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O movimento punk e sua expressão musical, o punk rock, surgiram no Brasil quase
que simultaneamente à explosão mundial do estilo. O punk brasileiro não nasceu com
uma data certa, mas já havia garotos de periferia que tocavam um rock básico e
agressivo, inspirado em bandas consideradas precursoras do punk rock: MC5, Stooges,
New York Dolls, nos idos de 1975-76. Esses garotos de periferia eram punks antes que a
palavra chegasse ao Brasil, embora nem a população nem a grande imprensa tomassem
conhecimento da rebeldia suburbana, que se encontrava naquele momento, em ebulição.

Em São Paulo, os punks ocupavam posições humildes no mercado de trabalho:


geralmente eram office-boys, metalúrgicos, ajudantes-gerais ou estudantes secundaristas
que faziam pequenos serviços informais. Todos queriam muito trabalhar e os que estavam
desempregados assim se encontravam com muito desgosto – inclusive porque quando os
policiais abordavam alguém sem registro na carteira, poderiam prender esta pessoa, sob
acusação de vadiagem. O punk paulistano acabou assumindo a imagem de banditismo
que lhe foi imputada pela grande imprensa. A violência, tão presente na periferia
paulistana, também tomou o movimento punk de assalto.

Embora o seu embrião remonte aos anos 1970, foi em 1982 que o punk paulistano
ficou em superexposição. Os punks daqui acompanhavam a segunda onda do movimento
– que estava em baixa nas matrizes euro-americanas e retornava com força total sob o
lema “punk is not dead” (o punk não está morto). Novas bandas e adeptos cresciam em
escala mundial.

Essa exibição pública dos punks, obviamente, causou repulsa entre os setores
conservadores da imprensa – tanto quanto as torcidas organizadas do futebol causaram
desde que surgiram. Não é de hoje que São Paulo adquiriu a sua fama de Estado
conservador; em outros momentos não foi diferente:

Os punks causaram repulsa a sociedade e aos jornais do início dos anos 1980. A
imprensa paulistana se espanta com o fato dos punks serem pobres, mestiços,
marginalizados e ainda terem algo a dizer. Os punks paulistanos nunca deixaram de
opinar sobre o que sentiam. E mesmo num período repressivo, produziam arte, música e
shows como nunca. Os punks prepararam um grande festival em pleno 1982. Batizado “O
Começo do Fim do Mundo”, reuniu punks e bandas punks de todos os lugares da Grande
São Paulo.
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Os milhares de punks que perambulavam pela capital de São Paulo vêm dos bairros
mais afastados, mais carentes, mais violentos; da Zona Leste paulistana, grande celeiro
de bandas e de punks, da periférica Zona Norte, dos bairros pobres da Zona Oeste, do
“fundão” da Zona Sul e do operário ABC paulista.

A maior realização do movimento punk paulistano foi, sem dúvida o festival “O Começo
do Fim do Mundo”, de 1982. O festival buscava a união entre todos os punks da Grande
São Paulo. Um dos membros da banda punk Inocentes, Callegari, junto ao jornalista
Antônio Bivar, foram os responsáveis pelo festival.

O “Começo do Fim do Mundo” foi um evento que “não terminou”. Novamente é


necessário lembrar o quão conservadora é a população paulistana, ainda mais naqueles
tempos de regime militar, com a linha-dura ainda em grande atividade. A polícia, chamada
pela vizinhança, invadiu o local. Saldo: punks presos e feridos à beça.

Talvez não seja possível pensar na eclosão do movimento punk em São Paulo que não
no exato momento em que ocorreu. Os governos de Geisel e de Figueiredo (1974-84)
foram marcados pela crise econômica, pela distensão verdadeiramente lenta e pela
demonstração de atividade da linha-dura como organismo repressivo. Se a tortura não era
mais largamente empregada, como no governo Médici (1969-1974), havia a ocorrência de
casos tenebrosos, como a morte do jornalista Vladimir Herzog dentro da sede do DOI-
CODI, em 1975. Em 1981, um sargento e um capitão do exército tentaram explodir
bombas no centro de convenções do Riocentro, onde acontecia um festival de música com
a presença de milhares de jovens. A linha-dura continuava dura.

