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RELATÓRIO PRONAF

RESULTADOS DA ETAPA PARANÁ

REALIZAÇÃO PARCERIA

EM CONSULTORIA PARA

IBASE : PRONAF . PARANÁ 1


RELATÓRIO PRONAF
RESULTADOS DA ETAPA PARANÁ

Realização
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase)
Outubro de 2006

Em consultoria para
Governo Federal
Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA)
Secretaria de Agricultura Familiar (SAF)

Parceria
Emater/Paraná

Organização
Iracema Dantas
João Roberto Lopes Pinto

Texto
Cândido Grzybowski
Eugênia Motta
João Roberto Lopes Pinto
Lauro Mattei
Leonardo Méllo
Luciano Cerqueira
Marcia Tibau
Nelson Giordano Delgado
Sebastião Soares

Revisão
Marcelo Bessa

Revisão final
AnaCris Bittencourt
Eugênia Motta
João Roberto Lopes Pinto
Marcia Tibau

Diagramação
Guto Miranda/Dotz Design

Ibase
Av. Rio Branco, 124/8º andar
20040-916 Rio de Janeiro/RJ
Tel:(21) 2509-0660 Fax: (21) 3852-3517
<www.ibase.br>

IBASE : PRONAF . PARANÁ 2


PARTE I

1. Introdução 5

2. Pronaf e sua evolução como política pública no Paraná 7


2.1 Breve cenário do meio rural 7
2.2 Importância da agricultura familiar 9
2.3 Características e evolução recente do Pronaf no país 10
2.4 Pronaf e o estado do Paraná 13

3. Pronaf e agricultores familiares 18


3.1 Agricultores(as) familiares e suas condições de vida 18
3.2 O estabelecimento como unidade produtiva 28

4. Pronaf e desenvolvimento local e regional 48


4.1 Percepções de agentes locais 48
4.2 Sustentabilidade da agricultura familiar: abordagens regionais 59
4.2.1 Vale do Ribeira 62
4.2.2 Oeste 78
4.2.3 Sudoeste 88

5. Conclusões e recomendações 101


5.1 Impactos do Pronaf 101
5.1.1 Na família 102
5.1.2 No estabelecimento 104
5.1.3 No desenvolvimento local e regional 109
5.2 Recomendações 113

6. Referências 116

PARTE II

1. Introdução 119

2. Seleção do objeto 120

3. Beneficiários(as), grupos de crédito e localidade 121

4. Cadastro 124

5. Plano amostral 125


5.1 Considerações gerais 125
5.2 Restrições ao universo 125
5.3 Sorteio dos(as) beneficiários(as) 126

6. Questionários 127
6.1 Aplicação 127
6.2 Questionário aplicado entre beneficiários(as) do Pronaf 127
6.3 Questionário aplicado entre agentes locais 128

7. Estudos de caso 130

8. Organização para execução da pesquisa 132

9. Agradecimentos 134

Anexos 135

IBASE : PRONAF . PARANÁ 3


PARTE I

IBASE : PRONAF . PARANÁ 4


1 Introdução
Este documento é o produto final dos estudos que o Instituto Brasileiro de Análi-
ses Sociais e Econômicas (Ibase) realizou para a Secretaria da Agricultura Familiar
do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SAF/MDA), objetivando a avaliação dos
impactos do Programa Nacional de Fortalecimento de Agricultura Familiar (Pronaf
Crédito) na qualidade de vida de agricultores(as) e suas famílias, nos estabelecimen-
tos e sistemas de produção agropecuários e na economia local e regional do estado
do Paraná. A avaliação se concentrou nos grupos C, D e E do Pronaf, procurando
verificar o desempenho, a partir do crédito Pronaf, tanto do conjunto como de cada
um desses segmentos da agricultura familiar.
Com um caráter de projeto-piloto, a presente pesquisa seguiu uma metodologia
que combinou diferentes abordagens, favorecendo uma leitura bastante represen-
tativa da realidade estudada. Valeu-se de amostras estatísticas que permitiram tratar
dos impactos do Pronaf sobre as famílias e estabelecimentos em todo o estado
do Paraná, ou seja, possibilitaram expandir os resultados sobre o conjunto de be-
neficiários do Pronaf no estado. Para o projeto, utilizou-se uma amostra de 2.400
beneficiários(as) do Pronaf, da safra 2004/2005, em 144 municípios do estado, com
800 entrevistas realizadas para cada um dos grupos de crédito – o que permitiu o
tratamento tanto do agregado como de cada grupo.
Ao mesmo tempo, no intuito de qualificar tais informações, considerando a di-
versidade da agricultura familiar no estado, e de avaliar os impactos para além dos
estabelecimentos na economia local, utilizaram-se igualmente dois outros instrumen-
tos. O primeiro consistiu na aplicação de questionário para mais de 500 agentes lo-
cais – representantes de prefeituras, agentes financeiros, funcionários(as) do Instituto
Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e integrantes de sindi-
catos de trabalhadores(as) rurais –, nos mesmos municípios visitados para a pesquisa
com os(as) beneficiários(as). Aferiu-se, com esse instrumento, a percepção de agentes
entrevistados(as) acerca do impacto do Pronaf sobre a agricultura familiar, bem como
sobre o desenvolvimento local. O outro instrumento, a terceira abordagem da pes-
quisa, consistiu na realização de estudos de caso em três regiões do estado: Vale do
Ribeira, Oeste e Sudoeste. Tais estudos buscaram, dentro dos limites de tempo de um
projeto-piloto, agregar à análise dos impactos do Pronaf a avaliação quanto à susten-
tabilidade da agricultura familiar, em regiões com diferentes formas de inserção da
mesma no tecido socioeconômico.
Inicialmente, havia se cogitado avaliar o impacto do Pronaf sobre a economia local
exclusivamente por meio de fontes secundárias, valendo-se da variação de séries esta-
tísticas quanto ao desempenho da economia e demografia locais. Além da dificuldade
de isolar outras variáveis intervenientes, permitindo inferências objetivas quanto ao
impacto do Pronaf, avaliou-se que seria mais factível, e mesmo fecundo, trabalhar a
percepção dos(as) agentes e estudar in loco como o Pronaf estaria influindo para uma
inserção sustentável da agricultura familiar no ambiente local/regional.
Sabe-se que impactos sobre a economia local não necessariamente estão as-
sociados a impactos positivos sobre a sustentabilidade da agricultura familiar. Em

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alguns casos, a associação pode até ser negativa. De outra parte, é possível esperar
que impactos positivos do Pronaf sobre a agricultura familiar terão, de modo geral,
efeitos positivos também sobre a economia local, por exemplo, a partir do aumento
da produção agrícola, da dinamização do comércio, da elevação da arrecadação
municipal, etc. No que se refere à dinâmica demográfica local, está normalmente
associada à tendência e aos movimentos cíclicos da agricultura familiar.
Quanto à abordagem sobre a sustentabilidade da agricultura familiar, vale des-
tacar que o conceito de cadeia produtiva é um conceito-chave na análise proposta.
Esse conceito é compreendido como campo de lutas entre os diferentes atores que
dela fazem parte, cuja participação na estrutura da cadeia e no volume de excedente
por ela gerado depende: do poder organizativo de que disponham; do tipo de rela-
ção que estabeleçam com as empresas, nacionais e internacionais, do agronegócio;
e do acesso que tenham ao Estado e às políticas públicas.
Este relatório constitui o quarto produto (final) previsto na proposta do Ibase,
aprovada pela SAF/MDA. A publicação tem duas partes: a primeira apresenta os re-
sultados do trabalho quanto aos impactos do Pronaf e à caracterização da agricultura
familiar no estado; a segunda trata do detalhamento da metodologia desenvolvida
para a pesquisa, que também é, sem dúvida, um dos resultados do trabalho.
Na primeira parte, além da apresentação do Pronaf e de sua evolução como
política pública no Paraná, subdividiu-se a análise em dois momentos: “Pronaf e
agricultores(as) familiares” e “Pronaf e desenvolvimento local e regional”. O primei-
ro contempla os resultados da pesquisa realizada entre beneficiários(as) do crédito,
verificando os impactos do Pronaf sobre a qualidade de vida de agricultores(as) e
suas famílias, bem como sobre os estabelecimentos produtivos. Como já assinalado,
os dados relativos aos(às) beneficiários(as) são apresentados no corpo do texto de
maneira agregada e também pelos grupos de crédito, quando tal abordagem per-
mite inferências sobre o desempenho diferenciado dos grupos.
O segundo momento da análise refere-se, particularmente, às leituras suscitadas
pela percepção de agentes locais, bem como pelas abordagens regionais sobre a
sustentabilidade da agricultura familiar. Nessa parte, buscou-se identificar questões
quanto à forma como o Pronaf vem contribuindo, ou não, para uma inserção local/
regional sustentável da agricultura familiar.
É certo que as abordagens derivadas de cada um dos instrumentos – questionário de
beneficiários(as), de agentes e os estudos de caso – jogam luz sobre diferentes dimen-
sões dos impactos do Pronaf. Contudo, vale assinalar, as análises dessas dimensões não
são apresentadas aqui de forma estanque, compartimentada, mas sim contemplando
as interseções e complementaridades entre cada uma das abordagens. No texto “Con-
clusões e recomendações”, da primeira parte, foram pontuadas as principais questões
levantadas nas análises, bem como possíveis recomendações por elas suscitadas.
Na realização deste trabalho, o Ibase contou com a parceria e o apoio do Emater
do Paraná, tanto para a aplicação de questionários e a realização de entrevistas com
beneficiários(as) do crédito e agentes locais – atividades que, conforme previsto, foram
diretamente realizadas e supervisionadas por técnicos(as) daquela entidade – como para
o suporte logístico das equipes do Ibase em suas diversas viagens e deslocamentos no
estado. Vale dizer que a própria metodologia foi discutida e refinada com a colaboração
de técnicos(as) do Emater/PR e, também, da SAF/MDA. A experiência e o empenho da
equipe do Ibase, a organização adotada para a execução do trabalho e esse apoio do
Emater/PR e da SAF/MDA foram decisivos para realizar todo o trabalho programado,
em cerca de seis meses, alcançando plenamente todos os objetivos inicialmente esta-
belecidos. Especialmente, foi desenvolvida e testada uma metodologia de avaliação dos
impactos da política pública, capaz de ser replicada, com sucesso, em outras situações.

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2 Pronaf e sua evolução como
política pública no Paraná1
2.1 BREVE CENÁRIO DO MEIO RURAL

O Brasil rural comporta uma diversidade de ambientes físicos, recursos naturais,


agroecossistemas, sistemas agrários, etnias, culturas, relações sociais, padrões tec-
nológicos, formas de organização social e política, linguagens e simbologias. Essa
diversidade demonstra que o espaço rural brasileiro não é uniforme, mas plural e
heterogêneo.
Historicamente, essa heterogeneidade se traduz na convivência, lado a lado, de
projetos contraditórios que concorrem desigualmente num mesmo espaço social. De
um lado, a agricultura patronal reproduz, no país, um modelo embasado na mono-
cultura e no latifúndio, que freqüentemente gera degradação ambiental, exploração
do trabalho agrícola, exclusão social e concentração da terra e da renda. Essa matriz
produtiva baseia-se em princípios que ignoram os conhecimentos tradicionais e não
aproveitam a riqueza dos ecossistemas, o que resulta em desperdícios de energia,
elevação dos custos de produção e empecilhos para a promoção do desenvolvimen-
to sustentável.
De outro lado, encontra-se a agricultura familiar, que, apesar de muitas vezes so-
frer perdas de renda e ter dificuldades de acesso aos benefícios das políticas públicas,
procura estabelecer sistemas de produção focados na valorização do trabalho familiar
e na produção de alimentos para o próprio consumo e indispensáveis à segurança
alimentar e nutricional da população em geral. Além disso, pelas suas características,
propicia a democratização do acesso à terra e aos demais meios de produção. Desse
modo, contribui para a construção do desenvolvimento rural sustentável.
Esse processo histórico permite, hoje, apontar duas grandes tendências no que
diz respeito à implementação de projetos de desenvolvimento do espaço rural bra-
sileiro. Uma é baseada no desenvolvimento agrícola, centrada no agronegócio, cuja
natureza é eminentemente setorial. A outra adota o princípio do desenvolvimento
rural, com a integração de atividades agrícolas e não agrícolas, rurais e urbanas,
multissetoriais e territoriais.
Ao longo dos últimos anos, é inegável que o aumento da competitividade do
agronegócio, por meio da especialização produtiva, da adoção de tecnologias de
ponta e da produção em larga escala, tem sido fundamental para obter saldos no
comércio exterior e para ajudar a equilibrar as contas externas do país. No entanto,
nas regiões ocupadas predominantemente pelo agronegócio, observa-se também
uma fragilidade das redes formadas por micro e pequenas empresas, detentoras de
inegáveis potencialidades para revitalizar as dinâmicas econômicas locais.
Paralelamente ao modelo anteriormente citado, observa-se o surgimento de uma
nova proposta de desenvolvimento rural com enfoque nas diferentes dimensões da
sustentabilidade (econômica, social, política, cultural, ambiental e territorial). De acor-
1
As informações contidas nesta do com os princípios e as práticas dessa proposta, o meio rural tem um papel central
parte do relatório baseiam-se
nos textos de Condraf (2006) e
na construção de um novo projeto de sociedade. Ele é visto como um espaço para: di-
de Lauro Mattei (2006). versificar e multiplicar os sistemas de produção (não os uniformizando) e desenvolver

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atividades rurais não agrícolas; viabilizar novas estratégias de conservação ambiental
compatíveis com a produção sustentável; promover e estimular dinâmicas de inclusão
social e promoção da igualdade; e gerar alternativas tecnológicas que favoreçam a
disseminação da autonomia relativa de produtores(as) familiares.
Nesse embate de projetos, é preciso considerar a importância estratégica das
políticas públicas. De um modo geral, pode-se dizer que, até o início da década de
1990, não existia nenhum tipo de política pública, com abrangência nacional, voltada
ao atendimento das necessidades específicas do segmento social de agricultores(as)
familiares, o qual era caracterizado de modo meramente instrumental e bastante
impreciso no âmbito das entidades e órgãos públicos.
Com a promulgação da Constituição de 1988, ocorreu um reordenamento do
Estado brasileiro. A orientação da nova Constituição, de descentralização das ações
estatais, introduziu novos mecanismos de gestão social das políticas públicas, com o
objetivo de democratizar o acesso dos(as) beneficiários(as) aos recursos públicos. Em
grande medida, esse movimento conduziu a um aumento crescente dos conselhos
gestores, tanto de políticas setoriais como das políticas gerais de desenvolvimento
nas esferas federal, estaduais e municipais.
Nesse cenário foi criado, em 1996, o Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (Pronaf), para atender a uma antiga reivindicação das organizações
dos(as) trabalhadores(as) rurais, as quais demandavam a formulação e a implantação
de políticas de desenvolvimento rural específicas para o maior segmento da agricultura
brasileira, porém o mais fragilizado em termos de capacidade técnica e de inserção nos
mercados agropecuários. Deve-se ressaltar que, nesse processo, os atores sociais ru-
rais, por meio de suas organizações e lutas, desempenharam um papel decisivo na im-
plantação do programa, considerado uma bandeira histórica dos(as) trabalhadores(as)
rurais, pois lhes permitiria o acesso aos diversos serviços oferecidos pelo sistema finan-
ceiro nacional, até então praticamente inacessíveis aos(às) agricultores(as) familiares.
A Lei da Agricultura Familiar e dos Empreendimentos Familiares Rurais (Lei 11.326)
– sancionada pelo presidente Lula em 24 de julho de 2006 – vem coroar um longo e
conflituoso processo de consolidação de uma política pública inovadora para o meio
rural brasileiro. Com essa lei, a categoria social de agricultor(a) familiar passa a ser
reconhecida legalmente, o que lhe assegura o direito indiscutível de acesso a políticas
públicas diferenciadas, que deverão estar articuladas em um Plano Nacional da Agri-
cultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. Por seu caráter de conquista
histórica das organizações e dos movimentos sociais de agricultores(as) familiares e
por sua importância estratégica, o Pronaf ocupará um lugar de relevância nesse elenco
de políticas públicas para a sustentabilidade da agricultura familiar no Brasil.
A existência e a implementação do Pronaf, desde 1996, vem favorecendo o re-
conhecimento público da categoria social de agricultor(a) familiar, bem como sua ex-
pressão econômica e social na sociedade brasileira, onde a agricultura familiar passou
a representar, juntamente com as cadeias produtivas a ela interligadas, em torno de
10% do PIB brasileiro em 2003 (GUILHOTO, et al., 2005). Chama a atenção, ademais,
o processo de nacionalização do Pronaf nos últimos anos, com o aumento da partici-
pação do Norte e do Nordeste no volume nacional de crédito do programa: a partir da
safra 2002/2003, o volume de crédito para o Nordeste mais do que dobrou e, para o
Norte, quase triplicou (NUNES, 2005, p.11). Ressalta também a vitalidade do programa
e sua flexibilidade, ao longo do tempo, para fazer correções e adequações no sentido
de ampliar o volume disponível de recursos e de tentar contemplar o reconhecimento
da maior complexidade atual da agricultura familiar e das múltiplas dimensões que
devem ser consideradas nas estratégias de reprodução das famílias.

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2.2 IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA FAMILIAR

O público de agricultores(as) familiares, em função da enorme diversidade da própria


agricultura familiar no país, encontra-se hoje classificado em diferentes categorias,
conforme estudo elaborado, a partir do Censo Agropecuário (CA) de 1995–1996,
pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) em
parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), publi-
cado em 2000.
A compilação dos dados mostra que, do total de 4.859.864 estabelecimentos
agropecuários existentes no último CA, 4.139.369 pertenciam ao sistema de produ-
ção comandado pela agricultura familiar, o que representa 85% dos estabelecimen-
tos do país. Em termos de área total, tais estabelecimentos ocupavam apenas 30,5%
da área, ao passo que a agricultura patronal detinha 68% da área, com 11% do total
de estabelecimentos.
A Tabela 1 mostra a participação dos estabelecimentos agropecuários familiares
em cada uma das regiões do país. Em primeiro lugar, observa-se que, nas regiões
Sul, Nordeste e Norte, há um predomínio absoluto desses tipos de estabelecimentos
em relação aos estabelecimentos patronais.
A região Sul, percentualmente, detém a maioria de seus estabelecimentos ocupa-
dos pela agricultura familiar, ou seja, mais de 907 mil estabelecimentos, porém com
43,5% da área total. Já a região Centro-Oeste se situa em um pólo oposto, uma vez
que detém o menor percentual de agricultores(as) familiares entre todas as regiões do
país, ou seja, 66,8% dos estabelecimentos são de base familiar. Porém, o contraste é
bastante forte porque esse total de estabelecimentos ocupa apenas 12,6% da área to-
tal da região, o que indica a existência de um elevado grau de concentração da terra.

TABELA 1: Nº DE ESTABELECIMENTOS FAMILIARES, PARTICIPAÇÃO SOBRE TOTAL DE


ESTABELECIMENTOS (%) POR GRANDE REGIÃO

Região Estabelecimento Área (em ha)


Total % Total %
Nordeste 2.055.157 88,3 34.043.218 43,5
Centro-Oeste 162.062 66,8 13.691.311 12,6
Norte 380.895 85,4 21.860.960 37,5
Sudeste 633.620 75,3 18.744.730 29,2
Sul 907.635 90,5 19.428.230 43,8
Brasil 4.139.369 85,2 107.768.450 30,5
Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1995–1996. Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica FAO/Incra

A Tabela 2 apresenta a participação percentual dos estabelecimentos familiares


de cada região no total do país. Em primeiro lugar, destaca-se a região Nordeste,
que responde por quase 50% de todos os estabelecimentos familiares do país. No
entanto, os mais de 2 milhões de estabelecimentos familiares dessa região ocupam
menos de 32% da área total dos estabelecimentos rurais do país.
Já a região Sul, embora internamente contando com o predomínio absoluto dos
estabelecimentos familiares, responde por aproximadamente 22% do total desses
estabelecimentos do país.
Finalmente, deve-se registrar que, na região Centro-Oeste, localiza-se o menor
número de agricultores(as) familiares do país, tendo em vista que ela responde por
apenas 3,9% do total desse tipo de estabelecimento.

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TABELA 2: PROPORÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS FAMILIARES POR GRANDE REGIÃO SOBRE TOTAL
NO PAÍS (Nº DE ESTABELECIMENTOS E ÁREA)

Região Estabelecimento Área (em ha)


Nordeste 49,7 31,6
Centro-Oeste 3,9 12,7
Norte 9,2 20,3
Sudeste 15,3 17,4
Sul 21,9 18,0
Brasil 100 100
Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1995–1996. Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica FAO/Incra

2.3 CARACTERÍSTICAS E EVOLUÇÃO RECENTE DO PRONAF NO PAÍS

Do ponto de vista operacional, o Pronaf concentra-se em quatro grandes linhas de


atuação:
a) financiamento da produção: o programa destina anualmente recursos para cus-
teio e investimento, financiando atividades produtivas rurais em praticamente
todos os municípios do país;
b) financiamento de infra-estrutura e serviços municipais: apoio financeiro aos mu-
nicípios de todas as regiões do país para a realização de obras de infra-estrutura
e serviços básicos;
c) capacitação e profissionalização dos(as) agricultores(as) familiares: promoção de
cursos e treinamentos aos(às) agricultores(as) familiares, conselheiros(as) muni-
cipais e equipes técnicas responsáveis pela implementação de políticas de de-
senvolvimento rural;
d) financiamento da pesquisa e extensão rural: destinação de recursos financeiros para
a geração e transferência de tecnologias para os(as) agricultores(as) familiares.

A modalidade denominada Financiamento da Produção – que comporta os recursos


para custeio e investimentos – está voltada ao apoio financeiro dos(as) agricultores(as)
familiares, segundo cinco categorias de beneficiários(as).2 Essa categorização decorreu
da publicação de um estudo realizado no âmbito do convênio FAO/Incra,3 em 1999,
que identificou distintos grupos de agricultores(as) familiares, de acordo com o nível
da renda bruta familiar anual. Essa classificação diferenciada dos(as) agricultores(as)
permitiu que as regras de financiamentos fossem mais adequadas à realidade de cada
segmento social. Além disso, os encargos financeiros e os rebates visam melhor atender
àquelas parcelas com menores faixas de renda e em maiores dificuldades produtivas.
2
Essas categorias de
beneficiários(as) foram definidas Em termos institucionais, nota-se que, a partir de 1999, o Pronaf sofreu uma série
pela Resolução 2.629, de 10 de
de alterações. Em primeiro lugar, deixou de fazer parte do Ministério da Agricultura,
agosto de 1999, que passou
a integrar as normas gerais no qual era vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), e foi incorpora-
do Manual de Crédito Rural,
definidas no capítulo 10º
do ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Em segundo lugar, nessa nova
da resolução. estrutura organizacional, a agricultura familiar ganhou maior espaço, que se expressa
3
Um primeiro estudo realizado pela criação da Secretaria da Agricultura Familiar (SAF), no âmbito do MDA.
pela FAO em parceria com o Incra No início de 2003, ocorreu nova mudança institucional. Com a criação da Secre-
já havia sido realizado em 1994,
constituindo-se em importante taria de Desenvolvimento Territorial (SDT), no MDA, a linha Pronaf Infra-estrutura e
referencial para classificação Serviços Municipais ficou sob a gerência da SDT, a qual passou a financiar projetos que
quantitativa dos estabelecimentos
considerados familiares. A partir incorporem a noção de “desenvolvimento territorial”. O resultado mais visível dessa
desses trabalhos, nasceu a
mudança é que os municípios deixaram de ser a unidade de referência dessa linha de
separação entre agricultores(as)
patronais e familiares. crédito e, em seu lugar, iniciativas de caráter regional passaram a ser beneficiadas.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 10


Com a segmentação do público beneficiário do programa, há, hoje, seis gru-
pos distintos de agricultores(as) familiares beneficiários(as) do programa: os(as)
agricultores(as) estabilizados(as) economicamente, conhecidos(as) como grupo D;
os(as) agricultores(as) com exploração intermediária, mas com bom potencial de
resposta produtiva, chamados(as) de grupo C; os(as) agricultores(as) com baixa pro-
dução e pouco potencial de aumento da produção, que compõem o grupo B; e
os(as) assentados(as) pelo processo de reforma agrária, chamados de grupo A. As
duas novas categorias são o grupo A/C, composto por agricultores(as) oriundos(as)
do processo de reforma agrária e que passaram a receber o primeiro crédito após
a respectiva emancipação, e o grupo E, composto por agricultores(as) familiares(as)
com os mais elevados níveis de renda bruta familiar anual.
Além disso, observa-se uma série de mudanças do programa, de natureza finan-
ceira, principalmente no que diz respeito às taxas de juros e às formas de pagamento
dos empréstimos bancários. Em grande parte, essas modificações visam atender um
número maior de beneficiários(as) e expandir a esfera de interferência da agricultura
familiar no âmbito da produção agropecuária do país.
Finalmente, em termos das instâncias deliberativas, verifica-se a mesma siste-
mática adotada desde o início da implantação do programa. Assim, no universo
municipal existem os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural (CMDR), que
elaboram e aprovam os planos de trabalho e os encaminham às instâncias superio-
res. No âmbito estadual, existe o conselho estadual do Pronaf, que analisa e aprova
os planos municipais e os encaminha ao governo federal. Essas tarefas ficam ao
encargo da secretaria executiva estadual do programa. Na esfera nacional, existe o
conselho nacional e a gerência executiva do programa, nos quais são discutidas e
tomadas todas as decisões políticas relativas ao apoio à agricultura familiar.
Do ponto de vista das condições operacionais do programa na última safra,4 as
regras do Plano de Safra 2005–2006 estabeleceram um conjunto de valores dife-
renciados por categorias de agricultores(as) familiares, conforme os grupos a seguir
descritos. Essa diferenciação entre os diversos segmentos permite que as condições
de financiamento sejam mais adequadas à realidade de cada um deles.

Grupo A – Agricultores(as) assentados(as) da reforma agrária que, com a


extinção do Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária (Procera),
passaram a ser atendidos(as) pelo Pronaf. Atualmente, pelas regras do Plano
de Safra 2005–2006,5 tais agricultores(as) podem pedir financiamento de até
R$ 16,5 mil para investimentos e mais R$ 1,5 mil para assistência técnica, a
fundo perdido. O prazo de pagamento é de até dez anos (com até cinco anos
de carência), e os juros são de 1,15%. Foi previsto, também, um desconto de
até 45% sobre o valor financiado, desde que o pagamento ocorra dentro dos
prazos estipulados.

Grupo B – Agricultores(as) familiares e remanescentes de quilombos,


trabalhadores(as) rurais e indígenas com renda bruta anual atual de até
4
Ano após ano, o governo R$ 2 mil. Esse grupo inclui as famílias rurais com baixa produção e com pouco
federal muda os valores e as
condições operacionais para potencial de aumento da produção no curto prazo localizadas em regiões com
cada uma das categorias sociais
de agricultores(as) familiares.
concentração de pobreza rural. Os valores dos financiamentos de investimentos
são limitados em até R$ 3 mil para qualquer atividade geradora de renda, com
5
Para todos os demais grupos,
os valores e os prazos também
juros de 1% ao ano e prazo para pagamento de dois anos, sendo um ano de
se referem à safra 2005/2006. carência. Nessa modalidade de crédito, o(a) tomador(a) pode se beneficiar de

IBASE : PRONAF . PARANÁ 11


um desconto de 25% sobre o valor financiado, quando os prazos de ressarci-
mento do empréstimo forem respeitados.

Grupo C – Agricultores(as) familiares com renda bruta anual atual entre R$ 2 mil
e R$ 14 mil, que apresentem explorações intermediárias com bom potencial de
resposta produtiva. Os limites de financiamento para custeio são de R$ 3 mil,
com juros de 4% ao ano, desconto (rebate) de R$ 200 e prazo de pagamento
de até dois anos. Já para investimentos, o limite é de R$ 6 mil, e o prazo de
pagamento é de até oito anos, com juros de 3% ao ano. Além do rebate do
crédito de custeio, há ainda um desconto de R$ 700 do crédito de investimen-
to para contratos coletivos. Se o(a) agricultor(a) respeitar os prazos, poderá se
beneficiar de um bônus de 25% sobre os juros.

Grupo A/C – Agricultores(as) oriundos(as) do processo de reforma agrária e


que passam a receber o primeiro crédito de custeio após terem obtido o cré-
dito de investimento inicial que substituiu o antigo programa de apoio aos(às)
assentados(as). Os limites de financiamento de custeio variam de R$ 500 a
R$ 3 mil, com juros de 2% ao ano e prazo de pagamento de até dois anos.
Esse grupo também é beneficiado por um desconto de R$ 200 sobre o valor
emprestado, desde que quitado dentro dos prazos estabelecidos.

Grupo D – Agricultores(as) considerados(as) estabilizados(as) economicamente


com renda bruta anual entre R$ 14 mil e R$ 40 mil, sendo que o limite para
custeio é de até R$ 6 mil, com juros de 4% ao ano e prazo de até dois anos.
Para investimento, o limite de financiamento é de até R$ 18 mil, com prazo
de até oito anos e carência de até cinco anos. Os juros são de 3% ao ano e
podem ser reduzidos em até 25% para os pagamentos no prazo.

Grupo E – Agricultores(as) com renda bruta anual entre R$ 40 mil e R$ 60 mil.


Os limites de financiamento para custeio são de R$ 36 mil, com juros de 7,25%
ao ano e prazo de pagamento de dois anos. Para investimento, o limite de fi-
nanciamento é de R$ 36 mil, com juros idênticos ao crédito de custeio e prazo
de pagamento de até oito anos, com três anos de carência e sem descontos.

A Tabela 3 mostra a expansão do número de contratos e o volume total de re-


cursos disponibilizados nas últimas safras agrícolas. Do ponto de vista dos contratos,
nota-se um crescimento progressivo, principalmente nos últimos anos, significando
que um número muito maior de agricultores(as) familiares vem tendo acesso ao
crédito rural. Em termos percentuais, houve um crescimento do número de contra-
tos de mais de 70% entre 1999 e 2005. Em valor, o montante contratado na safra
2005–2006 é maior cerca de três vezes do que o contratado da safra 1999–2000.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 12


TABELA 3: NÚMERO DE CONTRATOS E MONTANTE DO CRÉDITO DO PRONAF, POR SAFRA
BRASIL 1999–2005

Ano Nº de contratos Montante (Em R$ 1,00)


1999 –2000 926.422 2.149.434.466
2000 –2001 893.112 2.168.486.228
2001–2002 932.927 2.189.275.083
2002–2003 904.214 2.376.465.864
2003 –2004 1.390.168 4.490.478.228
2004 –2005 1.631.797 6.076.553.717
2005 –2006 1.637.233 6.172.092.494
Total 8.315.873 25.622.786.080
Fonte: Bancen (somente exigibilidade bancária), Bancoob, Bansicred, Basa, BB, BN e BNDES. Dados atualizados:
Bacen até 12/2004, Bancoob até 06/2006; Bansicred até 06/2006; Basa até 03/2006; BB até 06/2006; BN até
06/2006; e BNDES até 06/2006

2.4 PRONAF E O ESTADO DO PARANÁ

O ESTADO DO PARANÁ

O Paraná é o estado com a sexta maior população do país e é o segundo maior em


número de contratos e montante de recursos do Pronaf.6 No ano agrícola 2004–
2005, recebeu 13% de todo o montante destinado ao programa, ficando atrás ape-
nas do Rio Grande do Sul, que recebeu 22% do total de recursos. Segundo o MDA,
na safra 2006–2007, está sendo disponibilizada a maior quantidade de recursos
desde a criação do programa em 1996. Neste ano, dos R$ 10 bilhões destinados ao
Pronaf, R$ 1,2 bilhão está disponível para o Paraná.
A população do Paraná, atualmente 10,2 milhões de habitantes,7 já teve uma
das maiores taxas de crescimento do país. Em 1950, a população era de 2,1 mi-
lhões de habitantes e, em 1970, eram 7 milhões, com taxas médias de crescimento
de 5% ao ano, ao passo que a média brasileira era de 3% ao ano. A partir dessa
década, a população passou a crescer a taxas menores (cerca de 1% ao ano),
quando o estado deixou de absorver migrantes. No início da década de 1990, a
população voltou a crescer mais rapidamente, e em 2000 o Paraná já tinha cerca
de 9,5 milhões de habitantes.
No mesmo ano, o Censo revelou uma população ocupada de 4.055.739 para
uma População Economicamente Ativa (PEA) de 4.651.832 pessoas. Destas, pouco
mais de 20% estavam ocupadas diretamente na agropecuária, 22% na indústria,
cerca de 17% no comércio e 39% em serviços. No entanto, muitos municípios pa-
ranaenses têm a maior parte da população ocupada na agropecuária e dependem
basicamente dessa atividade. Dos 399 municípios do estado, 188 têm mais de 50%
da PEA ocupada nesse setor, sendo a agricultura familiar responsável por muitos
desses postos de trabalho.
Em 1995, 84,3% das pessoas ocupadas na agropecuária trabalhavam em esta-
belecimentos familiares (IPARDES, 2005), sendo 88% membros da família não remu-
nerados e 12% de trabalhadores(as) assalariados(as). Os estabelecimentos com até
6
De acordo com dados do MDA, dez hectares detinham cerca de 34% do pessoal ocupado no setor e menos de 7%
para o ano agrícola de assalariamento. As contratações entre os(as) agricultores(as) familiares também
de 2004/2005.
são pequenas, principalmente quando comparadas com os estabelecimentos de em-
7
População estimada, segundo
presários. Apenas 27% dos agricultores(as) familiares contratam trabalhadores(as),
dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (2005). ao passo que todos os grandes proprietários fazem contratações.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 13


Em relação à estrutura fundiária, identifica-se uma grande concentração de ter-
ras. O índice de Gini aponta que, entre as dez mesorregiões do estado, a concen-
tração de terras é forte em três delas e muito forte em sete. Os(as) agricultores(as)
familiares participam com 92,7% dos números de estabelecimentos, mas detêm
apenas 38,9% da área. Os empresários, por sua vez, com apenas 7,3% dos esta-
belecimentos, controlam 61,1% da área. O Sudoeste, uma das regiões em que foi
realizado estudo de caso, é o que apresenta o menor índice de Gini, ou seja, onde
ocorre a menor concentração fundiária do estado. Os(as) agricultores(as) familiares
dessa região controlam 97,4% dos estabelecimentos e 72,6% da área. A distribui-
ção total e por mesorregião pode ser vista na Tabela 4, a seguir.

TABELA 4: ESTABELECIMENTOS SEGUNDO AS FAIXAS DE ÁREA (ha)

Região Até 100 ha Mais de 100 ha


Total % Total % Total
Centro Ocidental 21.803 90,7 2.238 9,3 24.041
Noroeste 34.638 89,2 4.197 10,8 38.835
Norte Central 47.778 91,6 4.372 8,4 52.150
Norte Pioneiro 28.062 91,4 2.627 8,6 30.689
Centro Oriental 18.964 87,0 2.838 13,0 21.802
Centro-Sul 35.098 90,8 3.562 9,2 38.660
Oeste 53.765 94,7 2.988 5,3 56.753
Sudeste 33.534 95,3 1.641 4,7 35.175
Sudoeste 46.041 97,4 1.236 2,6 47.277
Metropolitana de Curitiba 23.242 94,9 1.251 5,1 24.493
Totais 342.925 92,7 26.950 7,3 369.875
Fonte: Censo Agropecuário – IBGE

Mesmo considerando todas as pessoas com estabelecimentos de até 100 hec-


tares como agricultores(as) familiares, podem-se perceber diferenças significativas
entre os produtores com áreas de até dez hectares e de dez a 100 hectares. Os
primeiros, geralmente, tendem a definir sua produção basicamente pela necessidade
de subsistência, ao passo que a produção dos responsáveis por estabelecimentos de
dez a 100 hectares costuma ser definida pelo(a) próprio(a) agricultor(a), levando em
consideração fatores como custo e preço da produção, visto que se trata basicamen-
te de atividades produtivas mercantis.
A participação do Paraná na produção agropecuária do Brasil é bastante sig-
nificativa, sendo a agricultura familiar um segmento importante dessa produção
no estado. O estado sulino, além de no ano agrícola 2004–2005 ter sido o maior
produtor brasileiro de milho e cevada e o segundo maior de soja, feijão, batata e
cana-de-açúcar, foi responsável por quase 60% do trigo e 78% da aveia produzidos
no país (SEAB; DERAL 2004–2005). Em relação às exportações, o Paraná ocupa a
quarta posição, atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. O
produto mais vendido para fora do país é a soja, responsável por quase um terço
de toda a exportação do estado, em segundo lugar, com 17%, vem o material de
transporte, seguido da madeira e da carne, com 12% e 10% respectivamente, e o
milho, com 5% (IPARDES, 2004).
A produção agropecuária no Paraná tem uma estreita ligação com a agroin-
dústria, principalmente em relação aos(às) agricultores(as) com áreas acima de dez
hectares. Esse segmento chega a organizar e coordenar cadeias produtivas inteiras

IBASE : PRONAF . PARANÁ 14


– até mesmo por questões técnicas e/ou de custos –, desde o financiamento da
produção primária até a comercialização do produto final. Em 2003, a agroindústria
respondeu por quase 40% de toda a produção industrial do estado e, em 2004, foi
responsável por 51,8% do total exportado. Essa realidade faz com que, em alguns
casos, principalmente nas regiões Sudoeste, Oeste e Nordeste, a localização e a dis-
tribuição espacial da produção sejam influenciadas pelas demandas agroindustriais,
independentemente da condição do produtor (pequeno, médio ou grande).
Outro fator que tem grande influência na agropecuária do Paraná é o cooperati-
vismo, que representa cerca de 53% da economia agrícola do estado. As cooperativas
tinham, no ano-safra 2001–2002, quase 246 mil associados(as) e, em 2004–2005,
pouco mais de 368 mil,8 sendo 70% desses(as) associados(as) responsáveis por es-
tabelecimentos de até 50 hectares. Em 2003, as cooperativas agropecuárias que
chegam a organizar a produção, o armazenamento,9 a industrialização e a comer-
cialização do produto final, principalmente nas regiões Norte, Oeste, Centro e Su-
doeste, tiveram um faturamento de R$ 13,6 bilhões, o que correspondeu a 15% do
PIB do estado. A região Oeste, uma das mais representativas do Paraná em relação
à atuação das cooperativas, foi uma das três regiões em que realizamos estudo de
caso, que se encontra nesta publicação no item 4.2.2 da Parte I.
Assim como a agroindústria e as cooperativas agropecuárias, as cooperativas
de crédito são bastante atuantes no Paraná. Elas foram criadas com o objetivo prin-
cipal de complementar e suprir deficiências do crédito oficial. O Sistema Cresol, um
sistema de crédito específico para agricultura familiar e dirigido por agricultores(as)
familiares, foi criado em 1995, com cinco cooperativas funcionando nos seis pri-
meiros meses. Em dez anos, o número de cooperativas chegou a 100, com mais de
60 mil associados(as). Em relação ao crédito, o sistema é responsável pelo repasse
de R$ 110 milhões de crédito de custeio e cerca de R$ 45 milhões de investimento.
Hoje, estima-se que 20% dos recursos destinados ao Pronaf no Paraná sejam repas-
sados para os(as) agricultores(as) familiares por instituições desse sistema.10 Na re-
gião Sudoeste, na qual o Cresol tem o maior número de unidades de atendimentos
em comparação com outras regiões do estado, a cooperativa é uma das mais im-
portantes instituições de repasse do crédito para os(as) agricultores(as) familiares.
Essa foi a terceira região em que realizamos estudo de caso, que está apresentado
no item 4.2.3 da Parte I.

O PRONAF NO PARANÁ

Em relação ao Pronaf, o número de contratos e o volume de recursos financeiros


aumentaram significativamente desde a safra 1998–1999. Naquele ano agrícola,
foram realizados 3.471 contratos que absorveram R$ 13.382.806, ao passo que,
em 2004–2005, foram feitos 154.622 contratos e utilizados R$ 726.165.013, quase
55 vezes mais do que na safra de seis anos antes. Em relação aos outros estados, o
Paraná esteve em 13º lugar em números de contratos e em 10º lugar em montante
de recursos em 1998–1999, passando para segundo lugar em recursos e terceiro
8
Segundo informações da
Organização das Cooperativas lugar em número de contratos na safra seguinte. A partir de 2000–2001, o estado
do Estado do Paraná (Ocepar). permaneceu em segundo lugar, sempre atrás do Rio Grande do Sul, tanto em núme-
9
As cooperativas têm uma ro de contratos como em volume de recursos, com exceção de 2003–2004, quando
participação de 54% no total Minas Gerais esteve na frente do Paraná – mas ainda atrás do Rio Grande do Sul.
da capacidade estática de
armazenagem do estado. Considerando a média dos valores por contrato, a do Paraná é a 14ª do país para o
10
Segundo informações
período. Nas Tabelas 5 e 6, a seguir, é possível observar a evolução do programa no
do Cresol. estado, ao longo das últimas safras.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 15


TABELA 5: NÚMERO TOTAL DE CONTRATOS DO PRONAF* NO PARANÁ POR GRUPOS DE CRÉDITO
ANOS-SAFRA 1998–1999 A 2005–2006

Ano-safra A B C D E Miniprodutores Total


1998–1999 247 3.224 3.471
1999–2000 9.807 56.664 31.002 97.473
2000–2001 2.033 70.019 27.421 99.473
2001–2002 1.638 69.133 28.086 98.857
2003–2004 3.288 66.626 30.317 100.231
2004–2005 1.576 2 80.806 35.648 11.200 129.232
2005–2006 1.279 1.357 81.907 41.512 14.238 14.329 154.622
Total 19.621 1.359 425.402 197.210 25.438 14.329 683.359
Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário
*Não inclui exigibilidade bancária

TABELA 6: VALOR TOTAL DE RECURSOS DO PRONAF* NO PARANÁ POR GRUPOS DE CRÉDITO


ANOS-SAFRA 1998–1999 A 2005–2006

Ano- Minipro-
A B C D E Total
safra dutores
98/99 350.759 13.032.047 13.382.806
99/00 43.275.252 68.462.698 104.804.354 216.542.303
00/01 19.095.090 160.764.904 98.988.159 278.848.153
01/02 17.561.823 140.716.316 123.516.322 281.794.461
03/04 16.045.596 139.871.497 145.073.458 300.990.551
04/05 10.217.331 2.000 215.500.512 201.011.951 119.929.140 546.660.933
05/06 9.657.140 1.236.000 224.298.546 255.116.211 185.002.796 50.854.319 726.165.013
Total 115.852.231 1.238.000 949.965.232 941.542.502 304.931.936 50.854.319 2.364.384.221
Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário
*Não inclui exigibilidade bancária

Os principais grupos de crédito no estado são C e D, que foram responsáveis


por 80% do total de contratos e 66% dos recursos na safra 2004–2005. Nessa
mesma safra, o tipo E, presente no Paraná desde 2003–2004, já absorve 25,5%
dos recursos, mas representa apenas 9% dos contratos, sendo o valor médio pago
aos(às) agricultores(as) de R$ 12.993,59. Os tipos C e D têm uma média bastante
inferior (R$ 2.738,45 e R$ 6.145,60, respectivamente), porém mais próxima do
valor médio do total de contratos do Pronaf no estado, que foi de R$ 4.696,39 em
2004–2005.
Apesar de o tipo de crédito B ter surgido no Paraná apenas na safra 2003–2004,
em 2004–2005 foram registrados 1.357 empréstimos que absorveram R$ 1.236.000.
Esse tipo de crédito é encontrado em pouquíssimas regiões. Só as microrregiões Gua-
rapuava e Pitanga e o Vale do Ribeira respondem por quase 60% do total de contra-
tos do tipo B. O Vale do Ribeira foi uma das três regiões em que se realizou o estudo
de caso. Nesse estudo (item 4.2.1 da Parte I), apresentamos as principais culturas e
cadeias produtivas da região, além de avaliar o impacto do Pronaf sobre a agricultura
familiar nos municípios paranaenses que integram o Vale do Ribeira.
Ainda em relação à evolução do crédito no Paraná, podemos observar a predo-
minância do crédito de custeio tanto em relação ao número de contratos como o va-
lor de financiamento. Essa modalidade absorveu, em 2004–2005, R$ 603.299.385

IBASE : PRONAF . PARANÁ 16


com 146.283 contratos, ao passo que o de investimento absorveu R$ 194.009.784
com 22.963 contratos, como se observa nas Tabelas 7 e 8 a seguir.

