reabsorvíveis ou não 24
inserida (menos de 2,0 mm) desde bifurcação de lado a lado. Estas le- (Fig.15A, B,C,D). Quando ocorrer na
que alguns fatores predisponentes sões requerem cuidados especiais em mesial do dente que será movimen-
estejam presentes, tais como: a) hi- pacientes sob tratamento ortodôn- tado, e optar-se pela cirurgia, previa-
giene bucal deficiente: áreas com tico.20 Freqüentemente, os molares mente ao movimento ortodôntico, no
pequena quantidade de gengiva necessitam de bandas com tubos e caso de defeitos muito profundos, é
inserida estão mais propensas a outros acessórios que impedem o conveniente aguardar de 8 a 12 me-
apresentarem inflamações, com acesso à furca durante a higiene pes- ses para completa maturação óssea
conseqüente perda de inserção con- soal e instrumentação periodontal e reorganização dos tecidos periodon-
juntiva e recessão gengival. Duran- de controle. As lesões de Classe I tais e aí então iniciar a movimenta-
te o tratamento ortodôntico a higie- respondem bem à correção óssea ção dentária.20 Nestas situações, a
nização é dificultada devido à pre- cirúrgica. Os defeitos de Classe II decisão de cirurgia antes ou após a
sença de fios, bandas, braquetes e podem ser tratados com enxerto movimentação deve ser tomada ana-
demais acessórios, piorando o prog- ósseo e terapia regenerativa com lisando, junto com o periodontista,
nóstico dessas áreas. b) direção do membranas. É importante salientar cada caso individualmente.
movimento: durante a inclinação do que o sucesso destas modalidades c) Defeitos hemiseptais: São de-
dente para vestibular, pode ocorrer de tratamento de furca está condici- feitos de uma ou duas paredes, fre-
deiscência óssea. Quando áreas que onado à altura do osso na mesial e qüentemente localizados ao redor de
apresentam quantidade mínima de distal do dente envolvido. Se o osso dentes inclinados ou extruídos. Es-
gengiva inserida perdem seu supor- na mesial e distal se apresentar nos ses defeitos podem ser corrigidos
te ósseo, o risco de recessão níveis de normalidade o prognósti- pela movimentação ortodôntica,
gengival é grande; c) dentes com co é favorável. Já os defeitos de como o movimento de verticalização
raízes proeminentes, estão mais su- Classe III são mais difíceis de serem de molares acompanhado de extru-
jeitos à recessão, devido ao trauma tratados, com respostas são, que melhora ou restabelece to-
mecânico durante a escovação; d) imprevisíveis quando submetidos ao talmente o nível ósseo12,24. Portan-
áreas que já apresentam discreta re- tratamento regenerativo. As solu- to, na presença de defeitos hemisep-
cessão gengival, tendem a se agra- ções para os problemas de furca tais em dentes que serão movimen-
var durante a movimentação orto- Classe III, no arco inferior, vão da tados, é adequado aguardar o final
dôntica. Portanto deve-se prestar confecção de túneis de higienização do tratamento ortodôntico, que in-

