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A REALIDADE SOCIAL NA PERIFERIA DE FREDERICO WESTPHALEN - RS

Ivanir Furini1
Eloisa Duarte2

RESUMO: Este artigo apresenta os resultados da pesquisa realizada junto às áreas de


ocupação irregular e de risco habitacional na cidade de Frederico Westphalen, a qual está
localizada na região do Médio Alto Uruguai, onde os dados do IBGE e do Atlas de
Desenvolvimento Humano no Brasil, ao tratar da exclusão social, apontam desempenho
adequado deste município. Assim, o objetivo foi verificar a questão social que envolve a
condição de vida e as formas de sobrevivência das famílias frederiquenses em bairros
invadidos e em áreas de riscos. O método utilizado foi entrevista estruturada, com coleta
direta aos entrevistados em visita domiciliar a trinta e duas famílias com observação das
condições externas de moradia, registro fotográfico da realidade para posterior análise das
condições socioeconômicas das famílias que participaram da pesquisa. Na compilação dos
dados, observou-se que a vulnerabilidade social atinge a grande maioria das famílias
pesquisadas em todos os seus aspectos. Diante disso, como considerações finais, foram
elencados percentuais significativos destas famílias no quesito de qualidade de vida ausente,
uma vez que há exposição a diversos riscos sociais, ambientais e econômicos e dependem,
muitas vezes, exclusivamente de atenção do poder público para sobreviver.
Palavras-chave: Serviço Social; Questão Social; Políticas Públicas.

1
FURINI, Ivanir. Pós-graduanda em Saúde Coletiva – Ênfase em Sanitarismo na URI – Campus de Frederico
Westphalen. Assistente Social do Laboratório de Geoprocessamento da URI atuando em assessoria aos
municípios no Plano Local de Habitação de Interesse Social. Graduada em Serviço Social pela Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI – Campus de Frederico Westphalen.
2
DUARTE, Eloisa. Doutoranda em Ciências Sociais na UNISINOS. Mestre em Ciências Sociais Aplicadas.
Professor do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas – Curso de Serviço Social – URI – Campus de
Frederico Westphalen .
ABSTRACT: This article shows a research results conducted in the areas of illegal
occupation and risk living in Frederico Westphalen city which is located in Medio Alto
Uruguai region, where IBGE data and the Atlas of Human Development in Brazil, to address
about social exclusion, to show proper performance of this council. Then, the objective was to
assess the social issue which involves the life condition and survival ways families in
frederiquenses neighborhoods invaded and in risk areas. The method used was structured
interviews with respondents in the direct collection home to thirty-three families with
observation of the housing external conditions, the photographs reality for later analysis to the
families socioeconomic conditions which participated in the research. In compiling the data, it
was observed that the social vulnerability affects the vast majority of households surveyed in
all its aspects. Thus, as final considerations were found significant percentage of these
families listed in item quality of life away, since there is exposure to various social risks,
environmental and economic and depend many times from an exclusively attention of the
public to survive.
Keywords: Social Services, Social Issue, Public Policy.

Introdução

O desenvolvimento tecnológico é um dos traços marcantes na organização da


sociedade brasileira, porém, a grande maioria da população se encontra excluída dessa
evolução. A dubiedade nos valores culturais, éticos e sociais, tem contaminado as noções de
práticas econômicas e políticas, as quais deveriam estar voltadas para o bem coletivo. Isto
torna dramática a situação social daqueles que estão excluídos de quaisquer bens e/ou serviços
por não estarem produzindo para o capital e, portanto, dele não usufruírem como
consumidores. Neste sentido, ao realizar este estudo investigativo o objetivo foi verificar a
questão social que envolve a condição de vida e as formas de sobrevivência das famílias
frederiquenses em bairros invadidos e em áreas de riscos no município.
Para a realização desta pesquisa, foi elaborado um questionário semiestruturado,
aberto e fechado, com questões relacionadas à família e, direcionadas aos objetivos propostos
pela pesquisa, para que os subsídios e os dados fossem mais concretos à realidade das famílias
periféricas entrevistadas. Inicialmente, foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa.
Após a sua aprovação, foi aplicado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aos
sujeitos com o objetivo de colocá-los em contato com os propósitos deste estudo.
Inicialmente se destaca a importância da pesquisa no Serviço Social com os
indicadores encontrados através da coleta dos dados junto às populações pesquisadas e as
considerações acerca dos achados da pesquisa que apontam necessidades que vão desde as
primárias até aquelas consideradas essenciais para a sobrevivência de seres humanos.

