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Ecopedagogia, Cidadania Planetária e PROEJA: Caminhos para uma

Economia Solidária.
Carla de Freitas Armond*
Débora Valente dos Santos**

Resumo

O artigo faz um apanhado dos princípios da Ecopedagogia, ramo da Economia Solidária e sua
inserção na Educação de Jovens e Adultos e no Programa Nacional de integração da educação
profissional com a educação básica na modalidade de jovens e adultos - PROEJA.
A Ecopedagogia baseia-se principalmente na Cidadania Planetária, na interdisciplinaridade, e no
respeito à vida.
O texto refere-se às características do próprio PROEJA, que incorpora uma diversidade de
sujeitos. O grande desafio é superar o tratamento marginal e compensatório tanto dado ao
PROEJA como a Economia Solidária, que é constituída de práticas sociais alternativas à
economia capitalista.

Palavras chaves: Economia Solidária, Ecopedagogia, sustentabilidade e PROEJA.

Abstract

The article makes a summary of the principles of Ecopedagogy, line of solidary economy and it`s
insertion in adult and young education and in the National Program of integration of profession
education with basic education in the modality of adults and young, PROEJA.
The Ecopedagogy is mainly basic upon Planetary Citizenship in interdisciplinarity and in the
respect for life.
The text refers to the characteristics of PROEJA itself, which incorporates the diversities of
subjects. The great challenge is to PROEJA and solidary economy which is formed of social
practice in alternative to capitalist economy.

Keywords: Solidary Economy, Ecopedagogy, sustainability and PROEJA.

*Graduada em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia de Itaperuna, Pós-Graduanda em


Educação Profissional Integrada à Educação de Jovens e Adultos.
** Graduada em Licenciatura em Ciências Agrícolas Pela Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, Campus Seropédica, Pós-Graduanda em Educação Profissional Integrada à Educação de
Jovens e Adultos.
Introdução

Entende-se por ecopedagogia uma proposta pedagógica que possibilite e garanta o


processo educativo com enfoque na construção de uma cultura de sustentabilidade, ou seja, uma
cultura que valorize a vida, a convivência harmônica entre todos os seres humanos e entre
humanos e o resto da natureza (equilíbrio dinâmico). É neste contexto que surge a ecopedagogia,
como sendo uma pedagogia que promove a aprendizagem do sentido das coisas com vistas a vida
cotidiana. Sendo dessa maneira uma pedagogia democrática e solidária.
Através da ecopedagogia, pretende-se formar o cidadão planetário, aquele que pertence a
uma sociedade mundial e sustenta a visão unificadora do planeta, planeta este que dentro desta
visão se torna uma só nação e os seres humanos seus cidadãos. A cidadania planetária deve ser
cultivada urgentemente nos dias atuais, ela é um componente estratégico no processo de
construção da democracia, pois no movimento ecológico o local e o global se interligam.
A cidadania planetária implica necessariamente também a existência de uma democracia
planetária, e esta ainda está longe de ser alcançada. Ela ainda é um projeto da mente humana. Ao
contrário do que pensam muitos neoliberais, ela não será atingida apenas como uma
consequência ou como um subproduto do avanço tecnológico ou da globalização econômica.
É preciso educar para a cidadania planetária e este é um dos desafios da ecopedagogia.
Para atingir tal patamar, as pessoas terão que mudar o atual paradigma. “Meu novo paradigma é a
Terra vista pelos astronautas: os homens vistos em uma única comunidade” tem afirmado
frequentemente o Teólogo Leonardo Boff. Educar para formar cidadãos planetários supõe o
reconhecimento de uma comunidade global, de uma sociedade civil planetária.
È um fato consumado que o sistema socioeconômico atual está ruindo, que o almejado
lucro ilimitado não é sustentável e que é imprescindível encontrar novos caminhos para o futuro.
No atual momento da historia da humanidade estamos diante da alternativa de abrir esse novo
caminho ou perecer. Para entrar nesse novo caminho de um mundo mais solidário são
necessárias: uma nova política, uma nova economia, uma nova ciência, uma nova educação e
uma nova espiritualidade. Para chegar a esse novo mundo, a humanidade deverá se focar em
formar homens e mulheres capazes de viver e criar uma nova cultura social do Desenvolvimento
Sustentável.
Com o fracasso socioeconômico do sistema capitalista e comunista no mundo, há então a
necessidade de se criar um novo olhar do sistema socioeconômico. A Economia Solidária é uma
alternativa ao sistema econômico vigente que destrói o meio ambiente em busca do crescimento
econômico ilimitado. Cooperação e respeito são as bases da Economia Solidária que tem como
pontos principais: a valorização social do trabalho humano; a satisfação plena das necessidades
de todos; o reconhecimento do lugar fundamental da mulher; a busca de uma relação respeitosa
com a natureza; a valorização da cooperação e da solidariedade.
O público de jovens e adultos com 15 ou mais anos de idade, que não teve
acesso ou permanência no sistema formal de ensino em idade normal, somam mais de 65
milhões. Destes, boa parte encontra-se desvinculada de atividades de trabalho e geração de renda
no mercado de trabalho formal ou informal. Reconhecer o direito de todos à educação básica de
qualidade e ao acesso às novas formas de trabalho e geração de renda, que possibilitem o
desenvolvimento de suas capacidades e habilidades como exercício de cidadania, é potencializar
a construção de políticas públicas que integrem educação e trabalho, compreendendo a
importância de fomentar o desenvolvimento da cultura da Economia Solidária - seus princípios e
valores - no contexto da Educação de Jovens e Adultos.
Educar para formar cidadãos planetários. Este princípio deve nortear as práticas
educativas em todos os níveis de ensino, ainda mais na Educação de jovens e adultos inseridos ou
não no mundo do trabalho. É imprescindível e urgente que cidadãos planetários sejam formados
sobre nova ótica para atuar produtivamente em nossa sociedade.

