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ESTADO DO CEARÁ

PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE ICAPUÍ

Boletim Circunstanciado de ato infracional n° 030/2006


Indiciados: JOSÉ BRENO DA SILVA FERREIRA
Vítima: FAZENDA RETIRO GRANDE

SENTENÇA

Vistos etc.

Trata-se de Boletim Circunstanciado de ato infracional em que


o Ministério Público, às fls. 22/23, pugna pelo arquivamento do feito por
falta de tipicidade da conduta, diante da aplicação do princípio da
insignificância.
Neste aspecto, merece acolhida a manifestação ministerial
diante da necessária aplicação do princípio da insignificância, o qual
consiste em causa supralegal de exclusão da ilicitude.
Segundo o princípio da insignificância, lesões insignificantes a
bens jurídicos são atípicas. O bem juridicamente protegido pelo Direito
Penal deve ser relevante, ficando afastados aqueles considerados
inexpressivos. Tal princípio visa excluir do âmbito de incidência da lei
aquelas situações consideradas como de bagatela.
Aplica-se tal princípio aos chamados “delitos de bagatela”.
Assenta-se no princípio de minimis non curat pretor (o pretor não cuida
de crimes insignificantes). O tipo penal cuida do bem jurídico e da
proteção do cidadão, portanto, se o delito for incapaz de ofender o bem
jurídico, não haverá como enquadrá-lo no tipo. Há, no entanto, que se
entender que, nestes casos, apesar do delito ser insignificante, o fato é
inadequado à sociedade.
Podemos destacar os seguintes vetores que devem estar
presentes para o reconhecimento da insignificância: I) mínima
ofensividade da conduta do agente; II) nenhuma periculosidade social da
ação; III) reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; IV)
inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Destacou o STF, no julgamento do HC 84424/SP, no rumo do
entendimento consolidado no STJ, que o critério para a utilização do
princípio da insignificância não deve ser exclusivamente nem a relação
entre o objeto material do delito e o patrimônio da vítima no caso
concreto, nem um parâmetro genérico e abstrato como o salário mínimo,
sob pena de serem firmadas interpretações teratológicas. Assim, a
utilização do princípio da insignificância deve ser feita de maneira
criteriosa, levando em conta o contexto sócio-econômico do país.
Corroborando o entendimento do STJ, o Min. Carlos Britto, relator do
feito, argumentou que a aplicação indiscriminada desse princípio levaria à
esdrúxula situação da ausência de proteção penal relativa aos furtos para
uma grande parte da população, posto que, baseando-se no valor do
salário mínimo, normalmente tudo o que os mais pobres possuem poderia
ser considerado insignificante.
A irrelevância ou insignificância de determinada conduta deve
ser aferida não apenas em relação à importância do bem juridicamente
atingido, mas especialmente em relação ao grau de sua intensidade, isto
é, pela extensão da lesão produzida (TRF 2ª R. – ACr
2001.50.01.009495-7 – 2ª T.Esp. – Relª Desª Fed. Liliane Roriz – DJU
11.09.2006 – p. 295).
O pequeno valor da res furtiva não se traduz,
automaticamente, na aplicação do princípio da insignificância. Há que se
conjugar a importância do objeto material para a vítima, levando-se em
consideração a sua condição econômica, o valor sentimental do bem,
como também as circunstâncias e o resultado do crime, tudo de modo a
determinar, subjetivamente, se houve relevante lesão. (STJ – HC
200401019747 – (36947 SP) – 5ª T. – Relª Min. Laurita Vaz – DJU
14.11.2005 – p. 00351)
A jurisprudência pátria assim trata do tema:

TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL – AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA


EVIDENCIADA DE PLANO – PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA –
APLICABILIDADE – FURTO DE PEQUENO VALOR TENTADO – BEM
SUBTRAÍDO – PANELA DE PRESSÃO – 1. O pequeno valor da res
furtiva não se traduz, automaticamente, na aplicação do princípio
da insignificância. Há que se conjugar a importância do objeto
material para a vítima, levando-se em consideração a sua
condição econômica, o valor sentimental do bem, como também
as circunstâncias e o resultado do crime, tudo de modo a
determinar, subjetivamente, se houve relevante lesão. 2.
Consoante se constata dos termos da peça acusatória, o
valor da res furtiva pode ser considerado ínfimo, tendo em
vista, outrossim, as condições econômicas da vítima. Além
disso, o fato não lhe causou qualquer conseqüência
danosa, uma vez que a paciente foi presa em flagrante
antes de consumar o delito, de posse da coisa,
justificando, assim, a aplicação do princípio da
insignificância ou da bagatela, ante a falta de justa causa
para a ação penal. Precedentes. 3. Vislumbra-se, na
hipótese, verdadeira inconveniência de se movimentar o
poder judiciário já tão assoberbado na tutela de bens
jurídicos mais gravemente lesados. 4. Ordem concedida para
determinar o trancamento da ação penal por falta de justa causa.
(STJ – HC 200401019747 – (36947 SP) – 5ª T. – Relª Min.
Laurita Vaz – DJU 14.11.2005 – p. 00351)

CRIMINAL – ECA – FURTO – ÍNFIMO VALOR DA QUANTIA


SUBTRAÍDA – INCONVENIÊNCIA DE MOVIMENTAÇÃO DO PODER
JUDICIÁRIO – DELITO DE BAGATELA – PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA – RECURSO DESPROVIDO – Faz-se mister a
aplicação do princípio da insignificância, excludente da tipicidade,
se evidenciado que a vítima não teria sofrido dano relevante ao
seu patrimônio – Pois os valores, em tese, subtraídos pelos
agentes representariam quantia correspondente a 1, 5% do
salário mínimo. Inconveniência de se movimentar o Poder
Judiciário, o que seria bem mais dispendioso, caracterizada.
Considera-se como delito de bagatela o furto simples praticado,
em tese, para a obtenção de objeto de valor ínfimo – Hipótese
dos autos. Recurso desprovido. (STJ – RESP 573488 – RS – 5ª T.
– Rel. Min. Gilson Dipp – DJU 02.08.2004 – p. 00515)

FURTO FAMÉLICO – CRIME DE BAGATELA – FATO JURÍDICO-


PENAL NÃO PUNÍVEL – POSSIBILIDADE – Ausente a razão para a
imposição de reprimenda penal, diante da pequenez da
significação social do fato cometido. Intelecção que não destoa
do direito posto, ao contrário faz vivificar os princípios
constitucionais da razoabilidade e da proporcionalidade.
Necessidade de reflexão exaustiva pelo juiz, como último
operador do direito, da imposição de determinada sanção
jurídica em certa causa criminal. Verificação da
proporcionalidade entre a pena criminal e a significância
do bem jurídico vilipendiado. Imprescindibilidade. Recurso
provido parcialmente. (TJSP – ACr 855.661-3/7 – Itapeva – Rel.
Des. Sydnei de Oliveira Jr. – J. 07.06.2006)

O fundamento do princípio da insignificância está na idéia de


"proporcionalidade" que a pena deve guardar em relação à gravidade do
crime. Nos casos de ínfima afetação ao bem jurídico, o conteúdo de
injusto é tão pequeno que não subsiste nenhuma razão para o pathos
ético da pena. Ainda a mínima pena aplicada seria desproporcional à
significação social do fato.' (Sanguiné, Odone. Observações sobre o
Princípio da Insignificância. In: Fascículo de Ciências Penais, v. 3, n. 1,
Porto Alegre, jan./fev./mar., 1990, pp. 46-47).
No ponto, Zaffaroni leciona o seguinte, "verbis":
'A insignificância da afetação exclui a tipicidade, mas só pode ser
estabelecida através da consideração conglobada da norma: toda
a ordem normativa persegue uma finalidade, tem um sentido,
que é a garantia jurídica para possibilitar uma coexistência que
evite a guerra civil (a guerra de todos contra todos). A
insignificância só pode surgir à luz da finalidade geral que dá
sentido à ordem normativa, e, portanto, à norma em particular,
e que nos indica que essas hipóteses estão excluídas de seu
âmbito de proibição, o que não pode ser estabelecido à simples
luz de sua consideração isolada.' (Zaffaroni, Eugenio Raúl.
Pierangeli, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro.
Parte Geral. 4ª ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2002,
p. 562)