Apontamento da realidade periférica local

Através desta pesquisa foi possível reconhecer os reflexos da globalização e do


processo econômico implantado no país, bem como os seus efeitos na realidade social local e
foi neste sentido que se procurou conhecer a origem das famílias periféricas de Frederico
Westphalen. Assim, entrevistou-se 32 famílias que, segundo Queiroz (1987, p.277): “(...)
mesmo que o cientista social registre somente uma história de vida, seu objetivo é captar o
grupo, a sociedade de que ela é parte; busca encontrar a coletividade a partir do indivíduo.”
Para isso, o dado inicial coletado foi sobre a procedência das famílias entrevistadas. A
maioria, isto é, 69%, são famílias do município de Frederico Westphalen, porém 31% são
oriundas de vários municípios da região, que vieram em busca de uma vida melhor. Ao chegar
aqui, no entanto, restou a subsistência em vias periféricas do município com moradias e vida
precarizadas. Segundo Kowarick (1993, p. 94):

(...) é sempre possível burlar a vigilância e construir um barraco no meio dos


núcleos já existentes ou em áreas ainda não congeladas, pois, dependendo do seu
tamanho inicial e do número de pessoas participantes de sua confecção, é viável
montá-lo em um dia.

Para as famílias periféricas, esta realidade de exclusão passa a ser o dia-a-dia, em que
vivem na expectativa de construírem seus barracos em áreas irregulares, mesmo diante do
controle público, aguardando posterior colocação em núcleos habitacionais do município.
Essa situação é visível na localidade denominada Área Verde, onde as famílias foram
chegando na clandestinidade e construindo seus próprios barracos. Observou-se que, ao redor
desta área, há um “condomínio familiar”. O casal mais velho chegou naquele local há 11 anos
e, conforme seus filhos iam se casando, construíam seus barracos. Segundo Yazbek (1993, p.
113): “As favelas organizam-se pela ocupação de áreas públicas ou privadas, onde crescem
habitações extremamente precárias, de tábuas velhas ou novas, zinco, latão, papelão e outros
(...).” Por esta razão, talvez, se identifica que há tempo significativo de moradia no mesmo
local.
A pesquisa apontou que 53% das famílias estão radicadas no município há muito tempo,
já, 19% residem no município há 10 anos e 28% residem de 11 a 20 anos no município. No
entanto, não se percebe uma organização comunitária importante, embora os moradores
percebam as suas necessidades. Há ausência de iniciativa para organização, para tentar mudar
as suas realidades. Segundo CBCISS - Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de
Serviços Sociais (1972, p. 8) “(...) o objetivo central da organização de comunidade é facilitar
o progresso atual de ajustamento social das pessoas através do desenvolvimento e uso
construtivo das relações sociais (...).” Assim a mobilização e a participação dos envolvidos
passa a ser importante para um resultado melhor na busca da garantia de direitos.
Entretanto, a premissa persiste naquilo que melhor fazem: cada uma dessas famílias
constrói suas casas com o que conseguem de doações e com material reciclável, conforme
mostra a Figura 1.

FIGURA 1: TIPO DE MATERIAL UTILIZADO PARA CONSTRUÇÃO DE CASAS

A maioria dos moradores possui casa de madeira, alguns deles tiveram que vender
“bens de consumo”, que conseguiram com muita economia, como é o caso de uma moradora
no bairro Pedreira. A casa é própria, construída por eles, mas com muita dificuldade. Segundo
relato da entrevistada: - “A madeira foi comprada em prestação e para o material da cobertura
da casa, vendemos a televisão.” Ainda, outra entrevistada, a família é procedente de Osvaldo
Cruz, e mora a dois anos no município. A casa é própria, de madeira e material reciclável,
construída por eles mesmos. A entrevistada relata: - “na época vendemos a bicicleta prá poder
comprar a madeira e construir”. Segundo Yazbek (1993, p. 44):

O que se observa é que os trabalhadores pobres, as classes subalternizadas e


submetidas à espoliação engendrada pela sociedade capitalista reagem à sua situação
de pobreza de diferentes formas, (...) desenvolvendo estratégias de sobrevivência
extremamente diversificadas (...).

