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Análise Psicológica (2005), 3 (XXIII): 295-304

Imagem corporal da mulher com cancro


de mama: Impacto na qualidade do
relacionamento conjugal e na satisfação
sexual

ANA SOFIA RAMOS (*)


IVONE PATRÃO (*)

O tumor maligno é uma das maiores causas de de actividade alterado e disrupção marital e se-
morte a nível mundial sendo, por isso, uma das xual); e medos e preocupações relacionados com
doenças mais temidas pela humanidade. a cirurgia e o receio de morte.
Existem vários tipos de tumores. O cancro de Sendo «uma doença potencialmente mortal que
mama, sendo um dos tumores que aparece mais estigmatiza a doente enquanto mulher» (Dias, Ma-
frequentemente nas mulheres, tem repercussões nuel, Xavier & Costa, 2001, p. 304), o cancro de
aos mais variados níveis: físico, psicológico, fa- mama tem consequências ao nível do funciona-
miliar e social. mento biopsicossocial da doente conduzindo à ne-
Actualmente, existem vários tipos de proce- cessidade de readaptação das suas vivências in-
dimentos aplicados ao tratamento do cancro de
trapsíquicas. O prognóstico do cancro de mama é
mama. Estes podem ser locais, como a radiotera-
incerto e os tratamentos são geralmente agressi-
pia e a cirurgia (radical ou conservadora) ou sis-
vos, expondo a mulher a alterações na sua ima-
témicos, como a quimioterapia e a terapia hormo-
nal (Keitel & Kopala, 2000). gem corporal.
Meyerowitz (1980, cit. por Rowland & Hol- Segundo Palhinhas (2000), a imagem corporal
land, 1990) identificou o impacto psicossocial do não significa apenas a aparência física. Esta figu-
cancro de mama em três grandes níveis: descon- ração inclui também a integridade corporal, ou
forto psicológico (ansiedade, depressão e ira); mu- seja, a percepção do corpo como intacto, comple-
danças nos padrões de vida que ocorrem como to e funcionando inteiramente.
consequência do desconforto psicológico (nível A mama é um símbolo corpóreo da sexualida-
de por excelência, o que nos leva a pensar que
qualquer patologia que ameace este órgão leva a
uma perda de auto-estima, acarretando sentimen-
tos de inferioridade e rejeição.
(*) Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lis- Segundo Hopwood (1993), as cirurgias de ti-
boa. po radical constituem, de facto, uma ameaça à