Nesta linha me permito transcrever preciosa lição do Professor


Luiz Flávio Gomes:
'Tanto no Direito brasileiro como no comparado a via dogmática
mais apropriada para se alcançar o desideratum da não
punibilidade do fato ofensivo ínfimo é constituída pelo chamado
princípio da insignificância ou de bagatela, 'que é o que permite
não processar condutas socialmente irrelevantes, assegurando
não só que a Justiça esteja mais desafogada, ou bem menos
assoberbada, senão permitindo também que fatos mínimos não
se transformem em uma sorte de estigma para seus autores. Do
mesmo modo, abre a porta a uma revalorização do direito
constitucional e contribui para que se imponham penas a fatos
que merecem ser castigados por seu alto conteúdo criminal,
facilitando a redução dos níveis de impunidade. Aplicando-se este
princípio a fatos mínimos se fortalece a função da Administração
da Justiça, porquanto deixa de atender fatos mínimos para
cumprir seu verdadeiro papel. Não é um princípio de direito
processual, senão de Direito Penal'. (...)

O chamado princípio da insignificância (Geringfügirkeitsprinzip),


na esteira da lição de ROXIN, é justamente o que permite, na
maioria dos tipos legais, excluir desde logo danos de pouca
importância: 'maus tratos, portanto, não é qualquer tipo de dano
à integridade corporal, senão somente o relevante;
analogamente, desonesta no sentido do Código Penal é só a ação
sexual de certa importância; injuriosa é só a lesão grave à
pretensão social de respeito (...) Se com esses fundamentos se
organiza de novo conseqüentemente a instrumentalização de
nossa interpretação do tipo, se alcançaria, ademais de uma
melhor interpretação, uma importante contribuição para reduzir
a criminalidade em nosso país' (Delito de bagatela: princípios da
insignificância e da irrelevância penal do fato, In: Doutrina, nº
11. Rio de Janeiro, Instituto de Direito, 2001, pp. 320/343)

Faço coro, ainda, às palavras de Zaffaroni, ao prefaciar a obra


de Juarez Tavares:
'... uma concepção do poder punitivo requer a completa
satisfação do princípio da ofensividade ou de lesividade, de forma
que o injusto não possa fundar-se na infração à norma
(concepção autoritária e moralizante, fartamente divulgada em
nossos dias), senão na concreta lesão a um direito alheio'.
(Teoria do Injusto Penal, Rio de Janeiro: Del Rey, 1999).

Não há motivos para contestar-se o pensamento ministerial de


que não há crime a denunciar em razão da ausência de provas. Sabido,
outrossim, que o pedido de arquivamento procedido pelo Ministério
Público, na qualidade de titular da ação penal, só não deverá ser acolhido
no caso em que o juiz “considerar improcedentes as razões invocadas”, a
teor do art. 28 do CPP.
Assim, e por raciocínio lógico, em não se apresentando como
improcedentes as razões do Ministério Público, há de ser deferido o
pedido de arquivamento.
Isto posto, nos termos do art. 180, I do ECA, determino o
arquivamento destes autos de Boletim Circunstanciado de Ato
Infracional, com as cautelas legais.
PUBLIQUE-SE. REGISTRE-SE. INTIME-SE.
Icapuí-CE, 19 de novembro de 2007.

__________________________________________
RENATO BELO VIANNA VELLOSO
JUIZ SUBSTITUTO TITULAR

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