Cidadania Planetária e Ambiental

As instituições educacionais brasileiras ainda ignoram a identidade planetária. É preciso


despertar para a identidade terrena. O reconhecimento de nossa planetariedade poderá nos levar a
viver em relação harmônica com os outros seres vivos do planeta em nosso cotidiano.
Ao ver o planeta como nosso único lar, estaremos dando um passo para entender nosso
lugar no Cosmos. Daí o conceito de cidadania ambiental ultrapassa os limites da educação
tradicional centrada na lógica da competição e acumulação, no lucro ilimitado sem levar em
consideração os limites dos recursos naturais e as necessidades dos outros seres vivos do planeta.
A pedagogia da cidadania planetária requer uma profunda consciência ecológica, um novo
paradigma para a humanidade. A humanidade vive hoje na Aldeia Global, como já havia sido
anunciado na década de 60 por Marshall Mcluan, e que surge devido aos grandes avanços
tecnológicos na microeletrônica e nos meios de comunicação. Essa aldeia global nos obriga a
viver a planetariedade num mundo repleto de redes de comunicação que influem na forma como
vemos o mundo. Esse é o novo paradigma: ver o mundo e nossa atuação nele de forma diferente,
com relações planetárias, dinâmicas e sinérgicas.
A situação atual de nosso planeta é hoje um caos. Neste inicio de século XXI, nos
encontramos imersos em um enorme avanço cientifico e tecnológico. Porém, ainda enfrentamos
os mais graves problemas do campo social e ambiental. Entre esses problemas poderíamos
destacar a fome, a desigualdade social, o analfabetismo, a poluição e destruição das florestas.
Esse panorama não é exclusivo de uma só nação, como o Brasil. Essa realidade se estende
a todas as nações do planeta e deve ser vista como problema da humanidade. Quando for
percebido pelos seres humanos que nossos problemas são globais, as soluções também deverão
ser globais.
O cidadão planetário deve pensar de forma integrada e planetária, pois sabe que o planeta
é um sistema organizado e complexo e que este não existiria sem seus elementos básicos (luz,
água, ar, plantas e animais).
Ao longo do tempo a humanidade desenvolveu três formas de se relacionar com a
natureza. A primeira foi aquela em que os seres humanos estavam subjugados as forças da
natureza. Consideravam-na como onipotente e que nada se podia fazer para entendê-la. A
segunda relação levariam em conta a natureza como algo a ser conquistado; os seres humanos
deveriam dominá-la a qualquer custo. Esse pensamento teve sua origem nas revoluções cientifica
e industrial. Nesta visão a humanidade está acima da natureza, pode fazer com ela tudo o que
desejar, sem se importar com os demais seres vivos. A terceira e ultima considera os seres
humanos como parte integrante e indissociável da natureza e como tal deve agir de forma a
compartilhar com os demais seres do planeta seus recursos naturais. É nesta visão que se encaixa
o sentimento de pertencimento a uma comunidade vital planetária. Nesta visão global deve reinar
a harmonia ambiental. "A harmonia ambiental supõe tolerância, respeito, igualdade social,
cultural, de gênero e aceitação da biodiversidade" (Gutierrez e Prado, 2002).
Educar para formar cidadãos planetários significa demonstrar a possibilidade de viver em
comunhão com a natureza, sentido-se parte dela, e não como dono dela; mostrar que a vida deve
ser vivida como um processo e não com rigidez e nem atitude estática; preocupar-se com e
suspeitar do poder, da hierarquia e de sua utilização para dominar os demais; procurar unir
elementos que geralmente andam de forma separada como homem e mulher, ciência e senso
comum, razão e sentimento, mente e corpo, sensatez e loucura etc.; estar interessado nas
perguntas e não aceitar as respostas, buscando o lado oculto da vida, o não dito, o não proposto, a
história não contada; aceitar que a vida é um fluxo de energias com um certo grau de
imprevisibilidade e que cada momento deve ser vivido e respeitado integralmente.

