E STA D O D E M I N A S ● Q U A R T A - F E I R A , 2 3 D E M A R Ç O D E 2 0 1 1

4 CULTURA

DIVERSIDADE

Grupos musicais da periferia de Belo Horizonte são selecionados pelo programa da ONG
Favela É Isso Aí. Tem de tudo, do rap ao sertanejo, passando pelo rock, chorinho e MPB

Cidade cercada de arte

JANAINA CUNHA MELO
Funk, rock, sertanejo, rap e
MPB. A diversidade de estilos
marca a segunda edição de pro-
jeto de gravação de CDs com ar-
tistas de periferia, realizado pe-
la ONG Favela É Isso Aí. Depois
do êxito da iniciativa ano passa-
do, foi aberto novo edital para
escolha de novos músicos a se-
rem contemplados. Com coor-
denação geral da antropóloga
Clarice Libânio e direção artísti-
ca de César Maurício, ambos
fundadores da instituição, 31
grupos se inscreveram e sete
participam de box com sete
CDs que serão lançados mês
que vem, em data a ser confir-
mada. Também será produzido
videoclipe e show, para apre-
sentar ao público talentos de di-
ferentes regiões da cidade.
“A ideia é possibilitar que
esses artistas, que sequer con-
seguiram gravar um disco solo,
participem de um projeto com
músicas bem produzidas, gra-
vadas com cuidado, e permitir
que cada um tenha seu pró-
prio EP com capa, encarte ba-
cana e breve descrição de sua
trajetória”, explica César Mau-
rício. Integrante do Virna Lisi, o
roqueiro e diretor artístico co-
nhece de perto a realidade do
mercado fonográfico e os desa-
fios da indústria cultural. Para
ele, ter um produto caprichado
Na luta desde 2004, o grupo de rap A Corte, do Vale do Jatobá, é uma das boas promessas do rap da região metropolitana de BH
é o primeiro passo de conquis-
tas ainda maiores.
Ao rever os resultados das
gravações, o diretor elogia to-
dos os participantes. São eles o
grupo de rap A Corte, do Vale
do Jatobá; MC Fael (funk), do
Granja de Freitas; os sertanejos
do Jacaré e Jacarandá, do Durval
de Barros; Cacá Gualberto
(MPB), do Alto Vera Cruz; Tuta e
Eliseu (instrumental), do Bairro
Cardoso, e o rock da banda Na-
valha, da Vila Marçola. “Encon-
tramos em todos eles um dese-
FOTOS: PEDRO DAVID/DIVULGAÇÃO
jo enorme de sair do zero. Eles
são inteligentes, têm consciên-
cia da importância do que fa-
zem. O que lhes faltava era con-
tar com uma equipe que olhas-
se para a produção deles e os
ajudasse a refletir sobre como
poderia ficar ainda melhor, se-
gundo critérios profissionais”,
diz César Maurício.
O diretor não esconde satis-
fação de contemplar o trabalho
e observar que os técnicos con-
seguiram preservar caracterís-
ticas essenciais dos grupos. Tu-
ta e Eliseu, exemplifica, têm
modo particular de articular os
acordes, com a simplicidade
que torna a sonoridade espe-
cial. Durante o processo de rea-
lização, lembra o diretor, eles
agradeceram pela possibilidade
de registrar músicas que fazem
parte da rotina familiar há anos.
“Tem sido uma experiência lin-
da. Eles ficaram muito emocio-
nados quando se deram conta
de que deixariam para seus fi-
lhos algo que se perpetua”.
Com o projeto, a instituição
pretende espalhar no mapa de
BH artistas locais que a própria
cidade desconhece. Muitos de-
les, observa César Maurício,
poucas vezes se deslocaram da
periferia para o Centro, mesmo
para atividades rotineiras ou de
lazer. “O critério de escolha não
foi necessariamente técnico
porque conhecemos a precarie-
dade do acesso deles aos meios
profissionais. O que buscamos
é a valorização de trajetórias
que fazem parte da memória de
Belo Horizonte”, diz.

OS GRUPOS JACARÉ E JACARANDÁ

(DURVAL DE BARROS)
• CACÁ GUALBERTO (ALTO VERA CRUZ)
Expedito Marques e Geraldo Magela são
Ele é cantor, compositor, violonista e percussionista. Aos 16 anos se interessou conhecidos como Jacaré e Jacarandá
pela música e foi no pandeiro que deu seus primeiros passos. Já bem desde 2008. Jacaré toca cavaquinho e
familiarizado com o instrumento, ingressou em um grupo de samba e pagode. Jacarandá toca violão. Eles se
Ficou nesse conjunto cerca de oito anos, passou por outras bandas até se conheceram em apresentações em
decidir pela carreira solo. Influenciado pelo rap, samba, black music e a MPB, algumas igrejas da região do Bairro
esta será a primeira gravação profissional de Cacá. Durval de Barros e a partir daí começaram
a criar suas próprias músicas. Jacarandá já
se apresentou em vários programas de
• MC FAEL (GRANJA DE FREITAS) rádio, antes da formação da dupla, com
TUTA E ELISEU (CARDOSO) outros parceiros. NAVALHA (SERRA)
Começou a carreira em 2003 e faz questão de dizer que todas as músicas
são compostas por ele. MC Fael, em 2009, gravou uma demo e ganhou São dois apaixonados pela música de A banda de rock foi criada em
como melhor MC de BH, uma iniciativa do Bar Brasil, no Barro Preto. seresta e chorinho. José Francisco da Silva, 2003 na Vila Marçola, no
Paulo Rafael ou MC Fael dá oficina de funk no Projeto Fica Vivo, no Granja conhecido desde criança comoTuta, toca Bairro Serra. É formada por
de Freitas, onde mora. cavaquinho. Integrante do grupo Choro e Jansey Valdez, Luiz Reis e
Valsa, da cidade de Moeda, e do grupo Glays Valdez de Lima. As letras
Seresteiros do Barreiro,Tuta conheceu Eliseu têm referências poéticas,
• A CORTE (VALE DO JATOBÁ) no Centro Cultural do Urucuia, no Cardoso. políticas e comportamentais e
As músicas que serão gravadas no CD são são todas de Jansey. O rock da
O Grupo foi criado em 2004 por Eduardo DW, que sempre convidava artistas inéditas e de autoria de José Francisco. Eliseu Navalha tem influências das
diferentes para tocar com ele. A Corte já se apresentou em vários eventos de começou a tocar cavaquinho aos 16 anos e a bandas Camisa de Vênus, Sex
rap em Minas Gerais e tem entre seus integrantes: Lauana Nara, mais viola, hoje seu instrumento de trabalho, aos Pistols, Pearl Jam,
conhecida como Preta Rara, Monge e Srta. Honorato. Eduardo gravou a demo 22. Já fez parte das duplas Azulim e Azulejo e entre outras do cenário
Desacato ao sistema. Alouado e Calnoeiro. punk rock e grunge.

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