TABELA 7: NÚMERO TOTAL DE CONTRATOS DO PRONAF* NO PARANÁ, POR MODALIDADE


ANOS-SAFRA 1998–1999 A 2004–2005

Ano safra Custeio Investimento Total


1998–1999 10.572 503 11.075
1999–2000 99.318 13.483 112.801
2000–2001 105.896 10.282 116.178
2001–2002 98.332 10.556 108.888
2002–2003 89.548 12.068 101.616
2003–2004 115.204 14.030 129.234
2004–2005 146.283 22.963 169.246
Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário
*Não inclui exigibilidade bancária

Mesmo com variações ao longo dos sete anos, podemos perceber que as duas
modalidades de crédito tiveram um grande salto de 1998–1999 para 1999–2000,
tanto em número de contratos como em montante de recursos. Nos demais anos,
essa variação foi mais equilibrada e sobre ela se basearam os recursos e os contratos,
uma vez que são mais consistentes ao longo do tempo. A quantidade de contratos
de custeio apresentou um aumento de 68% de 1999–2000 para 2004–2005, ano
em que chegou a registrar mais de 146 mil empréstimos, a maior quantidade do pe-
ríodo. Por sua vez, os contratos de investimento aumentaram 170% no mesmo pe-
ríodo, registrando quase 23 mil contratos. Em relação aos recursos, de 2000–2001
até 2002–2003, os valores das duas modalidades de crédito variaram pouco, girando
em torno de R$ 200 milhões para custeio e R$ 100 milhões para investimento. Em
2003–2004, o crédito de custeio aumentou em 100%, ao passo que o de investi-
mento apresentou um aumento mais tímido, de 40%, para, no ano seguinte, apre-
sentarem aumentos de 50% e 33%, respectivamente.

TABELA 8: VALOR TOTAL DO CRÉDITO DO PRONAF* (EM R$) NO PARANÁ, POR MODALIDADE
ANOS-SAFRA 1998–1999 A 2004–2005

Ano safra Custeio Investimento Total


1998–1999 23.038.305 3.851.188 26.889.493
1999–2000 186.439.500 59.407.740 245.847.240
2000–2001 206.672.221 107.119.935 313.792.156
2001–2002 196.869.683 105.675.273 302.544.956
2002–2003 201.434.546 103.490.376 304.924.922
2003–2004 401.302.932 145.369.257 546.672.189
2004–2005 603.299.385 194.009.784 797.309.169
Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário
*Não inclui exigibilidade bancária

Em relação à média de valores dos créditos, de 1998–1999 a 2002–2003, os


contratos de custeio giraram em torno de R$ 2 mil. A partir de 2003–2004, o valor
médio do empréstimo de custeio passou a mais de R$ 3 mil e, no ano seguinte, atin-
giu mais de R$ 4 mil. Os de investimento – com exceção de 1999–2000 – ficaram
entre R$ 7 mil e R$ 10 mil durante todo o período.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 17


3 Pronaf e agricultores familiares
Este capítulo discorre sobre a análise dos dados obtidos a partir dos questionários
aplicados aos(às) beneficiários(as) do Pronaf. Os dados se revelaram bastante pro-
dutivos e permitiram uma análise profunda sobre a forma como produzem e vivem
os(as) agricultores(as) familiares. Em particular, os dados apurados permitiram impor-
tantes constatações e inferências sobre os impactos do Pronaf em relação aos(às)
beneficiários(as) e suas famílias, bem como sobre os estabelecimentos agropecuários.
A partir da forma como foi construída a amostra, as análises a seguir possibilitam
a expansão dos dados para todos(as) os(as) beneficiários(as) do Pronaf. Algumas das
análises destacam as diferenças entre os grupos de crédito (C, D e E), e outras se
referem aos(às) beneficiários(as) em geral.
O capítulo está dividido em duas partes. A primeira trata da caracterização das
famílias e das perspectivas de futuro apresentadas pelos(as) beneficiários(as). A
segunda trata da caracterização dos estabelecimentos, da produção, da renda e
da ocupação. Essa divisão segue, de certo modo, a lógica do próprio questioná-
rio, que foi assim dividido de forma a facilitar o entendimento por parte dos(as)
entrevistados(as) e dos(as) entrevistadores(as). Porém, será possível constatar que
a análise integra os diversos aspectos. Ao mesmo tempo, existe uma comunicação
com dados gerados, principalmente, nos estudos de caso e com outras pesquisas
realizadas sobre o Pronaf.

3.1 AGRICULTORES(AS) FAMILIARES E SUAS CONDIÇÕES DE VIDA

Compreender o papel do Pronaf é entender de que forma o programa impacta na


agricultura familiar. A agricultura familiar, além de ser caracterizada por tipo de ativi-
dade econômica, tem sua especificidade marcada pela presença importante de uma
estrutura social que, em geral, fica invisível à avaliação econômica, que é a família.
A partir dos dados recolhidos no questionário, serão abordadas a composição da
família dos(as) beneficiários(as) do Pronaf, suas condições de vida e como avaliam
tais condições e as perspectivas para o futuro.
Os dados da pesquisa mostram que é necessário analisar os estabelecimentos
da agricultura familiar (e sua sustentabilidade, como espaço de produção e repro-
dução da família), não como unidades isoladas que se relacionam com o mundo
(não rural, principalmente) somente por meio do mercado. Como os dados a seguir
demonstram, o estabelecimento familiar também é o espaço econômico e social que
permite dar sustentação a possibilidades fora do trabalho rural.
A decisão de permanência ou saída do meio rural, questão de grande relevância,
não se deve apenas à produtividade da atividade agrícola. As decisões sobre como
proceder de forma a sustentar a continuidade física (econômica) e social da famí-
lia (que chamamos aqui de estratégias de reprodução da família) levam em conta,
como sugerem vários dados da pesquisa, avaliações sobre oportunidades e poten-
cialidades diversas, até mesmo a composição etária e de gênero da família.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 18


a) Principais características de beneficiários(as) e suas famílias
Como mostra o Gráfico 1, a maioria dos estabelecimentos dos(as) beneficiários(as)
conta com a presença de uma família nuclear, composta de um casal com filhos
ou de uma pessoa com filhos. Esses estabelecimentos representam 60% do total.
Apenas 17% são casais sem filhos, e, em 16% dos estabelecimentos, são pessoas
sem cônjuge ou filhos.

GRÁFICO 1: DISTRIBUIÇÃO EM RELAÇÃO AO TIPO DE FAMÍLIA11

17%

1%

16%
Casal com filhos

Casal sem filhos

Pessoa com filhos


6% 60%

Unipessoal

Outros

A média geral de filhos(as) é de 1,4 por família, e a média do número de fami-


liares é de 3,6 pessoas, sendo que 50% delas possuem três ou quatro membros. A
estrutura familiar mais comum é de um casal com um par de filhos.
Em alguns estabelecimentos, também estão presentes outros familiares, como pai
e mãe, sogro e sogra, ou agregados(as). Mas esse percentual é bastante baixo, repre-
sentando menos de 10% de toda a população dos estabelecimentos estudados.
Sobre a idade dos(as) beneficiários(as), existe uma concentração na faixa de
35 a 49 anos de 41% do total de beneficiários(as), havendo variação insignificante
entre os grupos de crédito. São 26% os(as) beneficiários(as) que têm entre 50 e 64
anos. Os(as) beneficiários(as) mais jovens, que têm até 24 anos, representam 6,2%,
e aqueles(as) que têm entre 25 e 34 anos são 18,6%.
Levando-se em conta todos os componentes das famílias, constata-se uma va-
riação em relação à idade entre os três grupos. No grupo C, o percentual etário mais
alto é o de pessoas com até 14 anos (24,8%) e, em segundo lugar, a faixa de 35 a
49 anos, com 22,8%. Já nos grupos D e E, a concentração é nessa segunda faixa:
26,3% e 24,6%, respectivamente.
A escolaridade dos(as) beneficiários(as) varia de acordo com os diferentes gru-
pos de crédito. Os(as) beneficiários(as) do grupo C são menos escolarizados(as) que
os(as) do grupo D. O grupo E é o mais escolarizado. Entre os(as) beneficiários(as) do
grupo C, as pessoas analfabetas somam 5,9%, e aquelas que apenas sabem ler e
escrever (mas não freqüentaram a escola formal) são 13%. No grupo D, as pessoas
analfabetas são apenas 2,7%, e as que apenas sabem ler, 7,7%. No grupo E, esses
números são ainda menores. As pessoas analfabetas são 2,2%, e as que apenas
sabem ler e escrever são 4,8%. Desse modo, os(as) beneficiários(as) do Pronaf que
11
Todos os gráficos presentes nunca tiveram acesso ao ensino formal representam, respectivamente, nos grupos
nesta publicação têm a seguinte
C, D e E, 18,9%, 10,4% e 7%. Aqueles(as) que têm o ensino fundamental completo
fonte: Ibase, pesquisa
Pronaf 2006. representam 10,5% no grupo C, 11,8% no grupo D e 16,9% no grupo E. Em relação

IBASE : PRONAF . PARANÁ 19


ao ensino médio completo, vemos o mesmo tipo de variação: apenas 10,7% no gru-
po C, 11,5% no grupo D e 13,2% no grupo E. Levando-se em conta que o enqua-
dramento em cada grupo de crédito varia, basicamente, segundo a renda familiar,
pode-se concluir, a partir desses dados, que existe uma relação entre a escolaridade
do(a) beneficiário(a) e a renda da família.
Em relação à declaração de raça/cor – e considerando toda a população dos
estabelecimentos –, contata-se que no grupo C corresponde à distribuição da po-
pulação rural da região Sul brasileira. Aqueles(as) que se declaram brancos(as) re-
presentam 84%; negros(as) são 3,1%; pardos(as), 12%; indígenas, 0,2%; e orien-
tais, 0,7%.12 Existe, porém, uma diferença nessa distribuição entre os três grupos
de crédito. Nos grupos D e E, a proporção de brancos(as) é maior, com 92%, ao
passo que a proporção de pardos(as) é menor: 5,4%. Pode-se constatar, também
com esses dados, que existe uma associação (como em toda a população do país)
entre renda e raça/cor, havendo mais brancos(as) e menos negros(as) nas faixas de
maior renda.

b) Filhos(as): trabalho, gênero e estudo


Quando se fala de impactos, um aspecto importante é focar as perspectivas
futuras das famílias: o que será desse grupo social – os(as) agricultores(as) familiares
– daqui a uma ou duas gerações. Dessa forma, os(as) filhos(as) são um grupo inte-
ressante, uma vez que, a partir deles, é possível dar conta das estratégias de repro-
dução das famílias e sua avaliação sobre o futuro da atividade que hoje desenvolve.
Além disso, os(as) filhos(as) dos(as) beneficiários(as) representam 39,1% do total de
pessoas que compõem as famílias.
Em se tratando de estratégias de trabalho e renda, existe tradicionalmente
uma diferenciação entre as possibilidades de inserção de homens e mulheres. A
pesquisa mostrou que isso também é fato em relação aos(às) filhos(as) dos(as)
agricultores(as) familiares.
Existe uma variação significativa entre o trabalho de homens e mulheres filhos
dos(as) beneficiários(as) nos estabelecimentos. Verifica-se que 18,4% das filhas de-
dicam mais da metade de seu tempo de trabalho em atividades no estabelecimento,
e os filhos dedicam 30%. Entre filhas, 17,3% dedicam todo o tempo de trabalho a
atividades no estabelecimento. Entre filhos, esse percentual é de 27,1%.
Isso aponta para duas questões. A primeira, com a qual tivemos contato nos
estudos de caso realizados em diferentes regiões do Paraná, indica que as mulheres
jovens têm maior possibilidade de ter acesso ao trabalho nos núcleos urbanos na
área de serviços e no trabalho doméstico, o que pode ser um fator de expulsão de
mulheres jovens do estabelecimento de pais, mais do que para os filhos homens.
Também se somam a isso as sucessivas divisões da propriedade por herança, produ-
zindo estabelecimentos de tamanho cada vez menor, além de um aspecto cultural
que supomos estar presente no grupo estudado: em virtude de casamento, o deslo-
camento das mulheres para os estabelecimentos de seus maridos.
No bojo das análises anteriores, alguns dos dados sobre a contribuição para renda
familiar também sugerem uma diferenciação em termos de gênero. A contribuição
12
Entre a população rural da dos filhos homens para a renda familiar é significativamente maior que das filhas.
região Sul (estados do Rio
Grande do Sul, Santa Catarina Enquanto 60% dos filhos contribuem (sempre ou esporadicamente) para a renda da
e Paraná) do país a distribuição família, apenas 43,4% das filhas contribuem. Isso se deve em parte por uma diferença
é a seguinte: branca – 84,26%;
preta – 3,05%; amarela nas faixas etárias de concentração de filhos e filhas. Enquanto as mulheres com até 18
– 0,25%; parda – 11,44%;
anos representam 77, 2% do total das filhas (sendo que 49,1% são menores de 13
indígena – 0,62%; e 0,37% não
declararam (IBGE, 2000). anos), os filhos homens, nessa mesma faixa etária, representam 66,7%.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 20


Dos filhos na idade de 19 a 24 anos, 75,8% vivem no estabelecimento de pais.
Dessa mesma faixa etária, 42,6% trabalham exclusivamente no estabelecimento, e
15,2% não dedicam nenhuma parte das suas horas de trabalho ao estabelecimento.
Do total de filhos(as) com idade superior a 24 anos, 61,3% residem no estabeleci-
mento, e 44,6% trabalham exclusivamente no estabelecimento.
A partir desses dados, pode-se concluir que uma parte significativa dos filhos
com mais de 18 anos, que residem no estabelecimento de pais, se dedica a ou-
tros tipos de trabalho fora do estabelecimento. Isso significa, por um lado, que o
estabelecimento da agricultura familiar não permite a ocupação e a geração de
renda para toda a família. Mas, ao mesmo tempo, também indica que os estabele-
cimentos fornecem algum tipo de sustentação para os filhos. É possível interpretar
tais dados sob dois ângulos diferentes. Sob o ponto de vista da possibilidade de o
estabelecimento prover a todos os membros da família com renda e trabalho, os
dados mostram esse limite. Mas, sob outro ponto de vista, pode-se constatar que o
estabelecimento provê base e apoio para membros da família que trabalham fora
dele, no mínimo oferecendo moradia para filhos(as) que trabalham fora.
Em relação ao estudo, o percentual de filhas que estudam é maior do que o dos
filhos que estudam, significando, respectivamente, 65% e 54%. Mesmo que haja
um percentual maior de meninas em idade escolar, é possível que o tipo de trabalho
no estabelecimento (como se pode constatar nos dados sobre a produção no esta-
belecimento, majoritariamente agrícola), tradicionalmente masculino, demande que
os meninos deixem de estudar mais cedo que as meninas.
Ainda no sentido de compreender a forma pela qual as estruturas familiares
estão integradas à forma de produção nos estabelecimentos, podemos olhar para
o trabalho das crianças. Do total de crianças até 14 anos, 26% dedicam tempo ao
trabalho no estabelecimento. A partir desse dado e considerando que uma boa par-
te do total de crianças não tem idade suficiente para ajudar no trabalho, podemos
concluir que é uma fonte significativa de mão-de-obra.
A partir disso, uma questão importante surge. O trabalho das crianças no es-
tabelecimento significa que elas deixam de estudar para trabalhar? Primeiramente,
deve-se considerar que o grupo de crianças em idade escolar obrigatória (de 7 a 14
anos) que não estudam é mínimo e não chega a 3%. Ou seja, as crianças, filhos e
filhas de agricultores(as) familiares, não deixam de estudar para trabalhar.
Porém, devemos considerar, em especial nesse caso, duas questões. Primeira-
mente, é de amplo conhecimento que o trabalho infantil é ilegal e que as crianças de
7 a 14 anos devem freqüentar a escola, e isso poderia induzir o(a) respondente do
questionário a omitir informações. A outra questão diz respeito ao que se considera
como trabalho, especialmente em se tratando de estabelecimentos rurais e familia-
res, em que o espaço doméstico e o espaço da produção estão muito integrados.

c) Gênero e acesso ao crédito


Ainda sobre a questão de gênero, podemos observar nos Gráficos 2 e 3 que, do
total de pessoas que compõem as famílias, 46% são mulheres. As mulheres benefi-
ciárias do crédito Pronaf, porém, são apenas 14% entre os(as) beneficiários(as).

IBASE : PRONAF . PARANÁ 21


GRÁFICO 2: DISTRIBUIÇÃO POR GÊNERO – BENEFICIÁRIOS(AS)

14%

Masculino

Feminino
86%

GRÁFICO 3: DISTRIBUIÇÃO POR GÊNERO – POPULAÇÃO TOTAL POR ESTABELECIMENTO

54% 46%

Masculino

Feminino

Em relação ao número de safras em que os(as) agricultores(as) tiveram acesso


ao Pronaf, pode-se constatar um aumento no acesso por parte das mulheres. Entre
os(as) beneficiários(as) que acessaram o Pronaf em sete safras, apenas 3% são mu-
lheres, enquanto entre os(as) que acessaram de três a seis vezes a participação das
mulheres fica em torno de 10%. Entre o grupo que acessou o Pronaf duas vezes, as
mulheres representam 16%. Já entre as mulheres que acessaram o Pronaf apenas
uma vez a proporção é de 23%.
Considerando-se outro corte de análise – a percentagem no número de aces-
sos –, mas, dessa vez, tendo como total o número de mulheres, podemos constatar
que 63,9% das mulheres entrevistadas acessaram o Pronaf em até três anos-safra,
apenas 21,6% das mulheres acessaram o crédito Pronaf de cinco a sete anos-safra,
sendo o percentual de homens 38,7%.
Destaque-se, porém, que, apesar da existência de uma linha especial de crédito
dirigida especialmente às mulheres, o acesso por meio dela é praticamente inexis-
tente. Isso significa que o acesso das mulheres vem crescendo independentemente
e a despeito da existência de uma linha específica para mulheres agricultoras.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 22


GRÁFICO 4: DISTRIBUIÇÃO DE GÊNERO POR NÚMERO DE SAFRAS EM QUE ACESSOU O CRÉDITO
(% POR GÊNERO SOBRE TOTAL DE BENEFÍCIOS, POR NÚMERO DE SAFRAS)

97%
89% 92%
88% 89%
84%
77%

Masculino
23%
16%
12% 11%
11% 8%
3%
Feminino

1 2 3 4 5 6 7

GRÁFICO 5: BENEFICIÁRIOS DO SEXO FEMININO POR NÚMERO DE SAFRAS DE ACESSO AO


CRÉDITO (% SOBRE O TOTAL DE BENEFICIÁRIOS DO SEXO FEMININO)

27%

19% 18%
14%
10%
8%
4%

1 2 3 4 5 6 7

GRÁFICO 6: BENEFICIÁRIOS DO SEXO MASCULINO POR NÚMERO DE SAFRAS DE ACESSO AO


CRÉDITO (% SOBRE O TOTAL DE BENEFICIÁRIOS DO SEXO MASCULINO)

19% 20%

14% 16%
12%
11%
9%

1 2 3 4 5 6 7

d) Moradia e condições de vida


Em relação ao material utilizado na construção de moradia, percebemos uma
variação significativa entre os(as) beneficiários(as) dos diferentes tipos de crédito.
As moradias de alvenaria estão presentes em 31% dos estabelecimentos dos(as)
beneficiários(as) do grupo C, 40% dos(as) do grupo D e 53% dos(as) do grupo E.
É bastante provável que essa diferença se deva ao fato de que o acesso às dife-
rentes linhas de crédito tenham como um dos critérios a renda da família. Assim,
o tipo de moradia está associado à renda dos(as) agricultores(as). Como se pode
constatar, os(as) agricultores(as) do grupo C possuem mais moradias de madeira,

IBASE : PRONAF . PARANÁ 23


enquanto o número de moradias de alvenaria é maior no grupo E, que possui
renda familiar maior.

GRÁFICOS 7, 8, E 9: PRINCIPAL MATERIAL UTILIZADO NA CONSTRUÇÃO

MORADIA TIPO C MORADIA TIPO D MORADIA TIPO E

3% 3% 4%

31% 40% 53%

66% 57% 43%

Madeira Alvenaria Outros

O número de cômodos das moradias também segue a mesma lógica do tipo


de material utilizado na construção das casas, ou seja, as famílias com maior renda
possuem casa com mais cômodos. Assim, 20,4% das moradias do grupo C têm até
quatro cômodos, no grupo D são apenas 8% e no E são 5,6%. Em 3,6% das mo-
radias dos(as) beneficiários(as) do grupo C, há telefone fixo, no grupo D são 6,6%,
e no grupo E, 8,1%.
A proporção dos(as) beneficiários(as) em cuja moradia houve algum tipo de me-
lhoria nos últimos cinco anos varia segundo a mesma tendência, apesar de apresen-
tar menor oscilação. Houve algum tipo de melhoria em 38,7% das moradias dos(as)
beneficiários(as) da linha C, em 40,6% do grupo D e em 43,8% do grupo E. Isso pode
significar que o possível incremento da renda dos(as) agricultores(as) é direcionado
para fins diferentes dependendo do nível de renda.
Os tipos de melhorias realizados também indicam uma diferença nas condições
de vida dos(as) agricultores(as) aptos(as) a acessar as diferentes linhas do Pronaf. En-
quanto a principal melhoria entre os(as) agricultores(as) do grupo C foi a construção
de novos cômodos na moradia (45,4%), no grupo E foi a pintura ou colocação de
azulejos (46,1%). Ou seja, entre os(as) agricultores(as) com renda menor, apesar de
realizarem melhorias em menor número proporcionalmente, as melhorias se desti-
nam a mudanças mais substanciais na casa, como a construção de novos cômodos.
Pode-se supor, a partir dos dados, por exemplo, de material usado na construção da
moradia, que os(as) agricultores(as) com renda maior possuem moradias que estão
mais próximas de satisfazer às necessidades da família.

e) Avaliação e perspectivas futuras


As avaliações quanto ao futuro da família também variam segundo o grupo de
crédito. Para 80,2% do C, o futuro “será melhor”. A mesma resposta foi dada por
77,5% do D e por 76,5% do E.
Apesar da pouca variação entre as expectativas quanto ao futuro da famí-
lia, podemos perceber que a tendência se inverte quando os(as) beneficiários(as)
respondem sobre a pretensão dos(as) filhos(as) em continuar na atividade rural.
Assim, no grupo C, essa resposta afirmativa obteve 41,9%, no grupo D, 45,2%,
e no E, 47,1%.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 24


As expectativas em relação ao futuro podem ser explicadas, em parte, pelo fato
de que o impacto do financiamento nas famílias de mais baixa renda seja maior
do que nas famílias mais capitalizadas. Pode-se constatar isso também a partir dos
dados sobre melhorias nas moradias, em que os(as) agricultores(as) de menor renda
realizam melhorias mais significativas para a mudança nas condições de vida, como
a construção de novos cômodos.
Justamente por terem uma condição que é mais estável e oferece mais opor-
tunidades futuras, as famílias cujos(as) beneficiários(as) pertencem ao grupo E têm
maior expectativa de permanência dos(as) filhos(as) na atividade rural.
Em relação aos(às) agricultores(as) em geral, existe a intenção de incrementar a
produção, ou porque acreditam que é possível melhorar, ou porque não têm outra
opção a não ser investir naquilo que já possuem. Assim, 83% dos(as) beneficiários(as)
declararam que deverão “investir no estabelecimento”13 no ano seguinte. Desses(as),
94,4% declararam que utilizarão o Pronaf para tal fim.
Esse dado também mostra como a utilização do crédito já está vinculada aos
planos futuros para a continuidade da atividade nos estabelecimentos e é compo-
nente das estratégias de reprodução das famílias. Ou seja, a maioria absoluta dos(as)
beneficiários(as) já conta com o fato de que poderão acessar o crédito do Pronaf.
Podemos concluir que as avaliações e, por isso, as estratégias de reprodução das fa-
mílias já estão permeadas pela possibilidade de acesso ao crédito e se tornaram um
dos fatores de possibilidade e potencialidade para as famílias. A assiduidade no uso
do crédito também sugere isso.
Sobre a avaliação de suas condições de vida, pode-se destacar que os(as)
beneficiários(as) que têm filhos(as) possuem uma visão mais crítica em relação à situa-
ção de sua família. Avaliam mais negativamente todos os quesitos que dizem respeito
à situação social que tem conseqüências mais diretas na vida da família, como alimen-
tação, acesso a serviços públicos, consumo e moradia. Os(as) beneficiários(as) que não
têm filhos(as), por exemplo, avaliam o acesso a serviços públicos (saúde, educação,
etc.) como “muito bom” ou “bom” em 66% dos casos. Entre os(as) beneficiários(as)
que têm filho(a), essa avaliação cai para 60,2%. A mesma tendência se verifica em
relação ao consumo. A avaliação positiva entre os(as) beneficiários(as) sem filhos(as) é
de 59,1%, enquanto entre os(as) beneficiários(as) com filhos(as) é de 55,8%.
Questões mais gerais, porém, como integração na comunidade e meio ambiente,
ao contrário, têm avaliação mais positiva. Pode-se supor que a presença de filhos(as)
gere laços mais visíveis e positivos com o entorno social. Ao mesmo tempo, o conhe-
cimento trazido pelas crianças e jovens da escola provavelmente também ajuda a au-
mentar, por exemplo, a preocupação com o meio ambiente nos estabelecimentos.
Esses dados são interessantes principalmente porque mostram que as visões
sobre as possibilidades e necessidades futuras são muito relevantes quando se olha
para uma forma de produzir cuja lógica, além das avaliações econômicas, também
está submetida fortemente à lógica familiar. Portanto, é possível afirmar que dife-
rentes tipos de arranjos familiares influenciam a forma de produzir. O planejamento
para pedir o crédito é parte do planejamento da família de forma geral. Do planeja-
mento da família depende a avaliação sobre o papel de cada membro da família e
sobre planos de mais longo prazo.

13
Nesse caso, “investir” não tem
f) Avaliação do Pronaf pelos(as) beneficiários(as)
relação direta com o crédito de
investimento do Pronaf. Como se Em relação à avaliação que os(as) beneficiários(as) fazem do Pronaf, nota-se
pode constatar, no questionário
a pergunta foi formulada de
uma diferença em relação às dificuldades encontradas por agricultores(as) de cada
forma genérica. grupo de crédito, que representam perfis diferentes de produção e de relação com

IBASE : PRONAF . PARANÁ 25


o crédito. O peso do crédito (não só como aporte de recursos, mas também em
termos de dívida) varia na dependência de fatores que influenciam o gerenciamento
de recursos por parte da família, como acesso a serviços públicos (educação, saúde,
etc.), assim como da inserção da atividade econômica da produção. Como se verá a
seguir, a dívida é uma questão mais significativa para agricultores(as) mais pobres(as),
mesmo que o montante de recursos acessados e os juros sejam menores.
Perguntados(as) sobre em que aspectos o Pronaf deveria mudar, houve variação
nas respostas, segundo o grupo de crédito a que o(a) agricultor(a) pertence. Os(as)
agricultores(as) do grupo E apontaram necessidade de mudança em todas as opções
que se referiam à operacionalização do crédito, bem mais que os(as) agricultores(as)
dos outros dois grupos, tendo os(as) agricultores(as) do grupo C respondido, em
maior número, que “o Pronaf não deve mudar em nada” (19,5%).
A diminuição dos juros se apresentou como uma reivindicação para 53,7%
dos(as) agricultores(as) do grupo E, ao passo que, para agricultores(as) do grupo D,
ela foi menor (37, 9%) e ainda para menos agricultores(as) do grupo C (30,9%).
A opção com maior número de respostas é a necessidade de “menos burocra-
cia”, apontada por 62,3% dos(as) agricultores(as). Relacionando-se tal dado com
conclusões dos estudos de caso, pode-se relacionar o percentual alto dessa res-
posta às dificuldades com os agentes financeiros pelos quais os(as) agricultores(as)
acessam o crédito. Essas dificuldades foram relatadas principalmente em relação ao
Banco do Brasil. As dificuldades com a burocracia também podem estar relacionadas
com a exigência de documentos pessoais e da propriedade exigidos para o estabe-
lecimento do contrato de crédito. Em algumas regiões do Paraná, uma das dificul-
dades relatadas pelos(as) agricultores(as) é a falta de documentos de propriedade
da terra. O alto custo para providenciar os documentos exigidos também foi citado
pelos(as) agricultores(as).
Duas foram as respostas que não foram apresentadas como opções (ou seja,
que foram apontadas na opção “outros”) com mais de 20% de indicação pelos(as)
entrevistados(as). A necessidade de prorrogação de prazo para pagamento e renego-
ciação das dívidas foi apontada como necessidade por 27,5% dos(as) agricultores(as)
do grupo C, 19,7% dos(as) do grupo D e por 23,9% dos(as) do grupo E. A libera-
ção de recursos de acordo com a temporalidade da produção foi apontada como
necessidade por um percentual ainda maior de agricultores(as): 39,2% do total de
beneficiários(as).
A reivindicação por liberação de recursos de acordo com o regime tempo-
ral da produção agrícola – que, nesse caso, foi não só muito apontada pelos(as)
agricultores(as) pesquisados(as), mas foi apresentada de forma espontânea – é um
problema que surge recorrentemente nos estudos de caso. A liberação dos recursos
muitas vezes não se dá de forma adequada ao tempo de plantio, colheita, etc. Nos
estudos de caso, também foram recolhidos relatos que atribuem parte dessa difi-
culdade ao fato de o banco não dar a devida atenção à liberação dos recursos do
Pronaf, privilegiando a demanda de clientes mais ricos(as).
Nos dados referentes à parte do questionário em que os(as) beneficiários(as)
eram perguntados(as) sobre o que seria importante para o desenvolvimento da
agricultura familiar, também se pode constatar uma coincidência entre a avaliação
dos(as) beneficiários(as) e os problemas apontados como questões gerais para a
agricultura familiar nos estudos de caso.
Podem-se destacar cinco questões avaliadas pelos(as) beneficiários(as) como
“muito importantes” para o desenvolvimento da agricultura familiar. A primeira delas,
considerada por 64,2% dos(as) entrevistados(as), é a garantia de compra. Em segui-

IBASE : PRONAF . PARANÁ 26


da, com 58,6%, maior crédito para produção, seguida de mais assistência técnica,
apontada por 55,3% dos(as) beneficiários(as). Em quarto lugar está a necessidade de
melhoria na infra-estrutura e, em quinto, necessidade de novos canais de comerciali-
zação, com 54,6% e 53,6%, respectivamente.
Essas respostas revelam duas das questões mais importantes para a agricultura
familiar no Paraná, apontadas por diversos atores durante os estudos de caso: o
escoamento da produção e a falta de assistência técnica (adequada). A instabilida-
de do mercado, combinada ao fato de que os(as) agricultores(as) não contam em
geral com fontes de renda significativas fora da produção rural, faz com que exista
sempre uma grande incerteza em relação aos possíveis ganhos a partir de todos os
recursos gastos para produzir. A garantia de compra é vista como forma de propiciar
uma maior segurança da família. A assistência técnica, de algum modo, também
tem relação com a segurança econômica, uma vez que pode ajudar a melhoria da
produção e o aumento na renda.

g) Impactos diferenciais
Quando se analisam vários dados em conjunto, como o de melhoria das condi-
ções de vida, da avaliação quanto à situação da família, sobre a perspectiva de os(as)
filhos(as) continuarem no trabalho rural e o plano de investir no estabelecimento,
pode-se compor um quadro geral, segundo o qual o tipo de família, o nível de renda
e as possibilidades apresentadas fora do trabalho rural influenciam no impacto mais
geral do programa.
Percebe-se que os(as) beneficiários(as) que puderam melhorar objetivamente
suas condições de vida depois do acesso ao Pronaf (com reforma na moradia) têm
uma visão mais positiva de todos os quesitos de avaliação da situação da família,
como acesso à saúde e à educação, e até do entorno, quando avaliam a integração
com a comunidade e o meio ambiente. Em relação, por exemplo, ao acesso a ser-
viços públicos, os(as) beneficiários(as) em cujas moradias houve melhorias avaliam
positivamente em 65,2% dos casos. A avaliação positiva para o mesmo quesito feita
pelos(as) beneficiários(as) em cujas moradias não houve melhoria é menor, signifi-
cando 60,3%. Até quando avaliam a possibilidade de melhorar os negócios, os(as)
beneficiários(as) em cujas moradias houve melhorias avaliam mais positivamente:
enquanto 50% destes(as) avaliam o quesito “oportunidade de melhorar o negócio”
como “muito bom” ou “bom”, 46,7% de beneficiários(as) que não realizaram me-
lhorias em suas moradias avaliam da mesma forma.
Em parte, isso significa que a avaliação sobre o bem-estar da família passa pela
possibilidade de melhorar objetivamente e no cotidiano a forma como vivem. Mas
também pode significar que a melhoria concreta das condições cotidianas de vida
possibilita a melhoria concreta de outros fatores que influenciam no bem-estar da
família. É possível supor, por exemplo, que a melhoria da moradia possibilite a me-
lhoria das condições de saúde da família.

h) Formas associativas
Outro aspecto interessante dos dados diz respeito às formas associativas de que
os(as) agricultores(as) familiares fazem parte. Perguntados(as) sobre se ingressaram
em alguma organização depois que passaram a acessar o Pronaf, 39% declararam
ter passado a integrar o sindicato, sendo a resposta entre os(as) agricultores(as) do
grupo C a maior: 44,4%. Das organizações listadas, em segundo lugar no percen-
tual de respostas, estão as cooperativas de crédito apontadas por 31,1% dos(as)
agricultores(as).

IBASE : PRONAF . PARANÁ 27


A partir desses dados, devemos levar alguns pontos em consideração. Na maio-
ria dos casos, é responsabilidade dos sindicatos de trabalhadores(as) rurais emitir a
Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). Evidentemente, esse fato torna o Pronaf um
fator de atração dos(as) agricultores(as) familiares para a sindicalização. Em relação
às cooperativas de crédito, a associação também está diretamente relacionada ao
acesso aos recursos.
Assim, pode-se dizer que, sem dúvida, o Pronaf tem impacto sobre o aumento
das formas associativas entre os(as) trabalhadores(as). É bem provável também que
a criação desses vínculos, apesar de serem conseqüência, muitas vezes, de exigên-
cias formais para o acesso as crédito, tenha resultados para além da associação
meramente formal, pelo menos para uma parte dos(as) agricultores(as).

3.2 O ESTABELECIMENTO COMO UNIDADE PRODUTIVA

a) Características gerais dos estabelecimentos agropecuários


Do ponto de vista da parcela em que o(a) agricultor(a) reside, nota-se que
64% dos(as) beneficiários(as) se declararam proprietários(as), ao passo que 17%
eram arrendatários(as). O restante se distribuía entre parceiros(as), meeiros(as),
posseiros(as), comodatários(as), assentados(as) pelo Programa Nacional de Reforma
Agrária (PNRA), etc.
Um olhar sobre as categorias de beneficiários(as) do Pronaf revela que, para
os(as) agricultores(as) enquadrados(as) como grupo C, os(as) proprietários(as) resi-
dentes no lote perfaziam um total de 55%, enquanto os(as) arrendatários(as) con-
tribuíam com 18%. Já entre os(as) agricultores(as) do grupo D, esses percentuais
foram de 71% e 16%, respectivamente. Para os(as) agricultores(as) enquadrados(as)
como grupo E, os valores foram de 77% e 16%, respectivamente. Isso demons-
tra, de alguma forma, o melhor posicionamento das duas últimas categorias de
beneficiários(as) no âmbito da agricultura familiar, em termos de detenção de um
importante fator de produção que é a terra.
Quanto à dimensão dos estabelecimentos agropecuários, nota-se que a grande
maioria dos(as) beneficiários(as) do programa é composta por agricultores(as) fa-
miliares com unidades produtivas com área de até 20 hectares, uma vez que 41%
deles(as) declararam ter estabelecimentos com área de até dez hectares, e 32%,
com área entre dez e 20 hectares. O restante tem área entre 20 e 50 hectares, e
são poucos(as) os(as) agricultores(as) familiares beneficiados(as) pela política pública
com área superior ao último estrato citado.

GRÁFICO 10: ÁREA TOTAL DOS ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS

5%

22%

Até 10 ha
41%
De 10,01 a 20 ha

De 20,01 a 50 ha

Mais de 50 ha

32%

IBASE : PRONAF . PARANÁ 28


Considerando-se os estratos de área para os grupos de beneficiários(as) do cré-
dito rural (C, D e E), nota-se certo contraste entre os grupos, especialmente entre
as categorias C e E. Assim, verifica-se que, no estrato de área de até dez hecta-
res, se localizam 52% dos(as) beneficiários(as) do grupo C e apenas 7% dos(as)
beneficiários(as) do grupo E. Já no estrato entre 20 e 50 hectares, encontram-se
57% dos(as) beneficiários(as) do grupo E e apenas 13% do grupo C. Acima desse
patamar de área, localizam-se apenas 4% dos(as) beneficiários(as) do grupo C e
12% do grupo E.
Em síntese, tais informações revelam que, em termos dos grupos de beneficiá-
rios(as), os(as) agricultores(as) enquadrados(as) pelos critérios do programa como
C têm majoritariamente suas propriedades situadas na faixa de até 20 hectares de
área, ao passo que as outras duas categorias (D e E) se situam majoritariamente na
faixa entre 20 e 50 hectares de terra. Além disso, deve-se mencionar que foi pe-
quena a presença de beneficiários(as) com área superior a 50 hectares, significan-
do que, no estado paranaense, predomina o atendimento, por parte do programa,
aos(às) agricultores(as) com extensão de terras relativamente limitada.

GRÁFICO 11: DISTRIBUIÇÃO POR FAIXA DE ÁREA DOS ESTABELECIMENTOS POR GRUPO DE CRÉDITO

56,7%

52,4%

37,8%

30,8% 30,6%
26,8%
C
24,4%

D
13,4%
12,2%

6,7% E
4,6%
3,6%

Até 10 ha De 10,01 a 20 ha De 20,01 a 50 ha Mais de 50 ha

Em parte, esse aspecto foi captado pela pesquisa quando se observou que um
número expressivo de cada uma das três categorias de beneficiários(as) mencio-
nou a existência de uma segunda parcela (lote) de terra na qual desenvolve ativi-
dades agropecuárias. Nesse caso, verifica-se que as condições de arrendatários(as),
posseiros(as), meeiros(as), comodatários(as), etc. são bastante relevantes, especial-
mente para beneficiários(as) do grupo C, indicando que a questão da posse da terra
é um elemento crucial para os(as) agricultores(as) familiares que buscam expandir
sua produção agropecuária a partir da incorporação de novas áreas agrícolas.
Do ponto de vista da utilização das terras dos estabelecimentos agropecuários,14
observa-se que grande parte delas é ocupada com culturas temporárias, e é pratica-
mente insignificante o percentual dos(as) agricultores(as) que declaram não possuir
esse tipo de atividade. Registre-se que tal comportamento é muito semelhante entre
os três grupos de beneficiários(as) do crédito rural do Pronaf. Deve-se ressaltar que
esse tipo de atividade é desenvolvido predominantemente em áreas de até 20 hecta-
res para todas as categorias, exceto no caso dos(as) beneficiários(as) do grupo E, pois
uma parte importante desse grupo também produz culturas temporárias em áreas de
14
Registre-se que, por até 50 hectares.
deficiência do instrumento de
pesquisa, não foi incluída a área
Já o uso das terras com culturas permanentes está presente em cerca de 50%
com pastagens. de todos os estabelecimentos das três categorias de beneficiários(as), porém com

IBASE : PRONAF . PARANÁ 29


uma pequena dimensão no âmbito geral das propriedades, uma vez que a maioria
declarou que esse tipo de cultivo não ultrapassa uma área de cinco hectares nas
unidades de produção.
GRÁFICO 12: UTILIZAÇÃO DA ÁREA DO ESTABELECIMENTO

93%

78%

59%
55%
45%
41%
Sim
22%

7% Não

Possui área de Possui área de Utiliza para Utiliza para cultura


floresta reflorestamento cultura temporária permanente

Já o espaço nas propriedades destinado às áreas de florestas apresenta traços


importantes, considerando-se que 41% dos(as) beneficiários(as) declararam não
possuir qualquer área com florestas, e esse percentual varia nas diversas categorias:
grupo C, 45%; grupo D, 38%; e grupo E, 30%. Outros 46% declararam usar até
cinco hectares com essa atividade, não havendo diferenças percentuais importantes
entre os três grupos de beneficiários(as). Em parte, esse comportamento pode estar
relacionado às dimensões dos estabelecimentos agropecuários, uma vez que os(as)
proprietários(as) se vêem obrigados(as), diante da necessidade de responder aos
desafios atuais dos sistemas produtivos, a utilizar todas as áreas possíveis para se
manter produtivamente.
Por outro lado, verifica-se que a prática de reflorestar não é muito comum en-
tre os(as) agricultores(as) familiares paranaenses, uma vez que a maioria das pro-
priedades (78%) não possui qualquer tipo de ação relacionada ao reflorestamento.
Esse cenário é ligeiramente distinto entre as três categorias de beneficiários(as), pois
82% do grupo C, 72% do grupo D e 75% do grupo E declararam não possuir tal
atividade. Já naqueles estabelecimentos em que a ação é realizada, ela não ultra-
passa a área de até cinco hectares de áreas reflorestadas para as três categorias de
beneficiários(as) do programa.
De um modo geral, pode-se dizer que as informações relativas à utilização do
espaço dos estabelecimentos agropecuários revelam que a lógica produtiva em que
está inserida a agricultura familiar se pauta, cada vez mais, pelo uso intensivo dos
fatores de produção, especialmente da terra. Sobra, assim, pouco espaço para prá-
ticas voltadas à sustentabilidade da vegetação florestal, tanto em termos de sua
preservação natural como da adoção de práticas de reflorestamento.
Quanto às benfeitorias existentes nos estabelecimentos, nota-se que mais de
90% dos três grupos de beneficiários(as) possuem casa e que, ao redor de 80%
deles(as), há um paiol, que serve como espaço de armazenagem, tanto de produtos
agrícolas como de equipamentos para o trabalho na propriedade. Além disso, mais
de 80% dos(as) entrevistados(as) declararam possuir cercas no estabelecimento
agropecuário. Já as pocilgas e os galinheiros estão presentes em aproximadamente
50% dos estabelecimentos.
Essas informações revelam algumas das características clássicas das proprieda-
des familiares de produção, em que se combinam atividades vegetais e animais, ao

IBASE : PRONAF . PARANÁ 30


mesmo tempo em que se organiza uma estrutura social a partir da casa e de outras
benfeitorias (paiol, pocilga e galinheiro), as quais dão suporte ao desenvolvimento
das atividades produtivas.
Em termos de energia elétrica, verifica-se que mais de 90% dos estabele-
cimentos agropecuários contam com esse tipo de serviço. No entanto, quando
perguntados(as) se a energia era adequada às necessidades dos estabelecimentos,
entre 12% (grupo E) e 17% (grupo C) responderam que a energia disponível não era
adequada às necessidades.
Quando se cruzam essas informações com os estratos de área das unidades
de produção dos três grupos de beneficiários(as), verifica-se que essa deficiência é
mais sentida pelos(as) agricultores(as) enquadrados(as) como C e D com unidades
de área de até dez hectares, ao passo que, para aqueles(as) enquadrados(as) no
grupo E, essa deficiência é maior para os(as) produtores(as) situados(as) na faixa
de dez a 20 hectares.
Finalmente, em termos dos tipos de atividades agrícolas que são realizados nos
estabelecimentos agropecuários, constatou-se que, na maioria deles, ou seja, mais
de 95% para cada grupo de beneficiários(as), desenvolve-se a agricultura tradicio-
nal, sendo insignificante as outras práticas agrícolas, como a agricultura orgânica e
a agricultura agroecológica. Além disso, foi baixíssima a presença de propriedades
que se encontravam em processo de transição da agricultura tradicional para a
agroecológica.
Isso significa que o modelo tradicional de agricultura embasado nos insumos
modernos também está fortemente consolidado no âmbito da agricultura familiar e
que o Pronaf está provocando poucos efeitos no sentido de mudar essa trajetória.
Ao contrário, de certo modo o programa fortalece esse modelo de produção, con-
forme é possível verificar em outras partes deste relatório.

b) Características gerais da produção dos estabelecimentos agropecuários


A pesquisa constatou que o modelo de produção agropecuária financiado
pelo Pronaf é bastante tecnificado e com índices elevados de uso dos chamados
“insumos modernos”. Assim, nota-se que a utilização de agrotóxicos, de adubos
químicos e de sementes selecionadas ultrapassa o percentual de 90% em três ca-
tegorias de beneficiários(as) (C, D e E), ao mesmo tempo que o uso de produtos
veterinários é citado por cerca de 60% das referidas categorias de beneficiários(as)
do programa. Já o uso de adubos orgânicos é bastante baixo em comparação ao
uso do adubo químico.