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integridade corporal e à satisfação da paciente com jugalidade e sexualidade de mulheres com can-
o seu corpo. cro de mama seja um assunto de profundo inte-
De acordo com Dias et al. (2001), as preocu- resse em termos de investigação, a verdade é que
pações pessoais da doente e o impacto ao nível poucos foram os estudos realizados em Portugal.
da sua auto-imagem remetem para medos e fan- Da mesma forma, a existência de resultados con-
tasias recalcadas que comprometem a relação con- traditórios relativamente ao impacto da cirurgia
jugal e a sua sexualidade. No mesmo sentido, Pe- nestas áreas, traduz a necessidade de se realizar
reira e Mestre (1997) referem que as perdas nar- uma investigação.
císicas associadas à cirurgia e tratamentos terão Neste sentido, procurou-se, com este trabalho,
um impacto grave na vida relacional da mulher estudar a imagem corporal de mulheres com can-
que sofre de cancro de mama. cro de mama submetidas a uma cirurgia (radical
Não obstante, algumas investigações revelam ou parcial) e posterior tratamento, e verificar se a
que a maioria dos casais apresenta um bom ajus- qualidade do relacionamento conjugal e a satisfa-
tamento marital após o diagnóstico de cancro sen- ção sexual destas mulheres se encontram, ou não,
do que, alguns deles revelam até melhoramentos afectadas.
na qualidade geral do seu relacionamento (Licht- Dada a existência de estudos que apresentam
man, Taylor & Wood, 1987, cit. por Anillo, 2000; algumas limitações metodológicas no que toca a
O’Mahoney & Carrol, 1997). No mesmo sentido, aspectos como a satisfação marital e sexual num
Dias et al. (2001) consideram que, na maior par- período antecedente à cirurgia, o status marital e
te dos casos, a doença oncológica acaba por for- sexual anterior (percebidos pela doente) serão va-
talecer a relação conjugal no que toca à comuni- riáveis tidas em conta neste estudo. A idade das
cação e à intimidade. pacientes, o tempo decorrido após o término dos
Contrariamente ao referido por estes autores, tratamentos e a duração do relacionamento con-
Estapé (2002) diz-nos que as relações conjugais jugal serão, também, incluídas como variáveis se-
são o factor mais deteriorado nos pacientes com cundárias.
cancro de mama. Segundo a autora, a diminuição Os objectivos específicos do presente traba-
da auto-estima, na mulher mastectomizada, re- lho, são:
percute-se na sua auto-imagem, afectando a sua
sexualidade e, por consequência, a relação com o - Averiguar a valorização atribuída ao corpo
companheiro. doente; analisar o grau de satisfação mari-
No que toca à sexualidade, há evidência que tal; medir o grau de satisfação sexual; e per-
este é um aspecto que sofre sempre um determi- ceber a relação entre estas três variáveis.
nado impacto, sobretudo no período que sucede - Relacionar as variáveis principais (imagem
a cirurgia e os tratamentos (Frank, Anderson & corporal, qualidade do relacionamento con-
Rubinstein, 1978, cit. por Auchincloss, 1990; Craw- jugal e satisfação sexual) com as variáveis
ford & Cardoso, 2000). secundárias (idade, tipo de cirurgia realiza-
Schover (1991, cit. por Anillo, 2000) diz, no en- do, tempo decorrido após os tratamentos,
tanto, que apenas uma minoria dos casais apre- tempo de duração do relacionamento conju-
senta disfunções sexuais significativas após o tra- gal, status marital e status sexual anteriores
tamento do cancro de mama. Porém, o autor aler- à cirurgia).
ta para o facto de os problemas sexuais serem mais
frequentes em casais que já tinham problemas a
este nível e entre mulheres que dão maior impor- MÉTODO
tância à sua aparência. No mesmo sentido, Au-
chincloss (1990) afirma que a falta de desejo se- O presente estudo define-se como uma inves-
xual pode durar um, dois anos ou mais após o tra- tigação exploratória, descritiva e transversal das
tamento, porém, o evitamento sexual é mais sus- variáveis principais (imagem corporal, qualidade
ceptível de ocorrer quando o casal tinha já pro- do relacionamento conjugal e satisfação sexual)
blemas sexuais que são exacerbados pela crise e das variáveis secundárias (idade, habilitações
emocional que o tratamento acarreta. literárias, tipo de cirurgia, tempo decorrido após
Embora as temáticas da imagem corporal, con- tratamentos, duração do relacionamento conjugal

