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1ª Aula

EXECUÇÃO CIVIL – INTRODUÇÃO

 Evolução Legislativa no Brasil:


• Lei 8.952/94 alterada pela lei 10.444/02: alterou o art 461 concedendo a parte a
tutela específica no cumprimento da obrigação de fazer e não-fazer (ver art 644,
CPC).
• Lei 10.444, de 07/05/2002: introdução do art. 461A. Tutela Específica nas ações de
conhecimento cujo objeto seja a entrega de coisa e em relação às obrigações de dar
ou restituir.
• Lei 11.232, de 22/12/2005 e Lei 11.382, de 06/12/2006: reforma do processo
execução.

Processo sincrético: não existem dois processos distintos e sucessivos – o de conhecimento e


o de execução – mas duas fases dentro de um processo único: a fase cognitiva e a fase executiva.

Atividade de conhecimento X Atividade de execução

Atua o Estado, na execução civil, como substituto, promovendo uma atividade que competia
ao devedor exercer. Daí a denominação de execução forçada que se contrapõem à idéia de execução
voluntária da prestação. O Estado invade a esfera patrimonial do devedor, apoderando-se de bens
com os quais irá satisfazer a dívida ou impondo multas, determinando busca e apreensão e outros
atos assemelhados, sempre no intuito do cumprimento da obrigação pelo devedor.
Enquanto no processo de conhecimento o juiz examina a lide para descobrir e formular a
regra jurídica concreta que deve regular o caso, no processo de execução providencia as operações
práticas necessárias para efetivar o conteúdo daquela regra, para modificar os fatos da realidade.
A grande diferença entre os dois processos reside no fato do processo de conhecimento
tender à pesquisa do direito dos litigantes, ao passo que o processo de execução parte justamente da
certeza do direito do credor, atestada pelo título executivo de que é portador.

* No processo de conhecimento o juiz julga (decide); no processo de execução o juiz realiza


(executa)1.

A atividade jurisdicional de conhecimento e a atividade jurisdicional de execução têm


finalidades diferentes, mas complementares, proporcionando uma visão unitária da função
jurisdicional.

O processo de execução apresenta-se como o conjunto de atos coordenados em juízo


tendentes a atingir o fim da execução forçada, qual seja a satisfação compulsória do direito do
credor à custa de bens do devedor. Execução forçada, por outro lado, considera-se o conteúdo do
processo de execução, que consiste na realização, material e efetiva, da vontade da lei através da
função jurisdicional do Estado.
* O fim da execução forçada é a realização da sanção. Através da execução forçada, o
Estado intervém no patrimônio do devedor para tornar efetiva a vontade sancionatória, realizando à
custa do devedor, até mesmo contra a sua vontade, o direito do credor.

MEIOS DE EXECUÇÃO

1
THEODORO JR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. v. 2. 42. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
1
Como dito, a finalidade da execução é a realização da sanção. Desta forma, o Estado utiliza-
se de dois mecanismos para concretizar a sanção: os meios de coação e os meios de sub-rogação.
Sanção consiste “em toda e qualquer medida estabelecida pelo ordenamento jurídico, para reforçar a
observância de suas normas ou remediar os efeitos de inobservância” (Eduardo Talamini).

a) Mecanismos de sujeição (ou medidas de sub-rogação), constituídos de providências aptas


a, independentemente da participação e vontade do devedor, atingir o resultado determinado
na sanção. Podem ser materiais (ex: penhora e busca e apreensão) ou ideais (substituição de
declaração de vontade e impedimento de contratar). Meio de execução direta.

b) Mecanismos de indução (ou de coação ou medidas coercitivas), destinados a influenciar


psicologicamente o devedor para que ele mesmo cumpra a obrigação (multa diária e prisão).
Meio de execução indireta.

CLASSIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO2

1 – Quanto à origem do título executivo:

A execução será fundada em título executivo judicial (art. 475-N) ou em título executivo
extrajudicial (art. 585). Até a reforma do Código instituída pela Lei 11.232/2005, a rigor, não havia
diferença quanto ao procedimento de uma ou outra espécie de execução. Mas, após a reforma
introduzida ao CPC pela referida lei, diferenças procedimentais são observadas em razão de ser o
título executivo judicial ou extrajudicial, as quais serão analisadas durante todo o decorrer do
semestre.
Entende-se por título executivo judicial aquele resultante de uma atividade jurisdicional.
Exceção: sentença arbitral – título judicial não resultante de uma atividade jurisdicional.
Por sua vez, título executivo extrajudicial é um documento ao qual a lei atribui eficácia
executiva, como a nota promissória, o cheque, etc. São documentos produzidos fora do
procedimento jurisdicional, aos quais a lei atribui eficácia executiva.
A execução por título extrajudicial pressupõe processo autônomo, com a citação do devedor,
para o cumprimento de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa, ou pagar determinada quantia.
A execução por título judicial é, em regra, imediata e prescinde de processo autônomo,
desenvolvendo-se como fase de cumprimento da sentença, excepcionalmente será feita de forma
tradicional.

2 – Quanto à estabilidade do título executivo

Execução Definitiva: é a que se embasa em título executivo judicial que já transitou em


julgado ou em título executivo extrajudicial.
Execução Provisória: é a que se embasa em título executivo judicial que ainda não
transitou em julgado. A decisão que lhe serve de título executivo ainda não é definitiva, uma vez
que pende sobre ela recurso. Tal recurso, entretanto, não tem efeito suspensivo, razão pela qual o
título executivo pode desde já ser executado, só que provisoriamente, pois pode ser alterado ou
mesmo deixar de existir, caso seja provido o recurso.
Em razão de seu caráter precário, a execução provisória apresenta peculiaridades em relação
à definitiva, que visam ressarcir danos que eventualmente o devedor sofra com a execução, caso
posteriormente o título executivo provisório seja reformado ou cassado.
A execução provisória vem disciplinada no art. 475-O do CPC.
Também são provisórias as execuções de decisões judiciais de antecipação de tutela e outras
interlocutórias que imponham uma obrigação para cumprimento imediato do réu.
2
Extraída da obra: WAMBIER, Luiz Rodrigues (Coord.) Curso Avançado de Processo Civil v. 2. 10. ed. São Paulo:
RT, 2008. p. 163-180.
2
3 – Quanto à natureza e ao objeto da prestação

A prestação prevista no título executivo pode consistir em entregar, fazer ou não fazer algo.
No primeiro caso, a entrega pode ter por objeto dinheiro, coisa certa ou incerta (determinada apenas
pelo gênero e quantidade).
Dessas distinções decorrem as seguintes formas de execução: a) por quantia certa (art. 475-J
e seguintes, art. 646 e seguintes e art. 748 e seguintes); b) de obrigação de entregar coisa certa (art.
621 e seguintes e art. 461-A); c) de obrigação de entregar coisa incerta (art. 629 e seguintes e art.
461-A); d) de obrigação de fazer (art. 632 e seguintes e art. 461); e) de obrigação de não fazer (art.
642 e seguinte e art. 461).
A diversidade das obrigações cuja satisfação se persegue importa na adoção de estruturas
procedimentais e meios executórios diferentes em cada um desses casos.

4 – Quanto à especificidade do objeto da prestação

Quando uma obrigação não é cumprida voluntariamente pelo devedor, o credor pode optar
entre seu exato adimplemento ou sua conversão em perdas e danos, buscando receber o equivalente
em dinheiro.
A execução específica visa assegurar a exata satisfação da obrigação – de fazer, não-fazer
ou entregar coisa – tal como estatuída no título executivo. Busca-se o cumprimento da prestação in
natura. Para tanto, utiliza-se amplamente dos meios de execução, ou seja, tanto a técnica da sub-
rogação, quanto da coação. Um exemplo é a aplicação de multa diária (coação), ou nas obrigações
de entrega de coisa, onde o juiz pode determinar a busca e apreensão de bens (sub-rogação). < Ler
art. 461, § 5º, CPC. O artigo menciona as formas mais comuns de coação – multa diária – e de sub-
rogação – busca e apreensão, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva.>
Execução genérica é aquela que busca a obtenção de dinheiro. Se não encontrada a quantia
pecuniária no patrimônio do devedor, tal execução poderá atingir qualquer bem abrangido pela
responsabilidade patrimonial, que será alienado judicialmente, conseguindo-se assim dinheiro para
a satisfação do crédito.

5 – Quanto à especialidade do procedimento em face de peculiaridade do direito material

Determinadas categorias de créditos, em virtude de aspectos peculiares de direito material


(essencialidade da destinação da obrigação; condição especial do credor ou devedor etc.), são objeto
de execuções especiais, com procedimentos que diferem, em maior ou menor grau, dos modelos
executivos gerais. Como exemplo pode-se citar a execução de prestação alimentícia, a execução
contra a Fazenda Pública e a Execução Fiscal.

6 – Quanto à solvabilidade do devedor

A execução por quantia certa comporta ainda distinção de processos em virtude da solvência
ou insolvência do devedor. Sendo o devedor solvente (ou seja, havendo bens em valor suficiente
para responder pela dívida), o rito aplicável é o do art. 475-J e seguintes, se o título for judicial
(cumprimento da sentença), ou o do art. 646 e seguintes, se o título executivo for extrajudicial
(execução por quantia certa contra devedor solvente). Para a situação de insolvência são previstos
fundamentalmente os processos: I) de execução por quantia certa contra devedor insolvente (art.
748 e seguintes), se o devedor não é empresário ou sociedade empresária, e; II) de falência, se o
devedor é empresário ou sociedade empresária, regular ou não (Lei n. 11.101/2005).

3
PRINCÍPIOS INFORMATIVOS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO3

A doutrina traz diversas formas de abordar os princípios que regem o processo de execução.
Assim, optou-se por trazer a lume a classificação adotada por Humberto Theodoro Júnior, em sua
obra Curso de Direito Processual Civil, volume II.

a) Princípio da Realidade: toda execução é real, ou seja, a atividade jurisdicional executiva


incide, direta e exclusivamente, sobre o patrimônio do devedor e não sobre a sua pessoa.
Exceção: devedor de alimentos e depositário infiel4 (art 5º, LXVII, CF) onde é cabível
prisão civil.

b) Princípio da Satisfatividade: a execução tende apenas à satisfação do direito do credor.


Este princípio é um limitador à atividade jurisdicional executiva, na medida que só devem
ser atingidos os bens do devedor suficientes para satisfazer a obrigação e não todos os seus
bens. Ver art 659 - “tantos bens quanto bastem...” – e art 692, parágrafo único, do CPC.

c) Princípio da Utilidade da Execução: a execução deve ser útil ao credor (materialmente),


ou seja, não é permitida sua transformação em instrumento de simples castigo ou sacrifício
do devedor, ou mesmo vingança. Ver art 659, § 2º, CPC. Ex: proibição de arrematação por
preço vil (art. 692).

d) Princípio da Economia da Execução: art 620, CPC – a execução deve se realizar da forma
menos gravosa ao devedor, desde que satisfaça o direito do credor, principal objetivo.

e) Princípio da Especificidade da Execução: a execução deve ser específica no sentido de


propiciar ao credor, na medida do possível precisamente aquilo que obteria, se a obrigação
fosse cumprida pessoalmente pelo devedor. A conversão em perdas e danos somente se dará
quando requerida pelo próprio credor, ou quando se tornar impossível a tutela específica da
obrigação (art 461§ 1º, 461-A § 3º).

f) Princípio do Ônus da Execução: a execução corre a expensas do executado, uma vez que
todas as despesas decorrem da sua mora, do seu inadimplemento.

g) Princípio do Respeito à Dignidade Humana: “a execução não deve levar o executado a


uma situação incompatível com a dignidade humana”. A execução não pode levar o devedor
a ruína, a fome, ao desabrigo, razão pela qual há previsão no código de impenhorabilidade
de certos bens como salário, instrumentos de trabalho, etc. (art 649, CPC).

h) Princípio da Disponibilidade da Execução: o credor tem a faculdade de desistir da


execução ou de apenas algumas medidas executivas (art 569, CPC) como a penhora de
determinado bem ou a alienação de outro.

2ª Aula

DA COMPETÊNCIA NO PROCESSO DE EXECUÇÃO

O Código de Processo Civil regula de maneira diversa a competência na execução forçada,


conforme o título executivo seja judicial ou extrajudicial; mesmo se tratando de títulos judiciais, há
variações de competência, de acordo com os tipos de sentença a executar.

3
THEODORO JR, ob. cit. p. 135-140.
4
Ver Pacto de San Jose da Costa Rica.
4
Fundamentalmente, a competência está regulada no art. 475-P, quando a execução for
baseada em título judicial, e no art. 576, quando fundada em título extrajudicial.
A competência pode ser absoluta ou relativa, dependendo da hipótese. Em qualquer
processo executivo, a incompetência absoluta deverá ser conhecida de ofício pelo juiz, a qualquer
tempo e em qualquer grau de jurisdição (art. 598 c/c art. 113); a relativa terá de ser argüida
mediante exceção, no prazo para propositura de embargos do devedor (art. 742 e art. 598 c/c art.
112).
Via de regra, a competência será absoluta nas hipóteses descritas no art. 475-P, I e II, tendo
em vista o critério adotado para a fixação da competência ser o funcional. Nos demais casos, em
razão do critério adotado ser o territorial, a competência será relativa.
Vejamos a análise, em separado, de cada hipótese.

⇒ Competência na execução por título judicial

Dispõe o art. 475-P, do CPC:

“Art. 475-P. O cumprimento da sentença efetuar-se perante:

I – os tribunais, nas causas de sua competência originária;


II – o juízo que processou a causa no primeiro grau de jurisdição;
III – o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença
arbitral ou de sentença estrangeira.
Parágrafo único. No caso do inciso II do caput deste artigo, o exeqüente poderá optar pelo
juízo do local onde se encontram bens sujeitos à expropriação ou pelo do atual domicílio do
executado, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem.”

• I – os tribunais, nas causas de sua competência originária;

Os processos chegam aos Tribunais em duas circunstâncias distinta: a) como conseqüência


de recurso, que faz a causa ascender do juízo de primeiro grau para o reexame do Tribunal; ou b)
por conhecimento direto do Tribunal, em razão de ser a causa daquelas que se iniciam e findam
perante a instância superior. No primeiro caso, a competência do Tribunal será recursal, no segundo
caso será originária.
Em matéria de competência da execução de sentença é irrelevante que o feito tenha
tramitado pelo Tribunal em grau de recurso, nem mesmo importa o fato de ter o Tribunal
reformado a sentença de primeiro grau. Ele será competente para executar a sentença
somente nas causas em que processou e julgou de forma originária. Nos demais casos, de
competência recursal, o cumprimento se dará perante o juízo que processou a causa no
primeiro grau de jurisdição, hipótese do inciso II do art. 475-P.
São exemplos de causas de competência originária dos tribunais: ação rescisória, e;
ação movida pela União em face de um Estado da Federação, que é proposta diretamente no
Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102, I, f).

• II – o juízo que processou a causa no primeiro grau de jurisdição;

A regra fundamental é que a execução da sentença compete ao juízo da causa e, como tal,
entende-se aquele que a aprecia em primeira ou única instância, ou seja, juízo da causa é o órgão
judicial perante o qual se formou a relação processual ao tempo do ajuizamento do feito. A
competência, neste caso, não se liga à pessoa física do juiz, como deixa claro este inciso, mas sim
ao órgão judicial que ele representa. Por isso são irrelevantes eventuais alterações ou substituições
da pessoa do titular do juízo.

5
O parágrafo único do art. 475-P trouxe uma importante novidade com relação à competência
para a execução de sentença. Antes da lei 11.232/2005, só havia possibilidade de a execução
processar-se perante o juízo onde a sentença foi proferida; agora surgiu a possibilidade de o credor
optar por três foros concorrente, à sua escolha: do juízo onde foi proferida a sentença, do local onde
se encontram os bens sujeitos à expropriação ou do atual domicílio do executado. A competência
continua sendo absoluta, mas há três opções para o credor, ou seja, o credor poderá formular o
requerimento de execução em três foros concorrentes. Não se trata de eleição de foro, mas tão-
somente de opção, pelo credor, entre os foros concorrentes estabelecidos em lei.
Caberá ao exeqüente formular requerimento ao juízo de origem, que ordenará a remessa dos
autos. A inovação é de ordem prática, na medida que visa evitar a multiplicidade de cartas
precatórias entre dois juízos, pois os próprios autos do processo serão deslocados de um juízo para o
outro. Feita a solicitação ao juízo de origem, este só poderá recusar a remessa dos autos se verificar
que não estão preenchidos os requisitos do art. 475-P, parágrafo único, do CPC, caso em que deverá
suscitar conflito positivo de competência.
* Na execução de alimentos, há ainda a possibilidade do credor/alimentando optar pelo foro do
seu próprio domicílio (art. 100, II, CPC).

• III – o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal


condenatória, de sentença arbitral ou de sentença estrangeira.

Como regra geral, as três hipóteses descritas nesse inciso tratam-se de competência relativa e
territorial, regidas pelas regras comuns da ação de conhecimento, reguladas nos art. 94 a 100, do
CPC.
A sentença penal condenatória torna certo o dever de reparar civilmente o dano provocado pelo
delito. Desta forma, a vítima ou seus dependentes podem utilizar a sentença penal diretamente como
título executivo, não havendo necessidade de propor ação civil indenizatória contra o réu condenado
na esfera penal.
Como o juízo penal não é competente para a execução civil, esta será fixada entre os juízos
cíveis, dentro das regras comuns de competência do processo de conhecimento. Será competente
para a execução, o juízo que seria competente para a ação condenatória, caso tivesse que ser
ajuizada. Desta forma temos a competência geral do foro do domicílio do réu, além da regra do
forum delicti commissi, ou seja, o do lugar do ato ou fato, por força do disposto no art. 100, V, a, do
CPC. Ainda no caso de acidente de trânsito, temos a faculdade do parágrafo único do art. 100, ou
seja, será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato, à escolha do ofendido.
Quanto a sentença arbitral, também trata-se de competência territorial e relativa, igualmente
regida pelos art. 94 a 100 do CPC. A sentença arbitral não está mais, como antigamente, sujeita à
homologação pela jurisdição. A execução, no entanto, caberá ao juízo cível que teria competência
para julgar a causa, se originariamente tivesse sido submetida à apreciação pelo Poder Judiciário.
No entanto, nada impede que, no compromisso arbitral, as partes elejam o foro para a execução da
sentença dos árbitros, o que de fato, na prática, é extremamente comum.
Por fim, a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça, será executada
perante a justiça federal de primeira instância, na forma do art. 109,X, da CF. Para a definição do
foro competente, aplicar-se-ão as regras gerais de competência (art. 94 a 100).

⇒ Competência na execução por título extrajudicial

A competência para a execução de título extrajudicial vem disciplinada no art. 576 e deverá
ser apurada de acordo com as regras gerais de competência estabelecidas no CPC para o processo
de conhecimento (Livro I, Título IV, Capítulos II e III).
Prevalece de forma ordinária o critério do foro do domicílio do devedor. Contudo há regras
especiais previstas nos arts. 111, caput, 2ª parte, e art. 100, IV, d, onde se estabelece a prevalência
do foro de eleição e do lugar do pagamento, sempre que tais previsões constarem do título a
executar.
6
Para fixar, então, a competência para a ação de execução fundada em título extrajudicial
deve-se observar a seguinte ordem de preferência: 1) foro de eleição; 2)lugar do pagamento; 3)
domicílio do devedor.
Em virtude de as regras de fixação de competência comum presumirem-se feitas a benefício
do credor, é permitido ao mesmo dispensar a cláusula de eleição de foro ou de lugar do pagamento,
para preferir o ajuizamento no foro do domicílio do réu, que, por sua vez, não poderá recusar a
escolha porque só benefício lhe proporciona. Poderá, é claro, opor-se quando, in concreto, o desvio
do foro de eleição acarretar-lhe comprovado prejuízo.

⇒ Competência para a execução fiscal

Na execução fiscal devem ser observadas as regras específicas do art. 578 do CPC, que
estabelece a competência do foro do domicílio do réu; se não o tiver, no de sua residência ou no
lugar onde for encontrado. Se vários forem os devedores, a execução fiscal poderá ser proposta no
domicílio de qualquer um deles.
O parágrafo único do art. 578 estabelece que a ação poderá ser proposta no foro do lugar em
que se praticou o ato ou ocorreu o fato que deu origem à dívida, embora nele não mais resida o réu,
ou no foro de situação dos bens, quando a dívida destes originar-se. Trata-se de hipótese de foros
concorrentes.

CONDIÇÕES DA AÇÃO EXECUTIVA

Constituindo-se a execução forçada uma forma de ação, o seu manejo sofre subordinação
aos pressupostos processuais e às condições da ação, tal como se passa no processo de
conhecimento. A relação processual há de ser validamente estabelecida e validamente conduzida até
o provimento executivo final, para o que se reclamam a capacidade das partes, a regular
representação nos autos por advogado, a competência do órgão judicial e o procedimento legal
compatível com o tipo de pretensão deduzida em juízo. Da mesma forma, necessário, na ação de
execução, a presença das condições da ação (legitimidade de parte, interesse de agir e possibilidade
jurídica do pedido).

⇒ Possibilidade jurídica do pedido

Assim como na ação de conhecimento, na execução também é necessário que a pretensão do


autor não contrarie o ordenamento jurídico. Não é possível, por exemplo, que se ajuíze execução
por quantia certa, postulando penhora e expropriação de bens, tendo por ré a Fazenda Pública; ou
que se ajuíze ação que tenha por objeto obrigação de fazer ilícita, como matar alguém ou
comercializar substância entorpecente.

⇒ Interesse de agir

É formado pelo binômio necessidade e adequação. Para que o credor de uma obrigação
possa valer-se da execução, é preciso que ela seja indispensável para satisfazer seus interesses. Não
haverá, portanto, interesse se o devedor satisfizer espontaneamente a obrigação; é preciso que haja o
inadimplemento. Daí resultam fundamentais as regras de direito material, a respeito do termo de
cumprimento das obrigações. Para aquelas que têm data certa de vencimento, o devedor estará
inadimplente automaticamente, tanto que seja ultrapassada a data indicada, sem que ele tenha
cumprido a sua obrigação. Quando a obrigação não tem termo certo de vencimento, é preciso
constituir o devedor em mora, notificando-o para que a cumpra. Ademais, quando a obrigação for

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sujeita a condição, há necessidade que a condição tenha ocorrido para que o credor possa pleitear
sua execução (art. 572).

⇒ Legitimidade ad causam

Tal como no processo de conhecimento, só pode ir a juízo solicitar o provimento


jurisdicional aquele que tenha legitimidade. Os art. 566 a 568 do CPC estabelecem quais são os
legitimados para promover a execução, e em face de quem ela deve ser ajuizada.

DAS PARTES

Na conceituação técnica do direito processual, partes no processo de execução são as


pessoas que pedem ou em face das quais se pede a tutela jurisdicional do Estado. A sua
identificação tem como parâmetro a demanda concretamente posta em juízo. Os art. 566 a 568 do
CPC trazem a disciplina sobre quem pode figurar como sujeito ativo e passivo no processo de
execução.

⇒ Nomenclatura

No processo de execução atribui-se a parte ativa a denominação de exeqüente e à parte


passiva executado. No entanto, o código de processo civil, prefere denominá-los simplesmente de
credor e devedor.

⇒ Legitimação Ativa

Dispõe os art. 566 e 567 do CPC:

“Art. 566. Podem promover a execução forçada:


I – o credor a quem a lei confere título executivo;
II – o Ministério Público, nos casos prescritos em lei.”

“Art. 567. Podem também promover a execução, ou nela prosseguir:


I – o espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que, por morte deste, lhes for
transmitido o direito resultante do título executivo;
II – o cessionário, quando o direito resultante do título executivo lhe foi transmitido por ato
entre vivos;
III – o sub-rogado, nos casos de sub-rogação legal ou convencional.”

Cabe inicialmente fazer a distinção entre legitimação ordinária e extraordinária. Em tema de


legitimação vigora em nosso sistema regra geral segundo a qual deve ser reproduzido, no processo,
o elenco subjetivo da relação jurídica material. No que se refere especificamente ao demandante,
estabelece o CPC, no art. 6º, que “ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo
quando autorizado por lei”. É a legitimação ordinária, que se contrapõe à extraordinária, aquela em
que alguém fica autorizado por lei a, em nome próprio, demandar em juízo direito de outrem.
Regula o art. 566 hipótese de legitimação ordinária, no seu inciso I, e legitimação extraordinária, no
seu inciso II.
A legitimação ordinária pode ser ainda originária ou superveniente. O art. 566, I, do CPC
elenca hipótese de legitimação originária, na medida que dispõe as pessoas que fazem parte do
título executivo de forma primitiva. Já o art. 567 regula hipóteses de legitimação ativa
superveniente, arrolando os casos em que estranhos à formação do título executivo tornaram-se,

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posteriormente, sucessores do credor, assumindo, por isso, a posição que lhe competia no vínculo
obrigacional primitivo. A modificação subjetiva da lide pode ocorrer tanto antes como depois de
iniciada a execução forçada, e os fatores determinantes da sucessão tanto podem ser causa mortis
como inter vivos, sendo ainda indiferente que o título executivo transmitido seja judicial ou
extrajudicial.

• Legitimação ativa originária do credor: compete promover a execução, em primeiro


lugar, ao credor “a quem a lei confere o título executivo”. A força executiva atribuída aos
títulos de crédito decorre de lei. A legitimação das partes, por sua vez, será extraída, quase
sempre, do próprio conteúdo do título. Assim, no título judicial, credor será o vencedor da
causa, como tal apontado na sentença. No título extrajudicial, será a pessoa em favor de
quem se contraiu a obrigação.

• Legitimação ativa extraordinária do Ministério Público: estabelecida no art. 566, II, do


CPC. A legitimidade do Ministério Público é extraordinária, porque ele não ajuíza execução
em defesa de um interesse próprio, mas de interesse alheio, cuja defesa é atribuição de lei.
São exemplos de legitimação ativa extraordinária do MP: a execução de sentença
condenatória proferida em ação popular, se em sessenta dias outro cidadão não o fizer (Lei
4.717/65, art. 16); execução de sentença condenatória obtida em processo coletivo que teve
como autor algum dos outros legitimados do art. 82 do CDC, quando, decorrido o prazo de
um ano, não houve “habilitação de interessados em número compatível com a gravidade do
dano” (CDC, art. 100, caput); execução de sentença condenatória obtida por ação civil
pública, quando decorridos sessenta dias sem que a associação autora lhe promova a
execução (Lei 7.347/85, art. 15), etc.

• Legitimação ativa derivada ou superveniente: como dito anteriormente vem regulada no


art. 567 do CPC, em três incisos, que serão abordados separadamente para melhor
entendimento da matéria.

Espólio, herdeiros e sucessores: o art. 567, I, atribui legitimidade ativa às pessoas que não
participaram da formação do título executivo, mas tornaram-se sucessoras do credor por ato causa
mortis. Por herdeiro deve-se entender quem sucede ao autor da herança, a título universal, ou seja,
recebendo toda a massa patrimonial do de cujos, ou uma quota ideal dela, de modo a compreender
todas as relações econômicas deixadas, tanto ativas como passivas. E por sucessor simplesmente,
tem-se o legatário, que sucede o de cujos a título singular, sendo contemplado, no testamento, com
um ou alguns bens especificados e individuados. Desta forma, ocorrendo a sucessão por morte, a
legitimidade passará ao espólio, enquanto não ultimado o inventário com a partilha de bens, ou aos
herdeiros do credor, após a efetivação da partilha. O espólio será representado pelo inventariante
nomeado pelo juiz, exceto se o inventariante for dativo, caso em que a representação será feita por
todos os herdeiros (art. 12, §1º, CPC).

Cessionário: é o beneficiário da transferência negocial de um crédito por ato inter vivos, oneroso
ou gratuito. Para que haja a transferência negocial do crédito é preciso que a isso não se oponham a
natureza da obrigação, a lei, ou a convenção entre as partes (CC, art. 286). Casos mais comuns de
cessão são os de endosso dos títulos cambiais, que se regem por legislação específica e cuja
circulabilidade é ampla e da própria natureza das obrigações neles corporificadas. Para execução
forçada, o cessionário, além de exibir o título executivo, terá o ônus de demonstrar a cessão, a fim
de legitimar-se à causa.

Sub-rogado: pela sub-rogação, o terceiro que paga a dívida ao credor assume o direito de cobrá-la
junto ao devedor, ou seja, por sub-rogado entende-se aquele que satisfaz obrigação alheia e, com
isso, assume a posição jurídica do antigo credor. Os arts. 346 e 347 do Código Civil enumeram,
respectivamente, as hipóteses de sub-rogação convencional ou legal. Haverá sub-rogação legal do
9
credor que paga dívida do devedor comum, do fiador (art. 595, parágrafo único, CPC) e do avalista
que pagam a dívida do devedor principal e, haverá sub-rogação convencional quando um terceiro
quita a obrigação e o credor expressamente lhe transfere todos os seus direitos, ou ainda quando
terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa
de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.

⇒ Legitimação Passiva

Dispõe o art. 568 do CPC:

“Art. 568. São sujeitos passivos na execução:


I – o devedor, reconhecido como tal no título executivo;
II – o espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor;
III – o novo devedor, que assumiu, com o consentimento do credor, a obrigação resultante
do título executivo;
IV – o fiador judicial;
V – o responsável tributário, assim definido na legislação própria.”

Também na legitimidade passiva temos a diferenciação entre legitimidade ordinária


originária e derivada, assim como a figura do responsável pela dívida, qual seja o fiador judicial e o
responsável tributário.

• Legitimidade passiva ordinária originária (devedor): quem figura como devedor no


título executivo, submeter-se-á ao processo de execução no pólo passivo. Exemplos: o
condenado na sentença civil ou penal; o sacado na duplicata; o emitente do cheque; o
inscrito em dívida ativa, etc.

• Legitimidade passiva ordinária derivada: regulada no art. 568, II, do CPC, consiste na
legitimidade passiva superveniente/derivada do espólio, dos herdeiros ou do sucessor do
devedor. A morte é o fim natural da pessoa humana e com ela se extingue também a
personalidade e a capacidade jurídica, transmitindo-se direitos e obrigações do de cujos aos
sucessores legais. Enquanto não efetuada a partilha, o espólio figurará como legitimado
passivo, representado pelo inventariante. Efetivada a partilha, desaparece a figura do espólio
e cada herdeiro individualmente responderá pelas dívidas do de cujos, “na proporção da
parte que na herança lhe coube” (art. 597). Se a execução já estiver em curso quando ocorrer
o óbito do devedor, sua substituição pelo espólio ou pelos sucessores, dar-se-á através de
habilitação incidente, com observância dos arts. 43 e 1.055 a 1.062, do CPC, suspendendo-
se o processo pelo prazo necessário à citação dos interessados. Ocorrendo a morte antes do
início da execução, esta será ajuizada diretamente contra o espólio, representado pelo
inventariante, se ainda não houver partilha. Se já houver partilha ou o inventariante for
dativo, a execução será ajuizada contra os herdeiros. Por fim, temos a legitimidade passiva
das pessoas jurídicas nos casos de sucessão de empresas, em situações como as de
incorporação, fusão e cisão, as quais provocam a transferência universal de direitos e
obrigações. Desta forma, as empresas sucessoras podem ser executadas pelas dívidas
constantes de títulos executivos das empresas extintas ou sucedidas, observando-se o limite
do patrimônio absorvido pela empresa sucessora.

• Legitimidade passiva do novo devedor: outra hipótese de legitimação passiva derivada


está prevista no art. 568, III, ou seja, cessão de débito ou assunção de dívida por terceiro. No
direito material brasileiro é indispensável a concordância do credor para que se dê a cessão
da posição passiva na relação obrigacional, ainda que tal transferência possa ocorrer sem o
consentimento do devedor originário (art. 299, caput, do CC); essa diretriz está refletida na

10
regra processual. No entanto, não há necessidade que tal consentimento seja prévio, nem
concomitante ao negócio translatício. Pode ser posterior (art. 299, parágrafo único) e, às
vezes, até mesmo tácito ou presumido (303, do CC).
• Fiador judicial: é o terceiro que, no curso de um processo, compromete-se perante o juízo a
garantir obrigação que, eventualmente, venha a ser imposta a uma das partes naquela relação
processual (art. 826 e seguintes do Código). O fiador judicial responde pela execução sem
ser obrigado pela dívida e a execução contra ele não depende de figurar o seu nome na
sentença condenatória. É garantido ao fiador judicial o benefício de ordem (art. 828, II, CC),
bem como uma vez solvendo a dívida, terá direito de regresso contra o devedor, sub-
rogando-se nos direitos do credor e legitimando-se a propor execução forçada contra o
afiançado, nos mesmos autos (art. 595, parágrafo único).

• Responsável tributário: este sujeito passivo da execução é específico da legislação fiscal e


consta no rol do art. 568 devido à unificação da execução forçada procedida pelo Código de
1973, de forma a abranger também a cobrança de dívida ativa da Fazenda Pública. Com o
advento da Lei 6.830, de 22.09.1980, no entanto, fixou-se procedimento especial para a
execução da dívida ativa, através dos executivos fiscais, desta forma, o CPC será aplicado
apenas subsidiariamente. O responsável tributário é a pessoa ligada ao fato gerador e que
responde pelo pagamento do tributo caso o devedor não o pague; sua obrigação decorre
expressamente de disposição de lei. O Código Tributário Nacional traçou as linhas gerais da
responsabilidade tributária nos arts. 128 a 138, as quais são completadas pela legislação
específica de cada tributo em vigor no País.

⇒ Pluralidade de partes na Execução (litisconsórcio)

Na execução é possível a formação de litisconsórcio ativo, passivo e misto, seja o título


judicial ou extrajudicial. Normalmente o litisconsórcio na execução é facultativo, uma vez que não
são usuais as hipóteses em que a execução tenha de ser necessariamente movida em face dos vários
devedores ou requerida por todos os credores. No entanto, se a obrigação for indivisível e tiver que
ser cumprida conjuntamente pelos devedores, o litisconsórcio será necessário. Mas tais situações
são excepcionais, pois a regra é que na execução o litisconsórcio será sempre facultativo.

⇒ Intervenção de terceiros

Considerada a natureza da ação de execução, que se caracteriza por buscar solução para
crise de cumprimento da norma concreta e não para a sua identificação, não se mostram com ela
compatíveis os institutos da intervenção de terceiros, como a oposição, a nomeação à autoria, a
denunciação da lide e o chamamento ao processo. Tais institutos são típicos do processo de
conhecimento, já que intimamente relacionados com a atividade jurisdicional destinada a obter, por
sentença, a solução para as crises de identificação do preceito normativo concretizado. Por outro
lado, a figura do assistente é conciliável com o processo de execução, mas sendo raros os casos em
que se configura o interesse jurídico ensejador da intervenção assistencial. Configura hipótese de
assistência a que decorre do art. 834 do Código Civil: a intervenção do fiador ou do abonador, para
promover o andamento do processo, retardado, sem causa, pelo credor.

3ª Aula

DOS REQUSITOS NECESSÁRIOS PARA A EXECUÇÃO

“No processo de execução não haverá discussão acerca da efetiva existência do


direito; não se ouvirão – senão pela propositura de ação incidental de embargos – os
11
argumentos do réu, no que tange ao mérito. O mesmo ocorre na fase de cumprimento da
sentença: as poucas defesas relativas ao mérito que o executado pode suscitar precisam ser
apresentadas mediante incidente de “impugnação” ao cumprimento da sentença. Para
concretizar a sanção, o Estado intromete-se no patrimônio do devedor, independentemente
de sua concordância, ou impõe-lhe meios coercitivos, de pressão psicológica. Em suma, a
execução é bastante rigorosa para quem nela figura como executado. Bem por isso,
impõem-se à execução requisitos especiais”5.
A admissibilidade da execução forçada exige a ocorrência de dois requisitos básicos
e indispensáveis, que são: I – o inadimplemento do devedor, que constitui requisito material,
regulado nos arts. 580 e seguintes, do CPC, e; II – o título executivo, judicial ou
extrajudicial, requisito formal, regulado pelos arts. 475-N e 585, respectivamente. Ademais,
como conseqüência direta da existência de regime geral comum para a atividade
jurisdicional cognitiva e executiva, aplicam-se ao processo de execução e à fase de
cumprimento de sentença as regras sobre pressupostos processuais e condições da ação
(arts. 2º, 3º, 6º, 267, 301) previstas no Livro I do CPC, verificadas na aula passada.

→ DO TÍTULO EXECUTIVO

Juntamente com o inadimplemento do devedor, o título executivo é considerado por lei


requisito indispensável para qualquer execução (nulla executio sine titulo). Título executivo é cada
um dos atos jurídicos que a lei reconhece como necessário e suficiente para legitimar a realização
da execução. Assim, só será título executivo aquele ato jurídico que a lei qualificar como tal. Há
numeração exaustiva dos títulos executivos no ordenamento, ou seja, não é facultado as partes criar
novos títulos executivos. O rol legal dos títulos executivos é numerus clausus Eles somente
decorrem de expressa disposição de lei. Registre-se, no entanto, que existem títulos executivos
previstos fora do Código de Processo Civil, em legislação esparsa, o que não descaracteriza a
taxatividade legal. São classificados em títulos executivos judiciais, regulados no art. 475-N e,
títulos executivos extrajudiciais, enumerados no art. 585, todos do CPC.

a) Requisitos do título executivo

Não basta a presença do título. Dispõe o art. 586, do CPC: “A execução para cobrança de
crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível.” Ainda o art. 618, I, do
CPC, comina de nulidade a execução, sempre que não preencher esse requisito (Art. 618: “É nula a
execução: I – se o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e
exigível”). Não se trata, propriamente, de nulidade, mas de verdadeira carência de execução. A
ausência dos requisitos do título executivo constitui matéria de ordem pública, argüível a qualquer
tempo, podendo ser conhecida de oficio pelo juiz.

a.1) Certeza: quando a lei impõe, como condição para executar, que o título traga a representação
de obrigação certa, não está exigindo certeza quanto à existência do direito; a certeza da obrigação
refere-se à exata definição de seus elementos. Ou seja, o título executivo retratará obrigação certa,
quando nele estiver estampada a natureza da obrigação (obrigação de entregar, fazer ou não fazer),
o seu objeto (entregar o quê; fazer o quê; não fazer o quê) e os seus sujeitos (credores e devedores).
O fato de a obrigação ser alternativa (aquela onde há escolha da prestação entre duas ou mais, pelo
credor ou devedor - art. 571, CPC), ou para entrega de coisa incerta (art. 629, CPC), não afeta o
requisito em comento, pois o conteúdo da obrigação é identificável.

