É o que revela uma pesquisa publicada num dos periódicos
científicos mais conceituados do planeta, a revista Archives of Internal Medicine
por Fábio de Oliveira | design Giovanni Tinti | fotos Edu Svezia
Não estranhe se um dia seu cardiologista lhe recomendar um pouco
de meditação transcendental. A técnica milenar está sendo investigada por profissionais que se ocupam da saúde cardíaca.
Prova disso é um recente estudo publicado no periódico americano
Archives of Internal Medicine, uma das revistas mais respeitadas no meio científico internacional. Liderada por um time de cárdios do Hospital Cedars-Sinai, em Los Angeles, nos Estados Unidos, o trabalho apresentou um resultado no mínimo inusitado: os pesquisadores verificaram que a prática da meditação transcendental contribuiu para melhorar os níveis da pressão arterial e a resistência à insulina em pacientes com males no peito.
Cada membro dessa dupla, que pode interferir de forma negativa no
coração, integra um aglomerado de problemas conhecido como síndrome metabólica. Além do duo acima citado, fazem parte do pacote as taxas elevadas de colesterol e triglicérides, além da obesidade visceral, o nome pomposo da barriga de chope.
No final das contas, a síndrome, essa verdadeira bomba-relógio, já
vem sendo considerada pelos especialistas como um fator de risco de morte para portadores de doenças cardiovasculares e um meio de detectá-las. "É a primeira vez que vejo uma abordagem que leva em conta a meditação transcendental e alguns componentes da síndrome metabólica", comenta sobre o estudo o cardiologista Heno Lopes, autor do livro Dieta do Coração, publicado por SAÚDE!, e médico do InCor, o Instituto do Coração, em São Paulo. Além disso, trata-se de uma pesquisa que realmente tem relevância científica graças à metodologia empregada na sua condução. "Em resumo, é um trabalho randômico e controlado, ou seja, que recruta voluntários com o mesmo perfil e os distribui em grupos aleatoriamente para evitar algum tipo de viés no resultado final", diz o cardiologista Marcos Knobel, do Hospital Israelita Albert Eisntein, em São Paulo. No caso, os 84 indivíduos que foram até o final do estudo tinham doença cardíaca estável e média de idade de 67 anos.
Daí, os participantes da pesquisa foram reunidos ao acaso em dois
grupos. Ao longo de 16 semanas, um deles recebeu uma espécie de assistência educacional. O outro aprendeu a meditar. Para encurtar a conversa, os cientistas descobriram o seguinte: o pessoal que seguiu as aulas de meditação transcendental apresentou níveis de pressão arterial mais baixos do que os verificados nos demais voluntários. Sem falar que a resistência à insulina, quando esse hormônio tem dificuldade para botar o açúcar do sangue para dentro das células, também melhorou entre quem recebeu instruções sobre a técnica milenar. Os resultados alcançados são sem dúvida ótimos.
"A longo prazo, a hipertensão favorece a ocorrência de derrames,
problemas renais e o aumento do tamanho do coração", alerta Knobel. E mais: pode contribuir para um aneurisma da aorta, estado em que essa artéria fica dilatada. Além disso, taxas elevadas de glicose no sangue, resultado do mau funcionamento da insulina, cooperam para a formação de placas de gordura.
Mas por que a meditação transcendental produziu tamanhos
benefícios? No texto do trabalho, ao qual SAÚDE! teve acesso, os pesquisadores concluem que a técnica pode modular a maneira como o organismo reage ao estresse. Faz sentido. "O estresse ativa o que chamamos de eixo hipotálamo-hipófise-adrenal", conta Heno Lopes. Ou seja, deflagra-se a produção de substâncias como o cortisol, que dão as caras naqueles momentos de agitação. "Esse hormônio provoca uma elevação dos níveis de glicose e de ácidos graxos", continua Lopes. "Por fim, esse excesso acaba se depositando na cavidade abdominal." Lembra-se da síndrome metabólica? Sem falar que nessa tensão quase permanente o sistema nervoso simpático fica a toda, e a pressão sobe. A meditação, assim, atuaria no fator desencadeante de toda a bagunça. De que as conclusões do estudo americano são animadoras ninguém duvida. O trabalho, porém, foi realizado com um número pequeno de voluntários, o que aponta a necessidade de mais pesquisas sobre o assunto. "Mas meditar não é algo que pode trazer malefícios", finaliza Knobel.