O que a autora ressalta é possível visualizar, claramente, nestas famílias periféricas, pois
apresentam desempenho superior àquilo que ganham.
Já, Kowarick (2000, p. 86) aponta que: “(...) a produção de moradia de aluguel,
destinada às camadas mais pobres entra em declínio ao mesmo tempo em que assume
importância a confecção de moradias por seus proprietários.” Num dos relatos a entrevistada
disse que tentou na Prefeitura algumas tábuas para construir sua casa, porém, informaram-lhe
que não tinha verba para isso. A casa é pequena. Há frestas, mas o asseio é impecável e
organizada, embora não possua energia elétrica e nem banheiro. Ainda, segundo Kowarick
(2000, p. 115): “muitos se refugiam na sociabilidade primária da família, (...) estruturada em
torno da casa e da vizinhança, desses pedaços reconhecidos como solidários, de proteção e
ajuda mútua.” Segundo Yazbek (1993, p. 168): “(...) as experiências de solidariedade entre os
subalternizados, à construção de valores e de lutas comuns, para modificar suas condições de
vida, revelam novas formas de expressão social e politização de seu cotidiano.” Os autores
colocam que essa é a maneira que muitas das famílias encontraram para sobreviver na
periferia. Este dado torna-se importante quando se analisa a questão da vulnerabilidade
familiar.
Tanto é imprescindível tal fato, que, ao analisar os dados do Atlas do Desenvolvimento
Humano (2000), o percentual de adolescentes do sexo feminino citado está entre 15 e 17 anos
com incidência de filhos, apresentando um índice de 7,04%. Na pesquisa realizada, o índice
verificado foi de 13%. A diferença pode ser considerada significativa, pois se acredita que não
devem ter sido levadas em consideração as áreas de ocupação irregular e em situação de risco
social e, talvez por esta razão seja necessária uma rede solidária familiar não só a
sobrevivência e moradia, como também para o cuidado com os filhos, netos, sobrinhos e
enteados.
Destacam-se assim as mães chefes de família, que segundo o Atlas do Desenvolvimento
Humano (2000), o percentual apresentado de mães chefes de famílias, sem cônjuge, com
filhos menores, foi de 3,9%, sendo que os dados da pesquisa apresentaram um índice de 19%.
Pode-se observar que é significativo o índice de mães chefes de famílias. As mulheres estão
em busca de novos espaços, ocupando patamares ainda não conquistados. Segundo a
pesquisa: das 32 famílias entrevistadas, 6 famílias são mulheres que não possuem cônjuge e
26 famílias, são mulheres que possuem cônjuge. Como diz a autora Strey (2000, p. 99): “O
papel da mulher já é, e continuará sendo, cada vez mais, lutar pelo seu espaço na família e na
sociedade.” Entretanto, este é um traço observado na família burguesa onde as condições de
trabalho e acesso ao mercado profissional são mais adequadas à sua realidade.
Desta forma, a Figura 2, aponta algumas nuances desta realidade, onde as condições de
vida e a forma de sobrevivência dessas famílias podem ser observadas.

FIGURA 2: RENDA FAMILIAR

Percebe-se que há um índice salarial muito baixo, pois a maioria encontra-se em


vulnerabilidade social. Da renda de até R$ 100,00, constatou-se que sobrevivem de 1 a 3
pessoas em cada 3 famílias; de 4 a 7 pessoas em cada 2 famílias. Referente à renda R$ 101,00
a R$ 200,00, sobrevivem de 1 a 3 pessoas: 2 famílias; de 4 a 7 pessoas: 5 famílias. E, acima
de 8 pessoas: 2 famílias. Da renda superior a R$ 201,00, sobrevivem de 1 a 3 pessoas: 6
famílias; de 4 a 7 pessoas: 10 famílias e, acima de 8 pessoas: 2 famílias.
Destaca-se a situação de uma entrevistada, em que a família de 07 pessoas sobrevive
com renda total de R$ 90,00, a qual é conseguida através de serviços chamados de “bicos”,
exercidos pelo chefe da família. Estas atividades são venda de lenha, limpeza de pátio e
transferência de renda como Bolsa Família no valor de R$ 15,00. O barraco no qual moravam,
estava em condições inabitáveis. Essa família depende, totalmente, de doações de roupas tanto
para os pais como para seus filhos. Observa-se que, com o mínimo recebido, pouco se
consegue comprar para o sustento da família, sobrevivendo quase que, exclusivamente, de
doações.
Neste sentido, destaca-se a renda das famílias periféricas, da qual sobrevivem
principalmente crianças. Percebe-se 9 famílias com crianças as quais possuem renda inferior a
½ salário mínimo e 23 famílias com crianças que possuem renda superior a ½ salário mínimo.
Como diz Castel (2005, p. 53):

(...) Se podemos falar de um crescimento da insegurança hoje, é em grande parte


porque existem faixas da população que agora estão convencidas de que foram
abandonadas às margens do caminho, impotentes para controlar seu futuro num
mundo que muda cada vez mais.