A educação do futuro

Segundo Edgar Morin(2002), existem sete saberes necessário à educação do futuro.


Que são:
1- As cegueiras do conhecimento: erro e ilusão
O erro e a ilusão do conhecimento humano diz respeito ao risco que todo conhecimento
produzido pela mente humana tem de estar equivocado. A educação do futuro deve estar
preparada para lidar com a existência do erro e da ilusão. Negar a existência desse erro e dessa
ilusão, seriam os maiores erro e ilusão que pairam a mente humana. Quando analisamos o
passado, podemos perceber inúmeros erros e ilusões no decorrer da historia. A educação do
futuro deve se preocupar em transmitir o que realmente é o conhecimento, seus dispositivos, suas
enfermidades, suas dificuldades e sua tendência ao erro e à ilusão. Copérnico descobriu que a
Terra não era o centro do universo, mas na época esse conhecimento não foi aceito. Anos depois,
Galileu Galiei comprovou este fato, e novamente a sociedade da época não lhe deu crédito e
insistiu no erro e na ilusão. Quantos erros e ilusões estamos cometendo hoje em dia e ainda não
nos demos conta disso? A educação do futuro deve se preocupar em utilizar os conhecimentos
sempre com analise de sua natureza e buscar rumos para a lucidez. Não se deve afastar o erro do
processo de aprendizagem. Deve-se afastar do erro ao processo para que o conhecimento avance.
È necessário introduzir e desenvolver na educação o estudo das características cerebrais, mentais,
culturais dos conhecimentos humanos, de seus processos e modalidades, das disposições tanto
psíquicas quanto culturais que conduzem ao erro e a ilusão.
2- Os princípios do conhecimento pertinente
O princípio do conhecimento pertinente diz respeito à forma equivocada como o
conhecimento é transmitido: fragmentado. É preciso juntar as mais variadas áreas de
conhecimento contra a fragmentação. O verdadeiro conhecimento deve ser pertinente, ou seja,
devem levar em conta as relações entre os objetos geradores, estabelecendo as mútuas relações
entre as partes. O desenvolvimento de aptidões gerais da mente permite melhor desenvolvimento
das habilidades particulares ou especializadas.
3- Ensinar a condição humana
Não somos algo só. A um só tempo somos: físico, biológico, psíquico, cultural, social e
histórico. A condição humana deveria ser objeto essencial de todo ensino. Ensinar a condição
humana é ensinar a unidade complexa da natureza humana, e que não pode ser transmitida
fragmentada por meio das disciplinas escolares. É necessário restaurá-la para que todos tomem
conhecimento e consciência de sua identidade complexa e comum a todos os seres humanos.
4- Ensinar a identidade terrena
Ensinar que a Terra é um pequeno planeta que precisa ser sustentado a qualquer custo.
Ensinar a ideia de sustentabilidade, a Terra-pátria, a Identidade terrena. A educação do futuro
deverá ser o ensino primeiro e universal, centrado na condição humana. Conhecer o humano é,
antes de qualquer coisa, situá-lo no universo, e não separá-lo dele.
5- Enfrentar as incertezas
O principio da incerteza é ensinar que a ciência deve trabalhar com a idéia de que existem
coisas incertas. É necessário que todos os que se ocupam da educação constituam a vanguarda
ante a incerteza de nossos tempos.
6- Ensinar a compreensão
A condição humana deve ser voltada para a compreensão. Compreensão entre
departamentos de uma escola, entre alunos e professores etc. Considerando sua importância, em
todos os níveis educativos e em todos as idades, o desenvolvimento da compreensão pede a
reforma das mentalidades. Este deve ser o objetivo da educação do futuro.
7- Ética do gênero humano
É a antropo-ética: não desejar para os outros aquilo que não se quer para si mesmo. Está
ancorada em três elementos: individuo, sociedade e espécie. A ética não pode ser ensinada por
meio de lições de moral. Deve formar se nas mentes com base na consciência de que o humano é
ao mesmo tempo: individuo, parte da sociedade e parte da espécie.
Na questão prática, e principalmente na educação de jovens e adultos, aplicar os sete
saberes não é transformá-los em disciplinas, mas sim em diretrizes para ação e para elaboração de
propostas e intervenções interdisciplinares e transdisciplinares.

