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Caxambu – MG
2010
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Resumo
Introdução
Essa política, como todas as outras decisões de Estado desse período, eram
determinadas pelo desejo de centralização política e administrativa. Ela vinha
disfarçada sob o palavrório da “unidade nacional” e, em termos mais amplos, não
pode ser entendida se não se leva em conta seus fins. Explicitamente, o Estado
Novo tratava de reordenar o território, dando ao federalismo um novo significado 1 e
uma nova utilidade política; de suplantar as identidades particulares, como língua,
símbolos e tudo o que não se referisse ao “Brasil”; e de unificar politicamente o País
sob a direção e o comando do Presidente ditatorial (o “Chefe Nacional”, na
linguagem do regime). Implicitamente, a pretensão era refazer a hierarquia política
entre os grupos de elite, enquadrando os “imperialismos estaduais”, conforme o
peculiar vocabulário dos ideólogos. Para tanto, diversos mecanismos, através de um
sem-número de aparelhos, foram acionados depois de 1937. O SPHAN foi um deles
e o estudo das decisões iniciais dessa elite burocrática permite ver, concretamente,
a racionalidade peculiar do Estado ditatorial em ação.
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Para as sutilezas desse debate, ver Diniz Filho e Bessa, 1995.
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I. REVISÃO DA LITERATURA
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A expressão, proposta por Theda Skocpol, reúne e designa certas ideias particularmente úteis para
esse estudo. A noção de “capacidade estatal” sugere que é preciso, contra as explicações
societalistas, conceber o Estado como um ator, isto é, assumir que os agentes estatais são capazes
de formular e perseguir intenções e objetivos definidos a partir de suas próprias prioridades (e não
como meras “respostas” a demandas sociais). Já a capacidade de implementar efetivamente essas
preferências nunca é absoluta, mas está condicionada pela relação concreta entre os agentes
estatais (e seus recursos) e os agentes não-estatais (e seus interesses). Ela sugere também que é
preciso imaginar o Estado não só como um ator, mas como um fator determinante: as configurações
organizacionais do Estado, ou mais simplesmente, suas estruturas institucionais influenciam de forma
decisiva as ideias, os negócios e as competências políticas dos diferentes grupos sociais. Ver
Skocpol, 1985.
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O artigo 17º do Decreto-Lei 25/1937 estipulava que “As coisas tombadas não
poderão, em caso algum, ser destruídas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia
autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ser
reparadas, pintadas ou restauradas, sob pena de multa de cinquenta por cento do
dano causado”. Portanto, uma vez tombado um imóvel, seu proprietário deve mantê-
lo nas exatas condições em que estava no momento em que foi catalogado. O
prefeito de Diamantina (MG), em resposta à notificação do SPHAN que anuncia o
tombamento nada mais nada menos do que do conjunto arquitetônico da cidade,
dirige ao órgão os seguintes questionamentos:
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Em carta anexada ao Processo n.º 64-T-38, datada de 8 de abril de 1938.
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Consideramos também a ausência de resposta do proprietário como uma decisão desfavorável ao
tombamento. Em alguns casos a falta de satisfações era um expediente para prolongar o tempo em
que o imóvel não se sujeitaria às restrições impostas pelo tombamento – demolição ou reforma –
para que o mesmo fosse posto abaixo ou renovado e assim perdesse as características originais que
justificavam o tombamento.
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Por outro lado, quando não havia resposta do proprietário (3) os bens
poderiam ser tombados compulsoriamente (c) ou o processo arquivado (d). A
intervenção da Presidência da República (4) com seu poder de vetar o tombamento
era o único mecanismo para impedir o curso do processo ou mesmo torná-lo sem
efeito, mesmo com decisão favorável do Conselho Consultivo da agência.
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O tombamento do Campo de Sant'Anna, na cidade do Rio de Janeiro, foi cancelado por despacho
do Presidente da República assinado em 8 janeiro 1943.
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menor grau, coleções de museus privados8. Essa seleção estava a cargo dos
técnicos e conselheiros do SPHAN, em colaboração com representantes locais que
promoveriam a indicação das unidades para o tombamento.