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variavelmente propiciará melhoras ragem até o canino do lado oposto, 1.2) Movimentos bilaterais: A
nas condições periodontais, esta- pois desta forma, envolve-se 3 pla- movimentação sendo bilateral en-
bilizar os dentes por pelo menos 8 nos do arco e tem-se maior estabili- volve todo o arco dentário, toman-
meses nas novas posições, para dade dos dentes de ancoragem. É re- do-se o cuidado de realizar “cola-
então partir para procedimentos comendado realizar “colagem passi- gem passiva” nos dentes de anco-
periodontais cirúrgicos que por ven- va” nos dentes de ancoragem e “co- ragem, quando o tratamento se
tura se façam necessários. lagem artística” (diagrama 1) somen- restringir ao movimento de verti-
te nos elementos que serão movi- calização. (Fig. 20B)
Seleção do Aparelho mentados, limitando a movimenta-
No processo de seleção do apare- ção àqueles que necessitam. Para 2) Quanto à mecânica utilizada
lho, deve-se levar em consideração o maior estabilidade e evitar efeitos co- 2.1) Espaços pequenos (1 molar,
tamanho do espaço edêntulo, quan- laterais, é recomendado também a 1 molar e 1 pré-molar ou 2 pré-mola-
tos dentes necessitam movimentação, colagem de fio .028” 3x3 inferior. res): Nestes casos podem ser utiliza-
se o tratamento é uni ou bi lateral, se Se houver diastemas entre pré- dos fios contínuos, iniciando-se com
existem outros espaços no arco e se o molares ou entre pré-molares e ca- NiTi .014 por exemplo, dependendo
objetivo é somente verticalizar deter- ninos, pode-se envolver menos den- da gravidade das inclinações, e quan-
minados dentes ou modificar todo o tes no movimento, pois lança-se do chega-se ao fio de aço inox .016
contorno e relacionamento interarcos. mão de molas de secção aberta que utilizam-se as molas de secção aber-
Desta forma pode-se criar um proto- trabalharão nos dois sentidos, para ta. Gradativamente, ao mesmo tem-
colo para a seleção do aparelho base- mesial fechando-se os espaços an- po em que se aumenta o calibre dos
ando-se nas seguintes variações: teriores e para distal no movimento fios , troca-se também as molas. Em
de verticalização. Enquanto os es- média, são usadas molas de 6 a 7 mm
1) Quanto à ancoragem: paços anteriores estiverem sendo maiores que a distância inter braque-
1.1) Movimentos unilaterais: Par- fechados a força não se dissipa atra- tes e as ativações realizadas a cada
tindo-se do pressuposto do uso de vés dos pontos de contato, portan- 20 dias ou mais. (casos 1,2 e 3)
aparelhos fixos, (independente da téc- to não se corre o risco dos caninos 2.2) Espaços grandes (ausência
nica) convém utilizar-se como anco- saírem pela tangente. (Fig.17 C,D) de 2 molares ou mais): nestes casos

A B

C D
FIGURA 15 - A) Radiografia de defeito ósseo na mesial do segundo molar inferior direito. B) campo cirúrgico aberto,
demonstrando a presença de defeito ósseo de 3 paredes (vestibular, lingual e mesial). C) enxerto ósseo autógeno na
área do defeito D) evidência radiográfica da correção do defeito após 9 meses.

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CP

CA

DIAGRAMA 1 - CP) Na colagem


passiva os braquetes são posicionados
de maneira que o fio utilizado entre
passivamente nos braquetes no
sentido vertical, sem provocar tensões,
para que não ocorra movimentos
indesejados nos dentes de
ancoragem. Se os dentes
apresentarem apinhamentos ou
rotações, pode-se colar os braquetes
fora do centro mesio-distal da coroa
ou, se necessário, realizar dobras de
primeira ordem para manter a
passividade do fio também no sentido
3
horizontal. CA) Na colagem artística,
os braquetes são colados de acordo DIAGRAMA - 2) Fio segmentado com alça em “u”. O fio deve ser confeccionado
com certas regras, meio da coroa clínica de modo que as dobras mesial e distal estejam bem próximas dos dentes,
por exemplo, no intuito de alinhar e com a finalidade de evitar que alguma porção do fio fique “suspensa” no espaço
nivelar todos os dentes do arco. Neste edêntulo, evitando-se desta forma torções e quebras durante a mastigação.
caso, há movimentação de todos os 3) As porções mesial e distal do fio devem estar no mesmo nível, de modo que
dentes mal posicionados, e portanto quando o fio for flexionado para dentro do tubo (em preto), as tensões geradas
o tratamento torna-se mais longo. provoquem movimento de verticalização do molar (em vermelho).