Economia solidária e Educação de jovens e adultos

Paul Singer (2005), em seu artigo “A Economia Solidária como ato pedagógico”, presente
no livro Economia Solidária e Educação de Jovens e Adultos e organizado por Sonia Portella
Kruppa, diz ser esta economia pensada como um modo de produção idealizado para superar o
capitalismo.
A principal característica do capitalismo é a propriedade privada dos meios de produção,
especificamente dos meios “sociais” de produção, dos que só podem ser operados coletivamente.
Essa propriedade se concentra em poucas mãos, em consequência da lógica dos mercados
competitivos, pelas quais os ganhadores se apoderam de parcelas crescentes do mercado e do
capital total e os perdedores são expulsos do mercado e privados do capital que detinham.
A propriedade privada dos meios “individuais” de produção, como de agricultores
familiares, garimpeiros, artesãos, catadores de lixo e outros trabalhadores que possuem seus
próprios meios de produção, não se confundem com o capitalismo, mas são contrários a ele e
tendem a integrar a Economia Solidária. Eles podem se associar para aproveitar as vantagens de
compras e vendas em comum, sem renunciar à autonomia individual ou familiar.
A concentração do capital tem como contrapartida a formação de uma classe cada vez
mais numerosa de 'perdedores', qual seja, de pessoas que não têm meios próprios de produção e
que se sustentam vendendo sua capacidade de trabalho aos capitalistas (ou ao Estado). Os
capitalistas dependem dos trabalhadores assalariados para que seus capitais produtivos sejam
acionados e assim valorizados, assim como os assalariados dependem dos capitalistas (e do
Estado) para ser empregados e poder ganhar o sustento próprio e de seus dependentes.
A Economia Solidária foi concebida como um modo de produção que tornasse impossível a
divisão da sociedade em uma classe proprietária dominante e uma classe sem propriedade e
subalterna.
Os meios sociais de produção são de propriedade coletiva. Na empresa solidária, todos que
nela trabalham são seus donos por igual, têm os mesmos direitos de decisão sobre o seu destino, além
de, necessariamente, trabalhar nela. Isso garante que nenhuma classe viva apenas de rendimentos de
seu capital, sem tomar parte no trabalho. A empresa solidária não remunera o capital próprio dos
sócios e, quando trabalha com capital emprestado, paga a menor taxa de juros do mercado. Os ganhos
dos trabalhadores têm prioridade sobre o lucro.
As relações sociais de produção, no interior da Economia Solidária, pautam-se pela
prática da democracia na tomada de decisões - cada cabeça um voto.
Para o bom funcionamento da empresa solidária, a união entre os trabalhadores é
essencial. Como não há hierarquia, disputas e conflitos podem destruí-la. Também não há a
supervisão e vigilância de mestres, contra-mestres e encarregados cuja missão, na empresa
capitalista, é disciplinar o trabalhador. No empreendimento solidário, em princípio, não deve
haver problema de disciplina, pois todos têm interesse no seu sucesso. Mas, na prática, há, pois
nem todos mostram a mesma dedicação e diligência e, se alguns são vistos como relapsos, a
maioria sente-se explorada e pode reagir com severidade.
A Economia Solidária exige dos indivíduos que participam dela um comportamento social
pautado pela solidariedade e não mais pela competição. Propõe a prática da solidariedade no
campo econômico, sustenta que a cooperação entre os participantes torna possível que todos
ganhem.
A prática da Economia Solidária exige que as pessoas que foram formadas no capitalismo
sejam reeducadas. Essa reeducação tem de ser coletiva, pois ela deve ser de todos os que efetuam,
em conjunto, a transição do modo competitivo ao cooperativo de produção e distribuição.
Essa reeducação coletiva representa um desafio pedagógico, pois se trata de passar a cada
membro do grupo outra visão de como a economia de mercado pode funcionar e do
relacionamento cooperativo entre sócios, para que a Economia Solidária dê os resultados
almejados. Essa visão não pode ser formulada e transmitida em termos teóricos, mas apenas em
linhas gerais e abstratas.
O verdadeiro aprendizado se dá com a prática, pois o comportamento econômico solidário
só existe quando é recíproco. Trata-se de grande variedade de práticas de ajuda mútua e de