De um modo geral o emprego é inexistente, pois essas pessoas não possuem


qualificação profissional, não tem acesso ao aprimoramento intelectual e profissional, pelo
modo de vida que levam. “A crise tem um novo caráter: não é só emprego que está em
questão, mas as raízes da identidade social, exigindo uma análise muito mais profunda que
aquela perfilada nas categorias de empregabilidade” (FALEIROS, 1997). Entende-se que,
segundo o autor, o desemprego é elevado devido à crescente exigência da mão-de-obra
qualificada e, essas pessoas sem essa qualificação, despojadas de cidadania, sujeitam-se,
muitas vezes, a trabalhos mal remunerados, transitórios, sem garantia legal.
Segundo a 17ª entrevistada: - “no centro quando perguntam onde moramos e
respondemos na “Pedreira”, já somos discriminados. Existe muito preconceito”. Segundo
Castel (2005, p. 49): “Os “excluídos” são coleções (e não coletivos) de indivíduos que não
têm nada em comum a não ser partilhar uma mesma penúria. São definidos numa base,
unicamente negativa, como se fossem elétrons livres, completamente dissocializados.”
Portanto, as pessoas do bairro estão, preconceituosamente, excluídas da sociedade e
convencidas de que ali onde estão é o seu lugar ou que ali devem estar porque é o que sobrou
para elas. O sentimento de abandono precariza o sentimento de cidadania.
Não é surpreendente, então, encontrar crianças exercendo alguma atividade laboral para
ajudar em casa. Conforme o Atlas de Desenvolvimento Humano de 2000, o percentual de
crianças que trabalham, é de 11,41%, com idade entre 10 e 14 anos. O índice apresentado na
pesquisa, aponta que 5 famílias entrevistadas, possuem de um a três filhos menores que
trabalham e, 27 famílias entrevistadas não possuem filhos menores trabalhando. Percebe-se,
portanto, que a diferença não é representativa. Porém, para a presente pesquisa, foi
considerada a idade laboral de 8 a 14 anos, pois este foi o indicador mais frequentemente
encontrado nas atividades de limpeza de pátios, fazendo calçamento, engraxando sapatos,
catando papelão, vendendo picolé. Por esta razão, a iniciativa de não frequentar a escola
torna-se salutar.
Quanto ao acesso à educação nas famílias dos bairros periféricos os dados da consulta
avançada do Atlas do Desenvolvimento Humano (2000) apresentam um percentual de 1,46%
de crianças com idade de 10 a 14 anos fora da escola, enquanto que nesta pesquisa o índice é
de 13%, isto é: das 32 famílias, 14 possuem filhos nessa faixa etária e dessas, apenas 2
famílias possuem crianças fora da escola. Isto mostra desaceleração no aumento de crianças
que não tem acesso à educação. De um modo geral, a população periférica apresenta essa
dificuldade, em função de sobrevivência. Diz-nos Kowarick (2000, p. 98): “(...) precariedade
dos serviços de saúde, a condição de vida dos cortiços e favelas, o acesso e permanência na
escola, (...) desprovidos de serviços básicos.” É essa a situação no dia-a-dia da periferia
frederiquense porque as condições básicas para a cidadania não são suficientes para torná-la
real. Isto fica visível no relato da 22ª entrevistada: - “Meu filho não está estudando, pois tem
vergonha. Cursou até 8ª série e, como no bairro não tem Ensino Médio, ele tem que ir de noite
à Escola Estadual do centro. Até se matriculou, mas ficou envergonhado diante dos colegas,
por não ter roupa melhor para vestir, e desistiu de estudar.” Os bairros periféricos estão sem
Escola de Ensino Médio, ficando difícil o acesso à educação.
Outro aspecto da pesquisa constatou que há um índice elevado de famílias que
sobrevivem de benefícios dos seus idosos. Das 32 famílias pesquisadas, 23 recebem
benefícios, tais como: Aposentadoria por idade, Pensão por viuvez e BPC (Benefício de
Prestação Continuada), sendo que, 5 famílias dependem, totalmente, da renda de idosos.
Relata a 14ª entrevistada: - “com o dinheiro do BPC do meu irmão, nós conseguimos comprar
essa casa.”
Percebe-se, também, que os benefícios dos Programas Sociais facilitam a aquisição de
bens de consumo e outros. Com base no censo de 2000, 95% da população possuía geladeira,
enquanto que os dados da pesquisa tiveram um índice de 66%. Quanto à Televisão: o censo de
2000 obteve um índice de 92,7%, enquanto que, na pesquisa, 56%. Pode-se observar que o
poder aquisitivo baixou em relação aos dados do censo. “É flagrante (...), que na sociedade
brasileira a remuneração da imensa maioria dos assalariados não acompanhou os aumentos da
produtividade do trabalho ou que, até nos momentos de expansão econômica, (...) tenha
havido deteriorização dos rendimentos reais.” (KOWARICK, 2000). Assim, o autor coloca
que resta uma sociedade com contrastes, na qual não se consegue frear o aumento do
desemprego e a crescente condição extremada de pauperismo, restando a condição de
dependência dos benefícios, conforme demonstra a Figura 3.