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e status marital e sexual anteriores à cirurgia). ro) representa a inexistência de sintomas e as
pontuações mais elevadas indicam a existência
Participantes de sintomas.
De acordo com Hopwood, Fletcher, Lee e Al
A amostra deste estudo é constituída por 30 mu- Ghazal (2001), a fidelidade da escala total regis-
lheres com cancro de mama, submetidas a uma ta um alpha de 0,93. Neste estudo, a fidelidade
cirurgia (radical ou parcial) e posterior tratamen- estimada é de 0,92.
to. Todas as participantes são casadas ou vivem
em união de facto e mantêm uma actividade se- c) Escala de Relacionamento Conjugal
xual com o companheiro. As idades variam entre Esta escala foi criada por Spanier em 1976 e
os 39 e os 67 anos. traduzida e adaptada por Tavares em 1990, des-
As habilitações literárias das participantes vão tina-se a estudar a qualidade do relacionamento
desde o ensino básico ao universitário, sendo que conjugal em adultos. É constituída por 32 itens,
o nível de escolaridade predominante é o ensino pontuados de 0-1; 0-4; 0-5; 0-6, sendo que o to-
básico (ao qual pertence 40% da totalidade da tal da pontuação varia entre 0 e 151 pontos.
amostra). Embora pretenda avaliar a qualidade do rela-
cionamento conjugal no geral, esta escala divide-
Instrumentos se em quatro sub-escalas que podem ser anali-
sadas separadamente: consenso diádico, expres-
são de afectos, satisfação diádica e coesão diádi-
a) Questionário de Caracterização da Amostra ca.
Este questionário contém questões como: ida- O valor final obtido (transformado em percen-
de; habilitações literárias; existência de relação tagem) vai indicar a satisfação/insatisfação em
afectiva; tempo de duração da relação; caracteri- relação ao relacionamento conjugal sendo que, quan-
zação do relacionamento conjugal antes da cirur- to mais elevado for o Perfil obtido, melhor será o
gia (nada satisfatório, pouco satisfatório, muito relacionamento conjugal.
satisfatório); existência de actividade sexual; e ca- De acordo com Spanier (1976, cit. por Lim &
racterização da vida sexual num período prece- Ivey, 2000), a fidelidade da escala total regista
dente à cirurgia (nada satisfatória, pouco satisfa- um índice de alpha de 0.96, variando nas sub-es-
tória, muito satisfatória). calas entre 0,73 e 0,90. Neste estudo, o alpha es-
timado para a escala total é de 0,84. Nas sub-es-
b) Escala de Imagem Corporal “Como me Re- calas os índices de alpha são: consenso diádico – 0,85;
laciono com o meu Corpo” expressão de afectos – 0,42; satisfação diádica –
Esta escala foi adaptada por Palhinhas, Tapa- 0,46; coesão diádica – 0,38. A baixa consistência
dinhas e Ribeiro em 1999 com base na Body Ima- interna verificada nas três últimas dimensões po-
ge Scale de Hopwood (1993). Pretende avaliar a derá estar relacionada com o facto de estas agru-
imagem corporal da mulher de duas formas: o cor- parem um baixo número de itens (Ribeiro, 1999).
po pré-mórbido (isto é, valor atribuído ao corpo
no geral, doente ou não) e o corpo mórbido (va- d) Índice de Satisfação Sexual
lor atribuído ao corpo doente). Neste estudo foi Esta é uma escala que permite avaliar o nível
apenas utilizada a segunda parte da escala (ava- de satisfação/insatisfação sexual tendo em conta
liação do corpo mórbido). a dimensão sexual de uma dada relação. Foi cria-
Este questionário é constituído por 7 itens cu- da por Hudson em 1974 e traduzida por Cardoso
jas respostas variam entre: Não, Um pouco, Mo- e Soares em 1995.
deradamente e Bastante. Às quatro opções de res- É constituída por 25 itens (uns com valência
posta correspondem quatro pontuações diferen- positiva e outros com valência negativa), cujas
tes: zero, um, dois e três pontos, respectivamen- respostas variam entre: Raramente ou Nunca, Pou-
te. cas vezes, Algumas vezes, Bastantes vezes e Ha-
Os 7 itens são, posteriormente, somados dan- bitualmente ou sempre.
do origem a uma pontuação total que pode variar A cotação varia entre 1 e 5, sendo que 1 cor-
entre 0 e 21. Uma pontuação total igual a 0 (ze- responde à resposta Raramente e 5 à resposta Ha-

