Verbetes de Política II – Professor Aldo Fornazziere
A Sociedade Civil em Hegel
Aluno : Giuliano Batista Salomao - 13/10/10
1- Explique o sistema de carecimentos em Hegel;
Hegel já fala em sua obra entitulada Encyclopedia das sciencias
philosophicas no parágrafo do Sistema das necessidades que “ A particularidade das pessoas compreende primeiramente as suas necessidades...” (Os Clássicos da política, 2 / Francisco C. Weffort – 11.ed. – São Paulo : Ática 2006. Pg. 115) . Todos temos necessidades e desejos próprios que não são todas iguais e nem supridos por nós mesmos, toda ação humana é movida por interesses dirigidos à obtenção de bens específicos, sem interesse não há ação, precisamos que outros criem, produzam o que temos necessidade ou simplesmente vontade em possuir . Toda essa “troca” é mediada por obra do próprio trabalho, ou seja, a carência é superada pela produção renovada e cada vez mais mecanizada e mais abstrata, o que constituirá a riqueza geral, o fomento da economia. Hegel já discute a divisão do trabalho como único meio de se suprir essas carências, pela especialização, habilidade e pelo aprimoramento intelectual, e a divisão da sociedade em classes que distinguirá quem é e como se produzirá e quem é que fornecera os recursos para produção e venda e quem regulará essa.s relações, “ Os indivíduos participam destas classes, segundo o talento natural, capacidade, o arbítrio e o acaso. Na medida em que pertencem a tal esfera determinada e fixa, têm eles sua existência real, a qual como existência é essencialmente particular.” (Idem, pg. 117). Assim, temos que todos passam a carecer dos produtos do trabalho alheio (abstração), e através do mercado, desenvolvem-se vínculos de interdependência generalizada entre todos os membros de uma coletividade. Esse sistema de interdependência é dinâmico. O trabalho transforma permanentemente os meios de satisfação das necessidades, as mercadorias (tanto os “meios de produção” quanto os bens de consumo). Estes, por sua vez, vão modificando as necessidades. Gerando essa constante dialética entre trabalho, meios de satisfação e necessidades (oferta e procura), que confere peculiar dinamismo à sociedade civil . A produção, a distribuição, o intercâmbio e o consumo de mercadorias, objeto da economia política clássica, configuram este sistema que põe as necessidades de uns em conexão com os meios para satisfazê-las, possuídos por outros.
2- Caracterize o conceito de sociedade civil em Hegel;
Hegel foi o primeiro a pontuar a diferença existente entre
Estado e Sociedade Civil preocupando-se em destacar sua própria esfera de ação. A ação do homem articula-se, segundo Hegel, em três níveis: família, sociedade civil e Estado. O que caracteriza e diferencia a sociedade civil e o Estado é, para Hegel, a natureza, particular ou geral, do interesse que move os homens à ação ou do bem que buscam por meio dela. As ações que derivam de um interesse particular dão origem à sociedade civil, todos os homens estão dirigidos a interesses próprios à obtenção de bens específicos. Sem vontade não há ação. Por outro lado, o Estado é produto de uma ação que obedece ao interesse geral de toda a coletividade. Dirige-se ao bem universal. Hegel denomina a sociedade civil, também, de “sistema das necessidades”. Surge da dinâmica imposta pela satisfação das necessidades particulares. A ação que conduz das necessidades à sua satisfação gera um fluxo de nexos recíprocos entre os homens e cria um nível específico de interação e comunicação: a sociedade civil. Nas palavras de Hegel:
“Contém a Sociedade Civil três momentos: A) A mediação da
carência e a satisfação dos indivíduos pelo seu trabalho e satisfação de todos os outros: é o sistema de carências; B) A realidade do elemento universal de liberdade implícito neste sistema é a defesa da propriedade pela justiça; C) A preocupação contra o resíduo de contingência destes sistemas e a defesa dos interesses particulares como de administração e pela corporação” (Hegel, 1997, p.173). Impondo nesse contexto a necessidade individual, a questão da propriedade e do trabalho. Para Hegel é graças à propriedade que o indivíduo se insere no corpo social e jurídico. Emerge, portanto, a propriedade como momento destacado do desenvolvimento do espírito humano, pois a mesma destaca-se como porta de inserção dos indivíduos na vida legal. Hegel entende que, nesse contexto, o indivíduo necessita trabalhar para satisfazer suas necessidades e incrementar sua propriedade. Contudo, ninguém pode satisfazer sozinho, mediante seu próprio trabalho, todas as suas necessidades. Assim, o que produz e possui, necessita do outro e vice-versa. De acordo com o tipo de atividade econômica que desempenha, a população se divide, segundo Hegel, em três grandes “massas” ou “classes”, que são: a substancial ou natural, formada pelos agricultores: a geral ou pensante, constituída pela burocracia do Estado, que se ocupa dos interesses gerais; e a intermediária ou dos industriais, reflexa, pois é colocada na mediação . Cada um oferecendo uma contribuição específica à satisfação das necessidades sociais, com sua identidade, seus próprios costumes e sua ética. Por conseguinte podemos concluir sobre a sociedade civil em Hegel que: a) O primeiro princípio da sociedade civil é a pessoa concreta com suas necessidades e busca de satisfação da mesma via trabalho; b) O segundo princípio é a Universalidade, que deriva do primeiro, uma vez que a particularidade, em busca de satisfazer seu egoísmo, entra em relação com outras particularidades. Sendo esta a condição de efetivação de seus fins. c) Na sociedade civil cada um é um fim para si – embora almeje o outro, que aparece como meio para efetivação dos fins desejados, o que acaba por gerar uma dependência universal. d) O homem da sociedade civil ainda não é o homem racional, é o homem do trabalho, em virtude da necessidade. Por isto, a sociedade mantém uma relação finita, própria do entendimento, isto é, unidade externa e não interna das pessoas. Cada indivíduo é tido como fim e isto é específico da esfera econômica – pelo qual o diverge da esfera política. e) O homem é ser carente que produz e consome. f) No tocante à dimensão política o homem é um ser portador de direitos universais, não existindo um direito natural. Portanto, todo direito é positivo “o sujeito do direito não é um homem natural, mas o homem do mundo da cultura que alcança o reconhecimento universal” g) É o momento que antecede a realização da Razão e da Liberdade: o Estado.