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de 27 a 31 de outubro de 2008
Adriano Codato
(Universidade Federal do Paraná/
Renato M. Perissinotto
(Universidade Federal do Paraná/
Caxambu – MG
2008
Codato e Perissinotto 2
Resumo
Nicos Poulantzas atacou o despropósito teórico e político que consistia em trazer para o interior
do marxismo a problemática das elites políticas. Os termos dessa recusa eram os seguintes: (i)
o funcionamento do Estado capitalista deve ser explicado a partir dos vínculos objetivos
existentes entre essa instituição e a estrutura social; (ii) logo, aqueles que controlam os
principais postos do aparelho estatal, independentemente de sua origem social, crenças e
motivações, estão destinados a reproduzir a função objetiva do Estado, que consiste em manter
a coesão de uma formação social; (iii) conclui-se, daí, que a questão central para o pesquisador
de orientação marxista deve ser “que relações sociais o Estado reproduz?” e não “quem
decide?”. Ainda assim, sustenta-se, a natureza da elite política pode ser um fator explicativo
importante numa Ciência Social empiricamente orientada.
Introdução
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Estado reproduz?” (ou, por outra: qual a conexão entre o conteúdo das decisões
e certos interesses de certo grupo?) e não “quem decide?”. O que importa são
os “efeitos objetivos” das decisões políticas (seus resultados) e não as
“intenções subjetivas” dos decisores. Exatamente por isso, G. Therborn
sustentou que a teoria política marxista deveria aplicar ao mundo da política a
mesma problemática que Marx havia aplicado à estrutura econômica, isto é, a
“problemática da reprodução”. O Estado, enfim, se define e se explica por aquilo
que ele reproduz e não pela natureza de seus ocupantes e seus
comportamentos.
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a posição bem conhecida, por exemplo, de C. Wright Mills (cf. Poulantzas, 1971,
vol. II, p. 155-156).
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política. Eles, na realidade, dividem o poder político (Poulantzas, 1971, vol. II, p.
158), uma substância partilhável.
Como por sua vez a teoria política marxista pensa a questão da classe
dominante e, igualmente, a questão da burocracia de Estado?
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1 Sirvam de exemplos os textos de Marx sobre a Revolução alemã de 1848-1849 ou a realidade política
descrita pela expressão teórica “bonapartismo”.
Isso posto, o propósito mais amplo deste artigo (tal como sugerido pelo
título, inclusive) é estabelecer um diálogo entre marxismo e elitismo, bloqueado
depois das críticas de N. Poulantzas à teoria das elites, que sumarizamos
acima, e das observações à sua incorporação acrítica por R. Miliband (cf., em
especial, Poulantzas, 1969). Essa pretensão não implica, de toda forma, em
recusar pura e simplesmente tais críticas. Na realidade, Poulantzas tem razão
em três pontos importantes.
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Os marxistas poderiam objetar dizendo que nem eles nem o próprio Marx
defenderam a idéia de que as classes sociais agem diretamente na política,
como forças coletivas voluntárias (Therborn, 1989). Na verdade, as classes
agiriam sempre por meio de “porta-vozes”, isto é, por meio de partidos,
sindicatos, igrejas e outras instituições que falariam em nome das classes.
Como é fácil perceber, o problema empírico que se coloca aqui é: como provar
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2 O formalismo seria o resultado da perspectiva “internalista” adotada por alguns teóricos das elites,
que tenderia a explicar os fenômenos políticos e o poder das elites a partir apenas de fatores internos ao campo
político. Quanto a esse ponto, ver Saes, 1993.
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Parece-nos, por fim, que não há qualquer razão para tomar esses dois
conceitos de poder (estrutural e estratégico) como excludentes. Se, por um lado,
é inegável que as elites agem num contexto estrutural que restringe suas ações
e redefine o sentido de suas ações a despeito de suas intenções iniciais, por
outro lado não é menos inegável que essas elites fazem escolhas, traçam
estratégias e, por conseguinte, afetam a dinâmica do mundo social e político.
Não tomá-las como demiurgo deste mundo não implica vê-las como meros
fantoches das determinações estruturais.
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Referências bibliográficas
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SAES, Décio. 1994. Uma contribuição à crítica da teoria das elites. Revista de
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