5
WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo Civil V. 2. 10ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2008. p. 61.
12
a.2) Liquidez: a liquidez refere-se ao quantum debeatur, isto é, à quantidade de bens que são objeto
da obrigação a ser cumprida pelo devedor. É líquida a obrigação contida no título quando, de sua
leitura, ou pela simples realização de cálculos aritméticos, possa apurar-se a quantidade de bens
devidos.

a.3) Exigibilidade: estará satisfeito o requisito da exigibilidade se houver a precisa indicação de


que a obrigação já deve ser cumprida, seja porque ela não se submete a nenhuma condição ou
termo, seja porque estes inequivocamente já ocorreram ou estão demonstrados.

b) Títulos executivos judiciais6

Dispõe o art. 475-N, do CPC: “São títulos executivos judiciais:

I – a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não
fazer, entregar coisa ou pagar quantia;

II – a sentença penal condenatória transitada em julgado;

Ao contrário da sentença civil, a sentença criminal só constitui título executivo depois de


transitada em julgado, em razão do princípio da presunção de inocência do réu (art. 5º, LVII, da
CF). Assim, não há que se falar em execução provisória de sentença penal. Deverá haver a
liquidação prévia do quantum debeatur, uma vez que a sentença penal só torna certo o dever de
indenizar, mas não fixa o valor da indenização. De outra banda, a sentença penal só pode ser
executada contra aquele que foi condenado na ação penal, jamais contra terceiros. Assim, nos casos
em que a lei reconhece a responsabilidade civil dos pais por ato do filho menor, ou do patrão por ato
do empregado, é necessário o ajuizamento prévio de processo de conhecimento visando a
indenização, onde figure no pólo passivo o terceiro responsável, para que se forme o título
executivo em relação ao mesmo. Em suma, para execução civil da sentença penal, exigem-se os
seguintes requisitos:
• a sentença criminal deve ser definitiva, de maneira que as sentenças de pronúncia, que
mandam o réu ao julgamento perante o tribunal do júri, nenhuma conseqüência têm no
tocante à execução civil;
• a condenação criminal há de ter passado em julgado, de maneira que não cabe, na espécie, a
execução provisória;
• a vítima deve, preliminarmente, promover a liquidação do quantum da indenização a que
tem direito.

Em atenção ao parágrafo único do art. 475-N, haverá a citação inicial do devedor no


processo executivo.

III – a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que inclua


matéria não posta em juízo;

A sentença de homologação de conciliação ou transação, de que fala o art. 475-N, III, refere-
se a negócio jurídico estabelecido entre as partes para pôr fim a processo pendente. A transação
devidamente homologada equipara-se à sentença de mérito da causa (art. 269, III, CPC). O mesmo
ocorre com a conciliação das partes em audiência, reduzida a termo e homologada pelo juiz, tem
força de sentença (art.449, CPC).

IV – a sentença arbitral;

6
THEODORO Jr, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. v. 2. 42. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
13
A sentença arbitral é título executivo por força de lei. Está regulada nos arts. 23 e seguintes
da Lei n. 9.307/96, não há necessidade de ser homologada pelo Judiciário e será executada em
processo autônomo, com a citação inicial do executado. Estabelece o art. 31 da Lei da Arbitragem:
“A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença
proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo.”

V – o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente;

VI – a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;

A Emenda Constitucional n. 45/2004 modificou o dispositivo constitucional que atribuía ao


Supremo Tribunal Federal a homologação das sentenças estrangeiras, transferindo essa competência
para o STJ.

VII – o formal de partilha e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao


inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal.

Transitada em julgado a homologação da partilha extrai-se o formal de partilha ou certidão


de partilha, espécie de carta de sentença que indicará os bens que couberam a cada herdeiro. Nos
pequenos inventário ou arrolamentos, quando o quinhão resultante da sucessão hereditária não
ultrapasse cinco vezes o salário mínimo, “o formal de partilha poderá ser substituído por certidão”
(art. 1.027, parágrafo único).

c) Títulos executivos extrajudiciais

“Art. 585. São títulos executivos extrajudiciais:

I – a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;

Este primeiro inciso refere-se aos títulos de crédito aos quais a lei atribui força executiva.
São os chamados títulos cambiais ou cambiariformes. Pertence ao direito material a regulamentação
dos modos de criar e formalizar esses títulos, bem como de fixar a responsabilidade e as obrigações
deles decorrentes.

II – a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o


documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento de
transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados
dos transatores;

Este inciso faz referência a três hipóteses de títulos executivos extrajudiciais: 1º - Por
escritura pública ou documento público entende-se o lavrado por um tabelião ou funcionário
público, no exercício de suas funções. 2º - Toda e qualquer declaração, na qual o devedor reconheça
a existência de uma obrigação, terá força executiva, se vier subscrita por duas testemunhas. 3º -
Instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos
advogados dos transatores: trata-se de transação extrajudicial, não homologada pelo juiz, porque a
que foi homologada pelo juiz constitui título executivo judicial, como visto anteriormente.

III – os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem como os de
seguro de vida;

Hipoteca, penhor e anticrese são direitos reais de garantia, tratados pelo Código Civil.
Pressupõe uma obrigação principal, cujo cumprimento é por eles garantido. A hipoteca recai sobre
14
bens imóveis, o penhor sobre bens móveis e a anticrese recai sobre os frutos e rendimentos de um
imóvel.
A palavra caução é de significado amplo e no seu sentido lato, significa garantia que o
devedor oferece ao credor. E como tal, abrange as garantias reais e a pessoal. Diz-se, portanto que a
garantia pode ser real (hipoteca, penhor e antricrese) ou fidejussória (fiança). Como as garantias
reais vêm especificadas no inciso, ao constar da redação a palavra caução, o dispositivo abrangeu
também o contrato de fiança. Por fim, é também título executivo o seguro de vida. Registre-se que a
lei 11.382/2006 alterou este dispositivo, uma vez que anteriormente também era previsto como
título extrajudicial o seguro de acidentes pessoais de que resultasse morte ou incapacidade. Com a
reforma, a força executiva ficou limitada ao contrato de seguro de vida.

IV – o crédito decorrente de foro e laudêmio;

Foro e laudêmio são créditos decorrentes do contrato de enfiteuse. O foro é uma prestação
anual que o enfiteuta, titular do domínio útil, paga ao titular da propriedade pura; laudêmio é o
pagamento devido pelo enfiteuta quando transfere o domínio útil. O Código Civil de 2002 (art.
2.038) proibiu a constituição de novas enfiteuses, mantidas as já existentes até à sua extinção e
reguladas pelo CC de 1916.

V – o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem


como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;

VI – o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor,


quando as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por decisão judicial;

VII – a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da
lei;

Certidão de dívida ativa é o título que deve embasar a execução fiscal, regulada pela Lei
6.830/80.

VIII – todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força
executiva.

Um número significativo de diplomas legais atribui força executiva a títulos extrajudiciais.


Dentre outros podemos citar: cédula de crédito industrial e rural, de crédito comercial, contrato de
alienação fiduciária em garantia, além dos honorários advocatícios, que veremos a seguir.
Estabelece o art. 24 da Lei n. 8.906/94 que o contrato escrito que estipular honorários
advocatícios é título executivo extrajudicial. Não se pode confundi-lo com aqueles honorários nos
quais o sucumbente é condenado no processo. Os honorários de sucumbência serão fixados na
sentença e podem ser executados nos mesmos autos, constituindo título executivo judicial. Não é
necessário que o contrato de honorário venha firmado por duas testemunhas, nem que tenha
qualquer outra formalidade, mas é preciso que seja líquido. Para a execução do contrato, é preciso
que o advogado o faça acompanhar das provas de que o serviço foi efetivamente prestado.

d) Títulos estrangeiros

O título executivo judicial estrangeiro só adquire força no território nacional depois


de homologado pelo STJ, conforme abordado anteriormente (art. 475-N, VI, do CPC).
15
Com relação aos títulos executivos extrajudiciais estrangeiros, dispõe o parágrafo
segundo do art. 585: “Não dependem de homologação pelo Supremo Tribunal Federal, para serem
executados, os títulos executivos extrajudiciais, oriundos de país estrangeiro. O título, para ter
eficácia executiva, há de satisfazer aos requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de sua
celebração e indicar o Brasil como o lugar de cumprimento da obrigação.” Se a língua utilizada na
redação do título não for o português, deverá ele ser traduzido previamente, por tradutor oficial (art.
157, CPC).

e) Art. 585, § 1º

“A propositura de qualquer ação relativa ao débito constante do título executivo não


inibe o credor de promover-lhe a execução.” Não existe entre a execução forçada e a ação de
conhecimento sobre o mesmo título (anulatória, por exemplo) a figura da litispendência, tal como
configurada no art. 301, § 3º, do CPC. A matéria posta em juízo na ação de conhecimento pode
voltar a ser deduzida perante o juiz executivo, sob a forma de embargos do devedor, ocorrendo a
suspensão da execução até que se solucionem os embargos, desde que respeitadas as condições do
art. 739-A, § 1º. Segundo o doutrinador Humberto Theodoro Júnior, “o que se nota então, é que a
controvérsia sobre a causa debendi não impede a instauração da execução que deve caminhar
normalmente até a penhora; mas, pode gerar a suspensão da atividade executiva, quando revestir a
forma de embargos (art. 741 e 745). Por outro lado, entre os embargos à execução e a anulatória do
débito quando se refiram à mesma obrigação existe, sem dúvida, a conexão em virtude de
identidade de causa de pedir (art. 103). Deverão os respectivos autos ser reunidos para que a decisão
das duas ações seja simultânea (art. 105).”

f) Pluralidade de títulos executivos

“Art. 573. É lícito ao credor, sendo o mesmo o devedor, cumular várias execuções,
ainda que fundadas em títulos diferentes, desde que para todas elas seja competente o juiz e idêntica
a forma do processo.” Trata-se da hipótese de se executar, em um mesmo processo, dois ou mais
títulos diferentes, desde que relacionados entre si.

→ DO INADIMPLEMENTO DO DEVEDOR

Enquanto não houver o inadimplemento da obrigação por parte do devedor, faltará ao credor
o interesse para promover a execução. O art. 580 do CPC estabelece como inadimplente o devedor
que não satisfaça obrigação líquida, certa e exigível, consubstanciada em título executivo, judicial
ou extrajudicial. A exigência do requisito em questão é geral, aplicando-se indistintamente a todas
as espécies de execução, sejam das obrigações de pagar quantia certa, sejam das obrigações de dar,
de fazer ou não fazer. Relaciona-se a idéia de inadimplemento com a de exigibilidade da prestação,
de maneira que, enquanto não vencido o débito, não se pode falar em descumprimento da obrigação
do devedor.
Cabe ao direito material fixar as regras sobre o inadimplemento. O Código Civil brasileiro
trata do assunto nos arts. 389 e seguintes. Nas obrigações com termo certo de vencimento, o
devedor estará em mora desde que não satisfaça a obrigação na data estabelecida para o
cumprimento, sem necessidade de outras providências por parte do credor.
No entanto, existem obrigações que não possuem termo certo de vencimento, nestes casos é
preciso que o devedor seja notificado, para então se constituir em mora. É o que estabelece o art.
397, parágrafo único, do CC: “Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação
judicial ou extrajudicial”. Nas obrigações de não fazer, o devedor estará inadimplente desde o dia
em que praticar o ato, de que deveria se abster (art. 391, CC). Nas obrigações por ato ilícito, o
devedor está em mora desde o dia do fato, conforme art. 398 do CC: “Nas obrigações provenientes
de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou” (Ver súmula 54 do STJ).
16
A lei material distingue termo de condição. Termo é o evento futuro e certo, enquanto
condição é um evento futuro e incerto. Neste raciocínio, obrigações a termo são aquelas cuja
exigibilidade está subordinada a evento futuro e certo, enquanto as condicionais são aquelas cuja
exigibilidade está condicionada a evento futuro e incerto.
Dispõe o art. 572 do CPC, que: “Quando o juiz decidir relação jurídica sujeita a condição ou
termo, o credor não poderá executar a sentença sem provar que se realizou a condição ou que
ocorreu o termo”. Sem um ou outro, a obrigação ainda não será exigível.
O inadimplemento pressupõe uma situação de inércia culposa do devedor. Assim, se ocorrer
o cumprimento voluntário da obrigação pelo devedor, “o credor não poderá iniciar a execução” (art.
581, primeira parte, CPC). Se a execução já foi iniciada e houver a quitação da obrigação pelo
devedor, será cessada imediatamente a execução forçada e extinto o processo executivo.
No entanto, para obter a quitação da obrigação, é imprescindível que o devedor cumpra a
prestação exatamente como define o título executivo. Caso não o faça, será lícito ao credor recusar
o pagamento e dar curso ao processo executivo, como dispõe o art. 581, segunda parte, do CPC.
Por fim, cumpre analisar o inadimplemento nas obrigações que tenham por base contratos
bilaterais. Prescreve o art. 582 do CPC: “Em todos os casos em que é defeso a um contraente, antes
de cumprida a sua obrigação, exigir o implemento da do outro, não se procederá à execução, se o
devedor se propõe satisfazer a prestação, com meios considerados idôneos pelo juiz, mediante a
execução da contraprestação pelo credor, e este, sem justo motivo, recusar a oferta. Parágrafo único.
O devedor poderá, entretanto, exonerar-se da obrigação, depositando em juízo a prestação ou a
coisa; caso em que o juiz suspenderá a execução, não permitindo que o credor a receba, sem
cumprir a contraprestação, que lhe tocar”.
Há negócios jurídicos em que após seu aperfeiçoamento apenas uma das partes tem
obrigações, como no empréstimo, por exemplo. Em outros, ambas as partes assumem deveres e
direitos recíprocos (compra e venda, parceria agrícola, etc.). Diz-se que o contrato é unilateral no
primeiro caso e bilateral no segundo.
Nos contratos bilaterais ambos os contraentes são, a um só tempo, credor e devedor entre si.
Assim, aquele que pretender executar o respectivo crédito, terá antes que deixar de ser devedor,
solvendo o débito a seu cargo e fazendo cessar a bilateralidade do vínculo obrigacional.
Mesmo sem o prévio adiantamento da contraprestação do exeqüente, o executado, pode
pretender cumprir sua parte no contrato, oferecendo sua prestação em juízo para exonerar-se da
dívida. Isto ocorrendo, o juiz suspenderá a execução e só permitirá ao exeqüente o respectivo
levantamento “se cumprir a contraprestação que lhe tocar.”

4ª Aula

RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL7

No direito moderno, o objeto da execução forçada são os bens e direitos que integram o
patrimônio do devedor. Isto decorre de um dos princípios informativos do processo de execução, ou
seja, o de que toda a execução é real (e não pessoal). Para Humberto Theodoro Jr. (p. 198) “o
crédito compreende um dever para o devedor e uma responsabilidade para o seu patrimônio. É da
responsabilidade que cuida a execução forçada, ao fazer atuar contra o inadimplente a sanção legal.
Sendo, dessa maneira, patrimonial a responsabilidade, não há execução sobre a pessoa do devedor,
mas apenas sobre seus bens”.

7
Baseado a obra de Humberto Theodoro Jr., Curso de Direito Processual Civil (referência bibliográfica complete no
plano de ensino).
17
Para Wambier8, “responsabilidade patrimonial consiste na situação de sujeição à atuação da
sanção. É a situação em que se encontra o devedor de não poder impedir que a sanção seja realizada
mediante a agressão direta ao seu patrimônio. Traduz-se na destinação dos bens do devedor a
satisfazer o direito do credor”.
A obrigação como dívida é objeto de direito material. A responsabilidade como sujeição dos
bens do devedor à sanção, que atua pela submissão à expropriação executiva, é uma noção
absolutamente processual.
Em regra, somente o devedor inadimplente tem a responsabilidade pelo pagamento,
respondendo com seu patrimônio próprio pela satisfação do credor. Obrigação e responsabilidade
quase sempre andam juntas. Mas há casos em que haverá uma sem a outra, e outros em que a
responsabilidade estende-se para além do próprio devedor.
A responsabilidade patrimonial tem sua diretriz geral insculpida no art. 591: “O devedor
responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo
as restrições estabelecidas em lei”. Essa fórmula fundamental desdobra-se em duas proposições:
todos os bens do devedor respondem por suas obrigações (inclusive os que ingressarem em seu
patrimônio depois de contraída a dívida ou iniciada a execução); somente os bens do devedor
respondem por suas obrigações. Porém, o próprio preceito citado deixa claro haver exceções. Daí
que: (I) há bens do devedor que não respondem por suas obrigações; (II) há bens de terceiros que
por elas respondem”9. Façamos a análise dessas hipóteses.

► Art. 591 – Responsabilidade patrimonial do devedor

“O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens
presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei”. Este dispositivo imputa a
responsabilidade prioritária ao próprio devedor. Tanto os bens existentes ao tempo da constituição
da obrigação como os que o devedor adquiriu posteriormente, ficam vinculados à responsabilidade
na execução. Portanto, no decorrer da execução, pouco importa se o objeto a ser penhorado já
existia ou não ao tempo em que a dívida foi contraída.
Ressalte-se que o patrimônio aqui abordado é aquele composto apenas por bens de valor
pecuniário, assim, não o integram a honra, a vida, o nome entre outros bens de igual natureza. A lei
estabelece ainda, em circunstâncias especiais, a exclusão de alguns bens da execução, qualificando-
os como impenhoráveis por motivo de ordem moral, religiosa, sentimental, pública, etc (art. 649).

► Art. 592 – Bens de terceiros submetidos à responsabilidade patrimonial

Há casos em que a conduta de terceiros, sem levá-los a assumir a posição de devedores ou


de partes na execução, torna-os sujeitos aos efeitos do processo executivo. Isto é, seus bens
particulares passam a responder pela execução, muito embora inexista assunção da dívida constante
do título executivo. O art. 592 enumera hipóteses de responsabilidade patrimonial subsidiária de
terceiros, a quem ela se estende. Só deve prevalecer se a responsabilização do devedor for
insuficiente para a satisfação do credor. Em todas elas, haverá uma dissociação entre débito e
responsabilidade. Os terceiros não são os devedores, mas respondem com seu patrimônio, ou parte
dele, pelo cumprimento da obrigação. Trata-se, como se vê, de responsabilidade puramente
processual.
A responsabilidade patrimonial de terceiros vêm estabelecida no art. 592 do CPC, que assim
dispõe: “Ficam sujeitos à execução os bens:

I – do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação

reipersecutória;
8
Luiz Rodrigues Wambier, Curso Avançado de Processo Civil, v. 2. (referência bibliográfica completa no plano de
ensino). p. 128
9
Wambier, p. 130.
18
Por sucessor a título singular, entende-se aquele que adquiriu um bem alienado pelo

devedor, quando ele já era litigioso. É o bem adquirido e não a pessoa do adquirente que se

vincula à responsabilidade executiva.

O campo de incidência deste inciso é o das execuções para a entrega de coisa (art. 461-

A c/c 475-I e arts. 585, II, c/c 621 a 631). Não importa se o exeqüente esteja reclamando a

entrega com fundamento em direito real ou pessoal, ou se o título executivo é judicial ou

extrajudicial.

Nos termos do art. 42, caput, do CPC, a alienação da coisa ou do direito litigioso não

altera a legitimidade das partes. O § 3º deste mesmo artigo estabelece que a sentença

proferida entre as partes originárias estende os seus efeitos ao adquirente ou cessionário. A

alienação da coisa ou do direito litigioso é ineficaz perante o credor, que poderá buscá-la em

mãos do adquirente.

Para Luiz Guilherme Marinoni10, a hipótese retratada neste inciso “decorre do direito

de seqüela, que caracteriza os direitos reais e as obrigações reipersecutórias”. O direito de

seqüela permite ao titular do direito alcançar o bem onde quer que ele esteja. Desta forma,

poderá o credor submeter o bem litigioso alienado à execução e o terceiro adquirente terá de

defender seus direitos mediante embargos de terceiro.

II – do sócio, nos termos da lei;

A regra básica é de que a sociedade, como tem personalidade jurídica, responda por

suas obrigações, somente respondendo os bens particulares dos sócios nos casos expressos em

lei (art. 596). Enquanto a empresa for solvente, os bens particulares dos sócios não poderão

10
Luiz Guilherme Marinoni, Execução. p. 260. (referência bibliográfica completa no plano de ensino)
19
ser atingidos, e mesmo em caso de insolvência a responsabilidade do sócio, quando existir,

será subsidiária, isto é, depende de se terem esgotados os bens da pessoa jurídica.

Em virtude da separação do patrimônio da empresa e dos sócios com freqüência as

pessoas jurídicas têm sido usadas de forma fraudulenta, para prejudicar credores. A

finalidade delas é desvirtuada, uma vez que os sócios utilizam-se da autonomia da empresa

para obterem lucros ou vantagens pessoais. No intuito de evitar esse tipo de fraude, a doutrina

criou a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, que foi consolidada no Código

Civil de 2002, regulada no art. 50. Feita pelo credor a prova de que a empresa foi utilizada de

forma fraudulenta, o juiz desconsiderará a pessoa jurídica e estenderá a responsabilidade

patrimonial aos sócios, permitindo que a penhora recaia sobre os bens pessoais. Não há

extinção da empresa ou dissolução. Ela continuará existindo e sendo devedora. Mas os bens

dos sócios passam a responder pelo pagamento da dívida.

Por fim, o art. 596 estabelece ainda que o sócio demandado pela dívida da sociedade

tem direito de exigir que sejam primeiro excutidos os bens da sociedade, cabendo a ele indicar

bens da sociedade livres e desembargados suficientes para quitar o débito, é o chamado

benefício de ordem. Ademais, se o sócio pagar a dívida da sociedade, poderá executar a

mesma nos próprios autos do processo de execução (art. 596, §§ 1º e 2º).

III - do devedor, quando em poder de terceiros;

Neste inciso não se trata de responsabilidade do terceiro, mas do próprio devedor, uma

vez que o bem pertence ao devedor, mas se encontra em poder de terceiro. Os bens do

devedor respondem pelas suas dívidas sendo irrelevante com quem estejam. Naturalmente se

o terceiro desfrutar de uma posse contratual legítima sobre bem, como no caso do contrato de

locação com eficácia perante o adquirente, o bem poderá ser penhorado, mas a execução

20
contra o locador/proprietário não excluirá a continuidade dos direitos do locatário até o final

do contrato. O arrematante, adquirindo a propriedade do bem, ficará sub-rogado na posição

do devedor, isto é, de locador, devendo respeitar o contrato de locação.

IV – do cônjuge, nos casos em que os seus bens próprios, reservados ou de sua meação respondem

pela dívida;

Quando a dívida é contraída por ambos os cônjuges, a responsabilidade patrimonial,

não há dúvida, será dos dois. Marido e mulher serão devedores e o patrimônio de um e outro

responderá pela dívida. Há casos, porém, em que a dívida é contraída somente por um. A

responsabilidade de um cônjuge pelo pagamento de dívida contraída pelo outro dependerá de

esta dívida ter sido revertida em proveito do casal ou da família. Se sim, o credor poderá

sujeitar o patrimônio de ambos, ainda que a dívida seja de apenas um deles. Se não, só aquele

que a contraiu responderá, não se podendo atingir os bens do outro. Presume-se, até prova em

contrário, que a dívida contraída por um beneficia o outro, ou a família. O ônus da prova é do

que pretende livrar sua meação, já que a presunção é do benefício comum.

V – alienados ou gravados com ônus real em fraude a execução.

O adquirente do bem em fraude à execução não responde pela dívida, mas o bem que lhe foi
transmitido está sujeito à constrição, uma vez que a alienação é ineficaz perante o credor, que pode
requerer a penhora sobre ele como se a alienação não tivesse ocorrido. Só o bem adquirido em
fraude à execução responde pelo pagamento da dívida. Outros bens do adquirente não. Não é o
patrimônio todo do adquirente, mas o objeto da fraude, que poderá ser atingido.

► Art. 593 – Fraude de execução11

São duas as formas comuns de fraude: a contra credores e à execução. São grandes as
distinções entre elas: a primeira é de direito material e constitui uma das modalidades de defeito dos
negócios jurídicos. Vem disciplinada no Código Civil, a partir do art. 158. A segunda é instituto de

11
Humberto Theodoro Jr., obra já citada.
21
direito processual, considerada ato atentatório à dignidade da Justiça. Somente nesta há ofensa ao
Poder Judiciário, porque existe um processo em curso.
Ambas têm em comum o fato de o devedor desfazer-se de um bem, ou de parte de seu
patrimônio, em detrimento do credor. Mas na fraude contra credores ainda não há uma ação em
curso.
Haverá fraude contra credores quando houver qualquer ato capaz de diminuir ou onerar o
patrimônio do devedor, desfalcando-o ou eliminando a garantia do pagamento das dívidas,
praticado por devedor insolvente ou que, pelo ato, reduziu-se à insolvência. São dois os elementos
que caracterizam a fraude contra credores: um objetivo (o evento danoso) e outro subjetivo (o
consilium fraudis). O primeiro é o prejuízo ao credor, que decorre da insolvência do devedor. O
segundo é a necessidade da má-fé do adquirente, que depende de prova do credor. Se o terceiro
estava de boa-fé, não se reconhecerá a ineficácia do negócio. O art. 159 do CC presume a má-fé do
adquirente “quando a insolvência (do alienante) for notória, ou houver motivo para ser conhecida
do outro contratante”. A ação competente para atacar a fraude contra credores é a ação pauliana,
fundada no duplo pressuposto do eventus damni e do consulim fraudis.
Já a fraude à execução pressupõe um processo pendente, conforme dispõe o art. 593:
“Considera-se em fraude de execução a alienação ou oneração de bens:
I – quando sobre eles pender ação fundada em direito real;
II – quando, ao tempo da alienação ou oneração, corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-
lo a insolvência;
III – nos demais casos previstos em lei”.
Não é necessário que esse processo pendente seja o de execução; considera-se em fraude à
execução desde o momento do ingresso de qualquer ação, seja ela de conhecimento ou de execução.
Também não é necessária nenhuma ação para anular ou desconstituir o ato de disposição
fraudulento, o qual será declarado nos próprios autos do processo de execução ou na fase de
cumprimento da sentença (fase de execução).
O art. 593 estabelece duas hipóteses de fraude à execução, que serão examinadas
separadamente.
A primeira hipótese é a da alienação de bem sobre qual penda ação fundada em direito real.
O direito real grava a coisa e a segue com quem esteja. Nesse tipo de fraude há verdadeira alienação
de coisa litigiosa. Pende um litígio sobre determinado bem e o devedor, depois de citado, o aliena.
“O primeiro inciso refere-se a hipótese análoga à do art. 592, I. Ambos tutelam o direito de seqüela
que integra todos os direitos reais. A diferença é que o art. 592, I, cuida da ineficácia da alienação
ocorrida durante a execução, seja ela apoiada em título judicial ou extrajudicial, ao passo que o art.
593, I, antecipa a proteção à seqüela, fazendo a ineficácia atingir mesmo as alienações verificadas
antes do julgamento definitivo da causa no processo de conhecimento”12.
A segunda hipótese, prevista no inciso II, é quando, ao tempo da alienação ou oneração,
corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo a insolvência. Aqui não há litígio sobre um
bem determinado, mas uma ação de natureza patrimonial que, em caso de procedência do pedido,
possa ensejar execução por quantia contra o devedor. Se citado na fase de conhecimento, o devedor
alienar bens e na execução constatar-se que está insolvente, o juiz declarará a ineficácia da
alienação permitindo que a execução recaia sobre os bens alienados.
Desta forma, tratando-se de fraude à execução onde houver vinculação do bem alienado ou
onerado ao processo fraudado (penhora, direito real, arresto, seqüestro), como na hipótese do inc. I,
a caracterização da fraude à execução independe de qualquer outra prova, uma vez que o gravame
acompanha o bem, perseguindo-o no poder de quem quer o detenha, mesmo que o alienante seja
solvente, ou seja, nesta hipótese não há que se falar em prova da insolvência do executado.
No entanto, não havendo prévia sujeição do bem à execução, para configurar-se a fraude na
hipótese do inciso II, deverá o credor demonstrar o eventus damni, isto é, a insolvência do devedor
decorrente da alienação ou oneração de bens. O evento danoso decorrerá normalmente da
inexistência de outros bens passíveis de constrição ou da insuficiência dos encontrados para solver a
dívida.
12
Humberto Theodoro Júnior
22
Assim sendo, se terceiro adquiriu bem judicialmente constrito ou sobre qual pendia ação de
direito real, devidamente registrados no registro público, o ato aquisitivo é ineficaz perante o
credor, sendo desnecessário demonstrar a insolvência do executado. Mas, quando a constrição
judicial ainda não se consumou e não for hipótese de direito real, a fraude dependerá da prova do
evento danoso, que é a insolvência do executado. O consilium fraudis, regra geral, é presumido,
devendo o adquirente provar a sua boa-fé (ler as jurisprudências encaminhadas).
O adquirente do bem alienado em fraude à execução, uma vez que não é parte na execução,
se pretender negar a fraude ou eximir-se de suas conseqüências, terá de valer-se dos embargos de
terceiros.
Por fim, a lei n. 11.382/2006 introduziu importante novidade em nosso ordenamento
jurídico. O art. 615-A do CPC permite ao exeqüente, no ato de distribuição do processo, obter
certidão comprobatória do ajuizamento da execução, com identificação das partes e valores da
causa, para fins de averbação no registro de imóveis, registro de veículos ou registro de outros bens
sujeitos à penhora ou arresto. A finalidade dessa averbação é tornar pública a existência da
execução para que eventuais adquirentes dos bens do devedor não possam beneficiar-se da alegação
de boa-fé, uma vez que dispõe o §3º deste mesmo artigo, que presume-se em fraude à execução a
alienação ou oneração de bens efetuada após a averbação.
O exeqüente deverá ainda comunicar ao juízo as averbações efetivadas, no prazo de 10 dias
e, uma vez formalizada a penhora sobre bens suficientes para solver o débito, será determinado o
cancelamento das averbações sobre àqueles bens que não tenham sido penhorados.
Se o exeqüente promover averbação manifestamente indevida, terá de indenizar a parte
contrária pelos prejuízos suportados, nos termos do §2º do art. 18 do CPC. Não haverá necessidade
de ajuizamento de ação de reparação de danos, bastando o mero incidente, que será processado em
autos apartados (art. 615-A, §4º).

► Art. 594 – Bens sujeitos ao direito de retenção

“Art. 594. O credor, que estiver, por direito de retenção, na posse de coisa pertencente ao
devedor, não poderá promover a execução sobre outros bens senão depois de excutida a coisa que
se achar em seu poder”. Há casos, no direito substancial, em que o credor retém legalmente bens do
devedor para garantir a satisfação da obrigação, como ocorre, por exemplo, com o credor
pignoratício, com o depositário, com o locatário, etc. Nessas circunstâncias, o devedor, que já está
privado da posse de determinados bens, poderá suscitar o benefício de excussão, de modo que se
tenha de executar, primeiro, a coisa que o credor retém ou possui. Só depois de excutidos os bens
retidos e havendo saldo remanescente do débito, é que será lícito ao credor penhorar outros bens do
devedor. Assim, não é permitido ao credor somar duas garantias, a da retenção e a da penhora sobre
outro bem do devedor. Se já exerce o direito de retenção, é sobre os bens retidos que deverá incidir
a penhora, sob pena de praticar-se excesso de execução.

► Art. 595 – Bens do Fiador

“Art. 595. O fiador, quando executado, poderá nomear à penhora bens livres e
desembargados do devedor. Os bens do fiador ficarão, porém, sujeitos à execução, se os do devedor
forem insuficientes à satisfação do direito do credor. Parágrafo único. O fiador, que pagar a dívida,
poderá executar o afiançado nos autos do mesmo processo”. Nas obrigações garantidas por fiança
ocorre a dissociação entre dívida e responsabilidade: quem deve é o obrigado principal, mas
responde tanto ele como o fiador pelo não adimplemento da obrigação. No entanto, é garantido ao
fiador o benefício de ordem, podendo nomear à penhora bens livres e desembargados do devedor,
que deverão ser excutidos primeiro. A nomeação deverá ser feita no prazo de três dias da citação
(art. 652, caput). O benefício de ordem é renunciável expressa e tacitamente. Haverá renúncia
expressa quando constar do próprio contrato de fiança e tácita quando, iniciada a execução o fiador
não invocar a exceção no prazo que antecede a penhora. Por fim, como deixa claro o parágrafo
único do artigo, ao fiador compelido a saldar a dívida, é facultado executar, regressivamente, o
23
devedor nos próprios autos em que se efetuou o pagamento. Ocorre uma sub-rogação de pleno
direito do fiador nos direitos do credor.

► Art. 597 – Bens do Espólio

“Art. 597. O espólio responde pelas dívidas do falecido; mas, feita a partilha, cada herdeiro
responde por elas na proporção da parte que na herança lhe coube”. Ocorrendo o falecimento do
devedor originário, o seu espólio continua respondendo pelas dívidas. O que deve ser observado é
que as dívidas da herança executam-se nos bens da herança, e não podem alcançar outros bens dos
herdeiros (art. 1.821, CC). Feita a partilha entre os herdeiros e sucessores, cada um responde pelas
obrigações do de cujos, mas apenas na proporção da parte que na herança lhe coube.

→ BENS DO DEVEDOR QUE NÃO SE SUBMETEM À RESPONSABILIDADE

PATRIMONIAL

Por razões de ordem política, social e humanitária, a lei exclui da responsabilidade

patrimonial alguns bens específicos do executado. Trata-se dos bens absolutamente e

relativamente impenhoráveis. A primeira é, em linhas gerais, disciplinada pelo art. 649 do

CPC, enquanto a impenhorabilidade relativa vem tratada logo a seguir, no art. 650.

• Bens Absolutamente Impenhoráveis

O rol do art. 649 do CPC apresenta amplo elenco de bens que não se sujeitam à execução,
porque impenhoráveis. Essa exclusão absoluta da execução é que dá a idéia de impenhorabilidade
absoluta. Ainda que não haja outros bens do devedor passíveis de serem arrecadados pela execução,
os bens apontados na regra estão a salvo da responsabilidade patrimonial do devedor. Vejamos cada
um dos incisos:

I – os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução;

Os bens públicos são sempre impenhoráveis, dada a sua intrínseca inalienabilidade (art. 100
do CC). Não há penhora na execução contra a fazenda pública, que segue rito próprio (ver art. 730,
CPC). Os bens particulares podem se tornar inalienáveis, em atos de vontade unilaterais ou
bilaterais, como nas doações, testamentos, instituição do bem de família, etc.
A lei nº 8.009/90 instituiu também a impenhorabilidade do imóvel residencial do casal ou da
entidade familiar, por qualquer dívida, salvo as exceções de seus artigos 3º e 4º. Para efeitos dessa
impenhorabilidade, a Lei 8.009 considera “residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela
entidade familiar para moradia permanente” (art. 5º). Havendo pluralidade de imóveis utilizados
para aquele fim, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor.
A lei 11.382/2006, enquanto projeto, contemplava limitações em relação à
impenhorabilidade absoluta, admitindo a penhora de imóvel, ainda que considerado bem de família,
desde que de grande valor (superior a mil salários mínimos) e também de parcela de salário de alta
monta (quarenta por cento do total recebido mensalmente, desde que superior a vinte salários

24
mínimos). Todavia, estes dispositivos, contidos nos arts. 649, §3º e art.650, parágrafo único, foram
vetados pelo Presidente da República. As razões do veto estão em documento anexo.

II – os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado,


salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um
médio padrão de vida;

III – os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado
valor;

IV – os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria,


pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas
ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de
profissional liberal, observado o disposto no §3º deste artigo;

A impenhorabilidade abordada neste inciso decorre do reconhecimento de que a


remuneração do trabalho pessoal, de maneira geral, destina-se ao sustento do indivíduo e de sua
família, tratando-se, pois, de verba de natureza alimentar. Em relação a todas as verbas deste inciso,
há uma ressalva legal que abre possibilidade para a penhora, qual seja: se o débito em execução
consistir em prestação de alimentos, torna-se cabível a penhora sobre salários, remunerações e
outras verbas equivalentes auferidas por aquele que responda pela pensão alimentícia (§2º, art. 649).
Constava, ainda, do §3º, em texto aprovado pelo Congresso, a previsão de um limite para a
impenhorabilidade das verbas alimentares, de sorte que acima do valor correspondente a 20 salários
mínimos, 40% da remuneração tornar-se-iam penhoráveis. Essa limitação, todavia, não se converteu
em lei, uma vez que foi atingida por veto do Presidente da República (mensagem de veto anexa).
*Montepio = associação em que cada membro, mediante uma quota mensal, adquire o direito de
deixar, por sua morte, um subsídio à família, ou de ser subsidiado, em caso de invalidez;

V – os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens


móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão;

VI – o seguro de vida;

O seguro de vida tem a função de gerar em favor do beneficiário um fundo de caráter


alimentar, razão pela qual sua impenhorabilidade.

VII – os materiais necessários para obras em andamento, salvo se estas forem penhoradas;

Os materiais são, por antecipação, parte integrante da obra. Como tal só podem ser
penhorados se a obra toda também for.

VIII – a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família;

Compete à legislação agrária definir o que se entende por pequena propriedade rural.

IX – os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em


educação, saúde ou assistência social;

X – até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de


poupança.

É preservada da penhora a quantia mantida em depósito de caderneta de poupança,


atribuindo-lhe uma função de segurança alimentícia ou de previdência pessoal e familiar. A
25
impenhorabilidade, porém, não é total, uma vez que sendo o saldo superior a 40 salários mínimos, a
penhora poderá alcançar o valor excedente. No entanto, serão sempre preservados na execução os
quarenta salários mínimos.

§ 1º. A impenhorabilidade não é oponível à cobrança do crédito concedido para a aquisição do


próprio bem.

Seria injusto que o credor que propiciou ao atual titular do bem sua própria aquisição não
tivesse como haver o respectivo preço. Dar-se-ia um intolerável locupletamento por parte do
adquirente. De duas formas pode surgir o crédito: I - o alienante concede ao adquirente prazo para
pagar o preço do bem que lhe é desde logo transferido, ou; II - o adquirente obtém financiamento
com terceiro para custear o preço da coisa adquirida. Nos dois casos, configurar-se-á o crédito
capaz de elidir a impenhorabilidade legal.

§ 2º. O disposto no inciso IV do caput deste artigo não se aplica no caso de penhora para
pagamento de prestação alimentícia.

Não subsiste a impenhorabilidade diante de execução para pagamento de prestação


alimentícia.

• Bens Relativamente Impenhoráveis

“Art. 650. Podem ser penhorados, à falta de outros bens, os frutos e rendimentos dos bens
inalienáveis, salvo se destinados à satisfação de prestação alimentícia”.
Os frutos e rendimentos dos bens inalienáveis seguem, em princípio, o destino destes e são
impenhoráveis. Os credores comuns do titular do bem inalienável, por isso, não podem penhorar
seus frutos e rendimentos. A imunidade, contudo, não é total. Prevalece enquanto seja possível
recair a penhora sobre outros bens livres do executado. Não existindo bens livres do executado,
cessará a impenhorabilidade, e os frutos e rendimentos terão de submeter-se à penhora. Por isso
falar-se, na espécie, de impenhorabilidade relativa.
A situação é outra quando o crédito exeqüendo for decorrente de prestação alimentícia. Neste
caso, a penhorabilidade deixa de ser relativa e torna-se plena. O credor pode, desde logo, fazer a
penhora recair sobre os frutos e rendimentos do bem inalienável, sem ter de demonstrar a
inexistência de outros bens livres que possam assegurar a execução.
Da mesma forma ocorre com os salários e vencimentos disciplinados no art. 649, IV. Estes são,
de regra, impenhoráveis. Porém, se a execução for relativa a débito alimentar, a impenhorabilidade
deixa de existir (art. 649, §2º). É exatamente o que se passa com os frutos e rendimentos da coisa
inalienável: não são livremente penhoráveis pelos credores em geral, mas se o credor é de prestação
alimentícia, pode fazer com que a penhora incida sobre eles.

