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Ivanir Furini1
Eloisa Duarte2
1
FURINI, Ivanir. Pós-graduanda em Saúde Coletiva – Ênfase em Sanitarismo na URI – Campus de Frederico
Westphalen. Assistente Social do Laboratório de Geoprocessamento da URI atuando em assessoria aos
municípios no Plano Local de Habitação de Interesse Social. Graduada em Serviço Social pela Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI – Campus de Frederico Westphalen.
2
DUARTE, Eloisa. Doutoranda em Ciências Sociais na UNISINOS. Mestre em Ciências Sociais Aplicadas.
Professor do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas – Curso de Serviço Social – URI – Campus de
Frederico Westphalen .
ABSTRACT: This article shows a research results conducted in the areas of illegal
occupation and risk living in Frederico Westphalen city which is located in Medio Alto
Uruguai region, where IBGE data and the Atlas of Human Development in Brazil, to address
about social exclusion, to show proper performance of this council. Then, the objective was to
assess the social issue which involves the life condition and survival ways families in
frederiquenses neighborhoods invaded and in risk areas. The method used was structured
interviews with respondents in the direct collection home to thirty-three families with
observation of the housing external conditions, the photographs reality for later analysis to the
families socioeconomic conditions which participated in the research. In compiling the data, it
was observed that the social vulnerability affects the vast majority of households surveyed in
all its aspects. Thus, as final considerations were found significant percentage of these
families listed in item quality of life away, since there is exposure to various social risks,
environmental and economic and depend many times from an exclusively attention of the
public to survive.
Keywords: Social Services, Social Issue, Public Policy.
Introdução
Para as famílias periféricas, esta realidade de exclusão passa a ser o dia-a-dia, em que
vivem na expectativa de construírem seus barracos em áreas irregulares, mesmo diante do
controle público, aguardando posterior colocação em núcleos habitacionais do município.
Essa situação é visível na localidade denominada Área Verde, onde as famílias foram
chegando na clandestinidade e construindo seus próprios barracos. Observou-se que, ao redor
desta área, há um “condomínio familiar”. O casal mais velho chegou naquele local há 11 anos
e, conforme seus filhos iam se casando, construíam seus barracos. Segundo Yazbek (1993, p.
113): “As favelas organizam-se pela ocupação de áreas públicas ou privadas, onde crescem
habitações extremamente precárias, de tábuas velhas ou novas, zinco, latão, papelão e outros
(...).” Por esta razão, talvez, se identifica que há tempo significativo de moradia no mesmo
local.
A pesquisa apontou que 53% das famílias estão radicadas no município há muito tempo,
já, 19% residem no município há 10 anos e 28% residem de 11 a 20 anos no município. No
entanto, não se percebe uma organização comunitária importante, embora os moradores
percebam as suas necessidades. Há ausência de iniciativa para organização, para tentar mudar
as suas realidades. Segundo CBCISS - Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de
Serviços Sociais (1972, p. 8) “(...) o objetivo central da organização de comunidade é facilitar
o progresso atual de ajustamento social das pessoas através do desenvolvimento e uso
construtivo das relações sociais (...).” Assim a mobilização e a participação dos envolvidos
passa a ser importante para um resultado melhor na busca da garantia de direitos.
Entretanto, a premissa persiste naquilo que melhor fazem: cada uma dessas famílias
constrói suas casas com o que conseguem de doações e com material reciclável, conforme
mostra a Figura 1.
A maioria dos moradores possui casa de madeira, alguns deles tiveram que vender
“bens de consumo”, que conseguiram com muita economia, como é o caso de uma moradora
no bairro Pedreira. A casa é própria, construída por eles, mas com muita dificuldade. Segundo
relato da entrevistada: - “A madeira foi comprada em prestação e para o material da cobertura
da casa, vendemos a televisão.” Ainda, outra entrevistada, a família é procedente de Osvaldo
Cruz, e mora a dois anos no município. A casa é própria, de madeira e material reciclável,
construída por eles mesmos. A entrevistada relata: - “na época vendemos a bicicleta prá poder
comprar a madeira e construir”. Segundo Yazbek (1993, p. 44):
O que a autora ressalta é possível visualizar, claramente, nestas famílias periféricas, pois
apresentam desempenho superior àquilo que ganham.