297
bitualmente ou sempre (ou o inverso nos itens de RESULTADOS
valência positiva).
Depois de se obter o resultado final, subtrai-se
um valor constante de 25, resultando daqui um va- Análise Descritiva das Variáveis Secundárias
lor que se situa entre 0 e 100. Quanto menor for
o valor obtido, maior será o grau de satisfação se- A análise das variáveis secundárias é feita me-
xual. diante as frequências e as percentagens obtidas
É definido um “ponto de cisão” (resultado de 30 em cada um dos sub-grupos das variáveis (Qua-
pontos) em que, se o resultado for menor ou igual dro 1).
a 30 pontos revela que não existe problemática A maioria das participantes (86,7%) realizou
sexual e se for maior que esta pontuação, existirá uma mastectomia radical e apenas 13,3% das 30
problemática sexual. mulheres foram submetidas a uma mastectomia
De acordo com Hudson (1992, cit. por McCa- parcial.
be, 2002), esta escala regista um índice de alpha Relativamente ao tipo de tratamento pós cirúr-
de 0,92 ao nível da sua fidelidade total. Neste gico, verificou-se que grande parte das partici-
estudo, a fidelidade estimada da escala total é de pantes (30%) efectuou hormonoterapia, bem co-
0,90. mo, quimioterapia em conjunto com radioterapia
(também, 30%).
Procedimento O tempo decorrido após os tratamentos foi ava-
liado por quatro níveis que vão de «<1 ano» a
Na primeira fase deste trabalho procedeu-se à «>5 anos», com intervalos de 1 ano, existindo,
realização de uma revisão da literatura, tendo si- no entanto, casos em que o tratamento ainda se
do efectuada uma pesquisa bibliográfica conso- encontrava em curso aquando do preenchimento
nante à temática estudada. dos questionários. Verificámos que 33,3% das par-
Numa segunda fase, averiguou-se a existência ticipantes terminou os tratamentos há «1-2» anos
de escalas que permitissem uma medição correcta atrás.
das variáveis em estudo (Escala de Imagem Cor- O tempo de duração de relação foi avaliado de
poral, Escala de Relacionamento Conjugal e Ín- acordo com oito níveis que variaram entre «<10
dice de Satisfação Sexual). Foi, ainda, elaborado anos» e «40-45 anos», com intervalos de 5 anos.
o Questionário de Caracterização da Amostra, ten- Observou-se um maior número de participantes
do em conta as variáveis secundárias necessárias cuja duração do relacionamento varia entre os 30
à identificação de cada uma das participantes do e os 35 anos.
estudo. Quanto à caracterização da relação conjugal no
Posteriormente, procedeu-se à recolha da amos- período pré-cirúrgico, constatou-se que a maioria
tra a qual foi efectuada na associação “Movimen- das participantes (76,7%) classificou a sua rela-
to Vencer e Viver” e no serviço de Senologia da ção como “muito satisfatória” e 23,3% classifi-
Maternidade Dr. Alfredo da Costa havendo, no cou-a como sendo “pouco satisfatória”.
entanto, alguns questionários recolhidos como Finalmente, no que respeita à caracterização da
“bola de neve”. actividade sexual no período que antecedeu a ci-
As instruções dadas foram ao encontro do pe- rurgia, verificou-se que 46,7% das 30 mulheres con-
dido do auto-preenchimento dos questionários siderou que antes da cirurgia a sua vida sexual era
com o máximo de sinceridade possível e foi aler- “muito satisfatória”, 43,3% achou que era “pou-
tado o facto de não se pretender a avaliação das co satisfatória” e 10% classificou-a como “nada
respostas num sentido pessoal. Foi também dito satisfatória”.
aos sujeitos que o anonimato e a confidenciali-
dade seriam tomados em conta ao longo da rea- Análise Descritiva das Variáveis Principais
lização do estudo.
Finalmente, procedeu-se à cotação dos ques- A análise das variáveis principais tem em con-
tionários bem como ao tratamento estatístico, rea- ta as médias das pontuações totais obtidas nas três
lizado através do programa SPSS (Statiscal Packa- escalas, os desvios padrão e os valores mínimos
ge for Social Sciences). e máximos dessas pontuações (Quadro 2).

298
QUADRO 1
Análise Descritiva das Variáveis Secundárias

N %

Tipo de Cirurgia
Mastectomia Radical 26 86,7
Mastectomia Parcial 4 13,3

Tipo de Tratamento
Quimioterapia 7 23,3
Radioterapia 3 10
Hormonoterapia 9 30
Quimioterapia + Radioterapia 9 30
Quimioterapia + Hormonoterapia 1 3,3
Quimioterapia + Radioterapia + Hormonoterapia 1 3,3

Tempo Decorrido Após Tratamentos


<1 ano 2 6,7
1-2 anos 10 33,3
2-3 anos 5 16,7
3-4 anos 3 10
4-5 anos 0 0
>5 anos 5 16,7
Ainda em curso 5 16,7

Tempo de Duração do Relacionamento Conjugal


<10 anos 2 6,7
10-15 anos 1 3,3
15-20 anos 0 0
20-25 anos 7 23,3
25-30 anos 6 20
30-35 anos 10 33,3
35-40 anos 2 6,7
40-45 anos 2 6,7

Caracterização da Relação
Nada Satisfatória 0 0
Pouco Satisfatória 7 23,3
Muito Satisfatória 23 76,7

Caracterização da Actividade Sexual


Nada Satisfatória 3 10
Pouco Satisfatória 13 43,3
Muito Satisfatória 14 46,7

Verificamos, assim, que a média das pontua- lise separada das dimensões), verifica-se que a pon-
ções totais relativa à Imagem Corporal é de 7,63, tuação total média é de 74,04%. Tendo em conta
o que indica que, em média, as participantes não que o perfil total varia entre 0 e 100%, podemos
apresentam problemática no que respeita à valo- concluir que o valor 74,04% reflecte a existência
rização da sua aparência. de um bom relacionamento conjugal entre as 30
Relativamente ao Perfil obtido na Escala de Re- participantes.
lacionamento Conjugal (total da escala sem a aná- Relativamente à análise das sub-escalas cons-

299
QUADRO 2
Análise Descritiva das Variáveis Principais

N Média Desvio- Padrão Mínimo Máximo

Imagem Corporal 30 7,63 6,90 0 21

Perfil ERC (%) 30 74,04 9,29 46,36 88,08


Consenso Diádico (%) 30 82,41 12,07 47,69 98,46
Expressão Afectos (%) 30 76,67 17,29 33,33 100
Satisfação Diádica (%) 30 66,33 7,37 50 78
Coesão Diádica (%) 30 66,11 17,70 25 100

