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INSTITUTO DO EMPREGO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL

CENTRO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE BRAGA

Curso de Técnico de Contabilidade

Formadores Esmeralda Galvão e Paulo


Turma: Domínio: Cultura, Língua e Comunicação
: Maia
Tema: CLC 6 – Urbanismo e Mobilidade Data: Pág.: 1/6

LÍNGUA E COMUNIDADE LINGUÍSTICA

A comunidade linguística do português é vasta, espalhada por todos os continentes e ocupa o


quinto lugar entre as línguas mais usadas do mundo.
A utilização da língua portuguesa por todos os falantes, dentro e fora das fronteiras de Portugal e do
Brasil, constitui um património cultural comum a muitos milhões de cidadãos.
O português é língua nacional de Portugal e do Brasil, limitada pelas fronteiras de cada um destes
países. Por isso existem duas variedades da língua portuguesa: a variedade europeia e a variedade
brasileira.
O português é língua oficial em Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, S. Tomé e Príncipe
e Timor Leste. Em Macau, o português foi utilizado até este território ser integrado na China em 1999;
actualmente é considerado língua oficial, a par do chinês, por um período de 50 anos, a partir da data da
integração.
A comunidade linguística portuguesa, constituída por um património cultural comum a todos os
falantes que usam a mesma língua evidencia variedades na utilização da língua portuguesa, mas esta
diferenciação não impede a existência de uma certa unidade.
No território português, no concelho de Miranda do Douro, existe o Mirandês que constitui a única
língua minoritária de raiz histórica existente no país. Tradicionalmente, o mirandês é falado por cerca de
12000 pessoas, que, no entanto, utilizam o português em situações formais e oficiais. Esta língua minoritária
conserva características que a tornam distinta do português. Recentemente, tem havido tentativas de
revalorização do mirandês, para que não desapareça face à influência exercida pela língua portuguesa.

Variação e normalização linguística


Sendo a língua um organismo vivo e em constante mutação é natural que apresente inúmeras
variantes características ao seu sistema. Apesar de unas, todas as línguas são diversas.
À medida que vai sendo utilizada, a língua está sujeita a variação ao longo do espaço e do tempo.
Varia de região para região, de grupo social (etário, profissional...), de situação (mais ou menos formal), ou
varia através dos tempos, progressivamente, ou em função do contacto com outras línguas.

Variedades geográficas

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A língua portuguesa espalhada pelos vários continentes apresenta variação a nível lexical,
semântico, fonético e morfo-sintáctico.
Verificam-se ainda diferenças típicas em certas regiões do país, como o Alentejo, o Algarve, o
Minho, as Beiras, os Açores, a Madeira, a nível de vocabulário, de significado, de pronúncia - a estas
variedades regionais chamam-se dialectos.

Variedades sociais
O nível social e cultural dos falantes determina algumas variedades linguísticas. O maior ou menor
grau de escolaridade e o tipo de educação, a classe social, a idade, o sexo, a origem étnica de cada falante
identificam o ambiente socio-económico ou educacional e permitem estabelecer relações entre a língua e a
sociedade. Cada grupo social (etário, profissional, étnico... ) utiliza códigos linguísticos e comportamentais
distintos dentro do seu grupo.
Actualmente, com a facilidade de meios de comunicação, há uma tendência para a unificação
linguística, que atenua as variações geográficas, sociais e culturais.

Variação histórica
Com o decorrer do tempo a língua sofre alterações progressivas a nível fonético e fonológico,
morfo-sintáctico, semântico e lexical.

Variedades situacionais
Os falantes, ao desenvolverem a competência comunicativa, adaptam a linguagem à situação de
comunicação mais ou menos formal em que se encontram ou ao tipo de discurso usado (oral, escrito... ).
O tratamento da língua assume registos diferentes conforme os falantes se dirigem a um professor
ou a um colega, aos pais, a um superior hierárquico, ou a utilizam no decurso de uma exposição oral, num
debate, em relações sociais, na comunicação social.