5ª Aula

LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA

É requisito indispensável à execução, ser ela fundada em título executivo certo, líquido e
exigível. Ocorre que, muitas vezes, a sentença proferida na ação conhecimento torna certa a
obrigação, mas não lhe fixa o quantum debeatur, impedindo que se inicie a execução forçada, por
faltar-lhe um de seus requisitos.
Título líquido é aquele que indica a quantidade de bens ou valores que constituem a
obrigação. Será líquido quando indicar a quantidade, seja expressamente, seja permitindo apurá-la
por simples cálculo aritmético.

26
O título executivo extrajudicial deverá sempre ser líquido13. Não há que se falar em
liquidação de título executivo extrajudicial. Caso este não seja líquido, não terá o credor a sua
disposição título hábil a ensejar uma execução forçada e terá que recorrer às vias ordinárias para
buscar o adimplemento da obrigação.
Essa regra não se aplica ao título executivo judicial, razão pela qual prevê o Código de
Processo Civil, nos arts. 475-A a 475-H a previsão e o procedimento da liquidação de sentença.
“Ilíquida é a sentença que não fixa o valor da condenação ou não lhe individua o objeto” (Humberto
Theodoro Júnior). Dispõe o art. 475-A: “Quando a sentença não determinar o valor devido,
procede-se à sua liquidação”.

► Natureza jurídica

Por ocasião da entrada em vigor do Código de Processo Civil (em 1.973), muito se discutiu
se a liquidação deveria ser considerada como uma fase do processo de conhecimento, que a
precede, ou do processo de execução, que a sucede. Entendeu-se que considerá-la como uma coisa
ou outra não se mostrava satisfatório, para explicar-lhe a natureza. Em sua redação originária, o
Código a considerou um processo autônomo que não se confundia com o de conhecimento anterior,
nem com o de execução posterior. Com a entrada em vigor da Lei 11.232/2005, que introduziu
entre nós o processo sincrético, modificou-se essa sistemática, passando a considerar a liquidação
de sentença mais uma fase de um processo único, que só se finda com a plena satisfação do credor,
ou seja, com o término da execução14.
Com isso, deixou de existir um processo autônomo de liquidação de sentença, com a citação
inicial do devedor, como antigamente. Agora a liquidação é apenas mais uma fase do processo e a
parte contrária deverá apenas ser intimada do requerimento de liquidação na pessoa de seu
advogado, conforme expressamente prevê o art. 475-A, § 1º. Devemos, no entanto, atentar para o
que dispõe o art. 475-N, parágrafo único, do CPC: tratando-se de sentença penal, arbitral ou
estrangeira, será necessária a citação inicial do devedor, uma vez que tais sentenças não foram
precedidas de uma fase cognitiva no juízo civil.
A liquidação de sentença tem natureza cognitiva. Não se trata de execução, porque não se
presta à tomada de medidas concretas de alteração da realidade fática, buscando a satisfação do
credor. Tampouco pode ser incluída entre as cautelares, já que não visa preservar o provimento
jurisdicional dos riscos decorrentes do transcurso do tempo. A sua função é solucionar uma
incerteza em relação ao quantum, uma dúvida sobre o montante do débito (Marcus Gonçalves).
Quanto à decisão proferida no processo de liquidação, em decorrência das alterações
introduzidas pela Lei 11.232/2005, não há mais uma nova sentença de mérito; os atos de liquidação
passaram à condição de simples incidente complementar da sentença condenatória genérica. A
definição do quantum debeatur transmudou-se em simples decisão interlocutória de caráter
complementar e com função integrativa, atacável via agravo de instrumento (art. 475-H). Isto não
quer dizer que o julgamento não decida sobre o mérito da causa. Embora sob a forma de decisão
interlocutória, o tema enfrentado integra questão genuinamente de mérito, por versar sobre um dos
elementos da lide. Não deixará, portanto, de produzir a coisa julgada material (Humberto Theodoro
Júnior)15.

►Liquidação provisória

A lei 11.232/2005 introduziu a possibilidade de promover a liquidação, enquanto pendente


recurso: “Art. 475-A, §2º: A liquidação poderá ser requerida na pendência de recurso, processando-

13
Ressalte-se haver doutrinadores que entendem ser possível a liquidação para títulos extrajudiciais. Ver Cássio
Scarpinella Bueno.
14
Marcus Vinicius Rios Gonçalves - referência bibliográfica no plano de ensino
15
Mais uma vez registre-se haver doutrinadores que entendem que a decisão que julga a liquidação é uma sentença e
não uma decisão interlocutória.
27
se em autos apartados, no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cópias
das peças processuais pertinentes”.
A novidade consiste na possibilidade de liquidação da sentença, ainda que o recurso
pendente tenha sido recebido com duplo efeito, devolutivo e suspensivo. Nessa circunstância,
jamais será possível a execução provisória, mas já se autoriza a liquidação provisória. Se o recuso
for provido, ficará sem efeito a liquidação.

►Liquidez parcial da sentença

Há hipótese que a sentença proferida condena o vencido a uma parte líquida e outra ilíquida.
Nestes casos, o credor pode, desde logo, executar a parte líquida da sentença e, paralelamente,
promover a liquidação da parte ilíquida (art. 475-I, §2º). São dois procedimentos distintos e de
objetos diversos, por isso, deverão correr em autos apartados: a execução nos autos principais e a
liquidação em autos apartados, formados com cópias das peças processuais pertinentes.
Observe-se, porém, que o ajuizamento simultâneo é uma faculdade apenas do credor que,
por isso, poderá preferir liquidar primeiro a parte ilíquida e depois ajuizar a execução de uma só
vez, sobre toda a condenação.

►Limites da liquidação

Dispõe o art. 475-G, do CPC, que “é defeso, na liquidação, discutir de novo a lide ou
modificar a sentença que a julgou”. Isto decorre do fato de ser a liquidação um simples
complemento da sentença de condenação. O procedimento da liquidação não pode ser utilizado
como meio de ataque à sentença liquidanda, que há de permanecer intacta.

►Vedação de sentença ilíquida

O art. 475-A, §3º, do CPC proíbe sentença ilíquida nos processos de procedimento sumário
em que se postule a reparação de danos por acidente de veículo terrestre e cobrança de seguro
relativamente aos danos causados (art. 275, II, d e e, do CPC). Nestas hipóteses a apuração do valor
devido não pode ser remetida para a fase de liquidação; se houver necessidade de avaliação de bem
ou serviço, ou de prova de fato novo, referente ao quantum, o juiz deve determiná-lo na fase de
conhecimento. Se não houver elementos suficientes para a apuração do quanto devido, o juiz deve
fixá-lo de plano, a seu prudente critério. No entanto, a decisão deve ser fundamentada e o juiz deve
esclarecer como chegou ao valor que está sendo fixado.

►Espécies de liquidação

O procedimento de liquidação da sentença variará conforme a natureza das operações


necessárias para fixação do valor devido. Para tanto, prevê o Código duas modalidades distintas de
liquidação: a liquidação por arbitramento (art. 475-C) e a liquidação por artigos (art. 475-E). Dispõe
ainda a apuração do quantum por meio de cálculo, feito pelo próprio credor (art. 475-B). Na nova
sistemática de cumprimento da sentença, a liquidação não se dá mais por meio de nova relação
processual, resumindo-se a simples incidente do processo em que houve a condenação. Assim, não
é mais necessária a citação do devedor, que será simplesmente intimado através de seu advogado
para acompanhar os atos da liquidação (art. 475-A, §1º).

►Liquidação por cálculo

O art. 604, em sua redação original, previa a liquidação da sentença por cálculo do contador
para as hipóteses que a apuração do quanto devido se fazia por meio de operações aritméticas de
dados já conhecidos no processo, como juros e título cotados em bolsa. Com o advento da Lei

28
8.898/94, restou abolida a judicialidade da liquidação por simples cálculo, uma vez que mesmo
nessa singela operação se exigia o contraditório e o julgamento final por sentença.
A lei 11.232/2005 conservou o critério adotado pela lei de 1994. Desta forma, em razão do
disposto no art. 475-B, o credor elaborará o demonstrativo do montante da dívida na data da
instauração da execução, juntando a memória discriminada e atualizada do cálculo ao requerer o
cumprimento da sentença. Registre-se que esse artigo aplica-se exclusivamente quando a apuração
do quantum debeatur depender unicamente de cálculos aritméticos, caso contrário deveremos
recorrer a uma das modalidades de liquidação.
Caso o devedor não concorde com o cálculo apresentado pelo credor, deverá impugná-lo
com fundamento em excesso de execução (art. 475-L, V).
Prevê o CPC, no art. 475-B, §§ 1º e 2º, o procedimento quando a elaboração do cálculo
depender de dados existentes em poder do devedor ou de terceiros. É muito comum, principalmente
em litígios com a Administração Pública e Instituições Financeiras, que o cálculo do crédito a
executar, embora apurável por simples operações aritméticas, dependa de dados e datas que se
acham nos registros do devedor ou de outra fonte oficial.
Uma vez indispensáveis esses dados, o juiz, a requerimento do credor, poderá requisitá-los
do devedor ou do terceiro, fixando prazo de até trinta dias para a entrega. Se os dados não forem,
injustificadamente, apresentados pelo devedor, reputar-se-ão verdadeiros os cálculos apresentados
pelo credor (art. 475-B, §2º).
Caso seja o terceiro que não apresente os dados, injustificadamente, a sanção será a
desobediência à ordem judicial, podendo redundar em medidas criminais e coercitivas como a busca
e apreensão, exibição, vistoria, etc, tudo em conformidade com o disposto no art. 362, do CPC.
Por fim, o parágrafo 3º do art. 475-B, prevê ainda a possibilidade de o juiz valer-se do
contador judicial quando a memória apresentada pelo credor aparentemente exceder os limites da
decisão exeqüenda, bem como quando se tratar de assistência judiciária. Nas duas hipóteses, após o
cálculo do contador, será ouvido o credor, que poderá acatá-lo ou não.
Caso o credor não concorde com os cálculos apresentados pelo contador do juízo, a
execução seguirá pelo valor originariamente pretendido, mas a penhora terá por base o valor
encontrado pelo contador (art. 475-B, §4º). Disso decorrerá o risco de uma garantia insuficiente do
juízo, caso o julgamento da impugnação prevista no art. 475-L, inc. V, resulte em decisão favorável
ao cálculo do credor. A conseqüência será o reforço da penhora. Na fase reservada para a
impugnação é que será proferida, após competente contraditório e adequada instrução, a decisão
sobre a ocorrência ou não de excesso nos cálculos apresentados pelo credor. Esse julgamento,
qualquer que seja a solução encontrada, configurará decisão interlocutória, recorrível por meio de
agravo de instrumento.

►Liquidação por arbitramento

“Art. 475-C. Far-se-á a liquidação por arbitramento quando:


I – determinado pela sentença;
II – convencionado pelas partes;
III – o exigir a natureza do objeto da liquidação.
Esta modalidade de liquidação será utilizada quando não existem fatos novos a serem
apurados, mas o valor do débito não depende somente de cálculos aritméticos, sendo necessários
também conhecimentos técnicos para estimar-se o montante da condenação. Quando existirem nos
autos todos os elementos necessários para os peritos declararem o valor do débito, o caso é de
arbitramento.
São exemplos de arbitramento: estimativa de desvalorização de veículos acidentados, lucros
cessantes por inatividade de pessoa ou serviço, perda parcial da capacidade laborativa, pagamento
de aluguel do imóvel pelo tempo de ocupação indevida, etc.
O procedimento da liquidação por arbitramento segue as normas gerais da prova pericial.

29
Intimado o devedor, na pessoa de seu advogado, do requerimento de liquidação, o juiz
nomeará perito, fixando o prazo para entrega do laudo. As partes poderão, em cinco dias, indicar
assistentes técnicos e formular quesitos (art. 421, CPC), caso queiram.
Apresentado o laudo pelo perito, as partes terão 10 dias para manifestarem-se sobre o
mesmo. Diante do pronunciamento dos interessados, o juiz poderá agir de duas maneiras: 1º.
Proferir decisão, declarando o valor da condenação; 2º. Designar audiência de instrução e
julgamento (art. 475-D, parágrafo único).
Caso o juiz designe audiência de instrução e julgamento, esta se destina somente a ouvir
esclarecimentos do perito e dos assistentes técnicos.

►Liquidação por artigos

“Art. 475-E. Far-se-á liquidação por artigos, quando, para determinar o valor da condenação,
houver necessidade de alegar e provar fato novo”.
O procedimento da liquidação por artigos é o comum, sumário ou ordinário, conforme o
valor atribuído a causa. Se não houve prévio processo de conhecimento, como no caso da
liquidação de sentença penal condenatória, o procedimento adotado será ordinário ou sumário, de
acordo com as regras do art. 275 do CPC.
O credor, em petição articulada, indicará os fatos a serem provados, um em cada artigo, para
servir de base à liquidação. Deverão ser arrolados apenas os fatos que tenham influência na fixação
do valor da condenação ou na individuação do seu objeto. O juiz, na decisão, deverá ater-se aos
fatos articulados na inicial, que constituem a própria causa de pedir da liquidação. Se não fizer, sua
decisão será extra ou ultra petita, pois a parte contrária defende-se apenas dos fatos alegados.
O doutrinador Humberto Theodoro Júnior traz como exemplo de liquidação por artigos o
seguinte: “um sitiante foi condenado a indenizar seu vizinho pelo prejuízo decorrente da invasão da
lavoura por animais com destruição de toda a colheita esperada. Na ação de conhecimento, como
não podia deixar de ser, ficaram provadas a invasão e a destruição da lavoura. Na liquidação, o
prejudicado articulará os seguintes fatos a serem provados para a apuração do valor da indenização:
a) extensão da área destruída;
b) produtividade da lavoura;
c) volume da produção prevista;
d) qualidade do produto esperado;
e) sua cotação no mercado;
f) valor final líquido da produção não obtida (prejuízo a ser indenizado, que será igual à
diferença entre o valor da produção e o custo da lavoura).
Apresentado o requerimento da liquidação, será intimada a parte contrária para acompanhar o
procedimento por artigos, que se desenvolverá observando-se as regras do procedimento comum,
regulado no Livro I do Código.
Geralmente as sentenças penais condenatórias, enquanto títulos executivos judiciais,
exigirão prévia liquidação por artigos, uma vez que não se discute no processo criminal o valor do
dano da vítima.

6ª Aula

EXECUÇÃO PROVISÓRIA E DEFINITIVA

30
O Código de Processo Civil admite que a execução possa ser definitiva ou provisória.
“Execução definitiva é aquela em que o credor tem sua situação reconhecida de modo imutável,
decorrente da própria natureza do título em que se funda a execução. Baseia-se ou em título
extrajudicial ou em sentença transitada em julgado. É a regra geral da execução forçada”16
Estabelece o art. 475-I, §1º: “É definitiva a execução da sentença transitada em julgado e
provisória quando se tratar de sentença impugnada mediante recurso ao qual não foi atribuído efeito
suspensivo”. Esta é a regra quando o título a ser executado é judicial.
Sabe-se que o recurso possui dois efeitos, o suspensivo e o devolutivo. Quando o recurso for
recebido apenas no efeito devolutivo é que caberá a execução provisória da sentença. Provisória
uma vez que a sentença poderá ser reformada pelo Tribunal ad quem.
No entanto, tratando-se de título executivo extrajudicial, a regra vem estabelecida no art.
587: “É definitiva a execução fundada em título extrajudicial; é provisória enquanto pendente
apelação da sentença de improcedência dos embargos do executado, quando recebidos com efeito
suspensivo (art. 739)”. A execução fundada em título extrajudicial será definitiva, com a exceção
prevista na segunda parte do artigo.
Com a reforma introduzida pelas Leis 11.232/2005 e 11.382/2006, tratando-se de título
executivo extrajudicial, sujeito a processo autônomo de execução, o devedor será citado para pagar
em três dias (art.652) ou apresentar embargos no prazo de quinze dias (art.738). Não é mais
necessária a segurança do juízo (penhora) para a apreciação dos embargos pelo juiz. Em
contrapartida, os embargos uma vez interpostos pelo executado, não mais terão o condão de
suspender a execução (art. 739-A). Esta é a regra geral agora. No entanto, poderá o juiz conceder
efeito suspensivo aos embargos, no momento de seu recebimento, nas hipóteses específicas do art.
739-A, §1º. E é justamente nesta hipótese que poderá haver execução provisória. Vejamos: o
executado interpôs embargos que foi recebido no efeito suspensivo, o que gerou a suspensão da
execução até a análise dos mesmos. O juiz proferiu sentença julgando improcedentes os embargos
do executado. Houve apelação da sentença pelo embargante/executado. A partir do momento que
foi interposto o recurso de apelação, a execução prosseguirá seu curso, mas de forma provisória,
enquanto aguarda o julgamento do recurso pelo Tribunal superior. Quando os embargos são
recebidos sem a concessão do efeito suspensivo, haja ou não recurso, não há que se falar em
execução provisória.
Estabelecidas as diferenças entre execução definitiva e provisória, bem como fixadas as
hipóteses de cabimento da execução provisória, passaremos a analisar o procedimento a ser adotado
na mesma.

► Procedimento

O procedimento que, basicamente, orienta a execução provisória é o mesmo da definitiva.


No entanto, devem ser observadas algumas normas peculiares que estão dispostas no art. 475-O.
Vejamos: “Art. 475-O. A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do mesmo
modo que a definitiva, observadas as seguintes normas:

I – corre por iniciativa, conta e responsabilidade do exeqüente, que se obriga, se a sentença for
reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido; A execução provisória não pode
ser instaurada de ofício pelo juiz, depende sempre de requerimento da parte. Se a sentença vier a ser
reformada, estará o exeqüente obrigado a reparar os prejuízos que o executado tenha sofrido. A
forma mais completa de ressarcimento é a restituição dos bens e valores expropriados
executivamente, mais os prejuízos ocorridos pela privação deles durante o tempo em que prevaleceu
o efeito da execução provisória17.

II – fica sem efeito, sobrevindo acórdão que modifique ou anule a sentença objeto da
execução, restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidados eventuais prejuízos nos
16
Humberto Theodoro Júnior
17
Humberto Theodoro Júnior.
31
mesmos autos, por arbitramento; Essa é a característica essencial da provisoriedade, aplicando-
se, então, a responsabilidade ao exeqüente dos prejuízos que causou. Trata-se de responsabilidade
objetiva. Se a modificação ou anulação da sentença for somente em parte, somente nessa parte
ficará sem efeito a execução (art. 475-O, §1º).

III – o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem alienação de


propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao executado dependem de caução
suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos. A caução, que
pode ser real ou fidejussória, tem de ser idônea, isto é, há de representar para o devedor, o
afastamento do risco de prejuízo, na eventualidade de ser cassado ou reformado o título executivo
que sustenta a execução provisória. O juiz deve ser rigoroso na aferição da garantia, para evitar
situações de falsa caução. Uma vez prestada a caução, a transferência de domínio para terceiro, por
meio de arrematação, não será provisória. Perante o arrematante, a operação de aquisição da
propriedade será definitiva. Entre as partes, se houver a cassação ou reforma da sentença
exeqüenda, a solução será a indenização por perdas e danos. Não repercutirá, portanto, sobre o
direito adquirido pelo terceiro arrematante. Por isso a necessidade da caução ser efetivamente
suficiente e segura para indenizar possíveis perdas do executado.
O CPC estabelece ainda no parágrafo segundo do artigo em comento hipóteses em que a
caução poderá ser dispensada:

§2º. A caução a que se refere o inciso III do caput deste artigo poderá ser dispensada:
I – quando, nos casos de crédito de natureza alimentar ou decorrentes de ato ilícito, até
o limite de sessenta vezes o valor do salário-mínimo, o exeqüente demonstrar situação de
necessidade.
II – nos casos de execução provisória em que penda agravo de instrumento junto ao
Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça (art. 544), salvo quando da
dispensa possa manifestamente resultar risco de grave dano, de difícil ou incerta reparação.
A primeira hipótese trata-se de prestação de natureza alimentar ou decorrente de ato ilícito
que podem ser executadas provisoriamente com a dispensa da caução, quando o valor não
ultrapassar o limite de 60 vezes o salário mínimo e o exeqüente encontrar-se em estado de
necessidade. As duas exigências são cumulativas, de sorte que o exeqüente terá de submeter-se a
ambas para livrar-se do ônus da caução.
A segunda hipótese de dispensa da caução na execução provisória ocorre durante a
pendência de agravo de instrumento junto ao STF ou STJ, manifestado contra decisão que, na
instância local tenha inadmitido recurso extraordinário ou especial (art. 544). A dispensa, no
entanto, não prevalecerá caso o recorrente demonstre, perante o juiz da execução provisória que,
nas circunstâncias da causa, a dispensa da caução poderá resultar risco de grave dano, de difícil ou
incerta reparação.

§3º. Ao requerer a execução provisória, o exeqüente instruirá a petição com cópias

autenticadas das seguintes peças do processo, podendo o advogado valer-se do disposto na parte

final do art. 544, §1º:

I – da sentença ou acórdão exeqüendo;


II – certidão de interposição do recurso não dotado de efeito suspensivo;
III – procurações outorgadas pelas partes;
IV – decisão de habilitação, se for o caso;
V – facultativamente, outras peças processuais que o exeqüente considere necessárias.

32
A decisão de habilitação referida no inciso IV refere-se ao procedimento do art. 1.055 e
seguintes, quando, por falecimento de qualquer das partes, os interessados houverem de suceder-lhe
no processo.
A execução provisória correrá apartada dos autos principais, reclamando a formação de
autos próprios, o que se fará utilizando cópias extraídas dos autos principais, por iniciativa do
exeqüente. Não há necessidade de uma carta de sentença da autoridade judiciária, bastará a extração
das cópias autenticadas pela secretaria do juízo, ou mediante declaração de autenticidade pelo
próprio advogado.
Finalmente, quando a execução provisória for embasada em título executivo extrajudicial, na
hipótese prevista no art. 587, segunda parte, observar-se-ão os ditames do art. 475-O, já analisados.

► Aplicabilidade da multa prevista no art. 475-J nas Execuções Provisórias

Dispõe o art. 475-J: “Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada
em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de
multa no percentual de dez por cento...”.
Diverge a doutrina acerca da aplicabilidade da multa de 10% quando a execução for
provisória. Para Humberto Theodoro Júnior: “não tem pertinência a imposição de tal pena a quem
ainda não se acha sujeito ao cumprimento definitivo da condenação. Em se tratando de execução
manejável a conta e risco do credor, em condições de precariedade, não se pode entrever falta ou
mora do devedor por não dar imediato cumprimento à sentença.”

7ª Aula

EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE

O patrimônio do devedor é a garantia genérica de seus credores (art. 591). Ao assumir uma
obrigação, o devedor contrai para si uma dívida e para seu patrimônio uma responsabilidade. A
dívida é normalmente satisfeita pelo cumprimento voluntário da obrigação pelo devedor. A
responsabilidade patrimonial atua no caso de inadimplemento, sujeitando os bens do devedor à
execução forçada, que se opera através do processo judicial. Quando a obrigação representada no
título executivo refere-se a uma importância em dinheiro, a sua realização coativa dá-se por meio de
execução por quantia certa.
Até a edição da Lei 11.232/2005 não havia distinção entre a execução por quantia certa
fundada em título judicial e a fundada em título extrajudicial. Ambas operavam-se por processo
autônomo, no qual o devedor era citado para pagar ou nomear bens à penhora, em 24 horas. O
procedimento era o mesmo e a única distinção residia na extensão do conteúdo dos embargos do
devedor, que na execução decorrente de título judicial era mais restrito.
Com a nova lei, diferenças acentuadas passaram a existir, em especial por que a execução
fundada em título judicial deixou de ser autônoma, de formar relação processual independente,
tornando-se apenas mais uma etapa de um processo maior, denominado “sincrético”.
Tratar-se-á, primeiramente, da execução fundada em título extrajudicial, porque a outra usa,
em boa parte, os mesmos mecanismos. As suas regras aplicam-se subsidiariamente, se omissas as
referentes à execução de título judicial.
A execução por quantia certa contra devedor solvente, fundada em título executivo
extrajudicial, constitui execução autônoma, com um processo independente, iniciado por petição
inicial, com a posterior citação do executado. Cabe sempre que o devedor se recusa a cumprir
voluntariamente a obrigação de pagar quantia determinada em dinheiro. A técnica executiva mais
utilizada no decorrer da execução forçada é a da sub-rogação, ou seja, o Estado substitui o particular
no cumprimento da obrigação, invadindo sua esfera patrimonial, tomando bens suficientes para
adimplir o débito, promovendo a expropriação forçada destes bens e efetuando o pagamento do
credor.

33
Após a provocação do credor (petição inicial) e a convocação do devedor (citação para
pagar), os atos que integram o procedimento em causa “consistem, especialmente, na apreensão de
bens do devedor (penhora), sua transformação em dinheiro mediante desapropriação (arrematação)
e entrega do produto ao exeqüente (pagamento)”. Essas providências correspondem às fases da
proposição (petição inicial e citação), da instrução (penhora e alienação) e da entrega do produto ao
credor (pagamento), segundo a clássica divisão do procedimento executivo recomendada por
Liebman.18

►Petição Inicial

Não há, no processo civil, execução ex officio, de modo que a prestação jurisdicional
executiva sempre terá que ser provocada pelo credor, mediante petição inicial que, com as devidas
adaptações, deverá observar os requisitos do art. 282. Além de indicar o juízo ao qual é dirigida,
deve apresentar as partes e sua qualificação. É fundamental que o exeqüente exponha a causa de
pedir e formule o pedido de que o devedor seja citado para efetuar o pagamento, sob pena de lhe
serem penhorados os bens necessários para a garantia do débito, para posterior excussão e
pagamento do credor. É necessário que a quantia indicada na petição seja líquida.
Além da citação, serão também requeridas as intimações do cônjuge ou do credor com
garantia real, nas hipóteses em que a lei assim determinar (art. 615, II).
O exeqüente deverá indicar o valor da causa, que corresponderá ao do débito atualizado,
acrescido dos encargos apontados na memória discriminada do cálculo que acompanha a inicial,
requisito indispensável, conforme o art. 614, II, do CPC. Quando houver pedidos cumulados, o
valor da causa consistirá na soma dos pedidos individuais.
Atualmente, compete ao credor a preferência para indicação dos bens a serem penhorados
(art. 652, §2º), sendo conveniente que ele já os indique na petição inicial. Esta deve vir
acompanhada de alguns documentos indispensáveis, elencados no art. 614. O primeiro é o título
executivo, sem o qual não há execução. Outro é a memória discriminada de cálculo, indispensável
para demonstrar que o título é líquido, pois o ilíquido não permite execução.
A memória discriminada e atualizada do cálculo pode constar no bojo da inicial ou em
documento a ela anexado. A memória tem que ser tal que permita ao juiz e ao devedor verificar o
valor originário, a data de vencimento, os acréscimos e as deduções.
Caso a obrigação esteja sujeita a termo ou condição, o art. 614, III, do CPC, determina que a
inicial venha instruída com a prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo.
O juiz examinará a petição inicial e, verificando que está incompleta ou desacompanhada
dos documentos indispensáveis, concederá prazo de dez dias para a regularização (art.616). Se o
prazo transcorrer in albis, a petição inicial será indeferida. Se estiver em termos, o juiz determinará
que o devedor seja citado para, no prazo de três dias, pagar, fixando, desde logo, os honorários
advocatícios que serão devidos para o pronto pagamento (art. 652-A). O mandado de citação
conterá ainda o prazo de quinze dias para o executado opor embargos, independente de penhora
(art. 738). O prazo para embargos (quinze dias) e o prazo para pagamento (três dias) correm
paralelamente.

►Da citação

O executado será citado para, no prazo de três dias, efetuar o pagamento da dívida (art. 652,
caput). A citação será feita pessoalmente, via oficial de justiça, que formalizado o ato, certificará na
primeira via do mandado, juntando-a aos autos. A citação no processo de execução não poderá ser
feita pelo correio, em decorrência da vedação do art. 222, “d”, do CPC.
Há necessidade de que o mandado de citação seja expedido em duas vias: realizada a
citação, uma delas será juntada de imediato aos autos para que possa fluir o prazo dos embargos. A
outra permanecerá em mãos do oficial para que, caso não haja o pagamento, transcorridos os três
dias, realize a penhora de bens do devedor.
18
Theodor Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. v. II. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 286.
34
A citação é fundamental para a contagem de dois prazos distintos, o de oposição de
embargos e o de pagamento. O primeiro corre da juntada do mandado devidamente cumprido aos
autos e, o segundo, corre da efetivação da própria citação.
Transcorrido in albis o prazo de três dias, o oficial, munido da segunda via do mandado,
“procederá de imediato à penhora de bens e sua avaliação, lavrando-se o respectivo auto e de tais
atos intimando, na mesma oportunidade, o executado” (art. 652, §1º). Se o credor exerceu a
faculdade de indicar os bens a serem penhorados (art. 652, §2º), o oficial de justiça fará com que a
constrição recaia sobre ditos bens. Não havendo indicação, penhorará os bens que encontrar, em
volume suficiente para garantir a satisfação do crédito e acessórios. Cumpre destacar que deverá ser
observada, na medida do possível, a ordem preferencial, disposta no art. 655.
Ocorrendo dificuldade na localização de bens penhoráveis, o juiz, de ofício ou a
requerimento do exeqüente, poderá determinar que o executado seja intimado a indicar bens
passíveis de constrição (art. 652, §3º), sendo que a não indicação por parte do executado, sem
justificativa, implica em atentado a dignidade da justiça, sujeito à pena do art. 601, do CPC.
No entanto, se no prazo de três dias, o executado efetuar o pagamento integral do débito, que
inclui o principal, correção monetária e demais encargos, incluindo juros de mora e eventuais
multas que constem do título executivo, o valor dos honorários advocatícios fixados pelo juiz no
despacho inicial será reduzido à metade (art. 652-A, parágrafo único). Trata-se de medida que visa
estimular o devedor a proceder ao pagamento espontâneo. Verificando o juiz que houve o
pagamento integral do débito e da verba de sucumbência, extinguirá a execução.

►Dos Efeitos da Citação

“Art. 617. A proposição da execução, deferida pelo juiz, interrompe a prescrição, mas a
citação do devedor deve ser feita com observância do disposto no art. 219”.
Não há diferença em relação ao processo de conhecimento. É a citação que promove a
interrupção da prescrição, mas desde que feita no prazo e na forma estabelecidos em lei, a eficácia
interruptiva retroage à data da propositura da demanda.

►Arresto

Caso o oficial de justiça, munido do mandado de citação não encontra o devedor para fazer-
lhe a citação, arrestar-lhe-á tantos bens quantos bastem para garantir a execução (art. 653, caput). O
arresto tratado neste artigo não se confunde com a medida cautelar de igual nome. O primeiro
ocorre como mero incidente da execução, quando o oficial de justiça, diligenciando para citar o
executado, não o encontra, mas localiza bens. Para que eles não desapareçam, o oficial os arresta e
entrega a um depositário, que se incumbe da guarda e conservação. Já a cautelar de arresto é ação
autônoma, que depende de periculum in mora e fumus boni juris. Pressupõe uma dívida e tem por
finalidade preservar o patrimônio do devedor, em garantia do credor, que teme que aquele se torne
insolvente.
A medida do art. 653 é posterior às diligências da citação. Havendo justo receio, no entanto,
com base no art. 615, III, é lícito ao credor pedir o arresto, logo na petição inicial, para que a
apreensão de bens do devedor se realize antes mesmo da diligência citatória. Feito o arresto, o
oficial de justiça prosseguirá, citando o executado.
No arresto previsto no art. 653, efetivado o mesmo, o oficial de justiça diligenciará por três
vezes, nos dez dias seguintes, em dias distintos (art. 653, parágrafo único). Não sendo encontrado o
executado nessas circunstâncias, será efetuada a citação ficta do mesmo. Compete ao credor
requerer a citação por edital do executado, nos dez dias seguintes a intimação do arresto (art. 654),
sob pena do arresto perder eficácia.
Se, no curso do prazo do edital, ou nos três dias que lhe seguem, o devedor comparecer e
pagar o débito, o arresto fica sem efeito. Caso transcorra o prazo sem o comparecimento do
devedor, o arresto converte-se em penhora, prosseguindo-se a execução.
35
Ao executado citado por edital, que não comparecer aos autos no prazo fixado, será
nomeado curador especial, com legitimidade para apresentação de embargos, é o que dispõe a
Súmula 196 do STJ, bem como o art. 9º, II, do CPC. Ao devedor revel citado por hora certa também
se dará curador especial. No entanto, segundo Marcus Vinicius Rios Gonçalves19, “é descabida a
oposição de embargos por negativa geral; no processo de execução não está entre os efeitos dos
embargos afastar os efeitos da revelia. O curador especial só deve apresentá-los se efetivamente
tiver elementos ou defesas. Do contrário, deve esclarecer que os deixa de opor por falta de
elementos específicos, mas que acompanhará a execução, para verificar se os direitos do devedor
estão sendo respeitados”. O curador, no decorrer do processo de execução poderá, entre outras
coisas, opor embargos, impugnar avaliações e fiscalizar as hastas públicas.

►Parcelamento do débito

O art. 745-A, introduzido pela Lei n. 11.382/2006, institui uma espécie de moratória legal,
como incidente da execução do título extrajudicial por quantia certa, por meio do qual se pode obter
o parcelamento da dívida, mediante a concorrência de alguns requisitos. A medida tem o propósito
de facilitar a satisfação do crédito ajuizado, com vantagens tanto para o executado como para o
exeqüente (Theodoro Jr., p. 466).
Assim, disciplina o citado artigo que: “no prazo para embargos, reconhecendo o crédito do
exeqüente e comprovando o depósito de 30% (trinta por cento) do valor em execução, inclusive
custas e honorários de advogado, poderá o executado requerer seja admitido a pagar o restante em
até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e juros de 1% (um por cento) ao
mês”.
Para o doutrinador Theodoro Jr., o deferimento do parcelamento do débito reclama a
observância dos seguintes requisitos:
a) sujeição ao prazo fixado para embargos, ou seja 15 dias, sob pena de preclusão desta
faculdade processual; ultrapassado este prazo, qualquer parcelamento dependerá de
aquiescência do credor;
b) requerimento do executado, pois o parcelamento é uma faculdade do executado, não
podendo ser deliberado de ofício pelo juiz.
c) reconhecimento do crédito do exeqüente, com a conseqüente renúncia do direito aos
embargos à execução;
d) depósito em juízo de 30% do valor em execução, inclusive custas e honorários
advocatícios;
e) pagamento do saldo remanescente em parcelas mensais, até o máximo de seis, as quais
serão acrescentadas de correção monetária e juros de 1% ao mês, contados a partir do
levantamento que servir de base para o cálculo das prestações. A lei não impõe um
número fixo de prestações, cabendo ao requerente estipular o número de parcelas,
respeitando o máximo de seis.
O parcelamento deve ser requerido em petição simples, no bojo dos autos da execução.
Estando satisfeitas as exigências do caput do art. 745-A, o juiz proferirá decisão deferindo o
parcelamento. Tanto do deferimento, quanto do indeferimento do pedido de parcelamento, é cabível
agravo de instrumento, por se tratar de decisão interlocutória.
Uma vez deferido o parcelamento, o exeqüente poderá desde já levantar a quantia
depositada (os 30% do débito) e os atos executivos serão suspensos (art. 745-A, §1º, primeira
parte). Não há necessidade de prévia segurança do juízo (penhora) para o deferimento do
parcelamento.
No entanto, se o pedido de parcelamento for indeferido, os atos executivos prosseguirão
normalmente e o depósito será mantido (art. 745-A, §1º, in fine), podendo ser levantado pelo credor,
na fase oportuna, para amortizar o débito do executado.
Por fim, o parágrafo segundo deste mesmo artigo, disciplina o procedimento a ser adotado
no caso de descumprimento do parcelamento pelo executado. Assim, em não havendo o pagamento
19
Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil. v. 3. São Paulo: Saraiva, 2008.
36
de qualquer uma das prestações pelo executado, implicará, de pleno direito, o vencimento
antecipado das prestações subseqüentes e o prosseguimento do processo, com o imediato início dos
atos executivos. Ademais, será imposta ao executado multa de 10% (dez por cento) sobre o valor
das prestações não pagas e vedada a oposição de embargos. Esta vedação atinge os embargos de
mérito, uma vez que o executado reconheceu o crédito do exeqüente, mas não atinge os embargos à
arrematação ou adjudicação, haja vista que estes terão como objeto a nulidade da execução ou
causas extintivas da obrigação, desde que supervenientes à penhora e, portanto, posteriores ao
incidente frustrado do parcelamento.

8ª Aula

DA PENHORA

A penhora é o primeiro ato executivo da execução por quantia certa contra devedor solvente,
tendente a realizar a transferência forçada dos bens do devedor. Com esse ato inicial de
expropriação, a responsabilidade patrimonial, que era genérica, até então, sofre um processo de
individualização, mediante apreensão física, direta ou indireta, de uma parte determinada e
específica do patrimônio do devedor.
Como bem diz o art. 646 “a execução por quantia certa tem por objeto expropriar bens do
devedor, a fim de satisfazer o direito do credor (art. 591)”. A expropriação de bens consiste em,
uma vez efetivada a penhora sobre um bem individualizado do patrimônio do devedor, suficiente
para adimplir a obrigação, transformá-lo em espécie (dinheiro), com a qual se procederá ao
pagamento do credor. O art. 647 estabelece quatro formas de se proceder à expropriação de bens: I
– adjudicação; II – alienação por iniciativa particular; III – alienação em hasta pública; IV –
usufruto de bem móvel ou imóvel. Cada hipótese será devidamente analisada, no tempo oportuno.
Antes de tudo, a penhora importa individualização, apreensão e depósito de bens do
devedor, que ficam à disposição judicial, com o objetivo de subtraí-los à livre disponibilidade do
executado e sujeitá-los à expropriação. Para isso, o órgão judicial deverá buscar bens do patrimônio
do devedor, respeitando, porém, a faculdade que a lei confere ao próprio credor de indicar, já na
petição inicial, bens do devedor a serem penhorados (art. 652, §2º), devendo-se observar ainda a
ordem preferencial disposta no art. 655.
Tem sido decidido, com razão, que a ordem trazida pelo art. 655 não é absoluta. A gradação
legal há de ter em conta de um lado o objetivo de satisfação do crédito e, de outro, a forma menos
onerosa para devedor. A conciliação desses dois princípios é que deve nortear a interpretação da lei
processual.
A penhora é ato essencial ao processo de execução por quantia, sem a qual, não pode haver
expropriação de bens, ficando comprometido o resultado almejado pela execução. Daí por que, se o
credor não indicar bens, nem for possível localizá-los pelo oficial de justiça, o juiz pode, a qualquer
tempo, intimar o devedor, de ofício ou a requerimento do exeqüente, para que indique bens
passíveis de penhora (art. 652, §4º). O não cumprimento da determinação judicial, em cinco dias,
importa em ato atentatório da dignidade da justiça (art. 600, IV), sujeito à sanção prevista no art.
601.

