Do texto da Maria Salete Aranha “Integração Social do Deficiente: Análise conceitual
e metodológica”, fazer um resumo organizando-o em forma de linha de tempo, destacando a concepção de homem, deficiência e qual a atitude tomada em relação aos deficientes. Peso 20.
Integração Social do Deficiente: uma pesrpectiva histórica-crítica do fenômeno
No artigo “A Integração Social do Deficiente: análise conceitual e metodológica”,
publicado na revista Temas em Psicologia de Ribeirão Preto, no segundo número do ano de 1995, a pesquisadora Maria Salete Aranha se propõe analisar a incoerência do fenômeno brasileiro que no pólo teórico defende proeminentemente a integração social do deficiente, mas que no pólo prático ainda segrega em Instituições e Escolas Especiais a grande parcela dos deficientes brasileiros. Antes de iniciar a análise sobre a integração social do deficiente, a pesquisadora expõe que sua concepção de homem liga-se a uma perspectiva etológica, que supera as visões reducionistas tradicionais, uma vez que abarca a unidade bio-psico-social do homem. Dessa maneira, ela concebe o Homem como um ser biologicamente cultural, inserido em um contexto que é formado e conformado com regras sociais oriundas do sistema de valores criado a partir das relações de produção, as quais estipulam quem tem valor e quem é destituído de valor no sistema. Essa avaliação está relacionada a características e peculiaridades dos indivíduos e dos grupos sociais, ampliando-se por meio dos diferentes setores e mecanismos sociais, produzindo assim, um sistema de valores e significados que norteia a construção das concepções e da avaliação social que se faz dos indivíduos. Como o homem é um ser biologicamente cultural que vive em um contexto, Aranha defende que não há como analisá-lo fora do contexto sócio-cultural. Dessa maneira, a pesquisadora apresenta uma reflexão sócio-histórica sobre a integração social do deficiente ligada às relações de produção, que geram concepções de homem e de deficiência diferentes em cada momento histórico. Durante a Antiguidade, o sistema de produção era alicerçado na agricultura, na pecuária e no artesanato, nesse período havia somente duas classes sociais. Logo, a concepção de Homem estava fortemente ligada a dissimetria social, isto é, o Homem era o senhor dono das terras, que desfrutavam do poder, e os demais indivíduos dependentes econômicos do primeiro e responsáveis pela produção, desprovidos de valor. Nesta época a deficiência como problema não existia, as crianças portadoras de deficiência física eram rejeitadas e abandonadas. Já na Idade Média, o advento do Cristianismo influenciou o desenvolvimento da visão abstrata do homem e a organização da sociedade, que passa a ser composta por três classes sociais: nobreza, clero e servos. Nesse contexto, o deficiente, indivíduo não produtivo, em razão das ideias cristãs, é reconhecido como ser humano portador de uma alma, por este motivo a sua exterminação não é mais aceita. Com o tempo, a custódia e os cuidados dos indivíduos deficientes passaram a ser responsabilidade da família e da Igreja, mas isso não garantia que o acolhimento, proteção, treinamento ou tratamento fossem providos. Durante esse momento, a concepção de deficiência, considerada como fenômeno metafísico e espiritual, foi atribuída ora à possessão demoníaca ora à desígnios divinos. Dessa forma, a atitude principal da sociedade em relação ao deficiente era de punição e de intolerância, os diferentes eram aprisionados, torturados e castigados. No final do século XV, a estrutura social e cultural da sociedade sofre profundas alterações com a Revolução Burguesa, a qual que provoca a mudança do sistema de produção e gera a derrubada da hegemonia tanto da nobreza quanto da Igreja Católica, implantando, dessa maneira, o capitalismo mercantil. O novo sistema de produção desencadeia uma nova divisão do trabalho alicerçada sobre contratos de trabalho entre os donos dos meios de produção e os operários, que passam a receber pelo trabalho realizado. Consequentemente, os sujeitos não produtivos passam a ser considerados deficientes, porém com o avanço da medicina a demência e a amência deixam de ser problema teológico e moral para serem tratadas como problema médico nos hospitais psiquiátricos (ambientes que aprisionam em vez de tratar os pacientes). Durante os séculos XVII e XVIII, o modo de produção capitalista se fortalece e torna- se capitalismo comercial. Embora a visão abstrata de homem permaneça, os indivíduos começam a ser considerados como essencialmente diferentes, o que legitima as noções de desigualdades, pois os sujeitos produtivos e mantenedores do sistema são valorizados enquanto os sujeitos improdutivos são desvalorizados. As leituras de deficiência enquanto problema a ser tratado pelos setores médico e educacional desenvolvem-se consideravelmente, e desencadeiam diferentes atitudes: desde a institucionalização em manicômios e até o ensino especial. Com o modo de produção capitalista em estágio de fortalecimento e desenvolvimento no século XIX, surge a necessidade de formar cidadãos produtivos e mão-de-obra necessária para a produção. Diante disso, torna-se imprescindível a estruturação de um sistema nacional de ensino público, bem como a atitude