FIGURA 3: TIPO DE BENEFÍCIO RECEBIDO PELAS FAMÍLIAS ENTREVISTADAS


Além desses benefícios, 19% das famílias entrevistadas recebem cesta básica. Por isso,
em contrapartida, prestam serviços em algumas instituições do município, como Promenor e
Esquina da Solidariedade. Diz Kowarick (2000, p. 82):

(...) vale apontar para a ausência ou precariedade do que só com ironia se pode
denominar de políticas sociais compensatórias. Entre estas destacam-se os irrisórios
montantes referentes ao auxílio desemprego, pensões e aposentadoria ou subsídios
em relação a elementos urbanos básicos, dos quais cumpre destacar os limitados e
inoperantes programas de habitação popular.

Vale destacar que, apesar de serem precárias as políticas sociais, muitas famílias
dependem dessas políticas para terem o mínimo de cidadania, pois, sem essas garantias, a
situação é indiscutivelmente complicada; vivem em condições subumanas.
Outro ponto importante na pesquisa é com relação ao Saneamento Básico. No censo de
2000, o percentual da população com acesso a Serviços Básicos, com referência à água
encanada no Município de Frederico Westphalen, era de 93,6 %, enquanto que o percentual
constatado na pesquisa é de 62 % que possuem água encanada, 25% têm água cedida e, 13%
água comunitária, mostrando que 38% da população periférica do município, ainda não
possuíram acesso à água potável. Este é um percentual que pode ser considerado significativo
e merece atenção das autoridades públicas.
Segundo outro relato: - “a água que usamos é de uma torneira comunitária que a
Prefeitura colocou há muito tempo, é paga pelo Município e a conta, do mês que passou, deu
muito alta, pois as pessoas não cuidam, quase foi cortada pela Corsan”. Ainda, segundo
relato: - “Tem luz, mas não tem água encanada, e nem esgoto.” Continuou: - “O lixo é
recolhido uma vez na semana, mas tivemos que fazer abaixo assinado com a vizinhança pra
isso.” Informou que tentaram várias vezes reivindicar seus direitos de saneamento básico, mas
nada conseguiram. Segundo Souza (1996, p. 16): “(...) Uma das suas perspectivas, é definir-se
como processo educativo em função da organização social da população comunitária para
enfrentamento dos seus interesses e preocupações e, consequentemente, ampliação das suas
condições de cidadania.” Portanto, é através da organização da comunidade que se terá um
melhor resultado na reivindicação de seus direitos.
Com base no censo de 2000, a população do município que possuía energia elétrica
obteve um percentual de 98,3%, enquanto que os dados indicados tiveram um índice de 47%.
Já, de energia cedida obteve 34% e, que não possui energia atingiu o percentual de 19%. Essa
diferença de percentual mostra, claramente, a situação da periferia, onde a energia elétrica,
muitas vezes, é através de “gatos”, como relata a 19ª entrevistada: - “A luz é utilizada de um
“gato” que fiz da casa da minha sogra, que mora lá embaixo.” Observa-se que o índice de
energia cedida é elevado, pois muitos não têm como instalar energia própria.
Ao analisar as condições dos bairros, considerou-se que há poucos incidentes
envolvendo incêndios causados por curto circuito, uma vez que a precariedade dessas
“instalações elétricas” propicia acidentes desta envergadura. Outro aspecto é o saneamento
básico, a ausência do esgoto. É possível projetar um cinturão de contaminação a céu aberto
em torno da cidade, sem exagero e sem demagogia.
A Figura 4 mostra como se encontra a situação em relação às instalações sanitárias da
periferia.