►Efeitos da Penhora

Efetivada a penhora pela apreensão e depósito dos bens, bem como pela lavratura do termo
processual, surge para o devedor e para terceiros a indisponibilidade dos bens afetados pela
execução. O devedor já não pode mais realizar, livremente, a transferência de domínio ou posse de
ditos bens, sob pena de ineficácia perante o credor exeqüente, dos atos jurídicos que vier a praticar
em tal sentido.
Além disso, a penhora gera para o credor um direito de preferência em face dos demais
credores quirografários do devedor comum, consoante disciplina do art. 612 do CPC. No entanto,
dita preferência não é absoluta, uma vez que se o bem penhorado estiver gravado com garantia real,
37
a prioridade por ela assegurada supera a que decorre da penhora; é possível, ainda, que o mesmo
bem seja objeto de duas ou mais penhoras sucessivas, caso em que, ressalvada a hipótese de
insolvência civil, a preferência deve respeitar a ordem de realização da penhora. Terá preferência
aquele em cujo favor a penhora constituir-se em primeiro lugar. É o que determinam os art. 613 e
711 do CPC.
Os efeitos da penhora irradiam-se em três direções: perante o credor, perante o devedor e
perante terceiros.
Para o credor, a penhora individualiza os bens do devedor sobre os quais irá exercer o direito
de realizar o seu crédito, passando a gozar, sobre eles e perante os demais credores quirografários,
de um especial direito de prelação e seqüela.
Para o devedor, a conseqüência da penhora é a perda da livre disponibilidade dos bens
atingidos e, em alguns casos, a perda imediata da posse direta desse bem (quando o mesmo é
depositado em mãos do credor ou de um terceiro).
A penhora produz também eficácia perante terceiros em duas circunstâncias: a) quando o
crédito ou o bem do executado atingido pela penhora está na posse temporária de terceiro, este fica
obrigado a respeitar o gravame judicial, como depositário, cumprindo-lhe o dever de efetuar sua
prestação em juízo, à ordem judicial, no devido tempo, sob pena de ineficácia do pagamento direto
ao executado ou a outrem (art. 671, 672 e 676); b) além disso, há o efeito geral e erga omnes da
penhora que faz com que todo e qualquer terceiro tenha que se abster de negociar com o executado
aquele bem, sob pena de ineficácia da aquisição perante o processo e permanência do vínculo
executivo sobre o bem, mesmo que passe a integrar o patrimônio do adquirente.

►Bens Penhoráveis e Impenhoráveis

Há previsão no CPC, nos artigos 649 e 650 de bens absolutamente impenhoráveis e


relativamente impenhoráveis. No entanto, a análise específica da impenhorabilidade de bens já foi
objeto de estudo na 4ª aula, que tratou sobre a responsabilidade patrimonial, razão pela qual remete-
se a leitura de tal conteúdo.

►Realização e Formalização da penhora

Passados três dias da citação, sem o pagamento, o oficial de justiça, munido da segunda via
do mandado, procederá a penhora “em tantos bens quantos bastem para o pagamento do principal
atualizado, juros, custas e honorários advocatícios.”(art. 659, caput).
A execução por quantia certa há de agredir o patrimônio do devedor até onde seja necessário
para a satisfação do direito do credor. E deve fazê-lo apenas enquanto tal agressão representar
alguma utilidade prática para o fim colimado pela execução, por isso o disposto no caput do art.
659.
Ademais, a penhora não deve ser realizada, nem mantida, quando evidente que o produto da
execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução,
conforme determina o art. 659, §2º. Desta forma, o caput e o §2º do art. 659 são limitadores da
atuação estatal no patrimônio do executado, não podendo, em suma, a penhora ser nem excessiva,
nem inútil.
Se o credor exerceu a faculdade de indicar na petição inicial os bens a serem penhorados
(art. 652, §2º), o oficial de justiça fará com que a constrição incida sobre referidos bens. Não
havendo a nomeação, penhorará os bens que encontrar, em volume suficiente para garantir a
satisfação do crédito e acessórios.
Tanto na indicação dos bens pelo credor, quanto na penhora efetuada pelo oficial de justiça,
deverá ser observada, preferencialmente, a ordem instituída no art. 655. Ressalte-se a que a ordem
estabelecida no artigo não é absoluta e inflexível, como já decidido na jurisprudência. Caso o
devedor sinta-se prejudicado em razão da penhora, tem o direito de impugnar a nomeação ou a
38
penhora que não observou à gradação legal ou que não respeitou a forma menos gravosa para o
executado (art. 620).
No caso, ainda, de “execução de crédito com garantia hipotecária, pignoratícia ou
anticrética, a penhora recairá, preferencialmente, sobre a coisa dada em garantia; se a coisa
pertencer a terceiro garantidor, será também esse intimado da penhora.”(art. 655, §1º).
Por fim, efetuar-se-á a penhora onde quer que estejam os bens a serem penhorados, ainda
que sob a posse, detenção ou guarda de terceiros (art. 659, §1º).
Ocorrendo dificuldade na localização de bens penhoráveis, o juiz, de ofício ou a
requerimento, poderá determinar que o executado seja intimado a indicar bens passíveis de
constrição (art. 652, §3º). A não indicação no prazo sujeita o executado às penas do art. 601, por
considerar-se ato atentatório à dignidade da justiça. A intimação do executado será feita na pessoa
de seu advogado, se já estiver representado nos autos, caso contrário será pessoal.
Ocorrendo a frustração da penhora, por não ter o oficial de justiça encontrado bens do
executado passíveis de constrição, descreverá na certidão os bens que guarnecem a residência ou
estabelecimento do executado (art. 659, §3º).

Resistência à Penhora

“Art. 660. Se o devedor fechar as portas da casa, a fim de obstar a penhora dos bens, o
oficial de justiça comunicará o fato ao juiz, solicitando-lhe ordem de arrombamento.”
“Art. 661. Deferido o pedido mencionado no artigo antecedente, dois oficiais de justiça
cumprirão o mandado, arrombando portas, móveis e gavetas, onde presumirem que se achem os
bens, e lavrando de tudo auto circunstanciado, que será assinado por duas testemunhas, presente à
diligência”.
“Art. 662. Sempre que necessário, o juiz requisitará força policial, a fim de auxiliar os
oficiais de justiça na penhora dos bens e na prisão de quem resistir à ordem.”
“Art. 663. Os oficiais de justiça lavrarão em duplicata o auto de resistência, entregando uma
via ao escrivão do processo para ser junta aos autos e a outra à autoridade policial, a quem
entregarão o preso. Parágrafo único. Do auto de resistência constará o rol de testemunhas, com a
sua qualificação”.

Bens Fora da Comarca

A penhora de bens pressupõe sua apreensão e depósito (art. 664). Por isso, quando o
devedor não possui bens no foro da causa, “far-se-á a execução por carta, penhorando-se,
avaliando-se e alienando-se os bens no foro da situação” (art. 658). No caso de imóvel, a Lei
10.444/02, criou regra especial para a penhora, fazendo-a constar do §5º acrescido ao art. 659. Por
essa inovação, o ato constritivo do imóvel pode ser lavrado por termo nos autos pelo escrivão
judicial, qualquer que seja a localização territorial do imóvel, bastando que se exiba a certidão da
respectiva matrícula no Registro Imobiliário.

Do Auto de Penhora

“Considera-se feita a penhora mediante a apreensão e depósito dos bens, lavrando-se um só


auto se as diligências foram concluídas no mesmo dia. Parágrafo único. Havendo mais de uma
penhora, lavrar-se-á para cada qual um auto.” (art. 664). O auto de penhora é redigido e assinado
pelo oficial de justiça que procedeu a diligência de penhora. O depositário também firmará o auto
de penhora.
Como determina o artigo, se não for possível concluir todas as diligências no mesmo dia,
lavrar-se-ão autos separados e parciais para as tarefas cumpridas em cada dia. Também, se houver
mais de uma penhora, como no caso de devedores solidários, lavrar-se-á para cada qual um auto.
O auto de penhora, de acordo com o art. 665, deve conter:
I – a indicação do dia, mês, ano e lugar em que foi feita a diligência;
39
II – os nomes do credor e do devedor;
III – a descrição dos bens penhorados, com os seus característicos;
IV – a nomeação de depositário dos bens.
A penhora também poderá se efetivar por termos nos autos, que ficará a cargo do escrivão
judicial a lavratura.

Da Intimação da Penhora

Formalizada a penhora mediante a lavratura do auto, o oficial de justiça intimará o


executado na mesma oportunidade (art. 652, §1º). Não há mais intimação para apresentação de
embargos nessa fase, porque na sistemática atual, instituída pela Lei 11.382/2006, os embargos do
executado não dependem de penhora e o prazo para sua interposição conta-se a partir da juntada aos
autos do mandado de citação cumprido.
A intimação da penhora consumada pelo oficial será, em regra, feita na pessoa do executado.
Se o oficial, entretanto, não localizá-lo providenciará certidão detalhada das diligências frustradas,
caso em que o juiz poderá dispensar a intimação da penhora ou determinar as diligências que julgar
adequada (art. 652, §5º). Evidenciada a dificuldade intencionalmente criada pelo executado, poderá
o magistrado dispensar a intimação, ordenando o prosseguimento da execução. O certo é que a lei
não quer que o executado, já ciente da execução pela citação, crie situação de embaraço intencional
à intimação da penhora e, conseqüentemente, ao prosseguimento da execução.
Quando a penhora for feita por termo nos autos, a intimação se confunde com o próprio ato
processual, visto que o devedor terá de participar da lavratura do termo, firmando-o, através de seu
advogado, juntamente com o serventuário da Justiça.
Recaindo a penhora sobre bem imóvel e sendo o executado casado, exige a lei que se faça a
intimação da penhora também ao seu cônjuge (art. 655, §2º).
Ver também o art. 615, II, do CPC e o art. 619, também do CPC.

►Espécies de Penhora

A penhora das coisas corpóreas (móveis e imóveis) se faz mediante apreensão física, com
deslocamento da posse para o depositário, que é o agente auxiliar do juízo, encarregado da guarda e
conservação dos bens penhorados. Assim, lavrado o auto de penhora, depósito e avaliação, perfeita
se acha a garantia da execução. Há, porém, outros cuidados e algumas particularidades a observar
quando a penhora recai sobre bens incorpóreos ou mesmo algumas coisas corpóreas de natureza
especial. Nos arts. 671 e seguintes o Código regula, com especialização, por exemplo, penhoras
como a de dinheiro em depósito ou aplicação financeira, de percentual do faturamento, de créditos,
ações, estabelecimentos etc. Veremos a seguir as particularidades de cada uma delas.

Penhora de imóveis

A lei n. 10.444/2002 trouxe importante inovação sobre a penhora de bens imóveis, tornando
muitas vezes desnecessária atividade do oficial de justiça. Ela poderá ser feita por auto (oficial de
justiça) ou por termo de penhora (escrivão). Na penhora de imóvel por termo, o oficial de justiça
não precisa deslocar-se até o imóvel, nem o descrever, bastando que esteja identificado pela
certidão do Registro de Imóveis.
Quando requerer a penhora de imóvel, o credor deve instruir o pedido com a certidão do
Registro Imobiliário. Verificando o juiz que o pedido está em ordem, determinará a lavratura de um
termo de penhora, nos próprios autos (art. 659, §5º, do CPC).
Ressalte-se que o §5º não faz restrição alguma quanto a localização do imóvel, sendo
possível esta modalidade de penhora inclusive quando o imóvel estiver localizado fora dos limites
territoriais da Comarca, evitando a expedição de carta precatória.

40
Ao escrivão caberá lavrar o termo de penhora, no qual atribuirá ao devedor, proprietário do
imóvel constrito, o encargo de depositário. Se o nomeante assinar o termo pessoalmente ou por
advogado, será havido como intimado no próprio ato. Caso contrário, terá a intimação de ser feita
após a lavratura do termo, segundo as normas comuns de comunicação processual. A intimação será
feita na pessoa do advogado do executado, se já estiver representado nos autos. Caso contrário, a
intimação será feita pessoalmente ao executado.
O encargo de depositário, embora o texto do §5º não seja muito claro, é do devedor, ou seja,
do proprietário do imóvel constrito, pois é este quem de fato e de direito detém sua posse na ocasião
da penhora. Não é o seu advogado que, ao ser intimado da penhora, se investe na qualidade de
depositário; é aquele em cujo nome recebe a intimação que se torna responsável pelo encargo
processual.
Eventualmente o executado pode recusar o encargo de depositário, apresentando seus
motivos perante o juiz. Na ausência de escusa motivada o executado será havido como depositário
do imóvel penhorado, independentemente de firmar compromisso nos autos. O encargo é legal e
provém da norma de direito que o impõe. Caso a escusa seja aceita, o juiz nomeará outro
depositário.
Se a penhora se faz apenas com base na certidão da matrícula, pode acontecer que
construções, plantações e outras acessões não estejam mencionadas no respectivo termo. A parte
poderá, então, comunicar a existência desses bens acessórios para oportuna inclusão no gravame. E
mesmo ocorrendo omissão, será ela suprida por ocasião da avaliação para preparar a arrematação.
Ao avaliador, caberá descrever e estimar o imóvel ou supressões, de modo a retratar a realidade
contemporânea à venda judicial.
Por fim, o §4º determina que, feita a penhora sobre imóvel, o exeqüente, sem prejuízo da
imediata intimação do devedor (e de seu cônjuge, se casado for – art. 655, §2º), providencie, para
presunção absoluta de conhecimento por terceiros, o respectivo registro no ofício imobiliário,
mediante apresentação de certidão de inteiro teor do ato, independentemente de mandado judicial.
O registro não é requisito de validade ou eficácia da constrição, que se reputa perfeita e acabada
mesmo sem ele. É importante, porém, para que ela ganhe eficácia erga omnes.
O objetivo do registro é a publicidade erga omnes da penhora, de sorte a produzir
“presunção absoluta de conhecimento por terceiros”. Quer isto dizer que, estando registrada a
penhora, o eventual adquirente do imóvel constrito jamais poderá argüir boa-fé para se furtar aos
efeitos da aquisição em fraude a execução. A presunção estabelecida pela lei é juris et de jure.
A averbação da penhora de imóvel, a partir da inovação trazida no §6º do art. 659, poderá
ser feita utilizando-se da comunicação eletrônica, assim como para as averbações de penhora de
veículos, ações e cotas sociais, valores imobiliários, etc. Entretanto a utilização da via eletrônica
não será imediata e livre. Dependerá de adoção pelos tribunais de providências administrativas para
estabelecer convênios e normas operacionais que possam conferir segurança e uniformidade aos
procedimentos.

Penhora on line

A lei 11.382/2006 acrescentou o art. 655-A ao CPC, autorizando expressamente o juiz a


requisitar informações à autoridade supervisora do sistema financeiro, preferencialmente por via
eletrônica, sobre ativos do executado. Por meio da penhora on line, o juiz da execução, bloqueia
junto ao Banco Central, depósitos bancários ou aplicações financeiras mantidas pelo executado.
No ato de requisitar a informação sobre a disponibilidade de saldo a penhorar, o juiz
informará o montante necessário para cobrir o débito e requisitará a indisponibilidade deste
montante que, em seguida, será objeto de penhora. O Banco Central efetuará o bloqueio e
comunicará ao juiz requisitante o valor indisponibilizado, especificando o banco onde o numerário
ficou constrito. De posse da informação sobre o bloqueio, o escrivão lavrará o termo de penhora,
procedendo-se, em seguida, à intimação do executado.

41
“Compete ao executado comprovar que as quantias depositadas em conta corrente
referem-se à hipótese do inciso IV do caput do art. 649 desta Lei ou que estão revestidas de outra
forma de impenhorabilidade” (art. 655-A, §2º).

Penhora de faturamento da empresa

A lei 11.382/2006 que criou o art. 655-A normatizou em seu §3º a penhora quando incidir
sobre o faturamento da empresa executada. Assim a penhora sobre parte do faturamento da empresa
devedora é permitida, desde que, cumulativamente, se cumpram os seguintes requisitos:
a) inexistência de outros bens penhoráveis, ou, se existirem, sejam eles de difícil execução
ou insuficientes a saldar o crédito exeqüendo;
b) nomeação de depositário administrador com função de estabelecer um esquema de
pagamento, nos moldes dos arts. 678 e 719;
c) o percentual fixado sobre o faturamento não pode inviabilizar o exercício da atividade
empresarial.
A penhora de percentual do faturamento figura em sétimo lugar na ordem de preferência do
art. 655, de sorte que, havendo bens livres de menor gradação, não será o caso de recorrer à
constrição da receita da empresa, que, sem maiores cautelas, pode comprometer o seu capital de
giro e inviabilizar a continuidade de sua normal atividade econômica. È por isso que se impõe a
nomeação de um depositário administrador que haverá de elaborar o plano de pagamento a ser
submetido à apreciação e aprovação do juiz da execução. Com isto, evita-se o comprometimento da
solvabilidade da empresa executada.20
O depositário procederá à prestação de contas mensalmente, “entregando ao exeqüente as
quantias recebidas, a fim de serem imputadas no pagamento da dívida” (art. 655-A, §3º).

Penhora de créditos e direitos patrimoniais

“Art. 671. Quando a penhora recair em crédito do devedor, o oficial de justiça o penhorará.
Enquanto não ocorrer a hipótese prevista no artigo seguinte, considerar-se-á feita a penhora pela
intimação: I – ao terceiro devedor para que não pague ao seu credor; II – ao credor do terceiro para
que não pratique ato de disposição do crédito.”
A penhora de crédito representado por letra de câmbio, nota promissória, duplicata, cheque
ou outros títulos de crédito, realiza-se pela apreensão efetiva do documento, esteja ou não em poder
do devedor (art. 672). Não sendo encontrado o título, mas havendo confissão do terceiro sobre a
existência da dívida, a penhora será efetivada e o terceiro “será havido como depositário da
importância” (art. 672, §1º), ficando intimado a não pagá-la a seu credor (o executado).
O terceiro responsável pelo crédito penhorado só obtém exoneração depositando em Juízo a
importância da dívida (art. 672, §2º). Se ocorrer a hipótese de o terceiro negar o débito em conluio
com o devedor, a quitação que este eventualmente lhe der, será ineficaz perante o exeqüente, por
configurar fraude de execução (art. 672, §3º).
A fim de esclarecer a situação que envolva a penhora de crédito, pode o credor requerer que
o juiz determine o comparecimento do devedor e do terceiro para, em audiência designada, tomar os
seus depoimentos (art. 672, §4º).
Ademais, a penhora em direito e ação sub-roga o credor nos direitos do executado, até a
concorrência do seu crédito (art. 673), que assim poderá mover contra o terceiro as ações que
competiam ao devedor. Se o credor, por meio da sub-rogação, não conseguir apurar o suficiente
para saldar seu crédito, poderá prosseguir na execução, nos mesmos autos, penhorando outros bens
do devedor (art. 673, §2º). É facultado ao credor preferir, em vez da sub-rogação, a alienação
judicial do direito penhorado, o que se fará através de arrematação, devendo, porém, a opção ser
exercida nos autos no prazo de dez dias contados da realização da penhora do crédito (art. 673, §1º).
A penhora pode recair sobre créditos vincendos exigíveis em prestações ou sujeitos a juros
periódicos. Quando isto ocorrer, o terceiro fica obrigado a depositar em juízo os juros, rendas ou
20
Humberto Theodor Júnior, op. cit. p. 329.
42
prestações à medida que se vencerem. O exeqüente, após cada depósito, poderá levantar as
importâncias respectivas, abatendo-as parceladamente do seu crédito (art. 675).
Por fim, “recaindo a penhora sobre direito, que tenha por objeto prestação ou restituição de
coisa determinada, o devedor será intimado para, no vencimento, depositá-la, correndo sobre a ela a
execução” (art.676).

Penhora no rosto dos autos

É a que recai sobre direito do devedor discutido em processo judicial (art. 674). Na verdade,
recai sobre uma expectativa de direito. Imagine-se que ela diga respeito aos direitos que o
executado discute em ação de cobrança por ele ajuizada em face de terceiro. Caso e executado saia
vitorioso na ação de cobrança, a constrição recairá sobre os bens que forem adjudicados ou vierem a
caber a ele. Mas a penhora no rosto nos autos tornar-se-á ineficaz se o resultado do processo for
desfavorável ao devedor. Se a ação de cobrança for julgada improcedente, nenhum bem ou
vantagem será adjudicado ao devedor. A penhora no rosto dos autos é muito utilizada nos casos de
inventário, quando a execução versar sobre dívida de herdeiro e a penhora incidir sobre seu direito à
herança ainda não partilhada.
O oficial de justiça lavrará o auto de penhora no rosto dos autos, do qual intimará o escrivão
para que este averbe a constrição na capa dos autos, a fim de se tornar efetiva, sobre os bens que,
oportunamente, “forem adjudicados ou vierem a caber ao devedor”.

Penhora de empresas e outros estabelecimentos

Quando a penhora recair em estabelecimento comercial, industrial ou agrícola, bem como


em semoventes, plantações ou edifícios em construção, o depositário será um administrador
nomeado pelo juiz (art. 677, caput). O legislador se preocupou com a continuidade da exploração
econômica pela empresa penhorada, em face da função social que desempenha, por isso a nomeação
de depositário-administrador, ao qual incumbe organizar o plano de administração, no prazo de dez
dias após a investidura na função (art. 677).
Sobre o plano de administração serão ouvidas as partes, cabendo ao juiz decidir sobre as
dúvidas e divergências suscitadas (art. 677, §1º). No entanto, podem as partes ajustar entre si a
forma de administração, escolhendo depositário de sua confiança. Esta solução, naturalmente, só
tem cabimento quando haja inteiro e expresso consenso das partes, cabendo ao juiz apenas
homologar por despacho a deliberação dos interessados (art. 677, §2º).
Se a empresa executada exercer serviço público, sob regime de concessão ou permissão, a
penhora, conforme a extensão do crédito, poderá atingir a renda, determinados bens, ou todo o
patrimônio da devedora. Mas o depositário ou administrador será escolhido, de preferência, entre
seus diretores (art. 678).
A penhora não deve prejudicar o serviço público delegado. O depositário apresentará,
portanto, a forma de administração e o esquema de pagamento do credor, nos casos de penhora
sobre renda ou determinados bens. Se versar sobre toda a empresa, a execução prosseguirá até final
arrematação ou adjudicação, sendo, porém, obrigatória a ouvida do poder público concedente, antes
do praceamento (art. 678, parágrafo único).

Penhora de navio ou aeronave

“Art. 679. A penhora sobre navio ou aeronave não obsta a que continue navegando ou
operando até a alienação; mas o juiz, ao conceder a autorização para navegar ou operar, não
permitirá que saia do porto ou aeroporto antes que o devedor faça o seguro usual contra riscos”.

43
►Pluralidade de penhora sobre o mesmo bem

A existência de penhora em outro processo, sobre o mesmo bem, não o torna impenhorável.
Um mesmo bem pode ser penhorado várias vezes. Se isto ocorrer será aplicável a regra do art. 711
do CPC, que assim dispõe: “Concorrendo vários credores, o dinheiro ser-lhes-á distribuído e
entregue consoante a ordem das respectivas prelações; não havendo título legal à preferência,
receberá em primeiro lugar o credor que promoveu a execução, cabendo aos demais concorrentes
direito sobre a importância restante, observada a anterioridade de cada penhora”(grifo nosso).
A ordem deve ser a seguinte: feita a alienação judicial do bem, o produto da venda deverá
ser destinado primeiro aos credores preferenciais, como, por exemplo, os titulares de garantia real
sobre a coisa. Se não os houver, a preferência deverá ser dada pela ordem de realização de
penhoras, e não de ajuizamento da execução, como poderia parecer da leitura do art. 711. Receberá
primeiro o credor do processo em que a penhora tenha sido realizada primeiro. O juiz examinará as
datas das penhoras, atribuindo prelazia de acordo com as respectivas realizações.
Ver também os arts. 612 e 613 do Código de Processo Civil.

►Segunda penhora

Art. 667. Não se procede à segunda penhora, salvo se:


I – a primeira for anulada; Não haverá aqui propriamente uma segunda penhora, porque a
primeira deixou de existir. Não haverá duas constrições, mas apenas a válida.
II – executados os bens, o produto da alienação não bastar para o pagamento do
credor; Neste caso haverá o reforço de penhora, uma vez que o bem inicialmente penhorado não é
suficiente para a quitação integral do débito.
III – o credor desistir da primeira penhora, por serem litigiosos os bens, ou por
estarem penhorados, arrestados ou onerados. Pressupõe penhora válida, que tenha recaído sobre
bem penhorável do devedor. O credor tem a faculdade de desistir nos casos indicados, ao verificar
que a penhora só implicará gastos, sem reverter em proveito, já que o produto da excussão
possivelmente reverterá em favor de terceiro.

►Redução ou ampliação da penhora

O art. 685 do CPC permite que, depois da avaliação, caso se constate manifesta
desproporção entre o valor dos bens e o débito, o juiz possa reduzir ou ampliar a penhora, ou
transferi-la para outros bens, menos ou mais valiosos. Será preciso que haja requerimento dos
interessados, pois o juiz não pode fazê-lo de ofício. É o devedor quem, em regra, requer a redução e
o credor, a ampliação. Antes de uma coisa ou outra, o juiz deve ouvir a parte contrária.
A ampliação pode ser feita com a realização de uma segunda penhora, sobre outros bens, ou
com a substituição do bem penhorado por outro de maior valor. Já a redução da penhora faz-se por
exclusão de alguns bens, liberados da penhora, ou pela transferência a outros, cujo valor seja
suficiente.

►Substituição da penhora

Após reforma da Lei 11.382, existe no Código duas previsões que autorizam a substituição
do bem penhorado: a) a do art. 656, que não é exclusiva do devedor, pois permite a qualquer das
partes o requerimento de substituição da penhora já consumada. Nesta hipótese não há previsão de
prazo específico para as substituições, o que autoriza a conclusão de sua possibilidade enquanto não
ocorrer a expropriação judicial; b) a do art. 668, que é privativa do executado e deve ser praticada
no prazo de dez dias após a intimação da penhora, e que haverá de se basear nos requisitos que o
dispositivo enuncia.

44
a) Sem marcar prazo para a medida, o art. 656 permite, a qualquer das partes, requerer a
substituição da penhora: I – se não obedecer à ordem legal; II – se não incidir sobre os bens
designados em lei, contrato ou ato judicial para o pagamento; III – se, havendo bens no foro
da execução, outros houverem sido penhorados; IV - se, havendo bens livres, a penhora
houver recaído sobre bens já penhorados ou objeto de gravame; V – se incidir sobre bens de
baixa liquidez; VI – se fracassar a tentativa de alienação judicial do bem; ou VII – se o
devedor não indicar o valor dos bens ou omitir qualquer das indicações a que se referem os
incisos I a IV do parágrafo único do art. 668 desta Lei. Qualquer que seja a parte que tome a
iniciativa de requerer a substituição, o juiz, antes de decidir, ouvirá a parte contrária no
prazo de três dias (art. 657).
b) “Art. 668. O executado pode, no prazo de 10 (dez) dias após a intimação da penhora,
requerer a substituição do bem penhorado, desde que comprove cabalmente que a
substituição não trará prejuízo algum ao exeqüente e será menos gravosa para ele devedor
(art. 17, incisos IV e VI, e art. 620). Parágrafo único. Na hipótese prevista neste artigo, ao
executado incumbe: I – quanto aos bens imóveis, indicar as respectivas matrículas e
registros, situá-los e mencionar as divisas e confrontações; II – quanto aos móveis,
particularizar o estado e o lugar em que se encontram; III – quanto aos semoventes,
especificá-los, indicando o número de cabeças e o imóvel em que se encontram; IV – quanto
aos créditos, identificar o devedor e qualificá-lo, descrevendo a origem da dívida, o título
que a representa e a data do vencimento; e V – atribuir valor aos bens indicados à penhora.”
c) O §2º do art. 656 traz uma grande novidade: a penhora, qualquer que seja o seu objeto, pode
ser substituída por fiança bancária ou seguro garantia judicial. A exemplo do dinheiro, a
substituição da penhora por fiança bancária ou seguro garantia judiciária, não está sujeita ao
prazo de dez dias do art. 668. Pode ser requerida a qualquer tempo, antes de iniciada a
expropriação, pois representa um verdadeiro expediente de incremento da liquidez da
execução, mediante facilitação evidente dos meios de apuração do numerário perseguido
pela execução por quantia certa.
9ª Aula21

DO DEPOSITÁRIO

Efetivada a penhora, os bens constritos serão entregues a um depositário, que constará do


próprio auto de penhora e depósito, ao qual irá lançar sua assinatura, de modo a perfectibilizar o ato.
Cumpre ao depositário a guarda e conservação dos bens penhorados, atuando no processo executivo
como auxiliar da justiça (art. 148).
A nomeação do depositário é ato que integra o cumprimento do mandado executivo. Cabe,
pois, em princípio, ao próprio oficial de justiça escolher o depositário e atribuir-lhe o encargo
judicial, mediante a assinatura do auto de penhora e depósito. Quando o depositário já vier
identificado no próprio mandado, a este caberá a guarda e conservação.
No exercício da função pública que lhe é afeta, o depositário assume responsabilidade civil e
criminal pelos atos praticados em detrimento da execução e de seus objetivos. Apropriando-se o
depositário dos bens sob sua custódia, pratica o crime de apropriação indébita, com a agravante do
§1º do art. 168 do Código Penal.
O depositário tem a obrigação de devolver o bem sempre que o juiz determinar; o
descumprimento pode levar à sua prisão, que será decretada nos próprios autos da execução, na qual
foi constituído o encargo (art. 666, §3º)22. Na prática o depositário é primeiro intimado a entregar o
bem ou seu equivalente em dinheiro, no prazo determinado, sob pena de prisão civil. Não o
fazendo, expede-se o respectivo mandado de prisão.
Por se tratar de auxiliar da justiça, sempre que solicitado, o depositário deve prestar contas
de sua administração ao juízo.

21
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. v. II. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
22
Posição do STJ contrária a prisão civil do depositário infiel. Aplicação do Pacto de San Jose da Costa Rica.
45
►Escolha do depositário

Determina o art. 666: “Os bens penhorados serão preferencialmente depositados: I – no


Banco do Brasil, na Caixa Econômica Federal, ou em um banco, de que o Estado-Membro da União
possua mais da metade do capital social integralizado; ou, em falta de tais estabelecimento de
crédito, ou agências suas no lugar, em qualquer estabelecimento de crédito, designado pelo juiz, as
quantias em dinheiro, as pedras e os metais preciosos, bem como os papéis de crédito; II – em poder
do depositário judicial, os móveis e os imóveis urbanos; III – em mãos de depositário particular, os
demais bens. §1º. Com a expressa anuência do exeqüente ou nos casos de difícil remoção, os bens
poderão ser depositados em poder do executado. §2º. As jóias, pedras e objetos preciosos deverão
ser depositados com registro do valor estimado de resgate”.

►Alienação antecipada dos bens penhorados

A função do depositário é guardar e conservar o bem penhorado até o momento de sua


alienação forçada ou que ocorra algum fato extintivo da execução. Seus poderes são apenas de
administração, sendo-lhe vedado dispor dos bens.
Há casos, porém, que os bens penhorados são de fácil deterioração ou depreciação, devendo
o depositário estar atento e informar o juiz acerca da situação.
Nestes casos, admite o Código que o juiz autorize antecipadamente a alienação dos bens
penhorados. Senão vejamos:
“Art. 670. O juiz autorizará a alienação antecipada dos bens penhorados quando:
I – sujeitos a deterioração ou depreciação;
II – houver manifesta vantagem.
Parágrafo único. Quando uma das partes requerer a alienação antecipada dos bens
penhorados, o juiz ouvirá sempre a outra antes de decidir”.
►Prisão civil do depositário

A prisão civil do depositário infiel está prevista na Constituição Federal de 1988, no art. 5º,
LXVII, juntamente com a prisão civil do devedor de alimentos. Dispõe, ainda, o art. 666, §3º que “a
prisão de depositário judicial infiel será decretada no próprio processo, independentemente de ação
de depósito”.
Desta forma, se o depositário judicial se recusar a entregar o bem penhorado que recebeu em
depósito, para guarda e conservação, estará sujeito à prisão. A prisão será decretada nos próprios
autos da execução, não havendo necessidade de se mover uma ação autônoma de depósito.

DA AVALIAÇÃO DO BEM

É a avaliação, basicamente, que determinará o preço pelo qual os interessados poderão


adjudicar o bem penhorado ou o preço pelo qual este será levado à venda por iniciativa particular ou
na hasta pública, por isso a sua importância e necessidade.
Compete, via de regra, ao oficial de justiça proceder à avaliação do bem penhorado, no
momento da realização da penhora. Em duas situações, porém, o oficial de justiça não procederá à
avaliação: I – quando o próprio devedor houver atribuído valor aos bens indicados para substituir os
originariamente penhorados (art. 668, parágrafo único, inc. V); II – quando, pela natureza dos bens,
sua estimativa depender de conhecimentos técnicos ou especializados, caso em que o juiz nomeará
perito para realizar a avaliação (art. 680).
Verificando, o oficial de justiça, que a avaliação do bem penhorado exige conhecimentos
técnicos, informará ao juízo, que nomeará avaliador para promovê-la. O prazo para o avaliador
entregar o laudo será fixado pelo juiz, não superior a dez dias.
O laudo de avaliação integrará o auto de penhora, quando realizada pelo oficial de justiça,
ou peça apartada quando elaborado por perito. Em ambos os casos, o laudo de avaliação deverá

46
conter, a teor do art. 681, a descrição dos bens, com os seus característicos, e a indicação do estado
em que se encontram, assim como o seu valor.
Em se tratando de bem imóvel, que permita cômoda divisão, o avaliador, tendo em conta o
valor do débito, o avaliará em partes sugerindo os possíveis desmembramentos (art. 681, parágrafo
único).
Há hipóteses, porém, em que a avaliação será dispensada, estando previstas no art. 684 do
CPC. Vejamos: “Não se procederá à avaliação se: I – o exeqüente aceitar a estimativa feita pelo
executado (art. 668, parágrafo único, inciso V); II – se tratar de títulos ou de mercadorias, que
tenham cotação em bolsa, comprovada por certidão ou publicação oficial”.
Determina, ainda, o art. 682 que “o valor dos títulos da dívida pública, das ações das
sociedades e dos títulos de crédito negociáveis em bolsa será o da cotação oficial do dia, provada
por certidão ou publicação no órgão oficial”.
Em regra não se repete a avaliação. O art. 683 do CPC, no entanto, admite a nova avaliação,
em três hipóteses: a) quando se verificar que houve erro na avaliação ou dolo do avaliador – o que
poderá ser demonstrado em impugnação das partes, ou por exame pelo juiz; b) quando se verificar,
posteriormente à avaliação, que houve majoração ou diminuição do valor dos bens, ou; c) quando,
nos casos de requerimento de substituição do bem penhorado, houver fundada dúvida sobre o valor
a ele atribuído pelo devedor. Nesta última hipótese não terá havido uma avaliação prévia pelo
avaliador, mas uma valoração dos bens feita pelo próprio executado. Caso não seja aceita pelo
credor e o juiz verifique que há fundada dúvida, determinará que a avaliação seja feita.
Por fim, a impugnação à avaliação deve ser manifestada logo que o laudo ou a estimativa for
juntado aos autos. Constará de simples petição, em cuja fundamentação se argüirá um dos motivos
previstos no art. 683. A cognição será sumária, devendo o juiz decidir o incidente de plano. Por
isso, cumpre ao interessado exibir com a impugnação a prova do alegado.
Realizada a penhora, depósito e avaliação, dar-se-á início a fase de expropriação dos bens do
executado.
DA EXPROPRIAÇÃO DE BENS

A execução por quantia certa tem por objeto expropriar bens do devedor, a fim de satisfazer
o direito do credor, conforme determinação do art. 646 do CPC.
A expropriação de bens do devedor pode ocorrer de quatro maneiras diferentes, a teor do art.
647: “A expropriação consiste:
I – na adjudicação em favor do exeqüente ou das pessoas indicadas no §2º do art. 685-A
desta Lei;
II – na alienação por iniciativa particular;
III – na alienação em hasta pública;
IV – no usufruto de bem móvel ou imóvel”.
O Código de Processo Civil estabelece uma ordem de preferência a ser observada: realizada
a avaliação, caberá primeiro verificar se há interesse na adjudicação dos bens penhorados. Se não,
eles serão alienados, por iniciativa particular, se o exeqüente o requerer, ou em hasta pública.
Profundas foram às mudanças trazidas pela Lei n. 11.382/2006 ao sistema de expropriação
de bens estabelecidos no CPC. A alienação judicial em hasta pública deixou de ser a forma
preferencial de expropriação dando lugar a adjudicação de bens. Somente se nenhum dos
legitimados requerer a adjudicação é que será feita a alienação. Com a lei, foi ainda disciplinada a
possibilidade de alienação por iniciativa particular, que preferirá a hasta pública, se o credor assim
desejar.
A hasta pública sempre foi a forma por excelência de expropriação dos bens e a adjudicação
só tinha cabimento quando não houvessem licitantes. Mas o legislador percebeu que isso dificultava
o êxito da execução, seja pelas despesas com que a hasta onerava o credor, exigindo a antecipação
dos gastos com publicação de editais, seja porque dificilmente apareciam licitantes que oferecessem
pela coisa o que ela realmente valia, já que em segunda hasta o bem pode ser vendido por qualquer
preço, desde que não seja vil.

47
Quanto à remição, outrora prevista no art. 787, não configurava outra modalidade de
expropriação, pois não passava de uma variante da arrematação em hasta pública, em que se deferia
a alienação forçada ao cônjuge ou parente do executado, com preferência sobre o estranho
arrematante. A Lei n. 11.382 extinguiu a remição, revogando o art. 787 e criando, para seus antigos
beneficiários, o direito de pretender a adjudicação, fora e antes da hasta pública, com preferência
sobre os demais legitimados (art. 685-A, §§2º e 3º).
Introduzido o assunto, façamos, a partir de agora, uma análise individual sobre cada
modalidade de expropriação.

