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I s o m e r i a
Mossoró, RN
2008
ISOMERIA
Conformação
Um mesmo composto orgânico pode apresentar diferentes arranjos espaciais (confôrmeros), que
podem ser convertidos um no outro alterando-se as posições relativas dos ligantes de átomos de
carbono, o que é conseguido pela rotação em torno da ligação simples entre átomos de carbono, a
qual só possui um orbital molecular (sigma), com simetria cilíndrica em torno do eixo imaginário
de união dos átomos ligados.
Configuração
Arranjos espaciais definidos e específicos que identificam moléculas individuais são conhecidos
como configurações. Diferentes configurações representam moléculas diferentes, podendo os
ligantes dos átomos de carbono nos diferentes arranjos serem iguais (estereoisômeros) ou
diferentes, como é o caso dos isômeros constitucionais, quando as configurações que diferem
possuem a mesma fórmula molecular.
Classificação :
1
Não trataremos da Isomeria Conformacional nesta apostila.
1
Isomeria Plana, Estrutural ou Constitucional
I. Os isômeros pertencem à mesma função orgânica:
Isomeria de Cadeia
Os isômeros pertencem à mesma função orgânica e diferem quanto ao número de membros2 da
cadeia principal ou composto principal.
Exemplos:
CH3
OH
OH
CH2 CH2 CH
CH2 CH CH2 CH2 CH CH2
(I) ( II )
e
CH3
OH
OH
CH CH2 C
CH3 CH CH2 CH3 CH CH2
( III ) ( IV )
e
Isomeria de Núcleo 3
Os isômeros são compostos de cadeia fechada (homocíclicos ou heterocíclicos) e diferem quanto
ao número de átomos de carbono do anel.
Exemplos:
OH OH OH
CH3 OH
CH3
(V) ( VI ) ( VI ) ( VII )
e ; e
OH
CH3 OH
OH CH2 OH CH2
CH3 CH3
2
OH CH3
OH OH CH2
CH3 C
CH2 CH2 CH3 CH3
CH2 CH
CH2 CH CH2 OH
(I) ( VIII ) ( VII ) ( IX )
e ; e
Isomeria de Posição
Os compostos possuem a mesma cadeia principal e diferem quanto às posições de grupos
substituintes: radicais, insaturações ou grupos funcionais.
Exemplos:
OH
C CH3 CH CH3
CH3 CH CH2 CH3 CH CH
(X) ( XI ) OH
e
O CH3 CH CH3
O CH3 CH2 CH3
CH3 CH3 C CH2
CH2 C CH2
OH OH
CH3
( XII ) ( XIII ) ( XIV ) ( XV )
e ; e
CH3 CH3
CH C
CH CH CH3 CH3 C CH3
OH OH
( XVI ) ( XVII )
e
CH3 CH3
CH2 CH O CH
CH3 O CH3 CH3 CH2 CH3
( XX ) ( XXI )
e
5
Existem autores que classificam como metâmeros isômeros que diferem quanto à posição de insaturações, além dos que
diferem quanto à posição do heteroátomo. No nosso caso, preferimos restringir a definição de metameria apenas às diferenças
de posições de heteroátomos.
3
II. Os isômeros pertencem a funções orgânicas diferentes:
CH3
CH CH3 CH2
O CH3
CH2 C
CH3 CH2 C
H O
( XXVI ) ( XXVII )
e
Tautomeria ou Tautomerismo 6
Os isômeros pertencem a funções orgânicas diferentes, mas existe uma reação de equilíbrio
dinâmico entre eles (os isômeros são interconversíveis). Essa reação é denominada de tautomerização.
Exemplo:
H O OH
CH3 CH2 CH3 CH2
CH2 C C CH2 C C
H
H H H
( XXVIII ) ( XXIX )
Diferenças de posições de ligantes do carbono com relação a um plano imaginário que passa
através de uma região de referência da própria molécula (ligação dupla ou plano do anel de uma cadeia
fechada) e divide o espaço em dois semi-espaços.
6
Caso particular de isomeria de função.
4
Compostos orgânicos em que ocorre:
Compostos de ligação dupla – a ligação π entre átomos de carbono é o fator de
impedimento da rotação de um carbono da dupla com relação ao outro, favorecendo assim a existência de
dois arranjos espaciais que não podem ser convertidos um no outro sem que haja quebra de uma ligação,
no caso, a ligação π. Assim, em torno de cada ligação dupla contendo átomos de carbono com ligantes
diferentes entre si existem duas configurações possíveis.