Já, Kowarick (2000, p. 86) aponta que: “(...) a produção de moradia de aluguel,
destinada às camadas mais pobres entra em declínio ao mesmo tempo em que assume
importância a confecção de moradias por seus proprietários.” Num dos relatos a entrevistada
disse que tentou na Prefeitura algumas tábuas para construir sua casa, porém, informaram-lhe
que não tinha verba para isso. A casa é pequena. Há frestas, mas o asseio é impecável e
organizada, embora não possua energia elétrica e nem banheiro. Ainda, segundo Kowarick
(2000, p. 115): “muitos se refugiam na sociabilidade primária da família, (...) estruturada em
torno da casa e da vizinhança, desses pedaços reconhecidos como solidários, de proteção e
ajuda mútua.” Segundo Yazbek (1993, p. 168): “(...) as experiências de solidariedade entre os
subalternizados, à construção de valores e de lutas comuns, para modificar suas condições de
vida, revelam novas formas de expressão social e politização de seu cotidiano.” Os autores
colocam que essa é a maneira que muitas das famílias encontraram para sobreviver na
periferia. Este dado torna-se importante quando se analisa a questão da vulnerabilidade
familiar.
Tanto é imprescindível tal fato, que, ao analisar os dados do Atlas do Desenvolvimento
Humano (2000), o percentual de adolescentes do sexo feminino citado está entre 15 e 17 anos
com incidência de filhos, apresentando um índice de 7,04%. Na pesquisa realizada, o índice
verificado foi de 13%. A diferença pode ser considerada significativa, pois se acredita que não
devem ter sido levadas em consideração as áreas de ocupação irregular e em situação de risco
social e, talvez por esta razão seja necessária uma rede solidária familiar não só a
sobrevivência e moradia, como também para o cuidado com os filhos, netos, sobrinhos e
enteados.
Destacam-se assim as mães chefes de família, que segundo o Atlas do Desenvolvimento
Humano (2000), o percentual apresentado de mães chefes de famílias, sem cônjuge, com
filhos menores, foi de 3,9%, sendo que os dados da pesquisa apresentaram um índice de 19%.
Pode-se observar que é significativo o índice de mães chefes de famílias. As mulheres estão
em busca de novos espaços, ocupando patamares ainda não conquistados. Segundo a
pesquisa: das 32 famílias entrevistadas, 6 famílias são mulheres que não possuem cônjuge e
26 famílias, são mulheres que possuem cônjuge. Como diz a autora Strey (2000, p. 99): “O
papel da mulher já é, e continuará sendo, cada vez mais, lutar pelo seu espaço na família e na
sociedade.” Entretanto, este é um traço observado na família burguesa onde as condições de
trabalho e acesso ao mercado profissional são mais adequadas à sua realidade.
Desta forma, a Figura 2, aponta algumas nuances desta realidade, onde as condições de
vida e a forma de sobrevivência dessas famílias podem ser observadas.
(...) vale apontar para a ausência ou precariedade do que só com ironia se pode
denominar de políticas sociais compensatórias. Entre estas destacam-se os irrisórios
montantes referentes ao auxílio desemprego, pensões e aposentadoria ou subsídios
em relação a elementos urbanos básicos, dos quais cumpre destacar os limitados e
inoperantes programas de habitação popular.
Vale destacar que, apesar de serem precárias as políticas sociais, muitas famílias
dependem dessas políticas para terem o mínimo de cidadania, pois, sem essas garantias, a
situação é indiscutivelmente complicada; vivem em condições subumanas.
Outro ponto importante na pesquisa é com relação ao Saneamento Básico. No censo de
2000, o percentual da população com acesso a Serviços Básicos, com referência à água
encanada no Município de Frederico Westphalen, era de 93,6 %, enquanto que o percentual
constatado na pesquisa é de 62 % que possuem água encanada, 25% têm água cedida e, 13%
água comunitária, mostrando que 38% da população periférica do município, ainda não
possuíram acesso à água potável. Este é um percentual que pode ser considerado significativo
e merece atenção das autoridades públicas.
