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FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO

CONTOS DE FADAS DE ESCRITORAS ALEMÃS


DOS SÉCULOS XVIII E XIX

Unidade Curricular: Introdução a Cultura e Literatura Alemãs I


Docente: John Thomas Greenfield
Aluno: Natacha Generao Mendonça Barreto (Línguas, Literaturas e Culturas:
Monodisciplinar de Alemão)

ANO LECTIVO
2010/2011
Índice

Introdução 3
Contos 4
Conclusão 9
Bibliografia 10

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Introdução

“Era uma vez…” é uma expressão intemporal, conhecida por pessoas de todas as
gerações, que remete para os contos de fadas. Mas o que são contos de fadas? Muitos pensam,
de imediato, nas adaptações da Disney como modelos paradigmáticos de contos de fadas.
Segundo as definições encontradas no dicionário Merriam-Webster, contos de fadas são
histórias, geralmente destinadas a crianças, que envolvem forças e seres sobrenaturais, como
fadas e feiticeiros, e são também histórias em que uma cadeia de acontecimentos improváveis
leva a um final feliz. Porém, estas definições são bastante generalizadoras. Vejam-se os
contos de Perrault com finais bárbaros que contrariam o aguardado final “e viveram felizes
para sempre”.
Outra questão que se pode colocar é: porque é que estas histórias nos cativam e
influenciam tanto? Muitos defendem que é pelo carácter universal e intemporal dos contos.
Mas, se os analisarmos, os contos dão-nos imensa informação sobre o contexto histórico, os
valores morais e sociais da altura, por isso não podemos afirmar que sejam universais a nível
idealista e temporal. Na verdade, estes contos deixam-nos muitas vezes lições e têm um
carácter instrutivo e moral, sendo assim uma boa maneira de ensinar os ideais e valores às
pessoas desde a infância.
Neste trabalho irei abordar os contos de fadas de escritoras alemãs que viveram nos
séculos XVIII e XIX. Foram diversas as razões que motivaram as mulheres a escrever: a
necessidade de atingir o imperativo maternal, as intenções pedagógicas e moralistas, a forma
de exprimir a criatividade dramática reprimida à busca do mundo do fantástico e dos contos
regionais folclóricos, e chegando até a ser, por vezes, uma forma de, através de alter egos,
descreverem as suas vidas em contos demasiado tristes que ficam sem um fim.
As mulheres foram sempre postas de lado em termos de escrita de contos de fadas,
mas se formos a ver, neste período, eram as mulheres que tinham um maior acesso ao volk
através do mercado e as suas histórias são mesmo um reflexo das vidas delas e da sociedade
na altura e, mesmo séculos depois, ainda podemos ler estas histórias e aprender uma lição ou
outra, tal como é dito na obra The Queen’s Mirror: Fairy Tales by German Women, 1780-
1900: “Use these stories for your own reflection” (Jarvis & Blackwell, 2001).

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Contos

Os contos de fada das escritoras alemãs parecem, na sua íntegra, contar uma história
que acompanha a vida das personagens nas suas diferentes etapas, tal como nos é dito na obra
The Queen’s Mirror: Fairy Tales by German Women, 1780-1900. Desde a infância à procura
de um parceiro; a problemática do casamento (casar ou não casar, eis a questão); as
responsabilidade familiares; e, por fim, a maturidade e a velhice. Estes contos são lições de
vida que, depois, quem os ouvir poderá aproveitar e seguir ou simplesmente ignorar.
Ao lermos estes contos, verificamos que as crianças não são as crianças-tipo dos
contos. Têm uma noção das suas acções e das consequências e enfrentam os problemas que
encontram ao longo das histórias. Questionam a autoridade, não são completamente
submissas e também não são vitimizadas. Como exemplo, temos a personagem de Flora no
conto Das Puppenstift. Neste conto, o rei tirano ordena que todas as bonecas lhe sejam
entregues, recebendo assim protestos de todas as raparigas e até de mulheres do reino. No dia
da entrega, Flora argumentou com o rei de que, apesar do rei ter tido boas razões para retirar
as bonecas, pois queria que as mulheres fossem úteis na sociedade, o simples facto de
tomarem conta das bonecas ajudava-as a prepararem para o carinho e amor que iam dar aos
filhos mais tarde, conseguindo assim mudar a decisão do rei.
Mas os percursos das personagens também são diferentes. A motivação dos rapazes,
para iniciar a primeira viagem que leva os jovens a partir de casa no início da idade adulta é
uma dificuldade que têm de enfrentar o mundo ou, simplesmente, a vontade de explorá-lo e
tudo o que este tem para oferecer. Quanto ao segundo caso temos a personagem Fewei de
Mährchen vom Fewei que quer ver com os seus próprios olhos aquilo que ele conhecia das
histórias que lhe contavam. Porém, o pai de Fewei, para evitar que o seu filho saia de casa, só
o deixa partir quando ele lhe provar a sua lealdade:

My lord czar, summon the czarevitch and tell him that because of his tender years,
you cannot allow him to go to distant lands until he has proven through trial that
he is obedient to you, that he has a steadfast soul, patience under duress, and
moderation in times of good nature, that he is loyal, brave, generous and
benevolent, so that he will win honor and fame among foreign people.

Essas virtudes todas que o czar aponta são aquelas que qualquer outro czar que lhe
precedesse teria de ter. Fewei torna-se num czar nobre com todas essas características e
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sempre concretiza a viagem pelo mundo. Mas ao contrário dos heróis clássicos que raramente
regressavam a casa, estes voltam sempre às suas origens e reflectem naquilo que aprenderam
com a viagem. Fewei, por exemplo, consegue usar o conhecimento que obteve para se tornar
num rei melhor. Temos aqui nestes contos logo um carácter educativo e, tal como no exemplo
da infância, Das Puppenstift, uma preparação para as responsabilidades familiares – uma
outra etapa na vida.
A motivação das raparigas era diferente. Muitas vezes eram obrigadas a sair dos seus
lares e iniciavam uma aventura involuntária. Temos como exemplo a princesa Rosalieb do
conto Prinsessin Rosalieb de Agnes Franz. Esta princesa era muito mimada e desobediente.
Um dia uma fada entrega à mãe um anel, que a magoa sempre que ela é desobediente, e uma
caixinha, que ela só pode abrir quando fizer quinze anos. A desobediência de Rosalieb, ao
deitar fora o anel e ao tentar abrir a caixinha, leva-a a ficar presa numa torre por duas vezes e
aí aprende uma lição sobre paciência, determinacão e humildade. Neste caso, tal como no dos
rapazes, ela regressa a casa. No entanto, temos exemplos em que tal não ocorre. Um exemplo
é o das filhas de Boadicea num conto incluído na obra Velleda, ein Zauberroman de
Benedikte Naubert, que com o conhecimento das artes mágicas graças a Velleda, preferem a
vida da comunidade feminina e liberdade por oposição aos limites que a sociedade lhes
impõe. Em ambos os casos verificamos uma certa maturidade e crescimento como pessoas
destas personagens, destas heroínas.
Outra etapa importante da vida é a procura de um parceiro. Embora alguns contos
permanecem ligados à ideia tradicional da conquista de uma noiva, como verificamos no
versão do conto Schneewittchen, uma adaptação de um dos contos de Grimm de Henriette
Kühne-Harkort, onde o príncipe procura e salva a sua futura esposa, outros contos optam por
um percurso alternativo, em que esta procura por um parceiro está destinada a falhanço desde
o início. Como exemplo deste tipo de contos, temos Schwarz und Weiß que narra a história do
príncipe Almansor, que, na tentativa de conquistar a princesa Obstinata, quis mudar a cor da
sua pele, mas descobre que essa mudança na aparência não o faz conquistar a princesa. Este
conto aborda um tema relativamente actual: o racismo, manifestando-se contra quando diz:
“for he had learned to see that the color of one’s skin is not important and that it does not
matter if you are black or white, as long as you are wise.”
A moral desta história está expressa nesta passagem:

You acted like a child. True love makes every sacrifice that doesn’t contradict law
and reason, but at no time should one allow himself to be swayed by the moods of
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a woman, and no man should ever scorn the gifts bestowed on him by nature and
try to change them simply to acquiesce to a girl’s wishes (…)