Satisfação Sexual 30 34,03 14,62 10 58

tatamos que todas elas revelam um resultado po- ção obtida na Escala de Imagem Corporal, maio-
sitivo, sendo a dimensão Consenso Diádico (que res são os problemas ao nível da valorização da apa-
avalia a dimensão social da relação) aquela que rência e que quanto mais elevada é a pontuação
regista uma pontuação total média mais elevada registada no Índice de Satisfação Sexual, maior é
(82,41%). As dimensões Satisfação Diádica (re- a insatisfação sexual, concluímos que ao aumen-
lativa à avaliação da qualidade da relação) e Coe- tarem as problemáticas ao nível da imagem cor-
são Diádica (referente à forma como o sujeito vi- poral, aumenta, também, a insatisfação sexual.
ve a sua relação) são as dimensões que registam Por outro lado, tendo em conta que os valores
valores médios mais baixos (66,33% e 66,11%, elevados das pontuações totais da Escala de Re-
respectivamente). lacionamento Conjugal significam a existência
Quanto ao grau de satisfação sexual, constata- de um bom relacionamento conjugal e que as bai-
mos que a média da pontuação total registada xas pontuações totais do Índice de Satisfação Se-
pelos 30 sujeitos é de 34,03, o que significa que, xual evidenciam a presença de satisfação sexual,
em média, as participantes evidenciam a existên- concluímos que quando aumenta a qualidade do
cia de problemática sexual. relacionamento conjugal diminui a insatisfação se-
xual.
Análise da Relação entre as Variáveis Princi-
pais Análise da Relação entre as Variáveis Princi-
pais e as Variáveis Secundárias
Para se testar a normalidade da distribuição das
variáveis principais, recorreu-se ao teste de Sha- No sentido de analisar a relação entre as variá-
piro-Wilk. Verificou-se a ausência de normalida- veis principais e as variáveis secundárias, proce-
de em todas as variáveis principais pelo que foi deu-se, inicialmente, ao estudo da normalidade
utilizado o coeficiente de correlação não-paramé- das variáveis. Assim, recorreu-se ao teste de nor-
trico de Spearman para inferir acerca da influ- malidade de Shapiro-Wilk que permitiu inferir
ência das três variáveis entre si. O nível de signi- acerca do tipo de distribuição de cada uma das
ficância utilizado foi de α=0,05. variáveis comparadas.
Constatou-se a existência de uma correlação Concluiu-se que:
significativa positiva entre a Imagem Corporal e - As variáveis Imagem Corporal/Idade, Qua-
a Satisfação Sexual (p=0,003 <α=0,05) e uma cor- lidade do Relacionamento Conjugal/Idade e
relação significativa negativa entre a Qualidade Satisfação Sexual/Idade seguiam uma dis-
do Relacionamento Conjugal e a Satisfação Se- tribuição normal, pelo que foi aplicada a
xual (p=0,011 <α=0,05). ANOVA a um factor para a análise de dife-
Uma vez que quanto mais elevada é a pontua- renças.