GRÁFICO 13: USO DE INSUMOS, FERTILIZANTES E AGROTÓXICOS

92,7% 92,5%
86,5%

56,3%

38,8%
31,3%

4,6% 1,9%

Agrotóxicos/ Agrotóxicos Sementes Produtos Inseticidas/ Fertilizantes Outros Produtos para


defensivos químicos melhoradas veterinários fungicidas orgânicos agroindústria/
naturais beneficia-
mento

IBASE : PRONAF . PARANÁ 31


Chama a atenção o fato de esse mesmo comportamento se repetir em pratica-
mente todos os estratos de área de todos os grupos de beneficiários(as). Assim, o tripé
sementes selecionadas, adubos químicos e agrotóxicos aparece com um percentual
entre 80% e 90% de uso na faixa de até dez hectares para as três categorias (C, D
e E). Com a expansão dos estratos de área, o uso aumenta, ou seja, quanto maior a
dimensão da unidade produtiva, maior é o uso desses tipos de insumos modernos.
Já o uso dos fertilizantes orgânicos, com um percentual ao redor de 30% para
o conjunto dos três grupos de beneficiários(as), mostrou um comportamento dife-
rente em relação aos fertilizantes químicos, quando se considera os estratos de área.
Assim, todos os estratos do grupo C e todos os do grupo D mantêm um percentual
de uso desse produto ao redor de 30%, ao passo que, no grupo E, apenas o estrato
de até dez hectares mantém esse percentual de uso. Nos estratos seguintes, o uso
cai significativamente. Isso revela que o uso de fertilizantes orgânicos pode estar
mais associado à categoria de agricultores(as) menos capitalizados(as) no âmbito da
agricultura familiar, especialmente daqueles(as) classificados(as) como C.
Correlacionando o uso dos insumos modernos (sementes, agrotóxicos e adubos
químicos) com o número de vezes de utilização do crédito do Pronaf, nota-se que,
para as três categorias de beneficiários(as), quanto maior o número de anos-safra em
que houve acesso ao crédito (habitualidade de acesso ao programa), maior é o uso
dos produtos citados. Esse comportamento, de alguma forma, revela que a agricultura
familiar paranaense, quando apoiada seqüencialmente pelo crédito rural, tende a se-
guir o modelo clássico de produção agrícola do país embasado na “revolução verde”.

TABELA 9: INSUMOS UTILIZADOS NO ESTABELECIMENTO POR TIPO E POR Nº DE SAFRAS QUE


ACESSOU O PRONAF

Grupo C
1 safra De 2 a 3 safras De 4 a 5 safras De 6 a 7 safras
Agrotóxicos/defensivos 56,3 84,1 79,8 95,2
Fertilizantes orgânicos 17,3 18,3 8,3 4,8
Fertilizantes químicos 89,7 84,1 82,1 71,4
Inseticidas/fungicidas naturais 36 35,1 29,8 19
Produtos para agroindústria/
1,4 0,5 0 0
beneficiamento
Produtos veterinários 9,8 7,2 20,2 14,3
Sementes melhoradas 83 83,7 82,1 85,7
Outros 2,5 1,4 1,2 0

Grupo D
1 safra De 2 a 3 safras De 4 a 5 safras De 6 a 7 safras
Agrotóxicos/defensivos 88,8 94,4 97,4 96,4
Fertilizantes orgânicos 35 34,2 30,2 36,2
Fertilizantes químicos 88,8 94,7 93,7 97,7
Inseticidas/fungicidas naturais 40 41 39,7 47,5
Produtos para agroindústria/
2,5 3,8 1,1 1,4
beneficiamento
Produtos veterinários 51,3 60,5 59,8 63,3
Sementes melhoradas 73,8 85 89,9 93,2
Outros 5 4,1 5,8 5,4
continua

IBASE : PRONAF . PARANÁ 32


Grupo E
1 safra De 2 a 3 safras De 4 a 5 safras De 6 a 7 safras
Agrotóxicos/defensivos 97,7 98,8 98,9 99,6
Fertilizantes orgânicos 34,1 22,1 26,1 22
Fertilizantes químicos 93,2 98,3 98,3 98,6
Inseticidas/fungicidas naturais 47,7 40,8 41,1 45
Produtos para agroindústria/
2,3 2,5 1,7 2,1
beneficiamento
Produtos veterinários 52,3 59,2 60 68,1
Sementes melhoradas 86,4 89,6 95,6 92,2
Outros 4,5 11,7 5,6 6
Fonte: Ibase, pesquisa Pronaf 2006

Do ponto de vista da forma de aquisição dos produtos citados, as respostas


corroboram afirmações anteriores, uma vez que a maioria (mais de 90%) das três
categorias de beneficiários(as) afirmou que adquire os insumos modernos por meio
do crédito do Pronaf. Nesse quesito, a exceção é apenas em relação aos produtos
veterinários, cuja grande maioria não é adquirida com recursos do programa. Re-
gistre-se que parte desses produtos, principalmente quando se trata de produto-
res integrados às agroindústrias, é fornecida pelos programas de assistência técnica
dessas empresas, cujo custo é descontado posteriormente no momento de entrega
dos animais.
O quesito aquisição dos insumos também não sofreu grandes mudanças quan-
do correlacionado com os estratos de área e com o número de vezes que acessou o
crédito, ou seja, em todos os estratos de área das três categorias de beneficiários(as),
aproximadamente 90% afirmaram ter adquirido os produtos pelo sistema de finan-
ciamento do Pronaf, fato que também se repete quando se utiliza a habitualidade
de acesso ao crédito do programa. Essas informações tendem a reforçar a argu-
mentação anterior sobre o papel desempenhado pelo crédito rural no sentido de
incorporar a agricultura familiar à lógica produtivista da agricultura.
O ponto relativo aos insumos agrícolas, quando contrastado com a condição das
máquinas e equipamentos que são utilizados nos estabelecimentos agropecuários,
apresenta distinções relevantes. No grupo de equipamentos listados (trator, planta-
deira, pulverizador, colheitadeira e batedor de cereais), apenas o pulverizador e a
plantadeira – talvez por serem equipamentos de menor valor – aparecem com des-
taque entre os bens próprios de 20% a 40% dos(as) beneficiários(as), sendo que um
percentual considerável deles(as), entre 18% e 25%, informou que o equipamento
foi adquirido com crédito rural do Pronaf.
Obviamente, esse comportamento é distinto entre os três grupos de
beneficiários(as) do programa. No caso do grupo C, verifica-se que a grande
maioria não possui os equipamentos mencionados anteriormente. Apenas 37%
dos(as) beneficiários(as) desse grupo afirmou possuir pulverizador; 24% possuem
plantadeira e 17% possuem batedor de cereais. Para os demais equipamentos, os
percentuais são extremamente baixos, sendo que apenas 2% desse grupo afirmou
possuir colheitadeira.
No grupo D, nota-se que o grau de tecnificação dos produtores é maior, tendo
em vista que o percentual de beneficiários(as) com equipamentos próprios é bas-
tante expressivo. Assim, 40% afirmaram possuir pulverizador; 36%, trator; 24%,
plantadeira; 5%, colheitadeira; e 21%, batedor de cereais.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 33


O grupo E apresenta as melhores condições em termos de máquinas e equi-
pamentos agrícolas próprios, que são utilizados nas unidades de produção. Assim,
60% declararam possuir pulverizador; 58%, trator; 40%, plantadeira; 14%, colhei-
tadeira; e 22%, batedor de cereais.
Nos três grupos de beneficiários(as), observa-se que o grau de utilização de tais
máquinas e equipamentos aumenta à proporção que a dimensão da área dos esta-
belecimentos também se expande, sendo esse processo bem mais expressivo para
os diversos estratos de área dos(as) beneficiários(as) do grupo E.
Especificamente em relação ao trator agrícola, nota-se que a grande maioria
dos(as) beneficiários(as) diz que é um equipamento constantemente utilizado, porém
sem ser de propriedade do(a) usuário(a). Esse tipo de maquinaria, talvez pelo mon-
tante elevado de recursos envolvido, aparece pouco como equipamento adquirido por
meio de recursos do crédito rural do Pronaf. Apenas 13% dos(as) beneficiários(as)
que afirmaram possuir o equipamento utilizaram o programa para fazer a aquisição
da referida máquina.
Essas informações realçam dois aspectos importantes. Por um lado, os indicado-
res mencionados revelam o baixo grau de capitalização da agricultura familiar, que
pode ser medido pela propriedade de máquinas e equipamentos necessários à práti-
ca agrícola. Exceto no caso dos(as) beneficiários(as) do grupo E, os demais grupos de
agricultores(as) que precisam desses equipamentos são obrigados a fazer uso deles
via locação e prestação de serviços. Por outro lado, esses dados revelam também al-
guns limites do crédito rural do programa no sentido de promover o acesso aos bens
de capital (máquinas e equipamentos) que poderiam ampliar a capacidade produtiva
das unidades familiares de produção.
Decorrente dessa lógica produtiva, fortalece-se uma agricultura familiar que usa
muitos insumos químicos e sementes melhoradas, porém com baixo capital acumu-
lado, em termos de máquinas e equipamentos disponíveis paras as lides agrícolas,
exceto nos(as) beneficiários(as) do grupo E. Dessa maneira, conforma-se um sistema
familiar de produção mais dependente das indústrias de insumos químicos do que
das indústrias de máquinas e equipamentos agrícolas.
Quando correlacionamos os equipamentos utilizados nos estabelecimentos
agropecuários (próprios e não próprios) com a área, os diferenciais entre os grupos
de beneficiários(as) ficam mais evidentes. Assim, verifica-se que, no grupo C, 58%
dos estabelecimentos com até dez hectares usam trator, percentual que atinge 68%
nos estabelecimentos entre 20 e 50 hectares. No caso do grupo D, esses percentu-
ais, para os mesmos estratos de área, são de 77% e 89%, respectivamente. Já para
os(as) beneficiários(as) do grupo E, os percentuais são de 87% e 96%, respectiva-
mente. Isso demonstra que o processo produtivo da agricultura familiar detém um im-
portante diferencial tecnológico, o qual guarda relações com os fatores de produção
disponíveis e utilizáveis, especialmente da terra e de máquinas e equipamentos.
Esse tipo de agricultura tem tido um apoio expressivo da assistência técnica,
tanto pública como privada. O percentual de beneficiários(as) que recebe esse ser-
viço se situa ao redor de 80%. No entanto, as informações relativas aos grupos
de beneficiários(as) mostram contrastes importantes, especialmente em relação aos
percentuais daqueles(as) que não são atendidos(as). Assim, 30% do grupo C afir-
mou que não recebe nenhum tipo de assistência. Esse percentual no grupo D é de
12%, e no grupo E se reduz para apenas 3%.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 34


GRÁFICO 14: ACESSO A ASSISTÊNCIA TÉCNICA POR GRUPO DE CRÉDITO

70% 88% 97%

Sim

Não
30%

12%

3%

C D E

Outro fator importante a ser observado é que mais da metade dos(as)


beneficiários(as) do Pronaf vêm recebendo assistência técnica entre 4 e 14 anos.
Essa informação revela que esse serviço, juntamente com o crédito, acabou refor-
çando um sistema de produção familiar que ficou refém do modelo de moderniza-
ção agrícola em vigor no país desde a década de 1960.
Ainda sobre a assistência técnica, outros aspectos merecem ser ressaltados. Em
termos da freqüência com que os(as) agricultores(as) recebem esse tipo de serviço,
nota-se que aproximadamente 60% dos(as) beneficiários(as) declararam os quesitos
mensal e bimensal como os mais preponderantes. Isso traz à baila a discussão sobre
a qualidade da assistência prestada, tema que deveria ser retomado posteriormente
pelos órgãos responsáveis.
Esse tipo de serviço é prestado por empresas e/ou órgãos públicos (Emater e
prefeituras municipais), além de empresas privadas, cooperativas e técnicos autôno-
mos. Os dados agregados revelam que há dois pólos bem distintos, em termos da
prestação do serviço: por um lado, o Emater e as prefeituras municipais concentram
grande parte das ações; por outro, sobressai o papel desempenhado pelas coopera-
tivas e pelas empresas fornecedoras de insumos. No entanto, o acesso aos serviços
prestados é bem distinto entre as categorias de beneficiários(as) do Pronaf.
No caso dos(as) agricultores(as) enquadrados(as) no grupo C, os maiores pres-
tadores de serviços são os órgãos públicos (Emater e prefeituras), ao passo que as
cooperativas e empresas fornecedoras de insumos têm uma participação bem infe-
rior. Esse cenário é diferente para os demais grupos. No caso dos(as) agricultores(as)
enquadrados(as) como D, além do Emater, são relevantes os serviços prestados pelas
cooperativas e pelas empresas de insumos. Já para os(as) agricultores(as) do grupo
E, as cooperativas e empresas de insumos são as mais importantes prestadoras de
serviços, mesmo que órgãos públicos também tenham participação expressiva na
prestação de serviços a esse grupo.
Correlacionando o fornecimento de assistência técnica com os estratos de área
das unidades de produção, verifica-se que, no estrato de até 20 hectares do grupo C,
além do Emater e das prefeituras municipais, as empresas fornecedoras de insumos

IBASE : PRONAF . PARANÁ 35


e os serviços prestados por cooperativas têm uma expressão bem inferior para esse
grupo de agricultores(as) familiares. Já os(as) agricultores(as) do grupo D, no mesmo
estrato de área, recebem um tratamento muito maior por parte das cooperativas e
das empresas fornecedoras de insumos. Esse processo é mais acentuado ainda no
caso dos(as) agricultores(as) do grupo E, que têm nas cooperativas seu principal
instrumento de apoio técnico.
Mesmo com as características anteriormente descritas, deve-se registrar que
esse modelo produtivo tem destacadas preocupações com o uso e a conservação
dos solos. Assim, nota-se que os quesitos adubação verde, rotação de culturas,
plantio direto, calagem e terraceamento são os mais citados pelos três grupos de
beneficiários(as) do crédito rural como técnicas utilizadas em relação aos cuidados
com o solo.
Entre as preocupações mais gerais com a preservação ambiental, além de al-
gumas técnicas anteriores (calagem, adubação verde e plantio direto), verifica-se
que quesitos como controle de erosão, para 56% dos(as) beneficiários(as), desti-
no adequado dos recipientes de agrotóxicos (71%) e proteção de fontes de água
(34%) se encontram entre os mais citados por todos os grupos de agricultores, o
que revela, de certa forma, preocupações crescentes por parte desse segmento de
produtores(as) com a variável ambiental.

GRÁFICO 15: AÇÕES VOLTADAS PARA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

Outros 43%

Destinação adequada de
71%
recipiente de agrotóxico

Correção do solo (calagem) 68%

Plantio direto na palha 58%

Controle de erosão 56%

Plantio em nível 53%

Adubação verde/orgânica 48%

Proteção de fontes 34%

Reflorestamento ciliar/ 33%


conservacionista

Agrotóxicos seletivos 24%

Esse arcabouço tecnológico vem influenciando fortemente a dinâmica produti-


va. Do ponto de vista dos produtos de origem vegetal, nota-se que o binômio mi-
lho/soja é majoritário para todos os grupos de beneficiários(as). No grupo E, atinge
76%, o que pode ser interpretado como tendência à especialização produtiva. O
feijão é um produto presente entre todos os grupos, porém com maior destaque
no sistema produtivo do grupo C, no qual mais de 16% dos(as) beneficiários(as)
afirmaram cultivar o produto. Os cereais (arroz, trigo e aveia) e os tubérculos (man-
dioca, batata, etc.) têm pouca expressão entre todos os grupos. Finalmente, deve-se
registrar, ainda, a baixa participação da produção de legumes e frutas, revelando
que o sistema produtivo tende a se especializar em alguns produtos de maior valor
econômico, como é o caso do binômio anteriormente citado.
Especificamente em relação aos sistemas produtivos de cada grupo de
beneficiários(as), constatam-se algumas diferenças. Os(as) agricultores(as) do grupo

IBASE : PRONAF . PARANÁ 36


C, apesar de apresentarem predomínio do binômio milho/soja, para 56% dos(as)
beneficiários(as), e do feijão (16%), também cultivam outros produtos, como é o
caso do fumo (7%); café (5%); raízes e tubérculos (4%); hortaliças e frutas (6%); e
cereais (2%). Já os(as) agricultores(as) do grupo D, embora mantenham a produção
de hortaliças, frutas e raízes, tendem a se concentrar em quatro produtos: milho,
soja, fumo e feijão, os quais estão presentes em 75% dos(as) beneficiários(as). Por
fim, 76% dos(as) agricultores(as) do grupo E afirmaram cultivar o binômio milho/
soja, indicando uma tendência à especialização produtiva, apesar de a produção
de fumo e feijão continuar presente, porém com baixa participação percentual nas
respostas, comparativamente aos demais grupos.

TABELA 10: DISTRIBUIÇÃO DA PRODUÇÃO POR PRODUTOS (%)

Produtos C D E Total
Algodão 1,5 1,2 1,3 1,4
Cereais (arroz, aveia, trigo, etc.) 2,4 2,8 7 3
Café 4,5 2,9 0,4 3,5
Cebola 0,9 0,7 0,2 0,8
Feijão 16,4 10 5 13,2
Raiz (mandioca, batata, beterraba, cenoura, etc) 3,8 5,8 2,5 4,3
Milho 38 31,2 28,5 34,8
Soja 17,4 24,9 47,9 22,9
Frutas/Frutos 2,9 1,3 1,9 3,3
Fumo 7,2 10,7 4,3 8
Hortaliças 3,3 2,4 0,4 2,7
Couve-flor/brócolis 0,2 1 0,1 0,4
Legumes 1,4 1,4 0,1 1,3
Outros 0,2 0,7 0,5 0,4
Total 100 100 100 100
Fonte: Ibase, pesquisa Pronaf 2006

Chama a atenção que a área plantada é baixa, especialmente para o grupo C,


uma vez que 72% dos(as) beneficiários(as) desse grupo afirmaram cultivar até cinco
hectares. No grupo D, 82% afirmaram cultivar até dez hectares, sendo poucos os
casos em que se ultrapassam 15 hectares. No grupo E, verifica-se que 40% dos(as)
beneficiários(as) cultivam em áreas acima de 14 hectares, indicando que a estrutura
produtiva do grupo E é bem distinta em relação aos demais grupos. Mesmo assim,
esse comportamento revela a existência de um sistema produtivo que vai se especia-
lizando e, decorrente disso, promove um uso intensivo do fator terra, o qual se torna
um fator produtivo limitante para algumas categorias de agricultores(as) familiares
paranaenses.
De alguma forma, o aspecto anterior pode ser mais bem compreendido quando
se considera a área média plantada de cada produto por grupo de beneficiários(as).
Assim, para o milho, verifica-se que a área média plantada no grupo C foi de quatro
hectares, ao passo que, no grupo E, foi dez hectares. Para a soja, os números res-
pectivos para os mesmos grupos foram de 5,6 e 17,8 hectares. Para o feijão, a área
média plantada subiu de 2,8 hectares (grupo C) para 7,3 hectares (grupo E).
Em termos do volume físico da produção, observa-se certa diferença entre os
grupos de beneficiários(as), pois, enquanto a maior parte do grupo C (57%) tem

IBASE : PRONAF . PARANÁ 37


uma produção total entre uma e cinco toneladas, 60% dos(as) beneficiários(as) do
grupo E têm produção acima de 20 toneladas, revelando a disparidade desses(as)
agricultores(as) em relação aos demais grupos no âmbito das unidades familiares
de produção.
Quanto às formas de comercialização da produção para o conjunto dos(as)
beneficiários(as) do Pronaf, verifica-se uma concentração das vendas em três tipos
– atravessador, comerciantes locais e cooperativas –, sendo que as vendas para o
comerciante (comércio) local são mais importantes. No entanto, deve-se registrar
que existem contrastes bem nítidos entre os grupos de beneficiários(as). Assim, a
venda direta a consumidores(as) é uma forma de comercialização para 12% do gru-
po C, ao passo que é importante para apenas 4% do grupo E. O inverso pode ser
observado no caso das vendas para cooperativas: para 41% do grupo E, esse é o
principal canal de comercialização, mas é um instrumento para apenas 19% dos(as)
beneficiários(as) do grupo C. Da mesma forma, o comércio local é bem mais relevante
para os(as) agricultores(as) desse último grupo, comparativamente aos do grupo E.
Por fim, destaca-se que a figura do atravessador é importante para 20% dos(as)
beneficiários(as), sendo mais importante para os(as) agricultores(as) do grupo C.

GRÁFICO 16: PRINCIPAIS FORMAS DE COMERCIALIZAÇÃO

27%
24%

19%

11%

Venda para Venda para Venda para Venda para indústria


comércio local cooperativa atravessador alimentícia

Em termos da produção animal, deve-se registrar a participação da venda de


bovinos e de leite na composição da renda familiar. No primeiro caso, esse processo
é pouco expressivo, uma vez que mais de 60% dos(as) respondentes de todos os
grupos de beneficiários(as) não realizam tal atividade. No entanto, entre aqueles(as)
que a executaram, nota-se que a maioria declarou ter comercializado até cinco ca-
beças de animais bovinos na última safra (2004–2005).
Já a produção e a venda de leite, embora não sejam atividade para cerca de
60% dos três grupos de beneficiários(as), apresentam algumas nuanças. Toman-
do-se como referência a quantidade produzida, verifica-se que a maioria dos(as)
produtores(as) se situa na faixa entre 5 mil e 30 mil litros. Acima desse patamar,
apenas os produtores do grupo E têm participação a ser considerada (13%).
Do ponto de vista da produção extrativa para fins comerciais, registre-se a
existência de um número pequeno de agricultores(as), em todas as categorias de
beneficiários(as), que desenvolvem esse tipo de atividade, particularmente no caso
da erva-mate.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 38


c) Ocupação
1. Nos estabelecimentos de beneficiários(as) do grupo C, que somam 756,
trabalham 2.125 pessoas. No grupo D, em 785 estabelecimentos, são 2.564
trabalhadores(as), enquanto em 767 estabelecimentos de beneficiários(as) do
grupo E são 2.696. Estando esses dados referidos ao ano-safra 2004–2005 e ex-
pandindo a amostra, constata-se que trabalham em estabelecimentos da agri-
cultura familiar beneficiados pelo Pronaf cerca de 415 mil pessoas, estando dis-
tribuídas entre os grupos de crédito da seguinte forma: grupo C com 230.228
trabalhadores(as), grupo D com 135.588 trabalhadores(as) e grupo E com 50.044
trabalhadores(as).

TABELA 11: OCUPAÇÃO POR GRUPO DE CRÉDITO APURADO E PONDERADO – SAFRA 2004–2005

Produtos Apurado Ponderado


Grupo C 2.125 230.228
Grupo D 2.564 135.588
Grupo E 2.696 50.044
Total 415.860
Fonte: Ibase, pesquisa Pronaf 2006

A distribuição entre os tipos de trabalhadores(as), ou seja, familiares, assalaria-


dos permanentes e assalariados temporários, permite afirmar que, de fato, os es-
tabelecimentos dos beneficiários seguem um padrão familiar de produção. Mesmo
no grupo E, o mais capitalizado entre os três grupos trabalhados, a presença desse
tipo de mão-de-obra assalariada é muito pequena. No grupo C, familiares repre-
sentam 84% da mão-de-obra ocupada. No grupo D, 74%, e no grupo E, 73%.

TABELA 12: OCUPAÇÃO POR FORMA DE TRABALHO POR GRUPO DE CRÉDITO REFERENTE À
SAFRA 2004–2005

Grupo C % Grupo D % Grupo E %


Assalariado permanente 10 0 34 1 67 2
Assalariado tempororário 332 16 627 24 671 25
Familiares 1.783 84 1.903 74 1.958 73
Total 2.125 100 2.564 100 2.696 100
Fonte: Ibase, pesquisa Pronaf 2006

Um instrumento interessante que pode ajudar a compreender o impacto


do crédito na ocupação rural é associar o montante de recursos destinados e o
número de ocupações dos estabelecimentos. Ou seja, entre o total de recursos
liberados para as famílias e o total de trabalhadores ocupados nesses estabele-
cimentos. Assim, estipulando um valor médio de recurso de crédito para cada
ocupação nos estabelecimentos (safra 2004–2005), constatamos que para cada
ocupação equivale o valor de R$ 1.290. Voltando a análise para cada grupo de
crédito, chega-se a uma equivalência de R$ 936 para cada ocupação no grupo C,
R$ 1.483 para o grupo D e R$ 2.396 para o grupo E.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 39


TABELA 13: RELAÇÃO ENTRE O MONTANTE TOTAL DE RECURSOS DE CRÉDITO E O Nº DE
OCUPAÇÕES (2004–2005)

Ocupação ponderada Créditos (R$ 1,00) Crédito/Ocupação


Grupo C 230.228 215.500.512 936
Grupo D 135.588 201.011.951 1.483
Grupo E 50.044 119.929.140 2.396
Total 415.860 536.441.603 1.290
Fonte: Ibase, pesquisa Pronaf 2006 e banco de dados do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA)

Outro dado interessante é o da variação de número de ocupações nos esta-


belecimentos de um ano-safra para outro. Assim, considerando-se os anos-safra
2003–2004 e 2004–2005 (o período a que se refere a pesquisa), constata-se a
manutenção no número de ocupações e uma tendência de elevação desse número.
Essa variação, sempre positiva, no grupo C, é de 5,4%; no grupo D é de 3,7%;
e no grupo E, de 6,7%. A variação no grupo C foi menor que no grupo E. Mas,
levando-se em conta o número de beneficiários(as) atingidos(as) pelo programa é
quatro vezes maior no grupo C do que no grupo E, pode-se afirmar que o impacto
sobre a variação de ocupação é maior no grupo C, considerando-se o número de
ocupações criadas.

TABELA 14: VARIAÇÃO NA OCUPAÇÃO APURADA (2004–2005 – 2005–2006)

Safra 2003–2004 Safra 2004–2005 Variação (%)


Grupo C 2.017 2.125 5,4
Grupo D 2.472 2.564 3,7
Grupo E 2.527 2.696 6,7
Fonte: Ibase, pesquisa Pronaf 2006

Assim, mais uma vez, aplicando a expansão, pode-se afirmar que, do ano-safra
2003–2004 ao ano-safra 2004–2005, houve uma variação positiva de cerca de 20
mil ocupações. Destaque-se que a criação de ocupações segue o padrão de ocu-
pação geral dos estabelecimentos de beneficiários(as), ou seja, criação de postos
para familiares.
Em se tratando de um programa que tem entre seus principais objetivos a fixa-
ção no campo, e não a criação de empregos, os dados da pesquisa mostram que
o programa vem cumprindo plenamente com seu objetivo. Mais uma vez, pode-se
constatar que o impacto do crédito no grupo C, ou seja, os estabelecimentos menos
capitalizados significam um impacto maior em termos gerais, em virtude do maior
público que atinge.

d) Renda
Quanto à renda dos estabelecimentos agropecuários, nota-se que grande parte
dela provém das atividades agrícolas relativas à produção vegetal, sobressaindo-se
aí a participação dos produtos mencionados anteriormente para todos os grupos de
beneficiários(as). No entanto, convém salientar que a distribuição pelo valor total
das vendas realça diferenças importantes entre esses grupos de agricultores(as).
Assim, mais de 73% de beneficiários(as) do grupo C afirmaram ter uma renda
advinda de vendas de produtos agrícolas que não ultrapassou R$ 5 mil na última
safra agrícola (2004–2005). Já cerca de 60% de agricultores(as) do grupo D tiveram

IBASE : PRONAF . PARANÁ 40


uma renda nas mesmas circunstâncias que variou de R$ 3 mil a R$ 15 mil. Final-
mente, cerca de 40% de beneficiários(as) do grupo E afirmaram ter obtido uma
renda acima de R$ 15 mil, mostrando o maior nível de capitalização desse segmen-
to de agricultores(as) familiares.
A participação na renda advinda da venda de animais merece ser destacada ape-
nas no caso da comercialização de algumas cabeças de bovinos e de suínos, além da
comercialização do leite. No primeiro caso, considerando-se que menos de um terço
da amostra de cada grupo realiza esse tipo de venda, verifica-se que a faixa de valor
até R$ 2 mil é preponderante para os três grupos de beneficiários(as) (mais de 50%
se enquadram nesse limite), significando uma baixa participação dessa atividade na
composição da renda total dos estabelecimentos agropecuários.
Já os(as) beneficiários(as) que afirmaram terem comercializado suínos na última
safra, representando cerca de 20% de cada grupo de beneficiário(a), têm diferenças
entre si. Assim, 80% de agricultores(as) do grupo C obtêm renda de até R$ 1,2 mil
com tal atividade, ao passo que 44% de agricultores(as) do grupo E obtêm renda
superior a R$ 5,5 mil com a mesma atividade. Esse diferencial de renda pode estar
relacionado à escala de produção da atividade, que sempre favorece os grupos mais
bem posicionados na agropecuária.
Por fim, a comercialização de leite, que é realizada por cerca de um terço de
cada um dos grupos de beneficiários(as) do Pronaf, cumpre um papel importante na
renda das unidades familiares. No caso do grupo C, aproximadamente 50% afirma-
ram que a atividade gerou uma renda de até R$ 3 mil na última safra, ao passo que,
para 47% do grupo D, ela gerou renda acima de R$ 5,5 mil. Para 63% do grupo E,
foi possível obter renda superior a R$ 5 mil com a atividade.
Deve-se ressaltar, ainda, que foi baixíssimo o número de entrevistados(as) de
cada grupo de beneficiários(as) que afirmaram ter renda advinda de produtos proces-
sados. De algum modo, aparentemente esse ponto põe em dúvida algumas teses que
destacam fortemente esse quesito na composição da renda das unidades familiares
de produção. Além disso, questiona a própria política de incentivo à agroindustriali-
zação da produção familiar, a qual vem se mostrando pouco efetiva até o momento
no estado paranaense, no sentido de agregar valor aos produtos agropecuários.
Deve-se acrescentar que a renda advinda de outros produtos, serviços e ati-
vidades não agrícolas (restaurantes, hotelaria, artesanato, aluguel de máquinas e
equipamentos, etc.) é insignificante no contexto da renda agregada dos estabeleci-
mentos agropecuários. Apenas deve ser destacada a participação da renda advinda
do trabalho agrícola realizado em outros estabelecimentos, especialmente para o
caso do grupo C, pois cerca de 8% dos(as) beneficiários(as) afirmaram ter esse tipo
de receita na composição geral da renda.
Por fim, deve-se mencionar a participação de outras fontes na composição da
renda das unidades de produção. Em primeiro lugar, destaca-se o papel das rendas
advindas de familiares que trabalham fora do estabelecimento presentes nas três
categorias de beneficiários(as), porém com maior incidência nos grupos C e D. Em
segundo lugar, as rendas de aposentadorias de membros familiares, uma vez que
em cerca de 20% dos estabelecimentos de cada grupo há esse tipo de rendimento.
Finalmente, destaca-se o papel da renda advinda de programas de ajuda governa-
mental, especialmente no caso do grupo C. Nessa última fonte, chama atenção a
presença de agricultores(as) dos grupos D e E em programas dessa natureza, que
teoricamente deveriam atender apenas àquelas camadas bastante pobres da po-
pulação brasileira, em que esses dois grupos de agricultores(as) certamente não se
incluem, em virtude das suas condições produtivas e financeiras.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 41


Em síntese, esse conjunto de informações, mesmo mostrando certa diversifica-
ção de fontes na composição geral da renda das unidades familiares de produção,
revela o predomínio dos recursos financeiros advindos das atividades produtivas li-
gadas à esfera da produção vegetal, especialmente no caso da venda de produtos in
natura. Esse fato ajuda a entender por que, em circunstâncias adversas – como no
caso de uma seca –, a agricultura familiar, nos moldes descritos neste trabalho, se
ressente rapidamente, permanecendo quase sempre em crise.

e) Utilização do crédito e características dos financiamentos do Pronaf


A análise de impactos de qualquer política pública enfrenta dificuldades deriva-
das de diversos fatores, em virtude da falta de nitidez das diferenças entre os efeitos
específicos atribuíveis a cada uma das políticas em implementação em um mesmo
espaço geográfico. Desse modo, normalmente o que se tem são percepções de efei-
tos que dificilmente conseguem ser precisamente mensurados.
Mesmo assim, por meio de pesquisas empíricas e percepções de atores sociais
envolvidos com uma determinada política pública, é possível aferir determinados im-
pactos dessa política, tanto no sentido de manter e consolidar uma trajetória em curso
como no sentido de interromper um processo que está ocorrendo e desenhar novos
caminhos. Nessa perspectiva, possíveis impactos do Pronaf estão sendo analisados.

e.1 Tipos de crédito e grupos de agricultores(as)


Os dados da pesquisa de campo revelam aquilo que tem se tornado comum
no Pronaf nos últimos anos, ou seja, um programa de política pública fortemente
concentrada em disponibilizar recursos financeiros para as safras agrícolas. Dos(as)
beneficiários(as) do programa, nota-se que 85% buscaram crédito de custeio das
safras anuais, enquanto apenas 15% tomaram crédito de investimento na safra
2004–2005. De alguma forma, essas informações demonstram os limites do progra-
ma no sentido de promover mudanças fundamentais na estrutura produtiva, espe-
cialmente em termos dos sistemas de produção.

GRÁFICO 17: MODALIDADES DE CRÉDITO

15%

Investimento

Custeio

85%

IBASE : PRONAF . PARANÁ 42


Em termos das atividades financiadas, observa-se que o milho (34,8%) e a soja
(22,9%) respondem por 58% dos financiamentos. No entanto, esse comportamento
é distinto entre as três categorias de beneficiários(as) do crédito rural. No grupo C,
esses dois produtos respondem por 55% das atividades financiadas, sendo que o
milho é o mais relevante (38%). Já no grupo E, os mesmos produtos respondem
por 76% das atividades financiadas, sendo que a soja é a mais relevante (48%). No
grupo D, esses produtos respondem por 56%.

GRÁFICO 18: VALOR FINANCIADO POR GRUPO DE CRÉDITO

58%

45%
41%

28%
27%

20% 19%

15%

10% 11%
10%
8%
5%
2% 2%

De R$ 500 De R$ 2 mil De R$ 3 mil De R$ 5 mil De R$ 6 mil


a R$ 2 mil a R$ 3 mil a R$ 5 mil a R$ 6 mil a R$ 30 mil

C D E

Do ponto de vista do valor financiado, 83% dos(as) beneficiários(as) obtiveram


financiamentos que variaram de R$ 500 a R$ 10 mil. No entanto, essas faixas de
valores financiados são bem distintas entre as categorias de beneficiários(as). No
caso do grupo C, 86% dos(as) entrevistados(as) financiaram suas atividades numa
faixa que varia entre R$ 500 e R$ 3 mil. Já 90% dos(as) agricultores(as) do grupo
D tiveram faixas de financiamentos que variaram de R$ 500 a R$ 6 mil, sendo que
28% deles(as) obtiveram financiamentos na faixa de R$ 5 mil a R$ 6 mil. Os finan-
ciamentos do grupo E, por sua vez, concentram-se (68%) na faixa entre R$ 5 mil e
R$ 30 mil.
Quanto aos agentes financeiros, observa-se que o Banco do Brasil continua
sendo o grande operador financeiro do Pronaf, ao atender cerca de 92% dos gru-
pos de beneficiários(as). O restante das operações está sob responsabilidade dos
Sistemas Sicred e Cresol. Em termos das categorias de agricultores(as), nota-se
que o Sicred atende mais os(as) agricultores(as) dos grupos D e E, ao passo que o
Sistema Cresol atende as três categorias, porém atingindo menos de 2% em cada
uma delas.

e.2 Características dos financiamentos do Pronaf


Um dos primeiros aspectos relevantes neste item específico é que a maioria
dos(as) agricultores(as), ou seja, mais de 90% de cada um dos grupos, já havia
se beneficiado do programa, sendo que muitos(as) deles(as) por diversas vezes.
Entre os(as) beneficiários(as) do grupo C, nota-se que mais de 50% obtiveram fi-
nanciamento nas últimas quatro safras agrícolas, ressaltando-se que pelo menos
40% desse grupo teve apoio do programa nos últimos cinco anos. Entre os(as)

IBASE : PRONAF . PARANÁ 43


beneficiários(as) do grupo D, verifica-se que mais de 58% tiveram acesso ao crédito
nas últimas quatro safras agrícolas, sendo que pelo menos 50% foram apoiados(as)
pelo programa nos últimos cinco anos. Finalmente, no grupo E, esses percentuais
são de 65% e 55%, respectivamente.
No entanto, quando essas mesmas informações são cruzadas pela modalidade
de financiamento, observa-se que a maioria absoluta dos recursos (aproximadamen-
te 88%) foi destinada ao custeio da safra agrícola, sendo pouco expressivo para
cada uma das categorias de beneficiários(as) as operações com crédito de inves-
timento. Esse fato revela uma lógica até certo ponto restritiva do Pronaf, uma vez
que o programa financia, a cada ano, a nova safra sem, contudo, induzir a expansão
significativa de investimentos que possam provocar efeitos mais duradouros sobre
as unidades familiares de produção.
No caso do crédito de custeio, a maioria dos(as) beneficiários(as) (99%) fez men-
ção ao seu uso para aquisição de insumos agrícolas, não se constatando variações
desse percentual entre as diferentes categorias de agricultores(as) beneficiados(as).
Já no caso do crédito de investimento, afirmou-se que parte dos recursos é utilizada
para comprar animais. Em termos dos grupos de beneficiários(as), nota-se que 50%
do grupo C destinou os recursos para tal finalidade, ao passo que 66% do grupo
E destinou o crédito de investimento para aquisição de animais. No grupo D, esse
percentual ficou em 34%.
Com isso, vai se conformando um modelo de produção familiar que tende à es-
pecialização produtiva, como já foi citado. De alguma forma, esse aspecto fica per-
ceptível quando são cruzados os estratos de área com os produtos agrícolas oriundos
da agricultura familiar. Nas unidades com até dez hectares, observa-se grande diver-
sificação produtiva, exceto no caso do grupo E, que já apresenta sinais de especiali-
zação também nessa fração de área. No entanto, nas unidades com área acima de
dez hectares, ocorre uma forte tendência de concentração da produção em poucos
produtos nos três grupos de beneficiários(as). A diferença está apenas nos produtos,
pois, enquanto no grupo C o feijão e o binômio milho/soja respondem pela maioria
da produção, no grupo D agrega-se a esses produtos a cultura do fumo. Finalmente,
no grupo E, ocorre uma forte concentração no milho e na soja, revelando o caráter
especializado dos(as) agricultores(as) que fazem parte desse grupo.
Uma outra tendência pode ser observada quando se consideram os insumos
utilizados nos estabelecimentos agropecuários, cruzando-se essas informações com
a área e o número de safras em que se obteve crédito rural. Para os três grupos
de beneficiários(as) (C, D e E), nota-se que aumenta o uso dos insumos modernos
(agrotóxicos, adubos químicos e sementes selecionadas) quando a extensão de área
aumenta e quando cresce a quantidade de vezes que o(a) agricultor(a) acessou o
crédito. Isso significa que o apoio do programa vai consolidando ao longo do tempo
uma prática agrícola cada vez mais ancorada no uso dos insumos modernos.
É claro que, nessa lógica produtiva, aparecem outros elementos importantes,
como é o caso da expansão da técnica de conservação dos solos e a adoção de
ações voltadas à preservação ambiental. Assim, quando são cruzadas essas técnicas
de conservação dos solos e de preservação ambiental com o número de safras que
o(a) agricultor(a) acessa o crédito rural, nota-se que a utilização dessas técnicas au-
menta de importância quando as operações do programa se repetem. Isso pode ser
resultado de uma maior conscientização, por parte dos(as) agricultores(as), sobre a
necessidade de repor ao solo os nutrientes retirados intensivamente a cada ano.
Do ponto de vista das dificuldades enfrentadas pelos(as) beneficiários(as) no
sentido de quitar seus empréstimos obtidos com o sistema, constatou-se que um

IBASE : PRONAF . PARANÁ 44


percentual relativamente alto (56%) enfrentou problemas para pagar os emprés-
timos. Em relação às categorias de beneficiários(as), nota-se que 55% do grupo C
teve problemas, e isso também ocorreu com 52% do grupo D e 67% do grupo E.

GRÁFICO 19: DIFICULDADE PARA PAGAR O EMPRÉSTIMO POR GRUPO DE CRÉDITO

55% 52% 67%

48%
Sim
45%

Não

33%

C D E

Entre os diversos fatores responsáveis pela geração de dificuldades, a frustração


de safras foi um dos mais mencionados por todas as categorias de beneficiários(as)
(79%). Em parte, isso se explica pelos efeitos climáticos sobre a produção agrícola,
considerando-se que, nos últimos três anos, ocorreram secas seqüenciais que cau-
saram impactos negativos sobre a produção agropecuária nos três estados sulinos.
Além desse fator, mencionaram-se também a baixa produtividade, que, em parte,
pode estar associada ao problema anterior, e os baixos preços recebidos pelos pro-
dutores no momento de comercialização das safras.
Especificamente em relação aos impactos do Pronaf sobre a produção, a pesqui-
sa procurou identificar possíveis impactos do programa após os(as) agricultores(as)
terem recebido financiamentos, considerando-se a percepção dos agricultores(as).
Para tanto, foram apresentadas as opções “aumentou”, “permaneceu igual” e “di-
minuiu”. Para 59% dos(as) beneficiários(as), a produção aumentou após o recebi-
mento do crédito do programa, para 23% a produção permaneceu igual e apenas
7% afirmaram que ela diminuiu. Esses percentuais sofrem pequenas variações em
cada grupo específico de beneficiário(a), as quais não chegam a caracterizar gran-
des diferenças entre as três categorias de agricultores(as) consideradas. O aumento
referido, em grande parte, pode estar relacionado ao uso dos insumos utilizados no
processo produtivo financiados pelo programa.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 45


GRÁFICO 20: IMPACTO DO FINANCIAMENTO SOBRE A PRODUÇÃO POR GRUPO DE CRÉDITO

61% 61%
58%

25%
23% 22%

9% 10%
8% 8%
5% 6%
2%
1% 0%

Aumentou muito Aumentou Permaneceu igual Diminuiu Diminuiu muito

C D E

Quando solicitados(as) a responder se as mudanças verificadas poderiam ser atri-


buídas ao Pronaf, 49% dos(as) beneficiários(as) afirmaram que, em parte, as altera-
ções decorriam do programa, e 40% afirmaram categoricamente que as mudanças
verificadas decorriam totalmente das ações do Pronaf. Apenas 11% entenderam o
contrário, ou seja, que o programa não era responsável pelas mudanças na produ-
ção. Em termos dos grupos específicos de beneficiários(as), verifica-se a existência
de diferentes visões, uma vez que 59% dos(as) agricultores(as) do grupo E creditava
as mudanças em parte ao programa, e 46% do grupo C tinha a mesma opinião. Já
40% dos(as) beneficiários(as) do grupo D creditavam totalmente ao programa a res-
ponsabilidade pelas mudanças.

