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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS


CAMPUS DE ASSIS

“Populismo e Futebol no Brasil de Vargas”

Disciplina: Tópicos de História da América


Docente: Prof. Dr. José Luís B. Beired
Discente: Vinícius Soares de Almeida

- Assis, julho de 2001 -


A historiografia dedicada ao fenômeno populista no Brasil,
demonstra a intensa utilização, por parte do governo, de instrumentos de
propagação de uma ideologia demagógica perante as massas. Esses estudos
demonstram a utilização do cinema, da música, arquitetura, educação,
literatura, rádio, etc., no entanto nota-se pouca ou nenhuma atenção ao
papel dos esportes, ou mesmo a influência que o governo exerce sobre essa
atividade social, que no caso específico do futebol se expande como uma
atividade popular de grande apelo às massas.
Os meios de comunicação brasileiros, principalmente, a imprensa
escrita e o rádio: caracterizados pela ampla utilização no governo populista
de Vargas, foram influenciados de maneira sensível, pela rápida expansão
do futebol nos centros urbanos. No caso da imprensa, como mostra Juarez
Bahia, existiam, no Brasil, periódicos esportivos desde a segunda metade
do séc. XIX, mas será com o futebol que a grande imprensa começa a ceder
espaço ao esporte, como estratégia de incremento de vendas: “O futebol
ingressa no espaço nobre da imprensa [...] O esporte bretão traz um
componente emocional que se transformará na maior paixão popular do
país” 1, promovendo uma aproximação com as camadas mais populares
das sociedades urbanas que crescem cada vez mais, principalmente, no Rio
de Janeiro e em São Paulo. Quanto, ao rádio, Bahia também faz algumas
considerações: “De 1924 em diante, com o rádio, o jornal perderá o
monopólio da descrição dos fatos esportivos e da reprodução dos lances
que prendem a atenção dos aficionados, sendo obrigado a dividir uma
cobertura que era exclusivamente sua. [..] O rádio por sua vez, ocupará
todo um período de pelo menos 30, anos de marcante atuação, em que a
palavra é usada para dar conteúdo existencial, participativo à expectativa
do ouvinte, por mais distante que esteja do acontecimento.”

1
BAHIA, Juarez. – Jornal, história e técnica: história da imprensa brasileira. São Paulo: Ática, 1990,
p.153.

1
Além da movimentação popular promovida diretamente pelo futebol,
dentro e fora de campo: times, torcedores, rivalidades, etc. o rápido
crescimento da prática do futebol no Brasil, modificou não só o cenário
esportivo, até então restrito, principalmente aos sócios de clubes
marcadamente elitistas. A partir da década de 1920 o futebol já conta com
um caráter extremamente popular, principalmente em grandes centros
urbanos, e alguns clubes considerados elitistas, já aceitam a presença de
jogadores negros ou elementos provenientes de camadas populares. O
futebol começa a ser vistos por muitos como um meio de ascensão social.
Hobsbawn discorre, sucintamente, sobre a proletarização do futebol na
Inglaterra, e em vários países da Europa continental, sobretudo após sua
profissionalização2. Além disso, o que esta em discussão é identificação do
trabalhador, com os times que representam várias associações das mais
diferentes origens sociais e, conquista a simpatia e fidelidade do torcedor.
Em um estudo sobre a profissionalização do futebol no Rio de
Janeiro e em São Paulo3, a questão do pagamento aos jogadores é abordada
amplamente pelos jornais da época, que noticiam as manifestações
contrárias, ou favoráveis à profissionalização, esta se dará num momento
“em que além do próprio cenário esportivo assim determinado, o país
passava por algumas transformações, entre as quais, o início da chamada
‘Nova República’, comandada pelo então Presidente Getúlio Vargas.
Algumas de suas medidas acabaram influenciando o esporte, entre elas, a
legalização da profissão do futebolista em 1933” 4, do mesmo modo que
ocorrera com a classe dos atores, que rendiam certa simpatia a Vargas5,

2
HOBSBAWN, E., RANGER, T. A. (org) A invenção das tradições. Trad. Celina Cardim Cavalcante.
Rio de Janeiro: Paz e Terra 1984.
3
SILVA, E. J. Bola na rede: o futebol em São Paulo e no Rio de Janeiro: do amadorismo à
profissionalização. Assis, 2000.
4
Idem. p. 44.
5
CAPELATO, M. H. R. Multidões em Cena. São Paulo: Papirus, 1998.