Não seria possível o movimento punk ter surgido no momento de euforia do


“milagre”; não só por não haver ainda se configurado dessa forma nos EUA e na
Inglaterra, mas sobretudo pela força que os benefícios passageiros na economia
possuíam como elemento neutralizador de conflitos. A resistência imediata ao regime
militar se deu por conta de estudantes de classe média, conscientes dos problemas
graves em que o Brasil estava metido e que possuíam um grande nível de articulação
política; portanto, eram muito diferentes dos adolescentes suburbanos das primeiras
fileiras do movimento punk. Os punks faziam parte da massa. Notadamente em São
Paulo, onde as periferias desses jovens punks são bairros dormitórios, habitação de
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milhares de excluídos, onde a pobreza, o analfabetismo e a violência andam de mãos
dadas. As classes urbanas pobres foram as mais sensibilizadas pela propaganda do
governo Médici e pelos efeitos do “milagre brasileiro”. Logo, a massa se calava pela
relativa prosperidade econômica, ou se calava mediante prisão, tortura e
“desaparecimento”.

As periferias do mundo assistiram o nascimento do punk numa época de grande


pobreza; na Inglaterra, as medidas neo-liberais de Margaret Tatcher punham dúvidas
quanto ao futuro das pessoas pobres – outro lema do legado dos Sex Pistols: No Future
(sem futuro). No Brasil, as classes populares urbanas manifestaram-se somente com o fim
do “milagre” econômico e o abrandamento da repressão – embora os punks – tenham
sofrido bastante nas mãos da polícia, com os espancamentos e invasões de shows.
Tampouco, como vimos, a população aceitava os jovens punks, denunciando-os para a
polícia sempre que se concentravam para festivais de música ou quaisquer
manifestações. A linha-dura não deixava em paz os garotos pobres, pardos, vestidos de
preto.

O movimento punk como resistência ao regime militar se dava pelas letras de


protesto de suas músicas, pela postura provocativa de seus membros e pela realização de
festivais onde a reunião de um grande número de punks causava grande impacto na
população. Não havia, de fato, uma politização profunda entre os punks, apenas um vago
anarquismo, talvez fruto da pouca idade e estudo de seus membros. Entretanto, o
movimento punk foi uma das poucas expressões realmente populares de oposição ao
regime.

O punk paulistano enfim, mesmo em meio à repressão, deixou a sua marca.


Gerações se passaram e ele continua existindo; político, irônico, agressivo, divertido e,
para encerrar estes adjetivos, ingênuo.

Box 1 – As origens do Punk Rock

Antes de falarmos de movimento punk ou de punk rock, precisamos encontrar a


gênese dessa rebeldia juvenil que persiste desde os anos 1970. É impossível falar em
punk sem falar de rock. Isto é ponto pacífico, já que a trilha sonora dos punks é o punk
rock, uma vertente mais simples e agressiva do estilo. O rock foi a música criada por
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jovens ingleses e norte-americanos nos anos 1960, variação direta do rock ´n´ roll, ritmo
popular nos anos 1950, tocado por artistas norte-americanos como Chuck Berry, Little
Richards, Jerry Lee Lewis e Elvis Presley.

Se o punk rock é filho do rock e neto do rock ´n´ roll, suas origens se encontram no
blues, tocado pelos negros norte-americanos. No blues está o começo de tudo e sua
faceta original está nos working songs (canções de trabalho), cantadas por esses negros
nas colheitas de algodão, no sul dos Estados Unidos. Refletiam a dureza da escravidão e
tinham acentuada tristeza, daí o nome blues (triste).

Há ainda no rock a influência do western & country (música dos brancos pobres)
somadas ao rhythm & blues (blues urbanizado) na formação do rock´n´roll. Portanto, o
novo gênero musical se associava aos jovens marginalizados da sociedade americana:
brancos e negros pobres. Da marginalização se encontra as facetas agressivas e
contestatórias do ritmo que marcou a década de 1950.

Box 2 – Como se formou o Punk Rock?

O punk rock e as suas variações, ora de andamento mais rápido, ora mais
agressivas ou fundidas a outros estilos de rock (hardcore punk, Oi! Music, crossover, etc.)
têm origem direta no estilo básico criado nos anos 1950 – intérpretes com um musicalismo
limitado, mas com muita intensidade na execução das canções – no garage rock dos anos
1960 (Stooges, MC-5) e o glam (de glamour) rock dos anos 1970 (Slade, T-Rex, David
Bowie).