R1 R3
C C
R2 R4 Condição necessária: R1≠ R2 e R3 ≠R4
2
R2
1
R3
R1 ocorre isomeria no composto (entre os carbonos 1 e 2 do anel), desde que seja
observada a condição: R1≠ R2 e R3 ≠R4, não importando quais os ligantes dos outros átomos de
carbono.
R2
R3
1
2 3
R1 R4 a isomeria é observada entre os carbonos 1 e 3 do anel, desde que seja observada a
condição: R1≠ R2 e R3 ≠R4.
R2 R5
R3
1 4
2 3
R1 R4 R6 se R ≠ R , R3 ≠R4 e R5 ≠R6, então a isomeria geométrica é observada entre os
1 2
carbonos 1 e 3, 1 e 4 e 3 e 4.
5
Isomeria Óptica
Característica:
R2 R2
R1 R1
R3 R3
R4 R4
Compostos alênicos nos quais os ligantes de cada um dos carbonos sp2 do sistema de
duplas acumuladas são diferentes entre si.
Átomo de carbono assimétrico: átomo de carbono saturado de cadeia aberta que possui os quatro
ligantes diferentes entre si. (no exemplo a seguir, R1 ≠ R2 ≠ R3 ≠ R4).
R2
R1 C* R3
R4
C* : Carbono assimétrico
6
R2 R2 R2
R1 R3 R1 C R3 R1 R3
R4
R4 R4
Relações Isoméricas
Enantiômeros – um isômero óptico corresponde à imagem do outro no espelho plano.
Racêmico ou Mistura Racêmica – é a mistura de quantidades iguais de dois enantiômeros.
Diastereoisômeros78 – são estereoisômeros que não são enantiômeros entre si.
Composto Meso9 – é um isômero óptico que não possui atividade óptica. Como conseqüência, o
composto de Forma Meso não possui enantiômero, ou seja, quando colocado diante de um espelho plano
produz uma imagem igual a ele (a imagem é coincidente com o objeto).
R2 R2
R1 R3 R3 R1
R4 R4
Enantiômeros
Critérios de prevalência de Cahn, Ingold e Prelog – são um conjunto convenções concebido com base
no número atômico, permitindo determinar sem ambiguidades as configurações dos estereoisômeros.
Para determinar a ordem de prevalência ou prioridade de grupos ligados a um carbono de referência em um
estereoisômero, siga as seguintes instruções:
a) Atribua maior prioridade ao grupo que se liga ao carbono de referência através do átomo maior
número atômico.
b) No caso de mais de um grupo se ligar ao átomo de referência por átomos de mesmo número
atômico (átomos do mesmo elemento), então a decisão da prioridade deverá ser transferida para
os átomos seguintes do grupo, sendo que o átomo de referência agora pertence ao próprio
grupo.
c) Para efeito de decisão de prevalência de Cahn, Ingold e Prelog (e apenas nesse caso), a
presença de uma ligação dupla duplica o ligante (equivale a dois átomos do mesmo ligante) e a
presença de uma tripla ligação triplica o ligante (equivale a três átomos do mesmo ligante).
Obs: entenda por átomo de referência os átomos de carbono da dupla ligação nos estereoisômeros geométricos e átomos de
carbono assimétrico, nos casos de isomeria óptica.
7
Aplica-se inclusive aos isômeros geométricos.
8
Não é observado em isômeros ópticos com um único átomo de C*.
9
Não é observado em isômeros ópticos com um único átomo de C*.
7
Configurações dos Estereisômeros de Ligação Dupla
1) Nomenclatura cis-trans
Considera que os grupos de mesma natureza química ou de maior complexidade ligados aos
carbonos da dupla ligação podem ocupar diferentes posições com relação ao plano de divisão do espaço
em torno dela em dois semi-espaços, podendo ser a molécula de configuração cis (do mesmo lado),
quando os grupos mais complexos estão no mesmo semi-espaço, ou trans (em lados opostos), quando
ocupam semi-espaços opostos. Essa sistemática, embora adequada para compostos simples, como os
etilenos dissubstituídos, foi motivo de controvérsias quando se tratava de moléculas de estruturas mais
complexas, em função do entendimento do que representava natureza química ou complexidade para
diferentes estudiosos ou autores de livros-texto de química.
Exemplos:
Nos exemplos apresentados a seguir considera-se o grupo substituinte destacado por um círculo como
sendo diferentes de H, para que a condição necessária à ocorrência da isomeria geométrica seja
observada. Note que cada carbono da dupla ligação possui apenas um grupo destacado e que os
grupos destacados diferem nos diferentes exemplos.