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Como é o caso da coleção de arte presente no Museu David Carneiro, em Curitiba, em que o
tombamento da coleção que compõe o museu está incluída no processo de tombamento do imóvel
(Processo n.º 40-T-38). A Coleção Etnográfica de Porto Alegre, de propriedade do Hotel Guaíba, é
tombada em fevereiro de 1938, mas tem seu processo cancelado (Processo n.º 93-T-38) assim que a
Coleção é adquirida pela Secretaria de Estado dos Negócios da Educação e Saúde Pública do Rio
Grande do Sul, em data não informada. Outro caso semelhante ocorre no Rio de Janeiro, em que o
Museu Nacional adquire a coleção arqueológica Balbino de Freitas de Conchais do Litoral Sul em
abril de 1938 (Processo n.º 77-T-38)
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O estado de origem e a especialização profissional constituem duas variáveis decisivas para se
entender a natureza e o conteúdo das decisões do SPHAN. Será que se pode estabelecer uma
correlação direta entre a quantidade de bens tombados por estado e a naturalidade dos técnicos?
Será que essa variável se sobrepõe ou se submete à influência exercida pela formação profissional e
pela vinculação a um ou outro campo do conhecimento sobre essas decisões? Por exemplo: a
maioria dos escritores são escritores “regionalistas”. O único sociólogo era Gilberto Freyre. E a
maioria dos historiadores, incluindo historiadores da arte, é do Rio de Janeiro ou de Minas Gerais.
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Alagoas 1 Advogado 1
Amazonas 1 Antropólogo 5
Bahia 4 Arqueólogo 1
Ceará 1 Arquiteto 11
Maranhão 1 Escritor 7
Pará 3 Jornalista 2
Paraíba 0 Restaurador 1
Paraná 1 Sociólogo 1
Pernambuco 9 Total 77
Rio de Janeiro 17
Santa Catarina 1
São Paulo 6
Sergipe 0
Não informado 7
Alemanha 4
Estados Unidos 1
Portugal 1
Rússia 2
Total 77
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Lúcio Costa garantiu o tombamento quase imediato da Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte,
quatro anos após o fim de sua construção – em 1948.
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Imagem 2. Bens de patrimônio tombados pelo SPHAN por estado entre 1938 e 1945
O SPHAN tombou 437 bens durante o Estado Novo. Como lembra Rubino,
não há nesse universo menção a monumentos relacionados à história republicana,
tampouco à historia de negros e de populações indígenas (1991, p.129). Além disso,
incorporação de itens ao patrimônio não é equilibrada entre todas as regiões
brasileiras. No sentindo de apreender possíveis hierarquizações decorrentes de uma
atuação marcadamente desigual da instituição frente aos bens regionais,
contabilizamos as seguintes cifras: do total dos itens tombados durante a ditadura,
116 deles o foram no estado da Bahia, 103 no Rio de Janeiro e 63 em Minas Gerais,
o que totaliza 64,45% dos bens considerados patrimônio brasileiro no período.
Conforme a Tabela 3, três estados brasileiros não foram objeto dessa política: Acre,
Amazonas e Mato Grosso.
Paraná 11
Santa Catarina 5
São Paulo 27
Região Centro 64
Mato Grosso 0
Minas Gerais 63
Goiás 1
Espírito Santo 4
Bahia 116
Sergipe 21
Região Nordeste 57
Alagoas 1
Ceará 1
Paraíba 14
Pernambuco 41
Região Norte 8
Acre 0
Amazonas 0
Pará 8
TOTAL 437
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Segundo as unidades federativas e regiões brasileiras vigentes em 1940.
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"Nada tenho a opor para impugnar os referidos tombamentos. Pelo contrário aplaudo
o ato do Governo, ato há muito necessário para conservar os monumentos que
nossos antepassados com tantos sacrifícios, tanto espírito de religião e tanto bom
gosto construíram e nos deixaram como preciosa herança, digna de toda estima e
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veneração" .
12
Processo n.º 50-T-38.
