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A VELHA DO BOSQUE

Matilde Rosa Araújo

Era uma mulher, uma pobre mulher que ia à lenha. Ia à lenha, todos os dias, ia
pelo bosque com um grande saco, arrastando-o pelo chão. No bosque cantam
pássaros e o vento canta nas árvores abanando-lhes as folhas.
E o sol, de quando em quando, faz uma clareira pelo chão por onde a pobre
mulher vai passando.
E a mulher, a pobre e velha mulher, apanha as folhas e os ramos secos que
caem, no chão, não escutando o canto dos pássaros, não escutando o canto do
vento.
Quase não podendo olhar a clareira do sol, de tão cansada.
E um dia, um dia quando a pobre mulher se arrastava mais cansada e nada via,
nada escutava: quando as suas mãos rugosas, de tantos anos tanto trabalharem,
apanhavam as folhas e a lenha do chão que iam metendo num grande saco,
ouviu! como num sonho, ouviu o ruído de um cavalo vindo de longe . . . um
cavalo que depressa se aproximava de si.
E pensou alto: um cavalo pelo bosque?! Nunca dei por tal. Estarei a sonhar?
Mas não sonhava. Na clareira do bosque, mesmo no chão, onde se espalhava o
sol, um lindo cavalo branco estacou.
Um cavalo branco parou sobre a clareira do sol.
E trazia montado, segurando nas rédeas de couro fino, um lindo menino de
olhos dourados. E a pobre mulher perguntou:
— Quem és tu? Serás meu neto? Filho de algum filho meu? E um pássaro pousa
no teu ombro como se tu fosses um ramo e aí estivesse descansado
E tornou a perguntar:
— Quem és tu ?
O menino sorriu. Sorriu como só sabem sorrir as crianças e o próprio sol pela
manhã.
E respondeu, do alto e branco cavalo, fitando-a, com os olhos dourados:
— Podia ser filho dum filho teu, mas não o sou, eu não sou teu neto. Mas vim
para te ajudar.
E a pobre e velha mulher, surpreendida, perguntou:

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— Ajudar-me, porquê? É verdade que estou cansada, mas já faço este trabalho
há tantos anos, já as minhas mãos estão cansadas, e enrugadas, como se fossem
os troncos e as folhas que caem. Mas habituei -me. E o menino sorriu mais e
mais a fitou, debaixo do sol, com os seus olhos dourados.
E de novo falou:
— Pobre mulher tão cansada que ninguém ajuda... De cansada nem escutas o
canto dos pássaros, nem o canto do vento.
Mas o menino, sentado sobre o seu cavalo
branco na clareira do sol, continuou a
falar:
Eu hoje venho ajudar-te. Sobe para o meu
cavalo com o teu saco de troncos e de
folhas secas. Sobe... Anda.
E a pobre e velha mulher perguntou:
— Como? Se não posso. . . E o teu cavalo,
menino, é tão alto e as minhas pernas
tão cansadas.
Então o menino sorriu mais e estendeu-lhe
a mão direita. Mão tão
branca como um ovo de pássaro, como a
pétala simples de uma rosa
brava.
E disse:
— Sobe, pobre mulher... Anda
E logo o pássaro, que no ombro lhe
pousava, pássaro cor de fogo
vivo da lareira, alegremente cantou no ombro do menino.
E logo a pobre e velha mulher subiu para a sela do cavalo, como se
tivesse quinze anos e corresse para dançar uma dança maravilhosa pela
mão do seu namorado.
E sentou-se sobre a sela do cavalo ficando-lhe o menino à ilharga. O
menino a quem pousava no ombro o pássaro cor de fogo da lareira e
segurava as rédeas com as brancas mãos.
E em seguida voou também para cima da sela o saco de serapilheira
escura, que parecia ter asas.
E os olhos dourados do menino sorriam mais!
E a pobre mulher pensou alto: Se fosses meu neto não eras melhor
para mim...
O menino quase a emendou:
— Que importa não ser teu neto? Todos somos netos, filhos, irmãos
dos outros mais. Nem olhas o sol, nem escutas o canto dos pássaros, nem
a música do vento, cansada de tantos anos de luta pelo calor do lume,
apanhando esta lenha do chão: cansada como os próprios troncos velhos
que o vento faz cair.
Eu vim, com o meu cavalo, para te dizer que os velhos precisam de ajuda, do
amor dos novos: têm direito ao descanso, à alegria.