300
- As restantes variáveis não seguiam distribui- os tratamentos há «1-2» anos e «>5 anos»,
ção normal pelo que foi aplicado o teste de sendo que é o primeiro grupo aquele que re-
Kruskal-Wallis (no caso de comparação de gista pontuações mais elevadas na Escala
mais do que duas amostra) e o teste de Wil- de Relacionamento Conjugal, logo um me-
coxon Mann-Whitney (no caso de duas amos- lhor relacionamento conjugal, do que o gru-
tras) para a averiguação de diferenças. po de mulheres que terminaram os tratamen-
tos há «>5 anos».
- Nos grupos de participantes que termina-
O nível de significância utilizado foi de α=0,05. ram os tratamentos há «3-4» anos e «>5 anos».
A análise da relação entre as variáveis princi- Aqui é o grupo de mulheres que termina-
pais e as variáveis secundárias permitiu-nos con- ram os tratamentos há «>5 anos», aquele que
cluir que: a qualidade do relacionamento conju- apresenta pontuações mais elevadas na E.R.C.,
gal varia consoante o tempo decorrido após os o que significa que têm melhor relaciona-
tratamentos e consoante a forma como a relação mento conjugal do que as mulheres que ter-
marital é caracterizada no período antecedente à minaram os tratamentos há «3-4 anos».
cirurgia; e que a satisfação sexual varia em fun-
ção da forma como a actividade sexual, antece- No que respeita à relação Satisfação Sexual/
dente à cirurgia, foi caracterizada (Quadro 3). /status sexual anterior à cirurgia, verificou-se que
Para percebermos quais os grupos das variá- as diferenças se situam no grupo que caracteri-
veis secundárias que diferem entre si, procedeu- zou a sua actividade sexual antes da cirurgia co-
-se à realização do teste de Wilcoxon Mann-Whit- mo sendo “pouco satisfatória” e no grupo que a
ney a fim de serem comparados os grupos, dois a caracterizou como “muito satisfatória”. Verifica-
dois. As diferenças encontradas são apresentadas mos, também, que é o grupo cuja actividade se-
xual antecedente à cirurgia se caracteriza como
no Quadro 4.
“pouco satisfatória” aquele que obteve valores
No que respeita à relação Qualidade do Rela-
mais elevados nas pontuações totais do Índice de
cionamento Conjugal/tempo decorrido após os tra-
Satisfação Sexual. Tendo em conta que quanto
tamentos, verifica-se que as diferenças se situam:
mais elevados são os valores totais desta escala,
- Nos grupos de participantes que terminaram maior é a insatisfação sexual, concluímos que as

QUADRO 3
Análise da Relação entre as Variáveis Principais e as Variáveis Secundárias

Teste Estatístico Variáveis Comparadas E.T. p-value

Anova Imagem Corporal e Idade 0,85 0,51


Qualidade do Relacionamento Conjugal e Idade 1,23 0,33
Satisfação Sexual e Idade 0,75 0,57

Kruskal-Wallis Imagem Corporal e Tempo Após Tratamentos 0,84 0,98


Qualidade do Relacionamento Conjugal e Duração do Relacionamento 5,31 0,51
Qualidade do Relacionamento Conjugal e Tempo Após Tratamentos 11,32 0,05
Satisfação Sexual e Status Sexual Anterior à Cirurgia 7,61 0,02
Satisfação Sexual e Tempo Após Tratamentos 3,47 0,63

Wilcoxon Mann-Whitney Imagem Corporal e Tipo de Cirurgia -1,41 0,16


Qualidade do Relacionamento Conjugal e Tipo de Cirurgia -1,83 0,07
Qualidade do Relacionamento Conjugal e Status Marital Anterior 2,45 0,01
à Cirurgia
Satisfação Sexual e Tipo de Cirurgia -0,49 0,66