de responsabilidade pública pelas necessidades do deficiente começa a se desenvolver. No século XX, implanta-se o capitalismo moderno, que se caracteriza pela existência dos grandes capitalistas que estipulam a força de trabalho que necessitam para alcançar seus objetivos, o Estado mobiliza condições para garantir o volume necessário de trabalhadores, no entanto, a população excedente é marginalizada. As leituras de deficiência recebem contribuição de várias perspectivas: metafísica, médica, educacional, determinação social, sócioconstrutivista. Embora a leitura da deficiência seja feita por diferentes dimensões, a origem do fenômeno permanece sendo de natureza sócio-político-econômica. No início desse século a problemática da Integração Social do deficiente torna-se alvo de debates. A primeira atitude consistente referente a tal problemática foi tomada pelo governo federal dos Estados Unidos, que não apenas reconheceu sua responsabilidade no cuidado do deficiente (no que se referia a suas necessidades de educação e treinamento), como também no ano de 1913 implantou uma lei federal que deu ao governo a capacidade financeira para assumir a responsabilidade da reabilitação do deficiente. Depois do reconhecimento e da responsabilidade assumida pelo governo federal dos Estados Unidos muitos Atos Constitucionais, que garantiam ações e suporte financeiro para programas de Reabilitação foram aprovados. A Segunda Guerra Mundial, neste país, foi um instrumento que serviu para valorizar, reabilitar na sociedade os indivíduos portadores de deficiência e acelerar os programas de Integração Social, visto que com a escassez de mão-de- obra, foram criadas muitas oportunidades de emprego para os deficientes, demonstrando assim que eles podiam trabalhar, tinham potencial para isso e almejavam uma oportunidade de ter voz ativa na sociedade. Os princípios da filosofia da Reabilitação e seus métodos de operação tornaram-se lei federal no território americano depois do ano de 1945. A Guerra do Vietnã, na década de 60, contribuiu de modo expressivo para o aumento de deficientes com problemas físicos e psíquicos, os quais apresentavam problemas sérios de readaptação social depois da guerra, nos Estados Unidos. O problema do estigma e do isolamento dos deficientes atingiu índices elevados neste país, o que desencadeou a reação social que exigia a defesa dos direitos das minorias, entre elas a normalização dos deficientes. Diante do exposto, Aranha defende que nos Estados Unidos (e em países europeus) as concepções e discursos a respeito das pessoas portadoras de deficiência são produtos descritivos da prática construída historicamente, em razão de necessidades e pressões políticas da sociedade. No entanto, o que se constata é que o Brasil adotou um discurso politicamente correto a nível internacional, pois a normalização é um princípio representante da base ideológica da integração, conforme a Política Nacional de Educação Especial. Busca-se normalizar não as pessoas deficientes, mas sim o contexto em que elas se desenvolvem, de oferecer modos e condições de vida diária os mais próximos possíveis das condições de vida do resto da população. O princípio de normalização é a base filosófica dos movimentos de desinstitucionalização e de integração social do deficiente, os quais lutam simultaneamente pela retirada dos indivíduos das instituições tradicionais e pela implantação de programas comunitários de serviços para atender as necessidades dos deficientes. Todo esse processo é financiado com verba pública, de responsabilidade do Governo Federal, Estadual e Municipal. Contudo, esse discurso não funciona na prática, uma vez que as pessoas deficientes ainda continuam segregadas em instituições tradicionais. Com este artigo a pesquisadora busca romper com a análise mecanicista da deficiência, expondo o método de compreensão da realidade oferecido pela análise histórica- crítica do fenômeno, que o contextualiza nas características de organização sócio-político- econômica na sociedade capitalista. Assim, Aranha propõe a deficiência como uma condição complexa multideterminada, que é produto de critérios estatísticos que somente valorizam a capacidade produtiva dos sujeitos. Características biológicas e psicológicas, designadas ou não por condições sociais incapacitadoras, provocam a segregação (elemento que mantém o processo de segregação) quer dizer, os indivíduos que não correspondem ao parâmetro de existência/produção, estabelecidos pelo sistema vigente, são naturalmente desvalorizados. Assim, a segregação impede e limita os deficientes de aturarem ativamente na sociedade, consequentemente, compromete de modo progressivo a apreensão do real e o desenvolvimento dos portadores de deficiência. Enfim, a pesquisadora conclui que é nas relações interpessoais que ocorre a apreensão do real, a construção do conhecimento, o desenvolvimento do homem e a construção da subjetividade e da própria sociedade. Frente a isso, a exclusão do deficiente impede não somente aos deficientes quanto aos não deficientes e a sociedade, o relacionamento com as diferenças, elemento constitutivo da natureza humana. Logo, a integração social é um direito de todos os integrantes de uma sociedade de exposição à realidade sem obstáculos