DA ADJUDICAÇÃO

A adjudicação é uma figura assemelhada à dação em pagamento, uma forma indireta de


satisfação do crédito do exeqüente, que se realiza pela transferência do próprio bem penhorado ao
credor, para extinção de seu direito (Enrico Tullio Liebman).
Dispõe o art. 685-A: “É lícito ao exeqüente, oferecendo preço não inferior ao da avaliação,
requerer lhe sejam adjudicados os bens penhorados”.
A lei 11.382/2006 inovou ao estender a adjudicação aos parentes do executado, ao credor
com garantia real, aos demais credores, além da sociedade empresarial, nos casos de penhora de
quota social. Senão vejamos: “§2º. Idêntico direito pode ser exercido pelo credor com garantia real,
pelos credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge, pelos descendentes
ou ascendentes do executado”. “§4º. No caso de penhora de quota, procedida por exeqüente alheio à
sociedade, esta será intimada, assegurando preferência aos sócios”.
Desta forma, a partir da entrada em vigor da referida lei, todas as pessoas acima
mencionadas são legitimadas para requerer a adjudicação do bem penhorado. Atualmente a
adjudicação figura como a modalidade preferencial de expropriação, passando-se as demais
modalidades somente na hipótese de nenhum dos legitimados a terem requerido.
São dois os requisitos para se exercer a adjudicação (art.685-A, caput): I – o requerimento
do interessado, pois o juiz não pode impor ao credor aceitar em pagamento coisa diversa daquela
que constitui o objeto da obrigação exeqüenda; II – a oferta do pretendente à adjudicação não pode
ser inferior ao valor da avaliação; isto somente será possível em hasta pública, na qual terá de
sujeitar-se à licitação com todos os eventuais concorrentes.

►Adjudicação pelo exeqüente

O exeqüente está dispensado de exibir o preço da avaliação do bem, caso requeira a


adjudicação, quando este for igual ou inferior ao seu crédito e não haja concorrência de outros
pretendentes com preferência legal sobre o produto da execução.
Se o valor do crédito for inferior ao dos bens a serem adjudicados, o adjudicante depositará
de imediato a diferença, ficando esta à disposição do executado. Agora, se o valor do crédito for
superior ao valor dos bens, a execução prosseguirá pelo saldo remanescente (art. 685-A, §1º). A
adjudicação, em tal caso, não importa quitação ou remissão da dívida, que ficará apenas amortizada.
Entretanto, quando o exeqüente concorrer com outros credores com penhora anterior à sua
ou com preferência legal sobre o bem adjudicado, terá de efetuar o depósito integral do preço da
adjudicação. Nesse tipo de concurso (art. 711), o exeqüente só tem direito de levantar o produto da
alienação judicial se houver sobra depois de satisfeitos os credores preferenciais. Daí por que, ao
requer a adjudicação, tem de depositar integralmente o valor da avaliação do bem adjudicado; para
evitar que se frustre o direito de preferência do credor hipotecário ou pignoratício, ou titular de
outros privilégios legais.

►Adjudicação por cônjuge, descendente ou ascendente do executado

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As condições para adjudicação por cônjuge, descente ou ascendente do executado são as
mesmas que se faziam para a antiga remição (art. 787, revogado), que doravante terão de amoldar-
se ao regime de aquisição fora da licitação em hasta pública.
Em lugar de aguardar a arrematação para apresentar o requerimento, como dispunha o
revogado artigo 788, o pleito do cônjuge, descendente ou ascendente deverá ser manifestado logo
após a avaliação e antes que a expropriação seja encaminhada para alienação particular ou hasta
pública.
Os parentes e o cônjuge do executado têm, para exercício do direito de adjudicação, a
mesma oportunidade que cabe ao exeqüente, mas o farão com preferência sobre todos os credores
com penhora sobre os bens a adjudicar.
Entre si, a escala de preferência observará primeiro o cônjuge, depois o descendente e,
finalmente, o ascendente. Havendo multiplicidade de pleiteantes no mesmo grau de preferência,
realizar-se-á, em juízo, uma licitação entre eles, caso em que a adjudicação será deferida àquele que
maior preço oferecer (art. 685-A, §3º).
Em relação aos demais concorrentes o cônjuge, descendente e ascendente do executado
gozam de preferência na licitação, de modo que não necessitam superar o lanço do estranho.
Bastará equipará-lo para saírem vitoriosos na disputa pela adjudicação. Em concorrência, porém,
com a sociedade, em caso de penhora de quota social em execução por dívida pessoal do sócio, a
preferência legal é dos outros sócios (art. 685-A, §4º).

►Concurso de pretendentes a adjudicação

Havendo um só pretendente a solução é simples: o bem será adjudicado em favor do


requerente. Havendo pluralidade de pretendentes, com ofertas de preços diversos aplicar-se-á a
regra do art. 685-A, §3º, do CPC. Sendo as propostas iguais ou superiores ao valor da avaliação,
todos os pedidos habilitarão os pretendentes a participar da licitação a ser realizada entre eles. O
preço final fixado na licitação é que será considerado pelo juiz para deferimento. Desde que haja
mais de um pretendente, a licitação em juízo será promovida.
Duas preferências legais, todavia, existem: a) a do cônjuge ou parente do executado, em
relação a estranhos; b) a dos sócios sobre a quota social penhorada, em face de qualquer estranho,
inclusive os parentes do sócio executado. Nestes casos, os legitimados especiais à adjudicação
entram no concurso sem necessidade de superar os lances dos demais, bastando-lhes a equiparação
para saírem vitoriosos. Preço por preço a adjudicação ser-lhes-á deferida.
Por fim, em se tratando de penhora de quota social, a preferência para a adjudicação é, antes
de tudo, dos demais sócios (art. 685-A, §4º); depois vem a do cônjuge e parente do executado; por
último surgem os credores do executado que, na verdade, não têm preferência pessoal e hão de
disputar na licitação e só sairão vitoriosos à base de maior preço.
Decididas eventuais questões, o juiz mandará lavrar o auto de adjudicação (art. 685-A, §5º).
O deferimento do pedido de adjudicação se dá por meio de decisão interlocutória, impugnável,
portanto, por agravo de instrumento.

►Auto de adjudicação

“Art. 685-B. A adjudicação considera-se perfeita e acabada com a lavratura e assinatura do


auto pelo juiz, pelo adjudicante, pelo escrivão e, se for presente, pelo executado, expedindo-se a
respectiva carta, se bem imóvel, ou mandado de entrega ao adjudicante, se bem móvel.
Parágrafo único. A carta de adjudicação conterá a descrição do imóvel, com remissão a sua
matrícula e registro, a cópia do auto de adjudicação e a prova de quitação do imposto de
transmissão”.
A carta de adjudicação é o instrumento formal para acesso ao registro da propriedade do
imóvel em nome do adjudicante no Registro de Imóveis competente, onde de fato se dará a
transferência da propriedade. Quando a adjudicação recair sobre bem móvel, não haverá
necessidade de carta de adjudicação. Expedir-se-á mandado para que o depositário o entregue ao
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adjudicante. Com a entrega opera-se a tradição com que a propriedade mobiliária se transfere, sem
depender de documentação em registro público.

DA ALIENAÇÃO POR INICIATIVA PARTICULAR

Dispõe o art. 685-C: “Não realizada a adjudicação dos bens penhorados, o exeqüente poderá
requerer sejam eles alienados por sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor credenciado
perante a autoridade judiciária”. Introduzida pela Lei. 11.382/2006, a alienação por iniciativa
particular é novidade no sistema de expropriação de bens, buscando dar maior efetividade ao
processo de execução, com menor onerosidade para exeqüente e executado. O revogado art. 700
somente autorizava a alienação por iniciativa particular nos casos de imóveis, por intermédio de um
corretor inscrito na entidade oficial da classe. Na atual sistemática, a alienação particular pode
referir-se a qualquer tipo de bem penhorado e a operação pode ser feita, ou não, por intermédio de
corretor, já que se permite ao exeqüente assumir, ele próprio, a tarefa de promover a alienação.
Caberá ao exeqüente, após não exercer o direito de adjudicar os bens penhorados pelo valor
da avaliação, requerer a alienação na modalidade prevista no art. 685-C. Em seu requerimento
proporá as bases da alienação projetada, esclarecendo se pretende ele próprio promover os atos de
alienação ou se deseja confiá-los à intermediação de um corretor profissional.
Ao juiz competirá aprovar os termos propostos ou alterá-los, na medida da conveniência da
execução. Assim, ao deferir a alienação por iniciativa particular, o magistrado definirá: I – o prazo
dentro do qual a alienação deverá ser efetivada; II – a forma de publicidade a ser cumprida; III – o
preço mínimo, que não será inferior ao da avaliação (art. 680); IV – as condições de pagamento; V
– as garantias; e ainda, VI – a comissão de corretagem, se for o caso de interveniência de corretor
na alienação.
Recorrendo-se à intermediação de um profissional, a escolha deverá recair sobre corretor
não só inscrito no órgão específico da classe, mas também inscrito no rol dos credenciados pela
autoridade judiciária. O sistema de credenciamento poderá ser regulado por provimento dos
Tribunais observando-se, em qualquer caso, o exercício mínimo de cinco anos na profissão.
Sistemas eletrônicos de divulgação e licitação poderão ser incluídos na disciplina traçada pelos
Tribunais (art. 685-C, §3º).
A comissão do corretor, aprovada pelo juiz, será incluída nos custos processuais da
execução a serem suportados pelo executado.
A alienação será formalizada por termo nos autos, assinado pelo juiz, pelo exeqüente, pelo
adquirente e pelo executado, se estiver presente. Após, será expedida carta de alienação, se o bem
for imóvel, ou mandado de entrega ao adquirente, se o bem for móvel (art. 685-C, §2º).
A carta de alienação será o documento necessário para ultimar a transferência da
propriedade do imóvel no Registro Imobiliário competente. Quando o bem for móvel, a alienação
não ensejará a expedição de carta. Uma vez lavrado o termo, expedir-se-á simplesmente mandado
de entrega ao adquirente.

DA ALIENAÇÃO EM HASTA PÚBLICA

Por duas maneiras pode ocorrer a alienação forçada de bens em hasta pública: praça ou
leilão. A praça é reservada para quando o bem penhorado for imóvel, realizando-se no átrio do
edifício do fórum. O leilão quando se tratar de bens móveis, onde estiverem localizados, ou no lugar
designado pelo juiz (art. 686, §2º). Segundo o CPC, a praça é apregoada pelo oficial porteiro e o
leilão por leiloeiro público indicado pelo exeqüente (art. 705 e 706).
Quando o bem penhorado for título ou mercadoria que tenha cotação em Bolsa (art. 684, II,
c/c art. 704), a alienação será realizada por meio de pregão da Bolsa de Valores. A alienação por
corretor da Bolsa segue o mesmo procedimento do leilão comum, devendo ser precedida por edital,
nos moldes do art. 686, e o corretor assume os mesmos encargos e responsabilidades do leiloeiro.
50
A arrematação, seja em praça ou leilão, ou mesmo em pregão de Bolsa de Valores, será
sempre precedida de editais, isto é, de avisos públicos convocando todos os interessados para que
venham participar da licitação. O art. 686 enumera o conteúdo obrigatório dos editais.
O edital de praça ou leilão conterá duas datas para realização da hasta pública, com intervalo
entre 10 e 20 dias entre uma data e outra, conforme determinação do art. 686, VI. Isso se deve ao
fato de que na primeira praça ou leilão o bem será vendido somente por importância não inferior à
avaliação, sendo que na segunda praça ou leilão, o bem será vendido por qualquer lanço, desde que
não seja oferecido preço vil (art. 692).

Dos Editais

“O edital será afixado no local do costume e publicado, em resumo, com antecedência


mínima de 5 (cinco) dias, pelo menos uma vez em jornal de ampla circulação local.” (art. 687,
caput). O juiz poderá ainda, conforme o valor do bem e às condições da Comarca, alterar a forma e
a freqüência da publicidade na imprensa, ordenando sua divulgação em mais de um jornal, em
cidades diferentes ou na mesma localidade, lançando-se mão também de outros meios de
divulgação, como rádio e televisão, se as circunstâncias aconselharem.
Se o credor for beneficiário da justiça gratuita, o edital será publicado no órgão oficial (art.
687, §1º). Se os bens penhorados não excederem 60 vezes o valor do salário mínimo vigente na data
da avaliação, será permitida a dispensa da publicação dos editais na imprensa. Neste caso, no
entanto, o preço da arrematação não poderá ser inferior ao valor da avaliação (art. 686, §3º). Para
que o bem possa ser vendido por valor inferior ao da arrematação no segundo leilão, o credor
deverá providenciar a publicação do edital.
Da designação da praça ou leilão o executado terá ciência por intermédio de seu advogado,
se tiver procurador constituído nos autos. Caso contrário, será intimado por mandado, carta
registrada, edital (se estiver em local incerto e não sabido) ou outro meio idôneo (art. 687, §5º).
A lei 11.382/2006 trouxe importante inovação, introduzida pelo art. 689-A, prevendo que o
procedimento da hasta pública poderá ser substituído “por alienação realizada por meio da rede
mundial de computadores, com uso de páginas virtuais criadas pelos Tribunais ou por entidades
públicas ou privadas em convênio com eles firmado”. Para tanto se exige o requerimento do
exeqüente, bem como a regulamentação desta modalidade de alienação.

Das Intimações

O executado será intimado da designação da praça ou leilão nos moldes do art. 687, §5º.
Uma vez seja de conhecimento do juízo a intercorrência de penhoras sobre o mesmo bem
em processos diferentes, não poderá ocorrer a alienação judicial sem que todos os credores com
penhora sobre o bem tenham sido intimados, bem como o credor com garantia real, a teor do art.
698, in verbis: “Não se efetuará a adjudicação ou alienação de bem do executado sem que da
execução seja cientificado, por qualquer modo idôneo e com pelo menos 10 (dez) dias de
antecedência, o senhorio direto, o credor com garantia real ou com penhora anteriormente averbada,
que não seja de qualquer modo parte na execução”.
Outras pessoas a serem também intimadas são o credor pignoratício, o anticrético, o
usufrutuário, pelo risco que seus direitos reais correm diante da venda judicial do bem gravado.
Deverão ainda ser intimados os condônimos, que detêm direito de preferência, sempre que o objeto
penhorado for cota ideal de bem indivisível.

Do Leiloeiro

O CPC remete-se a duas figuras ao tratar da hasta pública, o oficial porteiro e o leiloeiro
público. Para a doutrina especializada, oficial porteiro é um serventuário da Justiça que irá apregoar
a praça (bens imóveis), enquanto que o leiloeiro público não se trata de serventuário da Justiça,

51
competindo a ele realizar o leilão (bens móveis). Ademais, o leiloeiro poderá ser indicado pelo
exeqüente (art. 706).
Compete ao leiloeiro: I – publicar o edital, anunciando a alienação; II – realizar o leilão onde
se encontrarem os bens, ou no lugar designado pelo juiz; III – expor aos pretendentes os bens ou as
amostras das mercadorias; IV – receber do arrematante a comissão estabelecida em lei ou arbitrada
pelo juiz; V – receber e depositar, dentro de 24 horas, à ordem do juiz, o produto da alienação; VI –
prestar contas nas 48 horas subseqüentes ao depósito (art. 705).

Dos Licitantes

“Art. 690-A. É admitido a lançar todo aquele que estiver na livre administração de seus
bens, com exceção:
I – dos tutores, testamenteiros, administradores, síndicos ou liquidantes, quanto aos bens
confiados a sua guarda e responsabilidade;
II – dos mandatários, quanto aos bens de cuja administração ou alienação estejam
encarregados;
III – do juiz, membro do Ministério Público e da Defensoria Pública, escrivão e demais
servidores e auxiliares da Justiça”.
As proibições se justificam pelo manifesto conflito que poderia haver entre as funções
exercidas e a participação na hasta. Certas pessoas, pela posição que ocupam, poderiam beneficiar-
se, fazendo prevalecer o interesse pessoal.
O próprio credor pode licitar, se pretender ficar com a coisa, ainda que não tenha requerido a
adjudicação. Afinal, só assim poderá ficar com o bem por preço inferior ao da avaliação, se o
arrematar em segunda hasta.
Caso o credor venha a arrematar o bem fica dispensado de exibir o preço, conforme
disciplina do art. 690-A, parágrafo único. A dispensa pressupõe, porém, que a execução seja feita
apenas no interesse do credor e que não haja excesso de valor do bem sobre o crédito, nem
privilégios de terceiros. Terá, assim, de depositar o preço, ou a diferença, quando: a) o valor da
arrematação superar seu crédito; b) houver prelação de estranhos sobre os bens arrematados (art.
709, II); c) a execução for contra devedor insolvente (art. 748 e seguintes).
O art. 695 do CPC proíbe ainda a participação, em hasta pública, do arrematante e do fiador
remissos, isto é, aqueles que não tenham feito o pagamento, no prazo de quinze dias, do lanço.
Se a hasta pública for de diversos bens e houver mais de uma oferta, será preferida aquela
que se propõe a arrematar englobadamente os bens, oferecendo para os que não tiverem licitante
preço igual ao da avaliação e para os demais o de maior lanço (art. 691). Quando os bens forem
sendo parceladamente arrematados será suspensa a hasta pública logo que o produto da alienação já
se mostrar suficiente para o pagamento do credor (art. 692, parágrafo único).

Formas de pagamento

A arrematação é feita normalmente com dinheiro à vista. Poderá, entretanto, ser feita com
prazo de até quinze dias para pagamento, desde que o arrematante ofereça caução (art. 690, caput).
Essa caução pode ser real ou fidejussória e deve ser prestada ao final do pregão por termo nos autos.
Neste caso, a expedição da carta de arrematação e a ordem de entrega dos bens ao arrematante
ficam na pendência do cumprimento do depósito ou da prestação das garantias de seu pagamento
(art. 693, parágrafo único).
Se o preço não for pago no prazo estabelecido ou se a caução não for dada para assegurar a
espera do prazo concedido pelo juiz, a arrematação ficará sem efeito (art. 694, §1º, II), levando-se
novamente a hasta pública os bens. Neste caso, a sanção aplicável ao arrematante será a perda da
caução eventualmente prestada, em benefício do exeqüente, e a inadmissão do arrematante e do
fiador remissos a participarem de nova praça ou leilão dos bens (art. 695).
Se o fiador houver pagado o valor do lanço no lugar do arrematante, poderá requerer ao juiz
da execução que a arrematação lhe seja transferida (art. 696).
52
Arrematação de Imóvel

Quando o bem penhorado for imóvel, existem regras especiais a serem observadas.
Vejamos:
► Art. 690. §1º. “Tratando-se de bem imóvel, quem estiver interessado em adquiri-lo em
prestações poderá apresentar por escrito sua proposta, nunca inferior à avaliação, com oferta de pelo
menos 30% (trinta por cento) à vista, sendo o restante garantido por hipoteca sobre o próprio
imóvel. §2º As propostas para aquisição em prestação, que serão juntadas aos autos, indicarão o
prazo, a modalidade e as condições de pagamento do saldo. §3º. O juiz decidirá por ocasião da
praça, dando o bem por arrematado pelo apresentante do melhor lanço ou proposta mais
conveniente. §4º. No caso de arrematação a prazo, os pagamentos feitos pelo arrematante
pertencerão ao exeqüente até o limite de seu crédito, e os subseqüentes ao executado”.
►Imóvel de incapaz: Quando o imóvel pertencer a incapaz e a segunda praça não atingir lanço de
pelo menos 80% da avaliação, a hasta pública não se ultimará. O bem será confiado a depositário
idôneo, ficando a alienação adiada por prazo fixado pelo juiz, não superior a um ano (art. 701).
Somente depois de vencido o prazo do adiamento é que a alienação do imóvel de incapaz poderá ser
feita por qualquer preço (art. 701, §4º). Ver também os §§ 1º a 3º do art. 701.
►Imóvel divisível: quando o imóvel penhorado admitir cômoda divisão, o juiz, a requerimento do
devedor, ordenará a alienação judicial de parte dele, desde que suficiente para pagar o credor (art.
702). Se, contudo, não houver lançador para a parte desmembrada, a alienação será feita sobre o
imóvel em sua integralidade (art. 702, parágrafo único).

Auto de Arrematação

O aperfeiçoamento da arrematação ocorre com a assinatura do respectivo auto. Segundo art.


693: “A arrematação constará de auto que será lavrado de imediato, nele mencionadas as condições
pelas quais foi alienado o bem. Parágrafo único. A ordem de entrega do bem móvel ou a carta de
arrematação23 do bem imóvel será expedida depois de efetuado o depósito ou prestadas as garantias
pelo arrematante.”
Uma vez assinado o auto de arrematação pelo juiz, pelo arrematante e pelo leiloeiro ou
serventuário da justiça, a arrematação estará perfeita, acaba e irretratável, ainda que venham a ser
julgados procedentes os embargos do executado (art. 694, caput).
Segundo extrai-se do caput do art. 694, nem mesmo a sentença de procedência dos
embargos proferida após a arrematação, comprometerá por si só a eficácia da alienação judicial.
Vale lembrar que a execução é definitiva (art. 587), o que resolve em perdas e danos a procedência
dos embargos decretada após a arrematação, sem prejudicar os direitos adquiridos pelo arrematante.
O §2º do art. 694 deixa claro: “No caso de procedência dos embargos, o executado terá
direito a haver do exeqüente o valor por este recebido como produto da arrematação; caso inferior
ao valor do bem, haverá do exeqüente também a diferença”.
Mesmo quando estivermos diante de execução provisória, a eventual arrematação não
sofrerá prejuízo em sua eficácia, se o recurso do executado/embargante for afinal provida. Tudo se
resolverá em perdas e danos entre as partes da execução.
Na prática, a diferença entre execução definitiva e provisória está na exigência de caução
para que, nesta última, se promova a arrematação (art. 475-O, III).

Perda de Eficácia da Arrematação

Com a assinatura do auto a arrematação é considerada perfeita, acaba e irretratável, ainda


que venham a ser julgados procedentes os embargos do executado.
Excepcionalmente, no entanto, prevê a Lei que a arrematação poderá se tornar sem efeito
(art. 694, §1º, do CPC). Os casos em que isto poderá ocorrer são os seguintes:
23
Requisitos da carta de arrematação – art. 703, CPC.
53
I – vício de nulidade: exemplo de nulidade capaz de comprometer a eficácia da hasta pública é a
arrematação por licitante impedido (art. 690-A) e a hasta pública realizada sem a ciência do
executado;
II – se não for pago o preço ou se não for prestada a caução;
III – quando o arrematante provar, nos 5 (cinco) dias seguintes, a existência de ônus real ou
de gravame (art. 686, V) não mencionado no edital: neste caso a perda de efeito da arrematação
não é automática, uma vez que depende de requerimento do arrematante, no prazo de cinco dias;
IV – a requerimento do arrematante, na hipótese de embargos à arrematação (art. 746, §§1º e
2º): é lícito ao arrematante não querer sustentar uma aquisição que se tornou litigiosa, desistindo da
aquisição, com a imediata liberação do depósito por ele feito;
V – quando realizada por preço vil (art. 692): a lei não define preço vil, cabendo ao juiz
examinar caso a caso. É o irrisório, muito aquém do valor da avaliação. Têm sido freqüentes as
decisões que consideram vis arrematações feitas por valor menor que 50 % ou até 60% das
avaliações;
VI – nos casos previstos neste Código (art. 698): a última hipótese reporta-se ao art. 698, que
institui a obrigatoriedade de intimações a serem feitas antes da adjudicação ou alienação do bem
penhorado, seja em relação ao executado, seja em face de outros interessados como o senhorio
direto, o credor com garantia real ou com penhora anteriormente averbada. Em se tratando de
violação à norma impositiva, a arrematação que a inobserve contamina-se de vício grave, suficiente
para comprometer-lhe a validade.

USUFRUTO DE MÓVEL OU IMÓVEL

Quando a penhora recair sobre bem móvel ou imóvel, prevê o CPC a possibilidade de
substituir a alienação forçada pela instituição de usufruto em favor do exeqüente. O juiz irá
conceder o usufruto quando reputar menos gravoso ao executado e eficiente para o recebimento do
crédito (art. 716).
O usufruto de móvel ou imóvel consiste “num ato de expropriação executiva em que se
institui direito real temporário sobre o bem penhorado em favor do credor, a fim de que este possa
receber seu crédito através de rendas que vier a auferir”(THEODORO JR). Há uma diferença
substancial em relação às formas anteriores de expropriação: não há transferência da propriedade da
coisa, mas apenas dos acessórios que ela produz.
A constituição de usufruto sobre o bem penhorado depende de requerimento do credor, uma
vez que o mesmo tem direito de exigir que a execução termine pela entrega de soma em dinheiro a
que corresponde à obrigação. Uma vez formulado o pedido pelo exeqüente, o juiz ouvirá o
executado (art. 722), que poderá apresentar objeções à conveniência da medida. Assim caberá ao
juiz decidir sobre a instituição do usufruto, apreciando livremente as manifestações das partes,
sempre à luz do binômio menor onerosidade para o devedor e maior eficiência para a realização do
direito do exeqüente.
Decretado o usufruto, o juiz nomeará um administrador, com poderes inerentes a um
usufrutuário, em especial a posse direta e o poder de gerir a coisa, para que ela produza os frutos e
rendimentos para pagar o credor. A escolha compete ao juiz, mas pode recair sobre o credor, se o
devedor o consentir, ou sobre o devedor, se o credor permitir (art. 719).
“O usufruto tem eficácia, assim em relação ao executado como a terceiros, a partir da
publicação da decisão que o conceda” (art. 718).
Embora o art. 719 se refira a sentença, o incidente processual do usufruto resolve-se por
meio de decisão interlocutória. Note-se que os art. 718 e 722, §1º, alterados pela lei 11.382/2006,
tiveram a expressão “sentença” substituída pela expressão “decisão”.
Se o bem penhorado for quinhão de condômino, será possível instituir o usufruto forçado,
cabendo ao administrador exercer “os direitos que cabiam ao executado” (art. 720).
Ouvido o executado acerca do pedido de usufruto, o juiz nomeará um perito para avaliar os
frutos e rendimentos do bem e calcular o tempo necessário para o pagamento da dívida (art. 722).
Apresentado o laudo, as partes serão ouvidas e o juiz proferirá decisão que, quando deferir o
54
usufruto forçado, fixará sua duração e determinará, quando se tratar de imóvel, a expedição de carta
para averbação no respectivo Registro Imobiliário (art. 722, §1º).
Quando a renda do bem for obtida através de locação e esta preexistir à decretação do
usufruto, o locatário passará a pagar o aluguel diretamente ao usufrutuário, ou ao administrador se
houver (art. 723). Agora, caso o imóvel não esteja locado, o exeqüente usufrutuário poderá celebrar
contrato de locação do imóvel (ou do móvel, se for este objeto da penhora), sobre o qual será
ouvido o executado (art. 724). Havendo discordância do executado, o juiz decidirá a controvérsia da
forma que melhor convenha ao exercício do usufruto (parágrafo único, art. 724).
Por fim, os arts. 726 a 729 disciplinavam o usufruto de empresas, tendo sido revogados pela
Lei 11.382/2006, que passou a permitir o usufruto somente quando os bens penhorados forem
móveis ou imóveis (art. 716).

55
DO PAGAMENTO AO CREDOR

Ultrapassada a fase da proposição (petição inicial e citação), bem como da instrução


(penhora e alienação), teremos, enfim, a fase da entrega do produto ao credor (pagamento), na
clássica divisão do procedimento executivo recomendada por Liebman.24
A fase da satisfação do credor é a última etapa do processo de execução por quantia certa e
consiste no pagamento do credor com o produto obtido através da expropriação de bens do devedor.
Embora represente a forma originária de cumprimento da obrigação relativa à quantia certa, a
entrega do dinheiro não é a única forma de pagamento prevista neste sistema de execução.
Prevê o art. 708 três maneiras de proceder ao pagamento do credor, quais sejam: I – pela
entrega do dinheiro; II – pela adjudicação dos bens penhorados e; III – pelo usufruto de bem móvel
ou imóvel25.
Forma pura de pagamento é apenas aquela que se dá por meio da entrega do dinheiro ao
exeqüente. A adjudicação e o usufruto judicial realizam simultaneamente a função de instrução e
satisfação da execução, na medida que a um só tempo expropriam bens do executado e os
transferem para o exeqüente, daí dizer-se que são formas híbridas, com duplo papel dentro da
execução por quantia certa. Ademais, dependem sempre de requerimento do credor.
Tanto a adjudicação quanto o usufruto de móvel ou imóvel já foram analisados
anteriormente, de forma que a seguir será abordada exclusivamente a disciplina da entrega do
dinheiro.

►Da Entrega do Dinheiro

Forma mais autêntica de concluir a execução por quantia certa, o pagamento do credor pela
entrega do dinheiro pressupõe naturalmente a prévia expropriação dos bens penhorados, da qual
tenha resultado o depósito do preço à ordem judicial.
O levantamento da quantia apurada se faz com observância das regras estipuladas nos arts.
709 a 713, do CPC.
O juiz só autorizará o credor a levantar imediatamente o produto da expropriação executiva
se a execução houver corrido a exclusivo benefício do exeqüente e não houver privilégio ou
preferência de terceiros sobre os bens penhorados, anterior à penhora (art. 709). Assim, não poderá
o credor levantar o valor desde logo, quando existir qualquer outro privilégio sobre os bens
alienados judicialmente como hipoteca, penhor, anticrese ou outra penhora, desde que constituídos
anteriormente à penhora do exeqüente (art. 709, II).
“Ao receber o mandado de levantamento, o credor dará ao devedor, por termo nos autos,
quitação da quantia paga” (parágrafo único, art. 709).
Havendo concurso de preferência sobre o produto da execução, a regra a ser aplicada está
contida no art. 711. Esse concurso será sumariamente processado como incidente da fase de
pagamento, dentro dos próprios autos da execução.
A classificação dos credores, para pagamento, será feita, a teor do art. 711, dentro dos
seguintes critérios:
a) independentemente de penhora, devem ser satisfeitos, em primeiro lugar, os que tiverem
título legal de preferência, ou seja, credores com garantia real sobre os bens arrematados;
b) não havendo preferência legal anterior, ou depois de satisfeita esta, os demais credores serão
escalonados segundo a ordem cronológica das penhoras.
No concurso de intercorrência de várias penhoras sobre os mesmos bens, o
pagamento dos credores respeita a ordem cronológica dos gravames de maneira que os
subseqüentes só recebem se houver sobra após a satisfação do antecedente. O concurso não
é de rateio, mas de preferência.
24
Theodor Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. v. II. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 286.
25
O usufruto de empresa foi revogado pela Lei 11.382/2006 como já mencionado anteriormente quando abordado o
tema referente ao usufruto de móvel ou imóvel. Ademais, note-se que o art. 708, não teve sua redação modificada pela
citada lei, a fim de adequá-lo ao novo sistema vigente.
56
Os credores interessados devem formular suas pretensões de preferência em petição nos
autos em que ocorreu a alienação forçada indicando, quando for o caso, as provas que irão produzir
em audiência (art. 712). A disputa entre os credores concorrentes só poderá versar sobre o direito de
preferência ou sobre a anterioridade da penhora. Findo o debate o juiz decidirá (art. 713),
apreciando exclusivamente os privilégios disputados e as preferências decorrentes da anterioridade
de cada penhora.
Não haverá necessidade de audiência, quando a matéria discutida for apenas de direito ou
baseada somente em prova documental.
Por fim, feito o pagamento dos credores, que importa no principal atualizado, juros, custas e
honorários advocatícios, o valor que sobejar será restituído ao devedor (art. 710).

10ª Aula

DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA RELATIVA À OBRIGAÇÃO POR QUANTIA


CERTA

Encerrada a análise com relação à execução por quantia certa fundada em título
extrajudicial, a partir de agora passaremos a abordar o procedimento reservado a execução por
quantia certa quando estiver fundamentada em título executivo judicial.
Com a reforma operada pela Lei 11.232/2005, que entrou em vigor em 24 de junho de 2006,
o procedimento a ser observado quando a execução por quantia certa for fundada em título judicial
alterou significativamente. O processo de execução autônomo, com petição inicial e citação do
executado, disciplinado nos arts. 646 e seguintes, ficou reservado para os títulos executivos
extrajudiciais. Com a entrada em vigor da lei, instaurou-se o denominado “processo sincrético”,
passando o procedimento executivo fundado em título judicial a integrar mais uma fase de um
processo único, que teve início com a petição inicial e citação do réu, ainda na fase de
conhecimento.
Deslocou-se a disciplina para o Livro I do Código de Processo Civil, sob a nomenclatura de
“Cumprimento da Sentença”, estabelecendo-se regras diferenciadas para a fase executiva, que se
seguirá logo após a prolatação da sentença, caso não haja a necessidade de se instaurar a fase de
liquidação da sentença.
Ademais, primeiro se analisou a disciplina concernente à execução autônoma de quantia
certa, uma vez que a disciplina reservada ao cumprimento da sentença utilizará subsidiariamente as
regras contidas no Livro II, mormente àquelas relativas a penhora, depósito e avaliação de bens,
assim como as modalidades de expropriação e o pagamento ao credor.
Por fim, algumas divergências ainda permeiam a doutrina especializada com relação à nova
sistemática estabelecida para o cumprimento da sentença, que na medida do possível serão
abordadas neste material, principalmente em razão de serem relativamente recentes as alterações.
Na prática, os operadores do direito ainda estão se adequando a nova realidade, de maneira que
novos posicionamentos poderão surgir, assim como outros poderão ser superados.

Do início da execução e da Multa

A iniciativa da execução é do credor. Não há mais necessidade de instaurar-se um processo


autônomo de execução, via petição inicial, requerendo a citação do executado. Tal procedimento
ficou reservado para a execução fundada em título extrajudicial.
Quando a execução por quantia certa for fundada em sentença, o credor dará início a fase
executiva com uma simples petição formulada no processo em que a condenação foi proferida, a
qual será instruída com o demonstrativo do débito atualizado (art. 614, II) e, se for o caso, com o
comprovante de que já ocorreu a condição ou o termo, se tais elementos foram previstos na
sentença.

57
Necessário ressaltar que não se trata de petição inicial, mas de simples petição, que o art.
475-J qualifica de mero “requerimento”, sem maiores solenidades ou exigências. Basta que o credor
requeira singelamente a expedição do mandado executivo.
Ocorre que, antes de iniciarmos a fase executiva propriamente dita, o caput do art. 475-J
prevê um prazo de 15 dias para pagamento espontâneo do devedor, assim como um multa de 10 %
caso não haja o pagamento do montante previsto na condenação dentro deste prazo. Vejamos o que
diz o artigo em comento: “Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada
em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de
multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art.
614, II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação”.
Note-se que a lei prevê um prazo de 15 dias para que o devedor promova o
pagamento da quantia determinada na sentença condenatória ou fixada em liquidação, mas não
deixa claro o termo inicial para contagem deste prazo. Diverge a doutrina acerca do termo inicial do
prazo, em três correntes, pelo menos, a saber:
1) O prazo começa a fluir desde que a decisão que se pretende ver cumprida (título
executivo judicial) transitar em julgado, independentemente de qualquer comunicação ao devedor
(ver Resp. 954.859/RS do STJ, D.J. em 27.8.2007). Para Humberto Theodoro Júnior26,

não há necessidade de prévio mandado de pagamento ou prévia intimação pessoal do


devedor para que a fluência do prazo do art. 475-J se dê e a multa de 10% se torne exigível.
O cumprimento da sentença não se instaura como uma nova ação que exigisse citação ou
intimação do devedor. É apenas continuidade do processo que a sentença condenatória não
teve o condão de encerrar. Publicada e intimada a sentença, seus efeitos se projetam sobre a
continuidade dos atos que se lhe seguem. O prazo de cumprimento, portanto, não decorre de
uma nova instância. É conseqüência da normal intimação do julgado.

2) Para outra corrente, o termo inicial começará fluir a partir da intimação do devedor, na
pessoa de seu advogado, de que terá início o prazo de 15 dias para pagamento voluntário. Segundo
Marcus V R Gonçalves27, “a intimação do devedor para que flua o prazo de quinze dias deve ser
determinada de ofício pelo juiz e feita pela imprensa oficial, pois é essa a sistemática da Lei n.
11.232/2005, como se vê do art. 475-J, §1º. Sem a intimação, ficará difícil para o devedor conhecer
o dies a quo do prazo para incidência da multa”.
3) Para terceira corrente, o prazo de 15 dias começará a fluir a partir da intimação pessoal
do próprio devedor (e não de seu advogado), “pois não seria razoável impor-lhe uma sanção, como
é a multa, sem que se lhe fizesse uma prévia e direta comunicação acerca das conseqüências do
descumprimento”28.
Outra questão que envolve o artigo em comento é com relação à incidência da multa de
10% quando a sentença pender de recurso recebido apenas no efeito devolutivo. Neste caso, é
sabido que cabe execução provisória deste julgado. Embora existam posições doutrinárias em
contrário, “a multa em questão é própria da execução definitiva, pelo que pressupõe sentença
transitada em julgado. Durante o recurso sem efeito suspensivo, é possível a execução provisória,
como faculdade do credor, mas inexiste, ainda, a obrigação de cumprir espontaneamente a
condenação para o devedor. Por isso, não se pode penalizá-lo com a multa pelo atraso naquele
cumprimento” (THEODORO JR., p. 53). No entanto, frize-se, diversos autores posicionam-se
contrariamente a esta tese.
Superada esta fase, bem como suas divergências, e não havendo o pagamento espontâneo do
devedor, o credor requererá, em petição simples, a expedição do mandado de cumprimento forçado
da condenação, que se destinará a penhorar e avaliar os bens a serem expropriados para satisfação
do crédito constante da sentença.

26
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. v. II. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 54.
27
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil. v. 3. São Paulo: Saraiva, 2008. p.
200.
28
WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil v. 2: execução. 10. ed. São Paulo: RT, 2008. p.307.
58
Então, de maneira simples, intimado da sentença, o devedor terá 15 dias para adimplir
espontaneamente a condenação. Transcorrido in albis determinado prazo, o credor requererá, por
meio de petição simples, o cumprimento da sentença, juntando demonstrativo atualizado do débito,
já acrescido da multa de 10%. Na seqüência, será expedido mandado de penhora e avaliação de
bens do executado.
Se o devedor efetuar, no prazo de 15 dias para pagamento voluntário, apenas parcialmente o
pagamento, a multa de 10% incidirá apenas no restante (art. 475-J, §4º).
A fim de facilitar a penhora, o credor poderá indicar, em seu requerimento, os bens a serem
penhorados, conforme determina o §3º, do art. 475-J.
Lavrado o auto de penhora e avaliação pelo oficial de justiça o executado será intimado
pessoalmente, ou na pessoa de seu advogado, ou na falta deste o seu representante legal (art. 475-J,
§1º). Se a avaliação depender de conhecimentos técnicos o juiz nomeará avaliador, assinando-lhe
prazo para entrega do laudo (art. 475-J, §2º).
No mesmo ato da penhora e avaliação, o executado será intimado para em 15 dias oferecer
impugnação. Resolvida a impugnação por decisão interlocutória, os atos finais, de expropriação dos
bens penhorados e satisfação do direito do credor, processar-se-ão segundo as regras da execução
dos títulos extrajudiciais (art. 475-R), ou seja, conforme o disposto nos arts. 646 a 724.
O desencadeamento da fase executiva depende de requerimento do credor, como dito. Por
isso, estabelece o §5º do art. 475-J que “não sendo requerida a execução no prazo de seis meses, o
juiz mandará arquivar os autos, sem prejuízo de seu desarquivamento a pedido da parte”.
Enquanto isso, os autos ficaram aguardando em cartório a iniciativa do credor. O prazo de
seis meses só começa a fluir depois que se esgotarem os quinze dias para pagamento espontâneo. A
remessa ao arquivo não implica extinção da execução. Se, mais tarde, o credor tomar as
providências necessárias para que ela tenha andamento, o processo retomará o seu curso.
Segundo Gonçalves29, nesse prazo de seis meses não correrá a prescrição intercorrente, uma
vez que não se pode considerar que o processo está paralisado. No entanto, se os autos forem ao
arquivo porque o credor permaneceu inerte, o prazo de prescrição intercorrente terá início (ver
Súmula 150 do Supremo Tribunal Federal).