Tanto nos EUA como na Inglaterra foram surgindo grupos nos meados dos anos
1970 que incorporavam estas tendências musicais no tipo de rock que estavam fazendo.
Do lado ianque, temos os New York Dolls, Dictactors e os Ramones – estes últimos são
considerados por muitos como os inventores do punk rock – e do lado britânico havia
bandas como Cock Sparrer e Menace, que podem ser apontados como pioneiros do punk.

O punk rock consolidou-se como estilo musical e de vida com a exposição do


conjunto britânico Sex Pistols, a partir de 1976. Frutos de uma bem-sucedida estratégia de
marketing do empresário artístico Malcolm McLaren, os Sex Pistols eram quatro
delinqüentes das ruas de Londres, reunidos para formar um conjunto que fosse o protótipo
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do punk rock. Ficaram marcados pelo desprezo às instituições mais tradicionais da
Inglaterra – em canções como “God Save the Queen” e “Anarchy in UK” – e pela imagem
e atitudes agressivas – roupas rasgadas, vômitos e cusparadas no público. Renderam
milhões de libras para o empresário.

No Brasil, a música e o movimento punk foram praticamente simultâneos às


matrizes ianques e britânicas. No final dos anos 1970 já existiam grupos como o Restos
de Nada e AI-5. O punk explode em São Paulo e no ABC, no início dos anos 1980. Neste
momento já existe um grande número de adeptos da música, do movimento e das novas
bandas então surgidas. A leva de bandas dos anos 1980 é a mais marcante de todas e
grupos como Cólera, Inocentes, Ratos de Porão, Olho Seco, Fogo Cruzado e Garotos
Podres se tornam conhecidos no underground punk mundial.

Box 3 – O punk paulistano se expressava contra a ditadura militar.

Esta música dos Inocentes talvez seja o maior clássico do punk rock paulistano.
Composta pelo vocalista e guitarrista Clemente (ex-Restos de Nada e ex-Condutores de
Cadáveres), a banda continua em plena atividade. Foi gravada pela primeira vez em 1982,
no primeiro LP punk brasileiro – a coletânea Grito Suburbano, onde estreavam as bandas
Inocentes, Olho Seco e Cólera. A música foi re-gravada pelo Inocentes em outros discos,
nos anos de 1986 e 1994.

Pânico em SP (Inocentes)
(Autor: Clemente)

As sirenes tocaram
As rádios avisaram
Que era pra correr
As pessoas assustadas e mal informadas
Puseram a fugir... Sem saber por quê
Pânico em SP, pânico em SP, pânico em SP.

O jornal, a rádio, a televisão


Todos os meios de comunicação
Neles estavam estampados
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O rosto de medo da população
Pânico em SP, pânico em SP, pânico em SP.

Chamaram os bombeiros
Chamaram o Exército
Chamaram a Polícia Militar
Todos armados até os dentes
Todos prontos para atirar (havia o quê)
Pânico em SP, pânico em SP, pânico em SP

Mas o que eles não sabiam


Aliás o que ninguém sabia
Era o que estava acontecendo
Ou que realmente acontecia
Pânico em SP, pânico em SP, pânico em SP.

GLOSSÁRIO

PUNK: significa, literalmente podre – ou madeira podre. Shakespeare utilizou-o para


designar delinqüentes.

PUNK ROCK: rock executado pelos punks. É a forma mais básica de rock ‘n’ roll, não
necessita de grande conhecimento musical para ser composto; dois ou três acordes de
guitarra são suficiente para se fazer música, resultando num grande número de bandas.
As bandas mais representativas do punk rock, mundialmente, são os Ramones, Sex
Pistols e The Clash.

HARDCORE PUNK: versão mais agressiva do punk rock. As músicas têm andamento
mais rápido e são mais curtas. A indumentária dos hardcore punks geralmente é mais
agressiva, com roupas pretas e cabelos espetados ou com corte moicano. As principais
bandas são: The Exploited, GBH, The Varukers, Black Flag, Circle Jerks, entre outras.

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