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Internacional do Brasil: A
Política Externa dos EUA
Documento de trabalho
Segurança
Aqui, pretendo fazer uma breve reflexão sobre como os Estados Unidos e sua política
externa impactam as Relações Internacionais e o Brasil.
O
descongelamento das Relações
mundo hoje parece ser menos
Internacionais. Entramos numa outra fase
ordenado do que em 1989 no pós-
que se chama “O choque das civilizações”,
Guerra Fria. O que estamos
sustentada na teoria do Huntington sobre
assistindo é uma certa desordem
fundamentalismo e desordem.
internacional, e isso a partir de uma nova
transformação na política externa Posteriormente esta tese acabou caindo
americana. E essa transformação tem também e entramos, a partir de 1998, no
efeitos diretos sobre o sistema que eu vou chamar de “Segundo século
internacional e obviamente sobre a americano” e onde eu vou focar as minhas
política externa brasileira. análises. Focar por quê? Porque tínhamos
a impressão de que novamente teria
Estamos num sistema internacional que
havido um ajuste. Não seria o ajuste da
foi definido como o sistema internacional
nova ordem mundial, não seria a
do pós-Guerra Fria. Atravessamos
homogeneização do mundo segundo os
diversas fases nesse sistema, começando
princípios da democracia de liberdade,
com um otimismo exacerbado, o do fim
mas um cenário que eu defino como de
da História. Em 1989, acreditávamos –
“Estabilidade Hegemônica”. Então, nem
pelo menos o discurso fazia acreditar- que
tudo estaria bem, mas pelo menos tudo
existiria uma transformação real no
estaria mais ou menos estável. Vocês
mundo e que essa transformação estaria
sabem que em Relações Internacionais
caminhando no sentido da consolidação
estabilidade não necessariamente significa
do livre mercado e da democracia. Essa foi
paz, e falar em paz é um conceito mais
a tese do Francis Fukuyama, de que o
calcado no idealismo, numa visão utópica
mundo caminharia para o fim da História,
do mundo. Então, o que estamos vivendo
porque tudo estaria tranqüilo. Haveria o
a partir de 1998 é a idéia de Estabilidade
nascimento de uma nova ordem mundial
Hegemônica.
democrática e liberal e isso levaria todos
nós a uma nova perspectiva. O que é essa Estabilidade Hegemônica? É
um sistema internacional estável e
Posteriormente, essa visão foi caindo
relativamente pacífico. Pacífico,
porque percebemos que o mundo não era
novamente, não no sentido da paz
um mundo pacífico. Guerras continuaram
universal, mas no sentido do
acontecendo e, na verdade, não somente
estabelecimento de alguns padrões de
elas continuaram acontecendo como
confiabilidade no sistema internacional: as
houve uma liberação, um
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porrada e vinham com um discurso legal, ser que daqui 1 ou 2 anos eu venha aqui
assim: “Olha, nós somos todos amigos, fazer um outro seminário para vocês, ou
nós podemos trabalhar juntos, nós seis meses, e eu fale: “Lembra quando eu
podemos ter uma visão conjunta do estive aqui em 2003 em setembro, eu falei
mundo”. Ou seja, fazia-se uso da frase que não era uma época nova, mas me
clássica de um presidente americano enganei”. Isto é, pode ser que eu até mude
Theodore Roosevelt: “speak softly and de idéia, mas por enquanto eu estou
carry a stick”. mantendo que a divisão é em 1998.
Então, por que é necessário demonstrar Portanto, tendo havido um ataque só a
força? Todo mundo sabe que você tem símbolos de poder, o maior impacto
força. Ao invés de você dominar com a realmente foi interno. Foi a perda da
força, que é o hard power, domine com normalidade, a descoberta da
convencimento, domine com ideologia, vulnerabilidade e do medo e a descoberta
domine com a negociação, que foi o que os de que no fundo, a superpotência restante,
Estados Unidos sempre fizeram bem. Mas mesmo gastando tudo o que gastava com
esse grupo buscou um novo caminho para defesa, era incapaz de se defender
a hegemonia americana: uma ênfase no enquanto era atacada.
hard power, deixando em segundo plano
Num primeiro momento, o que vai
este processo de convencimento e
acontecer? Todo mundo se une em torno
ideologia.
do Bush. Então, se vocês forem pensar,
Porém, surge o 11/09/2001, que foi um realmente, vão descobrir o seguinte:
acontecimento inesperado e depois de 11 de setembro o Bush ganhou
surpreendente. Quem esperava que a um impulso inacreditável, porque ele não
única superpotência do mundo fosse ser tinha legitimidade interna e ganhou, ele
realmente atacada em seu território não tinha legitimidade externa e ganhou.
continental, depois de tantos anos de Todo mundo que era contra, ou pelo
proteção? Ninguém esperava. E ainda menos que era indiferente ao George Bush
nesse momento em que eles tinham o acabou se unindo. Os EUA assumiram o
maior poder do mundo? Muito papel de vítimas e de solução das
complicado e para eles foi algo Relações Internacionais.