a grande dificuldade de se utilizar fios gual de coroa nos dentes de anco- mente antes do preparo dos dentes,
contínuos reside na interferência ragem anteriores, minimizando efei- para não dar tempo para que haja re-
oclusal que invariavelmente acarre- tos colaterais que porventura pos- cidiva. Não existe um tempo determi-
ta quebras e torções nos fios. Por sam ocorrer. É importante salientar nado que se deve esperar, após o final
este motivo a opção mecânica recai também que um segundo ou tercei- do movimento, para confeccionar os
sobre os fios segmentados, com alça ro molar isolado, além de inclinado provisórios, porém recomenda-se um
em “u” (Diagramas 2 e 3 e Fig.19C para mesial, costuma estar também período de 30 dias aproximadamente
e 20C.), que permitem movimenta- girado para mesial e inclinado lin- para que os dentes movimentados fi-
ção efetiva, com poucas trocas de gualmente. Portanto, para se ter um quem mais firmes, pois estes costumam
fios e sem quebras e perda de tem- bom controle desta movimentação, apresentar mobilidade às vezes exces-
po. Na escolha do fio inicial, deve o fio retangular é o mais adequado. siva no final do tratamento.
ser levado em consideração a gra- Os calibres variam, podendo ser uti-
vidade do mal posicionamento dos lizados desde os mais finos CASOS CLÍNICOS
dentes que serão verticalizados (ge- .017x.025 até mais grossos Os casos clínicos aqui apresen-
ralmente segundos e terceiros mo- .019x.025 em slots de .022x.030, tados tinham como prioridade o res-
lares). Fios redondos de grosso ca- o fio .021x.025 não é recomenda- tabelecimento da oclusão com tra-
libre (.018” ou .020”) podem ser uti- do porque ficaria difícil manter a tamento protético, e foram tratados
lizados já de início, uma vez que a passividade nos elementos de anco- ortodonticamente com a finalidade
ativação é dada pela extremidade do ragem. (casos 4 e 5) de melhorar o posicionamento den-
fio, e os dentes de ancoragem rece- Após a movimentação ortodôntica, tário dos pilares das próteses, não
beram colagem passiva. A intenção em todos os casos, o aparelho deve per- havendo portanto a intenção de cor-
nesses casos é entrar o quanto an- manecer como contenção até o mo- reção de más oclusões pré-existen-
tes com fios retangulares, pois com mento da confecção dos provisórios. tes. Deve ficar claro que se houves-
esses é possível realizar torque lin- O ideal é remover o aparelho imediata- se disfunções envolvidas ou mesmo

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desejo por parte do paciente de fa- Caso 1 (Fig.16 C,D). Após 2 meses foi mo-
zer um tratamento mais extenso, Paciente de 40 anos, com segun- dificada a mecânica com o uso de
com correção integral de toda oclu- do molar inferior direito mesializado mola de secção aberta para comple-
são, este poderia ser instituído da devido ausência do 46 e coroa fra- tar o movimento (Fig.16 E,F,G). O
mesma forma, com pequenas mo- turada do 45 (Fig. 16 A,B). Foi rea- tratamento possibilitou a confecção
dificações principalmente referente lizada colagem passiva dos braque- de prótese sobre os elementos 47 e
à colagem dos braquetes nos den- tes até o canino do lado oposto e 44, com as raízes paralelas e não
tes de ancoragem, que receberiam iniciado o tratamento com fio seg- houve necessidade de endodontia
desta forma “colagem artística”. mentado .018” com alça em “L” em nenhum dente (Fig. 16 H-J).

A B
FIGURA 16 A, B - Segundo molar inclinado para mesial devido à perda do primeiro molar.

C D
FIGURA 16 - C) Vista frontal do aparelho instalado até o canino do lado oposto ao movimento; D) vista lateral onde
pode-se notar a mecânica utilizada no início do tratamento (alça em “L”) e colagem passiva no canino inferior direito.

E F
FIGURA 16 - E) Vista lateral da complementação do movimento com molas de secção aberta (movimento) e de secção
fechada (ancoragem) para não agravar a rotação do canino. F) vista oclusal.

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G H
FIGURA 16 - G) Final da verticalização imediatamente antes do preparo para prótese; H) vista lateral da prótese finalizada.
Nota-se que não houve alteração na oclusão devido à utilização de colagem passiva nos dentes de ancoragem.

I J
FIGURA 16 - I) Vista frontal do trabalho finalizado e; J) radiografia periapical , onde observa-se o paralelismo entre as
raízes e topografia óssea plana entre as mesmas. A raiz do segundo pré-molar foi extraída.