FIGURA 4: TIPO DE SITUAÇÃO EM RELAÇÃO ÀS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS

De um modo geral, as condições de vulnerabilidade e risco social estão presentes na


maioria dos locais, principalmente na localidade chamada “Viaduto”. Para chegar até a
residência de uma entrevistada, precisou-se passar por cima de tubos abertos, por onde passa
o esgoto do bairro, exalando cheiro muito forte, em frente a residências ali construídas. Relata
a 10ª entrevistada: - “Ninguém faz nada por esse bairro, é uma fiasqueira. Os bueiros estão
abertos. A água desce por todos os lados. Aqui no fundo tem uma fossa que em dias de chuva,
transborda e alaga o terreno, escorrendo sujeira por baixo e pela frente da casa.”
Como agravante, ainda há a questão do lixo produzido na periferia. O índice de coleta
de lixo, no último censo, era de 95,7% nos “domicílios urbanos”, enquanto que nos bairros
pesquisados, é de 66%. A coleta é realizada da seguinte maneira: É colocado um recipiente
com uso coletivo, o qual é utilizado pela maioria dos moradores em cada bairro. Entretanto,
muitos deles, pela distância, acabam queimando os seus lixos nos locais em que moram, ou
em terrenos próximos, causando situações de perigo. Conforme relata um entrevistado do
Bairro São José: - “O lixo é recolhido de 15 em 15 dias, mas já faz algum tempo que não vem
recolher e ele acaba se espalhando na rua.” Observou-se que o local é bastante sujo pelo lixo
jogado e espalhado em frente às casas. Isto provoca miasmas e acúmulo de insetos.
Isto é possível de ser observado no dia-a-dia daquelas pessoas que tentam limpar e dar
um destino ao lixo, correndo risco em sua saúde, como no caso de um dos moradores que
relatou o seguinte: - “Tinha muito lixo e não aguentei o cheiro, que tava muito forte, e
coloquei fogo no latão, aí caiu um plástico com fogo no meu pé e grudou.” Ainda relata a 6ª
entrevistada: “O latão mais próximo, fica a mais ou menos duas quadras, ficando assim muito
difícil levar até lá.” Salienta-se que o lixo não é recolhido por domicílio, mas sim por região
no bairro, facilitando assim, o uso inadequado para o depósito, causando situações
insuportáveis entre lixo e seres humanos.
As diversas situações de vulnerabilidade e risco social, pela falta de saneamento básico,
estão postas na maioria das entrevistas, fazendo com que a procura pelos atendimentos aos
serviços de saúde seja maior. Nesta pesquisa todos os entrevistados têm acesso a Serviços de
Saúde, onde 38% utilizam o Posto do Núcleo Habitacional II e 62% utilizam a Assistência
Municipal, localizada no Centro da Cidade. Porém, é muito difícil conseguir consulta, exames
e medicamentos quando necessários.
Segundo Faleiros (1997, p. 60): “(...) garantia dos direitos sociais só pode ser feita pelo
Estado de direitos, através das políticas voltadas para as necessidades básicas de saúde,
educação, lazer, cultura, meio ambiente (...).” Sem essa garantia das políticas públicas, o
indivíduo não tem condições de, por si só, superar as diversas situações de vulnerabilidade em
que se encontra. Estas famílias estão em locais inadequados para viver e tornam-se
vulneráveis e expostas a diversos riscos sociais, ambientais e econômicos.
Ainda, segundo Demo (1996, p. 36): “A vida econômica do município não pode sequer
viabilizar deveres públicos fundamentais, como a educação de 1º grau, o acesso à água
potável, o atendimento hospitalar e sanitário, etc. A dependência é genérica e acaba
transformando-se em forma normal de vida.” Segundo os autores, e diante desses fatos, pode-
se afirmar que a atenção básica, a esta população, incidiria, diretamente, na qualidade de vida
e decrescente demanda para a Secretaria Municipal da Saúde e Assistência Social.
Analisando as famílias entrevistadas desses bairros revelam-se assim, processos
cumulativos onde se configura um quadro de pobreza e carências sociais. Além da situação de
pobreza existente, há uma insegurança no bairro. As famílias que ali residem, vivem em
constante medo de enfrentar aquilo que não sabem como evitar: a criminalidade no próprio
bairro.
Pela situação de vulnerabilidade em que se encontram, direitos à sobrevivência foram
quase esquecidos. A assistência faz parte também da democracia e da cidadania, porém,
ressalta-se de que: “a meta da assistência é assistir, obviamente, mas, sempre que possível,
deve-se assistir de tal forma que se favoreçam atividades de produção e participação”
(DEMO, 1996). Assim, nesse processo de devolução e divulgação da pesquisa realizada,
destaca-se a importância da união e participação, isso fará com que desenvolvam estratégias
em conjunto na efetivação de seus direitos, sendo fundamental para o enfrentamento das
diversas situações na superação das dificuldades.
É importante enfatizar, também, que as situações de vulnerabilidade em que as famílias
da periferia se encontram, e a falta de opção, levam, muitas vezes, os jovens a ficarem
indecisos quanto ao futuro de cada um, conforme nos afirma Castel (1999, p. 60):

