Desde a explosão do capitalismo no mundo a exploração do consumo é a forma mais
utilizada para se alavancar fortunas. Dentro deste cenário é que surgem os principais personagens da economia mundial, o fornecedor e o consumidor (empresário e cliente, respectivamente nesse caso). No Brasil esta relação era “controlada” pelo Código Civil Brasileiro até a promulgação da Constituição Federal em 1988, onde entre outras coisas se criava o Código de Defesa do Consumidor. Um avanço, sim. Desmistifica o dito popular de que no Brasil lei não é para ser cumprida, principalmente pelo lado mais forte. O Código de Defesa do Consumidor contraria esse ditado desobstruindo obstáculos pela eficácia de sua aplicação através dos PROCONS, órgãos públicos de Defesa do Consumidor. Sua aplicação também mostra aos brasileiros que é possível sonhar com uma Nação Cidadã, regida pela consciência ética e sem benevolência com a corrupção política, com empresários de má fé e muito menos com a influência nefasta dos especuladores que querem fazer do Brasil um país engessado pelo capitalismo selvagem. Hiposuficiência, inversão do ônus da prova, proteção do consumidor em seus direitos fundamentais como parte da defesa dos direitos humanos, respeito, dignidade, informação e outros tantos termos e princípios são utilizados para demonstrar a fragilidade do consumidor e a necessidade do resguardo dos seus direitos. Mas e os direitos do fornecedor? A proteção do consumidor, defendida a longa data internacionalmente e já vintenária em nosso país, trouxe consciência de deveres e obrigações dos fornecedores em relação aos consumidores, protegendo estes como parte frágil da relação de consumo. Contudo, há um consenso de que os direitos do fornecedor devem ser esquecidos e que quem fornece sempre é o vilão da história. A defesa do consumidor só existe porque há dois pólos: consumidor e fornecedor. Sendo assim, para ter direitos deve haver também obrigações recíprocas - e não apenas unilaterais. O fornecedor tem sim direitos garantidos pelos princípios gerais do direito e pelas leis. Pelos princípios gerais do direito, representados pela boa-fé, equilíbrio, dever de lealdade, reciprocidade, verdade, respeito e decência, entre outros tantos, o fornecedor deve ser protegido. No trato com o fornecedor, esses princípios devem nortear a atuação dos consumidores que, por serem considerados frágeis, não estão isentos de sua obediência. São de princípios que devem pautar todas as relações, sejam elas humanas ou de consumo. Constitucionalmente, a proteção do fornecedor está garantida na possibilidade de sua ampla defesa, o que significa que tem direitos e que estes podem ser ofendidos pelo consumidor. A legislação nacional de proteção ao consumidor, o Código de Defesa do Consumidor , preconiza que as relações de consumo devem se embasar na transparência e harmonia. Recíprocas. A necessidade de harmonização pressupõe que ambos, fornecedor e consumidor, devem ser protegidos, uma vez que os dois lados têm potencial lesivo. A quantidade de ações que tramitam nos tribunais demonstra que os princípios gerais do direito são desrespeitados frequentemente e, certamente, o consumidor é suscetível de desrespeitá-los. É preciso ter cautela ao promover a defesa absoluta da inocência do consumidor e analisar com rigor os fatos ocorridos pontualmente, para não condenar a priori o fornecedor. Certamente as regras de consumo garantiram maior segurança, transparência e lisura nas relações de consumo. Por outro lado, a teórica fragilidade do consumidor acarretou para o fornecedor um risco permanente de que consumidores de má-fé façam uso dos mesmos direitos destinados àqueles que procedem embasados no respeito recíproco, causando-lhe danos por meio de ações e reclamações infundadas onde, somente ao fornecedor caberá o fornecimento de provas (que muitas vezes não existem pela própria natureza da relação de consumo ocorrida). Se não forem observados os princípios de harmonia das relações de consumo, protegendo também o fornecedor, apreciando-se com moderação e prudência argumentos e relatos dos consumidores, corre-se o risco da burocratização das relações de consumo, em sua maioria informais, na tentativa dos fornecedores, receosos de problemas futuros, terem que tudo prever e planejar para sua proteção. Além disso, injustiças devem sempre ser evitadas. Atribuir um poder supremo aos consumidores e uma condenação prévia dos fornecedores significam, de antemão, o cometimento de uma grande injustiça - a desproporcionalidade - em detrimento da maior mostra de justiça que pode haver o equilíbrio.