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O livro no Brasil é caro, sim. Mas tem cura.

Fabio Sá Earp e George Kornis

O livro é caro em relação ao poder aquisitivo da população; estudo que


realizamos (ver “A economia da cadeia produtiva do livro”, disponível em
http://www.bndes.gov.br/conhecimento/ebook/ebook.pdf) mostra que o
brasileiro gasta uma parcela de sua renda três vezes maior do que o francês
para obter um livro. E aí estão incluídos os estudantes de escolas públicas de
primeiro e segundo grau que recebem livros de graça. A situação piora quando
separamos apenas os livros vendidos em livrarias, cujo preço médio é R$ 25.
Quem gasta esse valor com livros? As famílias que recebem de 15 a 20
salários mínimos por mês (de R$ 4,5 mil a R$ 6 mil) gastam em média R$ 24
mensais com jornais, livros e revistas. Estas pessoas fazem parte dos 5% mais
ricos — e até para estas o livro é caro. Na média, mesmo se não comprarem
nenhum jornal nem revista ainda assim não chegarão a poder comprar um
livro por mês. Logo, poucas famílias nesta faixa de renda compram livros. A
maioria das que podem comprar este bem de luxo ganham mais de R$ 6 mil
por mês.

Por que os livros são caros? É preciso entender a formação do preço do livro.
Existe um custo fixo, que é o mesmo quer se publique um exemplar da obra ou
um milhão de exemplares, que consiste nas despesas de edição e vendas no
varejo, adiantamentos ao autor, publicidade, mais as margens de lucro das
editoras e livrarias. E existe um custo variável que cobre demais direitos
autorais, papel, tinta, armazenamento e distribuição, e que aumenta conforme
o volume da tiragem. Quando a tiragem é pequena, como acontece no Brasil
(onde freqüentemente fica em torno de dois mil exemplares), o custo fixo se
divide por uma pequena quantidade de exemplares. É por isso que nosso livro
fica tão caro.

Para corrigir esta situação é preciso aproveitar o que os economistas chamam


economias de escala: com tiragens de, digamos, dez mil exemplares, os custos
fixos se diluem e o preço final do livro pode cair a até um terço do que custa
hoje. E como produzir tanto se o consumidor não pode comprar? No início, o
Estado vai ter que cumprir este papel.

As medidas concretas a tomar são óbvias. Primeiro, destinar verbas às


compras das bibliotecas públicas, começando pelas universitárias. Segundo,
fornecer vale-livro às pessoas que gostariam de ler e não podem — estudantes
universitários de baixa renda que hoje usam cópias piratas, professores de
ensino fundamental que ganham salários inferiores aos das empregadas
domésticas, etc. Terceiro, usar a Lei Rouanet para cobrir os custos de
produção destes livros — modificando-a para poder ser aplicada às áreas de
ciências exatas e biológicas. Assim, por exemplo, um laboratório farmacêutico
poderia subsidiar livros de medicina, que seriam colocados à disposição dos
estudantes por preços em torno de R$ 30 — o mesmo valor que hoje custam
as cópias piratas.
Há alguma alternativa a esta intervenção estatal? É claro que sim. Basta
esperar que a renda do brasileiro triplique e que os programas de incentivo à
leitura façam com que os que já podem comprar adquiram mais livros.

Só que isso vai demorar pelo menos 50 anos para acontecer. Nas próximas
décadas não há possibilidade de melhora, porque a renda está sendo
redistribuída em favor dos pobres, como o governo anunciou triunfalmente.
Vamos entender o que isto significa: os 30% mais pobres — que ganham um
salário mínimo ou menos — estão ganhando enquanto os 10% mais ricos estão
perdendo. Quem são os 10% mais ricos? Os que ganham mais de R$ 3 mil. É
isso mesmo, a grande maioria dos 10% mais ricos não são milionários, e sim a
classe média — que é a grande compradora de livros e está sendo
empobrecida (perdeu um quinto do poder aquisitivo em uma década) em favor
dos mais pobres. Do jeito que vamos, deve levar meio século para a classe
média voltar a crescer. Alguém quer esperar?

Mas existe ainda um outro obstáculo a contornar: a mentalidade de muitos


editores e livreiros, que preferem ganhar uma margem alta em poucos livros
do que só um pouquinho em uma grande quantidade. Este vício é tão
arraigado que livros cujos custos foram cobertos pela Lei Rouanet — isto é,
pelos nossos impostos — são colocados em livrarias a preços na faixa de R$
150 a R$ 200. É claro que têm que vender tão pouco!

Estes empresários ainda não chegaram à era da produção em massa, coisa


que o capitalismo avançado descobriu nos primórdios do século XX. Por isso,
por exemplo, quase não produzem livros de bolso. Uma das poucas editoras
que compreende isso é a Companhia das Letras, que está reeditando obras
como “Carandiru” por menos da metade do preço original. Gostaríamos muito
que outros seguissem seu exemplo. Mas, infelizmente, não vemos razões para
ter esperança. Nem no governo, nem nos empresários.

FABIO SÁ EARP E GEORGE KORNIS são pesquisadores do GENT (Grupo de


Pesquisa em Economia do Entretenimento da UFRJ). Este texto foi publicado
no jornal “O Globo”, Caderno Prosa & Verso, no dia 18 de fevereiro de 2006.

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