tomadas coletivas de decisão cuja vivência é indispensável para que os agentes possam aprender
o que deles se espera e o que devem esperar dos outros.
A Economia Solidária é um ato pedagógico em si mesmo, na medida em que propõe nova
prática social e um entendimento novo dessa prática. A única maneira de aprender a construir a
Economia Solidária é praticando-a. Mas, seus valores fundamentais precedem sua prática. Não é
preciso pertencer a uma cooperativa ou empreendimento solidário para agir solidariamente. Esse
tipo de ação é frequente no campo político e no campo das lutas de classe, sobretudo do lado dos
subalternos e desprivilegiados.
Esses últimos são os dominados. Quando agem, voltam-se contra os dominadores, que
detêm o poder e a capacidade de reprimir tais tipos de ação e repreender quem se atreve a tentá-
las. A principal arma dos que desafiam a ordem vigente (como os grevistas, por exemplo) e que
lhes oferece alguma perspectiva de sucesso é a união entre todos, ou seja, a solidariedade. Por
isso, a solidariedade é ensinada aos fracos e subalternos pela vida que levam e pelas empreitadas
em que se engajam. Isso vale também para os pobres, que só conseguem sobreviver graças à
prática consistente da ajuda mútua, modalidade essencial da solidariedade. É a vida que ensina
aos mais fracos, aos social e economicamente debilitados, o valor, na verdade, a
imprescindibilidade da solidariedade.
A Economia Solidária é um passo decisivo "para além" desse aprendizado pela vivência,
pois ela propõe a solidariedade não só como imposição da necessidade, mas como opção
consciente por outro modo de produção.
A experiência de vida dos inferiorizados lhes ensina a prática da solidariedade como
resposta à necessidade, em situações de perigo ou de extrema carência.
Arruda (Kruppa 2005), trata da ligação entre a Educação de Jovens e Adultos e a
Economia Solidária, buscando novas formas de pensar essa modalidade de ensino.
Para ele, jovens e adultos são pessoas que já trazem um saber acumulado de décadas de vida e
trabalho. São pessoas orientadas principalmente para o trabalho. Sua ocupação principal não é,
nem pode ser, estudar, mesmo quando entram para um curso da Educação de Jovens e Adultos
(EJA). Então surge o dilema: a solução seria alfabetizar e, em seguida, escolarizar o jovem ou
adulto trabalhador?
O método seria "colar", superpor o conhecimento ao trabalho que faz?
E o objetivo seria "capacitar" o trabalhador para ele competir com maior chance no mercado de
trabalho? Seria treiná-lo em conhecimentos que lhe permitam competir melhor contra outros
trabalhadores na busca de um emprego?
Essas perguntas cabem para aqueles que tomam a economia atual como a única possível. Já que é
impossível fazer diferente, dizem, temos que nos adaptar para sobreviver. Na verdade, o ponto de
partida não pode ser o analfabeto abstrato. É preciso partir da realidade do jovem e adulto
trabalhador para o fato de que é hoje um trabalhador, lutando para construir um caminho ou para
ajudar sua família na tarefa de produzir e reproduzir a vida. O ponto de partida é, portanto, o
trabalhador concreto – se é homem ou mulher, jovem, maduro ou idoso, sua condição de vida e
trabalho, sua história e seu saber acumulado, suas aspirações e seus anseios, seu universo de
relações interpessoais, comunitárias e sociais.
Essa é a proposta do que Paulo Freire chamava A Educação Libertadora (2005). Tomando como
ponto de partida as condições de vida e trabalho dos educandos, o educador abre um diálogo com
eles sobre a questão "para que desejam educar-se". Fica logo evidente por suas respostas que suas
motivações para a educação estão vinculadas não a um desejo abstrato de "saber", mas a
pretensões concretas como trabalhar melhor, conseguir um trabalho que renda mais, melhorar a
vida para si e para a família. Na consciência dos que vivem do seu trabalho, a vinculação entre
trabalho e educação faz-se naturalmente, pela sua própria condição de ser humano trabalhador.
Então qual seria a resposta? A EJA tem que casar trabalho e educação. Para isso, precisa
ser estruturada como um sistema diferente do sistema escolar tradicional. Tem que ser desenhada
para atender as condições de vida e trabalho de pessoas que têm como ocupação principal
garantir o suficiente para si e para suas famílias quer como arrimos da família, quer para obter
rendimento complementar.