extremamente profundo. Veja, em termos
Assim, temos realmente uma nova
de poder, 11/09 não afetou absolutamente
perspectiva com relação aos EUA. A
nada, porque simplesmente não atingiu
expectativa do sistema internacional
nada de prático, apenas símbolos do
também foi a seguinte: “Foi uma lição, os
poder americano. No fundo, 11/09, foi um
EUA aprenderam a sua lição e vão parar
“espetáculo”. Tanto que se vocês forem
com suas políticas unilaterais e vão buscar
perceber, voltando para aquela Segunda
um novo curso de atuação”. Houve isso
transparência que eu coloquei, eu não fiz
realmente? Houve um certo momento no
uma subdivisão pós 11 de setembro. A
qual o comando da política externa de
minha divisão continua em 1998. Por que
Bush caiu para um grupo mais liberal que
isso? Porque, no fundo, 11 de setembro
era o grupo liderado pelo Colin Powell.
não mudou nada. Ele pode ter acelerado
Mas logo o grupo de Bush, que é o grupo
as tendências de multipolarização, ele
de Bush, Dick Cheney e Donald
acelerou essa política externa opressiva do
Rumsfeld1 reassumiu a linha de frente. Ou
Bush, mas, no fundo, a estrutura de poder
seja, ouve uma expectativa de volta do
mundial não mudou, as negociações entre
os países não mudaram, não houve
nenhuma concessão: o sistema
internacional continuou exatamente como 1 Colin Powell é Secretário de Estado, Donald
Rumsfeld Secretário de Defesa, Dick Cheney é
estava. Por isso eu não fiz a divisão. Pode
Vice-Presidente americano
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bom, “bem feito, eles vão cair, eles não quem puder ou o mundo no qual um país
vão estar mais liderando o mundo”. que tem uma agenda definida, um
Contudo, depois que eles caírem, quem interesse nacional claro se posiciona bem.
vem? O que sobra para o Brasil? Quem vai É isso que a gente tem que esperar para o
estar ocupando esse vácuo de poder? Nós Brasil e trabalhar para isso
vamos entrar numa fase de nova
hegemonia ou de novas guerras? Eu diria
para vocês que sempre onde existe vácuo,
existem novas guerras. No extremo, seja o
Referência
Brasil, seja qualquer país do mundo,
diante dessa potência hegemônica O texto aqui publicado é fruto de palestra
declinante, nós vamos buscar o que? Nós proferida pela Professora Cristina Soreanu
mesmos vamos buscar a prevenção e a Pecequilo durante o colóquio
defesa dos nossos interesses, e aí a gente “Paradigmas da Inserção Internacional do
vai tentar lidar com isso. Os EUA vão ter Brasil”, por ocasião da Semana de
que lidar também com a sua Relações Internacionais de 2003,
superextensão imperial, seus promovida pelo Departamento de
desequilíbrios externos e internos como os Relações Internacionais da PUC-Minas,
déficits. em Setembro de 2003. A Professora
Cristina Soreanu Pecequilo é estudiosa da
O que acontece no mundo de hoje? É um
política externa dos EUA e publicou os
mundo incerto, o Brasil procura o seu
livros “A Política Externa dos Estados
lugar nesse mundo. Existem
Unidos: continuidade ou mudança?”,
oportunidades? Existem. Eu gostaria que
editado pela Editora da Universidade
vocês, à medida que forem analisar a
Federal do Rio Grande do Sul, e “Estados
ALCA, a OMC, que são realmente as
Unidos: hegemonia e liderança na
coisas na pauta, que vocês pensassem
transição”, editado pela Vozes. É mestre e
realmente se as opções são tão fechadas.
doutora em Ciência Política pela USP,
Vocês tem dois lados do discurso. Um
Colaboradora do Site RELNET/UnB,
discurso diz que é tudo péssimo, outro diz
Pesquisadora Associada do
que é tudo bom. Qual é a verdade? O
NERINT/UFRGS e professora de Relações
meio termo, nem tudo é tão ruim e nem
Internacionais do Centro Universitário
tudo é tão bom. Então a política externa
Iberoamericano (UNIBERO).
brasileira está numa nova fase, eu acho
que é uma fase mais interessante do que a
fase do Fernando Henrique.
O Lula, com a sua equipe, têm realmente
uma postura mais propositiva e
autonomista e isso pode vir a ter bons
frutos. Todo esse plano pode ser
estragado por um cenário internacional
instável? Pode. Isso significa que a gente
tem que desistir de procurar novos
caminhos? Não, porque no sistema
internacional hoje, o que prevalece é a
transição. E outra coisa que a gente não
pode esquecer é que no ano que vem tem
eleições nos EUA, então, todas as coisas
poderão ou mudar para melhor ou
continuar piorando gradualmente. E nesse
mundo, pode ser o mundo do salve-se
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