As figuras de estilo ou de retórica estão divididas em três níveis: fónico, sintáctico e
semântico.
• Nível fónico (= dos sons):
o Aliteração: repetição dos mesmos sons consonânticos através de 1 ou mais versos. Ex.: "Forte, fiel, façanhudo"; o Assonância: repetição dos mesmos sons vocálicos. Ex.: "E o surdo"; o Rima: correspondência de sons em lugares determinados dos versos (é uma espécie de assonância). • Nível sintáctico (= da síntaxe, da estrutura da frase): o Anacoluto: alteração brusca da sequência lógica de uma frase pela quebra da construção gramatical. Ex.:"Santo António (…), abriu-lhe Deus, um dia os olhos"; o Anáfora: repetição de uma palavra ou expressão no início de cada verso ou frase; o Assíndeto: omissão de conjunções, geralmente coordenativas; o Elipse: supressão de signos que facilmente se subentendem; o Enumeração: apresentação sucessiva de vários elementos. O último ou o primeiro pode ser uma palavra que os sintetiza a todos. Ex: "Professor, médico, comerciante, todos se vendiam"; o Epanadiplose: repetição de uma palavra ou palavras no início e no fim de uma frase ou de um verso. Ex: "Apagaste a candeia? Apagaste? E fechaste o postigo? Fechaste?"; o Epífora ou Epístrofe: repetição de uma palavra ou palavras no fim de versos ou frases sucessivas. Ex.:"Faróis distantes…/A vida de nada serve…/Pensar na vida de nada serve…/Pensar de pensar na vida de nada serve…"; o Epizeuxe ou Reduplicação: repetição de uma palavra ou palavras no verso ou frase. Ex.:"Horas, horas sem fim…"; o Gradação: ordenação das ideias em escala ascendente ou descendente. Ex.:"Horrendo, fero, ingente, temeroso"; o Hipérbato ou Inversão: Inversão violenta da ordem lógica das palavras. Ex.: "Casos que Adamastor contou futuros"; o Paralelismo: repetição da mesma estrutura frásica. Ex.: "A tua voz de água corrente/Ensinou-me a cantar… e essa canção/Foi ritmo nos meus versos de paixão/Foi graça no meu peito de descrente"; o Pleonasmo: repetição de uma ideia com intenção de a deixar bem vincada. Ex.: "Vi claramente visto o lume vivo"; o Polissíndeto: repetição intencional da conjunção copulativa transmitindo continuidade e fluidez; o Quiasmo: existência de quatro elementos dispostos dois a dois, segundo uma estrutura cruzada. Ex.: "Deixa aos tímidos, deixa aos sonhadores,/ruído lúgubre…"; o Zeugma: omissão de uma palavra já expressa noutro membro da frase; é uma espécie de Elipse. Ex.: "Onde o dia é comprido e onde breve". • Nível semântico (= do sentido): o Alegoria: elaboração de tipo metafórico que concretiza ideias abstractas (virtudes, vícios, instituições). Ex.: Auto da Alma, Auto da Feira e Barcas de Gil Vicente; o Animismo: atribuir vida a seres inanimados (difere da Personificação porque os seres não são elevados à categoria de pessoas). Ex.: "A luz do farol ia mordendo os troncos…"; o Antítese: confronto de ideias opostas para reforçar a mensagem. Ex.:"Aquela triste e leda madrugada"; o Apóstrofe ou Invocação: invocação que constitui uma interrupção exclamativa do discurso para salientar uma ideia. Ex.: "Vós que partis…"; o Comparação: confronto de duas realidades distintas para realçar a sua semelhança utilizando a partícula comparativa como; o Eufemismo: atenuação do grau de violência ou carácter triste de uma ideia pelo uso de palavras agradáveis. Ex.:"Tirar Inês ao mundo determina…"; o Exclamação: exprimir sentimentos ou emoções; o Hipálage: atribuição a um objecto de uma característica que logicamente pertence a outro com o qual está relacionado. Ex.:"Depois, no silêncio estofado da sala…", "baforava um fumo feliz"; o Hipérbole: emprego de palavras ou expressões que exageram a realidade. Ex.: "mais branca que a neve pura"; o Imagem: visão mais larga que a Comparação e a Metáfora, nela estão expressos três termos: o real, o metafórico e o comum. Junta na mesma frase uma Comparação e uma Metáfora ou duas Metáforas. Ex.: "Vergônteas esguias como ais."; "Nunca fiz mais do que fumar a vida."/A esperança vã, seus vãos fulgores"; o Interrogação: pergunta formulada para realçar uma ideia e dar mais vivacidade ao discurso (pergunta retórica); o Ironia: sugere o contrário ou algo diferente daquilo que as palavras literalmente querem dizer; o Metáfora: atribuição de sentido imaginário às palavras estabelecendo uma relação de semelhança. Ex.: "A planície é um brasido…"; "linda cor… mudada de ouro fino em bela prata"; o Metonímia: atribuição a uma realidade ou conceito de um nome que se refere a outra realidade ou conceito. Ex.: "Encontrava-se um dédalo" (Dédalo foi o inventor do labirinto); "Deleitava-se lendo o seu Camilo" (obras de Camilo Castelo Branco); o Paradoxo: aplicar a uma mesma realidade termos inconciliáveis, destacando assim a sua complexidade (relação de contraditórios). Ex.: "Meu amargo prazer, doce tormento"; o Perífrase: designar alguém ou alguma realidade, não pelos termos habituais, mas de um modo descritivo e, por isso, mais desenvolvido e enfático. Ex.: "Desceu finalmente o pano sobre esse pesadelo com bichos de aço (…) e cidades a arder."(ou seja: acabou finalmente a guerra); o Personificação: atribuição de vida a seres inanimados, elevando-os à categoria de pessoas; o Sinédoque: substituição de um termo por outro de extensão diferente. Ex.: "Da Ocidental praia lusitana"; o Sinestesia: fusão de percepções relativas a diferentes sentidos. Ex.: "… água de que se exala um hálito verde envonvido nas ondas".
• Anástrofe: troca de elementos próximos na frase, antepondo-se o determinante
ao determinado ou o complemento directo ao verbo. Ex.: "De sol no ocaso um raio derradeiro". • Onomatopeia: reproduzir ou descrever os próprios ruídos. • Oxímoro: expressão de dois conceitos contraditórios, procurando revelar uma verdade profunda que surge da conciliação dos dois conceitos antitéticos. Ex.: "Cheirando orquídeas inodoras."; "O cérebro é cego e pode ver, é surdo e ouve, não tem mãos e alcança". • Parataxe: justaposição de frases, enumeração. • Trocadilho: repetição de uma palavra com dois ou mais sentidos. Ex.: "… perde a pena de voar/ganha a pena do tormento."