2
afirmando de vez a profissionalização do esporte. Em um momento
posterior, “em 14 de abril de 1941, no governo do então Presidente Getúlio
Vargas, seu Ministério da Educação e Cultura pontuava que ‘foi
promulgada o Decreto Lei nº 3199, ponto alto da legislação desportiva
brasileira, estabelecendo as bases da organização dos desportos em todo o
país e criando o Conselho Nacional de Desportos”6. Medidas como estas
tomadas pelo governo de Vargas denotam a clara preocupação de
regulamentar os esportes, garantindo um relativo controle, sobre este
instrumento indiscutível de mobilização de massas no Brasil.
O mesmo estudo mostra o processo de profissionalização e as
modificações da cultura popular urbana da época: “o fato é que as variadas
formas de lazer como o futebol, são associados a uma emergente cultura
popular urbana, uma vez que elas são típicas do crescimento da
urbanização e industrialização” 7. Junto com essas modificações, nota-se
por parte do governo um controle cada vez maior dos espaços urbanos
reservados ao futebol. O estádio do Pacaembú é ótimo exemplo.
Inaugurado em 27 de abril de 1940, pelo presidente Getúlio Vargas, é
considerado um marco na arquitetura paulistana do período, como apontam
alguns estudiosos da área:
“A contradição entre modernidade e tradicionalismo presente na
construção talvez possa também observada na arquitetura paulistana desse
período. Edifícios como Estádio e da Biblioteca Municipal foram também
denominados ‘piacentinianos’por conta de sua aparente semelhança com
as obras de Marcelo Piacentini, o arquiteto predileto de Mussolini. Essas
obras refletem uma mudança no fazer arquitetônico, adotando soluções
racionalistas, cuja escala nos parece buscar uma ‘retórica
monumentalidade’, ou seja, vemos nessas obras um forte apelo cívico

6
Silva, E. J. op cit. 282.
7
Idem, p 19.

3
expresso por suas funções e formas, que transmitem sensação de peso e
rigidez”8.
No livro Uma História do Futebol o autor dedica um capítulo, “A
década dos ditadores”, ao período da década de 1930, mostrando,
principalmente, na Alemanha e Itália o incentivo dado pelos regimes
totalitários ao futebol. E, a exemplo das Olimpíadas de Munique em 1936,
onde Hitler fez uso do esporte como instrumento de propaganda ideológica
do nazismo. O autor aponta a utilização do futebol por regimes ditatoriais
na aproximação com as massas : “O futebol cresceu rapidamente na década
de 1920, tornando-se, nos anos seguintes o esporte mais popular na Europa
e na América do Sul. Desse modo, não pôde ser ignorado pelos ditadores
que se vangloriaram do apoio das massas”9. Quanto ao caso específico do
Brasil Getulista, são feitas várias considerações, porém sem um maior
aprofundamento no assunto. Esse molde comparativo entre os regimes
ditatoriais europeus e o populismo latino-americano é utilizado pelo autor
na compreensão da expansão e consolidação do futebol nesses países que
mantiveram uma forte tradição futebolística.
Em obra citada, Silva aponta estudos que discutem a questão da
utilização do futebol pelo governo Hitler: “não é por acaso dentre as várias
medidas adotadas pelo governo nazista alemão durante a Segunda Guerra
Mundial, o futebol foi usado com ‘máquina de propaganda política e
diplomática’” 10. E o autor prossegue: “Em livro que discute as influências
do nazismo no futebol, Lindner, indagado pela repórter Colombo do Jornal
‘Folha de São Paulo’ acerca do esporte utilizado como mecanismo de
disciplina, respondeu: ‘O esporte foi reforçado nos currículos escolares

8
DIÊGOLI, L. R. A Arquitetura Oficial e o Estado Novo. Revista: Cidade, Ano III – (set. 1996) - São
Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico, 1996. p. 51.
9
MURRAY, B. Uma História do Futebol, São Paulo: Hedra, 2000. p. 95
10
Silva, op. cit. p. 41.