Normalização e língua padrão


Apesar de todas as variedades existentes no território nacional, há uma unidade – a língua padrão.
Existe uma norma em que assentam a escola, os meios de comunicação social, que tendem a
uniformizar a gramática, a pronúncia e a ortografia.
Língua padrão ou norma padrão consiste na variedade social de uma língua (falada ou escrita)
legitimada enquanto meio de comunicação entre os falantes da classe média e da classe alta de uma
comunidade linguística.
A língua padrão em Portugal, aquela que a escola, a televisão, o rádio, os jornais difundem é a
variedade de Lisboa.

Níveis de língua

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Os enunciados, orais ou escritos, dependem das situações de comunicação. Para transmitir a
mesma informação, o mesmo indivíduo utilizará registos de língua diferentes em função do seu interlocutor,
do local e das circunstâncias em que se encontra e da natureza da mensagem.
Da necessidade desta adequação decorrem os vários registos.
A idade, o sexo, a profissão, o grau de escolaridade, os interesses, a região de origem, a mudança
geográfica no interior ou fora de uma determinada comunidade linguística, o tipo de interlocutor, o grau de
formalidade, as intenções comunicativas, o assunto, a situação e o contexto são parâmetros a ter em conta
quando falamos da utilização efectiva da língua por parte dos indivíduos.
Partindo desta análise inicial, podemos referir-nos às variedades geográficas (regionalismos), fruto
de um maior ou menor isolamento de um determinado grupo no interior de uma dada comunidade
linguística. Por outro lado, falamos de variedades socioprofissionais ao assumirmos que, em função dos
grupos sociais, culturais e/ou profissionais em que se integram, os falantes recorrem a linguagens especiais
(especializadas ou técnico-cientificas), por exemplo, do domínio da Medicina, da Electricidade, da
Mecânica, da Informática, da Olaria, etc.
Categorias distintas são também a gíria e o calão, linguagens consideradas marginais,
normalmente utilizadas por indivíduos que pertencem a um determinado grupo sócio-profissional. Podemos
falar da gíria dos médicos, dos linguistas, dos pescadores, entre muitas outras. O calão pode ser uma gíria
particular, normalmente associada a situações e contextos peculiares e ditos marginais, o que não equivale
a dizer que se trata da linguagem das camadas sociais mais desfavorecidas.
O calão cria novas palavras e contribui para o enriquecimento lexical e frásico de qualquer língua.
Varia de geração para geração e está muito associado à intimidade entre os falantes e ao tom coloquial.
Veja-se a este propósito o seguinte exemplo:

«Rádio? Que rádio? Vomita já essa história toda antes que te rache a mona!» (Mário Zambujal,
Crónica dos Bons Malandros, p. 15).

A gíria é normalmente entendida por um restrito grupo de indivíduos que se move numa
determinada área do saber ou tem uma profissão em comum, podendo, gradualmente, passar a ser
entendida por um maior número de falantes. Palavras como bombordo, estibordo, proa, popa fazem parte
da gíria dos marinheiros. As fronteiras entre a gíria e a linguagem técnica, científica ou qualquer uma das
linguagens especializadas não estão bem definidas, pelo que podemos hesitar quanto à sua mais correcta
classificação.

Consideremos, então, os seguintes níveis: corrente, familiar, popular, cuidado e culto.


São tidas como pertencentes ao nível corrente as realizações linguísticas que permitem o
entendimento geral entre os vários falantes de uma comunidade, independentemente das diferenças
socioculturais que os caracterizem. É o nível de linguagem utilizado pelos meios de comunicação social,
uma vez que o seu objectivo é alcançar toda a comunidade.
O nível familiar é marcado pela espontaneidade e pelo uso menos vigiado das estruturas
sintácticas e lexicais, sofrendo muitas interferências dos outros níveis. É utilizado no quotidiano e em
situações comunicativas informais. Não raras vezes, recorre a estruturas que violam a denominada regra.

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O nível cuidado caracteriza-se pela preocupação relativamente à forma e ao conteúdo. Define-se
pelo rigor das construções frásicas e por uma escolha cuidada do léxico. É utilizado em conferências,
prefácios e em textos de carácter mais formal.