H H
R2 R4
C C
C C 1 2
1 2 R1 R3
H H configuração cis
R2 H H R4
C C C C
1 2 1 2
H R3 R1 H
configuração trans
2) Nomenclatura E-Z
R2 R4 R2 R4
C C C C
1 2 1 2
R1 R3 R1 R3
configuração E
8
Configurações dos Estereisômeros de Carbono Assimétrico
1) Nomenclatura D-L ou configuração relativa – compara a configuração do composto à do
gliceraldeído, considerando as seguintes configurações para esse composto:
O H O H
C C
O que diferencia D de L é a
H C* OH posição da hidroxila ligada HO C* H
ao C* na fórmula de projeção
CH2OH CH2OH
D-Gliceraldeído L-Gliceraldeído
Obs.: Em estereoisomeria D (maiúsculo) tem um significado totalmente diferente de d (minúsculo) e L
(maiúsculo) tem um significado totalmente diferente de l (minúsculo). Para não fazer confusão
tenha sempre em mente as informações apresentadas no quadro abaixo.
9
Como determinar a Configuração Absoluta de estereoisômeros de C*
i) Numere os grupos ligados ao C* na projeção de Fischer em ordem decrescente, de acordo com
os critérios de prioridade de Cahn–Ingold-Prelog;
ii) Verifique se o grupo de última prioridade (4) está numa posição que corresponde à orientação
espacial para além do plano, ou distanciando-se do observador (linha vertical). Caso não esteja,
providencie para que ele fique em uma dessas posições (acima ou abaixo), fazendo uma troca entre
grupos, nunca deixando de levar em conta que um número ímpar de trocas conduz a uma inversão de
configuração enquanto que um número par de trocas mantém a configuração.
iii) Estando o grupo de última prioridade em uma posição posterior ao plano, despreze esse grupo
e observe a sequência dos demais grupos em ordem decrescente de prioridade ((1),(2),(3)). Se essa
sequência tiver a orientação dos ponteiros do relógio (para a direita), então a fórmula que você está
observando tem a configuração R . Caso contrário, a configuração será S .
Importante: preste muita atenção na hora de manipular as fórmulas de projeção de Fischer para nunca se
esquecer de que você só pode determinar a configuração quando o grupo de última prioridade estiver para
depois do plano. Sempre que trabalhar com trocas de grupos, não se esqueça de considerar as inversões
de configuração que foram praticadas.
Exemplos:
R2
R2 (2)
(2)
R1 R3
(1) (3) R1 R3
(1) (3)
R4 R4
(4) nenhuma troca é necessária, porque o grupo de última
prioridade já está orientado para depois do plano. A configuração é R.
R2 R2
(2)
(2)
R1 R3
(3) (1)
R4 R1 R3
(3) (1)
(4) R4 situação idêntica à do exemplo anterior. Configuração: S.
R1
4
R1
(4)
R2 R3 R2 R3 (R)
(2) (3) (2) (3)
R2 R4
(2) R4
(1)
(1)
R1 R3
(4) (3)
R2 R2
R4 (2)
(1) (2)
R4 R3 (R)
(1) (3) R4 R3
(1) (3)
R1
(4)
R1
4
10
No exemplo acima, observe que o grupo de prioridade (4), R1, está se aproximando do observador (linha
horizontal), o que justifica sua troca com um dos grupos da vertical (R2 ou R4). Qualquer uma dessas
trocas leva a uma fórmula de Fischer de configuração R. Logo, a configuração da fórmula de partida é S.
Observe que apenas uma troca foi necessária.
R2
R2 4
(4)
R1 R3
(2) (1) R1 R3 (R)
(2) (1)
R4
R2 (3) R4
(1) (3)
R1 R3
(2) (4)
R2
R2
R4 (1)
(1)
(3)
R1 R3 (R)
(2) (3) R1 R3
(2) (3)
R4
(4) R4
4
Como você deve ter notado, nos dois últimos exemplos as fórmulas de projeção de Fischer
analisadas tinham configuração S. Isso, no entanto, não significa que os dois compostos que tiveram as
suas configurações determinadas são iguais. Na realidade, eles são diferentes. Por que? Observe que no
exemplo anterior os grupos de prioridades (1), (2) , (3) e (4) eram, respectivamente, R4, R2 , R3 e R1,
enquanto que no último exemplo, as prioridades (1), (2) , (3) e (4) foram atribuídas aos grupos R2, R1, R4
e R3, respectivamente. Conclusão: R1 no penúltimo exemplo não é igual ao R1 do último exemplo, R2 do
penúltimo exemplo não é igual ao R2 do último exemplo, e assim por diante. Por isso, muita atenção
quando tratar com fórmulas que adotam representações genéricas ou esquemáticas.
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