Não produzem a inserção, fazendo com que os jovens da periferia vão de um lugar a
outro, de uma atividade a outra “ocupando-se em não fazer nada”, sem desembocar
em nada. As próprias políticas trazem embutidas, formas de uma inserção limitada,
pobre para os pobres.

É importante aí, novamente, o papel do Assistente Social, pois ao fortalecer o usuário


através de mediação e do acesso às políticas públicas para que tenham condições mínimas de
vida, provoca rupturas na realidade social. Sendo assim, o profissional Assistente Social terá o
papel de articulador para que o acesso ao direito aconteça e que desencadeie a participação
nas decisões que afetam os seus direitos. Portanto, nesse sentido a comunidade é chamada a
participar e planejar na execução das ações que envolvam os processos de melhoria das
condições socioeconômicas, na busca da cidadania. Para Souza (1996), é necessária também a
consciência social que o homem tem de si mesmo como ser social, assim como suas
necessidades e frustrações, o que requer um pensar e um enfrentamento comum daqueles que
vivem em igual condição social. Através dos movimentos populares, das diferentes formas de
associações é que se busca a reivindicação de direitos e condições básicas de vida.

Considerações Finais
Os aspectos que se pode destacar nesta pesquisa são as diferentes situações de trabalho
que se apresentam na busca incessante de sobrevivência. A partir das narrativas dos
entrevistados observou-se, inicialmente, a dependência das políticas públicas relacionada ao
trabalho, à saúde e à moradia. Também ficou evidente que nem sempre é possível haver
resultados imediatos na realidade local, embora os esforços sejam para este encaminhamento.
É neste vácuo entre demanda e recursos que, cresce a problemática da pobreza e, com ela, a
diversidade de situações expressas na questão social do município.
Neste sentido se ressalta a importância da pesquisa em Serviço Social, a qual é
considerada fundamental na discussão como prática social, já que representa a busca
constante, a descoberta de idéias para inovar a práxis junto à realidade social, possibilitando
ao profissional intervir com conhecimento do seu objeto e do seu sujeito, com propriedade do
saber.
Destaca-se, também, a importância da conscientização e da mobilização na
reivindicação de direitos e na discussão das prioridades a serem atendidas, a demanda
existente e a aplicação das políticas sociais, objetivando uma melhor qualidade de vida das
pessoas com perspectivas de emancipação do sujeito, visando ao bem-estar social. Isto foi
observado no momento em que, após a apresentação destes resultados aos sujeitos da pesquisa
os mesmos tiveram espaço para colocar suas angústias e anseios comuns, bem como para
refletir com seus vizinhos as alternativas possíveis de serem buscadas.
E, para finalizar, é importante destacar que o Serviço Social exerce o papel de
mediador na luta para que o acesso aos direitos aconteça, na passagem da exclusão para a
inclusão social, elementos indispensáveis para a emancipação e cidadania.

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YAZBEK, Maria Carmelita. Classes Subalternas e Assistência Social. Cortez, São Paulo,
1993.

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