Estes contos foram exemplos em que a personagem que vai nesta busca é masculina.
No caso das protagonistas femininas, algumas nem estão à procura e simplesmente
encontram-se em situações com parceiros possíveis. Temos como exemplo uma adaptação de
um dos contos dos irmão Grimm, Der Königssohn, der sich nicht fürchtet, de Anna von
Haxthausen. Neste conto a protagonista feminina, uma princesa de doze anos é salva por
Frederick, que sofre duas noites para poder libertá-la do encanto, e com quem depois se casa.
Também verificamos uma certa contradição nestas buscas das heroínas: a do desejo e
a do dever. Um bom exemplo dessa contradição é Die Prinzessin von Banalien de Marie von
Ebner-Eschenbach. Neste conto a princesa sabe que apenas poderá estar com o homem que
verdadeiramente ama, um homem selvagem, na morte, pois não era aceite na sua sociedade, e
acaba por se casar com um rei, cumprindo assim o seu dever como princesa. No entanto, no
fim acaba por escolher a morte, para poder ficar com o homem que realmente ama. Esta
história também aborda a problemática do casamento. Alguns autores e femininistas
contemporâneos analisam este conto como forma da mulher, neste caso a princesa de
Banalien, encarar o seu lado animal, ou seja, a sua sexualidade.
Com o encontro do parceiro ideal (ou não), temos a questão do casamento. Nos contos
tradicionais, um final feliz pressupõe o matrimónio, mas nos contos destas escritoras, o
matrimónio é problematizado. Como já foi acima referido, temos o caso da princesa de
Banalien, que se encontra entre o casamento socialmente aceite com um rei e o casamento que
ela quer verdadeiramente com Abdul, o homem selvagem. Neste caso, tal como o caso de Lila
e Egbert no conto Blumenduft de Hedwig Dohm, é abordada a questão de casamento por amor
verdadeiro. Mas no caso da princesa de Banalien, também abordamos a questão do casamento
como obrigação e imposição social. Ainda temos o caso de Viorica, no conto Fornica de
Isabel de Roménia, que prefere não casar, pois acredita que os maridos apenas dão mais
trabalho, e a perda e a resignação que vêm com o casamento como é o caso do protagonista
do conto Das Königskind de Marie Timme.
Também temos os casamentos entre as mulheres e seres monstruosos, quer por
motivos genéticos, quer devido a um encanto. Enquanto que nos contos tradicionais as
mulheres esperam que um cavaleiro ou um familiar as salve, nos contos destas autoras, as
mulheres são poderosas, determinadas e independentes e fazem tudo para não casar com estes
seres, como acontece no conto Der Riesenwald. Vemos isso também no conto Der Löwe und
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der Frosch, em que um príncipe e a sua amada estão sob um encanto e é a amada que explica
tudo o que a irmã tem de fazer para os libertar do encanto – uma demonstração do poder do
amor verdadeiro que os dois têm.
Tal como a questão do casamento, as responsabilidades familiares também são
bastante importantes. Estes contos procuram preservar ou restaurar a noção de família.
Novamente cito como exemplo o conto Der Löwe und der Frosch. Neste conto a irmã vai à
procura do irmão e também faz tudo para poder salvá-lo. No conto Schwarz und Weiß,
também anteriormente referido, a mãe do príncipe Almansor tem um papel importante na
reconciliação da família. O valor atribuído à família também está presente nos contos de
Mährchen vom Fewei e Das Puppenstift, como já referi, e no conto Prinzeßchen de Marie von
Olfers, em que a protagonista escolhe ficar numa casa modesta com uma família carinhosa e
não uma casa isolada, fria, mas luxuosa, e sem a sua família.
Por fim, estes contos também abordam a velhice. Enquanto que nos contos
tradicionais, as personagens femininas idosas são muitas vezes mal vistas e em rivalidade
com as personagens mais jovens, nestes contos, as personagens femininas idosas são sábias e
são mentoras das mais novas. Temos por exemplo a fada do conto Prinzessin Rosalieb, que
tinha boas intenções nos castigos que impôs à princesa Rosalieb, e de Veleda do conto de
Benedikte Naubert, Boadicea and Veleda, que é uma feiticeira que oferece às filhas de
Boadicea acesso à imortalidade do mundo da magia das deusas germânicas, enquanto que
Boadicea tenta fazer com que as filhas regressem à realidade. Veleda é vista como mentora e
protectora das filhas de Boadicea na altura das invasões romanas.
Quanto aos homens nestas histórias, temos por um lado a figura de um homem forte,
mentor e protector, tal como as personagens femininas, e por outro, um homem que é a causa
da miséria na família e que recorre a mulheres ou a outras pessoas para resolver as situações
em que se encontra.
No caso do homem forte, temos o czar no conto Mährchen vom Fewei, que quer que o
seu filho seja um bom imperador e quer que ele seja obediente, acabando por ser, de uma
certa forma, o seu mentor. E Fewei, enquanto imperador, foi nobre e bondoso, sendo assim
outra grande figura masculina nos contos.
Por outro lado, temos o homem que é a causa da miséria na família, como no conto
Der Königssohn, der sich nicht fürchtet, já anteriormente mencionado. Nesta história, o rei e a
rainha não conseguem ter um filho, então o rei diz que desejava ter um filho, nem que fosse
do diabo. Dito isto, a rainha engravida e tem uma filha preta, feia, que parecia uma fera e
metia medo às pessoas. Neste caso o culpado é o rei e recorre a Frederick para salvar a filha.
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Estes contos são um reflexo e uma celebração da vida escritas de um ponto de vista
que foge um pouco to típico conto tradicional e apresentam novas noções psicológicas e
novos valores no que toca ao crescimento, às relações familiares e até às amorosas.