Caso 2 molares inclinados, conferindo as- vez que a força derivada da mola de
Neste caso, o paciente de 48 anos pecto estético desagradável, e risco secção aberta para anterior, movimen-
havia perdido o primeiro molar per- de fratura do primeiro pré-molar ta o pré-molar para frente e não exer-
manente ainda na infância e talvez (Fig.17B). O objetivo portanto era re- ce pressão sobre o canino que, por
por isso, a disposição dentária é li- cuperar o espaço adequado para con- estar na curvatura do arco, teria ten-
geiramente diferente do usual, com fecção de dentes de tamanhos har- dência de se deslocar pela tangente.
espaço entre os pré molares e o se- mônicos, assim como verticalizar as O tratamento durou 3 meses e possi-
gundo pré-molar disposto ao lado raízes para que a força oclusal bilitou a confecção da prótese com ta-
do segundo molar (Fig.17A). Havia incidisse sobre o longo eixo dos den- manho ideal dos seus elementos (Fig.
uma prótese entre os dentes, porém tes. Como havia espaços entre o pri- 17F). Foi necessário realizar o trata-
quando foi realizada, na ausência de meiro pré-molar e o canino (Fig.17 mento endodôntico do segundo pré-
espaço edêntulo adequado, um can- C,D), não houve necessidade de an- molar devido à sensibilidade excessi-
tilever foi disposto entre os dois pré- coragem nos dentes anteriores, uma va relatada pelo paciente.(Fig.17E)

A B
FIGURA 17 - A) Rx demonstrando inclinação dos pré-molares e; B) prótese de tamanho inadequado colocada sobre
dentes inclinados.

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C D
FIGURA 17 - C e D) Remoção das coroas e confecção de provisórios para facilitar a colagem dos acessórios. Como havia espaços
entre o primeiro pré-molar e canino, foi possível utilizar quantidade mínima de ancoragem, pois a força para anterior gerada pela
mola não atinge o canino, eliminando a tendência de saída deste pela tangente que ocorreria se ambos estivessem em contato.

E F
FIGURA 17 - E) Rx após final do movimento,com paralelismo entre as raízes e; F) nova prótese confeccionada com
tamanho adequado dos dentes.

Caso 3 por quatro meses (Fig. 18D) até pos- ção até a confecção do trabalho final.
Paciente de 25 anos, relatou au- sibilitar a instalação de aparelhos fi- As radiografias demonstram as mo-
sência de mastigação do lado direito, xos (Fig. 18E,F) . Uma vez instalado dificações do perfil ósseo que ocorre-
devido a oclusão insatisfatória que se o aparelho fixo, colado passivo nos ram entre a posição inicial (Fig.18I),
fazia presente. Os segundo e terceiro dentes de ancoragem, prosseguiu-se final do movimento (Fig.18J), 7 me-
molares apresentavam-se inclinados com o nivelamento até possibilitar o ses após (Fig.18L) e 1 ano pós trata-
para mesial e extremamente voltados uso de fio retangular .018”x.025”, ne- mento, ficando evidente a demora com
para lingual, com os antagonistas su- cessário para conferir torque vestibu- que ocorre a remodelação e minerali-
periores ocluindo nas superfícies lar de coroa nos dentes. No final foi zação do osso na mesial do dente ver-
vestibulares.(Fig. 18A,B,C). Para a cor- atingido bom posicionamento dentá- ticalizado e porque deve-se aguardar
reção, primeiramente foi instituído o rio, (Fig. 18G) e um pôntico suspenso de 8 a 12 meses antes de realizar pro-
uso de elásticos intermaxilares 3/16 foi adaptado para servir de conten- cedimentos cirúrgicos nestas áreas.

A B
FIGURA 18 A, B - Vista lateral e oclusal de segundo e terceiro molares inclinados para mesial e lingual.

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C D
FIGURA 18 - C) No modelo pode-se observar a gravidade da inclinação para lingual e um fator favorável para a mecânica
ortodôntica que foi utilizada, que é a inclinação para vestibular dos molares antagonistas superiores. D) Início do
reposicionamento dos molares com utilização de elásticos intermaxilares 3/16 cruzados entre os molares antagonistas.