GRÁFICO 21: MUDANÇAS ATRIBUÍDAS AO PRONAF POR GRUPO DE CRÉDITO

59%
55%

46%
41% 40%

32%

13%
9%
8%

Não atribui as Atribui em parte Atribui totalmente


mudanças ao Pronaf as mudanças ao as mudanças ao
Pronaf Pronaf

C D E

IBASE : PRONAF . PARANÁ 46


Posteriormente, os(as) beneficiários(as) foram solicitados(as) a opinar sobre a
existência ou não de mudanças na região após a introdução do Pronaf. Para 86%
deles(as), o programa foi responsável pelas mudanças em curso. Esse percentual é
praticamente o mesmo em todas as categorias de beneficiários(as). Qualificando
um pouco as respostas, 93% entenderam que a vida em família mudou para melhor
após o início das ações do programa; 72% afirmaram que a vida na comunidade
mudou para melhor; e 91% destacaram que a produção agrícola também mudou
para melhor. No entanto, quando solicitados(as) a opinar sobre a preservação do
meio ambiente, 48% afirmaram que não mudou, e 6% entenderam que mudou
para pior. Finalmente, quando solicitados(as) a opinar sobre o emprego, 42% enten-
deram que não mudou, e 3% acharam que mudou para pior.
Essas opiniões, na verdade, tendem a mostrar os possíveis impactos do Pronaf
na produção e na vida social. Por um lado, o programa tende a se transformar na
principal força de impulsão do crescimento da produção agrícola familiar, mas, ao
mesmo tempo, não consegue conter ou alterar os danos ambientais provocados
pelos sistemas de produção convencionais.
De um modo geral, é perfeitamente compreensível a existência de percepções
um tanto distintas sobre os quesitos considerados, tendo em vista que é difícil cre-
ditar exclusivamente ao Pronaf os efeitos sobre o desenvolvimento de uma determi-
nada região. Assim, deve-se reconhecer que, em termos de impactos, os efeitos do
programa são bem mais visíveis apenas nas variáveis relativas à produção agrícola,
que, com o apoio recebido, respondeu positivamente.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 47


4 Pronaf e desenvolvimento
local e regional
4.1 PERCEPÇÕES DE AGENTES LOCAIS

Entre os objetivos da pesquisa realizada pelo projeto, estava a tentativa de captar


a percepção sobre os impactos do Pronaf de alguns agentes locais importantes do
processo da política pública no meio rural paranaense. Para tanto, foram selecio-
nadas quatro instituições – prefeituras municipais, sindicatos de trabalhadores(as)
rurais (STRs), Emater e Banco do Brasil (BB) – para a aplicação dos questionários,
respondidos por representantes dessas instituições em 146 municípios, listados em
anexo. Ao todo, foram entrevistadas 519 pessoas, assim distribuídas: 98 do Banco
do Brasil, 136 do Emater, 120 dos STRs e 148 das prefeituras.15
Partindo da hipótese de que as quatro instituições escolhidas são atores públi-
cos fundamentais do meio rural paranaense, o questionário pretendeu apreender a
percepção desses agentes locais sobre os impactos do Pronaf em dois campos: no
desempenho da agricultura familiar e no desenvolvimento local ou regional. Além
disso, buscou averiguar a sua visão sobre a importância relativa de determinadas po-
líticas públicas e atividades produtivas para o desenvolvimento da agricultura familiar
nas regiões onde atuam.16
15
Falamos em “prefeituras”, Os questionários respondidos pelos agentes locais foram aplicados nas insti-
mas seria mais rigoroso falar tuições sediadas nos municípios onde foram também realizadas as entrevistas com
em “poder municipal”, pois,
entre as pessoas entrevistadas os(as) beneficiários(as). Buscamos, dessa forma, captar os impactos do Pronaf por
dessa instituição, figuram não
apenas prefeitos, vice-prefeitos
meio da percepção tanto de quem toma crédito, ou seja, os(as) agricultores(as),
e secretários municipais, mas como de agentes governamentais e não-governamentais cuja atuação influencia de
também vereadores. O total de
agentes entrevistados nas quatro
forma significativa, direta ou indiretamente, a implementação do programa.
instituições foi de 502 pessoas, No entanto, queremos deixar bem claro que as informações apresentadas nes-
de modo que foram ainda
entrevistados 17 representantes te documento não podem ser expandidas para o estado como um todo – já que
de outras instituições não foi sorteada uma amostra específica para tal a partir do universo das quatro
(classificados como “outros”).
Essas informações (“outros”) instituições – à diferença do que pode ser feito com os dados do questionário
não são consideradas na análise. respondido pelos(as) beneficiários(as). As informações coletadas com os agentes
16
As respostas obtidas na referem-se aos 502 representantes das quatro instituições, em 97% dos municípios
aplicação dos questionários
estão apresentadas em tabelas
da amostra de beneficiários(as).17 Ou seja, esses dados possuem uma indiscutível
anexas ao texto. representatividade social, pois expressam a opinião de agentes ligados a essas ins-
17
Dos 144 municípios da
tituições em quase todos os municípios em que foram realizadas entrevistas com
amostra onde foram realizadas os(as) tomadores(as) de crédito.
entrevistas com beneficiários(as),
apenas em cinco não foram Iniciamos com uma breve caracterização dos representantes entrevistados das
aplicados questionários para os quatro instituições escolhidas. É importante notar que a caracterização resultante
agentes. Por outro lado, esses
questionários foram aplicados das entrevistas não surpreende em relação ao que se poderia esperar para os tipos
em seis municípios não incluídos de atores considerados em um estado como o Paraná.
na amostra de beneficiários(as).
Para evitar confusão, note-se Para todas as quatro instituições, mais de 90% das pessoas entrevistadas são
que a amostra de agricultores(as)
beneficiários(as) do Pronaf
homens e sua faixa de idade mais freqüente é de 35 a 49 anos (cerca de 60% do
incluiu 144 municípios, ao passo total), com exceção dos representantes dos STRs, nos quais 38% enquadram-se
que os questionários para os
agentes locais foram aplicados
nessa faixa etária e 40% têm entre 50 e 64 anos. Em relação ao cargo que ocupam,
em 146 municípios. quase 90% dos(as) entrevistados(as) do Banco do Brasil são gerentes de agências

IBASE : PRONAF . PARANÁ 48


municipais e, no caso dos STRs, 95% são membros da diretoria (presidente ou dire-
tores). No Emater, 64% das pessoas entrevistadas são técnicos(as)/extensionistas, e
31% ocupam cargos de chefia (coordenação e gerência). No caso das prefeituras,
30% dos entrevistados são prefeitos ou vice-prefeitos, e 53% ocupam a posição de
secretários municipais ou vereadores.
Quanto ao grau de escolaridade e o tempo de residência no município, as pes-
soas entrevistadas do Banco do Brasil, como esperado, apresentam o maior grau de
escolaridade (85% têm educação superior completa) e o menor tempo de residência
no município – 49% têm até dois anos de residência e 34% de três a dez anos. Os
representantes dos STRs são, entre todos os agentes entrevistados, os que possuem
os menores graus de escolaridade – 38% têm o ensino fundamental incompleto;
25%, o ensino fundamental completo; e 22%, o ensino médio completo –, mas têm
o maior tempo de moradia no município (71% moram há 30 anos ou mais, e 18%,
de 21 a 30 anos).
Os representantes das prefeituras também estão entre os que moram há mais
tempo nos municípios – 59% moram há 30 anos ou mais e apenas cerca de 8%
moram há menos de dez anos – e seu grau de escolaridade concentra-se nos que
têm educação superior completa (44% do total) e ensino médio completo (37%).
As pessoas entrevistadas do Emater seguem um padrão de escolaridade que tem
alguma semelhança com os das prefeituras – 58% com educação superior completa
e 36% com ensino médio completo –, embora seu tempo de moradia nos municí-
pios seja mais diversificado que o dos demais agentes: 22% residem de três a dez
anos; 44%, de 11 a 20 anos; 28%, 21 anos ou mais.

a) Percepções acerca dos impactos do Pronaf no desempenho da agricultura familiar


As informações para este item foram obtidas quando se perguntou aos(às)
entrevistados(as) das quatro instituições escolhidas sobre a importância dos impac-
tos do Pronaf: (1) na diversificação da produção, (2) na mudança dos sistemas de
produção, (3) no grau de tecnificação da produção, (4) no desenvolvimento de ativi-
dades não agrícolas, (5) na renda dos(as) agricultores(as) familiares, e (6) no cuidado
dos(as) agricultores(as) com o meio ambiente.18
As Tabelas 15 e 16 apresentam, para cada instituição, a participação no número
total de pessoas entrevistadas daquelas que consideram que os impactos do Pronaf
no desempenho da agricultura familiar são, respectivamente, “muito importantes”
18
As informações obtidas e “não importantes/pouco importantes”.
acerca da percepção dos
agentes das quatro instituições
sobre os impactos do Pronaf TABELA 15: PERCEPÇÃO DE AGENTES SOBRE OS IMPACTOS DO PRONAF NO DESEMPENHO DA AGRI-
em cada um dos indicadores CULTURA FAMILIAR – % DAS RESPOSTAS “MUITO IMPORTANTE” NO TOTAL DAS RESPOSTAS DE
mencionados foram classificadas CADA TIPO DE AGENTE CONSIDERADO – 2006
em três grupos: (a) não houve
mudança/pouco importante, (b)
média importância/importante,
Indicadores de impacto Banco do Brasil Emater Prefeitura STRs
(c) muito importante. A soma Na diversificação da produção 52 37 36 48
das respostas dos três grupos,
para cada instituição, é igual a Na mudança dos sistemas de
44 26 30 31
100%. Na análise desse item e produção
dos demais, serão considerados
apenas os grupos extremos No grau de tecnificação da
47 32 29 34
(a) e (c), pois oferecem um produção
contraste mais definido e nítido
da percepção dos agentes. A No desenvolvimento de
38 9 15 17
classificação “média importância/ atividades não agrícolas
importante” representa uma
espécie de “zona cinzenta”, na
Na renda de agricultores 69 56 53 54
qual a apreciação da percepção No cuidado com o meio ambiente 34 12 22 42
das pessoas entrevistadas é
menos clara. Fonte: Ibase, pesquisa Pronaf 2006

IBASE : PRONAF . PARANÁ 49


TABELA 16: PERCEPÇÃO DE AGENTES SOBRE OS IMPACTOS DO PRONAF NO DESEMPENHO DA AGRI-
CULTURA FAMILIAR – % DAS RESPOSTAS “NÃO HOUVE MUDANÇAS/POUCO IMPORTANTE” NO TO-
TAL DAS RESPOSTAS DE CADA TIPO DE AGENTE CONSIDERADO – 2006

Banco do
Indicadores de impacto Emater Prefeituras STRs
Brasil
Na diversificação da produção 2 11 3 7
Na mudança dos sistemas de
1 8 4 11
produção
No grau de tecnificação da produção 1 6 3 5
No desenvolvimento de
14 28 20 22
atividades não agrícolas
Na renda de agricultores 1 2 4 2
No cuidado com o meio ambiente 8 20 14 14
Fonte: Ibase, pesquisa Pronaf 2006

De modo geral, é relativamente reduzida a participação, no total de pessoas


entrevistadas em todas as instituições, de agentes que consideram que o Pronaf não
tem impactos no desempenho das agriculturas familiares locais ou que eles são pou-
co importantes, quando expressos por meio dos indicadores utilizados (Tabela 16).
Isso é uma espécie de consenso entre pessoas entrevistadas das quatro instituições.
É possível, talvez, que a existência desse acordo entre agentes de instituições tão re-
levantes no meio rural seja um dos fatores de inércia para a inviabilidade de mudan-
ças na concepção e na operacionalização do Pronaf tão reivindicadas por lideranças
de agricultores(as) e mesmo por técnicos(as) de Assistência Técnica e Extensão Rural
(Ater) e membros de cooperativas que atuam entre os(as) agricultores(as) familiares
do Paraná.
Ademais, essa percepção é especialmente notável entre gerentes do Banco
do Brasil, o que nos coloca diante de um aparente paradoxo. Enquanto lideranças
de agricultores(as) familiares, técnicos(as) do Emater e dirigentes de cooperativas
entrevistados(as) nas regiões Oeste, Sudoeste e Vale do Ribeira tendem a considerar
que o Banco do Brasil é, em geral, um obstáculo para a realização de mudanças no
modelo do Pronaf que viabilizem impactos mais positivos sobre a sustentabilidade
da agricultura familiar local, os gerentes do Banco do Brasil são os que manifestam,
com maior vigor, a percepção de que os impactos do Pronaf, tal como implementa-
do atualmente, são muito importantes sobre os seis indicadores considerados (com
exceção de um).
O impacto sobre a renda dos(as) agricultores(as) familiares é o impacto do Pro-
naf respondido como mais importante por um maior número de agentes nas quatro
instituições (Tabela 15). Por ordem decrescente de importância, seguem os impactos
na diversificação e no grau de tecnificação da produção, e na mudança dos sistemas
produtivos.
Possivelmente, não há muita contestação acerca da importância do Pronaf para
a renda dos(as) agricultores(as) familiares paranaenses. Por ser a agricultura familiar
um setor de considerável fragilidade financeira, é muito provável que, sem o acesso
ao crédito do Pronaf, os(as) agricultores(as) familiares estariam em pior situação.
Essa é uma percepção reforçada pelos estudos de caso, especialmente quando se
considera a importância significativa que o crédito desempenha nas estratégias de
reprodução das famílias.
Isso não ocorre, entretanto, com relação aos impactos sobre a diversificação e
o grau de tecnificação da produção e sobre as mudanças dos sistemas produtivos.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 50


Quanto ao primeiro indicador, observa-se uma nítida contradição entre a percepção
dos agentes e o observado nos estudos de caso e nas informações colhidas nos
questionários aplicados aos(às) agricultores(as). Os impactos do Pronaf sobre a di-
versificação da produção são, de modo geral, bastante débeis, como foi observado
por meio daqueles dois instrumentos, a ponto de um número considerável de atores
locais entrevistados considerarem que o modelo do Pronaf – sua concepção e ope-
racionalização – estimula a especialização produtiva.19
Em relação aos impactos no grau de tecnificação da produção e nas mudanças
dos sistemas produtivos, é possível que os agentes tenham interpretado a pergun-
ta no sentido da existência de estruturas produtivas agrícolas baseadas na utiliza-
ção de adubos químicos, de agrotóxicos e de sementes selecionadas. Entendidas
dessa forma, as evidências obtidas sugerem que o Pronaf provocou impactos no
grau de tecnificação da produção e estimulou a adoção de sistemas produtivos
com aquele padrão tecnológico. No entanto, se entendermos o grau de tecnifica-
ção como o grau de capitalização dos estabelecimentos familiares, medido pela
propriedade de máquinas e de equipamentos utilizados na produção agrícola, os
impactos são menos importantes, até mesmo em função da pouca importância
do crédito de investimento vis-à-vis o de custeio na carteira de crédito dos(as)
agricultores(as) familiares.20 Da mesma forma, se entendermos as mudanças dos
sistemas produtivos como, por exemplo, a transição de sistemas tradicionais para
19
O binômio soja/milho é agroecológicos ou agroflorestais, o impacto do Pronaf foi, de modo geral, pouco
majoritário em todos os grupos
de beneficiários(as) do Pronaf (C,
relevante, como exemplificam os estudos de caso e as informações coletadas na
D e E) no Paraná, como se deduz amostra de beneficiários(as).21
da análise dos questionários.
Note-se que, na Tabela 16, as O impacto no desenvolvimento de atividades não agrícolas é o indicador de
respostas que os impactos do impactos do Pronaf no desempenho da agricultura familiar em que a incidência
Pronaf na diversificação da
produção são nulos ou pouco de pessoas que responderam que “não houve mudança/pouco importante” é re-
importantes foram dadas por lativamente maior (Tabela 16).22 Esse resultado está de pleno acordo com as ob-
11% dos(as) técnicos(as) do
Emater que responderam à servações dos estudos de caso e com as informações coletadas nos questionários
questão. Isso contrasta com
os 2% do total de gerentes do
dos(as) agricultores(as) beneficiados(as) com o crédito, o que permite sugerir que,
Banco do Brasil que opinaram em geral, o Pronaf está sendo bastante inoperante no Paraná para o desenvolvi-
acerca da mesma questão.
mento da pluriatividade nos estabelecimentos familiares e para a viabilização dessas
20
Exceto no caso dos(as) atividades como uma fonte adicional de renda nas estratégias de reprodução dos(as)
beneficiários(as) do grupo
E, os demais grupos de agricultores(as) familiares.
agricultores(as) que precisam Por fim, o indicador dos impactos do Pronaf no cuidado dos(as) agricultores(as)
desses equipamentos são
obrigados a usá-los via locação e com o meio ambiente é apreciado de forma variável pelos agentes entrevistados
prestação de serviços. das quatro instituições. Por um lado, é o segundo indicador, depois do indicador
21
Entre dirigentes sindicais que das atividades não agrícolas, em que o número de pessoas entrevistadas que res-
opinaram sobre os impactos do
Pronaf na mudança dos sistemas
ponderam que os impactos são nulos ou pouco importantes é maior. Por outro,
produtivos, 11% responderam também obteve uma alta incidência relativa de pessoas que consideram que os
que os impactos foram nulos
ou pouco importantes. Note-
impactos são muito importantes: 34% do total no Banco do Brasil, 42% nos STRs
se o contraste com o 1% e 22% nas prefeituras.
correspondente do total de
gerentes do Banco do Brasil. A questão é, de fato, complexa e polêmica. O que as informações obtidas nos
questionários dos(as) beneficiários(as) parecem sugerir é que – não obstante o estí-
22
Embora ocorram variações
relevantes nessa apreciação mulo ao uso de agroquímicos e a inexistência nos estabelecimentos de ações relacio-
entre as instituições: 37% nadas ao reflorestamento – os(as) agricultores(as) familiares que acessam o Pronaf
dos(as) gerentes do Banco
do Brasil entrevistados(as) têm aumentado, ao longo do tempo, sua preocupação com o uso e a conservação
responderam que esses impactos
são “muito importantes”, o
dos solos, e com a preservação ambiental, o que se manifesta, por exemplo, no uso
que contrasta agudamente crescente de adubação verde, rotação de culturas, plantio direto, calagem e terrace-
com os 9% correspondentes do
total de técnicos(as) da Emater
amento, por um lado, e de controle de erosão, destino adequado dos recipientes de
entrevistados(as). agrotóxicos e proteção de fontes de água, por outro.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 51


b) Percepções acerca dos impactos do Pronaf no desenvolvimento local/regional
As informações necessárias para este item foram obtidas quando se perguntou
às pessoas entrevistadas sobre a importância dos impactos do Pronaf: (1) na estru-
tura fundiária, (2) na fixação da população no campo, (3) no desenvolvimento de
cadeias produtivas, (4) na arrecadação municipal, (5) na criação de novos canais de
comercialização, (6) no grau de organização dos(as) agricultores(as), (7) na criação
de postos de trabalho e (8) na atividade comercial local/regional.23
As Tabelas 17 e 18 mostram, para cada instituição, a participação no número
total de pessoas entrevistadas daquelas que consideram, respectivamente, que (a)
os impactos do Pronaf no desenvolvimento local/regional foram muito importantes
e (b) que não houve mudança ou que os impactos foram pouco importantes.
Como no item anterior, no caso da percepção dos impactos do Pronaf no de-
senvolvimento local/regional, a participação daqueles que consideram que esses
impactos são nulos ou pouco importantes, no número total de agentes entrevista-
dos nas quatro instituições, é relativamente reduzida, o que sugere uma avaliação
comum positiva dos impactos do programa nesse campo (Tabela 18). Assim como
nas percepções acerca dos impactos no desempenho da agricultura familiar, aqui a
maior participação no total de agentes que avaliam que os impactos do Pronaf no
desenvolvimento local/regional são muito importantes encontra-se entre gerentes
do Banco do Brasil (Tabela 17).
A maioria de agentes das quatro instituições acredita que os impactos do Pronaf
sobre a fixação da população no campo são muito importantes, o que é confirmado
pelos estudos de caso, embora as informações obtidas nos questionários dos(as)
beneficiários(as) não sugiram grandes mudanças, associadas ao Pronaf, no emprego
agrícola nos estabelecimentos agropecuários. De qualquer modo, há coerência nas
percepções de agentes quando destacam que os impactos sobre a renda dos(as)
agricultores(as) familiares e sobre a fixação da população no campo estão entre os
impactos mais importantes do Pronaf no desempenho da agricultura familiar e no
desenvolvimento local/regional. Isso é reforçado – tendo em vista seus prováveis
efeitos indiretos sobre a criação de empregos – pelo fato de que os impactos na
atividade comercial local/regional e na arrecadação municipal são vistos também
como muito importantes por um número expressivo de pessoas entrevistadas em
cada uma das instituições.24

TABELA 17: PERCEPÇÃO DE AGENTES SOBRE OS IMPACTOS DO PRONAF NO DESENVOLVIMENTO


LOCAL/REGIONAL – % DAS RESPOSTAS “MUITO IMPORTANTE” NO TOTAL DAS RESPOSTAS DE CADA
TIPO DE AGENTE CONSIDERADO – 2006

Indicadores de impacto Banco do Brasil Emater Prefeituras STRs


23
Como no item anterior, as
pessoas entrevistadas tiveram Na estrutura fundiária 39 16 21 14
a possibilidade de responder,
para cada indicador, escolhendo Na fixação da população no campo 67 46 50 44
apenas uma das seguintes
No desenvolvimento de cadeias
alternativas: (a) não houve 49 27 37 43
mudança/pouco importante, (b) produtivas
média importância/importante, Na arrecadação municipal 34 35 44 38
e (c) muito importante. Pelas
razões já mencionadas, Na criação de novos canais de
24 6 18 21
utilizaremos apenas as comercialização
alternativas (a) e (c) na análise.
No grau de organização de
36 15 23 37
Um percentual de 44%
24
agricultores
dos membros do poder
municipal entrevistados julga Na criação de postos de trabalho 33 22 27 26
que os impactos do Pronaf na Na atividade comercial local/regional 57 34 34 34
arrecadação municipal são muito
importantes (Tabela 17). Fonte: Ibase, pesquisa Pronaf 2006

IBASE : PRONAF . PARANÁ 52


TABELA 18: PERCEPÇÃO DE AGENTES SOBRE OS IMPACTOS DO PRONAF NO DESENVOLVIMENTO
LOCAL/REGIONAL – % DAS RESPOSTAS “NÃO HOUVE MUDANÇAS/POUCO IMPORTANTE” NO TOTAL
DAS RESPOSTAS DE CADA TIPO DE AGENTE CONSIDERADO – 2006

Indicadores de impacto Banco do Brasil Emater Prefeituras STRs


Na estrutura fundiária 6 27 18 24
Na fixação da população no campo 1 6 4 6
No desenvolvimento de cadeias
3 7 5 4
produtivas
Na arrecadação municipal 3 4 5 3
Na criação de novos canais de
9 15 17 16
comercialização
No grau de organização de
2 8 6 11
agricultores
Na criação de postos de trabalho 3 5 9 14
Na atividade comercial local/regional 4 2 5 10
Fonte: Ibase, pesquisa Pronaf 2006

Em contraposição, a maior incidência de pessoas que, em relação ao total en-


trevistado em cada instituição, entendem que o impacto do Pronaf sobre o de-
senvolvimento local/regional é nulo ou pouco importante refere-se aos indicadores
“estrutura fundiária” e “criação de novos canais de comercialização”. Ou seja, para
os quatro tipos de agentes, a implementação do Pronaf não produziu alterações per-
ceptíveis na estrutura fundiária local/regional, nem foi capaz de estimular a criação
de novos canais de comercialização, observações que não são questionadas nem
pelos estudos de caso, nem pelos questionários aplicados aos(às) beneficiários(as)
do crédito. Pelo contrário, em regiões como o Vale do Ribeira, a falta generalizada
de documentação das terras é um dos empecilhos mais importantes ao acesso ao
crédito, bem como a presença dos bodegueiros é um obstáculo significativo aos
impactos do Pronaf sobre o desempenho da agricultura familiar, o que explica, entre
outros fatores, a enorme receptividade da política de garantia de compra implemen-
tada pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) entre a maioria das lideranças
dos(as) agricultores(as) da região.
Por fim, um número relativamente menor de agentes em cada instituição con-
siderou que os impactos do Pronaf na criação de postos de trabalho são muito
importantes, o que é aparentemente conseqüente com a constatação de que a
dinâmica de criação de empregos do programa nos estabelecimentos é pouco sig-
nificativa, mas vai na contramão da percepção generalizada de que os impactos
na fixação da população no campo são muito relevantes. Cabe ainda destacar que
uma parcela expressiva de membros da diretoria dos STRs entrevistados apreciou
como muito importante os impactos do Pronaf no desenvolvimento de cadeias
produtivas e no grau de organização dos(as) agricultores(as) (43% e 37% do total,
respectivamente), impactos nitidamente observados, por exemplo, no estudo de
caso sobre o Vale do Ribeira e o Sudoeste – nesse caso, particularmente no que se
refere à questão organizativa.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 53


c) Percepções acerca do que é importante para o desenvolvimento da agricultura
familiar na região
As informações para este item foram coletadas por meio do mesmo questioná-
rio utilizado para os demais itens, mas incorporando as 13 atividades e/ou políticas
públicas submetidas à consideração de agentes entrevistados das quatro instituições
escolhidas para que indicassem sua percepção acerca do grau de importância de
cada uma delas para o desenvolvimento local da agricultura familiar.25 As ativida-
des e/ou políticas públicas incluídas no questionário são: (1) crédito fundiário, (2)
diversificação da produção, (3) fomento ao artesanato, (4) fortalecimento do asso-
ciativismo/cooperativismo, (5) fortalecimento do turismo, (6) garantia de compra da
produção, (7) incentivo à agroindústria, (8) mais assistência técnica, (9) mais crédito
de custeio para a produção, (10) mais crédito de investimento para a produção, (11)
melhor infra-estrutura (eletricidade, estradas, etc.), (12) melhoria na educação, e (13)
novos canais de comercialização.
As Tabelas 19 e 20 apresentam a participação, no total, do número de pessoas en-
trevistadas em cada uma das instituições escolhidas que avaliaram, respectivamente,
como “muito importante” e como “não importante/pouco importante” para o desen-
volvimento da agricultura familiar local/regional a implementação das 13 atividades
e/ou políticas públicas submetidas à sua apreciação.

TABELA 19: PERCEPÇÃO DE AGENTES SOBRE AS ATIVIDADES E/OU POLÍTICAS PÚBLICAS IMPORTAN-
TES PARA O DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR NA REGIÃO – % DAS RESPOSTAS “MUI-
TO IMPORTANTE” NO TOTAL DAS RESPOSTAS DE CADA TIPO DE AGENTE CONSIDERADO – 2006

Atividades e/ou políticas


Banco do Brasil Emater Prefeituras STRs
públicas
Crédito fundiário 38 40 44 50
Diversificação da produção 73 53 73 71
Fomento ao artesanato 16 8 18 22
Fortalecimento do associatismo/
66 47 55 66
cooperativismo
Fortalecimento do turismo 16 13 27 22
Garantia de compra da produção 57 62 72 77
Incentivo à agroindústria 69 57 65 68
Mais assistência técnica 67 72 71 73
Mais crédito de custeio 46 53 67 70
Mais crédito de investimento 51 64 74 77
Melhor infra-estrutura 63 40 46 72
Melhoria na educação 77 62 61 76
Novos canais de comercialização 58 60 63 75
25
De modo semelhante aos
itens anteriores, buscou-se Fonte: Ibase, pesquisa Pronaf 2006
captar a percepção das pessoas
entrevistadas acerca do grau
de importância de cada uma
Iniciemos considerando as atividades e/ou políticas públicas para as quais a clas-
das atividades e/ou políticas sificação como “muito importante” obteve uma freqüência de, no mínimo, 70% do
enumeradas no questionário
por meio de sua escolha de
total de respostas dadas pelos agentes entrevistados em cada uma das instituições.
uma, e apenas uma, das
seguintes categorizações:
(a) não é importante/pouco
importante, (b) média
importância/importante, (c)
muito importante. Como antes,
a análise se concentrará no uso
das informações obtidas nas
categorias (a) e (c).

IBASE : PRONAF . PARANÁ 54


TABELA 20: PERCEPÇÃO DE AGENTES SOBRE AS ATIVIDADES E/OU POLÍTICAS PÚBLICAS IMPORTAN-
TES PARA O DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR NA REGIÃO – % DAS RESPOSTAS “NÃO
IMPORTANTE/POUCO IMPORTANTE” NO TOTAL DAS RESPOSTAS DE CADA TIPO DE AGENTE CONSIDE-
RADO – 2006

Atividades e/ou políticas


Banco do Brasil Emater Prefeituras STRs
públicas
Crédito fundiário 8 18 7 8
Diversificação da produção 0 1 0 1
Fomento ao artesanato 15 26 10 10
Fortalecimento do associatismo/
1 5 2 1
cooperativismo
Fortalecimento do turismo 16 17 9 18
Garantia de compra da produção 6 3 3 4
Incentivo à agroindústria 1 2 3 3
Mais assistência técnica 1 1 1 0
Mais crédito de custeio 1 1 1 2
Mais crédito para a produção 0 0 0 0
Melhor infra-estrutura 1 5 2 1
Melhoria na educação 0 2 2 0
Novos canais de comercialização 2 2 1 1
Fonte: Ibase, pesquisa Pronaf 2006

Em termos gráficos, a situação obtida é a seguinte:

GRÁFICO 22: PERCEPÇÃO DE AGENTES – ATIVIDADES COM MAIORES PERCENTUAIS PARA RESPOSTA
“MUITO IMPORTANTE”

75%
Novos canais de 63%
comercialização 60%
58%

76%
Melhoria na educação 61%
62%
77%

72%
46%
Melhor infra-estrutura
40%
63%

77%
Mais crédito 74%
de investimento 64%
51%

73%
71%
Mais assistência técnica
72%
67%

77%
Garantia de 72%
compra da produção 62%
57%

71%
Diversificação 73%
da produção 53%
73%

Banco do Brasil Emater Prefeituras STRs

IBASE : PRONAF . PARANÁ 55


É notável, por exemplo, a diferença entre a percepção de agentes do Emater e
dos STRs. Para os primeiros, apenas o indicador de “mais assistência técnica” obte-
ve uma freqüência de respostas igual ou superior a 70% do total. Para os últimos,
cerca de oito indicadores atingiram a freqüência de 70% (ou 68%) ou mais, o que
parece sugerir uma percepção mais diversificada das atividades ou políticas públicas
mais importantes para o desenvolvimento da agricultura familiar local por parte dos
membros dos STRs entrevistados.
De qualquer modo, é possível identificar um “pacote”, bastante coerente, de
atividades e/ou políticas públicas que figuram como mais importantes nas respostas
de todos os agentes das quatro instituições: a diversificação da produção; mais assis-
tência técnica; mais crédito para investimento; e garantia de compra da produção.26
Mas chama a atenção o peso relativamente menor atribuído por agentes do Banco
do Brasil a “mais crédito para investimento” (51%), o que pode sugerir uma tendên-
cia dessa instituição em se concentrar no crédito de custeio, com pouca abertura
para a linha de investimento.
Se observarmos a freqüência de respostas “muito importante” que alcança, no
máximo, 40% do total, para, pelo menos, um dos tipos de agentes, esta é a distri-
buição gráfica:

GRÁFICO 23: PERCEPÇÃO DE AGENTES – ATIVIDADES COM MENORES PERCENTUAIS PARA RESPOSTA
“MUITO IMPORTANTE”

72%
Melhor 46%
infra-estrutura 40%
63%

50%
Crédito fundiário 44%
40%
38%

22%
27%
Fortalecimento do turismo
13%
16%

22%
Fomento ao 18%
artesanato 8%
16%

Banco do Brasil Emater Prefeituras STRs


26
No caso do Emater, “mais
crédito para investimento” é
a segunda resposta “muito
Há unanimidade entre agentes das quatro instituições de que as atividades e/ou
importante” de maior
freqüência (64% do total) políticas públicas de “fomento ao artesanato” e de “fortalecimento do turismo”
e “garantia de compra da
produção” é a terceira (62%).
são as que receberam a menor freqüência de respostas “muito importante” no
A resposta “diversificação total, embora essa freqüência seja menor para agentes do Emater e do Banco do
da produção” aparece com
menor freqüência de “muito Brasil do que para os das prefeituras e dos STRs. Para agentes das duas primeiras
importante” (53%). O padrão instituições, o “crédito fundiário” figura como o indicador seguinte de menor fre-
de respostas dos(as) gerentes
do Banco do Brasil é um pouco qüência de respostas “muito importante” em relação ao total. No caso dos membros
diferente, pois nele o indicador de diretorias de STRs entrevistados, a freqüência de respostas “muito importante”
“melhoria na educação”
atinge a maior freqüência de atribuídas ao indicador “crédito fundiário” foi de 50% do total.
“muito importante” no total
Em suma, para agentes entrevistados do Banco do Brasil, do Emater, das prefei-
(77%) e o indicador “incentivo
à agroindústria” ocupa uma turas e dos STRs, o “padrão” consensual de atividades e/ou políticas públicas perce-
posição relativa mais elevada
em relação aos demais agentes
bidas como relativamente mais importantes para o desenvolvimento da agricultura
(Tabela 19). familiar local/regional concentra-se nas atividades agrícolas – com pouca importância

IBASE : PRONAF . PARANÁ 56


atribuída à pluriatividade – com destaque para a diferenciação da produção, a dis-
ponibilidade de mais assistência técnica e de mais crédito para investimento, e a
garantia de compra da produção ofertada.
É interessante comparar esse “padrão” de percepção de agentes das quatro insti-
tuições escolhidas com a percepção dos(as) agricultores(as) beneficiários(as) do Pronaf
acerca das atividades e/ou políticas públicas consideradas mais importantes para o
desenvolvimento da agricultura familiar local.27 A Tabela 21 mostra a freqüência, em
relação ao total, das respostas “muito importante” dadas pelos(as) beneficiários(as)
do crédito rural, distribuídos(as) entre os grupos C, D e E, a cada um dos 12 indica-
dores que lhes foram submetidos para que avaliassem sua importância relativa para o
desenvolvimento da agricultura familiar na região.

TABELA 21: PERCEPÇÃO DE AGENTES SOBRE AS ATIVIDADES E/OU POLÍTICAS PÚBLICAS IMPORTAN-
TES PARA O DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR NA REGIÃO – % DAS RESPOSTAS “MUI-
TO IMPORTANTE” NO TOTAL DAS RESPOSTAS DADAS PELO TOTAL DE BENEFICIÁRIOS ENTREVISTADOS,
DISTRIBUÍDOS SEGUNDO O GRUPO DE CRÉDITO EM QUE SE ENQUADRAM* – 2006

Atividades e/ou políticas Total (C + D + E)


Grupo C Grupo D Grupo E
públicas ponderado
Crédito fundiário 40 36 32 38
Diversificação da produção 36 44 44 39
Fomento ao artesanato 12 11 12 12
Fortalecimento do associatismo/
32 34 33 33
cooperativismo
Fortalecimento do turismo 15 12 10 14
Garantia de compra da produção 62 68 67 64
Incentivo à agroindústria 38 48 49 42
Mais assistência técnica 56 56 51 55
Mais crédito para a produção 57 62 56 59
Melhor infra-estrutura 55 54 53 55
Melhoria na educação 44 49 47 46
Novos canais de comercialização 51 58 54 54
*As respostas foram classificadas em (1) pouco importante; (2) (menos) importante; (3) importante; (4) (mais)
importante; (5) muito importante. A soma das respostas dadas a esses cinco grupos totaliza 100%

Nota-se uma unanimidade perfeita entre os três grupos de crédito acerca da im-
portância de um “pacote” de políticas públicas para o desenvolvimento da agricul-
tura familiar que inclua comercialização, crédito rural, assistência técnica e melhoria
27
No questionário aplicado na infra-estrutura (eletricidade, estradas, etc.). No caso dos grupos D e E, ganha
aos(às) agricultores(as)
beneficiários(as) do Pronaf, existe importância adicional a política de incentivo à agroindústria (48% e 49%, respec-
um item (57) que pergunta o
tivamente). Chama a atenção, por outro lado, que a “diversificação da produção”
que o(a) beneficiário(a) “acha
que é importante para o não figura nesse “pacote” comum das percepções dos(as) beneficiários(as) do Pro-
desenvolvimento da agricultura
familiar na sua região”. As
naf acerca das atividades e/ou das políticas públicas consideradas mais importantes
respostas são dadas em relação para o desenvolvimento da agricultura familiar local. Essa é, aliás, a grande diferença
a 12 indicadores, os mesmos
utilizados no questionário existente entre o “pacote” de prioridades dos(as) agricultores(as) beneficiários(as)
aplicado aos agentes, com a do Pronaf e o dos agentes locais do Banco do Brasil, do Emater, das prefeituras e
diferença de que os indicadores
“mais crédito para investimento” dos STRs.
e “mais crédito de custeio”, que Se considerarmos apenas as atividades e/ou políticas públicas que apresentam
figuram neste último, aparecem
agregados no indicador “mais freqüência de, no mínimo, 50% em relação ao total, sua distribuição por grupos de
crédito para produção” no
crédito é a seguinte (gráfico 23):
questionário aplicado aos(às)
beneficiários(as) do crédito rural.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 57


GRÁFICO 24: PERCEPÇÃO DE AGRICULTORES BENEFICIÁRIOS – ATIVIDADES COM MAIORES PERCENTUAIS
PARA RESPOSTA “MUITO IMPORTANTE”

54%
Novos canais de 54%
comercialização 58%
51%

55%
Melhor infra- 53%
estrutura 54%
55%

59%
Mais crédito para 56%
a produção 62%
57%

55%
Mais assistência técnica 51%
56%
56%

64%
Garantia de compra 67%
da produção 68%
62%

Grupo C Grupo D Grupo E Total ponderado

Se, por outro lado, considerarmos apenas as atividades e/ou políticas públicas
para as quais a freqüência de respostas “muito importante” foi, no máximo, de 35%
do total, sua distribuição por grupos de crédito é a que segue:

GRÁFICO 25: PERCEPÇÃO DE AGRICULTORES BENEFICIÁRIOS – ATIVIDADES COM MENORES PERCENTUAIS


PARA RESPOSTA “MUITO IMPORTANTE”

38%
Crédito fundiário 32%
36%
40%

33%
Fortalecimento do 33%
associativismo/cooperativismo 34%
32%

14%
10%
Fortalecimento do turismo
12%
15%

12%
Fomento ao 12%
artesanato 11%
12%

Grupo C Grupo D Grupo E Total ponderado

Novamente, a homogeneidade de percepções é impressionante. Não surpreende


a relativamente baixa freqüência de respostas “muito importante” dadas pelos(as)
beneficiários(as) do crédito rural ao “fomento ao artesanato” e ao “fortalecimento
do turismo”. Segue uma tendência aparentemente perceptível no Paraná de os ato-
res locais atribuírem um peso relativamente menor à importância da pluriatividade
para o desenvolvimento da agricultura familiar regional.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 58


À primeira vista, surpreende a freqüência também relativamente baixa do in-
dicador “fortalecimento do associativismo/cooperativismo” nas respostas dos(as)
beneficiários(as) nos três grupos de crédito considerados. Nos estudos de caso, a
dimensão associativa é bastante valorizada por agentes como forma de agregar
valor à produção, bem como de viabilizar a comercialização.
Isso também pode ser dito quanto à “diversificação da produção”, um dos in-
dicadores que aparecem entre as percepções do grupo C, mas não nos grupos D
e E, nos quais a freqüência, no total, de respostas “muito importante” para esse
indicador é superior à do grupo C (44% contra 36%). Essa observação também é
surpreendente porque os estudos de caso e as percepções de agentes, examinadas
anteriormente, sugerem a importância estratégica da diversificação produtiva para
a sustentabilidade de todos os tipos de agricultura familiar existentes no Paraná. É
possível supor que a tendência à maior especialização produtiva dos grupos D e E
em relação ao grupo C torna-os mais sensíveis à importância da diversificação para
a sustentabilidade de sua reprodução econômica e social, não obstante as enormes
dificuldades para viabilizá-la.
Contudo, deve-se ponderar que a tendência do(a) agricultor(a) familiar é a de
apontar políticas que estejam mais coladas às suas necessidades concretas, como a
compra da produção, mais crédito, assistência técnica e infra-estrutura. Isso reforçaria,
igualmente, a constatação da tendência dos(as) agricultores(as) familiares em repro-
duzir o modelo produtivo no sentido da obtenção “de mais do mesmo”. Desse modo,
pode-se ponderar que os percentuais atribuídos à “diversificação produtiva” e ao “for-
talecimento do associativismo/cooperativismo” não sejam, de fato, pouco expressivos.