301
QUADRO 4
Análise das Diferenças nos Sub-Gupos das Variáveis Secundárias

Rank Sum E.T. p-value

Perfil ERC Tempo Após Tratamentos


1-2 anos 60,50
Mais de 5 anos 59,50 -2,40 0,02

3-4 anos 6,00


Mais de 5 anos 30,00 -2,25 0,02

Índice Satisfação Sexual Status Sexual


Pouco Satisfatório 239,50
Muito satisfatório 138,50 -2,79 0,01

Perfil ERC Status Marital


Pouco Satisfatório 58,50
Muito Satisfatório 406,50 -2,45 0,01

mulheres que definiram a actividade sexual (an- mo valorizam a sua aparência e que não existem
tecedente à cirurgia) como “pouco satisfatória” alterações ao nível do relacionamento conjugal,
têm, actualmente, menor satisfação sexual do que após a realização de uma cirurgia à mama (radi-
as mulheres que caracterizaram a sua actividade cal ou parcial) e tratamentos. Constatou-se, no
sexual como “muito satisfatória”. entanto, que as participantes revelam uma insa-
Finalmente, no que respeita à relação Qualida- tisfação relativamente à sua sexualidade.
de do Relacionamento Conjugal/status marital Verificou-se, também, que quando existem pro-
anterior à cirurgia, é possível verificar-se que é o blemas ao nível da valorização da aparência existe
grupo de mulheres que classificou a o seu relacio- também uma maior insatisfação sexual. Por outro
namento conjugal num período antecedente à ci- lado, constatou-se que ao melhorar a qualidade
rurgia como sendo “muito satisfatório” aquele que do relacionamento conjugal, diminui a insatisfa-
obteve pontuações totais mais elevadas na Escala ção sexual.
de Relacionamento Conjugal. Vimos, portanto, Observou-se, ainda, que a qualidade do rela-
que quanto maior é a pontuação total desta esca- cionamento conjugal é influenciada pelo tempo
la, melhor é o relacionamento conjugal. Desta for- decorrido após os tratamentos e pelo grau de sa-
ma, concluímos que as mulheres cujo relaciona- tisfação conjugal anterior à cirurgia. Finalmente,
mento, antes da cirurgia, é definido como “muito verificou-se que a satisfação sexual após a cirur-
satisfatório” têm, também, um melhor relaciona- gia é influenciada pela forma como a actividade
mento conjugal (após a cirurgia), quando compa- sexual, antecedente à cirurgia, foi caracterizada.
radas com as mulheres que caracterizaram o seu Grande parte dos resultados aqui observados
relacionamento conjugal antecedente à cirurgia vem no mesmo sentido daqueles encontrados na
como “pouco satisfatório”. literatura. Quanto aos dados verificados ao nível
da imagem corporal, parece, no entanto, que exis-
te alguma divergência com outros estudos efec-
CONCLUSÃO tuados na área. Desta forma, talvez outras variá-
veis possam influir nestes resultados, tais como:
Através dos resultados obtidos na presente in- o facto de as participantes não fazerem, eventual-
vestigação, verificou-se que as participantes não mente, grande investimento no órgão doente; te-
revelam problemas no que respeita ao modo co- rem idades médias superiores a 50 anos; e, tam-

302
bém, o facto de nem todas terem sido submetidas zar as questões da imagem corporal, relacionamen-
a uma cirurgia radical. Não devemos, por isso, des- to conjugal e sexualidade quando se fala de inter-
curar aquilo que se tem vindo a estudar relativa- venção psicológica em mulheres com cancro de
mente à imagem corporal de mulheres com can- mama.
cro de mama, submetidas a uma cirurgia e que mos-
tram a existência de problemáticas a este nível.
Sobretudo em mulheres que realizam uma te- REFERÊNCIAS
rapêutica radical, a intervenção psicológica pa-
rece tornar-se indispensável. Ajudar a mulher a Anillo, L. M. (2000). Sexual life after breast cancer. Jour-
lidar com as alterações corporais, a desenvolver nal of Sex & Marital Therapy, 26, 241-248.
estratégias de coping que lhe permitam encarar Auchincloss, S. S. (1990). Sexual dysfunction in cancer
patientes: Issues in Evaluation and treatment. In J.
as mudanças na sua aparência, informando-a que
C. Holand, & J. H. Rowland (Eds.), Handbook of
a sua feminilidade continua a existir são algumas psychoncology: Psychological care of the patient with
das formas como um psicólogo pode intervir. Da- cancer (pp. 187-207). New York: Oxford Univer-
das as consequências físicas que a cirurgia e os sity Press.
tratamentos implicam, parece-nos pertinente afir- Crawford, M., & Cardoso, J. (2000). A dimensão sexual
mar que uma das primeiras preocupações do psi- na doença crónica: Que avaliação? Que interven-
cólogo deverá incidir, precisamente, sob esta per- ção? In J. Ribeiro, I. Leal, & M. Dias (Orgs.), Actas
do 3.º Congresso Nacional de Psicologia da Saúde
da corporal.
(pp. 521-525). Lisboa: ISPA.
A relação marital e a dimensão sexual dessa mes- Dias, M. R., Manuel, P., Xavier, P., & Costa, A. (2001).
ma relação parece ser outro foco de intervenção O cancro da mama no «seio» da família. In M. R.
psicológica. É já sabido que quanto mais infor- Dias, & E. Durá (Eds.), Territórios da psicologia
mado o paciente estiver acerca da sua doença, me- oncológica (pp. 303-320). Lisboa: Climepsi.
nores são as dificuldades encontradas durante to- Estapé, T. (2001). Disfunciones sexuales en pacientes
do o seu processo. Informar a doente que as difi- de cáncer. In M. R. Dias, & E. Dura (Eds.), Terri-
tórios da psicologia oncológica (pp. 235-263). Lis-
culdades sexuais são um aspecto concomitante aos
boa: Climepsi.
tratamentos é essencial para a prevenção de futu- Hopwood, P. (1993). The assessment of body image in
ros problemas desta ordem. Embora os proble- cancer pacients. European Journal of Cancer, 29A
mas sexuais sejam um assunto por vezes dema- (2), 276-281.
siado íntimo para ser exposto, a verdade é que a Hopwood, P., Fletcher, I., Lee, A., & Al Ghazal, S. (2001).
ajuda só é possível, caso a doente seja informada A body image for use with cancer patients. Euro-
acerca desta problemática e incentivada a expor pean Journal of Cancer, 37, 189-197.
Keitel, M. A., & Kopala, M. (2000). Counseling women
as suas dificuldades. A terapia sexual pode cons-
with breast cancer. A guide for professionals. Cali-
tituir uma ajuda essencial no que respeita ao de- fornia: Sage.
senvolvimento de novos padrões de comportamen- Lim, B. K., & Ivey, D. (2000). The assessment of ma-
to sexual e à desmistificação de falsas ideias que rital adjustment with Chinese populations: A study
possam surgir no decorrer da cirurgia e tratamen- of the psychometric properties of the dyadic
tos. adjustment scale. Family Therapy, 22 (4), 453-465.
O acompanhamento psicológico da doente e do McCabe, M. P. (2002). Relationship functioning and se-
seu companheiro torna-se fundamental ao bem- xuality among people with multiple sclerosis. Con-
sultado em 15 de Abril de 2004 através de http://
-estar e à qualidade de vida de mulheres com can- www.findarticles. com/p/articles/mi_m2372/is_4_
cro de mama. O parceiro da doente é, em grande 39/ai_96621269.htm
parte dos casos, a pessoa com maior contacto di- O’Mahoney, J. M., & Carroll, R. A. (1997). The impact
recto com a doente. Ouvir, compreender e ajudar of breast cancer and its treatment on marital func-
o casal a enfrentar esta nova e indesejável situa- tioning. Journal of Clinical Psychology in Medical
ção ajudará ambos os cônjuges a se reajustarem Settings, 4 (4), 397-415.
a uma série de novos papéis e funções e propor- Palhinhas, P. (2000). Adaptação psicológica e imagem
corporal em mulheres com cancro de mama. Mono-
cionará uma melhor comunicação entre ambos. grafia de Licenciatura em Psicologia Clínica. Lis-
Pretendeu-se com esta investigação, dar um con- boa: Instituto Superior de Psicologia Aplicada.
tributo para a extensão do conhecimento que abran- Pereira, V. S., & Mestre, L. (Eds.) (1997). Senologia prá-
ge a patologia mamária, no sentido de se valori- tica. Lisboa: Glaxowellcome.