E F
FIGURA 18 - E) Posição conseguida só com o uso de elásticos (4 meses). Foi possível um bom posicionamento vestíbulo
lingual, porém ainda permaneciam inclinados para mesial. F) Início da utilização de aparelhos fixos, que durou mais 4
meses. No final foi necessário acrescentar torque vestibular de coroa.

G H
FIGURA 18 - G e H) vista lateral da posição final dos dentes, com os molares verticalizados e dente de estoque usado
como contenção provisória.

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I J

L M
FIGURA 18 - I) Rx inicial (radiografia teve parte digitalizada devido à manchas presentes na original). J) final do
movimento ortodôntico, L) 7 meses de contenção, M) 1 ano de contenção. É importante observar nestas radiografias, a
evolução do processo reparador da neoformação óssea na mesial do segundo molar. A total maturação óssea na região
ocorreu 1 ano após a estabilização, demonstrado claramente a necessidade de esperar um período de contenção de 8
a 12 meses antes de qualquer intervenção cirúrgica na área, pois do contrário não se aproveita o potencial reparador do
movimento de verticalização dos molares.

Caso 4 realizado, era o posicionamento da com alça em “u” , que oferece a possi-
Paciente de 49 anos, apresentava furca em relação ao osso, pois de am- bilidade de pequenas ativações na sua
perda dos primeiros e segundos mo- bos os lados já se apresentavam ao ní- extremidade e também a vantagem de
lares inferiores, bilateralmente, ocor- vel ósseo (Fig. 19B-M), podendo-se su- fugir do plano oclusal evitando-se tor-
ridas há aproximadamente 10 anos. por que com a pequena extrusão que ções e quebras indesejadas. A existên-
Os terceiros molares apresentavam- caracteriza o movimento de verticali- cia de provisórios na região ântero-in-
se acentuadamente inclinados para zação pudesse haver exposição das ferior, unindo-se o canino inferior es-
mesial com os segundos molares su- mesmas. Porém, se há osso e inserção querdo ao direito e portanto formando
periores ocluindo nas suas faces conjuntiva na furca, estes sempre um bloco para ancoragem perfeito
distais (Fig.19A-H). O caso foi indi- acompanharão o movimento. Meca- (Fig.19L), possibilitou a utilização de
cado pelo protesista que pediu avalia- nicamente, optou-se por realizar a mo- fios segmentados com colagem de bra-
ção quanto à possibilidade de vertica- vimentação primeiramente de um lado quetes somente nos caninos, pré-mo-
lização dos terceiros molares, salien- e depois do outro, propiciando mais con- lares e terceiros molares, facilitando so-
tando que os mesmos constituíam pe- forto e evitando-se o descolamento de bremaneira a confecção e ativação dos
ças fundamentais na conclusão do tra- braquetes e quebra do fio, pois como a fios. O tempo de tratamento para cada
balho por estarem posicionados na mastigação dá-se justamente nesta lado foi de 3 meses. Logo após consta-
extremidade do arco após os espaços área foi possível orientar a paciente a tado o posicionamento ideal, avaliado
edêntulos . Avaliando-se clínica e realizar mastigação unilateral enquan- também pelo protesista, foram confec-
radiograficamente, observou-se que os to se trabalhava no lado oposto, com cionados provisórios unindo-se os ter-
dentes apresentavam boas condições isso o tratamento transcorreu sem con- ceiros molares aos pré-molares dando
periodontais tanto no aspecto gengival, sultas intermediárias para reparos, di- com isso estabilidade aos novos posi-
sem sangramento e com boa faixa de minuindo deste modo o tempo de ca- cionamentos dentários. Durante a mo-
gengiva inserida, quanto ósseo, não deira. A mecânica utilizada consistiu no vimentação foi realizado periodicamente
apresentando defeitos verticais profun- uso de fio NiTi .014” para iniciar o pro- o desgaste na superfície distal dos mo-
dos na face mesial. A preocupação cesso de movimentação e posteriormen- lares para evitar o trauma oclusal
maior, quanto ao movimento que seria te fio .017” x .025” de aço inoxidável (Fig.19D.)