Da Impugnação

Prevê o art. 475-J, §1º o direito de o devedor oferecer impugnação nos 15 dias que se
seguem à intimação da penhora e avaliação. Uma vez que a dívida exeqüenda já foi acertada por
sentença, não é permitido ao executado, na fase reservada para o cumprimento da mesma, reabrir a
discussão sobre o mérito da condenação. Por isso, a matéria a ser alegada em impugnação é muito
mais restrita àquela que pode ser suscitada em embargos do devedor (quando a execução for
fundada em título extrajudicial).
Desta forma, a impugnação deverá cingir-se ao terreno das preliminares constantes dos
pressupostos processuais e condições da execução. Matérias de mérito, ligadas à dívida
propriamente dita, somente poderão se relacionar com fatos posteriores à sentença que possam ter
afetado a subsistência da dívida, no todo ou em parte, como pagamento total ou parcial, novação,
prescrição etc., ocorridos supervenientemente.
Da mesma forma que não existe mais embargos do devedor no cumprimento da sentença,
não há mais a possibilidade de se manejar embargos à arrematação e adjudicação. Também estes
foram transformados em simples impugnação e deverão ser manejados por meio de incidente no
bojo do próprio procedimento de cumprimento da sentença. A solução sempre será encontrada via
decisão interlocutória e o recurso oponível será o agravo de instrumento.
“Os embargos à arrematação e à adjudicação passam a constituir ação que diz respeito,
como regra geral, à execução fundada em título executivo extrajudicial. Incidentes relativos à
expropriação apoiada em título executivo judicial devem ser resolvidos, doravante e via de regra,
dentro do próprio processo originário, em sua fase executiva, mostrando-se inadequado o

29
op. cit. p. 203
59
ajuizamento de embargos de segunda fase” (Robson Carlos de Oliveira, Embargos à Arrematação e
à Adjudicação, São Paulo: RT, 2006, p. 322).

►Matérias argüíveis em impugnação (fundamentada na obra de Humberto Theodoro Jr)

Art. 475-L. A impugnação somente poderá versar sobre:

I – falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia;


Para a validade do processo, segundo a norma do art. 214, “é indispensável a citação inicial
do réu”. A falta ou nulidade da citação válida impede a formação e desenvolvimento válidos da
relação processual e contaminam todo o processo. Mas, para argüir a falta ou nulidade da citação
em questão, é necessário que não tenha sido suscitada e resolvida nos autos, na fase cognitiva, antes
da sentença, ou nela própria. Se o tema já foi enfrentado, sobre ele incide, se não a res iudicata,
pelo menos a preclusão pro iudicato (art. 467, 471 e 473). Por fim, a nulidade em comento ocorre
apenas quando configurada a revelia, porque se, malgrado o grave vício do ato citatório, o réu se fez
presente nos autos para se defender, seu comparecimento supriu a citação (art. 214, §1º).

II – inexigibilidade do título;
Os pressupostos específicos da execução forçada são o título executivo e o inadimplemento
do devedor (art. 580 e 585). Não se pode, portanto, manejar validamente a execução sem que esteja
em mora o devedor, isto é, sem que a dívida seja exigível. Somente a dívida vencida é que pode ser
exigida. A inexigibilidade no caso de título judicial pode decorrer da pendência de recurso de efeito
suspensivo ou de subordinar-se o direito do credor a termo ainda não alcançado ou a condição não
verificada (art. 572).
O parágrafo primeiro deste mesmo artigo considera também “inexigível o título judicial
fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou
fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal
como incompatíveis com a Constituição Federal”. Para Theodoro Jr., “o reconhecimento da
nulidade da sentença inconstitucional, portanto, não depende de rescisória e pode verificar-se a
qualquer tempo e em qualquer processo, inclusive na via incidental da impugnação ao pedido de
cumprimento da sentença” (p. 63).

III – penhora incorreta ou avaliação errônea;


Recaindo a penhora sobre bens impenhoráveis ou inalienáveis (art. 648) ou caso não seja
respeitado na penhora o montante da dívida exeqüenda (art. 659), o executado poderá valer-se da
impugnação fundamentada neste inciso. Ademais havendo erro na avaliação, tem legítimo interesse
o executado de manejar a impugnação.

IV – ilegitimidade das partes;


A ilegitimidade argüível contra pedido de cumprimento da sentença é a contemporânea aos
atos de execução e não importa revisão do que já se acertou antes do julgamento. É fato que, após a
sentença, fatos supervenientes poderão afetar a titularidade do crédito, como sucessão, cessão, sub-
rogação, etc., sendo perfeitamente manejável a impugnação para atacar a parte ilegítima nesta fase.
Essa ilegitimidade pode ser tanto da parte ativa como da passiva e decorre de não ser ela o vencedor
ou o vencido na ação de conhecimento, nem seu sucessor.

V – excesso de execução;
Ocorre quando o credor exige valores ou prestações maiores ou diferentes das que constam
do título executivo. O CPC, no art. 743, indica quais são estas hipóteses: “I – quando o credor
pleiteia quantia superior à do título; II – quando recai sobre coisa diversa daquela declarada no
título; III – quando se processa de modo diferente do que foi determinado na sentença; IV – quando
o credor, sem cumprir a prestação que lhe corresponde, exige o adimplemento da do devedor; V –
se o credor não provar que a condição se realizou”. A redação do artigo é criticável, uma vez que,
60
ao menos nas hipóteses dos incisos IV e V, não há propriamente excesso de execução, mas
inexigibilidade do título.
Importante inovação é trazida no art. 475-L, §2º: “Quando o executado alegar que o
exeqüente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante da sentença, cumprir-lhe-
á declarar de imediato o valor que entende correto, sob pena de rejeição liminar dessa impugnação”.
O dispositivo é salutar, pois era comum que o devedor impugnasse o débito, nos antigos embargos,
sem indicar de forma precisa o quantum que entendia devido. Essa indicação passa ser agora
requisito da impugnação e sua inobservância implicará seu indeferimento.

VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como


pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à
sentença.
A enumeração deste inciso é exemplificativa, existindo outros casos impeditivos do
cumprimento da condenação nos autos em que foi proferida como, por exemplo, a concordata e a
falência do comerciante e a declaração de insolvência do devedor civil. O ônus da prova recai sobre
o devedor impugnante, que terá que provar cabalmente a ocorrência do fato extintivo, tendo em
vista a presunção legal de certeza e liquidez que ampara o título executivo devidamente
formalizado. Por fim, o inciso refere-se expressamente a causas supervenientes à sentença, porque
se anteriores à formação do título executivo, estará preclusa a possibilidade de invocá-las por
incompatibilidade com a sentença que os excluiu definitivamente, segundo o princípio do art. 474.

►Procedimento da impugnação

A impugnação manifesta-se por meio de simples petição no bojo dos autos. Não se trata de
petição inicial de ação incidental, como é o caso dos embargos à execução de título extrajudicial.
Por isso, não há citação do credor e nem sempre se exige autuação em apartado.
Recebida a impugnação, o juiz determinará que o credor seja intimado para, querendo,
apresentar resposta. A lei não diz qual é o prazo para que ele o faça, mas em razão do princípio da
isonomia, será também de 15 dias, mesmo prazo que tem o devedor para impugnar.
Com a resposta, o juiz verificará se está em condições de decidir o incidente, ou se há
necessidade de produção de provas. Sendo este o caso, determinará as provas necessárias, que
podem ser de qualquer espécie, pericial ou testemunhal e, sendo necessário, designará audiência de
instrução e julgamento.
Ao final, o juiz decidirá o incidente, por meio de decisão interlocutória, atacável via agravo
de instrumento, salvo quando o juiz acolher a impugnação e disso resultar na extinção da execução,
caso em que será proferida sentença extintiva, contra a qual caberá apelação (art. 475-M, §3º).

►Efeitos da impugnação

De regra a impugnação não tem efeito suspensivo. Os atos executivos prosseguirão


normalmente e o incidente de impugnação, para não prejudicá-los, será processado em autos
apartados (art. 475-M, §2º).
No entanto, se o juiz considerar que os fundamentos da impugnação são relevantes e que o
prosseguimento dos atos executivos podem causar ao executado dano grave e de difícil ou incerta
reparação, atribuirá efeito suspensivo ao receber a impugnação (art. 475-M, caput). Em tal situação,
o incidente correrá nos próprios autos da execução (art. 475-M, §2º), não havendo necessidade de
autuação em apartado.
Na busca pela efetividade do processo e a necessidade de uma célere resolução da lide, o
legislador permite que, mesmo em caso de concessão de efeito suspensivo, o devedor postule o
prosseguimento da execução, prestando caução suficiente e idônea, nos próprios autos. A caução
deve ser suficiente para reparar eventuais prejuízos do devedor (art. 475-M, §1º).
11ª Aula

61
DA EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA

O Código de Processo Civil prevê um procedimento especial para as execuções por quantia
certa contra a Fazenda Pública, o qual não tem a natureza própria de execução forçada, visto que se
faz sem penhora e arrematação, ou seja, sem expropriação ou transferência forçada de bens, uma
vez que os bens públicos são legalmente impenhoráveis. Daí a impossibilidade da execução contra a
Fazenda Pública seguir nos moldes tradicionais, mediante penhora e expropriação.
Por execução contra a Fazenda Pública entende-se aquela que tenha no pólo passivo da
demanda pessoa jurídica de direito público, o que inclui autarquias e fundações públicas, estando
regulada no CPC a partir do art. 730. As empresas públicas e sociedades de economia mista (art.
173, §1º, da CF/88) seguem o procedimento comum da execução por quantia certa, uma vez que
seu patrimônio observa regime jurídico diferente das autarquias e fundações públicas. Cite-se como
exemplo execuções contra o Banco do Brasil ou a Caixa Econômica Federal que seguem o rito
comum das execuções e não o previsto no art. 730 e seguintes30.
Após longa discussão, assentou-se na doutrina e jurisprudência que a execução contra a
Fazenda Pública pode ser fundada tanto em título judicial, quanto em extrajudicial, a teor da
Súmula 279 do Superior Tribunal de Justiça, in verbis: “É cabível execução por título extrajudicial
contra a Fazenda Pública”.
Por fim, muito embora a lei 11.232/2005 tenha instaurado no sistema de execuções
brasileiro, como regra, a diversidade de procedimentos conforme o título executivo seja judicial ou
extrajudicial, em se tratando de execução contra a Fazenda Pública, em nada foi alterado, uma vez
que, independentemente de o título executivo ser judicial ou extrajudicial, a execução será
tradicional, com formação de um processo autônomo, no qual a Fazenda Pública será citada e terá
oportunidade de defender-se por meio de embargos. Por se tratar de processo autônomo, nova
petição inicial terá de ser deduzida em juízo, nova citação será promovida e a Fazenda irá opor-se à
execução por meio de embargos (art. 730) e não por simples impugnação31.
A grande diferença da execução contra a Fazenda Pública para a execução por quantia certa
tradicional, reside na impossibilidade de se penhorar bens da Fazenda, dada a sua natureza pública.
A vedação tem origem constitucional: o art. 100 e parágrafos da Constituição prevêem a forma de
pagamento dos créditos devidos pela Fazenda Pública, qual seja, o precatório. Não há que se falar
em constrição e alienação forçadas de bens públicos. E é justamente essa diferença que irá nortear a
disciplina da execução contra a Fazenda Pública.

►DO PROCEDIMENTO

A execução contra a Fazenda Pública será iniciada mediante provocação do credor, através
de petição inicial. Logo após o deferimento da inicial, a teor do art. 730, a Fazenda Pública será
citada para opor embargos no prazo legal. Não há que se falar em penhora de bens quando figurar
no pólo passivo da execução a Fazenda Pública, dada a impenhorabilidade dos bens públicos.
Citada, a Fazenda poderá tomar duas atitudes: embargar a execução, no prazo estabelecido
por lei, ou não embargar, caso em que será expedido precatório, requisitando-se o pagamento por
intermédio do presidente do tribunal competente. Se os embargos forem rejeitados também será
expedido precatório.

Do Prazo Para Embargar

30
Permanecem, todavia, sujeitas ao regime especial do art. 730 e 731 as empresas públicas e sociedades de economia
mista instituídas para prestar serviço público da competência da União Federal, como é o caso da empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos, cuja natureza o STF equipara à Fazenda Pública, excluindo do alcance do art. 173, §1º, da
Constituição e, no campo do processo, as submete ao regime executivo dos precatórios (Humberto Theodoro Jr.).
31
THEODORO JR, Humberto. Curso de direito processual civil. v.2. 42. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 409.
62
Determina o art. 730 do CPC que a Fazenda Pública será citada para opor embargos no
prazo de 10 (dez) dias. Ocorre que a lei 9.494/97, em seu art. 1º-B, alterou o prazo do caput do art.
730, ampliando-o para 30 (trinta) dias. Tal artigo foi acrescentado a referida lei pela medida
provisória n. 2.180-35, de 24 de agosto de 2001.
A ampliação, de início, foi entendida como prevalecente apenas para as execuções de
sentença relativas a benefícios previdenciários, pois se questionava a constitucionalidade da reforma
na via legislativa utilizada. O STF, todavia, declarou constitucional a Medida Provisória n. 2.180-
35, de 24.08.2001 (STF, Pleno, RE n. 420.816, ac. 29.09.2004). Assim, desta forma, o prazo de
trinta dias foi generalizado, ou seja, a Fazenda Pública será citada para opor embargos no prazo de
30 dias (Humberto Theodoro Jr.).

Do Precatório

Não pode a Fazenda Pública efetuar o pagamento voluntário do débito, uma vez que, por
força de dispositivo constitucional, ele é feito mediante precatório, respeitando-se a ordem
cronológica de expedição dos mesmos (art. 100 e parágrafos da CF/88).
Se o crédito a ser adimplido tiver natureza alimentar (salários, vencimentos, proventos,
pensões, benefícios previdenciários, entre outros), será igualmente necessária a expedição de
precatório, mas terá prioridade e não precisará respeitar a ordem cronológica de expedição. Neste
caso, haverá duas ordens cronológicas para pagamento: a dos precatórios ordinários, expedidos para
pagamentos de verbas não alimentares e a dos precatórios extraordinários, que gozam de
preferência sobre os demais, emitidos para pagamento de dívidas alimentares.
No entanto, não se sujeitam ao regime dos precatórios os pagamentos de obrigações
definidas em lei como de pequeno valor que a Fazenda Federal, Estadual, Distrital ou Municipal
devam fazer em razão de sentença judicial transitada em julgado (CF, art. 100, §3º). Cumprindo o
novo preceito constitucional, a Lei n. 10.259/2001, definiu as obrigações de pequeno valor como
sendo aquelas que se inserem na competência do Juizado Especial Federal Cível (art. 17, §1º da lei),
ou seja, aquelas cujo valor seja de até 60 salários mínimos, regra a ser aplicada para as execuções da
esfera federal.
Quanto aos demais entes da Federação que, nos termos do novo §5º do art. 100 da CF/88
poderão sujeitar-se a limites diferenciados, a Emenda Constitucional n. 37, de 12.06.02, estabeleceu
no art. 87 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, provisoriamente, os seguintes
parâmetros para identificar as causas de pequeno valor: até quarenta salários mínimos, perante a
Fazenda dos Estados e do Distrito Federal e, até trinta salários mínimos, perante a Fazenda dos
Municípios. Referidos valores vigorarão “até que se dê a publicação oficial das respectivas leis
definidoras pelos entes da Federação” (art. 87 do ADCT).
A requisição de pequeno valor será paga pela Fazenda Pública em 60 dias (art. 17 da Lei n.
10.259/01), após a requisição do juízo da execução, independentemente da expedição de precatório.
Por fim, o parágrafo único do art. 87 do ADCT estabeleceu ainda que “se o valor da
execução ultrapassar o estabelecido neste artigo, o pagamento far-se-á, sempre, por meio de
precatório, sendo facultada à parte exeqüente a renúncia ao crédito do valor excedente, para
que possa optar pelo pagamento do saldo sem o precatório, da forma prevista no §3º do art.
100” (grifo nosso).
O juiz de primeiro grau não requisita diretamente o pagamento do precatório, mas, dirige-se,
a requerimento do credor, ao Tribunal que detém a competência recursal ordinária (Tribunal de
Justiça, Tribunal Regional Federal), cabendo ao respectivo presidente do Tribunal formular a
requisição à Fazenda Pública executada. É obrigatória a inclusão, no orçamento, da verba necessária
ao pagamento dos débitos constantes dos precatórios, apresentados até 1º de julho do ano anterior
(CF, art. 100, §1º)
Determina ainda o art. 731 do CPC, que caso o credor seja “preterido no seu direito de
preferência, o presidente do tribunal, que expediu a ordem, poderá, depois de ouvido o chefe do
Ministério Público, ordenar o seqüestro da quantia necessária para satisfazer o débito”.

63
* Fazer a leitura do art. 100 e seus parágrafos, da CF/88, que disciplinam o precatório e sua
forma de pagamento.

►Dos Embargos32

O art. 741 a 743 do CPC regula os embargos à execução contra a Fazenda Pública. A
matéria a ser discutida em embargos, quando se tratar de execução contra a Fazenda Pública é
limitada, constando especificamente no rol do art. 741.
Desta forma, determina o art. 741, que “Na execução contra a Fazenda Pública, os embargos
só poderão versar sobre: I – falta ou nulidade de citação, se o processo correu à revelia; II –
inexigibilidade do título; III – ilegitimidade das partes; IV – cumulação indevida de execuções; V –
excesso de execução; VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como
pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença”.
Para efeito do disposto no inciso II do caput do art. 741, a lei considera também inexigível o
título judicial fundado: a) “em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo
Tribunal Federal”; ou b) “fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo
Supremo Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição Federal” (art. 741, parágrafo
único).
Quanto à argüição de incompetência do juízo, ou de suspeição ou impedimento do juiz,
regulada no art. 742, deve ser feita junto com os embargos, mas não nos próprios embargos. No
entanto, a cumulação numa só petição, como defeito apenas formal, não invalida a exceção (STJ,
CC 10056/PR).
Por fim, o art. 743 declara o que se deve entender por excesso de execução:
“Art. 743. Há excesso de execução:
I – quando o credor pleiteia quantia superior à do título;
II – quando recai sobre coisa diversa daquela declarada no título;
III – quando se processa de modo diferente do que foi determinado na sentença;
IV – quando o credor, sem cumprir a prestação que lhe corresponde, exige o adimplemento
do devedor (art. 582);
V – se o credor não provar que a condição se realizou”.

12ª Aula

DA EXECUÇÃO DE PRESTAÇÃO ALIMENTÍCIA

Outra forma de execução por quantia certa sujeita a regime especial é a da prestação alimentícia. A
lei processual dá ao credor de alimentos duas possibilidades: a) promover a execução por quantia certa nos
moldes tradicional (art. 732), com a citação do executado, penhora e demais atos, ou; b) promover a
execução com fulcro no art. 733, com a citação do executado para, em três dias pagar, provar que já pagou
ou justificar a impossibilidade do pagamento, sob pena de prisão.
Na primeira hipótese, do art. 732, a execução de sentença deve processar-se nos moldes do disposto
no Capítulo IV do Título II do Livro II do CPC, onde se acha disciplinada a “execução por quantia certa
contra devedor solvente”, cuja instauração se dá mediante citação do devedor para pagar em 3 dias, sob pena
de penhora. Como a Lei 11.232/2005 não alterou o art. 732, continua prevalecendo nas ações de alimentos o
sistema dual, em que acertamento e execução forçada reclamam o sucessivo manejo de duas ações separadas
e autônomas: uma para condenar o devedor a prestar alimentos e outra para forçá-lo a cumprir a condenação.
Registre-se que existe posição doutrinária divergente que defende que esta modalidade de execução deve
observar o rito previsto no art. 475-J, do CPC.
A segunda via executiva à disposição do credor de alimentos também não escapa do sistema dual. A
redação inalterada do art. 733 determina, expressamente, que na execução de sentença que fixa alimentos, “o

32
Baseada no Livro: THEODORO JR, Humberto. Curso de direito processual civil. v. II. Rio de Janeiro: Forense,
2008.
64
juiz mandará citar o devedor para, em três dias, efetuar o pagamento, provar que o fez ou justificar a
impossibilidade de efetuá-lo”. Logo, tanto na via do art. 732 como na do art. 733, o credor de alimentos se vê
sujeito a recorrer a uma nova ação para alcançar a satisfação forçada da prestação assegurada na sentença.
“O procedimento executivo é, pois, o dos títulos executivos extrajudiciais (Livro II) e não o de cumprimento
da sentença instituído pelos atuais arts. 475-J a 475-Q” (Humberto Theodoro Jr. p. 418).
Desta forma, havendo dois procedimentos para se executar créditos de natureza alimentícia, qual a
via que deve ser escolhida pelo credor de alimentos?
De acordo com a Súmula 309 do Superior Tribunal de Justiça, “o débito alimentar que autoriza a
prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores à citação e as que se vencerem
no curso do processo”.
Desta forma, se estão em atraso, por exemplo, 08 parcelas mensais da prestação alimentícia, o
credor poderá promover duas execuções autônomas para cobrança do seu crédito, ou seja, uma pelo rito do
art. 733, sob pena de prisão, a fim de haver os três últimos meses imediatamente anteriores ao ajuizamento,
mais os que forem se vencendo no curso do processo, após a citação do executado. As demais parcelas (no
exemplo cinco parcelas) deverão ser ajuizadas sob o rito do art. 732 e seguirão o procedimento da execução
por quantia certa contra devedor solvente, com a citação e penhora de bens do executado, não havendo a
possibilidade de cominação legal de prisão civil.
Feita essa distinção, bem como o fato de o rito previsto no art. 732, ou seja, execução por quantia
certa já ter sido exaustivamente abordado, a partir de agora far-se-á a análise do procedimento especial da
execução de prestação alimentícia, prevista no art. 733, do CPC.

Do rito do art. 733 e da prisão civil do devedor

Determina o art. 733: “Na execução de sentença ou de decisão, que fixa os alimentos provisionais, o
juiz mandará citar o devedor para, em 3 (três) dias, efetuar o pagamento, provar que o fez ou justificar a
impossibilidade de efetuá-lo. §1º. Se o devedor não pagar, nem se escusar, o juiz decretar-lhe-á a prisão pelo
prazo de 1 (um) a 3 (três) meses. §2º. O cumprimento da pena não exime o devedor do pagamento das
prestações vencidas e vincendas. §3º. Paga a prestação alimentícia, o juiz suspenderá o cumprimento da
ordem de prisão”.
O credor de alimentos dará início a execução de prestação alimentícia mediante petição inicial, que
deverá observar os requisitos da art. 282 do CPC, bem como informar o rito pelo qual irá prosseguir (art.
615, I). Tratando-se da execução das três últimas parcelas vencidas, imediatamente anteriores ao
ajuizamento, poderá requerer a instauração e prosseguimento da execução pelo rito do art. 733. A petição
inicial deverá ser instruída com o demonstrativo de débito atualizado e com o título executivo, qual seja a
sentença ou acordo homologado judicialmente que fixou os alimentos.
Recebida a inicial, o executado será citado nos moldes do caput do art. 733, ou seja, para em 03 dias
efetuar o pagamento das parcelas em atraso, provar, mediante recebido, depósitos bancários ou outro meio
idôneo, que já pagou as parcelas cobradas ou, por fim, apresentar justificativa da impossibilidade do
pagamento da prestação alimentícia, declinando seus motivos. Pode ainda o executado, transcorrido o prazo
de três dias, permanecer inerte.
A partir da citação, então, a execução poderá seguir por rumos diversos. Vejamos:
- Transcorrido o prazo de três dias o executado comparece e efetua o pagamento. O débito
alimentar estará adimplido e a execução será extinta.
- Transcorrido o prazo o executado apresenta comprovante de pagamento do débito. O juiz
ouvirá a parte contrária e extinguirá a execução, caso realmente tenha havido o
pagamento.
- Transcorrido o prazo o executado apresenta justificativa. O juiz ouvirá o exeqüente e o
representante do Ministério Público. Após, se recusar a justificativa, decretará a prisão
civil do executado, se assim o requereu o exeqüente ou, se aceitar a justificativa, não será
decretada a prisão civil do executado.
- Por fim, se o executado deixar transcorrer o prazo in albis, o juiz decretará sua prisão
civil, mediante requerimento do exeqüente.
A prisão civil do executado não é meio de execução, mas sim meio de coação, de maneira que não
impede a penhora de bens do devedor e o prosseguimento dos atos executivos propriamente ditos. Por isso
mesmo, o cumprimento da pena privativa de liberdade “não exime o devedor do pagamento das prestações
vencidas e vincendas” (art. 733, §2º). Sendo decretada a prisão civil do executado, será expedido o
respectivo mandado a ser cumprido pelo Oficial de Justiça ou pela Autoridade Policial. Cumprido o
mandado o executado será recolhido à cadeia pública local. O cumprimento integral da pena fixada pelo juiz,
65
que pode variar de 01 a 03 meses (art. 733, §1º), não exime o executado do pagamento das parcelas
executadas.
Vencido o prazo da prisão civil e não havendo o pagamento do débito alimentar, o executado será
posto em liberdade e a execução prosseguirá seu curso, mediante penhora de bens do executado, seguindo, a
partir deste momento, o rito comum das execuções por quantia certa contra devedor solvente. Aliás, em se
tratando de crédito decorrente de prestação alimentícia não há que se falar em impenhorabilidade de bens, a
teor dos arts. 649, §2º do CPC e art. 3º, III, da Lei 8.009/90.
A qualquer momento o executado poderá efetuar o pagamento das parcelas alimentícias, caso em
que o juiz expedirá imediatamente alvará de soltura, colocando o executado em liberdade. Se o mandado de
prisão ainda não tiver sido cumprido, o juiz suspenderá a ordem, determinando o recolhimento do mandado
(art. 733, §3º).
A prisão civil do devedor de alimentos encontra amparo constitucional no art. 5º, LXVII, da CF/88.

►Averbação em folha de pagamento

Em se tratando de devedor que exerça cargo público, militar ou civil, direção ou gerência de
empresa, bem como emprego sujeito à legislação do trabalho, o juiz mandará descontar em folha de
pagamento a importância da prestação alimentícia (art. 734), mediante requerimento do exeqüente.
Nestes casos, “a comunicação será feita à autoridade, à empresa ou ao empregador, por ofício, de
que constarão os nomes do credor, do devedor, a importância da prestação e o tempo de sua duração” (art.
734, parágrafo único).
O valor mensal referente à prestação alimentícia será entregue diretamente pelo empregador ao
credor dos alimentos, geralmente mediante depósito bancário em conta corrente previamente destinada a este
fim e informada em juízo.

►Alimentos provisionais, provisórios e definitivos

A execução por quantia certa, com as particularidades do art. 733, aplica-se tanto à sentença
condenatória definitiva, como à decisão interlocutória que impõe alimentos provisionais ou provisórios (art.
732, 733 e 735). Apesar do texto do art. 733 falar apenas em alimentos provisionais, dando margem para
dúvidas, a doutrina e jurisprudência são unânimes em afirmar que a pena de prisão tem lugar para assegurar a
prestação alimentícia de qualquer natureza, seja provisional, provisória ou definitiva, originária ou revista
(STF, HC n. 56.108, in RTJ, 86/129; STJ, REsp. 137.149/RJ, ac. De 01.09.98).

DA EXECUÇÃO DE SENTENÇA CONDENATÓRIA POR ATO ILÍCITO33

Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, o juiz, quanto a esta parte,
poderá ordenar ao devedor constituição de capital, cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da
pensão (art. 475-Q). Com a lei 11.232/05, que instituiu o atual art. 475-Q, não mais se impõe a
obrigatoriedade de imobilização de um capital para garantir o pensionamento. Ao juiz cabe deliberar a
respeito, em atenção às circunstâncias do caso concreto, levando sempre em conta os parâmetros a que a lei
subordina a substituição do capital por outros meios assecuratórios.
O §1º do art. 475-Q indica quais são as formas pelas quais esse capital deve ser constituído: a)
imóveis; b) títulos da dívida pública, ou; c) aplicações financeiras em banco oficial. Ademais, enquanto
perdurar a obrigação, o capital constituído para pagamento da indenização será inalienável e impenhorável.
Os bens, que integram a fonte de rendimentos com que se realiza a pensão, continuam sendo de
propriedade do devedor. Não há transferência de domínio ao credor, mas apenas vinculação ao cumprimento
da condenação.
A critério do juiz, a constituição do capital poderá ser substituída por: I – inclusão do beneficiário da
prestação em folha do pagamento; II – fiança bancária e; III – garantia real, em valor a ser arbitrado de
imediato pelo juiz (art. 475-Q, §2º).
A inclusão em folha de pagamento é medida que se observa regularmente nas condenações contra
entidades de direito público e que o §2º permite adotar também em relação a empresas de direito privado,
desde que de “notória capacidade econômica”.

33
GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. v. 3. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 114.
66
O §3º dispõe ainda que sobrevindo “modificação nas condições econômicas, poderá a parte requerer,
conforme as circunstâncias, redução ou aumento da prestação”. Uma das críticas que se fazia ao sistema
anterior (art. 602, antes de ser revogado pela Lei 11.232/05) incidia justamente sobre o rigor inflexível com
que se exigia a constituição do capital para custear a pensão destinada à reparação do ato ilícito.
Argumentava-se que, mesmo nas relações de parentescos, a lei tolerava as variações e até a extinção do
dever alimentar, quando modificadas as condições financeiras do alimentante e as necessidades do
alimentado. Já na reparação do ato ilícito, quaisquer que fossem as mudanças na sorte das partes, a pensão
seria conservada. Atualmente, o §3º do art. 475-Q, prevê expressamente a possibilidade dessa alteração.
Outra discussão que havia anteriormente a edição da lei 11.232/05 era com relação a possibilidade
do pensionamento ser fixado em salários mínimos. Com a edição do §4º, ficou claro que “os alimentos
podem ser fixados tomando por base o salário mínimo”, corroborando o que já vinha sendo decidido pelo
STF, embora tal entendimento não fosse pacífico nem mesmo dentro do próprio Tribunal.
Por fim, “cessada a obrigação de prestar alimentos, o juiz mandará liberar o capital, cessar o
desconto em folha ou cancelar as garantias prestadas” (§5º).

13ª Aula

DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA RELATIVA ÀS OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO


FAZER

►Tutela Específica e Tutela substitutiva

O art. 461, caput, do CPC, trata da tutela das obrigações de fazer e não fazer. Há
mecanismos legais para compelir o devedor ao cumprimento específico de suas obrigações. Busca-
se fazer com que o credor obtenha o mesmo resultado que teria se o devedor satisfizesse
voluntariamente a sua obrigação; este é o objetivo da execução específica.
A conversão em perdas e danos deve ficar para último caso. O credor tem direito de exigir,
por meio da tutela jurisdicional, a tutela específica, de maneira que o juiz não pode, em regra, forçá-
lo a se satisfazer com a indenização de perdas e danos. A obrigação, como prevê o art. 461, §1º,
somente se converterá no equivalente econômico em duas situações: a) quando o próprio credor,
diante do inadimplemento, prefira pleitear a reparação dos prejuízos sofridos, em lugar do
cumprimento específico da obrigação; b) quando a prestação específica, por sua natureza ou pelas
circunstâncias do caso concreto, se torne impossível, o mesmo ocorrendo com a obtenção do
resultado prático equivalente. A execução do equivalente econômico denomina-se “tutela
substitutiva”.
Quando o cumprimento da sentença tiver por base obrigação para entrega de coisa, também
será observada a execução específica, conforme dispõe o art. 461-A, do CPC.

►Noções de obrigação de fazer e não fazer

As obrigações correspondem à prestação que o devedor fica sujeito a realizar em favor do


credor. Dizem-se positivas quando a prestação corresponde a uma ação do devedor, e negativas
quando se cumprem por meio de uma abstenção.
“São obrigações de fazer aquelas em que o devedor compromete-se a uma prestação,
consistente em atos ou serviços, de natureza material ou imaterial” (Marcus Gonçalves). São
tipicamente obrigações positivas, pois se concretizam por meio de um ato do devedor. São
exemplos de obrigação de fazer: a contratação da pintura de uma tela; reforma de automóvel;
construção de uma casa; construção de um muro; demolição de um prédio, instalação de filtros
antipoluentes, etc.
Temos que diferenciar ainda as obrigações personalíssimas, onde a prestação só pode ser
cumprida pelo próprio devedor que a assumiu. Nestes casos, diz-se que a obrigação de fazer é
67
infungível. Se a prestação pode ser executada pelo devedor ou por terceiro, a obrigação de fazer
será considera fungível.
Quanto às obrigações de não fazer, são tipicamente negativas, na medida que impõe ao
devedor um dever de abstenção, devendo manter-se numa situação omissiva. É pela inércia que se
cumpre a prestação devida. Se fizer o que se obrigou a não fazer, a obrigação estará
irremediavelmente inadimplida. A execução forçada, na espécie, não se endereça à realização da
prestação devida, mas ao desfazimento daquilo que indevidamente se fez.

►Do Procedimento para o cumprimento da sentença da obrigação de fazer

O artigo 475-I, do CPC, que trata do cumprimento da sentença, dispõe que o cumprimento
da sentença far-se-á conforme o art. 461, quando se tratar de obrigação de fazer ou não fazer.
Prevê o art. 461 que: “Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer e
não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará
providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.”
§5º: “Para efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente,
poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a
imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas,
desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de força
policial”.
Pela leitura do artigo e seu parágrafo quinto, é fácil visualizar que para proporcionar a
execução específica da obrigação serão amplamente utilizados os meios de execução, seja de
coação, seja de sub-rogação.
A sentença que der provimento ao pedido de obrigação de fazer ou não fazer deverá
condenar o devedor a realizar, in natura, a prestação devida. Para que essa condenação seja dotada
de maior efetividade, na sentença de procedência do pedido compete ao juiz determinar
providências que assegurem a tutela específica ou o resultado prático equivalente.
Dessa maneira, as providências determinadas na sentença serão postas em prática por meio
de mandado dirigido ao devedor ou por meio de autorização para as medidas a cargo do credor ou
de terceiro sob sua direção.
Os poderes do juiz para fazer cumprir especificamente a obrigação de fazer não ficam
restritos à autorização para que o credor realize ou mande realizar por terceiro o fato devido. Pode o
juiz adotar outras providências que, mesmo não sendo exatamente o fato devido, correspondam a
algo que assegure o resultado prático equivalente.
O §5º do art. 461, elenca algumas das medidas que o juiz pode adotar para dar efetividade a
tutela específica. Ressalte-se que o rol disposto neste parágrafo é meramente exemplificativo, tendo,
o juiz poder para tomar outras providências práticas compatíveis com o tipo de obrigação a cumprir
e com os princípios que fundamentam o devido processo legal.
Embora todas as medidas ali dispostas sejam amplamente utilizadas para o cumprimento da
sentença da obrigação de fazer, merece atenção especial a multa. Por isso faremos agora uma
análise mais detalhada deste meio de coação.

►Da Multa (Astreinte)

A multa por tempo de atraso no cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer cabe tanto
na sentença como em decisão interlocutória de antecipação de tutela. Cabe, também, em decisão
incidental na fase de cumprimento da sentença, se esta não a houver estipulado. É assim que se
explica a dupla menção da multa nos §§ 4º e 5º do art. 461: no primeiro deles há a previsão normal
da aplicação no ato de impor a realização da prestação devida, ou seja, no deferimento da
antecipação da tutela, em caráter provisório, ou na sentença, quando a condenação é proferida em
caráter definitivo; na segunda hipótese a multa se apresenta como uma das medidas de apoio que o
juiz pode tomar a qualquer tempo para tornar efetiva a condenação já proferida, e não
necessariamente na própria sentença.
68
As multas periódicas têm por objetivo pressionar o devedor ao cumprimento da obrigação.
Sua finalidade não é repressiva ou punitiva, mas sim de coação. Por isso, tem o juiz ampla liberdade
para fixá-las, de ofício ou a requerimento do interessado, e estabelecer-lhes o valor, aumentando-o
ou reduzindo-o quando necessário (art. 461, §§4º e 6º).
No entanto, é preciso que ela seja fixada em valor tal que seja capaz de afetar a vontade do
devedor. De nada adiantaria um montante muito baixo, insuficiente para atemorizá-lo. Como dito,
não é preciso requerimento da parte para fixação da multa e o juiz também pode, de ofício, alterar-
lhe o valor, reduzindo-o ou aumentando-o, caso verifique que se tornou excessiva ou insuficiente.
Pode também alterar-lhe a periodicidade. Essas alterações poderão ser feitas a qualquer tempo.
Não há um momento específico para a imposição da multa pelo magistrado. No entanto, a
multa pressupõe que já exista a obrigação de fazer ou não fazer reconhecida judicialmente. Esse
reconhecimento não precisa ser definitivo, pois pode ser fixada por tutela antecipada, em caráter
provisório. Concedida a medida, o juiz fixará prazo para cumprimento da obrigação, e estabelecerá
a multa, para o inadimplemento. Se não fizer nesse momento, poderá fazê-lo posteriormente, a
qualquer tempo. Não havendo tutela antecipada, a multa poderá ser fixada na sentença condenatória
em obrigação dessa natureza. Se juiz não o fizer, poderá fixá-la posteriormente, no início da fase
executiva.
Vencido o prazo para cumprimento da obrigação, a multa passará a incidir. Para tanto, é
preciso que a parte seja intimada pessoalmente. Se a obrigação for cumprida pelo devedor, mas com
atraso, a multa será devida pelo tempo em que ele perdurou. Se a obrigação for convertida em
perdas e danos, ainda assim a multa será devida. Caso o devedor não pague espontaneamente a
multa, o procedimento a ser adotado será o do cumprimento da sentença por quantia certa.

►Da tutela substitutiva

Estabelece o §1º do art. 461: “A obrigação somente se converterá em perdas e danos se o


autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático
equivalente”.
Não sendo possível a tutela específica ou se assim o requeira o credor, a obrigação de fazer
se converterá em perdas e danos. Convertida em perdas e danos, os autos prosseguirão para
adimplemento do montante a pecuniário sob o rito do cumprimento da sentença por quantia certa.