4
como uma forma de militarizar a educação. Acho que o futebol se prestava
a isso por ser muito popular em várias camadas da população” 11
Além da construção do Pacaembú, outro momento marcante da
influência e preocupação do governo Vargas quanto ao futebol, ocorre no
ano de 1942, quando o presidente por decreto-lei assinado em junho,
obrigava todas as instituições esportivas que tivessem nomes estrangeiros a
mudar suas denominações. Desta forma, o Germânia passou a ser
Pinheiros; o Espanha de Santos, Jabaquara. Caso interessante ocorreu com
o Palestra Itália, Palmeiras, que mudou de nome nas semifinais e acabou
sendo o campeão daquele ano. Outros dois times Palestra Itália, o Cruzeiro
de Belo Horizonte e o Coritiba do Paraná.
Essa medida fazia parte da política de Nacionalização do Estado
Novo, que reprimia os estrangeirismo ou manifestações culturais que
destoassem do projeto Estado-novista. “A presença do estrangeiro e,
principalmente, daquele que não havia promovido uma interação com a
sociedade brasileira, mantendo-se fechado em suas colônias, preservando
seus hábitos, costumes, língua e idéias políticas, passou a ser extremamente
perigosa pois, colocava em risco a construção da brasilidade empreendida
pelo Estado Nacionalista”12. O governo percebera o interesse promovido
pelo futebol, e este não poderia ficar de fora nesse processo de construção
de nacionalidade. Vale ressaltar que alguns times como o Palestra Itália
paulista, por exemplo, contava com grande participação da colônia italiana
da capital.
É possível, portanto, afirmar a preocupação existente no Varguismo
quanto aos esportes, especificamente o futebol. Porém não se pode, sem

11
Idem. p. 42. Ultrich Lindner é jornalista e escreveu o livro “Hitler Strikes” (Atacantes de Hitler)
publicado pela editora Verlag Dae Uvirkstaat, de Munique, Alemanha.
12
PERAZZO, Priscila F. – O Perigo Alemão e a Repressão Policial no Estado Novo. São Paulo:
Arquivo do Estado, 1999. p. 42

5
uma analise mais aprofundada e detalhada, afirmar qual a extensão dessa
preocupação ou mesmo da utilização do futebol pelo Governo. O que se
verá porém, anos depois, será, em meio ao Regime Militar brasileiro, a
utilização política do tri-campeonato Mundial em 1970, na exaltação de um
regime autoritário. Dessa forma não se deve ignorar o forte apelo popular
que o futebol exerceu no cenário político brasileiro e suas utilizações.

6
Bibliografia

BAHIA, Juarez. – Jornal, história e técnica: história da imprensa


brasileira. São Paulo: Ática, 1990

CAPELATO, M. H. R. - Multidões em Cena. São Paulo: Papirus, 1998.

HOBSBAWN, E., RANGER, T. A. (org) A invenção das tradições. Trad.


Celina Cardim Cavalcante. Rio de Janeiro: Paz e Terra 1984.

MURRAY, B. Uma História do Futebol, São Paulo: Hedra, 2000.

PERAZZO, P. F. – O Perigo Alemão e a Repressão Policial no Estado


Novo. São Paulo: Arquivo do Estado, 1999.

Revista: Cidade, Ano III – (set. 1996) - São Paulo: Departamento do


Patrimônio Histórico, 1996.

SILVA, E. J. Bola na rede: o futebol em São Paulo e no Rio de Janeiro:


do amadorismo à profissionalização. Tese de Mestrado defendida na
FCL - Assis, 2000.

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