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Ribeiro, J. L. P. (1999). Investigação e avaliação em lacionamento conjugal, satisfação sexual, cancro de ma-
psicologia da saúde. Lisboa: Climepsi. ma.
Rowland, J., & Holland, J. (1990). Breast Cancer. In J.
C. Holand, & J. H. Rowland (Eds.), Handbook of
psychoncology: Psychological care of the patient with
cancer (pp. 187-207). New York: Oxford Univer- ABSTRACT
sity Press.
The aim of the present investigation was to study
the body image, marital relationship quality and sexual
RESUMO
satisfaction of women with breast cancer.
Este trabalho teve como objectivo o estudo da ima- In this study participated thirty women with breast
gem corporal, da qualidade do relacionamento conju- cancer, who were submitted to a breast surgery (mas-
gal e da satisfação sexual de mulheres com cancro de
mama. tectomy or lumpectomy) and post treatment interven-
Neste estudo participaram trinta mulheres com can- tion (chemotherapy, radiation therapy and/or hormone
cro de mama, submetidas a uma cirurgia (radical ou par- therapy). All subjects were married and had sexual acti-
cial) e posterior tratamento (quimioterapia, radiotera-
pia e/ou hormonoterapia). Todas as participantes eram vity with their partners.
casadas ou viviam em união de facto e mantinham uma To evaluate the studied variables, we used: The Bo-
actividade sexual com o companheiro.
dy Image Scale, The Marital Relationship Scale and The
Para a avaliação das variáveis em estudo utilizou-se:
a Escala de Imagem Corporal “Como me relaciono com Index of Sexual Satisfaction.
o meu corpo”, a Escala de Relacionamento Conjugal e The obtained results showed the inexistence of body
o Índice de Satisfação Sexual.
Os resultados obtidos apontaram para a inexistência image and marital relationship quality problems. How-
de problemas ao nível da imagem corporal e da quali- ever, some difficulties concerning to sexual satisfacti-
dade do relacionamento conjugal. Constatou-se, no en- on of the participants, were found.
tanto, a existência de problemática ao nível da satisfa-
ção sexual das participantes. Key words: Body image, marital relationship quali-
Palavras-chave: Imagem corporal, qualidade do re- ty, sexual satisfaction, breast cancer.

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