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A B
FIGURA 19 - A) Vista oclusal de terceiro molar inclinado devido à perda do primeiro e segundo molares; B) Rx do dente.
A seta indica o nível da inserção conjuntiva.

C D
FIGURA 19 - C) Início da movimentação com utilização de alça em “u” com fio retangular .017” x .025” e D) após 3 meses, com
o dente já verticalizado. Notar o ajuste oclusal necessário durante a movimentação, devido ao componente extrusivo do movimento.

E F
FIGURA 19 - E) Provisório confeccionado; F) Rx de controle de 6 meses após o movimento. Notar a posição da inserção
conjuntiva (seta) em comparação com a inicial. Não houve deslocamento, a inserção do dente não se modifica.

G H
FIGURA 19 - G) Dente do lado oposto na mesma situação; H) notar a severidade da inclinação, com o antagonista
ocluindo sobre sua superfície distal.

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I J
FIGURA 19 - I) Início do movimento, com utilização de fios contínuos e posteriormente foi utilizada alça em “u” no fio
retangular. O amálgama pré-existente foi trocado por resina para possibilitar melhor adaptação da banda; J) final do
movimento, com o dente verticalizado (4 meses).

L
FIGURA 19 L - Vista oclusal dos provisórios confeccionados.

M N
FIGURA 19 M, N - Radiografias inicial e final (após 6 meses). Houve necrose no dente 48, e portanto foi necessário o
tratamento endodôntico. As setas indicam o posicionamento da inserção conjuntiva, que permanece a mesma.

Caso 5
A paciente W.S., 27 anos, pro- pré-molar inferior esquerdo como tabelecer as guias anterior e cani-
curou tratamento odontológico de- causa provável da disfunção da no, e posteriormente restauração
vido a dores constantes na região ATM. O tratamento foi iniciado com protética, porém a paciente declinou
da ATM. Durante o exame clínico ajuste oclusal para estabilizar a oclu- quanto à cirurgia ortognática devi-
observou-se a presença de mordida são e sanar o problema da dor e pos- do a motivos financeiros e optou por
aberta anterior esquelética e ausên- teriormente foi instituído plano de realizar somente a correção ortodôn-
cia dos primeiros e segundos mola- tratamento integrado com várias es- tica do posicionamento dos molares
res inferiores bilateralmente e diag- pecialidades. A princípio foi plane- e as próteses.
nosticou-se desvio funcional da man- jado preparo ortodôntico para cirur- O tratamento ortodôntico consis-
díbula para o lado esquerdo devido gia ortognática, com objetivo de sa- tiu na bandagem dos molares e cola-
ao contato prematuro no segundo nar a mordida aberta anterior e es- gem direta de todos os dentes inferio-

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res (Fig.20B), sendo que realizou-se xidável .016” e .020”, e posteriormen- dos provisórios. A reabilitação protéti-
colagem passiva do segundo pré-mo- te fio retangular .018x.025, todos com ca do plano posterior foi finalizada, e
lar inferior esquerdo ao segundo pré- alças em “u” bilaterais (Fig.20C) A no intuito de reduzir ao máximo a mor-
molar inferior direito para que a movi- verticalização dos terceiros molares dida aberta anterior, foram desgasta-
mentação nos elementos de ancora- demorou 3 meses, porém o aparelho dos os dentes posteriores, daí a neces-
gem fosse a menor possível. A princí- permaneceu na boca por mais 5 me- sidade do tratamento endodôntico dos
pio utilizou-se fio redondo de aço ino- ses, aguardando a época de confecção terceiros molares. (Fig.20J)

A B
FIGURA 20 - A) Modelo inicial com perdas bilaterais dos primeiros e segundos molares. B) Vista oclusal do aparelho
ancorado em todo o arco inferior. Colagem passiva nos dentes anteriores.

C D
FIGURA 20 - C) Vista lateral da mecânica utilizada desde o início bilateralmente (alça em “u”). Foram utilizados somente dois fios
redondos de calibre .016” e.020” D) Posição final do dente do lado direito, imediatamente antes da confecção dos provisórios.O
tempo de movimentação foi de 3 meses, porém o aparelho ficou como contenção mais 5 meses, por motivos financeiros.