Segundo outro relato: - “a água que usamos é de uma torneira comunitária que a
Prefeitura colocou há muito tempo, é paga pelo Município e a conta, do mês que passou, deu
muito alta, pois as pessoas não cuidam, quase foi cortada pela Corsan”. Ainda, segundo
relato: - “Tem luz, mas não tem água encanada, e nem esgoto.” Continuou: - “O lixo é
recolhido uma vez na semana, mas tivemos que fazer abaixo assinado com a vizinhança pra
isso.” Informou que tentaram várias vezes reivindicar seus direitos de saneamento básico, mas
nada conseguiram. Segundo Souza (1996, p. 16): “(...) Uma das suas perspectivas, é definir-se
como processo educativo em função da organização social da população comunitária para
enfrentamento dos seus interesses e preocupações e, consequentemente, ampliação das suas
condições de cidadania.” Portanto, é através da organização da comunidade que se terá um
melhor resultado na reivindicação de seus direitos.
Com base no censo de 2000, a população do município que possuía energia elétrica
obteve um percentual de 98,3%, enquanto que os dados indicados tiveram um índice de 47%.
Já, de energia cedida obteve 34% e, que não possui energia atingiu o percentual de 19%. Essa
diferença de percentual mostra, claramente, a situação da periferia, onde a energia elétrica,
muitas vezes, é através de “gatos”, como relata a 19ª entrevistada: - “A luz é utilizada de um
“gato” que fiz da casa da minha sogra, que mora lá embaixo.” Observa-se que o índice de
energia cedida é elevado, pois muitos não têm como instalar energia própria.
Ao analisar as condições dos bairros, considerou-se que há poucos incidentes
envolvendo incêndios causados por curto circuito, uma vez que a precariedade dessas
“instalações elétricas” propicia acidentes desta envergadura. Outro aspecto é o saneamento
básico, a ausência do esgoto. É possível projetar um cinturão de contaminação a céu aberto
em torno da cidade, sem exagero e sem demagogia.
A Figura 4 mostra como se encontra a situação em relação às instalações sanitárias da
periferia.
Não produzem a inserção, fazendo com que os jovens da periferia vão de um lugar a
outro, de uma atividade a outra “ocupando-se em não fazer nada”, sem desembocar
em nada. As próprias políticas trazem embutidas, formas de uma inserção limitada,
pobre para os pobres.
Considerações Finais
Os aspectos que se pode destacar nesta pesquisa são as diferentes situações de trabalho
que se apresentam na busca incessante de sobrevivência. A partir das narrativas dos
entrevistados observou-se, inicialmente, a dependência das políticas públicas relacionada ao
trabalho, à saúde e à moradia. Também ficou evidente que nem sempre é possível haver
resultados imediatos na realidade local, embora os esforços sejam para este encaminhamento.
É neste vácuo entre demanda e recursos que, cresce a problemática da pobreza e, com ela, a
diversidade de situações expressas na questão social do município.
Neste sentido se ressalta a importância da pesquisa em Serviço Social, a qual é
considerada fundamental na discussão como prática social, já que representa a busca
constante, a descoberta de idéias para inovar a práxis junto à realidade social, possibilitando
ao profissional intervir com conhecimento do seu objeto e do seu sujeito, com propriedade do
saber.
Destaca-se, também, a importância da conscientização e da mobilização na
reivindicação de direitos e na discussão das prioridades a serem atendidas, a demanda
existente e a aplicação das políticas sociais, objetivando uma melhor qualidade de vida das
pessoas com perspectivas de emancipação do sujeito, visando ao bem-estar social. Isto foi
observado no momento em que, após a apresentação destes resultados aos sujeitos da pesquisa
os mesmos tiveram espaço para colocar suas angústias e anseios comuns, bem como para
refletir com seus vizinhos as alternativas possíveis de serem buscadas.
E, para finalizar, é importante destacar que o Serviço Social exerce o papel de
mediador na luta para que o acesso aos direitos aconteça, na passagem da exclusão para a
inclusão social, elementos indispensáveis para a emancipação e cidadania.
Referências Bibliográficas
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CASTEL, Robert. A Insegurança Social – O que é ser protegido? Vozes, Petrópolis, RJ,
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