4.2 SUSTENTABILIDADE DA AGRICULTURA FAMILIAR: ABORDAGENS REGIONAIS

O eixo analítico condutor desta abordagem é a sustentabilidade da agricultura


familiar e seu principal objetivo é avaliar o impacto do Pronaf sobre ela em regiões
selecionadas. Entende-se por sustentabilidade da agricultura familiar a capacidade
de as famílias implementarem estratégias de reprodução que viabilizem, ao longo
28
Entende-se por estudo de do tempo, a melhoria de suas condições sociais e econômicas, conservando e uti-
caso a tentativa de observar
e caracterizar especificidades lizando a diversidade de recursos naturais, culturais, econômicos e sociais de que
regionais dos impactos do disponham, bem como dos agroecossistemas existentes.
Pronaf, levando-se em conta
documentos e informações O ponto de partida dos estudos de caso28 foi, então, a identificação e a carac-
disponíveis e, em especial, terização dos padrões de inserção socioeconômica e cultural da agricultura familiar
as visões de informantes
considerados privilegiados em ambientes econômico-sociais determinados, o que, na análise empírica, será
em virtude da posição que
aproximado inicialmente pela descrição da relação entre agricultores(as) familiares
ocupam como atores nos
processos sociais, econômicos heterogêneos(as) e cadeias produtivas diferenciadas. Nesse sentido, o conceito de
e políticos que influenciam a
agricultura familiar no Paraná.
cadeia produtiva é um conceito-chave nessa abordagem, desde que compreendido
O termo “estudo de caso” foi como o conjunto de estruturas e de relações econômicas, sociais e tecnológicas que
empregado por ser o que mais
se aproxima daquilo que se se estendem da produção à comercialização de bens e/ou de serviços resultantes de
pretende como uma análise mais uma atividade agropecuária ou de um conjunto dessas atividades. Entendido dessa
focada, localizada e baseada
em visitas a campo por parte forma, o conceito contempla a possibilidade de situações em que a cadeia produtiva
dos(as) pesquisadores(as). O esteja “incompleta”, o que ocorre quando esse conjunto de estruturas e de relações
rigor metodológico a que se
propõe esta parte do trabalho econômicas, sociais e tecnológicas, anteriormente mencionado, está presente ape-
de pesquisa está baseado nas
nas de modo parcial.
demandas impostas pelo objeto
e pela abordagem proposta e Duas observações devem ser feitas de imediato. Primeiro, o conceito de ca-
não se atém a qualquer definição
canônica ou consagrada do
deia produtiva, neste estudo, não deve ser confundido com o de “agronegócio”, tal
termo “estudo de caso”. como tem sido empregado em diversos contextos. Segundo, a cadeia produtiva não

IBASE : PRONAF . PARANÁ 59


é a simples conseqüência de determinações e de relações técnicas: é o resultado de
processos temporais, dinâmicos – sempre provisórios – cuja caracterização depende-
rá de relações econômicas, sociais, culturais e políticas, além das relações técnicas.
Sendo assim, a cadeia produtiva é um campo de lutas entre os diferentes atores que
dela fazem parte, cuja participação na estrutura da cadeia e no volume de excedente
por ela gerado depende do poder de que disponham, do tipo de relação que estabe-
leçam com as empresas, nacionais e internacionais, de agronegócio e do acesso que
tenham ao Estado e às políticas públicas. Note-se que as duas primeiras situações,
juntamente com a capacidade de influenciar o padrão tecnológico predominante,
são decisivas para explicar a própria capacidade diferenciada de poder de que dis-
põem os diversos atores da cadeia produtiva.
Uma conseqüência importante das observações anteriores na condução dos es-
tudos de caso é a necessidade de estar atento tanto para a percepção de ocorrência
de interações sinérgicas entre os diferentes atores como para os conflitos e as rela-
ções de poder existentes. A configuração atual, e sempre provisória, de uma deter-
minada cadeia produtiva estará provavelmente muito influenciada pela existência ou
não de sinergias entre os atores (e do tipo que assumam) e pela capacidade ou não
de a cadeia produtiva resolver os conflitos existentes (e a forma de sua resolução).
Três elementos adicionais são contemplados na metodologia dos estudos de
caso. Primeiro, embora seu objetivo central seja avaliar os impactos do Pronaf sobre
a sustentabilidade da agricultura familiar, os casos também pretendem organizar
algumas informações acerca do impacto do Pronaf sobre a economia local e sobre
a dinâmica demográfica local, complementando os dados obtidos pela aplicação
dos questionários.29 Sabe-se que impactos sobre a economia local não necessaria-
mente estão associados a impactos positivos sobre a sustentabilidade da agricultura
familiar. Em alguns casos, a associação pode até ser negativa. Entretanto, é possível
esperar que impactos positivos do Pronaf sobre a agricultura familiar terão, de modo
geral, efeitos positivos também sobre a economia local, por exemplo, pelo aumento
da produção agrícola, da dinamização do comércio, da elevação da arrecadação
municipal, etc. No que se refere à dinâmica demográfica local, ela está normalmente
muito associada à tendência e aos movimentos cíclicos da agricultura familiar. Desse
modo, é provável que impactos positivos do Pronaf tendam a reduzir ou estancar os
fluxos de saída de mão-de-obra do meio rural ou mesmo possam contribuir para a
sua reversão.
Em segundo lugar, as condições de sustentabilidade da agricultura familiar, tal
como definida anteriormente, estarão fortemente dependentes de três condicionan-
tes principais:

1. tecido associativo dos(as) agricultores(as) – uma hipótese dessa aborda-


gem metodológica é que um tecido associativo forte favorece a sustentabili-
dade da agricultura familiar porque aumenta sua capacidade de ação coletiva
e seu poder de barganha com o mercado, o Estado e a sociedade civil, criando
melhores condições para a alteração das relações de poder que controlam
os mecanismos econômicos, sociais e políticos que determinam o acesso aos
recursos e às políticas públicas. Da mesma forma, a existência de um tecido
associativo fortalecido é tratada por essa abordagem como uma condição in-
dispensável para que as organizações e os movimentos dos(as) agricultores(as)
familiares possam desencadear um amplo debate sobre os problemas atuais
29
Utilizamos, neste texto, os
termos local e regional de forma
e sobre possíveis alternativas ao modelo agrícola predominante que contem-
intercambiável. plem a plena diversidade constituinte da agricultura familiar;

IBASE : PRONAF . PARANÁ 60


2. base técnica de produção – a base técnica de produção condiciona a sus-
tentabilidade da agricultura familiar em pelo menos dois aspectos. Por um lado,
influencia de forma decisiva os custos e os modos de produção e o que será
produzido, afetando tanto custos como receitas monetárias e, portanto, a dis-
tribuição do trabalho entre os membros da família e as rendas provenientes da
atividade agrícola. Por outro, define o tipo de relação que os(as) agricultores(as)
estabelecerão com os agroecossistemas com os quais interagem, contribuindo
para sua preservação e sustentabilidade ou para sua degradação. Nesta aborda-
gem metodológica, a questão da base técnica de produção será observada da
ótica da transição dos sistemas produtivos tradicionais para os agroecológicos,
não apenas porque incorpora os dois aspectos anteriormente mencionados, mas
também porque essa ótica tornou-se um componente importante da agenda
propositiva das organizações e dos movimentos de agricultores(as) familiares,
que reivindicam sua incorporação na agenda das políticas públicas para a agri-
cultura e o meio rural;

3. incidência de políticas públicas de apoio – as políticas públicas são um con-


dicionante básico para a sustentabilidade da agricultura familiar em qualquer país
capitalista, como, aliás, as experiências européia e norte-americana demonstram
desde pelo menos a década de 1930. Em nosso caso, interessa observar, em par-
ticular, como o Pronaf interage ou não com outras políticas públicas que também
incidem sobre as economias rurais locais. Em especial, a ênfase foi posta nas políti-
cas de comercialização, pois elas atuam sobre o lado dos mercados, da venda e da
compra, o que teoricamente é um complemento à exclusividade que o Pronaf dá
à produção. A interação entre políticas de crédito à produção e políticas de comer-
cialização é relevante para a sustentabilidade da agricultura familiar, pois define al-
gumas situações-chave para essa sustentabilidade: por exemplo, a construção da
autonomia dos(as) agricultores(as) em relação aos comerciantes privados locais; a
incorporação das questões de compra e venda e, portanto, da negociação com os
mercados nas estratégias de reprodução das famílias; e o estímulo à diversificação
ou à especialização da produção.

Por fim, em terceiro lugar, os estudos de caso buscaram coletar informações


sobre o acesso de mulheres e de jovens ao Pronaf e suas conseqüências tanto sobre
a geração e a consolidação de oportunidades econômicas para esses dois grupos
como sobre as estratégias de reprodução das famílias. O tratamento desses dois te-
mas explica-se pela importância que as questões de gênero e de geração têm para o
Pronaf e para as políticas públicas para o meio rural, em geral, e pela relevância que o
Ibase lhes atribui na luta popular pela conquista de direitos sociais e de cidadania.
Com base nessa argumentação desenvolvida, a coleta de informações para a
realização dos estudos de caso foi organizada tomando como ponto de partida seis
elementos considerados metodologicamente significativos para a construção de um
referencial para a avaliação dos impactos do Pronaf sobre a sustentabilidade da agri-
cultura familiar nas regiões selecionadas:
• características das principais cadeias produtivas e tipo de inserção da agricul-
tura familiar;
• estratégias de reprodução dos(as) agricultores(as) familiares que fazem parte
das cadeias produtivas (que existem de forma completa ou incompleta);
• tecido associativo local da agricultura familiar;
• transição do sistema produtivo tradicional para o agroecológico;

IBASE : PRONAF . PARANÁ 61


• outras políticas públicas existentes no local e sua articulação com o Pronaf;
• relações de gênero e de geração entre os(as) agricultores(as) familiares.

Com o tempo bastante exíguo para visita às regiões, utilizou-se um roteiro, que
vem anexado a este documento, para orientar, de forma bastante flexível, a coleta
de informações sobre esses seis elementos delimitados.
Estabelecido o referencial básico para a realização dos estudos de caso, a
equipe do projeto viajou a Curitiba para entrevistar dirigentes, técnicos(as) e
pesquisadores(as) de instituições governamentais e não-governamentais relevantes,
buscando subsídios para a escolha de três regiões do Paraná onde os estudos de
caso deveriam ser realizados. Chegou-se, então, a um consenso de que a avaliação
dos impactos do Pronaf sobre a sustentabilidade da agricultura familiar deveria con-
centrar-se nas regiões Oeste, Sudoeste e Vale do Ribeira.
A escolha da região Oeste deveu-se principalmente ao fato de que nela o mode-
lo tradicional de modernização da agricultura mais avançou no estado, com o predo-
mínio da integração de agricultores(as) familiares mais consolidados(as) nas cadeias
agroindustriais empresariais de aves e de suínos ou nas cadeias produtivas de soja e
de milho, que representam cerca de 80% da produção total de grãos no Paraná.
O Sudoeste foi selecionado porque – além de ser uma região onde o modelo
tradicional de modernização agrícola mais avançou, à semelhança do Oeste – carac-
teriza-se historicamente pelo desenvolvimento de um forte tecido associativo, o que
determina a presença de organizações econômicas importantes de agricultores(as)
familiares, dando-lhes maior capacidade de acesso às políticas públicas para o meio
rural, bem como a existência de algumas experiências de transição de sistemas pro-
dutivos tradicionais para agroecológicos.
Por fim, o Vale do Ribeira é uma região, ao contrário das duas anteriores, histo-
ricamente abandonada pelas políticas governamentais. Nela, predomina uma agri-
cultura familiar caracterizada pelas próprias lideranças dos(as) agricultores(as) como
“agricultura cabocla” e com um tecido associativo considerado ainda relativamente
frágil, não obstante a expansão recente de cooperativas do Sistema Cresol. Nesse
contexto, o Pronaf surge como a primeira oportunidade de os(as) agricultores(as)
familiares regionais terem acesso ao crédito rural, o que torna especialmente rele-
vante a avaliação de seus impactos sobre a sustentabilidade desse tipo particular de
agricultura familiar, comparando, ademais, esse caso com os das duas outras regiões
onde predominam agricultores(as) familiares mais consolidados(as) e com maior ca-
pacidade de acesso às políticas governamentais.

4.2.1 VALE DO RIBEIRA

a) Cadeias produtivas locais e estratégias de reprodução das famílias


O Vale do Ribeira, situado numa área de mata atlântica, expande-se desde o es-
tado do Paraná até o estado de São Paulo, caracterizando-se por um relevo ondula-
do e montanhoso (FÓRUM, 2002). O território do Vale do Ribeira do Paraná, objeto
deste relatório, compreende os municípios de Adrianópolis, Dr. Ulysses, Cerro Azul,
Bocaiúva do Sul, Itaperuçu, Rio Branco do Sul e Tunas do Paraná, apresentando um
30
Embora essa proximidade varie
entre os municípios: Bocaiúva do clima tropical quente na região dos três primeiros municípios e um clima subtropical
Sul, Itaperuçu e Rio Branco do úmido nos demais, com temperaturas mais amenas, geadas pouco freqüentes e
Sul distam 25–28 quilômetros
de Curitiba; Tunas do Paraná e chuvas que se distribuem ao longo do ano, em especial no verão.
Cerro Azul, 70–80 quilômetros; O Vale do Ribeira é usualmente descrito como a região mais carente do Para-
e Adrianópolis e Dr. Ulysses,
108–115 quilômetros. ná, não obstante sua proximidade com Curitiba.30 Entre as explicações existentes

IBASE : PRONAF . PARANÁ 62


para essa situação, inclui-se a precariedade de políticas públicas para a região, em
particular a ausência de infra-estrutura básica. Não obstante a relativa privação do
chamado “desenvolvimento socioeconômico”, o Vale do Ribeira apresenta grande
extensão de vegetação nativa em bom estado de preservação e recursos hídricos
potáveis – provavelmente em virtude da menor incidência de indústrias poluidoras
– embora tenha aumentado recentemente a preocupação com o agravamento da
poluição dos rios e da água. Além disso, a mineração continua tendo importância
na economia regional – em especial, cal, cimento e chumbo –, representando cerca
de 40% do PIB.
A Tabela 22, a seguir, indica a distribuição em domicílio urbano e rural da popu-
lação residente nos municípios do Vale do Ribeira no ano de 2000. Com exceção de
Itaperuçu e de Rio Branco do Sul, os municípios têm uma população predominan-
temente rural, com participações no total acima de 60%.31 De modo geral, a densi-
dade demográfica dos municípios é diminuta, com a possível exceção de Itaperuçu.
Note-se, ademais, que, em 2000, a população total do Vale representava cerca de
0,9% da população paranaense.

TABELA 22: POPULAÇÃO RESIDENTE NO VALE DO RIBEIRA – 2000

Densidade
Municípios Urbana Rural Rural (%) Total demográfica
(hab./km2)
Adrianópolis 1.613 5.394 77 7.007 4,58
Bocaiúva do Sul 3.562 5.488 61 9.050 13,22
Cerro Azul 3.916 12.436 76 16.352 11,09
Dr. Ulysses 701 5.302 88 6.003 7,99
Itaperuçu 16.234 3.110 16 19.344 69,75
Rio Branco do Sul 20.049 9.292 32 29.341 27,26
Tunas do Paraná 1.421 2.190 61 3.611 6,00
Total do VR 47.496 43.212 48 90.708 –
Total do Paraná 7.786.084 1.777.374 19 9.563.458 –
Fonte: Fórum de Desenvolvimento Sustentável do VR

Já a Tabela 23 nos dá uma idéia aproximada do fluxo migratório existente no


Vale do Ribeira no período 1992–2005. De modo geral, há um crescimento da po-
pulação residente no Vale. A população caiu em Adrianópolis (em torno de 34%)
– único município em que isso ocorre – mas elevou-se continuamente em Itaperuçu,
Rio Branco do Sul e Tunas do Paraná. Em Cerro Azul, Bocaiúva do Sul e Dr. Ulysses,
a população manteve-se relativamente estagnada, apesar de, nos dois últimos mu-
nicípios, ter ocorrido uma expressiva elevação no período 1992–2000. As entrevis-
tas realizadas com diferentes atores sociais no Vale do Ribeira, em maio de 2006,
tenderam a confirmar a propensão à reversão ou, pelo menos, ao estancamento da
saída de pessoas da região, sendo que muitos desses atores (sindicalistas, dirigentes
do Cresol, gerentes de banco, etc.) identificaram esse fato como um dos impactos
do Pronaf no meio rural do Vale.
31
Apesar de a soma da
população de Itaperuçu e de
Rio Branco do Sul – “cidades-
dormitório” da região
– representarem, em 2000, em
torno de 54% da população
total do território.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 63


TABELA 23: EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO DO VALE DO RIBEIRA – 1992–2005

Municípios 1992* 2000** 2005*


Adrianópolis 8.819 7.006 5.799
Bocaiúva do Sul 7.648 9.050 9.841
Cerro Azul 16.069 16.352 16.527
Dr. Ulysses 4.999 6.003 6.631
Itaperuçu 10.934 19.344 24.725
Rio Branco do Sul 28.014 29.341 30.469
Tunas do Paraná 2.817 3.611 4.076
Total do VR 79.300 90.708 98.068
* População residente estimada em 1º de junho , **População censitária
Fontes: IBGE, Estimativas de População e Censo Demográfico 2000, www.ibge.gov.br

A agricultura familiar historicamente desenvolvida no Vale do Ribeira paranaen-


se é caracterizada pelas próprias lideranças dos(as) agricultores(as) como agricultura
tradicional ou agricultura cabocla. Segundo o documento da Oficina Territorial do
Vale do Ribeira, ela ocupa 30% do território, emprega 70% da mão-de-obra, gera
60% da arrecadação municipal e contribui com cerca de 20% do PIB regional.
Essa agricultura utilizava o sistema de queimada e pousio, era realizada em solos
mais rasos e de maior declividade, não tinha acesso ao crédito, não dispunha de
documentação pessoal e da terra e plantava mandioca, milho e feijão sem uso de
agroquímicos e de calcário. De maneira geral, era uma agricultura familiar despro-
vida de acesso às políticas públicas, isolada, situada em comunidades rurais muito
afastadas, em virtude da inexistência ou da enorme precariedade das estradas, de
modo que os bolsões de pobreza rural mais significativos encontravam-se nos luga-
res de mais difícil acesso.
Em geral, esse tipo de agricultura continua sendo a base da agricultura familiar
do Vale do Ribeira – no qual a presença das chamadas novas tecnologias é prati-
camente inexistente –, apesar das transformações que vêm sendo promovidas por
meio do desenvolvimento do tecido associativo na região (e da existência de coo-
perativas do Sistema Cresol), da atuação do Emater, de melhorias na malha viária
e de uma maior presença de políticas públicas estaduais (como o Programa Paraná
12 Meses) e federais, principalmente pelo acesso ao Pronaf e, mais recentemente,
ao PAA.
Nas entrevistas realizadas no Vale, foi ressaltada a presença proeminente ou
incipiente/incompleta das seguintes cadeias produtivas regionais:
• fruticultura;
• lavoura tradicional de alimentos;
• pecuária de leite;
• pecuária de corte;
• cana-de-açúcar;
• olericultura;
• avicultura e suinocultura;
• apicultura;
• exploração florestal.

A fruticultura é uma das cadeias produtivas mais importantes do Vale do Ribeira


paranaense, com predomínio de cítrus, em especial do poncã. A produção frutícola
é especialmente relevante em Cerro Azul, mas também em Dr. Ulysses, Adrianópolis

IBASE : PRONAF . PARANÁ 64


e em parte do município de Rio Branco do Sul. Além do poncã, foram mencionados
como produtos frutícolas existentes ou com potencial no Vale: laranja, banana, pu-
punha, maracujá, mamão, especialmente se plantados em consórcio (por exemplo,
banana com cítrus, pupunha com cítrus, etc.).
É interessante destacar a experiência de Cerro Azul. Até a década de 1980, pre-
dominava no município uma agricultura familiar diversificada. Nesse período, com
grande influência do Emater, o poncã entrou “muito forte”, com uma produção
que atingiu cerca de 8 milhões de caixas por ano entre 1998 e 2000, configurando
uma situação de monocultura, mas sem uso de agrotóxicos. A partir desse período,
generalizou-se a utilização de agrotóxicos, com efeitos colaterais deletérios, como o
surgimento da mosca azul, da doença pinta-preta, etc. Como conseqüência, verifi-
cou-se uma quebradeira dos(as) pequenos(as) agricultores(as), de modo que, hoje,
em Cerro Azul, predominam os médios produtores na lavoura de poncã.32 Com isso,
iniciou em 2001, no município, um movimento em torno da discussão da retomada
da diversificação produtiva, que chega a envolver cerca de 22 associações de produ-
tores, além da cooperativa do Cresol.
Esse relato da experiência da fruticultura em Cerro Azul serve para ilustrar dois
temas atuais de importância fundamental para a sustentabilidade da agricultura fa-
miliar no Vale do Ribeira: a diversificação produtiva e a adoção de práticas ade-
quadas para os sistemas agroflorestais. Esses são temas em que o modelo atual do
Pronaf expressa mais significativamente suas debilidades – na perspectiva da susten-
tabilidade da agricultura familiar regional – segundo os atores entrevistados.
Tais debilidades se manifestam numa indução à monocultura por parte do mo-
delo do Pronaf (incluída aí sua operacionalização por meio dos bancos), no sentido
de que estimula a adoção do crédito de custeio vinculado ao plantio apenas de um
ou dois produtos, por exemplo o milho e o feijão, no caso do Vale. Ademais, dada
a importância da fruticultura na região e, principalmente, do desenvolvimento de
uma fruticultura diversificada e de baixo custo econômico e ambiental, os(as) repre-
sentantes dos(as) agricultores(as) familiares insistem vigorosamente na importân-
cia central da definição e da implementação convenientes do Pronaf Agroflorestal,
como um instrumento básico para a adoção de práticas apropriadas à conservação
e à melhoria dos sistemas agroflorestais predominantes na região.
O que chamamos de lavoura tradicional de alimentos é uma cadeia produtiva
que se concentra, no Vale do Ribeira, basicamente na produção de milho, feijão e
mandioca, às vezes complementada com outros produtos de alimentação, como a
batata-doce. Seu objetivo central é o abastecimento, direta e indiretamente, das fa-
mílias dos(as) agricultores(as), por meio da alimentação de pequenos animais como
aves, suínos, etc. Nesse sentido, essa cadeia produtiva de produtos alimentares de-
sempenha um papel essencial nas estratégias de reprodução das famílias dos(as)
agricultores(as) da região, servindo como uma base de sustentação para o desenvol-
vimento de outras atividades que porventura possam ampliar o leque de possibilida-
des de fontes de rendas dos(as) agricultores(as) familiares regionais.
É importante perceber – indo na contramão de interpretações aceitas em alguns
círculos – que essa cadeia produtiva não é um “atraso” que impede a melhoria
32
Segundo o presidente do das condições de vida de tais agricultores(as). Pelo contrário. Numa região como o
Cresol, a produção de frutas
cítricas em Cerro Azul foi cerca Vale do Ribeira, a produção de alimentos pelos(as) agricultores(as) familiares – que
de 5 milhões de caixas em 2005, podem ser alternadamente utilizados para o autoconsumo e para a venda – é uma
comercializadas no Paraná, em
Santa Catarina, no Rio Grande condição indispensável para que possam construir uma relação mais autônoma e
do Sul, em São Paulo e no Rio de
favorável com mercados locais/regionais que usualmente são bastante imperfeitos e
Janeiro (Informasol, nº 3, Ano 1,
fevereiro de 2006). carregados de custos de transação exorbitantes. Essa é uma questão que está sendo

IBASE : PRONAF . PARANÁ 65


progressivamente debatida pelas organizações dos(as) agricultores(as) familiares do
Vale sob o nome de questão do autoconsumo e representa um outro desafio atual
a ser enfrentado pelo modelo do Pronaf para que continue a ser um instrumento de
política pública essencial para a sustentabilidade da agricultura familiar nas condi-
ções específicas do Vale do Ribeira e distintas de outras regiões do Paraná.
Essa cadeia produtiva está presente em todos os municípios do Vale e é usual-
mente viabilizada por meio de agricultores(as) que acessam o grupo de crédito B do
Pronaf (Pronaf B) e, principalmente, o crédito de custeio do Pronaf (Pronaf C), que
constituem a maioria dos(as) agricultores(as) regionais. Deve-se notar que depoi-
mentos colhidos com técnicos(as) do Emater sugerem que cerca de 90% do Pronaf
C é obtido para a produção de milho e de feijão. Muito disso é também explicado
pelo fato de que o Banco do Brasil tem uma tendência a aceitar com mais facilidade
projetos técnicos que sejam elaborados para a cultura de feijão e, em especial, do
milho, considerados mais fáceis de serem avaliados na “cultura” dessa instituição
bancária e menos arriscados. Mesmo assim, muitos(as) agricultores(as) destinam
uma parte dos recursos obtidos para o plantio do milho para outras atividades e/ou
para a produção de outros produtos alimentares mais difíceis ou impossíveis de se-
rem aceitos pelo banco e para o pagamento de dívidas.
Essa situação – que não é incomum entre os(as) agricultores(as) familiares do
Vale do Ribeira – reflete uma circunstância estrutural mais complexa do que a indi-
cada pela expressão “desvio de crédito”, especialmente quando é interpretada como
algum tipo de desperdício de recursos por parte dos(as) agricultores(as), que os
estariam destinando a atividades menos ou não “produtivas”. Expressa, na verdade,
uma estratégia de gestão da reprodução econômica e social da família em condições
de acesso limitado a recursos materiais e financeiros e na qual a relação especializa-
da com o mercado não é, em absoluto, a variável a ser privilegiada. Nesse sentido,
o exame do impacto do crédito deve ser ampliado para levar em conta “comporta-
mentos financeiros complexos”, o que Alvori Cristo dos Santos chamou de “redes
de comportamento financeiro”. Desse modo, o impacto do crédito tem de ser visto
na perspectiva da sustentabilidade de estratégias que articulam diferentes fontes e
fluxos de renda oriundos de um conjunto diversificado de atividades e que buscam
compatibilizá-las com um fluxo de despesas que ocorre em períodos de tempo não
coincidentes. Santos argumenta:

o crédito potencializou uma característica própria da agricultura fami-


liar, definida por muitos autores como pluriatividade, liberando a possi-
bilidade de realização de uma multiplicidade de “pequenos negócios”,
que em muitos casos são adjetivados de “desvios de crédito”, mas que
têm revelado resultados surpreendentes para as melhores taxas de re-
torno, mesmo que o destino dos recursos seja para o pagamento de
dívidas. (2003, p. 33)

Aflora claramente uma situação em que a lógica de gestão das estratégias de re-
produção da agricultura familiar mais se distancia da lógica de gestão do crédito por
parte dos bancos comerciais, o que limita significativamente os impactos do Pronaf
sobre a sustentabilidade da agricultura familiar numa região com as características
do Vale do Ribeira.
A pecuária de leite é uma cadeia produtiva em expansão na região. Segundo
dados de 2001 do Emater (FÓRUM, 2006, p. 13), as maiores áreas de pastagens
do Vale do Ribeira concentravam-se em Adrianópolis (mais importante), Rio Branco

IBASE : PRONAF . PARANÁ 66


do Sul e Cerro Azul. Grande parte do Pronaf Investimento tem sido obtido para
aplicação nessa atividade, que é aceita pela “cultura” bancária e recomendada por
algumas análises técnicas, mas que também segue o padrão de investimento típico
(em animais) da agricultura familiar em todo o Brasil.
É um tema controvertido entre lideranças de organizações de agricultores(as)
familiares do Vale. Algumas destacam o risco de que o leite represente uma espécie
de “pacote modernizador que acompanha o Pronaf” a ser difundido entre os produ-
tores independentemente dos obstáculos representados pela qualidade e pela decli-
vidade dos solos e em detrimento de outras atividades mais adaptadas às condições
físicas, sociais e culturais da região. Outras enfatizam as incertezas ainda existentes
em relação à possível inadaptabilidade do leite na região, especialmente porque
começam a ser utilizadas raças mais adaptadas às suas condições naturais, além de
que, segundo afirmam, nas atividades de produção de leite e de queijo e na criação
de terneiros para a venda, muitos(as) agricultores(as) têm obtido bons resultados.
A pecuária de leite menos modernizada (tecnologia mais precária e vacas mais
rústicas) e com menor capacidade produtiva (3 litros/dia) é realizada por produtores
tipo Pronaf C. Para técnicos(as) do Emater, a introdução de animais mestiços (6 a
8 litros/dia) poderia garantir, com o leite, pelo menos um salário mínimo para tais
agricultores(as). Ademais, a posse de alguns terneiros e vacas é um ativo que usu-
almente desempenha um papel importante na estratégia das famílias desses tipos
de agricultores(as), o que explica – juntamente com a falta de alternativas e a lógica
bancária – a tendência a canalizar os recursos do crédito para investimento, quando
obtido, para a compra desses animais.
A pecuária de leite mais modernizada e com maior capacidade produtiva – há
produtores que chegam a tirar 100 litros/dia, segundo técnicos(as) do Emater – é
realizada por produtores que têm capacidade de acessar os Pronafs tipo D e E (em
número bem menor), dispõem de maiores áreas e possuem também pecuária de
corte, que, de modo geral, é uma cadeia produtiva bastante limitada e incompleta
no Vale do Ribeira, até mesmo por causa das características do solo regional.
Embora a estratégia com queijo seja considerada, em muitos depoimentos,
potencialmente relevante para os produtores tipo Pronaf C, as lideranças dos(as)
agricultores(as) familiares chamaram também a atenção para as complicações en-
volvidas na cadeia do leite:
• o estrangulamento derivado da inexistência de assistência técnica e de exten-
são rural diferenciadas;
• o volume de investimento requerido na instalação de resfriadoras e na compra
de caminhões, o que torna o transporte do leite um assunto complicado;
• as dificuldades de relacionamento com as prefeituras, tendo em vista o acesso a
recursos disponibilizados pelo Programa Paraná 12 Meses do governo do estado.
A experiência de investimento em leite em 2003 relatada pelo Cresol de Cerro
Azul destaca as dificuldades e os riscos envolvidos nessa cadeia produtiva.

A cana-de-açúcar é outra cadeia produtiva tradicional no Vale do Ribeira como


lavoura de pequenos(as) agricultores(as) familiares, tipo Pronaf B e C. Sua importân-
cia deriva principalmente dos subprodutos que gera, como rapadura, melaço, entre
outros, e de suas potencialidades para a composição de um padrão mais diversifi-
cado de produção e de geração de renda para tais agricultores(as). Sua incidência
principal é em Adrianópolis e em Cerro Azul, mas também em Itaperuçu. Além dos
problemas generalizados no Vale do Ribeira de falta de documentação pessoal e das
terras dos(as) agricultores(as) familiares, os obstáculos para o desenvolvimento de

IBASE : PRONAF . PARANÁ 67


uma agroindústria artesanal da cana-de-açúcar residem, segundo entrevista realiza-
da no Cresol de Cerro Azul, na falta de assistência técnica e de extensão rural ade-
quadas, nas dificuldades de comercialização, ainda muito dependente de bodeguei-
ros, e nas dificuldades impostas pela legislação vigente, que levam à proliferação de
um número significativo de produtores “clandestinos”.
A olericultura é uma cadeia produtiva em expansão no Vale do Ribeira em fun-
ção da proximidade com Curitiba e do surgimento de agricultores(as) orgânicos(as)
e em transição para a implantação de adubação verde ou mesmo para a agroe-
cologia, especialmente sob o impulso das atividades da Associação para o Desen-
volvimento da Agroecologia (Aopa), que atua no Vale de forma independente
mas usualmente coordenada com o Departamento de Estudos Socioeconômicos
Rurais (Deser) e o Cresol (na difusão da discussão sobre agroecologia). Uma das
dificuldades importantes encontradas para a produção de orgânicos e de produtos
agroecológicos na olericultura são os obstáculos impostos pelo Banco do Brasil,
que praticamente inviabilizam as possibilidades dessa transição. Diferentes atores
regionais destacaram, como exemplo dessa situação, que o Banco do Brasil não
dispõe de planilhas para o financiamento de orgânicos no Paraná. A olericultura
desenvolve-se principalmente em Rio Branco do Sul e em Bocaiúva do Sul (além
de Colombo e Campo Magro, na região metropolitana de Curitiba) e é realizada
por agricultores(as) que utilizam tecnologia e que acessam o Pronaf D e mesmo o
Pronaf E (quando usam microtratores).
As cadeias produtivas da avicultura, suinocultura e apicultura são muito inci-
pientes ou incompletas no Vale do Ribeira. Muitos dos(as) agricultores(as) existentes
na região – tipo Pronaf C, especialmente – possuem aves e suínos e produzem mel
em seus estabelecimentos, mas isso não chega a configurar a existência de cadeias
produtivas especializadas. Técnicos(as) do Emater relataram a elaboração de um pro-
jeto coletivo em 2003–2004, com recursos do Banco do Brasil, para a implantação
de avicultura caseira com agricultores(as) tipo Pronaf B. De acordo com esse relato,
a experiência foi bem-sucedida por meio da formação de grupos de avicultura que
receberam recursos do Pronaf B atrelados a treinamentos oferecidos pelo Emater. O
projeto levou ao estabelecimento de feiras para a venda das aves caseiras produzidas
e, segundo exposto, proporcionou uma melhoria das condições de vida das pessoas
que delas participaram. Também foi mencionada nas entrevistas uma iniciativa em
apicultura em Rio Branco do Sul, impulsionada pela Agência de Desenvolvimento da
Mesorregião Vale do Ribeira/Guaraqueçaba, em que as comunidades acessaram re-
cursos do Pronaf B para compra das caixas. Nesse caso, como em outros em que se
busca implantar ou desenvolver uma cadeia produtiva local, a questão da assistência
técnica e da extensão rural apropriadas e diferenciadas aparece como um ponto de
estrangulamento significativo.
Por fim, a cadeia de exploração florestal é uma cadeia produtiva também tradi-
cional no Vale do Ribeira e representa, hoje, um dos focos centrais no debate sobre
a política pública no meio rural – e sobre o Pronaf em particular – na região. Há dois
pontos principais nesse debate.
O primeiro refere-se, como mencionado antes, à necessidade de definição mais
adequada e de implementação imediata do Pronaf Agroflorestal, cujo objetivo é
inserir a abordagem dos sistemas agroflorestais no centro dos projetos e das inicia-
tivas de desenvolvimento rural no Vale do Ribeira. Para tanto, é indispensável que
o Pronaf Agroflorestal seja flexibilizado para admitir a necessidade de períodos de
tempo mais longos para a conversão dos sistemas tradicionais de exploração flo-
restal em sistemas agroflorestais sustentáveis que contemplem as necessidades de

IBASE : PRONAF . PARANÁ 68


recuperação ambiental dos agroecossistemas. Sem a plena consideração dos ritmos
adequados à transição e da maleabilidade necessária para que os(as) agricultores(as)
possam adaptar-se a esse processo – que possui dimensões múltiplas (de ordem
econômica, cultural, agronômica, etc.) –, dificilmente o Pronaf Agroflorestal deixará
de ser letra morta, sem utilidade real para viabilizar as mudanças recomendáveis nos
sistemas de exploração florestal predominantes.
O segundo ponto diz respeito à ofensiva de reflorestamento na região, principal-
mente com a monocultura de pínus e de eucalipto, que se localiza com mais intensi-
dade nos municípios de Bocaiúva do Sul, Dr. Ulysses, Adrianópolis, Tunas do Paraná
e Itaperuçu. Em muitos casos, há um processo de integração dos(as) agricultores(as)
com a monocultura do pínus: as empresas formam os grupos, criam uma associação
(com a empresa na direção), alugam a terra dos(as) agricultores(as) envolvidos(as), e
a empresa faz o projeto de reflorestamento de pínus (com dinheiro do Pronaf), mas
não garante a compra da produção que será obtida. Dessa forma, é gerada uma
demanda inicial de mão-de-obra, que atrai muitos jovens, embora muitos atores
entrevistados estejam convencidos de que o resultado final dessa ofensiva da mono-
cultura do pínus será a expulsão de mão-de-obra da região.
O caso de Tunas do Paraná é ilustrativo desse processo. Segundo depoimentos,
com a implantação de pínus, a população do município aumentou, embora o nú-
mero de pequenos(as) agricultores(as) tenha diminuído. Agudizaram-se também os
problemas do município com educação, saúde, saneamento, etc. Não obstante, al-
gumas pessoas entrevistadas consideram que é preferível que o(a) agricultor(a) faça
reflorestamento em alguma parte de seu estabelecimento a vender ou alugar toda
a propriedade para essa atividade. Segundo entrevista no Cresol de Itaperuçu, a
pressão para isso é muito forte, pois, com meio alqueire plantado com pínus, um(a)
agricultor(a) pode acumular um valor próximo a R$ 70 mil de renda em 15 anos.
Com as entrevistas realizadas, ficou claro que os tipos de agricultores(as) fami-
liares predominantes no Vale do Ribeira são os do tipo Pronaf B e Pronaf C. Os(as)
agricultores(as) Pronaf B são usualmente caracterizados(as) como de agricultura de
sobrevivência, que ou não possuem terra, ou têm uma posse precária (não dispondo
de documentação pessoal ou das terras), ou não têm acesso a uma quantidade de
terra suficiente para melhorar sua capacidade de produção. Além disso, utilizam
principalmente as piores terras, em termos de solo e de declividade, e recorrem ao
assalariamento para complementar a renda familiar.
Os(as) agricultores(as) do tipo Pronaf C normalmente dispõem de terra, sendo
essa, para as pessoas entrevistadas, uma das características que os(as) distinguem
dos(as) agricultores(as) Pronaf B. Produzem diferentes tipos de produtos, de acordo
com o município onde estão localizados. Recorrem a algum tipo de assalariamento
da força de trabalho familiar fora do estabelecimento. Mais recentemente, estão
sendo organizadas atividades artesanais para ampliar as fontes de renda familiar de
tais agricultores(as). A Aopa estimula experiências de transição agroecológica para
certos(as) agricultores(as) desse tipo.
Os(as) agricultores(as) familiares do tipo Pronaf D e, principalmente, E têm uma in-
cidência bastante diminuta na região. Os(as) do tipo D possuem áreas maiores e dedi-
cam-se, de modo geral e segundo alguns depoimentos, à produção de leite, à criação
de bovinos de corte e à citricultura. Os(as) agricultores(as) do tipo E, que são em nú-
mero ainda menor no Vale, detêm áreas de terra maiores do que os(as) agricultores(as)
Pronaf D e dedicam-se, como foi relatado, à bovinocultura e à olericultura.
As entrevistas também deram uma idéia das atividades que geram a maior parte
da renda familiar dos(as) agricultores(as) em alguns municípios. Assim, por exemplo,

IBASE : PRONAF . PARANÁ 69


em Cerro Azul, a geração de renda das famílias vem, habitualmente, da produção
de leite, milho, feijão, poncã e laranja; do artesanato; de empregos(as) de membros
da família na prefeitura. Em Itaperuçu e em Rio Branco do Sul, da produção de leite,
milho, feijão, horta e poncã; do artesanato; de empregos na prefeitura; do assala-
riamento no pínus de homens, jovens e adultos. Em Adrianópolis, o grosso da renda
das famílias dos(as) agricultores(as) vem, aparentemente, da produção de cana-de-
açúcar, feijão, banana e pupunha; de produtos derivados da cana; do assalariamen-
to no pínus de homens, adultos e jovens.

b) Acesso ao crédito, tecido associativo e políticas públicas


As pessoas entrevistadas foram unânimes em afirmar que, com o Pronaf, os(as)
agricultores(as) familiares do Vale do Ribeira passaram finalmente a ter acesso ao
crédito rural. Não obstante as dificuldades ainda existentes – da qual a precariedade
da documentação pessoal e das terras de grande parte dos(as) agricultores(as) e a
dificuldade generalizada que encontram para relacionar-se com o Banco do Brasil
não são das menores –, o volume total de crédito acessado desde 2000 aumentou
de forma significativa, como indica a Tabela 24. O número total de contratos do Pro-
naf (custeio + investimento) aumentou em torno de 261%, entre 2001 e 2004, e o
valor total do crédito obtido cresceu por volta de 438% nesse mesmo período.33

TABELA 24: EVOLUÇÃO DO PRONAF NO VALE DO RIBEIRA-PR POR MODALIDADE DE CRÉDITO


(CUSTEIO E INVESTIMENTO) – 2000–2005

Custeio Custeio Investimento Investimento Total (C+I) Nº Total (C+I)


Anos
Nº de contratos Valor (R$ mil) Nº de contratos Valor (R$ mil) de contratos Valor (R$ mil)
2000 76 219,5 – – 76 219,5
2001 425 677,8 – – 425 677,8
2002 694 1.175,7 65 169,0 759 1.344,7
2003 1.099 2.412,5 145 470,0 1.244 2.882,5
2004 1.142 2.617,1 393 1.031,0 1.535 3.648,1
2005 896 2.357,8 203 642,0 1.099 3.000,0
Observação: fazem parte do Vale do Ribeira-PR os seguintes municípios: Adrianópolis, Bocaiúva do Sul, Cerro Azul,
Dr. Ulysses, Itaperuçu, Rio Branco do Sul e Tunas do Paraná.
Fonte: Bacem (somente exigibilidade bancária), utilizado até 12/2004; Bancoob, até 05/2006; Bansicredi, até 01/2006;
Banco do Brasil, até 04/2006; BNDES, até 05/2006, segundo o site do MDA (www.mda.gov.br)

Podemos fazer duas observações em relação a essa evolução do crédito do


Pronaf no Vale do Ribeira. Primeiro, é indiscutível a predominância do crédito de
custeio no crédito total, o que, aliás, não foge à regra nacional, não apenas à do
estado do Paraná. No acumulado do período 2000–2005, o crédito para custeio
representou 80% do volume total de crédito (Tabela 25). Mesmo assim, houve
também um aumento contínuo do crédito para investimento desde 2002 – quando
aparentemente iniciou esse tipo de crédito na região –, de modo que, em 2004, o
33
Se considerarmos o período
2000–2004, a expansão
número de contratos e o valor do crédito para investimento alcançam, respectiva-
do acesso ao crédito é mente, 26% e 28% do total, o que não é desprezível especialmente numa região
impressionante: incremento
de 1.920% no número de como o Vale. Os depoimentos obtidos na região tendem a destacar que os investi-
contratos e de 1.562% no valor mentos do Pronaf destinam-se normalmente à compra de bovinos, à formação de
total, embora esses números
possam exagerar a real situação pasto, à construção de chiqueiros para porcos e a alguma agroindustrialização de
em função do ano base 2000. cítrus, em especial do poncã.
Não consideramos os valores
de 2005, pois esse ano parece Segundo, verifica-se, na Tabela 25, essa ampliação do acesso ao crédito
ter sido atípico, que contraria
pelos(as) agricultores(as) familiares não levou a uma redução do valor médio dos
a tendência de todo o período
observado. contratos. Pelo contrário, o valor médio dos contratos para custeio aumentou

IBASE : PRONAF . PARANÁ 70


continuamente desde 2001, e, no caso do crédito para investimento, o valor mé-
dio cresceu em relação a 2002, embora não de forma contínua, mas oscilante.
34
Dessa forma, Rio Branco
do Sul é um município onde A Tabela 26 indica, para o período 2000–2005, o total acumulado do Pronaf
há forte concentração da
distribuição do crédito do Pronaf, para custeio e para investimento no Vale do Ribeira, por município. Pode-se veri-
mas não necessariamente de ficar que Cerro Azul e Rio Branco do Sul concentram mais de 70% do número de
agricultores(as) familiares que
têm acesso a ele. Pode-se contratos e do valor total do crédito do Pronaf acessado na região. Se a esses dois
aventar que agricultores(as)
municípios adicionarmos Itaperuçu, esses valores atingem cerca de 85% do total.
familiares de outros municípios
encaminhem-se a Rio Branco
do Sul para obter o crédito na TABELA 25: EVOLUÇÃO DO VALOR MÉDIO DOS CONTRATOS DE CRÉDITO PARA CUSTEIO E PARA
agência do Banco do Brasil. Isso INVESTIMENTO DO PRONAF NO VALE DO RIBEIRA-PR – 2000–2005
pode levar a alguma distorção
de tal informação para os demais
Valor médio dos contratos Valor médio dos contratos
municípios. Chama a atenção Anos
em particular o fato de que para custeio (R$) para investimento (R$)
Tunas do Paraná tenha apenas 2000 2.888,16 –
oito contratos de Pronaf (do
grupo B) em todo o período 2001 1.594,82 –
considerado, feitos em 2005.
Essa situação pode estar, 2002 1.694,09 2.600,00
também, relacionada à entrada 2003 2.195,18 3.241,38
do pínus no município e ao
processo de venda ou de aluguel 2004 2.291,68 2.623,41
de terras ou de assalariamento
pelos(as) agricultores(as)
2005 2.832,37 3.163,55
familiares. Fontes: IBGE, Estimativas de População e Censo Demográfico 2000, www.ibge.gov.br
35
Cotejando os dados do Cresol
com as informações disponíveis A explicação desse comportamento está vinculada, em grande parte, a dois
sobre o Pronaf no site do MDA,
observa-se, igualmente, que fatores. Por um lado, em Rio Branco do Sul está localizada – pelo menos até este
o valor acumulado do crédito ano – a única agência do Banco do Brasil na região.34 Por outro, Cerro Azul, além de
para investimento Pronaf BNDES
emprestado pela cooperativa sua importância na agricultura do Vale, sedia uma cooperativa do Sistema Cresol,
para os(as) agricultores(as)
por meio da qual grande parte do crédito de custeio do Pronaf foi canalizada para
familiares de Cerro Azul, no
período 2002–2005, significou os(as) agricultores(as) familiares de Cerro Azul, Dr. Ulysses e Adrianópolis (neste
cerca de 56% do valor
total acumulado do Pronaf
município até 2005, quando foi criada uma cooperativa Cresol). Os dados forne-
investimento nesse município. cidos pelo Cresol de Cerro Azul permitem deduzir que o valor total acumulado do
Pronaf Custeio C emprestado via cooperativa representou, no período 2002–2005,
cerca de 71%, 95% e 67% do valor total acumulado do Pronaf Custeio contratado
nos municípios de Cerro Azul, Adrianópolis (período 2002–2004) e Dr. Ulysses,
respectivamente.35

TABELA 26: TOTAL ACUMULADO DO PRONAF PARA CUSTEIO E PARA INVESTIMENTO NO PERÍODO
– 2000–2005 NO VALE DO RIBEIRA - PR POR MUNICÍPIO

Custeio Custeio Investimento Investimento Total (C+I) Total (C+I)


Municípios Nº de Valor Nº de Valor Nº de Valor
contratos (R$ mil) contratos (R$ mil) contratos (R$ mil)
Adrianópolis 244 447,5 48 101,5 292 549,0
Bocaiúva do Sul 47 180,7 87 151,8 134 332,5
Cerro Azul 1.693 3.433,0 250 850,1 1.943 4.283,1
Dr. Ulysses 233 454,3 66 82,6 299 536,9
Itaperuçu 471 1.165,5 190 508,0 661 1.673,5
Rio Branco do Sul 1.644 3.779,3 157 610,2 1.801 4.389,5
Tunas do Paraná – – 8 8,0 8 8,0
Total VR 4.332 9.460,3 806 2.312,2 5.138 11.772,5
Fonte: Bacem (somente exigibilidade bancária), utilizado até 12/2004; Bancoob, até 05/2006; Bansicredi, até 01/2006;
Banco do Brasil, até 04/2006; BNDES, até 05/2006, segundo o site do MDA (www.mda.gov.br)

IBASE : PRONAF . PARANÁ 71


A Tabela 27 permite uma idéia da evolução do Pronaf no Vale do Ribeira por grupos
de crédito. Partindo do valor agregado do número de contratos no período 2000–2004,
os contratos de crédito do grupo C representam 82% do total de contratos Pronaf rea-
lizados no Vale do Ribeira nesse período. Tanto o grupo C como o D têm uma trajetória
de ascensão contínua, no número e no valor dos contratos feitos, embora o número de
contratos de Pronaf C tenha aumentado sua participação no total – que passa de 81%,
em 2001, para 86%, em 2003 –, enquanto a de Pronaf D diminui de 19% para 11%. O
valor médio dos contratos dos grupos C e D também cresce na década de 2000, passan-
do, no caso do grupo C, de cerca de R$ 1.150, em 2001, para R$ 2.240, em 2004, e, no
caso do grupo D, de cerca de R$ 3,5 mil para R$ 4,8 mil no mesmo intervalo.