«Meus Senhores: / A decadência dos povos da Península nos três últimos séculos é um dos factos
mais incontestáveis, mais evidentes da nossa história: pode até dizer-se que essa decadência, seguindo-se
quase sem transição a um período de força gloriosa e de rica originalidade, é o único grande facto evidente
e incontestável que nessa história aparece aos olhos do historiador filósofo.» (Antero de Quental, "Causas
da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos", conferência, Casino Lisbonense, 1871.)

Por sua vez, o nível popular está associado à simplicidade da utilização linguística em termos
lexicais, fonéticos, sintácticos e semânticos. Esta decorrerá da espontaneidade própria do discurso oral e da
natural economia linguística. É utilizado em contextos informais. Tomem-se a título exemplificativo os
excertos que se seguem:

«Minha santa filha do meu bô coração/ Cá arrecebi a tua pera mim muito estimada carta e nela
fiquei ciante e sastifeita por saber que andavas rija e fera na cumpanhia do teu marido.» (Aquilino Ribeiro, O
Homem na Nave); «- Ó Tio Luís, ó Tio Luís!.../ - Que é? / - Vossemecê não vê? (...)/ - Ouviste por 'i berrar
uma cabra?» (Camilo Castelo Branco, Maria Moisés, pp. 44-45).

Finalmente, referimo-nos ao nível culto quando os falantes, fazendo uso de uma linguagem
rigorosa, elaborada e por vezes hermética, se referem a temas considerados eruditos. Nem sempre é tarefa
fácil demarcá-lo com exactidão.

«Perturba-me escrever sobre a minha poesia como me solicitam os que aqui a dão a conhecer
numa amplitude próxima do seu conjunto (ficam ainda de fora alguns inéditos) porque, ao fazê-lo, das duas
uma: ou, tara que não me seduz, indulgiria em entregar-me ao onanismo de uma auto-apreciação
irremediavelmente atada ao cordão umbilical que me liga aos meus poemas; ou, baforando fumaças de
objectividade, só por um factício prodígio poderia transmigrar de autora para teorizadora desse meu íntimo
assunto poético em que além de mim age um ignotus que ainda estou para saber o que é.» (Natália Correia,
Poesia Completa, "Introdução", p. 29)

Ao optar por um determinado nível de língua, cada indivíduo está a adequar o seu discurso à
situação comunicativa em que se encontra. Desta forma, não será correcto falar de uma hierarquia de
níveis, pressupondo uma gradação ascendente ou descendente em relação à considerada norma. Qualquer
falante alterna a utilização dos vários níveis porque incorrecto seria não adaptar a forma ao contexto
situacional.

Vanda Magarreiro (texto adaptado e com supressões)

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Crónica do Falar Lisboetês

De súbito, o homem do quiosque de Lisboa a quem eu pedira os meus jornais habituais