Educação da práxis
A Economia Solidária promove a educação não como fim em si, mas como via de
empoderamento dos educandos para tornarem-se gestores competentes dos seus
empreendimentos cooperativos e sujeitos do seu próprio desenvolvimento pessoal, comunitário e
social, a Educação da Práxis. Essa educação identifica-se pelas práticas conscientes da
cooperação e da solidariedade no modo de ensinar e aprender e também nas relações entre
educandos, entre esses e os educadores, e entre educadores. É uma educação centrada numa
concepção não dogmática nem doutrinária do conhecimento, que se estriba na pesquisa e no
diálogo como métodos essenciais da construção do conhecimento. Essa educação integra de
maneira dinâmica e complementar o ato de conhecer e o ato de trabalhar. Mas ela não se limita
aos jovens e adultos trabalhadores.
Pretende implantar-se igualmente no sistema escolar das crianças e adolescentes.
Reconceber a educação escolar na perspectiva da Economia Solidária implica introduzir nos
programas de ensino-aprendizagem a "alfabetização" em Filosofia da Libertação e em Economia
Solidária.
Com a Filosofia, as crianças e jovens aprendem a perguntar-se quem somos nós humanos
no contexto do movimento da vida e do cosmos, para que estamos nesta terra, o que explica e o
que implicam a nossa diversidade e complexidade, como lidar com a contradição e o conflito, que
responsabilidades e direitos temos como pessoas, coletividades e como espécie. Essa
aprendizagem inclui a consciência de que somos seres complexos, carregados de potenciais
relacionados aos nossos sentidos materiais e imateriais, e em relação permanente e contínua
conosco mesmos, com o resto da Natureza que nos gerou, com a sociedade contemporânea e a
humanidade pelo tempo, e com cada outra pessoa. Tal reflexão deságua no desafio da
aprendizagem da autogestão do desenvolvimento daqueles potenciais e da complexidade de
dimensões e relações que nos constitui, assim como das competências necessárias para o trabalho
que implica concretamente esse desenvolvimento.
A Filosofia, portanto, nos leva a outros ramos importantes da árvore do conhecimento: à
economia e à política. A economia, concebida como a arte de gerir as diversas casas que
habitamos nesta existência, nos desafia a aprendermos a cuidar do nosso corpo e das nossas
diversas relações sociais, de modo ao mesmo tempo autônomo e solidário. A política tem a ver
com o exercício do poder no espaço coletivo. A política é instrumento de dominação no contexto
das diversas culturas patriarcais que têm prevalecido no planeta ao longo de séculos.