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Processo n.º 5-T-38.
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Salvador. É enviado para ser anexado ao processo o discurso proferido pelo Irmão
Miguel de Lima Castello Branco, na solenidade de comemoração do terceiro
centenário da Ordem – a proprietária do bem –, em 19 de outubro de 1936:
“No Brasil, o Sacerdote tem sido, - Senhores, - em regra, um dos elementos mais
eficientes da Civilização Nacional. O combate à Igreja Católica está, no presente,
como no passado, produzindo frutos venenosos que degradam, corrompem,
aniquilam e devastam Nações, outrora gloriosas. [...] Tem sido o Padre, com a
palavra, os livros e a escola, o seguro pedestal sobre que assenta, há muitos séculos,
o firme, solido e indestrutível monumento do Progresso. [...] Falar dos inúmeros
benefícios por eles prestados, ao chegarem as nossas plagas, para onde convergiam
criminosos e colonos de refugo, dizer de sua força e sacrifícios no catequizar os
índios, tirando-os da barbaria; descrever as virtude de trabalho, abnegação, coragem,
habilidade e heroísmo desses missionários de Cristo para, reunindo tendências
opostas, elementos heterogêneos, darem começo a formação de nossa
nacionalidade; é desenrolar aos vossos olhos fatos, prodígios surpreendentes, que só
a Fé arraigada em corações fortes, pode realizar, como de fato realizou o Brasil,
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durante os três primeiros séculos da sua colonização” .
14
Processo n.º 82-T-38.
15
Processo n.º 52-T-38.
21
16
Processo n.º 31-T-38.
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17
Processo n.º 152 – T – 38.
18
Processo n.º 92 – T – 38.
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parecer não assinado afirma não haver bens artísticos a serem tombados no Rio
Grande do Sul. Apenas bens históricos da zona missioneira: “pouco ou quase nada
apresenta o Rio Grande do Sul indiscutivelmente digno de tombamento”. Ainda se
afirma a “impraticabilidade de seleção rigorosa e purista” naquele estado.
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Processo n.º1-T-38
22
Processo n.º 1-T-98.
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tombar exclusivamente obras perfeitas de arte, bem pouco teríamos no Brasil para
inscrever nos Livros de tombo. Não se trata de comparar os nossos monumentos com
as grandes obras de arte da Grécia, da Itália ou da França, mas sim de proteger o
nosso patrimônio histórico e artístico [...] A matriz de São Pedro é incontestavelmente
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monumento de maior importância na história do Rio Grande” .
“O prefeito desta última localidade continua a ser o Cel. Teodomiro Porto da Fonseca,
a quem se refere em sua carta. Quanto à comuna de Novo Hamburgo – a que hoje
pertence Estância Velha – informo-lhe que tem como Prefeito o Dr. Odon Cavalcanti
Carneiro Monteiro, brasileiro, pertencente a tradicional família da Paraíba, espírito
brilhante, merecedor até de mais alto posto. Tenho certeza que ele acolherá, com
entusiasmo, qualquer apelo seu no sentido de ser acelerado o tombamento da Casa
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do Colono Alemão e de sua conservação” .
23
Processo n.º 1-T-98.
24
Processo n.º 95-T-38.
25
Processo n.º 95-T-38.
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26
Processo n.º 95-T-38.
27
Processo n.º 95-T-38.
28
28
Processo n.º 165-T-38.
29
Processo n.º 165-T-38.
30
Processo n.º 99-T-38.
29
Conclusões
integra os quadros do SPHAN pode explicar mais e melhor a lógica que orientava a
seleção dos bens a serem tombados, ao contrário do que imaginamos no início.
Referências bibliográficas
OLIVEIRA, Lucia Lippi. Cultura é patrimônio: um guia. Rio de Janeiro: FGV, 2008.
SKOCPOL, Theda. Bringing the State Back In: Strategies of Analysis in Current
Research. In: Evans, Peter E.; Rueschemeyer, Dietrich; e _____ (eds.). Bringing
the State Back In. Cambridge: Cambridge University Press, 1985.