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Conclusão

Com a elaboração deste trabalho, passei a conhecer um lado da literatura alemã que
desconhecia e que não é muito divulgado. Há imensas lições que se podem aprender com
estes contos e tanta informação que se reúne sobre a mentalidade, os valores e a moral da
sociedade na altura.
Alguns destes contos até abordam temas da actualidade, tal como o feminismo, se bem
que de uma forma bastante discreta. O poder, a autonomia e a eloquência destas figuras
femininas mostram uma notável diferença nas protagonistas nas histórias, ao contrário dos
contos tradicionais, onde eram muitas vezes vitimizadas e pouco independentes. Este
contraste abre a porta aos ventos de mudança que viriam com o virar do século.
Como já referi, estes contos são um espelho das vidas das pessoas numa certa época
da história humanidade. Resta-nos aprender com estas histórias e retirar as lições que elas nos
transmitem ou, simplesmente, ignorá-las. Podemos fazer como Agatha do conto Das
Puppenstift e guardar estas histórias com carinho, ou deixá-las esquecidas, tal como a boneca
Adelgunge foi. Como é dito na conclusão da obra que foi analisada na elaboração deste
projecto, The Queen’s Mirror: Fairy Tales by German Women, 1780-1900: “With it, we end
our story and turn it back over to you. Twist me and turn me and show me the elf./ I looked in
the water and saw myself.” (Jarvis & Blackwell, 2001).

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Bibliografia

HARRIES, Elizabeth Wanning – Once, Not Long Ago. In Twice upon a Time [Em linha].
[Consult. 28 de Dezembro de 2010] Disponível em WWW: <URL:
http://press.princeton.edu/chapters/i7198.pdf>

JARVIS, Shawn C.; BLACKWELL, Jeannine, eds. - The Queen’s Mirror: Fairy Tales by
German Women, 1780-1900. Trad. de Shawn C. Jarvis e Jeannine Blackwell.
EUA: University of Nebraska Press, 2001. 374 p. ISBN 0-8032-6181-0.

VALKYRIE – Iceni Queen Boadicea [Em linha]. [Consult. 28 de Dezembro de 2010]


Disponível em www: <URL: http://fanzone50.com/Tales/Boadicea1.html>

Fairy tale. In Merriam-Webster Online [Em linha]. [Consult. 28 de Dezembro de 2010] Disponível
em WWW: <URL: http://www.merriam-webster.com/dictionary/fairy%20tales>

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