A CIÊNCIA ESTÁ DE OLHO NELA
Somente no Medline, biblioteca on-line que reúne pesquisas de todos os cantos do planeta, a meditação transcendental é mencionada em 245 trabalhos. Existem estudos mostrando evidências de que a técnica pode ser eficiente contra problemas como a epilepsia. A revista científica American Journal of Cardiology, por exemplo, publicou no ano passado um artigo em que os autores relatam que meditar foi capaz de reduzir em 49% as mortes por câncer. Tema de reportagem da SAÚDE! de agosto de 2005, a pesquisa revelou também que houve redução em 30% das mortes provocadas por males cardiovasculares e 23% por doenças em geral.
ENTENDA A TÉCNICA
"Por meio da meditação transcendental chega-se a um estado de
plena vigília interior, que é ao mesmo tempo um grande repouso fisiológico no qual o corpo se auto-repara", explica o professor Markus Schuler, da Sociedade Internacional de Meditação Transcendental, em São Paulo. Milenar, ela foi reformulada e difundida nas últimas décadas por Maharishi Mahesh Yogi, que era guru dos Beatles. Para praticá-la, basta sentar-se confortavelmente e fechar os olhos durante 20 minutos, duas vezes ao dia. "Mas, antes, a pessoa precisa ser instruída por um indivíduo qualificado", completa Schuler.
FRÁGIL, MUITO FRÁGIL
Assim tem se mostrado a saúde cardíaca das mulheres, alertam os
especialistas
Elas têm tirado o sono dos cardiologistas. Ou melhor, o coração
delas. Motivos para isso não faltam. Dados da American Heart Association, por exemplo, revelam que a mortalidade em decorrência de doenças cardiovasculares tem sido maior no sexo feminino — cerca de 500 mil mortes no último levantamento, 70 mil a mais do que entre os homens. Por aqui o cenário não é muito diferente. "No Brasil os males do coração são a principal causa de óbito nas mulheres, matando duas vezes mais do que todos os tipos de tumor juntos", calcula o cardiologista José Marconi Almeida de Sousa, do Hospital Israelita Albert Einstein, na capital paulista. "Somente na cidade de São Paulo, houve um aumento nas mortes por infarto agudo do miocárdio na faixa de 30 a 59 anos, principalmente entre as mais pobres", conta o cardiologista Antonio de Pádua Mansur, do Instituto do Coração, também em São Paulo, que conduziu uma pesquisa sobre o assunto.
Parte desse panorama pode ser explicado por fatores clássicos,
como obesidade, sedentarismo, altas taxas de colesterol, pressão alta e tabagismo. "Quando a mulher fuma, há uma antecipação da menopausa", diz Marconi. E é logo depois desse período, no qual perde-se a proteção garantida pelo hormônio estrógeno, que o coração feminino fica mais vulnerável. "Os infartos geralmente ocorrem por volta dos 65 anos, ao passo que nos homens isso acontece dez anos antes", afirma Mansur. "Problemas nas artérias coronárias são mais comuns e graves nelas justamente por se manifestarem numa idade avançada", diz o cardiologista Theo Bub, presidente do Departamento da Mulher da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Mas há outras peças que completam esse quebra-cabeça. Ao
contrário do homem — em que 90% dos casos de dores no peito realmente revelam uma encrenca cardíaca —, na mulher o que parece ser uma angina no peito pode não ser nada demais. Mas é difícil distinguir. "A paciente pode apresentar dor no peito, o primeiros testes podem levantar suspeitas, mas aí o cateterismo mostra que suas coronárias estão o.k.", exemplifica Marconi. "Depois, a gente nota que, na verdade, essa mulher apresenta risco de morte." As placas nas artérias costumam ser menores no sexo feminino e isso talvez explique porque os testes às vezes escondem uma situação de perigo. A dica? Não menosprezar qualquer sintoma de que há algo errado e ir fundo nos exames e no acompanhamento médico. O certo é que a ala masculina se submete com maior freqüência a checkups cardíacos. "Mas até mesmo um ginecologista pode medir a pressão e avaliar as taxas de colesterol", sugere Mansur. Fica o recado: mulherada, cuide do seu coração!
ilustração SAM HART
FOTO CESAR CURY PRODUÇÃO MARIANA ELIAS / RENNER / FAZENDO ONDA CABELO E MAQUIAGEM ALEX CARDOSO (BLZ) Fonte: http://saude.abril.com.br/edicoes/0276/medicina/conteudo_155959.s html?pagin=2