TABELA 27: EVOLUÇÃO DO PRONAF NO VALE DO RIBEIRA-PR POR GRUPOS DE CRÉDITO – 2000–2005

Grupo B Grupo B Grupo C Grupo C Grupo D Grupo D Grupo E Grupo E Total Total
Anos (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2)
R$ mil R$ mil R$ mil R$ mil R$ mil
2000 – – 21 32,2 55 187,3 – – 76 219,5
2001 – – 345 396,1 80 281,7 – – 425 677,8
2002 – – 657 930,2 102 414,5 – – 759 1.344,7
2003 – – 1.065 2.211,2 138 545,3 37 117,9 1.244 2.882,4
2004 174 174,0 1.274 2.849,7 145 699,8 10 35,7 1.617 3.797,0
2005 80 80,0 895 2.272,4 121 609,4 3 38,2 1.099 3.000,0
Observações: (I) Fazem parte do Vale do Ribeira-PR os seguintes municípios: Adrianópolis, Bocaiúva do Sul, Cerro
Azul, Dr. Ulysses, Itaperuçu, Rio Branco do Sul e Tunas do Paraná. (II) Na primeira linha da tabela, (1) significa o
número de contratos em cada grupo de crédito, e (2) representa o valor do crédito (em R$ mil) em cada grupo. (III)
Em 2003, o valor total na última coluna é maior do que a soma dos valores de cada grupo de crédito porque inclui 4
contratos do Grupo A/C. Em 2004, essa diferença se deve à inclusão no valor total de 1 contrato enquadrado como
de miniprodutores e de 13 contratos com recursos de exigibilidade bancária, sem enquadramento.
Fonte: Bacen (somente exigibilidade bancária), atualizado até 12/2004; Bancoob, até 05/2006; Bansicredi, até
01/2006; Banco do Brasil, até 04/2006; BNDES, até 05/2006, segundo o site do MDA (www.mda.gov.br)

O grupo E praticamente não tem expressão no Vale. Já o grupo B apresenta o


segundo maior número de contratos em 2004, e as entrevistas realizadas com re-
presentações de agricultores(as) e do Cresol e com técnicos(as) do Emater sugerem
a existência de uma demanda significativa por esse tipo de crédito, já que os(as)
agricultores(as) familiares tipo Pronaf B, juntamente com os Pronaf C, predominam
na região. As dificuldades de acesso têm novamente a ver neste caso com os pro-
blemas de documentação pessoal e de terras de tais agricultores(as) – quando as têm
– e com as dificuldades que enfrentam no Banco do Brasil, em especial o desinteresse
dessa instituição em oferecer, de forma maciça, esse tipo de crédito. No caso do Ema-
ter, lidar com o Pronaf B toma muito tempo dos(as) técnicos(as), desestimulando seu
envolvimento. Aparentemente, nem o Sistema Cresol tem viabilizado um maior acesso
dos(as) agricultores(as) ao Pronaf B.
Na Tabela 28, pode-se observar a distribuição, entre os municípios, do número
de contratos e do valor contratado por grupos de crédito do Pronaf acumulados
no período 2000–2005. A incidência do Pronaf C está concentrada nos municípios
de Cerro Azul e Rio Branco do Sul, que detêm 74% do número total de contratos,
seguidos de Itaperuçu (com 13% do total). Lembre-se que Cerro Azul e Itaperuçu
sediam cooperativas do Sistema Cresol e que Rio Branco do Sul tinha, no período, a
única agência do Banco do Brasil na região do Vale do Ribeira. É interessante desta-
car que Cerro Azul acumulou, de 2000 a 2005, um número relativamente bastante
reduzido de contratos de Pronaf D (4% do total) e não fez contratos de Pronaf E.
Ademais, deteve apenas cerca de 15% dos contratos de Pronaf B do Vale. Nesse

IBASE : PRONAF . PARANÁ 72


sentido, Cerro Azul é um município de estrita predominância de créditos do grupo
Pronaf C, seja porque concentra agricultores(as) desse tipo, seja porque o Cresol
acessa basicamente esse tipo de agricultores(as), ou por ambas as razões.

TABELA 28: EVOLUÇÃO DO PRONAF NO VALE DO RIBEIRA-PR POR GRUPOS DE CRÉDITO E POR
MUNICÍPIOS - ACUMULADO NO PERÍODO – 2000–2005

Pronaf B Pronaf C Pronaf D Pronaf E


Pronaf B Pronaf C Pronaf D Pronaf E
Municípios (2) (2) (2) (2)
(1) (1) (1) (1)
R$ mil R$ mil R$ mil R$ mil
Adrianópolis - - 290 515,4 1 5,9 1 27,8
Bocaiúva do Sul 69 69,0 42 149,6 13 66,8 6 26,1
Cerro Azul 41 41,0 1.878 4.121,4 23 119,7 - -
Dr. Ulysses 58 58,0 234 462,7 6 13,7 - -
Itaperuçu 55 55,0 559 1.209,8 123 524,3 9 32,7
Rio Branco do Sul 23 23,0 1.257 2.232,9 472 1.992,5 34 105,3
Tunas do Paraná 8 8,0 - - - - - -
Total VR 254 254,0 4.260 8.691,8 638 2.722,9 50 191,9

Observações: (I) Fazem parte do Vale do Ribeira-PR os seguintes municípios: Adrianópolis, Bocaiúva do Sul, Cerro Azul,
Dr. Ulysses, Itaperuçu, Rio Branco do Sul e Tunas do Paraná. (II) Na primeira linha da tabela, (1) significa o número de
contratos em cada grupo de crédito, e (2) representa o valor do crédito (em R$ mil) em cada grupo.
Fonte: Bacen (somente exigibilidade bancária), atualizado até 12/2004; Bancoob, até 05/2006; Bansicredi, até
01/2006; Banco do Brasil, até 04/2006; BNDES, até 05/2006, segundo o site do MDA (www.mda.gov.br)

Isso, no entanto, contrasta marcadamente com Itaperuçu, que também tem coo-
perativa do Cresol, mas deteve cerca de 20% do total de contratos dos outros grupos
existentes (D, E e B). No caso do Pronaf B, Bocaiúva do Sul e Dr. Ulysses realizaram a
metade do total dos contratos feitos no Vale – seguidos de Itaperuçu –, em contraste
com sua relativamente baixa participação no número total de Pronafs C, D e E.
Além do Pronaf ter viabilizado o acesso ao crédito dos(as) agricultores(as) fami-
liares do Vale do Ribeira, as entrevistas realizadas também destacaram seu impacto
sobre o desenvolvimento do tecido associativo dos(as) agricultores(as) familiares da
região, que, embora relativamente mais frágil do que em outras regiões do estado
(o Sudoeste, por exemplo), vem se fortalecendo nos últimos anos. Ou seja, a exis-
tência do Pronaf e a necessidade de torná-lo acessível aos(às) agricultores(as) foram
fatores fundamentais que estimularam e pressionaram a sua organização, por meio
dos sindicatos ou pelas cooperativas do Sistema Cresol.
A prática com crédito rural no Vale do Ribeira nasceu por volta de 1999
em Itaperuçu com a experiência de microcrédito construída pelo sindicato de
trabalhadores(as) rurais, a partir de recursos fornecidos pela cooperação técnica
internacional. Dois eram os objetivos centrais desse experimento, na visão das pes-
soas que o idealizaram: desenvolver um trabalho de organização e de cooperação
entre os(as) agricultores(as) e viabilizar a desvinculação de tais agricultores(as) dos
bodegueiros, por meio da promoção de um sistema de poupança e da elaboração
de uma estratégia de compra de alimentos. Começou, então, o trabalho com as
comunidades buscando organizar as famílias. O instrumento utilizado para tanto foi
a formação de grupos e a criação do aval solidário ou aval cruzado. Conseguiram,
dessa forma, organizar um pouco mais de 200 famílias. Surgiu, então, a idéia de
formar uma cooperativa, o que ocorreu em 2001 com cerca de 270 famílias organi-
zadas, após enfrentar um enorme obstáculo representado pela quase inexistência de
documentação dos(as) agricultores(as). Em 2002, a cooperativa estava acessando
mais de 200 contratos de crédito do Pronaf para custeio em Itaperuçu.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 73


A partir do incremento da disponibilidade de crédito do Pronaf e do avanço da
organização dos(as) agricultores(as), foram criadas outras cooperativas do Sistema
Cresol na região. Surgiram as cooperativas de Cerro Azul, em 2002, e de Adria-
nópolis, em 2005, além de um posto em Bocaiúva do Sul e de outra cooperativa
em Castro.
Os diferentes atores da política entrevistados – de técnicos(as) do Emater a ge-
rentes do Banco do Brasil – destacaram a importância central do Sistema Cresol
para a expansão do acesso ao crédito do Pronaf no Vale do Ribeira. Por um lado,
foi decisiva a experiência anterior com microcrédito, dadas as características dos(as)
agricultores(as) regionais, que ensaiou os mecanismos de crédito em grupo e de aval
cruzado/solidário e estimulou a desburocratização do acesso ao crédito. Por outro,
como disse uma pessoa entrevistada, “o povo daqui não utiliza tecnologia, e o Banco
do Brasil só financia com tecnologia”. Isso, além de outras características conhecidas
da lógica bancária convencional que afastam os(as) pequenos(as) agricultores(as),
abriu um amplo caminho para a atuação das cooperativas Cresol, que, especialmen-
te em Cerro Azul e em Itaperuçu, e num esforço conjunto com o Deser, sindicatos
da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), de Itaperuçu e de
Cerro Azul, particularmente, e a Aopa, buscaram valorizar as especificidades da agri-
cultura local e iniciaram um processo fundamental de discussão, ainda em curso,
sobre os rumos da agricultura do Vale. Esse processo de discussão tem destacado
cinco eixos propositivos centrais: a diversificação produtiva e de fontes de geração
de renda para as famílias; a importância estratégica da produção para autoconsumo;
os sistemas agroflorestais sustentáveis; o fortalecimento de cadeias produtivas mais
36
De acordo com o presidente
do Cresol de Cerro Azul,
bem adaptadas às condições ambientais, de solo, econômicas, sociais, e culturais da
há quatro políticas que são região; e a comercialização da produção.36
fundamentais para a agricultura
familiar na região: o crédito É relevante mencionar que, de acordo com os depoimentos dos presidentes do
fundiário para os(as) jovens; Cresol em Itaperuçu e em Cerro Azul, a inadimplência entre os(as) agricultores(as)
a melhoria das condições de
moradia das famílias (Programa da cooperativa é, aparentemente, inexpressiva em virtude do trabalho de base re-
de Habitação do Sistema alizado com as famílias e da existência de crédito em grupo, com aval solidário ou
Cresol); o Pronaf, para viabilizar
o plantio; e o Programa de cruzado. Ao mesmo tempo, o Cresol faz o papel, muitas vezes, de avalista do(a)
Aquisição de Alimentos (PAA),
agricultor(a) no Banco do Brasil. Em Itaperuçu, por exemplo, o processo de obtenção
para que os(as) agricultores(as)
“aprendam a se organizar para do crédito via Cresol passa pelas seguintes fases: o(a) agricultor(a) vai à cooperativa,
vender” e consigam autonomia
da estrutura tradicional de
faz o cadastro e o processo para a aquisição do crédito do Pronaf; o Cresol manda
comercialização dominada pelo eletronicamente o processo para o Banco do Brasil analisar; se o processo for apro-
bodegueiro.
vado, o banco repassa eletronicamente o dinheiro para o Cresol; e a cooperativa faz
37
Note-se que esse processo de o empréstimo para o(a) agricultor(a).37
“parceirização” da distribuição
do crédito do Pronaf pelo Em relação ao acesso ao Pronaf de mulheres e de jovens das famílias de agricul-
Banco do Brasil – que, além tores(as) existentes no Vale do Ribeira, os depoimentos obtidos ressaltaram alguns
de desburocratizar o crédito,
é também um mecanismo de aspectos.
redução dos custos e dos riscos
Apesar de os homens adultos continuarem tendo predominância na estrutura
do banco – envolve ainda o
Emater. Nesse caso, o Emater, de poder existente nas famílias, há vários indícios de que ocorreu uma flexibilização
na verdade, “faz os Pronafs
para o banco”: o(a) agricultor(a)
nessa estrutura de poder, com uma maior participação das mulheres nas decisões
não precisa ir ao banco, faz o tomadas e nas atividades empreendidas, e uma maior abertura para a necessidade
pedido de crédito diretamente
ao Emater, o qual o repassa de educação dos(as) jovens.
eletronicamente para o Banco do Como conseqüência do crescimento do movimento das mulheres agricultoras e
Brasil, pelo software distribuído
por essa instituição bancária. da preocupação com o abandono das atividades rurais pelos(as) jovens, as questões
Essa sistemática de “fazer o de gênero e de geração tornaram-se itens importantes da agenda dos sindicatos
trabalho do banco” sobrecarrega
muitas vezes o trabalho dos(as) rurais mais organizados e combativos – como os de Itaperuçu e de Cerro Azul – e
técnicos(as) em outras atividades
das cooperativas do Sistema Cresol existentes no Vale. Tanto os sindicatos como as
que não as de assistência técnica
e de extensão rural. cooperativas estão estimulando o trabalho com as mulheres, com a formação de

IBASE : PRONAF . PARANÁ 74


grupos e a busca de atividades que valorizem o trabalho da mulher e criem alternati-
vas de geração de renda para as famílias, como o artesanato, o trabalho de cozinha
e de fabricação de doces, entre outras possibilidades.
A apreensão com a questão dos(as) jovens é crescente, embora a busca de for-
mas de enfrentá-la esteja ainda – até por sua complexidade – em uma fase incipien-
te. Segundo um depoimento obtido no sindicato de Itaperuçu, o grande problema
é que os(as) jovens não têm “educação, renda e lazer” no meio rural, de modo que
“não há muita motivação para ficar”. “A educação está voltada para que as famílias
saiam do meio rural”, as possibilidades de renda na atividade rural ainda dependem,
em grande medida, das relações com o pai e da disponibilidade de terras em sua
propriedade, e o lazer rural é inexistente ou incapaz de competir com o urbano, es-
pecialmente em municípios mais próximos de Curitiba. Assim, grande parte dos(as)
jovens busca emprego na fábrica da Votorantim, em Rio Branco do Sul, ou trabalha
em Curitiba e mora no Vale do Ribeira. Mais recentemente, também há aqueles(as)
que trabalham como assalariados(as) nos empreendimentos de reflorestamento de
pínus na região, embora as pessoas entrevistadas tenham sugerido que muitos(as)
jovens estão mais empenhados(as), hoje, nas atividades desenvolvidas nos estabele-
cimentos familiares de que fazem parte.
Segundo entrevista realizada com liderança de agricultores(as) familiares, cerca
de 30% ou 40% das mulheres estão atualmente envolvidas com o Pronaf, o que re-
presenta, aparentemente, um aumento importante de seu acesso ao crédito rural. A
maioria desses créditos é de Pronaf Custeio ou Investimento e praticamente inexiste,
no Vale do Ribeira, incidência de financiamentos por meio da linha especial Pronaf
Mulher (para investimento). É provável, no entanto, que a demanda por essa linha
especial de financiamento aumente nos próximos anos.
De acordo com o presidente do Cresol de Cerro Azul, 10% do quadro social da
cooperativa é composto por jovens. Esses(as) jovens acessam o Pronaf com o pai,
usualmente figurando como seus meeiros(as) ou arrendatários(as). Para técnicos(as)
do Emater entrevistados(as), o leite pode ser uma alternativa para os(as) jovens, des-
de que haja disponibilidade de capacitação para isso. De modo geral, a linha especial
de financiamento Pronaf Jovem (para investimento) não foi demandada até agora
de forma significativa. Entretanto, os depoimentos obtidos parecem sugerir uma
mobilização crescente das cooperativas para acessar essa linha do Pronaf, fazendo
crer que sua demanda poderá crescer nos próximos anos.
Por fim, é necessário fazer menção a outras políticas públicas existentes no Vale
do Ribeira e sua relação com o Pronaf. Embora exista um elenco dessas políticas,
estaduais (como o Paraná 12 Meses e outras) e federais (Bolsa Família, Aposentado-
ria Rural, etc.), vamos nos ater a uma breve apresentação de uma política federal, o
Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) da agricultura familiar, que foi unanime-
mente avaliado, nas entrevistas realizadas com diferentes tipos de atores, como uma
novidade importante da política governamental e como um programa cuja comple-
mentaridade com o Pronaf já é percebida e pode ser potencializada ainda mais.
No Paraná, tanto o governo estadual, por meio de uma coordenação específica
da Secretaria do Trabalho, Emprego e Promoção Social (SETP), como o federal, por
38
O PAA foi instituído pelo meio da Superintendência Regional da Companhia Nacional de Abastecimento (Co-
governo federal em 2 de julho
de 2003. Sua fonte de recursos é nab), atuam na implementação do PAA.38 Segundo um representante da Coorde-
o Ministério do Desenvolvimento nação de Projetos Especiais de Enfrentamento à Pobreza da SETP, a relação entre os
Social e Combate à Fome (MDS).
O programa pode ser executado governos estadual e federal é muito boa no Paraná, de modo que suas atuações não
pela Conab e/ou estados e
se superpõem: onde a Conab atua o governo estadual não intervém e vice-versa.
municípios, mediante convênio
com o MDS. O grosso da ação da Conab concentra-se no sudoeste do estado, especialmente na

IBASE : PRONAF . PARANÁ 75


região de Francisco Beltrão. De acordo com a Superintendência Regional, 80% dos
recursos do PAA-Conab no Paraná vão especialmente para o Sudoeste, segundo re-
lato, em função do tecido associativo mais desenvolvido da região, que lhe dá maior
poder de barganha na captação desses recursos.
O PAA no Vale do Ribeira é administrado pelo governo estadual, por meio
do mecanismo chamado de Compra Direta Local da Agricultura Familiar (CDLAF),
que também é utilizado nos outros municípios em que o PAA é implementado
via o governo paranaense. O CDLAF visa apoiar financeiramente agricultores(as)
familiares que se enquadrem no Pronaf pela aquisição de produtos agropecuários
“que se destinem ao atendimento das demandas de suplementação alimentar de
programas sociais locais (complementação das refeições oferecidas nas instituições
sociais), com vistas à superação da vulnerabilidade alimentar de parcela da popu-
lação” (FÓRUM, 2006, p.7).39
No Paraná, os atores do CDLAF são sempre coletivos: entidades sociais (asi-
los, creches, centros comunitários, escolas, associações beneficentes, pasto-
rais da criança, etc.) que recebem os alimentos; grupos de agricultores(as) fa-
miliares – reunidos em associações de produtores, cooperativas, sindicatos de
39
O PAA possui quatro
mecanismos para a sua trabalhadores(as) rurais, etc. – que fornecem os alimentos; e órgãos municipais
implementação em todo o de controle social (Conselho Municipal de Segurança Alimentar, Comitê Gestor
país: Compra Antecipada
da Agricultura Familiar; Municipal do Fome Zero, Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural, entre
Compra Direta da Agricultura
outros) que avalizam o processo. Existem critérios para a aprovação dos projetos
Familiar; Compra de Garantia
da Agricultura Familiar; e (SETP, 2006), entre eles, que se localizem em municípios com taxa de pobreza
Compra Antecipada Especial
da Agricultura Familiar ou
acima de 30%, em 2005, e acima de 20%, em 2006, e que envolvam produção
Compra Direta Local da agroecológica/orgânica. O montante de recursos aprovado por cada projeto não
Agricultura Familiar. O quarto
mecanismo é chamado de pode permitir um valor de compra por agricultor(a) superior a R$ 2,5 mil (limite
Compra Antecipada Especial que aumentou este ano para R$ 3,5 mil).
pela Conab e de Compra Direta
Local pelo governo estadual, As Tabelas 29 e 30 apresentam algumas informações sobre o número de
o que, segundo o relatório de beneficiários(as) e o valor dos recursos comprometidos em projetos aprovados de
execução mencionado, cria, no
Paraná, confusões desnecessárias Compra Direta Local no Vale do Ribeira, por município, nos anos 2004 e 2005.
que dificultam a visibilidade do
Percebe-se, em primeiro lugar, que ampliou significativamente o número de mu-
programa pela sociedade em
geral (FÓRUM, 2006, p. 5). nicípios atendidos e o valor total dos projetos aprovados pelo programa no Vale.
40
Segundo entrevista realizada
A exceção foi o município de Rio Branco do Sul, para o qual o valor dos recursos
na coordenação do CDLAF em aplicados foi reduzido em pouco menos de 30% de seu valor em 2004. Em segundo
Curitiba, foi feito, em 2005, um
grande projeto do PAA com o lugar, os dados das tabelas revelam que aumentou consideravelmente o número de
Cresol de Cerro Azul que pode agricultores(as) familiares, de entidades e de pessoas beneficiadas pelo programa
ter gerado um volume excessivo
de produção, aumentando, em nos municípios envolvidos e na região como um todo. A exceção novamente é Rio
vez de reduzir, os problemas Branco do Sul, onde o número de agricultores(as) beneficiados(as) caiu pela metade.
de comercialização. A opinião
do presidente do Cresol, por Por contraste, em Cerro Azul, o volume total de recursos aprovados quintuplicou,
seu lado, é que o programa
com um grande incremento do número de beneficiários(as), agricultores(as) e não
funcionou bastante bem,
levando a um aumento agricultores(as).40
significativo do número de
agricultores(as) beneficiários(as).
Em terceiro lugar, nota-se que o valor médio da compra direta por agricultor(a)
Para ele, o sucesso do programa não aumentou muito na região, apenas 6% em relação a 2004. Talvez contribua
em Cerro Azul deveu-se à
existência de um tecido social para isso a política explícita da coordenação do PAA na Secretaria do Trabalho, Em-
mais organizado no município. prego e Promoção Social (SETP) em favor de tetos municipais para a compra direta,
Já em Dr. Ulysses e em Rio
Branco do Sul, onde o tecido evitando elevá-los com freqüência (conforme indicou uma pessoa entrevistada em
social é mais fragilizado, o Curitiba). Para essa coordenação, os projetos menores são mais diversificados, além
Emater e a prefeitura tiveram
importância na implementação de que se evita criar uma dependência excessiva da agricultura familiar ao programa,
do Compra Direta Local, mas,
já que a capacidade de absorção de alimentos é limitada, a menos que os governos
segundo ele, o programa não
funcionou a contento. sejam movidos a comprar os produtos da agricultura familiar.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 76


TABELA 29: PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR (PAA) – PROJETOS
APROVADOS DE COMPRA DIRETA LOCAL DA AGRICULTURA FAMILIAR (CDLAF) NO VALE DO RIBEIRA-
PR POR MUNICÍPIOS – 2004

Agricultores Valor médio


Valor total Entidades No pessoas
Municípios familiares por agricultor
(R$) beneficiadas beneficiadas
beneficiados (R$)
Cerro Azul 47 76.856,30 1.635,24 9 3.520
Rio Branco do Sul 60 95.950,19 1.599,17 14 6.906
Total VR 107 172.806,49 1.615,01 23 10.426

Fonte: Governo do estado do Paraná, Coordenação Estadual do PAA/Compra Direta

TABELA 30: PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR (PAA) – PROJETOS


APROVADOS DE COMPRA DIRETA LOCAL DA AGRICULTURA FAMILIAR (CDLAF) NO VALE DO RIBEIRA-PR
POR MUNICÍPIOS – 2005

Agricultores Valor médio


Valor total Entidades No pessoas
Municípios familiares por agricultor
(R$) beneficiadas beneficiadas*
beneficiados (R$)
Adrianópolis 56 59.516,20 1.062,79 4 4.697
Cerro Azul 236 387.343,90 1.641,29 27 32.579
Dr. Ulysses 14 35.000,00 2.500,00 6 2.500
Itaperuçu 28 69.999,50 2.499,98 10 3.902
Rio Branco do Sul 28 69.984,50 2.499,44 15 8.959
Total VR 362 621.844,10 1.717,80 62 52.637
Fonte: Governo do estado do Paraná, Coordenação Estadual do PAA/Compra Direta
* Pessoas beneficiadas pelo programa nos municípios envolvidos e na região como um todo. A exceção novamente
é Rio Branco do Sul, onde o número de agricultores beneficiados caiu pela metade. Por contraste, em Cerro Azul o
volume total de recursos aprovados quintuplicou, com um grande incremento do número de beneficiários, agricultores
e não-agricultores.

De modo geral, nas entrevistas realizadas com lideranças de agricultores(as),


presidentes das cooperativas Cresol, técnicos(as) do Emater e sindicalistas, as avalia-
ções do PAA no Vale do Ribeira foram muito positivas. Em primeiro lugar, ele vem
ocupar o lugar de uma “perna” faltante no Pronaf: a comercialização. Mesmo que
os(as) agricultores(as) consigam produzir, os obstáculos encontrados na comerciali-
zação são um limitante fundamental para a sustentabilidade da agricultura familiar
no Vale, tanto do lado da venda como da compra de produtos. Na verdade, antes
da existência do Pronaf e do PAA, eram os bodegueiros que organizavam os(as)
agricultores(as) familiares para a produção e o consumo. Com o acesso ao Pronaf e,
agora, ao PAA, esses(as) agricultores(as) tiveram a chance de construir uma maior au-
tonomia em relação aos bodegueiros e puderam desenvolver sua capacidade de nego-
ciação com eles. Com isso, a questão da comercialização, da compra e da venda – dos
mercados, portanto – passou a fazer parte das estratégias de reprodução desses(as)
agricultores(as) e foi incorporada na agenda de suas organizações, estimulando a dis-
cussão pública e a busca de alternativas de organização nesse campo.
Em segundo lugar, muitas lideranças de agricultores(as) e de cooperativas com-
param os efeitos do Pronaf com os do PAA, afirmando que, enquanto o primeiro
tem um viés monocultor, o segundo estimula a diversificação produtiva. Algumas li-
deranças insistem que o Pronaf traz poucos resultados para os(as) agricultores(as) fa-
miliares e, muito especialmente, para os(as) assentados da reforma agrária, pois não
favorece a cooperação na produção e estimula a monocultura. Segue, desse modo,
a lógica do agronegócio. Um crédito específico para a agricultura familiar deveria,

IBASE : PRONAF . PARANÁ 77


em contraste, incentivar a cooperação (na produção e na comercialização) e a transi-
ção para a agroecologia. Por contraste, essas lideranças fazem uma avaliação muito
simpática do PAA, pois ele tenderia a favorecer a diversificação da produção para a
comercialização e para a alimentação, além do contato dos(as) agricultores(as) fami-
liares tanto com o mercado como com outros setores das populações carentes dos
municípios, estimulando-os a saírem do isolamento e vivenciarem relações sociais
que favorecem o seu auto-reconhecimento como sujeitos sociais nas comunidades
onde vivem.
Finalmente, o relatório de execução do CDLAF preparado pela coordenação do
PAA na SETP faz menção a alguns resultados alcançados pelo programa, dos quais
destacaremos três. Primeiro, o PAA/Compra Direta permitiu um cruzamento mais
intenso, no âmbito municipal, entre diferentes tipos de políticas públicas coexisten-
tes, como, por exemplo, entre políticas sociais (assistência social, saúde e educação)
e políticas de desenvolvimento rural e urbano (entre as quais o Pronaf). Segun-
do, o programa tem estimulado melhoria expressiva na quantidade e na qualidade
dos alimentos ofertados nas entidades beneficiárias, promovendo uma perceptível
substituição de produtos.41 E, terceiro, a parceria estimulada pelo programa entre
agricultores(as) e consumidores(as) favoreceu, em muitos municípios, o estabeleci-
mento de relações mais solidárias entre atores do rural e do urbano, criando situa-
ções que permitem alterar as visões preconceituosas que uns têm dos outros.

4.2.2 OESTE

a) Breve caracterização da região42


A mesorregião Oeste situa-se no extremo ocidental do estado e é limitada – a
partir de Guaíra (seu ponto mais ao norte) e no sentido anti-horário – pelos rios Pa-
raná, Iguaçu, Guarani, Tourinho e Piquiri. O relevo é pouco ondulado, predominando
solos de profundidade e fertilidade boas. Tais características possibilitam, em geral,
classificar o uso potencial do solo como bom ou regular, com pequenas manchas de
solo inapto em virtude da ocorrência de erosão.
Satisfatórias condições climáticas prevalecem em toda a extensão do território
regional compondo um cenário bastante adequado para o desenvolvimento de uma
moderna base de produção agropecuária, baseada, sobretudo, na agricultura fami-
41
Segundo o relatório, liar, alcançando elevado desempenho produtivo. Como ilustração de tais afirmativas,
“a merenda ou lanche como
é costumeiramente chamado vale registrar que cerca de 55% da área total das propriedades rurais na região são
pelos alunos ou atendidos pelas provenientes de estabelecimentos com menos de 100 hectares, e o valor bruto da
entidades passou a ser chamada
de almoço ou janta, mesmo produção agropecuária (VBP) da região em 2003 correspondeu a 20% do VBP agro-
sendo ofertadas nos horários
pecuário do estado paranaense (R$ 5.677,5 milhões sobre R$ 28.036,6 milhões). O
da manhã e da tarde, pois são
apresentadas com os mesmos primeiro indicador posiciona a mesorregião Oeste em segundo lugar no cotejo com
tipos de alimentos que na nossa
cultura são consumidos nas
as demais mesorregiões do estado, quanto à predominância de estabelecimentos
principais refeições” (FÓRUM, de menor porte. Obviamente, estabelecimentos maiores, típicos da agricultura em-
2006, p. 6).
presarial, também ocorrem no Oeste, mas em menor proporção do que em outras
42
Os dados apresentados seis mesorregiões: Centro-Oriental, Noroeste, Centro-Sul, Centro-Ocidental, Norte
neste capítulo têm origem
em três fontes principais: (i) Pioneiro e Norte Central. Em todas essas mesorregiões, as propriedades com mais
IBGE, Sinopse Preliminar do de 100 hectares respondem por mais de 60% da área total, sendo que, na Centro-
Censo Demográfico 2000 ; (ii)
Leituras Regionais: Mesorregiões Oriental, essa proporção excede a 80%.
geográficas paranaenses,
A mesorregião Oeste é formada por 50 municípios e nela habitam 1.138.600
Sumário Executivo – Curitiba:
IPARDES, 2004 ; (iii) Valor Bruto pessoas, o que corresponde a um percentual em torno de 12% da população pa-
da Produção Agropecuária
Paranaense em 2003 – Curitiba:
ranaense (IBGE – Censo 2000), tendo apresentado no período de 1991–2000 uma
SEAD-DERAL, 2004. taxa média anual de crescimento populacional praticamente igual à observada para

IBASE : PRONAF . PARANÁ 78


todo o estado (1,3% e 1,4%, respectivamente). O grau de urbanização dessa popu-
lação é elevado (82%) e praticamente se iguala ao verificado para o Paraná (81%).
São pólos regionais as cidades de Foz do Iguaçu (258,4 mil habitantes), Cascavel
(245,1 mil habitantes) e Toledo (98,2 mil habitantes). Essas três localidades polari-
zavam microrregiões com dinâmicas demográficas diferenciadas durante a década
de 1990: enquanto a população da primeira microrregião cresceu em média 2% ao
ano, a de Cascavel aumentou 1,2%, e a de Toledo retrocedeu 0,8% ao ano. Esse
retrocesso parece decorrer de deslocamentos intra-regionais da população e, talvez,
de alguns outros fatores relacionados com a evolução das atividades produtivas,
que, no tocante ao segmento agropecuário, serão abordados adiante.
Ainda em relação à dinâmica demográfica, observa-se um comportamento que
parece refletir com nitidez a dinâmica econômica intra-regional ocorrida na década
de 1990, caracterizada pelo impulso trazido por atividades terciárias – especialmente
o turismo – desenvolvidas na microrregião de Foz do Iguaçu. Ao lado de uma estru-
tura produtiva que já alcança patamares de maior complexidade, há outros fatores
nessa microrregião que contribuem decisivamente para o desenvolvimento regional,
tais como o Parque Nacional do Iguaçu, as Cataratas do Iguaçu e o reservatório da
Usina de Itaipu. Esses elementos devem ser entendidos como importantes vetores de
uma política ativa e sustentável, de preservação do meio ambiente com simultâneo
desenvolvimento do turismo – nacional e internacional –, que, ademais, é viabilizado
pela existência de aeroporto internacional e de um bom parque hoteleiro.
No tocante à participação na arrecadação fiscal do estado, a região Oeste res-
pondeu por 13,8% do total em 2000. Ocupou o terceiro lugar, superada apenas pela
Metropolitana de Curitiba (46%) e praticamente se nivelando com a Norte-Central,
que contribuiu com 14,3%. Adicionalmente, no campo fiscal, inúmeros municípios
que a compõem têm uma fonte extraordinária de receitas constituída pelos royalties
provenientes da geração de energia elétrica na Usina de Itaipu, no rio Paraná e em
43
Essa classificação da outras hidroelétricas no rio Iguaçu.
agricultura familiar, como uma Do ponto de vista socioeconômico, o mercado de trabalho regional vem apre-
cadeia produtiva específica, é
comum na mesorregião Oeste. sentando expansão do emprego formal. Não obstante, a taxa de desemprego de
Considera-se que a atividade
dos estabelecimentos familiares
12,8% em 2000 é idêntica à média observada em todo o estado, sendo das mais
que resultam na produção elevadas no cotejo com as outras mesorregiões: é superada apenas pelas taxas ve-
de leite, ou de frango, ou de
outros produtos agropecuários,
rificadas na Metropolitana de Curitiba (14,7%), na Centro-Oriental (14,1%) e na
é apenas um elo de uma cadeia Centro-Ocidental (13,7%).
produtiva mais extensa, que
inclui a industrialização dos No que concerne à qualidade de vida dos municípios que a compõem, obser-
produtos primários que os(as) vam-se também situações contraditórias. Enquanto reúne 11 dos 23 municípios nas
agricultores(as) fornecem, e a
comercialização dos produtos melhores posições do estado em termos do Índice de Desenvolvimento Humano
finais. Já a agroindústria Municipal (IDH-M), estão também na região Oeste muitos municípios com esses
familiar lá referida abrange
as três etapas: produção índices entre os piores do estado.
primária, industrialização
e comercialização. É o que
existe em Missal e em outros b) Cadeias produtivas e agricultura familiar
municípios do Oeste paranaense,
nos quais diversas associações
As quatro principais cadeias produtivas em que se inserem os(as) agricultores(as)
de agricultores(as) familiares familiares na região Oeste são: grãos (soja, milho e trigo), carnes (aves e suínos), leite
produzem e comercializam, em
conjunto ou individualmente, e a agroindústria familiar.43 Dois dos três principais municípios da região – Toledo e
produtos primários com Cascavel – ocupam o primeiro e o segundo lugar entre os 399 municípios do estado
agregação de valor (mediante
o seu processamento, a no que concerne à geração do VBP agropecuário estadual (2,5% e 1,7%, respectiva-
transformação, e até a mente). Vale ressaltar que ambos apresentam forte concentração em alguns poucos
industrialização, em instalações
específicas para essas finalidades produtos. No caso de Toledo, apenas a soja, os suínos e o frango de corte respon-
e em diversas escalas de
produção), com o apoio do
dem por 51% do VBP municipal. Em Cascavel, ocorre situação equivalente: a soja, o
Emater e das prefeituras. frango de corte e o milho agregam 56,6% do VBP do município.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 79


Essa concentração da produção em poucos produtos configura um quadro de
instabilidade para os(as) agricultores(as) familiares, afetando negativamente suas
rendas e repercutindo perversamente no desenvolvimento regional. Na última safra,
criou-se um cenário muito desfavorável para os(as) agricultores(as), principalmente
para aqueles(as) que não têm a produção diversificada, em virtude de vários fatores:
a queda dos preços internacionais da soja e a valorização do real; os embargos (es-
pecialmente europeus) às importações de carne suína brasileira; a gripe aviária que
reduziu fortemente a demanda de frangos para exportação e deprimiu os preços no
mercado interno; e eventos climáticos adversos que diminuíram a produtividade das
lavouras de milho.
A superação dessa situação vulnerável requer dos produtores a diversificação
das atividades com agregação de valor à produção. Essa transição não é simples
de ser efetuada; é processo de evolução que requer a simultaneidade de condições
favoráveis, tais como:

• a capacitação dos(as) agricultores(as) e o permanente apoio técnico que lhes


permitam empreender as mudanças nos seus sistemas de produção;
• a articulação com outros(as) agricultores(as) na mesma situação, que facilite o
equacionamento dos problemas comuns, especialmente na adoção de práticas
produtivas ambientalmente sustentáveis, na organização de canais de comer-
cialização da produção, no estabelecimento da logística de abastecimento dos
insumos e de distribuição dos produtos;
• a existência de políticas públicas – federais, estaduais e municipais – para o
financiamento dos investimentos e do custeio da produção, para a prestação
da assistência técnica e para a inserção dos produtos no mercado.

A produção de leite tem sido a primeira iniciativa adotada pela agricultura fa-
miliar para diversificar a produção. O Emater desenvolve na região um programa de
Ater para produtores de leite que atualmente alcança oito municípios, com um total
de nove grupos com um número de 20 a 25 produtores cada um. O foco do trabalho
desenvolvido situa-se na produção de alimentos (pastagens) no âmbito do estabe-
lecimento e no planejamento da evolução do plantel. É essencial o estímulo aos(às)
agricultores(as), com seminários, programas nas rádios locais, presença constante
de extensionistas e reuniões periódicas dos grupos para que ocorra a diversificação
com a produção de leite.
As cooperativas recebem a produção, processam o leite e comercializam os
produtos resultantes. Existe na região uma cooperativa central – a Frimesa, loca-
lizada em Medianeira – que recebe e processa o leite recolhido nas propriedades
familiares por cooperativas de menor porte. Muitas dessas cooperativas, mais pró-
ximas dos(as) agricultores(as), também fornecem assistência técnica. Uma delas,
a Cooperlac, sediada em Toledo, tem um programa especial para seus associados:
produtores que estão fornecendo leite há pelo menos seis meses podem ter até
cinco animais financiados pela cooperativa com 24 meses para pagar, sendo o
pagamento feito em leite.
A agroindústria familiar é também uma alternativa de diversificação para o es-
tabelecimento. É, principalmente, uma atividade complementar às atividades agro-
pecuárias, cujo desenvolvimento vem tomando impulso na região, ao norte do mu-
nicípio de Cascavel e nos municípios do extremo oeste, lindeiros ao reservatório da
Usina de Itaipu. São pólos dessa “jovem” cadeia produtiva paranaense os municípios
de Corbélia e Missal, entre outros.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 80


Em Corbélia, é comum a atividade não agrícola, principalmente entre as mulhe-
res. Na entressafra, elas normalmente aumentam a produção nessas atividades e se
tornam importantes provedoras da renda familiar. Na entrada da cidade, à margem
da rodovia que lhe dá acesso, existe uma loja construída com recursos da prefeitura,
para a comercialização desses produtos.
Em Missal, o trabalho vem sendo desenvolvido há mais tempo e se encontra
mais estruturado. Existem quatro associações de produtores – olericultores, piscicul-
tores, apicultores e pequenos produtores – que hoje reúnem quase 300 associados.
A prefeitura e o Emater local organizam e administram as atividades que estão insti-
tucionalizadas e consolidadas. Há agroindústrias de vários tipos (fábrica de cachaça,
padaria, doces e geléias, conservas e embutidos artesanais, etc.) nos próprios esta-
belecimentos familiares dos associados, além do Centro de Comercialização (super-
mercado) na cidade.
Cabe registrar que há, na legislação do estado do Paraná, um incentivo para a
comercialização dos produtos da agroindústria familiar. Esse apoio governamental,
que tem a forma de diferimento do recolhimento do ICMS incidente na venda desses
produtos, tem aberto espaços para a sua comercialização, até mesmo nas grandes
redes de supermercados.
A iniciativa é bastante exitosa, a despeito de alguns problemas ainda existentes,
ligados à formalização do empreendimento (como emissão de nota fiscal) e à inspe-
ção sanitária da produção. É replicável em outras geografias, e os atores que a via-
bilizaram – agricultores(as) familiares e suas organizações, Prefeitura e, especialmente, o
Emater – estão preparados para dar apoio e assistência técnica a projetos semelhantes.

c) Estratégias de reprodução das famílias


A principal estratégia necessária para a sustentabilidade da agricultura familiar
na região, como se viu no tópico anterior, é a diversificação da produção e a agre-
gação de valor ao produto. Isso determina incremento na geração de renda no esta-
belecimento, assegurando sua existência e desenvolvimento e, conseqüentemente,
a ocupação e a permanência dos membros da família no meio rural.
Nessa perspectiva de diversificação, as produções de leite e de frango são as
mais comuns e viáveis. Ambas requerem investimentos iniciais (animais e instala-
ções), assistência técnica (manejo alimentar, reprodutivo e sanitário) e canais de
comercialização (associações de produtores, cooperativas ou indústrias processado-
ras). Assim, o Pronaf, os agentes fornecedores de Ater (especialmente o Emater) e o
tecido associativo – suas existência e qualidade – são requisitos essenciais à viabiliza-
ção dos empreendimentos com produção diversificada.
As possibilidades de diversificação estão também relacionadas à formação e à
estabilidade da família, à escolaridade de seus membros e a outros aspectos cultu-
rais. No caso do leite, freqüentemente a mulher tem a iniciativa; no caso do frango,
é relativamente comum que os(as) jovens cuidem do(s) aviário(s).
Para a sustentabilidade da agricultura familiar, tão importante quanto a exis-
tência de renda na propriedade é a freqüência com que ela fica disponível. Isso tem
a ver com o tipo de atividade desenvolvida (extensão do ciclo produtivo), com o
modo de acesso ao mercado consumidor e com as condições de comercialização
dos produtos. Assim, pode-se relacionar algumas possibilidades de distintos fluxos
de renda, tais como:
• rendas semanais ou até em períodos menores – produtos da olericultura, da
fruticultura de mesa e de agroindústrias familiares, comercializados diretamen-
te pelo produtor, em feiras e outros pontos de venda. Nesses casos, muitas

IBASE : PRONAF . PARANÁ 81


vezes há dificuldades a superar, ligadas ao transporte e à manutenção da qua-
lidade sanitária dos produtos ofertados;
• rendas mensais – leite in natura, apenas resfriado, destinado a cooperativas; ren-
das não agrícolas, como as aposentadorias e pensões de membros da família;
• rendas trimestrais ou até semestrais – situação típica dos integrados a indústrias
processadoras de carne (frangos e suínos); também ocorrendo com os produ-
tos de lavouras com duas safras anuais (milho e feijão);
• rendas anuais – produtos de lavouras perenes (café, cana-de-açúcar) ou de
lavouras renováveis, com uma safra por ano (soja, trigo e algodão);
• rendas obtidas em períodos maiores (dois, três ou mais anos) – bovinocultura
de corte, madeira de reflorestamentos.