interpelou-me:
- O senhor é do Norte, não é?
Respondi-lhe que não, que nasci na Bairrada e que resido há quase 40 anos em Coimbra.
Fitou-me perplexo. Logo compreendi que do ponto de vista de Lisboa tudo o que fique para cima de
Caneças pertence ao Norte, uma vaga região que desce desde a Galiza até às portas da capital. Foi
a minha vez de indagar porque é que me considerava oriundo do Norte. Respondeu de pronto que
era pela forma como eu falava, querendo com isso significar obviamente que eu não falava a língua
tal como se fala na capital, que para ele, presumivelmente, não poderia deixar de ser a forma
autorizada de falar português.
Foi a primeira vez que tal me aconteceu. Julgava eu que falava um português padrão,
normalmente identificado com a forma como se fala "grosso modo" entre Coimbra e Lisboa e cuja
versão erudita foi sendo irradiada desde o século XVI pela Universidade de Coimbra, durante muitos
séculos a única universidade portuguesa. Afinal via-me agora reduzido à patológica condição de
falante de um dialecto do Norte, um desvio algo assim como a fala madeirense ou a açoriana.
Na verdade - logo me recordei -, não é preciso ser especialista para verificar as evidentes
particularidades do falar alfacinha dominante. Por exemplo, "piscina" diz-se "pichina", "disciplina" diz-
se
" dichiplina". E a mesma anomalia de pronúncia se verifica geralmente em todos os grupos "sce" ou
"sci": "crecher" em vez de "crescer" , " seichentos" em vez de "seiscentos", e assim por diante.
O mesmo sucede quando uma palavra terminada em "s" é seguida de outra começada por
"si" ou "se". Por exemplo, a expressão "os sintomas" sai algo parecido com "uchintomas", "dois
sistemas" como "doichistemas". Ainda na mesma linha a própria pronúncia" de Lisboa" soa
tipicamente a "L'jboa".
Outra divergência notória tem a ver com a pronúncia dos conjuntos" -elho" ou" -enho", que
soam cada vez mais como "-ânho" ou "-âlho", como ocorre por exemplo em "coelho", "joelho",
"velho", frequentemente ditos como "coâlho", "joâlho" e "vâlho".
Uma outra tendência cada vez mais vulgar é a de comer os sons, sobretudo a sílaba final,
que fica reduzida a uma consoante aspirada. Por exemplo: "pov'" ou "continent''', em vez de "povo" e
de "continente". Mas essa fonofagia não se limita às sílabas finais. Se se atentar na pronúncia da
palavra " Portugal ", ela soa muitas vezes como algo parecido com "P'rt'gâl".
O que é mais grave é que esta forma de falar lisboeta não se limita às classes populares,
antes é compartilhada crescentemente por gente letrada e pela generalidade do mundo da
comunicação audiovisual, estando por isso a expandir-se, sob a poderosa influência da rádio e da
televisão.
Penso que não se trata de um desenvolvimento linguístico digno de aplauso. Este falar
português, cada vez mais cheio de "chês" e de "jês", é francamente desagradável ao ouvido, afasta

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cada vez mais a pronúncia em relação à grafia das palavras e torna o português europeu uma língua
de sonoridade exótica, cada vez mais incompreensível já não somente para os espanhóis (apesar da
facilidade com que nós os entendemos a eles), mas inclusive para os brasileiros, cujo português
mantém a pronúncia bem aberta das vogais e uma rigorosa separação de todas as sílabas das
palavras.
Vital Moreira, Públi co,04/01/2000

Contra o "sotaque único"

APOSTILA - O meu amigo Vital Moreira escreveu, para o "Público", uma estranha crónica, na
qual, com mão e ironia por igual pesadas, troça do sotaque lisboeta, a que chama inapropriadamente
"lisboetês", no que seria, porventura, "lisboês." O Vital sabe que os registos fonológicos ou fonéticos
obedecem à natureza constitutiva de cada território idiomático. Qual a razão do dislate intempestivo?
"A minha pátria é a minha língua portuguesa", disse-o Mia Couto, de maneira exemplar, na revista
"Pública", último domingo. O português falado (admito, até, que "mal falado") em Lisboa é-o assim
tão, e tanto, quanto o de cada ilha dos Açores; ou do Alentejo, ou da meseta transmontana; ou do
Bulhão, ou de Moçambique, ou de Timor Loro Sae, ou do Brasil, ou de sei lá quanto quê!? Menos em
Coimbra, claro! aí, a fala fia fino, feliz e fluida. Vital Moreira é dos homens mais lúcidos que conheço,
e a sua curiosidade activa está a par da sua integridade moral e cultural. Eis porque o texto do meu
velho amigo adquire uma espessura surpreendentemente "racista." Então, ó Vital, querias a
globalização da fala?, o sotaque único? Deixa-nos comer as vogais, trocar os "conjuntos" de
consoantes; deixa-nos dizer assim como assim falamos. A riqueza do idioma consiste nas suas
variantes sintácticas e nos registos fonéticos. E as línguas são organismos vivos, que se remancham
e remanejam a eles mesmos; que podem provir do norte ou do sul, que possuem uma qualidade
miscível, de miscigenação, que deixam de ser pertença de, para se constituírem como leitos de
nações. ( ... ).

Baptista-Bastos, Diário Económico, 07/01/2000

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