E F
FIGURA 20 E, F - Vista lateral direita e esquerda da prótese final. A mordida aberta anterior esquelética foi discutida no
plano de tratamento, porém como havia necessidade de intervenção cirúrgica, a paciente descartou a possibilidade.

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G H

I J
FIGURA 20 - Radiografias do lado direito G) Inicial; H) final do movimento, 3 meses; I) contenção, 6 meses; J) 10
meses, antes de a prótese ser definitivamente cimentada. Notar a evolução da neoformação óssea, com a formação do
triângulo de osso neoformado característico deste tipo de movimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS dos dentes e diminuindo a necessi- regras normais necessárias para o
Como pôde ser avaliado por meio dade de desvitalização pulpar. Foi alinhamento e nivelamento de todos
da literatura e apresentação dos ca- demonstrado, de acordo com os ca- os dentes.
sos clínicos, a verticalização de mo- sos clínicos apresentados, que a mo- Em relação à integração com as
lares é uma terapia ortodôntica mui- vimentação ortodôntica necessária outras especialidades, todos devem
to útil no tratamento interdisciplinar, requer um período de tempo relati- estar envolvidos durante a fase de
possibilitando melhora nas condi- vamente curto, de 3 a 6 meses em planejamento, ortodontista, periodon-
ções periodontais dos dentes incli- média, e a mecânica utilizada é bas- tista, protesista e implantodontista,
nados tais como: a diminuição ou tante simples, não requerendo mui- para que se possa estabelecer o me-
eliminação de defeitos ósseos de 1 to tempo de cadeira. A opção pela lhor plano de tratamento possível. Po-
ou 2 paredes, melhora na propor- colagem passiva nos elementos de rém quando os dentes a serem mo-
ção coroa-raiz nos dentes compro- ancoragem quando se tem por fina- vimentados apresentarem comprome-
metidos periodontalmente, delinea- lidade somente a verticalização de timento periodontal, a interação com
mento correto da topografia óssea e determinados dentes, decorre da o periodontista deve ser intensifica-
gengival e melhor acesso para con- possibilidade de manter a movimen- da, tanto no ato do planejamento,
trole da higienização por parte do tação em locais específicos, diminu- precisando a necessidade de inter-
paciente e também do periodontis- indo o tempo de tratamento e os efei- venções cirúrgicas antes ou depois de
ta. Em relação ao tratamento res- tos colaterais. No caso de tratamen- iniciar o tratamento ortodôntico,
taurador, possibilita confecção de tos extensos, onde serão tratadas como no preparo inicial e controle pe-
pônticos de tamanhos adequados e más oclusões pré-existentes nos ar- riodontal durante a movimentação,
pilares de próteses paralelos e verti- cos superior e inferior, pode-se utili- sendo que o intervalo entre as con-
cais, permitindo que as forças zar a mesma mecânica, porém a sultas será estabelecido de acordo
oclusais incidam sobre o longo eixo colagem dos braquetes obedecerá as com a gravidade de cada caso.

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Abstract
The present paper is intended to implant procedures. Many improve- tio of periodontally involved molars.
show different ways to accomplish the ments can be accomplished during With parallel roots, the oclusal forces
molar uprighting movement with fixed molar uprighting, like obtaining par- are directed to the long axes of the
appliances, and discuss, based on the allelism of the roots that will support teeth, allowing good function and pre-
literature and clinical cases, the inter- prosthesis, the gaining of proper eden- serving the periodontium.
disciplinary treatment. Molar tulous space, elimination or reduction
uprighting is an orthodontic therapy, of vertical bone defects without the Key-words: Interdisciplinary treatment;
very useful in adult patients, and im- need of surgical procedures in this way Molar uprighting; Minor tooth movement;
portant for prosthetic, periodontal and also obtaining a better crown-root ra- Limited orthodontics.

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Endereço para correspondência


Marcos dos Reis Pereira Janson
Rua Saint Martin 22-23 Altos da Cidade
CEP: 17048-053
Bauru – São Paulo
E-mail: jansonm@uol.com.br

R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 6, n. 3, p. 87-104, maio/jun. 2001 104

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