Sob outro ângulo, as considerações anteriores evidenciam – e reforçam – a im-


portância da diversificação da produção, no plano da propriedade familiar. Sempre
que for adotada, é uma estratégia que dilui riscos e contribui decisivamente para a
sua sustentabilidade.
Havendo renda no estabelecimento – qualquer que seja sua origem, pode até
ser não agrícola – uma condição necessária à sustentabilidade da agricultura familiar
está realizada. Os membros da família permanecem ou retornam e criam ocupações
na propriedade. Além dessa condição, outros requisitos também precisam ser aten-
didos, tanto no plano da qualidade de vida no meio rural como pela existência de
possibilidades efetivas de escolarização formal, de satisfatório atendimento à saúde
e de realização pessoal e profissional, para todos os membros da família.

d) O tecido associativo
O sindicalismo presente na mesorregião Oeste tem origem nos movimentos rei-
vindicatórios de trabalhadores(as) rurais, surgidos no norte do estado, há mais de
40 anos. Os sindicatos existentes em quase todos os municípios da região são vincu-
lados à Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná (Fetaep),
que, por sua vez, é filiada à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
(Contag). A tônica de sua atuação é marcada por questões que afetam, especial-
mente, os(as) trabalhadores(as) assalariados(as).
Essa característica, embora fiel às origens e também compatível com a realidade
atual de mesorregiões onde prevalece o trabalho assalariado nas áreas rurais, sen-
sibiliza cada vez menos os(as) agricultores(as) familiares(as), que enfrentam proble-
mas de outra natureza. Em relação a essa categoria, desempenha apenas um papel
institucional, elaborando e fornecendo as Declarações de Aptidão ao Pronaf (DAPs)
que os habilitam ao financiamento Pronaf. Além disso, divulgam as características
dos diversos tipos de crédito Pronaf e os parâmetros para o enquadramento das
pessoas interessadas na obtenção desse apoio financeiro.
Dessa forma, os(as) agricultores(as) familiares não se sentem motivados(as)
nem atraídos(as) por esse tipo de associativismo. Há opiniões, razoavelmente ge-
neralizadas, de que essa atuação sindical está desatualizada e desfocada, não se
justificando para os(as) agricultores(as) familiares a militância e a participação ati-
va nesses sindicatos.
Por outro lado, desenvolve-se na região um movimento para o associativismo
entre os(as) agricultores(as) familiares, articulando ações – individuais ou coletivas
– para diversificar a produção nos seus estabelecimentos, com agregação de valor, e
alcançando a etapa da comercialização entre consumidores finais. Esses movimentos
ocorrem em municípios lindeiros ao lago de Itaipu e contam com o apoio decisivo

IBASE : PRONAF . PARANÁ 82


dos escritórios locais do Emater e das respectivas prefeituras; adiante, aborda-se,
com mais detalhes, o que foi observado a esse respeito.
Outro tipo de relação mantida pelos(as) agricultores(as) familiares, presente no
Oeste, é a integração com empresas privadas, fornecendo-lhes as matérias-primas
por elas processadas em grandes unidades industriais, e delas recebendo apoio e
orientação técnica e, principalmente, garantia de aquisição da produção. Na região,
esse tipo de parceria ocorre na cadeia produtiva das carnes (frangos e suínos). Em
Toledo, localiza-se a maior unidade industrial da empresa brasileira que tem a lide-
rança nesse setor.
Integrações desse tipo são comuns no Brasil, notadamente nos estados sulinos,
sendo procuradas e valorizadas pelos(as) agricultores(as) familiares. Sem dúvida, trazem
diversos benefícios para os produtores rurais integrados, especialmente a garantia de
inserção de sua produção. Todavia, a posição do(a) agricultor(a) familiar integrado(a)
nessas cadeias produtivas, muitas vezes designada por parceria, é bastante subordinada,
pois ele(a) constitui o elo mais fraco e vulnerável de toda a cadeia. Tal condição submete
o produtor integrado a situações desfavoráveis e indesejáveis, que põem em risco a pró-
pria sustentabilidade do seu empreendimento, no médio e longo prazos.
Destacam-se como mais importantes os três seguintes fatores que geram essa
instabilidade:
• a falta de autonomia do produtor integrado na gestão de seu estabelecimento
desde as orientações e diretrizes para o respectivo planejamento das atividades
– que são estabelecidas pela indústria integradora – até a utilização, pratica-
mente compulsória, de todos os “fornecimentos” feitos pelo parceiro industrial
(linhagem genética contida nos lotes de pintainhos e leitões entregues para
criação e/ou engorda; assistência técnica e orientações de manejo sanitário
de animais e instalações; medicamentos, farelos e rações para tratamento e
alimentação dos animais; transporte dos produtos, desde o estabelecimento
familiar até a indústria, entre outros);
• os preços dos insumos e serviços “fornecidos” pelo parceiro industrial e o valor
pago aos(às) agricultores(as) integrados(as) pelos produtos por eles(as) entre-
gues, em ambos os casos unilateralmente estabelecidos e precariamente justi-
ficados pelo parceiro industrial; e
• os critérios de apuração e partilha do excedente econômico gerado em toda
a cadeia, e de apropriação pelos agentes produtivos dela constituintes, que,
naturalmente, são desfavoráveis para o elo mais fraco.

Sendo a cadeia produtiva um campo de luta entre os diferentes atores que dela
participam, impõe-se o fortalecimento do elo mais fraco para que fique recomposto
o equilíbrio necessário à sustentabilidade desse sistema produtivo e de todos os
seus participantes. Para tanto, parecem indispensáveis duas ordens de providên-
cias: a articulação dos(as) agricultores(as) familiares para discutirem tais questões e
problemas e uma estratégia para enfrentá-los; a ação do estado, em suas diversas
instâncias, bem como a utilização de políticas públicas já existentes – como o Pronaf
– como instrumentos eficazes para garantir essa sustentabilidade.
Um quarto tipo de associativismo bastante difundido entre os(as) agricultores(as)
familiares da mesorregião Oeste é o cooperativismo. Existem diversas cooperativas
na região, diferenciadas pelas origens e idades, pelos tamanhos, pelas políticas ado-
tadas em sua gestão e relacionamento mantido com os seus associados. O quadro
apresentado na página seguinte relaciona alguns indicadores das cooperativas visita-
das, e cujos dirigentes foram entrevistados, que evidenciam tal diversidade.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 83


QUADRO 1: INFORMAÇÕES SOBRE COOPERATIVAS VISITADAS

Nome da cooperativa LAR (Media- Copacol Cooperlac Coopavel


(unidade visitada) neira) Foz do (Cafelândia) (Toledo) (Cascavel)
Atuação microrregional Iguaçu – Toledo Toledo – Cascavel Toledo Cascavel
Ano da fundação 1964 1963 1997 Não disponível
Atividades desenvolvidas Produção e Produção e comer- Produção e Produção e comer-
comercialização cialização de soja, comercialização de cialização de soja,
de soja, aves, suí- milho, trigo, algodão, leite e suínos milho, trigo, carnes
nos, leite, féculas café, aves, suínos e (aves, suínos e
e vegetais sementes bovinos) e leite
Comercialização Comercialização de Comercialização Comercialização
de insumos agro- insumos agropecuá- de bens de forne- de insumos
pecuários e de rios, supermercados cimento (insumos agropecuários
bens de consumo, agropecuários)
supermercados
Prestação de Prestação de serviços Prestação de Prestação de
serviços assistência técnica serviços
e social aos
cooperados
Exportações em 2005:
Total R$ 231,6 milhões US$ 60,3 milhões – US$ 54,4 milhões
o
N de associados 8.521 4.244 1.584 3.001
No de associados (%) 100 100 – 100
Pequenos produtores 7.020* 3.769** 1.400** 2.133**
Pequenos produtores (%) 82 89 – 71
Grandes e médios 1.501 475 184 868
Grandes e médios (%) 18 11 – 29
o
N de funcionários 3.897 4.340 53 3.758
Receitas brutas
Total R$ 929,1 milhões R$ 634,6 milhões R$ 44,2 milhões R$ 680 milhões
Total (%) 100 100 100 100
Prod. agrícolas, pecuários,
R$ 587,2 milhões R$ 535,10 milhões R$ 32,2 milhões R$ 533 milhões
carnes e industrializados
Prod. agrícolas, pecuários,
63,2 84,3 72,8 78,3
carnes e industrializados (%)
Insumos, sementes, bens de
R$ 252,7 milhões R$ 99,5 milhões R$ 11,7 milhões R$ 117,4 milhões
fornecimento, supermercados
Insumos, sementes, bens de
27,2 15,7 26,5 17,3
fornecimento, supermercados (%)
Outros R$ 89,2 milhões – R$ 0,3 milhão R$ 29,8 milhões
Outros (%) 9,6 – 0,7 4,4
o o
N associados / N funcionários 2,2 1,0 29,9 0,8
Receita bruta anual / No
R$ 109,0 mil R$ 149,5 mil R$ 27,9 mil R$ 226,6 mil
associados
Receita bruta anual / No
R$ 238,4 mil R$ 146,3 mil R$ 834,0 mil R$ 181,0 mil
associados
Fonte: Relatórios das Administrações – 2005
* até 60 ha
** até 50 ha

IBASE : PRONAF . PARANÁ 84


As visitas e entrevistas realizadas e o exame do quadro anterior suscitam al-
gumas reflexões. Em primeiro lugar, o tamanho dessas cooperativas evidenciado
pelo nível das receitas obtidas. Três delas têm grande porte, com receitas no plano
das centenas de milhões de reais. Têm também presença marcante nos mercados
externos; os números indicam que, certamente, se encontram no rol dos maiores
exportadores brasileiros. Cabe destacar também a importância que têm para todas
elas as receitas obtidas com as vendas de insumos, sementes e bens de fornecimento
– os denominados “pacotes tecnológicos” – aos(às) agricultores(as) das regiões em
que atuam. Nessa rubrica, não se dispõem das parcelas específicas resultantes das
vendas a consumidores(as) finais, realizadas em supermercados das próprias coope-
rativas. Mas a observação do porte de algumas dessas unidades e da movimentação
da freguesia quando foram visitadas permite afirmar que também são importantes.
A relação entre o número de funcionários(as) e o número de associados, as
informações colhidas no trabalho de campo e as publicadas nos relatórios de ad-
ministração examinados indicam e sinalizam que as políticas e práticas de gestão
adotadas nessas cooperativas são típicas de uma administração profissionalizada,
que as conduzem e administram com evidentes critérios empresariais privados. Essa
orientação, necessária à sobrevivência dos empreendimentos no contexto político-
econômico em que atuam, configura uma situação nem sempre favorável aos(às)
agricultores(as) familiares, que, como observado, são o elo mais fraco das cadeias
produtivas em que se inserem.
No entanto, nesse aspecto, constitui uma exceção a Cooperlac, cooperativa mais
nova e de menor porte que parece mais sensível e afinada com a realidade proble-
mática da agricultura familiar. Talvez constitua de fato um exemplo sugestivo de que
é possível conciliar estabilidade e vigor econômico-financeiro da cooperativa com o
fortalecimento e a sustentabilidade de seus associados. Caberia aprofundar o exame
dessa possibilidade – e de outros casos semelhantes que certamente ocorrem na re-
gião – buscando a identificação dos meios e modos de replicar, generalizadamente,
essa solução que pode constituir um novo paradigma associativo para a agricultura
familiar regional.
Uma terceira questão relevante a mencionar é o expressivo quadro de associa-
dos que têm todas elas e a predominância nesse contingente, dos(as) pequenos(as)
proprietários(as) rurais: 70%, 80% e até 90% de seus associados são titulares de
unidades com áreas inferiores a 60 hectares. Por outro lado, considerando a distri-
buição geográfica desses associados e cotejando com dados do IBGE (Censo 2000)
referentes à população dos municípios onde se localizam, constata-se a extraordiná-
ria capilaridade que tem a atuação dessas cooperativas, como se verifica nos dados
a seguir.

QUADRO 2: ASSOCIADOS DAS TRÊS MAIORES COOPERATIVAS POR MICRORREGIÕES

Famílias rurais Número de associados


Microrregião nos municípios das três maiores coo- %
A considerados perativas (C) : (B) x 100
B C
Toledo 8.204 3.122 38
Cascavel 20.380 3.491 17
Foz do Iguaçu 13.191 5.517 42

IBASE : PRONAF . PARANÁ 85


Verifica-se, assim, a grande importância que têm as cooperativas no contexto da
mesorregião Oeste paranaense. Em igual medida, apresenta-se sua responsabilidade
em face da sustentabilidade da agricultura familiar regional.

d) Agentes financeiros do Pronaf na região


O crédito Pronaf é aplicado, na região, pelo Banco do Brasil, pelo Sicredi e pelo
Cresol, em proporções bastante diferenciadas, com larga predominância da primeira
instituição citada. Os dois outros são sistemas de cooperativas de crédito.
O Sicredi tem sede em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul (Banco Sicredi), e está
organizado em cinco cooperativas centrais, abrangendo dez estados brasileiros. Tem o
caráter de entidade financeira e um porte avantajado: em 2005, o Sicredi como um todo
captou cerca de R$ 4.269 milhões e emprestou R$ 3.392 milhões (SICRED, 2005).
A Cooperativa Central do Paraná engloba 27 cooperativas de crédito e 266 pos-
tos de atendimento. No Oeste paranaense, opera nas três microrregiões, tendo sido
visitado o Sicredi Cataratas, localizado em Medianeira e com atuação predominante
nas microrregiões de Foz do Iguaçu e Cascavel. Em 2005, essa unidade aplicou cerca
de R$ 64,7 milhões na agricultura, dos quais R$ 28,4 milhões foram destinados ao
financiamento de investimentos (desse total, R$ 11,5 milhões de Pronaf Investimen-
to) e R$ 36,3 milhões ao custeio de lavouras (desse total, R$ 14,4 milhões de Pronaf,
concentrando cerca de 70% desse valor no tipo E).
O Sistema Cresol aplica recursos, para custeio e investimentos, que lhe são re-
passados pelo Banco do Brasil, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econô-
mico e Social (BNDES), pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul
(BRDE) e pela Caixa Econômica Federal (CEF). Sua origem está relacionada aos(às)
agricultores(as) familiares e suas organizações, e tem associados residentes em cerca
de 250 municípios paranaenses. Opera principalmente na região Sudoeste e no Vale
do Ribeira. Sua atuação é estratégica, para o apoio de agricultores(as) familiares de
menor nível de renda e mais vulneráveis (Pronaf tipos B e C). Os estudos de caso
referentes àquelas duas regiões analisam com detalhe a atuação do Sistema Cresol.
O Banco do Brasil é o principal agente financeiro do Pronaf na região, com agên-
cias em praticamente todos os municípios e, portanto, com grande capilaridade. Os
tópicos a seguir sintetizam aspectos da operacionalização do Pronaf por meio desse
agente, colhidos nas entrevistas realizadas:
• o volume do crédito disponibilizado nas últimas safras tem sido suficiente;
• o grande beneficio do Pronaf: os(as) pequenos(as) agricultores(as) têm acesso
ao crédito e se tornam pessoas mais valorizadas;
• os(as) tomadores(as) do Pronaf deveriam ter mais informações e esclarecimen-
tos sobre a comercialização da sua produção;
• o comércio de milho é muito complicado, a cada ano mudam as regras para a
comercialização;
• tem que haver garantia de preço mínimo para os produtos agrícolas, para viabi-
lizar plenamente os benefícios do Pronaf ao(à) agricultor(a) familiar. “O produ-
tor faz tudo certinho, mas às vezes chega na hora e não consegue vender por
preço adequado”;
• poderiam ser criados meios (canais) de venda alternativos. O PAA não chega a
muitos municípios;
• são muito pequenos, e em grande número, os produtores de grãos, o que
dificulta a assistência do Emater a todos eles;
• o(a) agricultor(a) familiar só planta milho por falta de opção;
• Proagro: programa destinado apenas a lavouras de grãos. Deveria atender,

IBASE : PRONAF . PARANÁ 86


também, a outras atividades produtivas da agricultura familiar (cadeias com-
pletas ou elos correspondentes à produção familiar);
• a participação da mulher ainda é muito tímida. Elas estão principalmente na
cadeia produtiva do leite;
• há bastante inadimplência. Dos(as) agricultores(as) familiares que estão inadim-
plentes, apenas cerca de 10% procuram o Banco do Brasil para solicitar adia-
mento do vencimento da dívida, para renegociar. O Pronaf não prevê outras
garantias; apenas nos empréstimos para investimento é que isso ocorre;
• talvez a DAP devesse sofrer alterações para minimizar essa inadimplência;
• a(s) agência(s), em geral, é(são) pequena(s), e também é reduzida a quantida-
de de funcionários(as). As filas são grandes.

e) Transição do sistema produtivo tradicional para o agroecológico


Na região Oeste, desenvolve-se um movimento relativamente recente, mas vigo-
roso, para promover a diversificação da produção dos(as) agricultores(as) familiares,
avançando até mesmo no campo da agricultura orgânica e na questão da transição
para o sistema agroecológico. Essas iniciativas ocorrem em cerca de 50 municípios,
especialmente aqueles margeados pelo lago de Itaipu (Bacia Paraná III), nas micror-
regiões de Toledo e de Foz do Iguaçu – e também na microrregião de Cascavel.
Tal movimento é realizado por organizações e lideranças dos(as) agricultores(as)
familiares da região e recebe apoios de diversas naturezas e origens: técnico (dos
escritórios locais do Emater), financeiro (da Itaipu Binacional e do Ministério do De-
senvolvimento Agrário) e institucional (das prefeituras daqueles municípios).
Os programas e projetos desenvolvidos por essas iniciativas são de natureza
variada, mas todos eles abrangem a temática referida, como indicam os exemplos
apresentados a seguir.

Central de Associações da Agropecuária Familiar do Oeste do Paraná


(Caopa)
Sede: Vera Cruz do Oeste
Projeto: reuniões periódicas nas comunidades do interior de cada município
com o objetivo de motivar novas famílias a se envolverem no processo de
conscientização, organização e conversão das propriedades para o sistema
orgânico.
Metas mínimas: alcançar 240 famílias em cerca de 20 municípios da região.

Instituto Técnico de Educação e Pesquisa da Reforma Agrária (Itepa)


Sede: São Miguel do Iguaçu
Projeto: Curso Técnico de Agroecologia, dividido em módulos e ministrado
em regime de alternância (tempo escola e tempo comunidade).
Metas: capacitar 60 jovens, filhos(as) de agricultores(as) dos assentamentos de
reforma agrária, com o objetivo de levar os conhecimentos e a prática adquiri-
dos no curso para os(as) assentados(as).

Instituto Maytenus para o Desenvolvimento Sustentável


Região de Atuação: 28 municípios da Bacia Paraná III
Objetivos: capacitar agricultores(as) familiares e técnicos(as) em: agroecolo-
gia, comercialização, agrotransformação e plantas medicinais.
Metas: público beneficiário direto: 772 pessoas.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 87


Fórum Oeste de Entidades para o Desenvolvimento da Agricultura Familiar
Sede: Cascavel
Projeto: programa interinstitucional de capacitação em desenvolvimento rural
sustentável para agentes de Ater e lideranças de agricultores(as) familiares.
Metas: agroecologia e transição para a agricultura de base agroecológica;
capacitação de extensionistas e de agricultores(as) familiares em Arranjos
Produtivos Locais (APLs) e agroindústrias familiares; educação de jovens rurais
como agentes de desenvolvimento sustentável; capacitação em segurança e
soberania alimentar; capacitação em questões de gênero, de geração e de
etnia; entre outras.

A agricultura orgânica é ainda pouco representativa, e a transição dos estabele-


cimentos familiares para os sistemas de produção agroecológica ainda está em seu
estágio inicial, mas há um esforço importante de agentes e de lideranças da região,
até dos(as) agricultores(as) familiares, de se orientarem nessa direção.
De certa forma, a monocultura da soja nos estabelecimentos familiares da re-
gião encontra-se efetivamente ameaçada. Por um lado, o “pacote tecnológico” está
muito caro para o(a) agricultor(a) familiar e não há indícios de reversão desse qua-
dro; por outro, a eliminação das ervas daninhas nas lavouras de soja, por meio de
capina convencional, é inviável, pois o custo dessa opção tecnológica torna a pro-
dução deficitária, aos preços de mercado. Há, portanto, condições objetivas para
ocorrer a diversificação da produção e a transição para outros sistemas e tecnologias
produtivas, no âmbito da agricultura familiar regional.
Nesse cenário, as informações colhidas nas entrevistas e as iniciativas observadas
na região são animadoras, pois evidenciam a existência de um processo de mudan-
ça, ainda incipiente, mas muito significativo, no sentido de fortalecer a sustentabi-
lidade da agricultura familiar. O Pronaf, como política pública, ainda não colabora
decisivamente para o sucesso dessa evolução. Especialmente dois aspectos de suas
normas dificultam:
• o financiamento, por produto; e
• a inexistência de carência (para a amortização dos empréstimos) em extensão
compatível com os prazos necessários para efetivar a diversificação da pro-
dução e a transição para o sistema agroecológico, ambos processos longos e
demorados, particularmente no âmbito da agricultura familiar.

4.2.3 SUDOESTE

a) Breve caracterização da região44


A região Sudoeste constitui-se em uma das últimas áreas de ocupação do estado,
operada em boa medida pela migração de colonos gaúchos e catarinenses a partir
da década de 1950. Essa origem associada a um ambiente que conjuga terras férteis
com um relevo acidentado empresta à região uma característica de forte presença da
agricultura familiar. Na região, 97% dos estabelecimentos possuem menos de 100
hectares – sendo que 44% dos estabelecimentos possuem até dez hectares –, ocu-
44
O texto que se segue tem pando 73% da área total.
por base os trabalhos “Leituras Nos 37 municípios que a compõem, moram 472.626 habitantes, o que repre-
Regionais - Mesorregiões
Geográficas Paranaense” senta 4,9% do total do estado. Destacam-se, em função de suas dimensões popula-
e “Leituras Regionais cionais e níveis de polarização, os municípios de Francisco Beltrão e Pato Branco. Dos
– Mesorregião Sudoeste”,
do Ipardes. 37 municípios da mesorregião, 32 têm menos de 20 mil habitantes e apenas cinco

IBASE : PRONAF . PARANÁ 88


municípios estão entre 20.001 e menos de 100 mil habitantes. Isso demonstra uma
atomização dos recursos nessa mesorregião, bem como significativa dependência
das transferências federais e estaduais, com dificuldade para alguns municípios em
manter sua estrutura de serviços. Observa-se que o desenvolvimento da mesorre-
gião está concentrado nos maiores municípios, ficando os pequenos com estruturas
que mais se assemelham a uma extensão do meio rural do que a uma caracterização
de área urbana. Trata-se, pois, da segunda mesorregião menos urbanizada, possuin-
do um grau de urbanização de 60% contra 81% do estado.
A taxa média anual de crescimento populacional é ligeiramente negativa (0,13%),
destoando da taxa estadual de 1,4%, para o igual período de 1991–2000. O meio
rural da região vem experimentando saldos migratórios negativos bastante elevados
no transcorrer das últimas décadas do século XX, resultando em um dos mais ex-
pressivos do estado na década de 1990. A despeito dos ganhos populacionais das
áreas urbanas, no cômputo geral da região o saldo e a taxa líquida de migração se
mantêm negativos, expressando o predomínio das perdas populacionais para fora
da região.
Do ponto de vista da evolução do mercado de trabalho na região, o Sudoeste
está entre as regiões que apresentam uma taxa de expansão do emprego formal
superior à media estadual (25% e 20%, respectivamente, para o período de 1996
a 2001). Chama atenção o fato de que se trata da região com a menor taxa de
desempregados(as): 8% contra 13% para o estado. Quanto à distribuição dos ocu-
pados pelos setores de atividade, no ano de 2000, o setor primário da agropecuária
absorvia 42% dos ocupados da região contra 20% do estado.
Em termos da produção agrícola, o Sudoeste é responsável por 10% da produ-
ção total de grãos no estado. Entre 1991 e 2000, a produção de milho e soja cresceu
a taxas de 80% e 47%, respectivamente. De modo geral, na maioria dos municípios
da região, a pauta agrícola é pouco diversificada e reproduz o padrão da região
Sudoeste, com predominância desses dois produtos. Para 26 dos 37 municípios,
soja e milho representam mais de 70% do valor da produção agrícola. No caso da
pecuária, merece destaque o crescimento, para o mesmo período, de aves (51%), do
leite (116%) e dos suínos (123%).
A região Sudoeste manteve, no período 1975–2000, uma participação relati-
vamente estável, oscilando entre 3,2% e 4,2%, chegando em 2000 com 3,5% do
valor adicionado fiscal total do estado. Com esse valor, a região situou-se entre as
menores participações na formação da renda estadual ao longo do período anali-
sado. Esse desempenho se deve ao perfil econômico especializado numa produção
agropecuária de numerosos pequenos e médios produtores, diversificados e intensi-
vos em mão-de-obra familiar, mas com baixa agregação de valor.
Além disso, apresenta uma capacidade de produção com grande desvantagem,
comparativamente a outras mesorregiões do estado, em função do relevo mais aci-
dentado e do clima mais frio. Mesmo assim, demonstrou capacidade de acompanhar
as mudanças da base produtiva, melhorando sua participação no valor adicionado
fiscal estadual comparativamente às demais mesorregiões paranaenses: até 1991,
manteve-se em diferentes anos em oitavo e nono lugares e, ao longo da década de
1990, subiu para a sétima posição.
Em relação ao desempenho social, verifica-se que a maioria dos municípios ocu-
pa posições intermediárias no ranking estadual do IDH-M, ressaltando-se que, dos
23 municípios do Paraná com IDH-M acima da média estadual, seis encontram-se
no Sudoeste, com destaque para Pato Branco, que ocupa a terceira posição parana-
ense. O bom desempenho municipal quanto ao IDH-M é reflexo, principalmente, do

IBASE : PRONAF . PARANÁ 89


componente educação. Em grande parte dos municípios, a taxa de escolarização,
nos níveis fundamental e pré-escolar, encontra-se acima da média estadual. A região
é também uma das poucas a registrar mudanças positivas na renda per capita. No
entanto, um quarto das famílias ainda se encontra em condições de pobreza.

b) Cadeias produtivas locais


A agricultura familiar está concentrada, como revelam os dados expostos an-
teriormente, principalmente nas atividades agropecuárias mais presentes na região
como um todo: grãos (principalmente milho e soja) e leite. A produção em geral é
vendida a grandes empresas ou cooperativas. Em menor medida, mas também com
uma presença importante no sistema de integração à agroindústira, destaca-se a
criação de aves e suínos.
A presença do Pronaf nessas atividades é reconhecida como consolidada, atin-
gindo a maior parte dos(as) agricultores(as) familiares. Contudo, para os agentes
locais, há uma forte tendência do Banco do Brasil no direcionamento do Pronaf
Custeio estritamente para as culturas de soja e milho. Até mesmo a cultura do feijão
teria dificuldades de obter o crédito custeio. A certeza do crédito para esses setores
favorece, por sua vez, a emergência de um mercado de “pacotes tecnológicos”, em
que empresas e cooperativas realizam vendas para os(as) agricultores familiares de
insumos e sementes para o plantio da safra.
A pecuária leiteira, por seu turno, vem se destacando como alternativa de renda
para a agricultura familiar na região. Assiste-se, em relação ao setor, a uma reno-
vação do sistema cooperativo em favor da organização do produtor para a venda
coletiva, cuidado com as pastagens, combinação da atividade com diversificação
produtiva e, também, para o beneficiamento da produção. Destaca-se aí a experi-
ência do Sistema de Cooperativas de Leite da Agricultura Familiar (Sisclaf), que será
tratada mais adiante. Vale aqui adiantar que esse sistema vem mudando a dinâmica
da cadeia com o transporte e venda coletiva do leite, contribuindo para a melhoria
dos preços, diminuindo a dependência dos produtores em relação às grandes em-
presas e até permitindo maior segurança econômica para os produtores.
Chama a atenção que o Pronaf Investimento está fortemente dirigido para o
setor do leite, não apenas em função da demanda, mas também porque haveria,
conforme novamente os agentes, uma tendência de o Banco do Brasil privilegiar o
setor na hora de liberar o crédito. Isso ocorreria em função de que se trata de um
setor com reconhecida aceitação no mercado. Na verdade, os investimentos tendem
a se concentrar em aquisição de animais.
Entre outras culturas desenvolvidas pela agricultura familiar destacam-se as de
hortaliças, frutas, mel e cana-de-açúcar. Tais culturas estão voltadas, em parte, para
o autoconsumo e, outra parte, para a comercialização no mercado local, que se dá
pela venda direta ou via atravessador, normalmente com baixa agregação de valor.
As alternativas de comercialização em base associativa ainda são incipientes, mas
estão se fortalecendo na região, como no caso da Cooperativa de Comercialização
da Agricultura Familiar Integrada (Coopafi), como será visto mais adiante. A comercia-
lização é apresentada pelos agentes com um dos principais gargalos para o desen-
volvimento da agricultura familiar na região.
Iniciativas no setor de frangos diferenciados, embutidos, compotas, vinho, mel e
laticínios apresentam um potencial de inserção da agricultura familiar em processos
de agroindustrialização da produção e de acesso a novos mercados. Contudo, a
presença do Pronaf Investimento nesses casos, embora esteja presente, parece ser
ainda muito pouco explorada.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 90


Outro problema enfrentado nesse caso pelos produtores rurais é a inspeção
sanitária. Existem os sistemas de inspeção municipais, estadual e federal, cada um
voltado à possibilidade de comercialização em suas áreas de jurisdição. Como as
exigências e encargos de cada sistema de inspeção são diferentes, isso dificulta a
adequação dos produtores e o conseqüente acesso ao mercado formal. Uma outra
dificuldade associada a vendas em mercados mais formalizados é a impossibilidade,
muitas vezes, de fornecimento regular dos produtos durante todo o ano, dificultan-
do a fidelização dos clientes.
Como já mencionado, outra política pública federal muito presente na região é
o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). As duas linhas mais comuns na região
são a compra antecipada especial e a compra direta da agricultura familiar. Segundo
dados da Conab, 80% dos R$ 5,5 milhões destinados em 2005 ao PAA no estado
do Paraná se concentraram na região Sudoeste.
Há uma clara referência ao PAA como responsável por favorecer a diversificação
produtiva da agricultura familiar ao criar mercado para a produção local, em especial
de açúcar mascavo, farinha e frutas. Essa política é considerada adequada ao pro-
blema enfrentado pelos produtores de comercialização e escoamento da produção.
O PAA parece criar alternativas a dois processos gerados pelo modelo do Pronaf.
Um diz respeito ao padrão monocultor resultante dos financiamentos Pronaf; o outro,
ao descompasso gerado pelo Pronaf em função do incentivo à produção e da ausência
de apoio à comercialização. Embora se possa dizer que, nesse sentido, o PAA comple-
menta o Pronaf, deve-se chamar atenção para o fato de que hoje existem dificuldades
de financiamento via Pronaf de culturas de alimentos que são estimuladas pelo PAA.

c) Estratégias de reprodução das famílias


As estratégias em relação à produção parecem ser bastante frágeis. A dificul-
dade de gestão e planejamento, além de uma percepção de muito curto prazo em
relação ao mercado, faz com que a produção seja muito pautada por “modismos”
e, por conseguinte, pela oscilação do mercado. Essa falta de planejamento fica evi-
dente quando se observa que, muitas vezes, são as empresas ou cooperativas que
pautam a produção por meio da venda dos chamados “pacotes tecnológicos”. Essa
situação se explica pela dependência dos(as) agricultores(as) em relação a grandes
empresas e cooperativas ou atravessadores como forma de escoar sua produção.
A insustentabilidade da reprodução da agricultura familiar nesse sistema se tor-
nou clara no contexto de estiagens sucessivas, no aumento do custo da produção
convencional e na própria queda do preço da soja e do milho no mercado. Segundo
informação da Cooperiguaçu, a semente necessária para produzir um alqueire de
milho era comprada com dez a 12 sacas de grãos; agora seriam necessárias 40 sa-
cas. Presencia-se, segundo os agentes, a um processo de endividamento por parte
do(a) agricultor(a) familiar, que passa a acessar o Pronaf como forma de rolar dívida
e, muitas vezes, financiar o consumo familiar. A situação de endividamento não seria
apenas com o banco, mas também com o comércio local.
Muitos dos agentes avaliam que o Proagro, o seguro agrícola que cobre as perdas
em função da estiagem, funciona como um outro incentivo, além da própria oferta
do Pronaf Custeio, à monocultura de grãos. Como o seguro também está dirigido
somente para essas culturas, ele faz com que os(as) agricultores(as), com a certeza
da cobertura da produção, plantem o máximo possível da cultura financiada.
Outro elemento que revela o caráter insustentável desse modelo monocultor
voltado para a produção de grãos diz respeito à redução da produção para o auto-
consumo. Segundo dados novamente da Cooperiguaçu, o valor mensal médio do

IBASE : PRONAF . PARANÁ 91


consumo alimentar de uma família é de R$ 360, receita que corresponderia aproxi-
madamente ao valor líquido obtido com a produção convencional de grãos em uma
área de nove alqueires.
Nesse contexto, a evasão do campo continuaria presente, conforme o relato dos
agentes. Mas há uma tendência dos agentes locais em considerar que, se não fosse
o Pronaf, a situação seria muito pior. A existência do crédito ajudaria na manutenção
da perspectiva de produção, no acesso do(a) jovem ao crédito custeio – já no caso
da linha especial de crédito Pronaf Jovem, parece haver um total desconhecimento.
Vale assinalar que a aposentadoria rural ocupa também um papel importante na
renda das famílias. Diante de certa instabilidade dos ganhos na agricultura, recursos
regulares e mensais oferecem alguma segurança às famílias.
Quanto à permanência dos(as) jovens no campo, existe uma idéia muito forte de
que os(as) agricultores(as) não desejam que seus filhos e suas filhas permaneçam no
campo. Isso se deve principalmente a dois fatores. O primeiro deles é a percepção do
trabalho rural como uma tarefa muito penosa. O outro fator seria a própria falta de
perspectiva do(a) agricultor(a) familiar mais velho(a) no sentido do desenvolvimento
de atividades que assegurem renda e qualidade de vida. Além disso, concorre para
a saída do(a) jovem o estigma social carregado pelos(as) trabalhadores(as) rurais,
principalmente por parte dos(as) moradores(as) “da cidade”.
Um aspecto que reforça a tendência é o fato de que são raras as escolas de
ensino médio no meio rural, de forma que os(as) jovens, a partir de certa idade,
passam a estudar nas áreas urbanas, o que aparentemente faz com que sintam mais
de perto o preconceito e sejam seduzidos(as) pelos recursos disponíveis na cidade.
Os relatos dos(as) entrevistados(as) destacam também que a educação oferecida
nas escolas não contempla a realidade dos(as) jovens da área rural. A exceção são as
Casas Familiares Rurais, cuja proposta da “pedagogia da alternância” é justamente
a de oferecer uma educação aos(às) jovens como agricultores(as), além de uma for-
mação integrada à realidade da família e da produção no campo.
Para as jovens, a perspectiva é o trabalho doméstico nas áreas urbanas como tran-
sição para outras atividades assalariadas. Segundo o relato de agentes, o trabalho em
empresas como a Sadia, em Francisco Beltrão, é o principal horizonte dos(as) jovens
que saem do campo. Alguns relatos revelam também o movimento contrário. Ou seja,
seria significativo o número de jovens que, em função do desemprego urbano, voltam
para o campo. É verdade que, no caso do setor de leite, as possibilidades de uma rela-
tiva melhora na renda contribuiriam para segurar mais o(a) jovem no campo.
Em relação ao trabalho feminino, o caso da produção de leite também é bastan-
te reveladora. Essa atividade por muito tempo foi marginal dentro da propriedade e
era delegada quase que exclusivamente às mulheres como uma atividade eminente-
mente doméstica. Quando o leite assumiu na região grande importância econômica,
a produção deixou de ser marginal e ganhou centralidade, fazendo com que a ativi-
dade passasse a ser de toda a família. Chama a atenção a presença de mulheres na
direção das Cooperativas de Leite da Agricultura Familiar (Clafs) – pelo menos 30%
da diretoria tem de ser composta por mulheres –, bem como no movimento sindical.
Mas, se o nível de reconhecimento e responsabilidade da mulher nesse setor têm au-
mentado, isso não tem significado aparentemente alteração na divisão dos trabalhos
domésticos, que continuariam recaindo principalmente sobre as mulheres.

d) O tecido associativo e institucional


O Sudoeste do Paraná é uma região em que o associativismo é bastante forte e
antigo, remontando aos idos de 1957, quando houve uma grande revolta de colonos

IBASE : PRONAF . PARANÁ 92


gaúchos e catarinenses de origem italiana e alemã alojados na região por uma em-
presa de colonização. A empresa, que tinha a propriedade a partir de procedimentos
ilegais (grilagem), não queria dar a posse da terra aos colonos, o que desencadeou a
revolta. A forma de produzir trazida pelos primeiros colonos, valorizando a permanên-
cia no campo, forjou vínculos sociais que estão na origem da reconhecida trajetória de
organização dos produtores na região. Segundo técnicos(as) da Cooperiguaçu,

desde o início da ocupação do Sudoeste pelos imigrantes vindos do


sul, seja pela orientação da Igreja, ou pela aproximação das famílias e
seus parentes, a população rural se organiza através das comunidades
rurais. É verdade que não existe um limite rigorosamente definido
entre uma comunidade e outra, mas geralmente uma família que
freqüenta essa comunidade dificilmente participa de outra. Há um
sentimento de pertencimento das famílias. Por isso, há uma caracte-
rização específica nessa região de organização dos agricultores em
comunidades rurais. (Cooperiguaçu, 2006)

Nesse ambiente, verifica-se a incidência de lutas que contribuíram fortemente


para a organização da agricultura familiar na região, em particular via a ação dos sin-
dicatos de trabalhadores(as) rurais. Mais recentemente, presencia-se a emergência
de iniciativas cooperativas e associativas que se diferenciam das grandes cooperativas
empresariais e que organizam a agricultura familiar em favor de uma relação menos
subordinada ao mercado. A maior parte dessas organizações foi criada de meados
da década de 1990 para cá. Destacam-se, nesse contexto e na região estudada, as
cooperativas de crédito do Cresol, de comercialização da Coopafi, de produtores de
leite da Sisclaf e de técnicos(as) agrícolas da Cooperiguaçu.
O Sistema Cresol, incluindo as duas centrais Cresol Baser, com sede em Francis-
co Beltrão, e o Cresol Central, com sede em Chapeço (SC), atua hoje nos três es-
tados do Sul do país e envolve 102 cooperativas singulares, 63 mil cooperados(as)
e 360 funcionários(as), tendo uma área de abrangência que inclui 350 municípios
da região Sul. Além das singulares e das centrais, existem 12 bases regionais, que
prestam serviços às singulares. O patrimônio líquido do sistema soma algo em
torno de R$ 50 milhões. O Cresol Baser, com área de abrangência essencialmente
no estado do Paraná, envolve 59 singulares e 35 mil cooperados(as) – 27 delas
envolvem aproximadamente 20 mil associados(as), apenas na região Sudoeste.
Chama a atenção que, quando da pesquisa realizada em 1998/1999 pelo Ibase,
somente existia o sistema Cresol Baser no Paraná, que era composto por 13 coo-
perativas e apenas 5.098 associados(as), com um patrimônio líquido de menos de
R$ 2 milhões.
O Cresol nasce exatamente na região Sudoeste em 1996, a partir de uma inicia-
tiva de fundos de crédito rotativos, constituídos com recursos da cooperação inter-
nacional. Em sua origem, o Cresol congrega o movimento sindical e organizações
locais que buscavam uma forma de financiar a agricultura familiar que não apenas
facilitasse o acesso do produtor ao crédito, mas que também o envolvesse na cons-
trução de estratégias de desenvolvimento rural. O formato da cooperativa de crédito
seria uma forma de permitir o envolvimento do(a) agricultor(a) familiar na própria
gestão do crédito.
Há um reconhecimento de que o Cresol é diretamente responsável pela consoli-
dação do Pronaf na região, já que o Banco do Brasil, o principal operador do Pronaf,
não estaria voltado, nem preparado, para trabalhar com o(a) agricultor(a) familiar.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 93


Sem dúvida, a proximidade do produtor com o sistema representou um elemento
importante na democratização do crédito e funcional ao Banco do Brasil, como for-
ma de dar eficiência aos desembolsos. Conforme dados obtidos com a direção do
Cresol, o custo de operação do Pronaf está em 5% do valor do crédito. Porém, o
Banco do Brasil repassaria apenas 3,4% a título de taxa de serviço, revelando uma
defasagem na operacionalização do crédito. Essa defasagem na relação financeira
do Cresol com o Banco do Brasil representa uma situação persistente, mesmo que
melhor em relação à situação encontrada em 1998 pelo Ibase, quando o sistema
pouco ou nada recebia dos bancos para efeito da administração do crédito.
A operação do Pronaf pelas cooperativas do Cresol desde o início do programa
e do próprio sistema representou e representa hoje a principal forma, embora não
exclusiva, para a sua sustentação financeira. Novamente, para se ter idéia da evo-
lução do sistema, os repasses do custeio Pronaf representavam um pouco mais de
R$ 5 milhões e os de investimento um pouco mais de R$ 700 milhões em 1998. Em
2005, tais repasses representavam um montante de R$ 110 milhões e R$ 44 milhões,
respectivamente.45
Sem dúvida, a injeção de recursos via Pronaf explica, em grande medida, o cres-
cimento rápido da sua estrutura. Esse período de dez anos do Sistema Cresol repre-
sentou igualmente um processo de aprendizagem e de aquisição de competências,
reconhecido por agentes da sociedade e do poder público, como de fundamental
importância para o processo organizativo da agricultura familiar na região e também
fora dela. Isso reforça a importância do Pronaf como indutor da organização social
necessária para o suporte e o incremento da própria política.
O formato institucional original do sistema privilegiou a perspectiva de rede, de
crescimento horizontal, constituindo cooperativas de crédito locais e cooperativas
regionais de serviço, no sentido exatamente de aproximação com a realidade e ne-
cessidades do(a) agricultor(a) familiar. Contudo, o crescimento rápido do sistema,
aliado às exigências de controle feitas pelo Banco Central, impôs a constituição de
processos mais verticalizados, como no caso da criação das centrais. Ao mesmo
tempo, esse mesmo crescimento gerou um tal nível de especialização que reforçou
o risco de distanciamento da estrutura do sistema em relação ao seu quadro social,
algo até destacado pelos agentes locais entrevistados.
A centralidade alcançada pelo Sistema Cresol na região o coloca no foco das
atenções em relação às discussões sobre política de concessão de crédito. Para mui-
tos dos agentes entrevistados, que se reconhecem como parte do sistema, o Cresol
estaria se afastando dos objetivos para os quais foi criado ao reproduzir, em boa me-
dida, a lógica do Banco do Brasil de preocupação com a sustentabilidade e rentabili-
dade financeira. Para tais agentes, o Cresol buscava responder a uma demanda não
apenas por acesso a crédito, mas também por assistência técnica e organização dos
associados(as), contribuindo para um projeto de desenvolvimento local sustentável.
Haveria hoje, contudo, uma tendência do Cresol de replicar a orientação do Banco
do Brasil na aplicação dos recursos do Pronaf, favorecendo o custeio da monocultura
de grãos e os investimentos em leite.
Outro aspecto seria, como já referido, a gestão das cooperativas do sistema.
O Cresol conta com milhares de associados(as) e se critica o fato de que os(as)
45
Além dos recursos
provenientes do Banco do agricultores(as) não contam com espaços de participação efetiva. Some-se a isso
Brasil, o sistema opera repasses o fato de que os(as) técnicos(as) e dirigentes do sistema estão, muitas vezes,
também do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico descolados(as) e distantes da atividade produtiva. A direção do Cresol reconhece
e Social (BNDES) e do Banco
Regional de Desenvolvimento do
a predominância de um modelo monocultor que estaria sendo estimulado pelo
Extremo Sul (BRDE). Pronaf, bastante em virtude da atuação do Banco do Brasil. Vale ressaltar que o