►Do Procedimento para o cumprimento da sentença da obrigação de não fazer

A condenação à prestação negativa, ou seja, obrigação de não fazer, cumpre-se,


ordinariamente com a simples intimação da sentença ao devedor. Se, porém, houver prática de ato
vedado, o cumprimento forçado da sentença (ou da antecipação de tutela) dar-se-á da mesma
maneira que se passa com as condenações pertinentes às prestações positivas ou obrigação de fazer.
Executar-se-á o julgado de modo a forçar o desfazimento do ato ilegitimamente realizado. O credor
promoverá a atividade judicial executiva, tendo como objeto o dever do demandado de realizar o
desfazimento daquilo que se praticou em contravenção ao comando judicial. À custa do devedor, e
por obra deste ou de outrem, a situação será reposta no seu estado anterior.
Tornando-se impossível o completo desfazimento do evento contrário à obrigação de não
fazer, dar-se-á sua conversão em perdas e danos e o cumprimento da sentença processar-se-á nos
moldes do cumprimento por quantia certa34.

DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA RELATIVA ÀS OBRIGAÇÕES DE ENTREGA DE


COISA
34
Humberto Theodoro Júnior
69
►Noções de obrigação de dar (entrega de coisa)

A obrigação de dar ou de entrega de coisa, como se refere o CPC, é modalidade de


obrigação positiva, cuja prestação consiste na entrega ao credor de um bem corpóreo, seja para
transferir-lhe a propriedade, seja para ceder-lhe a posse ou, ainda, para restituir-lhe. Em qualquer
das modalidades da obrigação de dar, ocorrido o inadimplemento, cabível se torna a tutela judicial
da execução para entrega da coisa.
Diz-se obrigação de dar ou entregar coisa certa, quando a coisa já está devidamente
individualizada. Já, a obrigação será de dar ou entregar coisa incerta ou genérica, quando a coisa
estiver determinada apenas pelo gênero e quantidade.
Tal como se passa com a obrigação de fazer e não fazer, assim também a obrigação de
entrega de coisa será imediata e específica (ou seja, nos próprios autos da condenação e visando o
adimplemento específico da obrigação), quando fundada em título judicial. Desta forma,
prescinde de processo autônomo e buscará conceder ao credor a tutela específica da obrigação,
somente convertendo-se em perdas e danos nas duas hipóteses referidas no art. 461, §1º.
Ao contrário, porém, do que se dispõe acerca das obrigações de fazer e não fazer não há, no
caso da obrigação de entrega de coisa a previsão de substituir a prestação específica por outra
equivalente. Não sendo localizada a coisa, dar-se-á a conversão em perdas e danos (tutela
substitutiva), como, aliás, dispõe o Código Civil, em seu art. 234, in fine.

►Do procedimento para o cumprimento da sentença da obrigação de entrega de coisa

Condenado o devedor a cumprir obrigação de entrega de coisa, o juiz fixará prazo para o
cumprimento voluntário da obrigação, conforme dispõe o art. 461- A. Não sendo adimplida
voluntariamente a obrigação pelo devedor, expedir-se-á mandado para cumprimento forçado da
sentença.
Este cumprimento forçado se dará, basicamente, através de mandado de busca e apreensão,
em se tratando de coisa móvel, e imissão na posse, se tratando de coisa imóvel. O cumprimento
deste mandado caberá ao oficial de justiça.
Se o cumprimento específico da obrigação de entrega de coisa se tornar impossível, ou seja,
se a busca e apreensão ou a imissão na posse não se efetivarem por perecimento ou até
desaparecimento da coisa, terá lugar a tutela substitutiva, a obrigação será convertida em perdas e
danos (art. 461-A, §3º c/c art. 461, §1º, ambos do CPC).

►Multa e outras medidas de apoio

Em razão do disposto no art. 461-A, §3º, aplica-se também ao cumprimento da obrigação de


entrega de coisa a multa e demais medidas de apoio. Desta forma, também nesta modalidade de
obrigação serão amplamente utilizados os mecanismos de coação e de sub-rogação dispostos nos
§§4º a 6º, do art. 461, do CPC. Assim, toda explicação anterior, referente a multa e demais medidas,
são igualmente aplicadas para o cumprimento da sentença da obrigação de entregar coisa.

►Obrigação de entregar coisa incerta ou genérica

Coisa genérica ou incerta é aquela determinada apenas pelo gênero e quantidade. Para o
cumprimento da sentença da obrigação de entrega de coisa genérica devemos observar o disposto
no art. 461-A, §1º, in verbis: “Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo gênero e
quantidade, o credor a individualizará na petição inicial, se lhe couber a escolha; cabendo ao
devedor escolher, este a entregará individualizada, no prazo fixado pelo juiz”.
Cumpre transcrever aqui o que dispõe o art. 244 do Código Civil: “Nas obrigações
determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não

70
resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a
melhor” (grifo nosso).
Uma vez individualizada a coisa o cumprimento da sentença prosseguirá nos moldes da
entrega de coisa certa, com a expedição de mandado de busca e apreensão.

71
DA EXECUÇÃO PARA A ENTREGA DE COISA

Após sucessivas reformas sofridas pela execução civil, os procedimentos da execução


forçada variam conforme o título a ser executado seja judicial ou extrajudicial. Anteriormente
averiguamos o procedimento do cumprimento da sentença, título judicial, que tenha por base
obrigação para entrega de coisa.
A partir de agora passaremos a analisar o procedimento autônomo da execução para entrega
de coisa, quando fundada em título executivo extrajudicial, que vem disciplinado nos arts. 621 e
seguintes do CPC.

►Entrega de coisa

A execução para entrega de coisa corresponde às obrigações de dar em geral, sendo


indiferente a natureza do direito a efetivar, que tanto pode ser real como pessoal. Compreendem
essa modalidade de execução forçada prestações que costumam ser classificadas em dar, prestar ou
restituir. Diz-se que a prestação é de dar quando incumbe ao devedor entregar o que não é seu,
embora estivesse agindo como dono; de prestar, quando a entrega é de coisa feita pelo devedor,
após a respectiva conclusão; e de restituir, quando o devedor tem a obrigação de devolver ao credor
algo que recebeu deste para posse ou detenção temporária. O objeto da prestação, em tais
obrigações, nem sempre vem completamente individualizado. Por isso, o Código separou em seções
distintas a execução da entrega de coisa certa (art. 621) e a de coisa incerta (ar. 629), já que no
último caso deve-se passar, preliminarmente, por uma fase de individualização da coisa indicada no
título executivo apenas pelo gênero e quantidade35.

►Do Procedimento para Entrega de coisa Certa

“Art. 621. O devedor de obrigação de entrega de coisa certa, constante de título executivo
extrajudicial, será citado para, dentro de 10 (dez) dias, satisfazer a obrigação ou, seguro o juízo (art.
737, II), apresentar embargos.”
A execução será sempre iniciada por provocação do interessado, através de petição inicial.
Deferida a inicial, o devedor será citado para, em dez dias, satisfazer a obrigação, entregando a
coisa prevista no título executivo extrajudicial e, querendo, apresentar embargos no prazo de quinze
dias. Embora o artigo fale em apresentar embargos depois de seguro o juízo, tal hipótese restou
prejudicada após a expedição da Lei 11.382/2006, que revogou expressamente o art. 737. Na nova
sistemática da execução dos títulos extrajudiciais, os embargos, em qualquer das modalidades de
obrigação, independem de penhora, depósito ou caução (art. 736), desta forma a redação deste velho
dispositivo ficou implicitamente derrogada no que diz respeito à segurança do juízo. Infelizmente o
legislador esqueceu-se de completar a obra renovadora, no tocante ao art. 621.
O prazo para entrega da coisa é de dez dias e corre da juntada aos autos do mandado de
citação devidamente cumprido. O prazo para embargos é de quinze dias e também começa a fluir da
data da juntada aos autos do mandado de citação (art. 738).
Citado, o devedor poderá adotar três posturas:
• Entregar a Coisa: “Art. 624. Se o executado entregar a coisa, lavrar-se-á o
respectivo termo e dar-se-á por finda a execução, salvo se esta tiver de prosseguir para o pagamento
de frutos ou ressarcimento de prejuízos”. Se houver sujeição, também, ao pagamento de frutos e
ressarcimento de perdas e danos, o processo prosseguirá sob a forma de execução por quantia certa.
Ocorre que, se o quantum dos frutos ou do ressarcimento dos prejuízos forem ilíquidos terá de ser
procedida, anteriormente, a sua liquidação nos moldes do art. 475-A a 475-H. Entretanto, a
princípio, só seria possível a liquidação de título judicial e havendo iliquidez de título extrajudicial,
a questão seria resolvida via processo de conhecimento. No caso, todavia, de título extrajudicial

35
Humberto Theodoro Júnior.
72
líquido quanto à coisa devida, e cuja execução específica se frustra por ato do devedor, o Código
abre uma exceção e permite a liquidação de seu valor e dos prejuízos sofridos pelo credor em
simples incidente (art. 627, §2º).
• Inércia do devedor: se o executado deixar fluir o prazo de dez dias sem entregar a
coisa ou depositá-la em juízo, será expedido em favor do credor mandado de imissão na posse ou
busca e apreensão, conforme a coisa a ser entregue seja imóvel ou móvel (art.625). Em tal situação
a medida é definitiva se já houver transcorrido o prazo para embargos, sem que o executado o tenha
interposto. Caso o executado tenha manejado embargos do devedor no prazo oportuno e os mesmo
forem julgados procedentes, devolver-se-á a coisa ao executado.
• Depósito da coisa: pode ainda o executado, dentro do prazo de dez dias, depositar a
coisa em juízo, lavrando-se termo nos autos. A principal função do depósito é impedir que o
exeqüente seja imediatamente imitido na posse do bem exeqüendo, colocando-o sob custódia
judicial até que se julguem os embargos do executado. Uma vez, porém, que nem sempre os
embargos terão efeito suspensivo, para que o executado possa, de fato, impedir o exeqüente de se
apoderar, de plano, do objeto da execução, terá que, além de depositá-lo em juízo, obter o
deferimento da eficácia suspensiva a que alude o art. 739-A, §1º.36 Outra finalidade do depósito da
coisa em juízo é impedir a incidência da multa coercitiva eventualmente fixada pelo magistrado no
despacho inicial.

►Efeitos dos embargos

Dispõe o art. 623 que, sendo a coisa depositada pelo executado, como lhe faculta o art. 622,
“o exeqüente não poderá levantá-la antes do julgamento dos embargos”. A regra, no entanto,
justificava-se antes da Lei 11.382/06, pela disposição geral que conferia sempre efeito suspensivo
aos embargos à execução. Com a revogação do art. 737, a regra geral agora é justamente ao
contrário, ou seja, os embargos, de regra, não terão efeito suspensivo. Por conseguinte, o art. 623,
que impede o levantamento da coisa depositada para segurança do juízo, teve o seu alcance
reduzido e somente será aplicado quando o devedor conseguir, excepcionalmente, efeito suspensivo
para os embargos (art. 739, §1º). Em síntese, os embargos à execução para entrega de coisa não
desfrutam, ordinariamente, de efeito suspensivo e, pois, não impedem que o exeqüente, desde logo,
se aposse da coisa objeto da execução. O efeito suspensivo é exceção que depende de expresso
deferimento judicial e que se sujeita aos condicionamentos previstos no §1º do art. 739-A.

►Multa diária e Tutela Substitutiva

“O juiz, ao despachar a inicial, poderá fixar multa por dia de atraso no cumprimento da
obrigação, ficando o respectivo valor sujeito a alteração, caso se revele insuficiente ou excessivo”, é
o que dispõe o art. 621, parágrafo único. A multa prevista aqui é a mesma disciplinada no art. 461,
sendo meio de coerção e não forma de indenizar prejuízo do exeqüente. O que se busca com a
imposição da multa é compelir o devedor ao cumprimento específico da obrigação.
No entanto se tornando inviável o cumprimento específico da obrigação ou caso o credor
assim requeira, será oportunizada ao exeqüente a tutela substitutiva, através do equivalente em
dinheiro da coisa, mais perdas e danos, conforme disciplina do art. 627, caput, do CPC.
Transformando-se a tutela específica da obrigação em tutela substitutiva, também a execução para
entrega de coisa se transformará em execução por quantia certa, seguindo o rito estabelecido nos
arts. 646 e seguintes.
Se assim se fizer necessário, poderá ser apurado o valor da coisa e as perdas e danos por
incidente de liquidação, por arbitramento ou por artigos, conforme a natureza do valor a ser apurado
(art. 627, §§1º e 2º). No entanto, quando se tratar de valor determinado pelo próprio título
exeqüendo ou quando for o caso de mercadorias cotadas em bolsa, caberá ao credor instruir seu
pedido de conversão em execução por quantia certa com a competente memória de cálculo, que

36
Humberto Theodoro Júnior
73
deverá compreender o valor atual da obrigação. Se o devedor discordar do cálculo, impugná-lo-á
em embargos.

►Direito de retenção

O direito de retenção gera a seu titular uma exceção dilatória, por isso eventual direito deve
ser respeitado no curso da execução forçada. Assim, determina o art. 628 que “havendo benfeitorias
indenizáveis feitas na coisa pelo devedor ou por terceiros, de cujo poder ela houver sido tirada, a
liquidação prévia é obrigatória. Se houver saldo em favor do devedor, o credor depositará ao
requerer a entrega da coisa; se houver saldo em favor do credor, este poderá cobrá-lo nos autos do
mesmo processo”.
A movimentação da execução forçada sem o prévio depósito para ressarcir as benfeitorias a
que alude o art. 628 faculta ao devedor a oposição de embargos, nos moldes do art. 745, IV, do
CPC.

►Alienação da coisa devida

“Art. 626. Alienada a coisa quando já litigiosa, expedir-se-á mandado contra o terceiro
adquirente, que somente será ouvido depois de depositá-la”. O caso é de fraude a execução, de
maneira que a transferência do bem se apresenta ineficaz perante o credor (art. 592, I e 593, III). A
responsabilidade executiva do adquirente é limitada exclusivamente à entrega da coisa. Para se
defender, o terceiro poderá manejar embargos de terceiro.

►Do Procedimento para Entrega de coisa Incerta

“Art. 629. Quando a execução recair sobre coisa determinada pelo gênero e quantidade, o
devedor será citado para entregá-la individualizada, se lhe couber a escolha; mas se essa couber ao
credor, este a indicará na petição inicial”. Não se abre um incidente especial para definir a coisa. A
citação é única e a resposta do executado já deve se dar pela entrega ou depósito da coisa escolhida,
no prazo do art. 621, ou seja, dez dias.
Tanto a escolha do devedor quanto a escolha do credor podem ser impugnadas pela parte
contrária nas 48 horas seguintes à manifestação de vontade (art. 630). Os critérios da escolha são os
indicados no art. 244 do Código Civil. A apreciação da impugnação da escolha dever ser sumária,
decidida de plano pelo juiz. Se julgar necessário, poderá valer-se de perito, observando-se o
procedimento normal dos exames periciais (art. 630).
A omissão do executado em efetuar a escolha, quando lhe caiba esse direito, importa em
transferência da faculdade para o credor.
Superada a fase de individualização das coisas genéricas, o procedimento da execução é o
mesmo observado na entrega da coisa certa (art. 631).

DA EXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZER

O procedimento autônomo das obrigações de fazer e não fazer é reservado para a execução
fundada em título extrajudicial. Quando a execução tiver por base título judicial deve-se observar o
determinado no art. 461, do CPC, aplicando-se apenas subsidiariamente o disposto nos arts. 632 e
seguintes (art. 644).
São obrigações de fazer aquelas em que o devedor compromete-se a uma prestação,
consistente em atos ou serviços. A doutrina costuma distinguir entre ela e a obrigação de dar, na
medida em que na obrigação de dar a prestação consiste na entrega de uma coisa, certa ou incerta e,

74
na de fazer, o objeto consiste em ato ou serviço do devedor. Nas obrigações de dar o interesse do
credor está na coisa e nas obrigações de fazer o interesse está voltado para uma conduta do devedor.
Há obrigação de fazer fungível e não fungível (personalíssima). A primeira trata-se de
obrigação que pode ser cumprida por qualquer pessoa, não necessariamente o devedor. A segunda,
aquela que o devedor obrigou-se a, por si, cumprir ou, diante da natureza da prestação, só por ele
pode ser adimplida, uma vez que depende de qualidade pessoal do devedor.

►Da Multa

“Art. 645. Na execução de obrigação de fazer ou não fazer, fundada em título extrajudicial,
o juiz, ao despachar a inicial, fixará multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação e a data a
partir da qual será devida.
Parágrafo único. Se o valor da multa estiver previsto no título, o juiz poderá reduzi-lo se
excessivo.”
A multa a que se refere o artigo 645 é aquela destinada a, como meio de coação, convencer o
devedor ao adimplemento pessoal da obrigação. Embora o usual seja o cálculo diário da multa, o
juiz não está impedido de fixar outra periodicidade para a mesma. O juiz tem poderes também para
rever a multa antes imposta, ampliando ou reduzindo o seu valor, conforme a necessidade da
atividade executiva.
A imposição, bem como a exigibilidade da multa pressupõe ser possível o cumprimento da
obrigação em sua forma originária. Comprovada a impossibilidade da realização da prestação in
natura não terá lugar a exigência da multa coercitiva. Sua finalidade não é de punir, mas de
constranger o devedor ao cumprimento da prestação específica. Se isso for inviável, tem o credor
que contentar-se com o equivalente econômico (tutela substitutiva). No entanto, se essa
inviabilidade for superveniente à imposição da multa diária, a vigência da medida prevalecerá até o
momento do fato que impossibilitou a prestação originária.

►Procedimento das obrigações de fazer fungíveis

A execução terá início mediante pedido do credor, através de petição inicial, onde requererá
a citação do devedor para o adimplemento da prestação. O juiz, ao despachar a inicial, mandará
citar o devedor, fixando prazo para cumprimento da obrigação, se outro prazo não estiver
determinado no título executivo (art. 632). Poderá também fixar multa diária para o caso de
inadimplemento.
Se a prestação for voluntariamente cumprida pelo devedor, no prazo da citação, extinguir-
se-á o processo executivo (art. 794, I), mediante sentença (art. 795).
No entanto, vencido o prazo da citação sem o cumprimento da obrigação pelo devedor,
poderá o credor optar entre (art. 633):
• Pedir a realização da prestação por terceiro, à custa do devedor;
• Reclamar perdas e danos, convertendo a prestação em indenização, hipótese em que o
respectivo valor será apurado em liquidação (art. 475-A a 475-H). Apurado o quantum
debeatur, prosseguirá como execução por quantia certa (art. 633, parágrafo único).

a) Realização da prestação fungível por terceiro

No caso de o devedor não adimplir a obrigação no prazo da citação e a mesma puder ser
prestada por terceiro, pode o juiz, a requerimento do exeqüente, decidir que um estranho realize-a, à
custa do executado (art. 634, caput).
A Lei 11.382/2006 facilitou o cumprimento da obrigação por terceiro, à custa do devedor,
tornando-o teoricamente viável. No sistema anterior, as dificuldades eram de tal ordem que,
praticamente, nunca o credor se valia dele. O custo da prestação do fato era avaliado por um perito e
o juiz mandava expedir edital de concorrência pública para que os interessados em prestar o serviço
formulassem suas propostas. Além de demorado, em conseqüência da avaliação e publicação de
75
editais, o procedimento acabava sendo oneroso em demasia. Pois, se é certo que todas as despesas
eram carreadas ao devedor, ao credor cabia antecipá-las, assumindo o risco de, mais tarde, não
encontrar no patrimônio do devedor bens que permitissem a recuperação de tudo que foi
despendido.
Com a nova lei, não há mais concorrência pública. O juiz, a requerimento do credor,
nomeará terceiro idôneo, que preste o fato às custas do devedor. A escolha do terceiro e as
condições de sua contratação devem partir do exeqüente, que as submeterá ao juiz para autorizar o
início das obras. Ele, o terceiro, apresentará a proposta para a realização dos serviços, a qual o juiz
examinará, depois de ouvir as partes. Para viabilizar a obra, cumpre ao exeqüente adiantar as
quantias previstas na proposta aprovada em juízo.
Desta forma o terceiro apresentará proposta de realização dos serviços, sobre a qual as partes
serão ouvidas e, após, será aprovada pelo juiz. Uma vez aprovada, caberá ao exeqüente adiantar as
despesas ao terceiro (art. 634, parágrafo único).
Realizada a obra, ou prestado o fato, as partes serão ouvidas no prazo de 10 dias, podendo
impugnar o trabalho realizado. Não havendo impugnação ou estando as impugnações resolvidas, o
juiz dará por cumprida a obrigação, pondo fim à execução da obrigação de fazer (art. 635). A
recuperação das importâncias adiantadas pelo exeqüente para custeio da obra dar-se-á com os
acréscimos dos gastos processuais por meio de execução por quantia certa, nos próprios autos.
Havendo impugnação caberá ao juiz decidi-la. Se o terceiro não prestar o fato no prazo, ou
se o praticar de modo incompleto ou defeituoso, poderá o credor requerer ao juiz, no prazo de 10
dias, que o autorize a concluí-lo, ou a repará-lo, por conta do terceiro (art. 636).
Se assim o requerer o credor, o juiz ouvirá o terceiro no prazo de cinco dias e mandará
avaliar o custo das despesas necessárias, condenando-o ao pagamento. Estabelece-se, assim, um
incidente processual com contraditório entre o exeqüente e o terceiro, para cuja solução,
geralmente, o juiz terá de recorrer a uma vistoria. Comprovada a inexecução, total ou parcial,
proceder-se-á a uma perícia para avaliar o custo das despesas a serem efetuadas para a conclusão ou
reparo da obra, condenando o terceiro a pagá-lo.

b) Realização da prestação fungível pelo próprio credor

Dispõe o art. 637: “Se o credor quiser executar, ou mandar executar, sob sua direção e
vigilância, as obras e trabalhos necessários à prestação do fato, terá preferência, em igualdade de
condições de oferta, ao terceiro. Parágrafo único: O direito de preferência será exercido no prazo de
5 (cinco) dias, contados da apresentação da proposta pelo terceiro (art. 634, parágrafo único)”.
Apresentada a proposta pelo terceiro, caberá a preferência ao credor para pessoalmente se
encarregar dos trabalhos, dentro dos termos estabelecidos na referida proposta. Sua manifestação
deverá ocorrer nos cinco dias que se seguem ao depósito da proposta em juízo.
No entanto, o custo da obra nem sempre será integralmente exigível do executado. Isto
somente ocorrerá se o credor já houver pagado (ou de qualquer forma compensado) o preço previsto
no título executivo. Aí, sim, terá direito de realizar a obra inexecutada pelo devedor, devendo haver
a totalidade do custo.
Caso nada tenha pagado, ou apenas tenha realizado pagamento de parte do custo, a execução
haverá de limitar-se à recuperação das parcelas pagas, mais o prejuízo do eventual acréscimo de
custo e das perdas e danos decorrentes do retardamento na conclusão dos trabalhos para chegar ao
cumprimento da obrigação. Nesta hipótese o projeto de execução da obrigação de fazer deverá
especificar que verbas serão recuperadas do devedor e quais as que serão suportadas pelo
exeqüente.
Se as obras não foram sequer iniciadas pelo devedor e o credor não chegou a fazer
desembolso em favor do primeiro, ou apenas o fez em pequenas quantidades, não há praticamente
interesse no processo de execução de fazer. O caminho adequado será da pretensão de perdas e
danos, a desaguar, oportunamente, numa execução por quantia certa.

►Procedimento das obrigações de fazer infungíveis


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Cuida o art. 638 das obrigações infungíveis, isto é, daquelas em que a prestação, por sua
natureza ou convenção, só pode ser prestada pessoalmente pelo devedor. A execução, em tal
hipótese, consiste em assinar um prazo ao devedor para cumprir a obrigação, citando-o para tanto
(art. 638). Se houver recusa ou mora de sua parte, outra solução não há, senão a de converter a
obrigação personalíssima em perdas e danos (art. 638, parágrafo único).
Para Humberto Theodoro Júnior, nesse caso, não tem cabimento a aplicação da multa
cominatória. O próprio direito material determina como sanção aplicável às prestações
personalíssimas, ou infungíveis, a substituição por perdas e danos (art. 247, Código Civil). Ressalta-
se que tal posicionamento não é pacificado na doutrina, sendo que boa partes dos doutrinadores
entendem cabível a aplicação da astreinte, como meio de coação, quando a obrigação de fazer for
infungível.
Se o contrato não previu o valor da indenização em caso de inadimplência, o credor utilizará
o procedimento de liquidação. Uma vez líquido o valor da indenização, a execução forçada tomará
as feições de execução por quantia certa.

►Procedimento das obrigações de não fazer

Não há mora nas obrigações negativas. Se o dever do obrigado é de abstenção, a prática do


ato interdito por si só importa inexecução total da obrigação. Surge para o credor o direito a
desfazer o fato ou de ser indenizado quando os seus efeitos forem irremediáveis.
É assim que dispõe o art. 642: “se o devedor praticou o ato, a cuja abstenção estava obrigado
pela lei ou pelo contrato, o credor requererá ao juiz que lhe assine prazo para desfazê-lo”. Não há
propriamente uma execução da obrigação de não fazer. Com a transgressão do dever de abstenção,
o obrigado criou para si uma obrigação positiva, qual seja, desfazer o fato indébito.
Diante dessa situação, o processo executivo tenderá a uma das duas opções: desfazer o fato à
custa do devedor ou indenizar o credor pelas perdas e danos. No primeiro caso, teremos uma
execução de prestação de fazer e no segundo uma de quantia certa.

14ª Aula

EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR INSOLVENTE37

O Código de Processo Civil, com o nome de execução por quantia certa contra devedor
insolvente, instituiu o concurso universal de credores com feição de verdadeira falência civil. Trata-
se de um juízo universal, com características peculiares, marcado pelos pressupostos básicos da
situação patrimonial deficitária do devedor e da disputa geral de todos os seus credores num só
processo.
Como espécie da execução forçada por quantia certa, subordina-se aos mesmos princípios
fundamentais que lastreiam aquela forma de atuação, quais sejam: a) responsabilidade patrimonial
incidindo sobre bens presentes e futuros do devedor; b) objetivo da execução consistente na
expropriação de bens do devedor para satisfação dos direitos dos credores; c) fundamentação do
processo sempre em título executivo, judicial ou extrajudicial.
Mas a estrutura e os objetivos práticos da execução concursal são bem diversos dos da
execução singular. Enquanto nesta última, o ato expropriatório executivo se inicia pela penhora e se
restringe aos bens estritamente necessários à solução da dívida ajuizada, na executiva universal há
uma arrecadação geral de todos os bens penhoráveis do insolvente para satisfação também da
universalidade dos credores.
No processo executivo concursal todos os bens do devedor comum se integram numa massa
para responder pelo conjunto de créditos, até onde alcance o produto da execução, de modo a
assegurar a observância de regras eqüitativas de distribuição, capazes de evitar que o patrimônio do
37
Extraída da Obra: THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil. v. III. Rio de Janeiro: Forense,
2008.
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insolvente seja dilapidado inútil ou nocivamente, com desigualdade e prejuízo à ordem econômica
geral.

►Pressupostos da execução coletiva

Como pressupostos para proceder-se a execução coletiva, não bastam o título e o


inadimplemento do devedor. Para sua admissibilidade, é necessário que esteja configurado o estado
de insolvência do executado, verificável sempre que “as dívidas excederem à importância dos bens
do devedor” (art. 748). Assim, são três os pressupostos da execução coletiva: o título, o
inadimplemento e a declaração judicial de insolvência, reveladora da situação patrimonial do
devedor de impotência frente às obrigações exigíveis.
Ademais, nem sempre o inadimplemento do devedor será requisito indispensável da
execução coletiva. Como exemplo de situação em que a insolvência pode ser declarada na ausência
de títulos vencidos, podemos arrolar a auto-insolvência, uma vez que é possível o devedor ou seu
espólio requerê-la a todo tempo.
Note-se, outrossim, que mesmo existindo a situação fática da insolvência, não está o credor
obrigado a lançar mão da execução concursal. Assiste-lhe o direito de optar entre os dois remédios
previstos na lei, de sorte que poderá buscar a satisfação de seu crédito tanto com o processo de
execução singular quanto através de um processo de execução concursal.
É claro que a opção vigora apenas enquanto inexistir sentença declaratória do estado de
insolvência do devedor, porquanto esta é de eficácia constitutiva erga omnes, gerando para o
devedor a privação de administração dos próprios bens e para os credores a vinculação obrigatória
ao juízo universal do concurso.
Na verdade, antes da declaração de insolvência não existe execução contra o insolvente,
mas apenas um processo de cognição tendente a verificar a existência ou não da insolvabilidade.
Após a sentença de declaração da insolvência é que se ingressa no campo da execução propriamente
dita, com agressão ao patrimônio do devedor, visando sua partilha entre os credores segundo a força
dos títulos de cada um deles.
Por último, há de atender-se, para a insolvência civil, um requisito de ordem subjetiva: a
qualidade civil do devedor. Isto porque só pode haver a execução coletiva universal regulada pelo
CPC quando o insolvente não for comerciante ou empresário, na linguagem do Código Civil de
2002, onde terá lugar, então, a Lei de Falências.
O art. 786 do CPC estende, ainda, a aplicação deste procedimento para as sociedades civis,
qualquer que seja sua forma. Com a expressão sociedades civis quis o legislador abranger
genericamente todos os entes morais de direito privado não compreendidos no âmbito de incidência
da lei de falências. Dentre estas podem ser citadas as sociedades de prestação de serviços, desde que
não organizadas como empresas, as associações de fins recreativos, culturais, assistenciais ou
religiosos e as fundações de direito privado.

►Efeitos da declaração de insolvência

Da declaração de insolvência decorrem efeitos análogos ao da falência do empresário, que


se fazem sentir objetiva e subjetivamente, tanto para o devedor como para seus credores.
Os efeitos objetivos são o vencimento antecipado de todas as dívidas; a arrecadação de
todos os seus bens penhoráveis, tanto os atuais como aqueles que vierem a ser adquiridos no curso
do processo; e a execução coletiva ou juízo universal do concurso dos credores (art. 751).
Esses efeitos atingem os credores de várias maneiras, merecendo maior destaque a perda de
eficácia das penhoras existentes, pois a força atrativa do juízo universal da insolvência não só
arrasta para seu bojo todas as execuções singulares existentes, como impede que outras sejam
iniciadas.
As próprias execuções em curso são obstadas em seus efeitos porque as penhoras
individuais perdem toda eficácia e privilégio diante da arrecadação geral dos bens do devedor.

78
O maior efeito da declaração de insolvência, porém, é o de caráter subjetivo e que se faz
sentir sobre a pessoa do devedor. Trata-se da perda do direito de administrar os seus bens e dispor
deles, até a liquidação total da massa (art. 752), interdição essa que, na verdade, perdura até a
sentença declaratória de extinção de todas as obrigações do insolvente, conforme esclarece o art.
782.
A situação do insolvente é a mesma do falido. A perda da administração, no entanto, não
pode ser comparada à perda da capacidade ou da personalidade do insolvente, uma vez que
conserva ele a plenitude da aptidão para exercer todos os direitos não patrimoniais e mesmo os de
natureza patrimonial que se refiram a bens não penhoráveis. Nem sequer a arrecadação importa em
perda da propriedade do devedor sobre os bens confiados à gestão do administrador. A perda,
enquanto não ocorre a expropriação executiva final, refere-se apenas e tão-somente à
disponibilidade e administração dos bens.

►Legitimidade

São legitimados para requerer a declaração judicial de insolvência:


I – o devedor ou seu espólio, através do inventariante, conforme arts. 753, II e III, e 759;
II – o credor, munido de título executivo judicial ou extrajudicial (arts. 753, I, e 754).
Apenas o credor quirografário, ou seja, sem garantia real ou privilégio especial está legitimado ao
requerimento. O credor privilegiado poderá pleitear o reconhecimento da insolvência, desde que
renuncie à sua qualidade ou à garantia real.
Não é dado ao juiz declarar de ofício a insolvência, ainda que constate sua ocorrência fática
no curso da execução singular.
Pode ser requerida a declaração de insolvência de qualquer devedor que não seja
comerciante. Se o devedor for casado e o outro cônjuge, assumindo a responsabilidade por dívidas,
não tiver bens próprios que bastem ao pagamento de todos os credores, poderá ser declarada, nos
autos do mesmo processo, a insolvência de ambos (art. 749).
A insolvência conjunta dos cônjuges, todavia, é exceção e não regra, de maneira que,
ordinariamente, apenas o devedor será declarado insolvente e terá os seus bens arrecadados,
provocando uma verdadeira dissolução da comunhão universal, posto que a meação do outro
consorte deverá ser apartada e excluída do processo concursal executivo.
Para obter a exclusão de sua meação da insolvência do marido, a mulher, se não atendida
voluntariamente pelos credores, poderá se valer dos embargos de terceiro (art. 1.046, §3º).

►Competência

O juízo estadual da comarca onde o devedor tem domicílio é competente para apreciar o
pedido de declaração de insolvência e processar a execução universal que lhe segue (art. 94 e 760).
Não prejudica o foro do domicílio do réu, o foro contratual nem o foro de cumprimento da
obrigação, visto que o procedimento de declaração de insolvência não se confunde com a ação de
cobrança, por ter objeto e finalidade diversos.
Uma vez decretada a insolvência, ocorre o mesmo fenômeno que se dá com a falência: o
juízo concursal exerce vis atractiva sobre todas as demais ações patrimoniais contra o insolvente.

►Insolvência requerida pelo credor

Só o credor quirografário é legitimado a requerer a insolvência do devedor.


O credor munido de título executivo tem a faculdade de optar pela execução individual ou
pela execução concursal. Pode escolher a primeira e depois, constatando em seu curso a falta de
bens penhoráveis, requerer (em demanda própria e autônoma) a segunda. E nada o obriga a tanto,
vez que lhe é lícito, nessa hipótese, simplesmente pedir a suspensão da execução singular, com
fundamento no art. 791, III, do CPC, como visto aula passada.

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Caso o credor quirografário opte por ingressar com a execução por quantia certa contra
devedor insolvente, terá de observar os três pressupostos anteriormente abordados: o título
executivo, o inadimplemento e a verificação da insolvência do devedor.
Esse último requisito, todavia, não depende de prova pré-constituída. Sua apuração pode ser
feita na fase de cognição, dentro da própria ação de insolvência civil.
Com relação à insolvência existem duas situações reconhecidas pelo Código: a real,
apurável pelo efetivo balanço patrimonial (art. 748) e a presumida, que se apóia em situações
concretas que façam induzir a impotência patrimonial do devedor para satisfazer a totalidade dos
credores, como é o caso do executado, com bens penhorados, que não disponha de outros bens
livres para nova penhora (art. 750, I).
Somente no caso de insolvência presumida é que tem o credor condições de demonstrar
initio litis a situação patrimonial deficitária do devedor, mas o Código não restringe a decretação de
insolvência aos casos em que esta se presume.
Daí ter o Código instituído um juízo de conhecimento prévio, onde, a fim de verificar se o
devedor é ou não insolvente, se está examinando uma das condições da ação no processo de
insolvência.
Por não ser a insolvência civil incidente da execução singular, mas processo autônomo e
diverso, inadmissível é exigir-se que o credor primeiro promova a execução singular para
comprovar a inexistência de bens livres a penhorar e só depois requeira a execução coletiva. A falta
de bens livres é presunção de insolvência, mas nunca requisito ou pressuposto obrigatório da
declaração de insolvência no regime do CPC.
O CPC estabelece ainda outra hipótese de presunção relativa de insolvência do devedor,
qual seja, quando forem arrestados bens do devedor com base no art. 813, I a III (art. 750, II).

Procedimento
O procedimento da insolvência, quando promovida pelo credor, tem início com a peça
inicial de requerimento da declaração de insolvência, instruída com o título executivo, judicial ou
extrajudicial líquido, certo e exigível (art. 754), na qual narrará os fatos pelos quais reputa estar
diretamente caracterizado o estado de insolvência ou os elementos indiciários que levem a esse
resultado.
Após, o devedor será citado, podendo opor embargos em 10 (dez) dias, segundo o art. 755.
“Em se tratando de procedimento de cognição, melhor teria sido qualificar a resposta do réu, in
casu, como contestação, posto que embargos representam, tecnicamente, ação cognitiva do devedor
ou terceiro incidentemente instaurada no curso da execução. A opção do legislador, no entanto, pela
defesa através de embargos simplifica o problema do ônus da prova. Assim, sendo o devedor o
autor da ação de embargos, a ela caberá o ônus da prova sempre que se opuser à pretensão do
credor, mediante afirmação de ser superavitário o seu patrimônio”.
Cumprida a citação poderão ocorrer cinco situações diferentes, a saber:
I – o devedor paga a dívida em que se baseia o promovente, o que, além de demonstrar sua
solvabilidade, importa em extinção da execução no próprio nascedouro (art. 794, I);
II – o devedor silencia-se, deixando de opor embargos no prazo legal, caso em que o juiz proferirá,
em dez dias, sentença (art. 755, segunda parte) com base na revelia, declarando a insolvência;
III – o devedor formula embargos, visando o não pagamento da dívida, caso em que poderá manejar
a matéria cabível nos embargos comuns do devedor solvente (arts. 741, 742, 745 e 756, I);
IV – o devedor opõe embargos apenas para provar que seu passivo é menor do que o seu ativo,
procurando ilidir o pedido demonstrando sua solvabilidade (art. 756, II);
V – no prazo de embargos, o devedor pode, ainda, depositar a importância do crédito do requerente,
para discutir-lhe a legitimidade ou o valor, caso em que a insolvência já estará, desde logo, ilidida
(art. 757). Com o depósito prévio terá o devedor evidenciado seu estado de solvência, de maneira
que, qualquer que seja o resultado dos embargos, não será mais possível a decretação da
insolvência. Trata-se de depósito pro solvendo.
Em todos os casos de embargos o juiz tem dez dias para sentenciar, desde que não se faça
necessária produção de provas (art. 758, 1ª parte), circunstância que ocorre quando a discussão gira
80
em torno apenas de questões de direito ou quando a prova documental existente é suficiente para
formar a convicção do julgador.
Havendo, contudo, necessidade de outras provas, o juiz designará audiência de instrução e
julgamento, com as formalidades do procedimento ordinário (art. 758, 2ª parte).
Da sentença que decide os embargos, caberá recurso de apelação.

►Insolvência requerida pelo devedor ou seu espólio

Inexiste para o devedor civil a obrigação de promover a própria insolvência. O devedor ou


seu espólio tem apenas a faculdade de requerer a auto-insolvência, segundo se depreende do art.
759, onde se lê que “é lícito ao devedor ou seu espólio, a todo tempo, requerer a declaração de
insolvência”.
Deve a petição inicial conter, além dos requisitos comuns, mais os seguintes dados,
conforme orientação do art. 760:
“I – a relação nominal de todos os credores, com a indicação do domicílio de cada um, bem
como da importância e da natureza dos respectivos créditos;
II – a individuação de todos os bens, com a estimativa do valor de cada um;
III – o relatório do estado patrimonial, com a exposição das causas que determinaram a
insolvência.”
Em se tratando de uma confissão de insolvência é preciso, como se vê, que a petição inicial
do devedor contenha todos os elementos caracterizadores de seu estado patrimonial deficitário. Pois
será com base nela que a sentença declaratória de insolvência será proferida (art. 761).
Segundo a doutrina majoritária, quando a declaração de insolvência é requerida pelo
devedor ou seu espólio, há procedimento de jurisdição voluntária, uma vez que, nesse caso, não
existe contraditório entre duas partes antagonicamente colocadas. O órgão judicial é convocado a
desempenhar uma função administrativa.
A conceituação da auto-insolvência como um procedimento de jurisdição voluntária tem a
relevante conseqüência de permitir a anulação da sentença que a decretar irregularmente por meio
de ação ordinária, dispensando-se a rescisória, pois os atos de jurisdição voluntária ou graciosa,
como não produzem a coisa julgada, não podem ser objeto de ação rescisória.