PROEJA e Economia Solidária

O professor Zen (2008), falando sobre o trabalho como princípio educativo na educação
de jovens e adultos, faz alguns questionamentos e aponta para a Economia Solidária como
solução para um PROEJA mais eficiente na luta contra o capitalismo, que suga os trabalhadores,
seus sonhos, sua força.
Situar a educação para o trabalho na contemporaneidade implica formular duas questões básicas:
qual é o lugar do trabalho e quais os objetivos da educação profissional nesse contexto histórico?
Resgatar o sentido do trabalho na dimensão ontológica, como processo de constituição dos seres
humanos, realização, atividade criadora, que recupera sua finalidade, não meramente reprodutora
das relações capitalistas, mas de trabalho emancipado. Isso contribui para a construção de uma
outra sociedade, superando o capitalismo dependente e a inserção subordinada na lógica do
capital.
Relacionar Economia Solidária e PROEJA exige enfrentar quatro desafios: o primeiro, a
formação integral do sujeito em uma perspectiva associativa, com relações de igualdade nos
diferentes espaços da vida, de troca solidária de conhecimentos, de sentido de coletividade; o
segundo, o resgate do caráter público nos espaços escolares, superando a idéia de educação
instrumental, caminhando no compartilhamento de saberes; o terceiro refere-se às características
do próprio PROEJA, que incorpora uma diversidade de sujeitos; e o quarto e último desafio, o de
superar o tratamento marginal e compensatório tanto do PROEJA como da Economia Solidária,
que é constituída de práticas sociais alternativas à economia capitalista.
Pensar e fazer outra economia em que o ser humano é o centro e não o capital. O trabalho
compreendido como princípio antropológico formador do ser humano. Pelo trabalho, homens e
mulheres podem criar um mundo humano ou um mundo desumano, um mundo em que se
reconheça ou em que se aliene. O trabalho na perspectiva da Economia Solidária objetiva
contribuir para tornar o jovem e os adultos protagonistas de sua história, de forma crítica e
criativa no mundo do trabalho, não escravo da lógica do mercado. A ciência e a tecnologia devem
ser ressignificadas e potencializadas a serviço do humano e não da forma como vêm sendo
praticadas e negociadas estando submetidas aos grandes interesses de reprodução do capitalismo
em nível mundial.
Um dos princípios da Economia Solidária é a autogestão, que mobiliza coletivamente os
excluídos em prol de sua luta por uma vida mais humana, superando a lógica meritocrática e
individualista do mercado de culpabilizar os excluídos pelo seu fracasso.
Concepções e práticas da Economia Solidária e o trabalho como princípio educativo
articulado com as categorias de ciência e cultura devem estar presentes na formação dos sujeitos
jovens e adultos trabalhadores, que buscam no PROEJA essa luta por uma vida mais humana.

Considerações finais

Com tudo que foi apresentado conclui-se que, no caso do PROEJA, a proposta curricular
integrada é a que mais possibilita a implantação de uma Ecopedagogia com vistas à formação
integral de sujeitos, abandonando-se a perspectiva estreita de formação somente para o mercado
de trabalho e levando em conta os mais diversos saberes produzidos em diferentes espaços
sociais.
As características do PROEJA, segundo Documento Base (2006), que o fazem estar em
sintonia com o projeto de educação do futuro de Edgar Morin, são: a escola formadora de sujeito
articulada a um projeto coletivo de emancipação humana e a ênfase de uma proposta curricular
interdisciplinar, transdisciplinar e intercultural.
Assim sendo é preciso continuar nesse caminho para que o PROEJA seja implementado,
com esses moldes, em todo país, não mais apenas como um programa, mas como política pública.
E que, com um PROEJA consolidado, possam ser formados cidadãos mais conscientes de seu
papel neste planeta.

Bibliografia

BRASIL. MEC. Programa de Integração da Educação ao Ensino Médio na Modalidade de


Educação de Jovens e Adultos – PROEJA. Educação profissional técnica de nível médio/ ensino
médio. Documento base. Secretaria de educação profissional e tecnológica. Brasília, agosto 2007.

BRASIL. MEC. Decreto 5.478 de 24 de junho de 2005 que


institui, no âmbito das instituições federais de educação tecnológica; o Programa de
Integração da Educação ao Ensino Médio na Modalidade de Educação de
Jovens e Adultos – PROEJA.

BRASIL. MEC, Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Programa de


Integração da Educação Profissional Técnica de Nível Médio ao Ensino Médio,
na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA. Documento Base.
2006.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 48º reimpressão, Rio de Janeiro, Paz e Terra. 2005.

GUTIÉRREZ, Francisco, Cruz, Prado. Ecopedagogia e cidadania planetária. Guia da Escola


Cidadã. Tradução Sandra Trabucco Valenzuela. – 3. ed. – São Paulo: Cortez: Instituto Paulo
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KRUPPA, Sonia M. Portella (Org). Economia Solidária e Educação de Jovens e Adultos
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MORIN, Edgar. Os setes saberes necessários à educação do futuro. Tradução Catarina Eleonora
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SINGER, Paul. Introdução À Economia Solidária. -1. ed. - São Paulo: Editora Fundação Perseu
Abramo, 2002.

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