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Vai escutando, pobre e velha mulher, e alegra o teu coração: têm o
direito de poder olhar o sol, como nós, meninos, a escutar o cantar dos
pássaros e o murmurar do vento.
Eu vim, no meu cavalo branco, ajudar-te. Os teus filhos estão longe e
não o podem, talvez, fazer.
E o pássaro cor do fogo da lareira, no ombro do menino pousado, de
novo cantou, cantou de alegria.
Então a pobre e velha mulher deixou-se sorrir docemente. Uma
estranha e alegre música lhe falava no peito.
E o cavalo, o branco cavalo, começou a andar sendo sempre acompanhado por
uma clareira de sol, através do verde bosque.
E a pobre e velha mulher, quando chegaram a uma pobre e velha
cabana, disse ao menino:
— Menino, que não és meu neto, mas és meu amigo, esta é a minha casa.
Queres entrar? A casa é pobre, mas eu estou nela, vivo aqui .
O menino contente, respondeu:
— Aceito. Obrigado pobre e velha mulher. Que bom é entrar numa casa amiga
e nela compartilhar o pão.
E ambos desceram do branco cavalo que ficara à porta.
O pássaro cor de fogo da lareira voou do ombro do menino e pousou na cabeça
do cavalo, entre as duas brancas orelhas. Poisou ali mansamente.
E ouviu-se uma voz:
Um cavalo branco
À porta parado,
Pássaro de fogo
A cantar pousado.

Logo a pobre e velha mulher foi ao estábulo vazio e trouxe uma mão de feno
para o branco cavalo e migalhas de pão que deu de comer ao pássaro de fogo
estendendo-as na sua mão enrugada. Parecia feliz. E era feliz
O menino olhava-os (à mulher, ao cavalo, ao pássaro) sorrindo, sorrindo e
fitando-os com os seus olhos dourados.
Depois a pobre e velha mulher e o menino entraram ambos em casa. Uma casa
de herdade tão pobre por dentro como pobre era por fora.
Sentaram-se ambos à mesa, felizes e calados.
Então o relógio, um velho relógio da torre da igreja da aldeia, deu as cinco
horas da tarde.
A pobre e velha mulher partia o pão com uma faca de cabo de madeira sobre o
velho tampo da mesa. A mesa, de madeira também, que fora tronco de uma
árvore, como de uma pequena parte do tronco de uma árvore se fizera o cabo
da faca. E como de tronco e folhas era o lume que já ardia na lareira.
E o menino, com os seus olhos de oiro, olhou o rosto enrugado da pobre e velha
mulher, enquanto ia comendo o pão com vagar. E pensava:
como os troncos, que eram agora mesas, cabos de facas, e crepitavam no lume,
também aquele rosto fora novo, jovem e contente, sobre ele teria brilhado o Sol
corando-lhe as faces lisas. E passara nele o tempo tornando-as enrugadas.

3
E o menino pensou alto: ser velho é tão belo como ser criança. É tão belo e cheio
de Primavera! Agora acredito, mas é preciso amor.
E falou para a pobre e velha mulher:
— Pobre e velha mulher, terás sempre um cavalo branco à tua porta e um
pássaro de fogo para que o oiça o teu coração. Um pássaro como aquele que ali
está parado sobre a cabeça do meu cavalo. E eu virei também.
E o menino, depois de isto dizer, adormeceu devagarinho, sobre a mesa, com a
cabeça tombada sobre as brancas e jovens mãos. Defronte da pobre e velha
mulher.
Então ela sorriu outra vez. E os seus olhos começaram a brilhar, já eram quase
dourados também.
E pousou as mãos enrugadas como folhas secas sobre a linda cabeça jovem e
adormecida.
E pelo seu rosto enrugado, rolou uma lágrima transparente, tal gota pura de
orvalho sobre folha do bosque pela manhã.
E era feliz.
Conta a história que virá um dia em que a
todas as portas dos velhos
— velhas mulheres e velhos homens —
chegará um cavalo branco vindo
do bosque, com um menino de olhos
dourados de ternura sentado sobre
a sua sela e um pássaro de fogo no seu
ombro pousado.
E todos os podem ver, todos os podem
olhar. Todos os podem olhar. Todos podem
entender este segredo maravilhoso —
segredo que está fechado ainda nas nossas
mãos, nas mãos de todos nós.

Depois de leres este conto, faz o exercício interactivo que se encontra em


“O prazer de ler”
http://moodle.eb23-arouca.edu.pt

Lembra-te, no entanto, que ler um livro não é só perceber a história que ele nos
conta, mas também apreciar a sua beleza literária. É lendo muito e atentamente
que se aprende a escrever correctamente, desenvolvendo, ao mesmo tempo, a
imaginação e enriquecendo o vocabulário.

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