►Sentença declaratória de insolvência

Tal como ocorre no processo falimentar, a execução do devedor insolvente compreende


duas fases: uma inicial, tendente à verificação do estado de insolvência do devedor, e uma
subseqüente em que são executados seus bens para saldar os créditos concorrentes.
Por isso, na primeira fase do processo de insolvência não se pode, ainda, falar em execução
forçada, pois a atividade jurisdicional desenvolvida é tipicamente de cognição, encontrando
culminância na sentença que declara, ou não, o estado de insolvência do devedor.
Se não se prova o déficit patrimonial, a demanda será rejeitada por improcedência e a
sentença terá natureza de decisão declaratória negativa.
Acolhido o pedido do credor ou do próprio devedor, ou ainda de seu espólio, o juiz proferirá
sentença, encerrando a fase preliminar ou de cognição do processo de insolvência.
Essa sentença, embora tenha a função evidente de declarar um estado de fato do devedor (a
insuficiência patrimonial para cobrir todas as dívidas), reveste-se, também de preponderante
eficácia constitutiva, criando uma situação jurídica nova para o devedor e para os credores.
Basta dizer que, por força da sentença de insolvência, o devedor perde a administração e
disponibilidade dos bens e que os credores perdem os privilégios decorrentes de penhoras anteriores
e são arrastados pela força atrativa do concurso universal.
Assim, se o pedido é acolhido, com o reconhecimento da insolvência, a sentença terá,
segundo o melhor entendimento, força constitutiva, donde nascerá o processo de execução coletiva
do insolvente.

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Na sentença, o juiz, ao declarar a insolvência, nomeará, dentre os maiores credores, um
administrador da massa e mandará expedir edital38, convocando todos os credores para que
apresentem, no prazo de 20 dias, a declaração de crédito acompanhada do respectivo título (art.
761).
A universalidade do juízo da insolvência atrai para seu âmbito todos os credores do
insolvente, sejam privilegiados ou quirografários (art. 762). A execução é coletiva e concursal.
Excetuam-se unicamente os créditos fiscais, que não se sujeitam ao juízo universal por expressa
disposição de lei (CTN, art. 187), mas que devem, contudo, ser reclamados perante o administrador
da massa e não em face do devedor insolvente.
Todas a execuções individuais serão remetidas para o juízo comum da insolvência (art. 762,
§1º). As penhoras perdem a eficácia e os exeqüentes os privilégios de ordem de penhora. As
execuções são neutralizadas, cessando os respectivos cursos, salvo apenas no caso de existir hasta
pública já designada, quando, então, a alienação pública será realizada, mas o produto obtido com a
venda não beneficiará mais o exeqüente singular, visto que entrará para a massa (art. 762, §2º).

►Administrador da massa

Na sentença que declarar a insolvência, o juiz nomeará, dentre os maiores credores, um


administrador da massa. Trata-se de auxiliar do juízo, que responderá pelos atos de gestão da massa,
sob a superintendência e direção do magistrado (art. 763).
Feita a nomeação na sentença, o escrivão o intimará para assinar, em 24 horas, o termo de
compromisso de desempenhar adequadamente o cargo (art. 764). Nessa mesma ocasião, o
credor/administrador já entregará sua declaração de crédito, acompanhada do respectivo título
executivo. Se ainda não a tiver nesse momento, poderá apresentá-la no prazo concedido aos demais
credores, ou seja, 20 dias.
O administrador da massa tem a incumbência de – art. 766:
I – arrecadar todos os bens do devedor, adotando todas as medidas judiciais necessárias, como
busca e apreensão, arresto, seqüestro, etc;
II – representar a massa em juízo, inclusive contratando advogado;
III – praticar os atos necessários à conservação dos direitos e ações do devedor, bem como
promover a cobrança de créditos que este possua;
IV – alienar em praça ou leilão, com prévia autorização do juiz, os bens da massa. A lei não fixa o
momento exato para a expropriação dos bens, cabendo ao administrador e ao juiz, conforme o caso
concreto, definirem-no.
O administrador faz jus à remuneração, a ser arbitrada pelo juiz, tomando em conta as
dimensões do trabalho que terá de desempenhar (art. 767).

►Verificação e classificação dos créditos. Credores retardatários e sem título executivo.


Quadro Geral de credores

Só a Fazenda Pública não está obrigada a declarar sua dívida ativa na insolvência (art. 187,
CTN). Isto quer dizer que, a qualquer momento, a Fazenda Pública poderá promover execução
contra a massa e penhorar tantos bens quantos bastem ao pagamento da dívida. Querendo, porém,
pode habilitar-se, com a preferência que lhe e peculiar.
Todos os demais credores que detenham título executivo terão de se habilitar, apresentando
tal documento, no prazo de 20 dias, contados da primeira publicação do edital (art. 761, II).
Findo o prazo de vinte dias, o escrivão, dentro de cinco dias, ordenará todas as declarações,
autuando-as individualmente com o respectivo título. Em seguida, todos os credores serão
intimados por edital, para, no prazo comum de vinte dias, alegarem suas preferências, se já não o
fizeram, e ainda impugnarem os créditos de outros credores.

38
Art. 786-A. Os editais referidos neste Título também serão publicados, quando for o caso, nos órgãos oficiais dos
Estados em que o devedor tenha filiais ou representantes.
82
A impugnação poderá ser a mais ampla possível (art. 768), podendo o impugnante alegar
nulidade da dívida, do título ou da preferência. Poderá também alegar simulação, fraude, etc.
O devedor, sem necessidade de intimação pessoal, pode também, no mesmo prazo, fazer sua
impugnação.
As impugnações são feitas, separadamente, em cada habilitação e decididas por sentença
individual. Quando for necessária a produção de provas orais, o juiz designará audiência de
instrução e julgamento. A impugnação é sempre julgada por sentença, contra a qual cabe recurso de
apelação, recebido no duplo efeito.
Não havendo impugnações, ou estando estas decididas, o contador organizará o quadro
geral de credores. Concorrendo apenas credores quirografários, isto é, credores sem garantia ou
privilégio, o quadro é organizado pelo contador que os relacionará em ordem alfabética (art. 769),
sendo o pagamento feito na proporção do crédito de cada um, em igualdade de condições.
No entanto, havendo concorrência de créditos preferenciais e privilegiados, o quadro se
organizará na seguinte ordem, para os respectivos pagamentos39:
a) créditos trabalhistas, inclusive créditos referentes a acidente do trabalho (art. 449, §1º,
Lei n. 6.449/77e art. 83, I, da Lei de Falências);
b) créditos relativos à massa, o que é previsto na Lei de Falências (art. 84). São encargos e
dívidas, decorrentes da própria administração da massa, como custas e remuneração do
administrador, contraídas em razão da continuação dos negócios;
c) créditos com garantia real (art. 961, d, do CC) – hipoteca, penhor e anticrese;
d) créditos com privilégio especial (art. 964, I a VIII, do CC e art. 83, IV da Lei de
Falências);
e) créditos com privilégio geral (art. 965, I, III a V e VII do CC e art. 83, V da Lei de
Falências);
f) credores quirografários, que receberam por rateio, em igualdade de condições, na
proporção de cada um.
Os créditos tributários (imposto, taxa, contribuição de melhoria, contribuições sindicais e
previdenciárias) e os não-tributários da Fazenda Pública, como seria a hipótese de dívidas
representadas por títulos de crédito (LEF, art. 4º, §4º), não estão sujeitos à habilitação e, excluído o
crédito trabalhista, gozam de preferência sobre os demais, ou seja, no quadro acima estariam
incluídos na letra “b”. Havendo concurso de preferências entre órgãos da Fazenda Pública, os
créditos da União e Autarquias preferem os dos Estados, Distrito Federal e, por último, os
Municípios (art. 187, CTN).
O quadro geral de credores poderá ser feito antes ou depois da alienação dos bens do
devedor. Quando confeccionado depois da alienação, o contador, indicará a porcentagem que
caberá a cada credor no rateio, estabelecendo também as preferências e privilégios de cada um, se
houver. Se elaborado antes da alienação dos bens do insolvente, o quadro é feito relacionando
apenas as preferências e privilégios, bem como a importância de cada crédito.
Organizado o quadro geral de credores, dele se dará vista em cartório, pelo prazo de 10 dias,
a todos os interessados (art. 771). A seguir, o juiz proferirá sentença, aprovando-o como está ou
com retificações. Trata-se de sentença de cunho declaratório, já que objetiva apenas observar a
regularidade dos lançamentos de acordo com o que já está assentado nas respectivas habilitações.
O credor retardatário (que perder o prazo de 20 dias para habilitação do crédito) poderá
acionar a massa antes do rateio final, visando a cobrança do que lhe é devido, mas terá de fazê-lo
através de processo à parte, fora da execução, observado o procedimento comum ordinário ou
sumário. Se ação for julgada procedente antes do rateio, neste o seu crédito será incluído. Em caso
contrário, o credor arcará com os prejuízos de sua desatenção (art. 784). Da mesma forma ocorrerá
com o credor sem título executivo.
Registre-se que há posicionamento doutrinário diverso, no sentido que, mesmo após o rateio
final, o credor retardatário ou sem título, que obtiver seu direito reconhecido na via ordinária,

39
DOS SANTOS, Ernane Fidélis. Manual de Direito Processual Civil. v. 2. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 240.
83
através de sentença, deverá ser incluído no rateio, com o retorno ao estado anterior, podendo
inclusive reclamar daqueles que já foram aquinhoados. Novo quadro deveria ser organizado40.

►Pagamento aos credores. Saldo devedor. Extinção das obrigações

Se os bens do insolvente ainda não tiverem sido alienados judicialmente, sua hasta ocorrerá
após a sentença de verificação e classificação dos créditos (art. 773). A hasta pública realizar-se-á
com observância das regras ordinárias das arrematações, previstas nos arts. 686 a 707 do CPC.
Feita a alienação judicial, o produto apurado será utilizado para efetuar o pagamento dos
credores, na ordem fixada no quadro geral de credores.
Não sendo possível o pagamento de todos os credores, o devedor permanece obrigado pelo
saldo, respondendo todos os bens penhoráveis que adquira até que lhe seja declarada a extinção das
obrigações (art. 774 e 775). Tal arrecadação superveniente poderá ser pleiteada por qualquer credor
e ocorrerá, assim como a expropriação, nos autos do mesmo processo, sendo o produto da alienação
distribuído, observando-se a ordem legal dos credores (art. 776).
Em cinco anos, contados do trânsito em julgado da sentença de encerramento do processo
de insolvência, consideram-se extintas todas as obrigações do devedor. Tal extinção abrange todos
os créditos (art. 778), inclusive os que poderiam ter participado do concurso, mas nele não foram
incluídos.
O dies a quo da contagem deste prazo é, portanto, o trânsito em julgado da sentença
proferida após o pagamento dos credores concorrentes com o produto apurado na arrematação dos
bens arrecadados.
Com a instauração do concurso universal de credores, interrompe-se a prescrição de todas
as obrigações do insolvente. Só a partir do trânsito em julgado da sentença de encerramento é que se
reinicia a fluência do prazo prescricional (art. 777), com referência aos saldos insatisfeitos na
execução.
Esses prazos são variáveis, conforme a natureza do título de cada credor e decorrem de
disposições do direito material. Mas, ultrapassado o prazo de cinco anos da referida sentença, haja
ou não verificado a prescrição de direito material, todas as obrigações do devedor insolvente serão
consideradas extintas (art. 778). Esse prazo é decadencial, ou fatal, de modo que não admite nem
suspensão nem interrupção, preterindo qualquer outro mais longo previsto de maneira específica
para o crédito de algum concorrente à execução.
A extinção alcança todos os créditos que concorreram no processo de insolvência,
privilegiados ou não, e também aqueles outros que tinham condições de concorrer mas não foram
habilitados pelos interessados. A extinção no caso é direito inconteste do devedor, e resulta do
simples decurso do prazo legal, mas depende de declaração judicial para operar seus efeitos
jurídicos (art. 782). Desta forma, não caberá ao juiz declará-la de ofício, cabendo ao devedor requer
ao juiz da insolvência a extinção de suas obrigações.
O pedido de extinção, de ordinário, será fundado no transcurso do prazo decadencial de
cinco anos previstos no art. 778; mas não é esse o único fundamento invocável, pois as obrigações
podem extinguir-se em prazo prescricional menor, ou mediante resgate integral antes do termo
questionado. Nessas hipóteses especiais, o pedido poderá ser feito antes dos cinco anos.
Feito o requerimento pelo devedor, o juiz mandará publicar edital, com o prazo de 30 dias
(art. 779), abrindo a oportunidade a qualquer credor de opor-se à extinção (art. 780). Na oposição, o
credor poderá alegar que ainda não decorreu o prazo de cinco anos ou que o devedor adquiriu novos
bens penhoráveis (art. 780, I e II). O incidente será processado sumariamente: o juiz ouvirá o
devedor sobre a impugnação, em dez dias, e decidirá de plano. Somente quando houver necessidade
de produção de provas é que designará audiência de instrução e julgamento (art. 781).
A sentença que declarar extintas as obrigações será publicada por edital, ficando o devedor
habilitado a praticar todos os atos da vida civil (art. 782).

►Concordata civil suspensiva. Pensão para o insolvente


40
DOS SANTOS, Ernane Fidélis, op. cit. p. 242.
84
O art. 783 regula hipótese parcialmente assimilável à antiga concordata suspensiva do
direito falimentar. O devedor insolvente poderá, depois da aprovação do quadro geral, acordar com
seus credores, propondo-lhes forma de pagamento de suas dívidas.
Apresentada a proposta de liquidação, o juiz ouvirá todos os credores habilitados,
assinando-lhes prazo razoável para pronunciamento. Se não houver oposição, o juiz aprovará a
proposta por sentença (art. 783).
A sentença de aprovação da concordata na insolvência é homologatória apenas, de sorte que
não extingue, por si só, as obrigações do devedor, nem elimina a possibilidade de ser restabelecida a
execução, caso haja o descumprimento do acordo. Provoca, portanto, apenas a suspensão da
execução coletiva.
Por fim, o art. 785 estabelece que: “o devedor, que caiu em estado de insolvência sem culpa
sua, pode requerer ao juiz, se a massa o comportar, que lhe arbitre uma pensão, até a alienação dos
bens”. Os credores serão ouvidos sobre o pedido. Poderão impugnar, apontando que a massa não
comporta pagamento de tal verba ou que a insolvência deu-se por culpa do devedor. Em qualquer
caso, caberá ao juiz decidir (art. 785).

1) Havendo concurso de pretendes na adjudicação, algumas preferências legais estão


disciplinadas na legislação e deverão ser observadas pelo juízo da execução na licitação. Com
base nas situações a seguir, você, sendo o juiz da execução, promoveria a adjudicação do bem
penhorado em favor de qual dos pretendentes?

a) Bem penhorado: um apartamento hipotecado em favor da Caixa Econômica Federal;


Avaliação do bem penhorado: R$ 230.000,00 (Duzentos e trinta mil reais); Pretendentes a
adjudicação e valor da oferta: Exequente – R$ 230.000,00 (Duzentos e trinta mil reais); Credor
com garantia hipotecária – R$ 230.000,00 (Duzentos e trinta mil reais); Esposa do executado – R$
230.000,00 (Duzentos e trinta mil reais); Filho do executado – R$ 230.000,00 (Duzentos e trinta
mil reais). Todos os pretendentes estão legitimados à adjudicação? Em favor de qual dos
legitimados a adjudicação será deferida? (1,0)

b) Bem penhorado: 25% das cotas sociais da Empresa X-Virtual, da qual o executado é sócio;
Avaliação do bem penhorado: R$ 60.000,00 (sessenta mil reais); Pretendentes a adjudicação
e valor da oferta: Exequente – R$ 60.000, (sessenta mil reais); Esposa do executado – R$
60.000,00 (sessenta mil reais); Sócio da empresa – R$ 60.000,00 (sessenta mil reais); Credor que
penhorou o mesmo bem em outro processo – R$ 62.000,00 (sessenta e dois mil reais). Todos os
pretendentes estão legitimados à adjudicação? Em favor de qual dos legitimados a adjudicação
será deferida? (1,0)

c) Bem penhorado: um automóvel; Avaliação do bem penhorado: R$ 35.000,00 (trinta e cinco


mil reais); Pretendentes a adjudicação e valor da oferta: Exequente – R$ 35.000,00 (trinta e
cinco mil reais); Esposa do executado – R$ 30.000,00 (trinta mil reais); Filho do executado – R$
35.000,00 (trinta e cinco mil reais). Todos os pretendentes estão legitimados à adjudicação? Em
favor de qual dos legitimados a adjudicação será deferida? (1,0)

2) É cabível a fixação de honorários advocatícios na fase de cumprimento da sentença de


obrigação por quantia certa (art. 475-J)? Justifique sua resposta. (1,0)

3) Paulo moveu execução por quantia certa contra devedor solvente em face de João, a fim de
buscar o adimplemento forçado de uma nota promissória no valor líquido, certo e exigível de R$
56.000,00 (cinqüenta e seis mil reais). No momento oportuno a penhora recaiu sobre o único bem
passível de penhora do executado, um imóvel urbano, o qual foi avaliado em R$ 163.000,00

85
(cento e sessenta e três mil reais), tendo as partes concordado expressamente com a avaliação
realizada pelo Oficial de Justiça. Tal imóvel encontra-se hipotecado junto ao Banco do Brasil.
Ademais, o imóvel já se encontra anteriormente penhorado em outra execução por quantia certa,
movida por Feliciano em face de João, a qual está suspensa aguardando o julgamento dos
embargos à execução. Levado o bem a hasta pública, houve a arrematação pelo preço de R$
150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais). Na fase reservada ao pagamento do credor, havendo
concorrência de credores sobre o produto dos bens expropriados, explique de qual maneira será
feito o pagamento dos credores. (1,0)

4) Sobre cumprimento da sentença por quantia certa, assinale a alternativa correta : (1,0)
I - Quando a natureza da obrigação for quantia certa reconhecida em título executivo judicial, o
cumprimento da sentença dar-se-á de acordo com o art. 475-J, usando apenas subsidiariamente
os dispositivos concernentes ao Livro II do Código de Processo Civil.
II – O devedor terá quinze dias para cumprir espontaneamente a obrigação de pagar quantia
fixada na sentença, sob pena de incidência de multa no valor de 10% sobre o montante da
condenação.
III – Diverge a doutrina acerca do termo inicial dos 15 dias para pagamento voluntário do débito
reconhecido na sentença, sendo preponderante o entendimento no qual se dispensa nova
intimação do executado neste sentido, passando a fluir o prazo a partir do momento em que a
sentença for exigível.
IV – No cumprimento de sentença relativa à obrigação por quantia certa, o executado poderá
oferecer impugnação, no prazo de 15 dias. A impugnação é mecanismo de defesa do executado e
será sempre resolvida por meio de sentença.

a) Todas as assertivas estão corretas;


b) Apenas as assertivas I, II e III estão corretas;
c) Apenas as assertivas II e III estão corretas;
d) Apenas as assertivas I e II estão corretas;

5) Acerca da execução contra a Fazenda Pública, assinale a alternativa incorreta: (1,0)


a) A execução contra a Fazenda Pública é modalidade de execução por quantia certa, em que
figura no pólo passivo da demanda pessoa jurídica de direito público (Fazenda Pública).
b) O rito especial para execução de crédito contra a Fazenda Pública justifica-se em razão da
impenhorabilidade dos bens da Fazenda, em virtude de sua natureza pública, bem como prever a
Constituição Federal, em seu art. 100, a forma de pagamento dos créditos devidos pela Fazenda.
c) Com relação ao procedimento, a Fazenda Pública será citada para opor embargos no prazo
legal. Tal prazo, conforme previsto no art. 730 é de 10 dias. No entanto, a lei 9494/97, em seu art.
1º-B, alterou o prazo do caput do art. 730, ampliando-o para 30 dias.
d) O precatório é a forma por excelência da Fazenda Pública efetuar o pagamento dos créditos
devidos. No entanto, o art. 100, §3º da CF/88 dispensa o precatório para pagamentos de
obrigações definidas em lei como de pequeno valor, assim entendidas aquelas inferiores a 60
salários mínimos.

6) Acerca da execução de prestação alimentícia, assinale a alternativa incorreta: (1,0)


a) Em se tratando de adimplemento de prestação alimentícia é possível a utilização de quatro
técnicas executivas, quais sejam: penhora de bens, prisão civil, desconto em folha de pagamento
e desconto em rendas.
b) No rito previsto no art. 733, caso o executado deixar de pagar, provar que já pagou ou justificar
a impossibilidade do pagamento no prazo de três dias da citação, o juiz decretar-lhe-á a prisão
civil de 01 a 03 meses.
c) Somente autorizam a prisão civil do devedor de alimentos as três últimas prestações que se
venceram imediatamente antes do ajuizamento da ação, conforme Súmula 309 do STJ.
d) Há celeuma doutrinária e jurisprudencial acerca da aplicação do rito do art. 475-J à cobrança de
prestações alimentícias reconhecidas em decisões judiciais. Em sendo aplicado tal rito, no caso
do art. 732, o devedor terá quinze dias para adimplir com a prestação em atraso sob pena de
86
multa de 10% a ser acrescida no montante do débito e expedição de mandado de penhora de
bens.
7) Assinale a alternativa correta: (1,0)
a) Em primeira praça ou leilão, o bem somente poderá ser vendido por valor não inferior ao da
avaliação. No entanto, em segunda hasta, o bem poderá ser vendido por qualquer preço, desde
que não seja vil.
b) A verba honorária, fixada no despacho inicial nas execuções por quantia certa contra devedor
solvente, será reduzida pela metade caso o devedor efetue o parcelamento do débito, no prazo de
quinze dias da juntada aos autos do mandado de citação (art. 745-A).
c) Não é possível de acordo com o Código de Processo Civil, a penhora de créditos do executado,
como por exemplo, um cheque ou uma nota promissório na qual o executado é o credor a
obrigação.
d) A hasta pública será sempre precedida de editais que serão publicados em jornal de ampla
circulação local e afixados no local de costume, não havendo previsão legal de dispensa da
publicação dos mesmos.

8) Assinale a alternativa correta: (1,0)


a) O executado, o credor com garantia real, pignoratícia ou hipotecária e o usufrutuário serão
intimados pessoalmente acerca das datas designadas para realização da hasta pública, sob pena
de se tornar sem efeito a arrematação eventualmente realizada.
b) A prisão civil do depositário infiel, embora divergência existente, está amparada na Constituição
Federal e no próprio CPC. No caso de depósito decorrente de penhora, a prisão do depositário
infiel não será decretada nos próprios autos da execução, dependendo de ação autônoma de
depósito, prevista no art. 904 do CPC.
c) Após a reforma da lei 11.382/06 a adjudicação é modalidade preferencial de expropriação de
bens do executado, sendo lícito ao exeqüente, ao credor com garantia real, aos credores
concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, assim como ao cônjuge, descendente e
ascendente do executado requerer a adjudicação, oferecendo preço não inferior ao da avaliação.
d) Quando a penhora de bens recai sobre imóvel do executado é prescindível a intimação do seu
cônjuge.

ANEXOS
FRAUDE CONTRA CREDORES E FRAUDE À EXECUÇÃO – por Luiz Rodrigues
Wambier41

“a) Fraude contra credores consiste em ato de disposição de bens orientado pela vontade e
consciência de prejudicar credores, na medida em que provoca a insolvência do disponente,
diminuindo seu patrimônio de forma a impedir a satisfação do crédito (CC/2002, arts. 158 a 165).
São requisitos da fraude contra credores:

(I) objetivo: o eventus damni, caracterizado pela insolvência do disponente devedor;


(II) subjetivo: o consilium fraudis, que é a intenção fraudulenta, a fraude bilateral (tanto do
disponente devedor quanto do adquirente).
O instrumento a ser utilizado pelos prejudicados, a fim de combater os efeitos dessa
fraude, é a ação pauliana (CC/2002, arts. 158 a 165, especialmente o art. 161), processável
pelo rito comum do processo de conhecimento e com natureza constitutiva: sua eficácia
desconstitui a eficácia do ato fraudulento. O efeito principal da ação pauliana é o de permitir
que a execução recaia sobre bens fraudulentamente alienados, apesar de estes se
41
WAMBIER, Luiz Rodrigues (Coord.) Curso avançado de processo civil v. 2. 10. ed. São Paulo: RT, 2008. p.136-
138.
87
encontrarem no patrimônio do terceiro adquirente. Para parte da doutrina, com a
procedência da ação pauliana haveria a anulação do negócio como um todo; outros
sustentam que o negócio continuará existindo, apenas deixando de ser eficaz perante o
processo executivo do credor que promoveu a ação (tal como acontece na fraude à execução
– a seguir examinada).
b) Já a fraude à execução consiste em ato de ainda maior gravidade: acarreta dano aos
credores e atenta contra o eficaz desenvolvimento da atividade jurisdicional.
Por isso, recebe resposta ainda mais enérgica da ordem jurídica. Seu ataque dispensa
manejo de ação especificamente destinada ao desfazimento dos efeitos prejudiciais da alienação ou
oneração. A lei simplesmente nega reconhecimento ao ato, perante a execução fraudada. Verificada
– no curso da execução – a fraude, os bens que dela foram objeto poderão ser desde logo atingidos
pela constrição executiva, independentemente de provimento desconstitutivo da eficácia do ato
fraudulento. Nisso há essencial diferença em relação à fraude contra credores, em que o bem
alienado só será submetido à execução contra o disponente devedor quando for bem sucedida a ação
pauliana.
A fraude à execução está, inclusive, tipificada como crime (CP, art. 179).
Nos termos do art. 593, “considera-se em fraude de execução a alienação ou oneração de
bens: I – quando sobre eles pender ação fundada em direito real; II – quando, ao tempo da alienação
ou oneração, corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo à insolvência; III – nos demais
casos expressos em lei”.
Não se põe como requisito da fraude à execução a intenção de prejudicar credores
(consilium fraudis). Basta: (I) no caso do art. 593, I, a pendência da demanda fundada em direito
real (o que se tem com a citação do réu); (II) na hipótese do art. 593, II, a pendência da demanda e
que a alienação ou oneração efetivada reduzam o devedor à insolvência. Em ambos os casos, para
que haja a fraude à execução, não é preciso que já esteja em curso a execução: é suficiente que
esteja pendente ação de conhecimento.
Embora seja desnecessária a intenção fraudulenta, há clara orientação na
jurisprudência (especialmente no STJ) no sentido de reputar imprescindível a ciência, pelo
adquirente, da demanda fundada em direito real ou capaz de reduzir o devedor à
insolvência. Ainda de acordo com esse entendimento, quando levada a registro público a
pendência da demanda (exemplo: Lei 6.015/73, art. 167, I, 21), estabelece-se presunção
absoluta de sua ciência pelo adquirente. Caso contrário, é ônus do credor provar que o
adquirente sabia da existência da ação. É nesse contexto que se insere o art. 615-A,
acrescido ao Código pela Lei 11.382/2006. O exeqüente tem a faculdade (e o ônus) de
averbar a pendência da execução nos registros de bens penhoráveis do devedor ou de
terceiro responsável (registro imobiliário, registro de veículos etc). Depois de penhorados na
execução bens em valor suficiente para cobrir a dívida, devem ser canceladas as averbações
relativas aos bens que não foram penhorados (art. 615-A, §2º). Havendo a averbação da
litispendência executiva no registro do bem, o terceiro que o adquire depois disso não
poderá alegar ignorância da existência da execução contra o alienante. Há uma presunção
absoluta de ciência da demanda, propiciada pelo registro público. Portanto, esse requisito
para a configuração da fraude à execução estará caracterizado, cabendo apenas verificar a
presença dos demais. É nesse sentido que se deve interpretar o art. 615-A, §3º (“Presume-se
em fraude à execução a alienação ou oneração de bens efetuada após a averbação [art.
593]”).
Declarada fraudulenta a operação, o adquirente poderá se valer de embargos de terceiro para
defender suas razões.
c) Não existe regra cominando, expressamente sanção à alienação pelo devedor de bem que já esteja
penhorado. Trata-se de vício ainda mais grave: há atentado contra ato jurisdicional específico e
individualizado.

88
Aplicam-se-lhe analogicamente as regras sobre fraude à execução: a partir da penhora, recai sobre o
bem constrição tal que é ineficaz perante a execução sua posterior alienação pelo devedor.
Nesse caso, bastará a prova da alienação, dispensando-se os requisitos da insolvência e da intenção
fraudulenta.
Mas, tomando em conta a orientação jurisprudencial acima mencionada, pode-se afirmar que, para
que se caracterize a fraude, é necessária a ciência, pelo adquirente, da penhora sobre o bem. Tendo sido,
antes da alienação ou oneração, registrada a penhora sobre o bem imóvel (art. 659, §4º; Lei 6.015/73, art.
167, I, 5) ou pelo menos averbada a informação da pendência da ação executiva no registro do imóvel,
veículo etc. (art. 615-A, acima examinado), haverá presunção absoluta de sua ciência por terceiros. Nos
demais casos, será ônus do credor provar que quem adquiriu o bem sabia da penhora.”

DA SUSPENSÃO E DA EXTINÇÃO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO

►Da Suspensão

A suspensão da execução consiste numa situação jurídica provisória e temporária, durante a


qual o processo não deixa de existir e produzir seus efeitos normais, mas sofre uma paralisação em
seu curso, não se permitindo que nenhum ato processual novo (ver art. 793) seja praticado enquanto
dure a referida crise. A eficácia da suspensão é, pois, a de paralisar a execução, de modo que,
cessada a causa que a motivou, o procedimento retoma, automaticamente, seu curso normal, a partir
da fase ou momento processual em que se deu a paralisação.
Segundo o doutrinador Humberto Theodoro Jr., a suspensão da execução divide-se em: I –
necessária e; II – voluntária. É necessária ou ex lege a suspensão imposta pela lei, de forma cogente,
diante de uma determinada situação processual, como no caso de propositura de exceção (art. 306)
ou nas hipóteses contempladas no art. 265, I. É voluntária ou convencional a que decorre de ato de
vontade ou ajuste entre as partes (art. 792).
Dispõe o art. 791: “Suspende-se a execução:
I – no todo ou em parte, quando recebidos com efeito suspensivo os embargos à execução
(art. 739-A);
II – nas hipóteses previstas no art. 265, I a III;
III – quando o devedor não possuir bens penhoráveis.”
A hipótese prevista no inciso I é decorrente do recebimento de embargos à execução com
efeito suspensivo. Como regra geral, os embargos à execução, previstos no art. 739-A, não
suspendem a execução. Somente em circunstâncias especiais e atendidos os requisitos legais é que o
juiz poderá atribuir, a requerimento do executado, efeito suspensivo aos embargos (art. 739-A, §1º).
Quanto ao inciso II, remete o leitor ao art. 265, incisos I a III, do CPC, que trata da
suspensão do processo de conhecimento nos casos de: “I – pela morte ou perda da capacidade
processual de qualquer das partes, de seu representante legal ou de seu procurador; II – pela
convenção das partes; III – quando for oposta exceção de incompetência do juízo, da câmara ou do
tribunal, bem como a suspeição ou impedimento do juiz”.
Por fim, a última hipótese trazida neste artigo é a do inciso III, que determina a suspensão
da execução quando o devedor não possuir bens penhoráveis. O objeto da execução forçada é o
patrimônio do devedor, do qual se procura extrair os bens necessários para resgatar a dívida
exeqüenda. Quando o exeqüente não localiza bens passíveis de penhora do executado, é facultado
ao mesmo que requeira a suspensão da execução, a fim de localizar bens. Quanto ao prazo de
duração da suspensão, há quem defenda sua persistência até o momento em que se dê a prescrição
intercorrente, quando seria o processo extinto e arquivado. No entanto, na linha contrária, entende-
se que a “execução deva ser suspensa sine die, arquivando-se provisoriamente o processo, à espera
de que o credor encontre bens penhoráveis. Vencido o prazo prescricional, será permitido ao

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devedor requerer a declaração de prescrição e a conseqüente extinção da execução forçada, o que,
naturalmente, não será feito sem prévia audiência do credor”42.
O art. 792 traz ainda outra hipótese de suspensão, vejamos: “Convindo as partes, o juiz
declarará suspensa a execução durante o prazo concedido pelo credor, para que o devedor cumpra
voluntariamente a obrigação. Parágrafo único. Findo o prazo sem cumprimento da obrigação, o
processo retomará o seu curso”.
Qual a diferença entre a suspensão com base no art. 792 e com base no art. 791, II, se ambas
referem-se a suspensão da execução fundada no acordo entre as partes?
A doutrina posiciona-se no sentido de que a suspensão da execução por acordo entre as
partes, com base no art. 791, II c/c art. 265, II é por prazo não superior a seis meses, tendo em vista
que o § 3º, do art. 265, estipula justamente esse prazo, como sendo o prazo máximo a ser
concedido. Já o art. 792 do CPC não se refere a prazo máximo algum, podendo a suspensão da
execução durar pelo prazo concedido pelo credor, para que o devedor cumpra voluntariamente a
obrigação. O que denota-se do artigo é que, nessa hipótese, existe um acordo entre credor e devedor
para pagamento voluntário da dívida, durante um prazo concedido pelo credor, que será justamente
o prazo de suspensão da execução.
No entanto, a enumeração do art. 791 e 792 não é taxativa. Existem outras causas de
suspensão do processo executivo, previstas em dispositivos de incidência geral, constantes de outras
partes do Código. Como exemplo: - os embargos de terceiro, que embora não relacionados na
hipótese do inciso I do art. 791, também têm o condão de suspender o processo executivo, na forma
e nos casos do art. 1.052, e; - a hipótese disciplinada no art. 745-A, quando a execução ficará
suspensa para pagamento parcelado do débito;
Também a impugnação poderá conduzir à suspensão da fase de cumprimento de sentença,
quando recebida com efeito suspensivo, conforme disciplina do art. 475-M.
Por fim, “suspensa a execução, é defeso praticar quaisquer atos processuais. O juiz poderá,
entretanto, ordenar providências cautelares urgentes” (art. 793). Exemplos de providências
cautelares que podem ser ordenadas pelo juiz: alienação de bens avariados ou perecíveis, remoção
de bens, prestação de caução, etc. A eficácia da suspensão é ex nunc. Atinge o processo na fase em
que se encontrar, projetando seus efeitos a partir de então e só para o futuro. Inibe o prosseguimento
da marcha processual, mas preserva intactos os atos já realizados.

►Da Extinção

A execução forçada termina normalmente com a exaustão de seus atos e com a satisfação do
seu objeto, que é o pagamento do credor. Pode, no entanto, encontrar termo de maneira anômala e
antecipada também. Desta forma é que o art. 794 prevê, expressamente, a extinção da execução,
quando: “I – o devedor satisfaz a obrigação; II – o devedor obtém por transação, ou qualquer outro
meio, a remissão total da dívida; III – o credor renuncia ao crédito”.
A primeira hipótese é a satisfação da obrigação, forma por excelência de extinção da
execução. Quando a obrigação é satisfeita, o processo alcançou a sua finalidade. O cumprimento da
obrigação pode ser tanto espontâneo (o próprio executado efetua o adimplemento da obrigação, a
qualquer tempo) ou coativo, através dos atos executivos, quando houver alienação judicial de bens
para pagamento do credor.
A segunda hipótese é aquela em que o devedor obtém, por transação ou qualquer outro
meio, a remissão total da dívida. Trata a lei, da extinção da obrigação pelos meios previstos na lei
civil, que incluem a compensação, a novação, a confusão, dação em pagamento, etc. Mas para que
haja extinção, é preciso que disso resulte a extinção do débito. Se houver, por exemplo, um acordo
para pagamento, a execução será primeiro suspensa, até que o devedor quite o parcelamento, para
somente após, ocorrer a extinção da execução.
Terceira e última hipótese, quando houver renuncia ao crédito pelo exeqüente, também será
extinta a execução.
42
Humberto Theodoro Jr., p. 527
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Cabe ressaltar que não se confunde a renúncia ao crédito com a desistência do processo pelo
credor. Enquanto a primeira é de direito material, fazendo extinguir o próprio direito à prestação
obrigacional, a segunda é apenas um ato formal que põe fim à relação processual pendente, sem
atingir o direito substancial da parte. Quem renuncia a um crédito não pode mais voltar a demandar
a obrigação que definitivamente se extinguiu. Mas quem desiste do processo de execução pode
voltar a disputar a mesma prestação em nova relação processual.
Existem ainda outros casos de extinção da execução que não se encontram relacionados no
art. 794, uma vez que tal artigo também não é taxativo e o seu rol não exaure as hipóteses que
ocasionam a extinção da execução. Cite-se o acolhimento de embargos do devedor que acarretam a
improcedência da execução, bem como a desistência da execução que é facultada ao exeqüente, a
qualquer momento, pelo art. 569, independentemente do consentimento do devedor.
Outras hipóteses que fatalmente levam a extinção do processo de execução são a carência de
ação (267, VI), a falta de pressupostos processuais (267, IV) e o indeferimento da petição inicial
(art. 267, I). Nestes casos, a extinção pode ser provocada por simples petição da parte,
independentemente de embargos, já que o juiz pode conhecer e decidir de ofício, por estarem
relacionadas aos requisitos procedimentais de ordem pública.
Estabelecidas as causas que levam a extinção da execução, dispõe o art. 795 que “a extinção
só produz efeito quando declarada por sentença”. A finalidade dessa sentença é declarar que foi
constatada alguma das causas de extinção e encerrar a execução.
Ao contrário do que ocorre no processo de conhecimento, o processo de execução não
alcança o seu objetivo com a prolação de uma sentença, mas com a satisfação do credor, seja pelo
cumprimento da obrigação, seja por outra forma equivalente. A sentença do art. 795 é prolatada
para declarar que a execução chegou ao final e que deve ser encerrada.
Para Humberto Theodoro Jr.43 a sentença proferida na execução não é de mérito, mas
declaratória de encerramento, razão pela qual não produzirá a coisa julgada material, mas apenas
formal. “Por isso, se uma execução foi promovida com base em título ilegítimo, do ponto de vista
do direito material, mesmo depois de extinto o processo por sentença, lícito será ao devedor intentar
contra o exeqüente uma ação de repetição de indébito, na forma do art. 964 do Código Civil de
1916 (CC de 2002, art. 876)”. “Só não se poderá mais discutir o pagamento executivo quando a
matéria de legitimidade da dívida houver sido debatida em embargos, porque aí a sentença da ação
incidental será de mérito e, como tal, fará coisa julgada material (art. 467), tornando imutável e
indiscutível a solução dada à lide e às questões apreciadas (art. 468)”.

43
THEODORO JR., Humberto. p. 530.
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