IBASE : PRONAF . PARANÁ 94


direcionamento do crédito por essa instituição bancária para grãos já era apontada
como problema em 1998 pelo pessoal do Cresol. Na verdade, como prestadoras de
serviço para o Banco do Brasil, as cooperativas do Cresol têm que se adequar ao mo-
delo operacional do banco, sem autonomia para alterar o custeio ou mesmo definir
o momento da liberação dos recursos. Segundo os(as) dirigentes entrevistados(as),
o Cresol tem feito um esforço de gestão sobre as normativas do Banco do Brasil, no
sentido de favorecer uma maior flexibilidade na hora de ofertar o crédito.
Uma outra perspectiva indicada pelos(as) dirigentes é a de que se viabilize a
linha de custeio do Pronaf via o BNDES, que hoje opera apenas o crédito investi-
mento. Na relação com o BNDES, haveria maior autonomia para operar o crédito
custeio. Vale notar que o Cresol foi credenciado pelo BNDES, em 2005, como agente
financeiro, o que permite ao sistema operar todos os produtos financeiros do banco,
a exemplo do microcrédito.
O sistema conta, ainda, no campo da formação e assistência técnica com o
recém-criado Instituto de Formação do Cooperativismo Solidário, voltado para im-
plementação de processos formativos do corpo dirigente das cooperativas, além
do Programa dos Agentes Comunitários de Desenvolvimento e Crédito, com uma
estrutura de 500 agentes comunitários que atuam no apoio à assistência técnica.
Há uma avaliação, compartilhada por outros agentes – inclusive por técnicos(as) do
Emater –, de que a assistência técnica hoje se encontra em desvantagem numérica
em relação aos(às) técnicos(as) das empresas e cooperativas que atuam na venda
dos pacotes tecnológicos.
Para os(as) dirigentes do sistema, não cabe exclusivamente ao Cresol criar de-
manda por um modelo de desenvolvimento rural sustentável. Nesse sentido, o Cre-
sol, juntamente com a Coopafi, Sisclaf e Cooperiguaçu aprovaram, no contexto do
Pronaf Território, um projeto de Ater cooperativada, em que se pretende trabalhar
de modo articulado as dimensões de crédito, assistência técnica e comercialização,
atingindo 1.500 famílias. Além disso, tais cooperativas estão envolvidas também em
um processo de produção de sementes crioulas em uma escala que possa viabilizar,
de fato, a transição do modelo convencional para o agroecológico.
Ainda sobre a atuação do Cresol, vale destacar o papel desempenhado pelo
sistema na organização do setor cooperativista em âmbito nacional. Isso vale para o
caso das cooperativas de crédito e outras formas de finanças solidárias reunidas no
Fórum Nacional de Cooperativas de Crédito Solidário, transformado em 2004 em as-
sociação, a Ancosol. Além disso, o Cresol e a Ancosol tiveram papel fundamental na
organização da União das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária
(Unicafes), criada em junho de 2005, à qual pertencem as cooperativas aqui identi-
ficadas como parte de uma renovação em relação ao cooperativismo tradicional, de
base empresarial.
Outra organização que se destaca é o Sistema de Cooperativas de Leite da Agri-
cultura Familiar (Sisclaf), criado há oito anos. Hoje, esse sistema compreende 23
cooperativas de leite da agricultura familiar (Clafs). Atualmente, trabalham principal-
mente na comercialização do leite in natura dos(as) pequenos(as) agricultores(as).
Era muito comum que grandes empresas de fora da região comprassem leite por
algum tempo a um preço atrativo para, depois, rebaixá-los, provocando a depen-
dência do produtor e contribuindo para grande oscilação de preços e instabilidade
no mercado local. Nos primeiros cinco anos de existência do Sisclaf, o preço de
compra do leite com os produtores aumentou em 30%. A proposta do Sisclaf é
dominar toda a cadeia produtiva do leite, investindo na armazenagem e no benefi-
ciamento do leite, contando, para isso, com recursos do Pronaf Território. O Sisclaf

IBASE : PRONAF . PARANÁ 95


trabalha também na assistência técnica aos(às) produtores(as) e preferencialmente
com produto orgânico.
Um dos problemas relatados é que os(as) pequenos(as) produtores(as), quando
aumentam a produção e a renda, acabam por deixar as cooperativas para negociar di-
retamente com as empresas. A cooperativa, então, acabaria se tornando um meio de
resgatar o(a) pequeno(a) produtor(a) da exclusão do mercado, mas não conseguiria
manter como sócios(as) aqueles(as) que atingem algum sucesso. Chama a atenção o
aspecto da dimensão associativa, do efetivo envolvimento dos produtores na gestão
coletiva da cooperativa. Vale dizer que, segundo dirigentes da Sisclaf, para muitos(as)
cooperados(as) do sistema não há diferença entre a cooperativa e uma empresa.
Outro exemplo de um cooperativismo emergente na região é o Sistema de Co-
operativas da Agricultura Familiar Integradas (Coopafi), que se constitui em uma
organização bastante recente, com dois anos de funcionamento. A organização ten-
ta dar resposta a uma demanda importante dos(as) agricultores(as) familiares, ou
seja, a comercialização. A origem da cooperativa está ligada ao resgate da marca
“Integro Natura”, sob a qual se reuniam produtores de uma antiga central de asso-
ciações de produtores que se desarticulou. A Coopafi vem trabalhando com vários
tipos de produtos alimentícios (açúcar mascavo, farinha, mel, frutas, frango, con-
servas, etc.), no sentido de eliminar intermediários e fornecer diretamente aos(às)
consumidores(as).
Os desafios enfrentados pelo sistema se concentram em quatro eixos: organizar
pontos de venda para a produção da agricultura familiar; a produção de sementes
crioulas que favoreçam a mudança da matriz produtiva da agricultura familiar; a orga-
nização de compras coletivas de insumos convencionais e, principalmente, não con-
vencionais; e a promoção de feiras, que permitam a troca e o incremento de produtos
em cada região. Existe também uma preocupação de trabalhar com uma identidade
dos produtos de modo a favorecer o abastecimento regular do mercado, impedindo
também a concorrência entre os próprios produtores. A idéia é trabalhar uma marca
única, garantindo, porém, o selo de origem, a fim de não apagar as especificidades e
particularidades de cada produtor. Destaque-se que a maioria dos(as) cooperados(as)
dos sistemas Sisclaf e Coopafi acessam o crédito do Pronaf.
Está também presente na região a organização de técnicos(as) agrícolas voltada
para desenvolver uma Ater cooperativada, que assegure uma assistência mais diri-
gida ao estabelecimento do que a uma atividade agrícola específica. É o caso da
Cooperaiguaçu, que envolve atualmente 55 profissionais. Nascida em meados da
década de 1980, congrega técnicos(as) espalhados(as) pelo estado, interessados(as)
em trabalhar alternativas para o desenvolvimento rural. Vale dizer que os quatro
sistemas cooperativos aqui apresentados formam a base do Fórum das Entidades de
Agricultura Familiar dos Pinhais, que se reúne regularmente na região.
A existência desse fórum parece ser um contraponto à constatação das organi-
zações locais que atuam diretamente no desenvolvimento da agricultura familiar e se
ressentem de espaços de construção de maior convergência dos posicionamentos e
estratégias. Alguns conselhos municipais de desenvolvimento rural são considerados
também como um espaço importante de compartilhamento de visões quanto aos
problemas enfrentados, bem como de implementação de projetos de infra-estru-
tura. Contudo, houve concordância entre os agentes de que os financiamentos via
Pronaf Território, aprovados no contexto dos conselhos, constituem-se normalmente
em financiamentos de projetos de comercialização ou beneficiamento que redun-
dam, por falta de planejamento e gestão, em estruturas inoperantes – os chamados
“elefantes brancos”. A presença de um tecido associativo no Sudoeste também não

IBASE : PRONAF . PARANÁ 96


parece favorecer uma incidência maior em políticas públicas locais, que respondam
às demandas por infra-estrutura e logística para o desenvolvimento da agricultura
familiar na região.
A construção desses processos mais coletivos e articulados na região parece
ser algo ainda mais necessário quando se verifica a coincidência dos diagnósticos
e soluções apresentadas pelos diferentes agentes entrevistados. Quando se indaga
sobre as razões dessa dificuldade em trabalhar de modo mais articulado na região,
a avaliação apresentada remete aos dilemas enfrentados pelas organizações no con-
texto do governo Lula. De um lado, a leitura sobre as possibilidades abertas com um
governo mais próximo e permeável à construção de alternativas para o desenvolvi-
mento da agricultura familiar. De outro, a percepção de fragilidade da resposta do
governo aos anseios do movimento, além da constatação de que muitas das polí-
ticas estão sendo operadas por meio de organizações do movimento, contribuindo
para a perda de autonomia dessas organizações.
Deve-se ressaltar que a emergência de um cooperativismo renovado a partir da
atuação de cooperativas como a Coopafi, o Sisclaf, a Cooperiguaçu e o Sistema Cre-
sol parece ser uma novidade política importante. Embora essa incipiente renovação
tenha raízes em uma história organizativa que marca a região, não se pode deixar
de associá-la mais diretamente ao próprio processo de formação do Cresol, mesmo
que com as contradições e os limites aqui apontados.
Importa também considerar o papel da Associação de Estudos, Orientação e
Assistência Rural (Assesoar), uma associação de agricultores(as) familiares, criada em
1966 e que conta, hoje, com 283 associados(as) de 16 municípios da região e uma
equipe de 17 técnicos(as). Essa associação desenvolve ações no campo do desen-
volvimento sustentável e agroecologia e da educação popular. A Assesoar esteve na
origem do próprio Cresol e se constitui em um espaço importante de articulação dos
diferentes setores ligados ao desenvolvimento da agricultura familiar na região, bem
como de formação de quadros políticos e técnicos voltados para esse mesmo fim.
Os sindicatos de trabalhadores(as) rurais estiveram igualmente na origem dessa
renovação do cooperativismo na região, em sua maioria hoje ligados à Fetraf-Sul.
Contudo, em que pese também o fato de que boa parte dos(as) cooperados(as)
encontre-se filiada aos sindicatos e os reconheça como aliados, existiria, segundo
os(as) dirigentes das cooperativas, uma tendência de os sindicatos atuarem referidos
ao Estado e com dificuldade de organizarem agricultores familiares do ponto de vis-
ta econômico. Ou seja, existiria uma dificuldade de buscar outras formas de inserção
da agricultura familiar na estrutura socioeconômica local, como no caso relatado das
iniciativas cooperativas em curso na região.
Apesar de todas essas limitações expostas, um maior ou menor ambiente as-
sociativo parece representar, de fato, uma variável determinante na orientação do
crédito. A dimensão associativa assume importância central quando se vislumbram
formas mais autônomas e sustentáveis de inserção da agricultura familiar nas rela-
ções de mercado. Isso vale para o acesso ao crédito, haja vista os dilemas político-
institucionais vividos pelo Cresol, para os processos de comercialização, na criação
de novos canais de acesso a insumos ou de venda da produção, bem como para o
caso da assistência técnica voltada para a alteração da matriz produtiva, que exige
uma rede de trocas de saberes e técnicas. Embora o Pronaf tenha contribuído indi-
retamente para a organização do tecido associativo, talvez essa política careça de
instrumentos com uma maior capacidade de indução do associativismo na organiza-
ção da agricultura familiar.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 97


A seguir, apresenta-se um quadro-síntese das organizações atuantes na região
Sudoeste elaborado por técnicos da Cooperiguaçu, que parece retratar bem a vitali-
dade do ambiente associativo da região.

QUADRO 3: SÍNTESE DAS ORGANIZAÇÕES ATUANTES NA REGIÃO SUDOESTE

Ano de Quantidade no Forma


Organização No associados Principais atividades
criação Sudoeste Jurídica
Defesa da categoria,
Uma média de 900
Sindicatos de projetos de educação,
Década de associados por
trabalhadores 42 Sindical de habitação rural e
1960 município
rurais de defesa do meio
ambiente.
Aquisição de instrumen-
tos agrícolas.
Associações co- Moradores da loca-
Associações Década de Cerca de 5 mil Realização de cursos
munitárias sem lidade (de 10 a 60
comunitárias 1980 comunidades profissionalizantes.
fins lucrativos famílias)
Reivindicação de políti-
cas públicas.
Atos de melhorar a
Associações auto-estima.
Década de Cerca de 2 mil Mulheres da
Clubes de mães sem personali- Cursos de culinária, de
1990 clubes de mães localidade
dade jurídica orientação sobre saúde,
e lazer.
Repasse de recursos dos
Cooperativa de Em média, 800 programas governamen-
Década de Cooperativa
Crédito Solidário 27 Cresóis associados por tais, microcrédito.
1990 solidária
(Cresol) município Incentivo a projetos
alternativos.
Negociação do valor
Cooperativa do produto com as
Em média, 300
de Leite da Década de empresas.
23 Clafs Representação associados por
Agricultura 1990 Cursos de capacitação.
município
Familiar (Claf) Negociação de políticas
públicas.
Comercialização de
Cooperativa de produtos dos
Em média, 150
Comercialização Cooperativa de agricultores familiares.
Após 2000 7 Coopafis associados por
da Agricultura comercialização Cursos de capacitação.
município
Familiar (Coopafi) Negociação de políticas
públicas.
Cooperativa
Assistência técnica e
Iguaçu de
Década de Mais de 50 extensão rural.
Prestação de 1 Cooperativa Cooperativa
1980 associados Capacitação de
Serviços Ltda.
agricultores familiares.
(Cooperiguaçu)
Fonte: Cooperiguaçu

IBASE : PRONAF . PARANÁ 98


e) Transição do sistema produtivo tradicional para o agroecológico
Estima-se que o número de agricultores(as) na região que produzem no sistema
agroecológico ainda seja muito pequeno. A transição é lenta e exige assistência téc-
nica intensiva e continuada. Chama a atenção que, mesmo no caso das organizações
que atuam no assessoramento, estão em construção as técnicas e metodologias
voltadas para a transição para a agroecologia. Chama a atenção neste sentido o
trabalho na região do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (Capa). Mas o próprio
desafio de ir além de um modelo de produção meramente “orgânico” é algo que
muitas vezes ainda não está muito claro para certos(as) assessores(as) e organiza-
ções de assistência técnica.
Em um dos casos de experiência exitosa de certificação, por exemplo, por meio
da Rede Ecovida, o selo é concedido ao estabelecimento cujos insumos são 100%
orgânicos. Sem dúvida, isso tende a pôr a questão sobre a necessidade de se ma-
nejarem os recursos existentes no próprio estabelecimento a fim de possibilitar esse
tipo de produção. Nesse caso, chama a atenção o trabalho com pastagens como
culturas orgânicas, bem como o plantio do milho orgânico para alimentar o gado de
leite, como verificado em estabelecimentos da região.
Verifica-se que o Pronaf não vem facilitando a transição de culturas tradicionais
para culturas agroecológicas. Isso se deve principalmente ao modelo de financia-
mento, centrado no produto, que acaba por privilegiar a cultura de grãos, estimu-
lando um modelo monocultor, quando se sabe que a produção agroecológica é
necessariamente diversificada.
Vale dizer que a transição para uma produção agroecológica não implica ne-
cessariamente um abandono da cultura de grãos ou da atividade do leite, mas a
combinação dessas culturas com outras e, especialmente, a mudança da base tec-
nológica. A superação da estrutura de insumos e implementos, bem como do pa-
drão produtivo, exigidos pela cultura tradicional seria algo imperioso não apenas
por razões ambientais e de saúde, mas de sobrevivência econômica. Os custos dos
insumos e mesmo o desgaste progressivo do solo estariam demonstrando os limi-
tes estruturais do modelo produtivo tradicional. Segundo alguns relatos, é comum
que agricultores(as) deixem de acessar o Pronaf quando passam a organizar sua
produção em base agroecológica. Isso ocorreria não apenas pela inadequação do
programa às necessidades da agroecologia, mas também pela melhor rentabilidade
desse modelo de produção.
Mas uma das dificuldades apontadas para a transição para agroecologia é exata-
mente a falta de financiamento. O próprio desenho do Pronaf não estaria adequado
em função de trabalhar o crédito por ano-safra. Estima-se que a transição para um
sistema agroecológico precisaria pelo menos de três anos. Além disso, apesar de
existir a linha especial do Pronaf para agroecologia, há uma grande dificuldade de
acessá-la em função do fato de que o Banco do Brasil não disporia dos recursos
técnicos para efetuar o crédito (planilhas, programas). Casos foram relatados a res-
peito de o Banco do Brasil alegar o desconhecimento da linha de crédito específica
para agroecologia. Some-se a isso a tendência do banco, de acordo com os agentes
locais entrevistados, de privilegiar o financiamento dos produtos com “aceitação no
mercado”, para os quais existem estudos de viabilidade econômica etc.
Outro caso de financiamento voltado para a integração produtiva e sustentável
ao meio ambiente é o Pronaf Agrofloresta. Para diversos atores no Sudoeste do
Paraná, a própria orientação dessa linha de crédito, bem como o direcionamento
dado pelo Banco do Brasil, não favorece a cobertura arbórea da área de floresta por
outras culturas, mas sim projetos de “reflorestamento” voltados ao plantio de pínus

IBASE : PRONAF . PARANÁ 99


e eucalipto. Tais culturas, embora tenham valor comercial, por alimentar as indústrias
de papel e celulose do estado, estão longe de representar respeito ao meio ambien-
te e à biodiversidade. Além do aperfeiçoamento dessas linhas especiais voltadas a
estimular a agroecologia, os agentes locais se ressentem também de uma maior
divulgação da própria existência dessas linhas de crédito.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 100


5 Conclusões e
recomendações
5.1 IMPACTOS DO PRONAF

Questões críticas para a sustentabilidade da agricultura familiar


1. O Pronaf – como a primeira política pública de âmbito nacional implementada pelo
governo federal para agricultores familiares – chegou para ficar e está consolidado. É o
que se constata na realidade do Paraná, onde foi realizada essa avaliação-piloto.

2. O Pronaf viabilizou efetivamente uma notável melhora do acesso ao crédito rural


por parte de agricultores familiares, tanto no país como no caso particular do Para-
ná. Para o conjunto do país, o número de contratos do Pronaf aumentou de cerca de
890 mil na safra 2000–2001 para 1.908 mil na safra 2005–2006 – num incremento
de mais de 110% – enquanto o volume de crédito passou, no mesmo período, de
cerca de R$ 2,2 bilhões para R$ 7,6 bilhões, mais do que triplicando o seu valor
total. No caso do Paraná, esses números apresentam uma tendência semelhante,
embora menos intensa: o número de contratos cresceu 41%, passando de 116 mil
na safra 2000–2001 para 163 mil na safra 2005–2006, e o volume total de crédito
aumentou 2,6 vezes, elevando-se de R$ 313,8 milhões para R$ 827,3 milhões no
mesmo período.

3. Graças ao Pronaf, os(as) agricultores(as) familiares do Paraná aumentaram signifi-


cativamente seu acesso ao crédito rural, mesmo em regiões tradicionalmente deixa-
das à margem das políticas públicas, como é o caso do Vale do Ribeira. Em regiões
como o Oeste e o Sudoeste, o acesso ao crédito tem perdido importância como uma
limitação crítica para o fortalecimento da agricultura familiar local.

4. O programa cumpre plenamente seu objetivo quanto à fixação da população no


campo, sendo cerca de 415 mil trabalhadores ocupados nos estabelecimentos dos
beneficiários dos três grupos de crédito considerados no Paraná.

5. Estabelecendo-se uma relação entre o montante de crédito concedido no


ano-safra 2004–2005 e número de ocupações nos estabelecimentos, cons-
tatamos um valor de R$ 974 por ocupação no grupo C, R$ 1.882 no grupo D e
R$ 3.697 no grupo E.

6. O Pronaf influenciou significativamente o tecido social das localidades e regiões


paranaenses, por meio de estímulos à organização de agricultores familiares, seja
pelo associativismo, cooperativismo e outras formas cooperadas de produção e de
comercialização da produção agropecuária. Registre-se que esse movimento ocor-
reu em todas as categorias de beneficiários consideradas no projeto – correspon-
dentes aos Grupos C, D e E do Pronaf. Perguntados se passaram a integrar alguma
organização depois de acessar o Pronaf, 39% declararam ter passado a integrar o

IBASE : PRONAF . PARANÁ 101


sindicato, sendo a resposta entre agricultores do grupo C a maior: 44%. Das organi-
zações listadas, em segundo lugar no percentual de respostas estão as cooperativas
de crédito mencionadas por 31% de agricultores.

7. No Vale do Ribeira, esse estímulo à organização coletiva foi fundamental para o in-
cremento do acesso ao crédito rural, mesmo em condições tradicionalmente adversas,
como a falta de documentação para as terras e para agricultores, entre outros. No caso
do Sudoeste, ocorre aparentemente o início de uma renovação das formas cooperativas
tradicionais, em favor do resgate da dimensão associativa nos campos não apenas do
crédito, mas também da produção, da comercialização e do consumo. De modo geral,
os(as) beneficiários(as) em todo o estado, quando solicitados a responder sobre a partici-
pação em algum tipo de organização, declararam ter passado a fazer parte de sindicatos
e de cooperativas de crédito depois que começaram a acessar o crédito Pronaf.

8. Embora essa tendência esteja relacionada ao papel que essas instituições desem-
penham na operacionalização do programa, deve ser destacado que, com essas
relações, são gerados vínculos que, mesmo sendo formais num primeiro momento,
podem se transformar em um processo mais amplo de organização coletiva dos agri-
cultores familiares. Ou seja, embora o impacto do programa no tecido social varie
em cada região pesquisada, está ocorrendo um fortalecimento progressivo do teci-
do associativo da agricultura familiar nos últimos anos em todo Paraná. Essa situação
permite concluir que a existência do Pronaf e a necessidade de torná-lo acessível aos
agricultores familiares foram fatores que estimularam e pressionaram a organização
desses agricultores, por meio de sindicatos, cooperativas, associações, etc.

9. O Pronaf passou a representar um componente fundamental das estratégias de re-


produção das famílias rurais, estando incorporado aos cálculos correntes para a gestão
dos recursos e dos fluxos de despesa e de receita dos estabelecimentos familiares, assim
como ao planejamento do futuro das unidades familiares. A assiduidade na utilização do
crédito tornou-se uma regra no Paraná, sendo que a maioria de agricultores familiares já
obteve financiamento do Pronaf pelo menos três vezes nas últimas cinco safras.
A utilização do crédito já está vinculada aos planos futuros para a continuidade
da atividade nos estabelecimentos e é componente das estratégias de reprodução
das famílias. A maioria absoluta de beneficiários já conta com o fato de que poderão
acessar o crédito do Pronaf: 83% de beneficiários declararam que deverão “investir no
estabelecimento” – ou seja, continuarão produzindo – no ano seguinte. Destes, 94%
declararam que utilizarão o Pronaf para tal fim. Mesmo que a procura por crédito es-
teja também fortemente vinculada à necessidade de agricultores rolarem suas dívidas
bancárias, é possível concluir que as estratégias de reprodução das famílias já estão
influenciadas pela disponibilidade de acesso contínuo ao crédito, de modo que este
se tornou um importante fator na avaliação e na viabilização, por parte das famílias
rurais, de suas possibilidades e potencialidades presentes e futuras.

5.1.1 NA FAMÍLIA

10. A família precisa ser considerada não apenas como o conjunto de pessoas envol-
vidas na atividade econômica dos empreendimentos, mas também como estrutura
social determinante – com seus laços de obrigação, de reciprocidade e de depen-
dência – para a compreensão do funcionamento da agricultura familiar e, por isso,
da forma como podem ser apreciados os impactos do Pronaf.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 102


Os estabelecimentos da agricultura familiar – e sua sustentabilidade como mo-
vimento de produção e de reprodução das famílias – devem ser entendidos não
como unidades isoladas que só se relacionam com o mundo (não rural, principal-
mente) pela via estrita do mercado, mas antes de tudo como parte de redes de
interdependência relacionadas com as mais diversas esferas sociais, no mundo
rural e fora dele.
A decisão de permanência ou de saída do meio rural, as decisões sobre como
proceder de forma a sustentar a continuidade física, econômica e social da família
(chamadas aqui de estratégias de reprodução das famílias) levam em conta, como
sugerem vários resultados da pesquisa, avaliações sobre oportunidades e potenciali-
dades diversas, inclusive decorrentes da composição etária e de gênero da família.

11. Ao considerar o perfil das famílias de beneficiários do Pronaf – tanto em termos


gerais, como em sua classificação nos grupos C, D e E –, algumas conclusões podem
ser inferidas. A média geral de filhos é de 1,4 por família e a média do número de
familiares é de 3,6 pessoas, sendo que 50% das famílias possuem três ou quatro
membros. A estrutura familiar mais comum é de um casal com dois filhos. Neste
caso não há variação entre os grupos de crédito.

12. As mulheres, embora ainda com participação reduzida em relação a dos ho-
mens, representam 14% do total de beneficiários e vem crescendo nos últimos anos.
A proporção de mulheres que acessaram o Pronaf sete vezes é de apenas 3%. Entre
os que acessaram quatro vezes, as mulheres já representam 12% e entre os benefi-
ciários que obtiveram crédito apenas uma vez as mulheres são 23%. Isso acontece
a despeito da existência da linha de crédito especial dirigida ao público feminino, o
Pronaf Mulher, que atingiu, até agora, um número insignificante de beneficiárias.
Dessa forma, no Paraná, o Pronaf expande-se no sentido de atingir não só um pú-
blico maior, mas também uma categoria social, as mulheres, cujo acesso ao crédito
é relativamente precário.

13. Quanto às características sociais pelos grupos de crédito constatou-se:


a) há maior concentração de crianças até 14 anos nas famílias do grupo C (25%
do total), enquanto a faixa de concentração dos grupos D e E é de 35 a 49 anos,
com, respectivamente, 26% e 25% do total, considerando-se, neste caso, o total da
população dos estabelecimentos. Em relação à idade dos(as) beneficiários(as), há
concentração na faixa de 35 a 49 anos, representando 41% de beneficiários e na
faixa de 25 a 34 anos são 18,6%. Em relação à idade dos beneficiários não existe
variação significativa entre os grupos de crédito;
b) em relação à escolaridade dos beneficiários, os do grupo C são os menos
escolarizados, os do grupo D um pouco mais e os do grupo E são os mais escolari-
zados. Beneficiários do Pronaf que nunca tiveram acesso ao ensino formal represen-
tam, respectivamente nos grupo C, D e E, 19%, 10% e 7% do total. Os que têm o
primeiro grau completo são 11% do total no grupo C, 12% no grupo D e 17% no
grupo E;
c) quanto à distribuição por raça/cor: proporção entre agricultores do grupo C
segue a proporção geral dos habitantes das áreas rurais da região sul, enquanto nos
grupo D e E há mais brancos e menos pardos, sendo que a proporção de pretos não
varia. No grupo C os brancos são 84% e os pardos 12%. Nos grupo D e E os brancos
são 92% e os pardos apenas 5%.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 103


14. Familiares são a mão-de-obra predominante nos três grupos de crédito, re-
presentando 84% das pessoas ocupadas no grupo C, 74% no grupo D e 73% no
grupo E.

15. Agricultores do grupo E puderam direcionar parte de sua renda, com maior fre-
qüência, para melhorias na moradia, mas, enquanto a principal melhoria entre agriculto-
res do grupo C foi a construção de novos cômodos na moradia (45% do total), no grupo
E foi a pintura ou colocação de azulejos (46%). Agricultores com renda menor, apesar de
realizarem melhorias em menor número, destinam essas melhorias a mudanças propor-
cionalmente mais substanciais na casa, como a construção de novos cômodos.

16. As informações sobre o trabalho de jovens, filhos e filhas de beneficiários, mos-


tram que são um estrato social importante da agricultura familiar. Em primeiro lugar,
correspondem a uma boa parte da população dos estabelecimentos (39% do total)
e, em segundo, representam as possibilidades de continuidade do trabalho rural da
família, além de serem um importante elo do estabelecimento com outras esferas
sociais, como o trabalho urbano, o ensino formal, etc.

17. Os dados sobre o lugar de residência e o trabalho dos filhos permitem verificar
que o estabelecimento familiar não é capaz, em geral, de oferecer trabalho para
todos os membros da família, apesar de ter havido crescimento na ocupação nos
estabelecimentos dos três grupos de crédito. Mas também se verifica que o estabe-
lecimento rural pode ser a base para sustentar opções de reprodução fora do meio
rural, com filhos e filhas tendo possibilidades diferentes de inserção nesse processo.
Constatou-se que uma parte significativa de filhos com mais de 18 anos, que re-
sidem no estabelecimento dos pais, dedica-se a outros tipos de trabalho fora do
estabelecimento.

18. Considerando filhos mais jovens, em idade escolar – ou seja, que têm entre 7 e 14
anos –, o trabalho infantil não representa um problema nessa população, uma vez que
97% das crianças em idade escolar estão estudando.

19. No conjunto mais amplo de informações sobre a família de beneficiários, tais


como melhoria das condições de vida, avaliação da situação da família, expectativa
quanto à permanência de filhos no trabalho rural e plano de investir no estabeleci-
mento, é possível compor um quadro geral que sugere que o tipo de família (existe
uma variação na avaliação das condições de vida da família se o beneficiário tem
filhos ou não, por exemplo), as diferenças de renda e as possibilidades existentes
fora do trabalho rural influenciam o impacto mais geral que o programa pode ter
sobre os(as) beneficiários.

5.1.2 NO ESTABELECIMENTO

20. Os estabelecimentos de agricultores familiares beneficiários do Pronaf no Paraná


indicam que a maioria (mais de 70% do total) possui ou administra unidades pro-
dutivas com área até 20 hectares, uma vez que 41% do total declarou ter estabele-
cimentos com área até dez hectares e 32% com área entre dez e vinte hectares. O
restante tem área entre 20 e 50 hectares, sendo poucos os agricultores familiares
beneficiados pelo Pronaf com área superior a 50 hectares.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 104


21. O conjunto de agricultores enquadrados pelo programa como grupo C – que
tem suas propriedades situadas na faixa até 20 hectares de área – constitui o seg-
mento mais importante atendido pelo Pronaf no Paraná. Seguem-no as duas outras
categorias, grupos D e E – com propriedades que se situam na faixa entre 20 e 50
hectares de tamanho –, que representam um pouco mais de 20% de beneficiários
do programa.

22. A posse e o tamanho da terra são elementos cruciais para esse tipo de agri-
cultores, especialmente na situação atual em que buscam elevar sua produção
agropecuária a partir da incorporação de novas áreas agrícolas. Entre agricultores
do grupo C, 55% são proprietários da terra, percentual que aumenta considera-
velmente para os grupos D e E, passando, respectivamente, para 71% e 77% do
total. Para o grupo C, as condições de arrendatário, posseiro, meeiro, comodatá-
rio, etc. são bastante relevantes.

23. Grande parte das terras utilizadas pertencentes aos estabelecimentos agrope-
cuários está ocupada com culturas temporárias, sendo praticamente insignificante
o percentual de agricultores que declaram não possuir esse tipo de atividade. Tal
comportamento é muito semelhante entre os três grupos de beneficiários e é desen-
volvido, para as três categorias, predominantemente em áreas de até 20 hectares,
exceto no caso de beneficiários do grupo E, no qual uma parcela importante tam-
bém produz culturas temporárias em áreas de até 50 hectares.

24. A produção agrícola da agricultura familiar no Paraná se concentra em um nú-


mero relativamente reduzido de produtos: soja e milho. Do ponto de vista da dinâ-
mica produtiva dos estabelecimentos, essa tendência à especialização é percebida,
de modo geral, nas respostas dos beneficiários de todas as categorias de produtores,
dada a importância assumida por um número relativamente reduzido de bens pro-
duzidos (milho, soja, feijão e fumo).

25. Apesar dessa tendência geral, existem diferenças importantes quando se consi-
deram os estabelecimentos familiares por grupos de área e por categorias de agri-
cultores beneficiários (C, D, E). Agricultores do grupo C, apesar de apresentarem
predomínio do binômio milho/soja (55,4%) e do feijão (16,4%), cultivam também
outros produtos, como fumo (7%), café (5%), raízes e turbéculos (4%), hortaliças e
frutas (6,2%) e cereais (2,4%).
Agricultores do grupo D, mesmo mantendo alguma produção de hortaliças, fru-
tas e raízes, tendem a se concentrar em quatro produtos: milho, soja, fumo e feijão,
presentes nos estabelecimentos de 77% de beneficiários.
No grupo E, 76,4% de agricultores centralizam a produção no binômio milho/
soja, sugerindo uma tendência de maior especialização produtiva, apesar de manter
uma produção residual de fumo e de feijão, com menor participação percentual no
total em comparação com as outras categorias.
A maior diversificação produtiva ocorre nas unidades com até dez hectares, ex-
ceto no caso do grupo E, que apresenta sinais de especialização também nessa fra-
ção de área. Nas unidades com área acima de dez hectares, ocorre, no entanto, forte
tendência à concentração da produção em poucos produtos nas três categorias de
beneficiários consideradas. A diferença manifesta-se apenas nos tipos de produtos
cultivados em cada categoria, como indicado anteriormente.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 105


26. A renda dos estabelecimentos agropecuários provém, em grande parte, das ati-
vidades agrícolas de produção vegetal, sobressaindo-se a participação do binômio
soja/milho, do feijão e do fumo. No entanto, convém salientar que a distribuição
pelo valor total das vendas realça diferenças importantes entre os três grupos de
agricultores beneficiários. No caso da categoria C, mais de 73% de beneficiários afir-
maram ter uma renda advinda de vendas de produtos agrícolas que não ultrapassou
R$ 5 mil na safra agrícola 2004–2005. Na categoria D, cerca de 60% de agricultores
obtiveram uma renda que, nas mesmas circunstâncias, variou de R$ 3 mil a R$ 15 mil.
E na categoria E, cerca de 40% de beneficiários afirmaram ter obtido uma renda
acima de R$ 15 mil, indicando o maior nível de capitalização desse segmento de
agricultores familiares.

27. A participação da venda de animais na renda total dos estabelecimentos merece


ser destacada apenas no caso da comercialização de algumas cabeças de bovinos e
de suínos, além da comercialização do leite.
A venda de bovinos possui uma baixa participação na composição da renda e é
uma atividade desempenhada por menos de um terço dos estabelecimentos fami-
liares. Isso também se verifica na venda de suínos – realizada por cerca de 20% de
beneficiários de cada grupo – embora existam diferenças nos montantes obtidos por
cada categoria com essa atividade.
A comercialização de leite, que é realizada por cerca de um terço da amostra
de cada um dos grupos de beneficiários do Pronaf, cumpre um papel importante
na renda das unidades familiares. No caso do grupo C, aproximadamente 50% de
beneficiários afirmaram que a atividade gerou uma renda de até R$ 3 mil na safra
2004–2005, ao passo que para 47% do grupo D, ela gerou renda acima de R$ 5.500.
No grupo E, 63% de beneficiários afirmaram ter obtido renda superior a R$ 5 mil
com tal atividade.

28. O tipo de agricultura familiar que vem sendo desenvolvida no Paraná tem tido
um apoio expressivo da assistência técnica, tanto pública como privada. O percentual
de beneficiários que recebem esse serviço se situa ao redor de 80%. No entanto, as
informações relativas aos grupos de beneficiários mostram contrastes importantes.
Um desses contrastes refere-se à participação no total daqueles que declaram não
serem atendidos. No grupo C, 30% do total não recebe qualquer tipo de assistência.
Esse percentual cai para 12%, no grupo D, e para apenas 3%, no grupo E.

29. Existem também contrastes quanto ao tipo de organização que presta o serviço
de assistência técnica. No caso de agricultores enquadrados no grupo C, os maiores
prestadores de serviços são os órgãos públicos (Emater e prefeituras), enquanto as
cooperativas e as empresas fornecedoras de insumos têm uma participação bem
inferior. Esse cenário é diferente para os demais grupos. No caso de agricultores
enquadrados como D, além do Emater, são relevantes os serviços prestados pelas
cooperativas e pelas empresas de insumos. Para agricultores do grupo E, as coope-
rativas e as empresas de insumos são as mais importantes prestadoras de serviços,
mesmo que órgãos públicos também tenham participação expressiva na prestação
de serviços a esse grupo.

30. A lógica produtiva em que está inserida a agricultura familiar pauta-se cada
vez mais pelo uso intensivo dos fatores de produção, especialmente da terra,
sobrando pouco espaço para práticas voltadas à sustentabilidade da vegetação

IBASE : PRONAF . PARANÁ 106


florestal, tanto em termos de sua preservação natural como da adoção de práticas
de reflorestamento.
Declararam não possuir qualquer área com florestas 42% de beneficiários, em-
bora esse percentual varie para cada categoria de agricultor (Grupo C, 45%; Grupo
D, 38%; e Grupo E, 30%). Outros 46% do total declararam usar até cinco hectares
com florestas, não ocorrendo, nesse caso, diferenças percentuais importantes entre
os três grupos de beneficiários.
A maioria das propriedades (78%) não possui qualquer tipo de ação relacionada
ao reflorestamento. Esse cenário é ligeiramente distinto entre as três categorias de
beneficiários, pois 82% do Grupo C, 72% do Grupo D e 75% do Grupo E declaram
não desenvolver tal atividade. Nos estabelecimentos em que é feito algum reflores-
tamento, essa ação é realizada, para as três categorias de beneficiários do programa,
em área que não ultrapassa cinco hectares.
Esse comportamento está, de alguma forma, relacionado às dimensões dos es-
tabelecimentos agropecuários, especialmente para a categoria de agricultores do
tipo C, uma vez que os proprietários se vêem obrigados, diante da necessidade de
responder aos desafios atuais dos sistemas produtivos, a utilizar todas as áreas pos-
síveis para se manterem produzindo.

31. Constata-se um enorme predomínio do crédito para custeio no Pronaf em rela-


ção ao baixo volume de recursos que são captados para a realização de investimen-
tos nos estabelecimentos. Cerca de 85% do total do crédito do Pronaf destinou-se
no Paraná, na safra 2004–2005, ao custeio das safras agrícolas e apenas 15% ao
investimento. Esse simples dado já sugere os limites do Pronaf para estimular e pro-
mover mudanças fundamentais na estrutura produtiva, especialmente nos sistemas
de produção.

32. No caso do crédito de custeio, 99% de beneficiários utiliza-o para a aquisição


de insumos agrícolas, não se constatando variações deste percentual entre as di-
ferentes categorias de agricultores beneficiados (C, D, E). Já no caso do crédito de
investimento, uma parte importante dos recursos é utilizada para comprar animais,
qualquer que seja o grupo de beneficiários considerado. Assim, 50% de agricultores
do grupo C destinaram os recursos de investimento para essa finalidade, 66% do
grupo E, e 34% do grupo D.

33. O modelo de produção agropecuária financiado pelo Pronaf é bastante tecnificado


e com índices elevados de uso dos chamados “insumos modernos”. Mais de 90% das
três categorias de beneficiários (C, D, E) utilizam agrotóxicos, adubos químicos e semen-
tes selecionadas, ao mesmo tempo que o uso de produtos veterinários é citado por cerca
de 60% do total dessas categorias de beneficiários. O uso de adubos orgânicos, por sua
vez, é bastante baixo, quando comparado à utilização de adubo químico.
Correlacionando o uso dos insumos modernos (sementes, agrotóxicos e adubos quí-
micos) com o número de vezes em que o crédito do Pronaf foi obtido por beneficiários,
verifica-se que, para as três categorias, quanto maior o número de acessos mais intenso
é o uso dos “insumos modernos” mencionados. A habitualidade de acesso ao crédito
rural tem, portanto, estimulado a agricultura familiar paranaense a adotar o modelo
clássico de modernização da agricultura, conhecido como “revolução verde”.

34. Consolida-se, pois, entre agricultores familiares um tipo de agricultura baseado no


uso intensivo de insumos modernos e caros, especialmente de fertilizantes químicos,

IBASE : PRONAF . PARANÁ 107


agrotóxicos e sementes selecionadas, que os torna dependentes do fornecimento con-
tínuo de insumos produtivos pelas grandes empresas industriais desse ramo.

35. Os dados obtidos sobre capitalização das unidades familiares de produção, par-
ticularmente do capital acumulado em máquinas e equipamentos por parte de be-
neficiários do Pronaf, sugerem uma característica adicional do modelo de produção
agrícola implementado.
Revelam o baixo grau de capitalização da agricultura familiar, que pode ser me-
dido pela propriedade de máquinas e de equipamentos necessários à prática agríco-
la. Exceto no caso de beneficiários do grupo E, os demais grupos de agricultores que
precisam de tais equipamentos são obrigados a fazer uso deles via locação e presta-
ção de serviços. Os dados demonstram, igualmente, as dificuldades do crédito rural
do Pronaf para promover o acesso aos bens de capital (máquinas e equipamentos)
que poderiam ampliar a capacidade produtiva das unidades familiares de produção,
o que explica que apenas 15% do crédito total do Pronaf no Paraná seja destinado
ao investimento.

36. É fortalecida, dessa forma, uma agricultura familiar que usa insumos químicos e
sementes melhoradas com muita intensidade, porém com baixo capital acumulado,
em termos de máquinas e de equipamentos disponíveis, exceto no caso de benefi-
ciários do grupo E. Em conseqüência, conforma-se um sistema familiar de produção
mais dependente das indústrias de insumos químicos do que das indústrias de má-
quinas e de equipamentos agrícolas, ou, expresso de outra maneira, tem sido esti-
mulado um padrão de agricultura familiar que combina o uso intensivo de insumos
ditos “modernos” e caros com uma baixa capitalização das unidades produtivas
em máquinas e equipamentos e um padrão mais “tradicional” de investimento em
animais como forma de reserva de valor.

37. A grande limitação do modelo do Pronaf tal como aplicado no Paraná é que
estimula, de modo geral, a consolidação de um modelo tradicional de modernização
tecnológica e de especialização da produção agrícola que aumenta fortemente os
riscos para a sustentabilidade da agricultura familiar, acentuando sua dependência
ao mercado e às grandes empresas agroindustriais.

38. Apesar das características descritas, as informações obtidas sugerem, no entanto,


que a preocupação desse modelo produtivo com o uso e a conservação dos solos não
é desprezível. A utilização de adubação verde, de rotação de culturas, de plantio direto,
e de calagem e terraceamento são práticas/técnicas de cuidado com o solo emprega-
das pelos três grupos de beneficiários do Pronaf. Todas as categorias de beneficiários
utilizam, ademais, outras práticas indispensáveis de proteção/preservação ambiental,
como controle de erosão, utilizado por 56% de beneficiários, destino adequado dos
recipientes de agrotóxicos (71%) e proteção de fontes de água (53%).

39. Em relação aos impactos do Pronaf sobre a produção agrícola dos estabelecimen-
tos, 59% de beneficiários consideram que a produção aumentou após receberem o
crédito do programa, enquanto para 23% de beneficiários a produção permaneceu
igual e apenas 7% avaliam que ela diminuiu. Não aparecem grandes diferenças de
avaliação entre as categorias C, D e E de beneficiários. Cerca de 86% do conjunto de
beneficiários para os quais a produção aumentou após receberem o Pronaf julga que
a mudança ocorrida deve-se, em parte ou totalmente, às ações do programa. Existem,

IBASE : PRONAF . PARANÁ 108


entretanto, algumas diferenças nessa avaliação quando os três grupos de beneficiários
são considerados separadamente: 62% de agricultores do grupo E credita as mudan-
ças em parte ao programa, 50% de agricultores do grupo C têm a mesma opinião, e
41% de beneficiários do grupo D creditam a responsabilidade pelas mudanças ocorri-
das totalmente ao programa.

5.1.3 NO DESENVOLVIMENTO LOCAL E REGIONAL

40. 86% do conjunto de agricultores familiares acredita que o Pronaf foi o responsável
pelas mudanças ocorridas na região após a sua implementação (não existem diferenças
importantes nessa avaliação entre as categorias). Mais especificamente, para 93% de
beneficiários a vida em família mudou para melhor após o início das ações do programa;
para 72% a vida na comunidade mudou para melhor e para 91% a produção agrícola
também mudou para melhor. Em relação à preservação do meio ambiente, entretanto,
48% de beneficiários afirmaram que não houve melhorias e 6% avaliaram que a mu-
dança foi para pior. Quanto ao emprego, para 42% de beneficiários os impactos do
Pronaf foram sem importância e para 3% a situação ficou pior.

41. As avaliações de beneficiários do programa sugerem a multiplicidade de as-


pectos que devem ser levados em conta no exame dos impactos do Pronaf sobre a
produção e a vida social de beneficiários. Por um lado, o programa aparece como
a força principal de impulsão do crescimento da produção agrícola familiar, mas ao
mesmo tempo não consegue conter ou alterar os danos ambientais provocados
pelos sistemas de produção convencionais. Por outro lado, ficam dúvidas quanto à
potencialidade do programa para gerar empregos para agricultores familiares, ape-
sar de a vida particular e comunitária de beneficiários ter aparentemente melhorado,
no dizer deles mesmos, após o início das operações do programa.

42. As respostas dadas pela maior parte de agentes locais entrevistados – do Emater,
do Banco do Brasil, do poder municipal e dos sindicatos de trabalhadores rurais)
destacam que o Pronaf teve impactos muito importantes tanto sobre o desenvolvi-
mento da agricultura familiar como sobre o desenvolvimento local de suas regiões.
Em relação à agricultura familiar, foram destacados os impactos sobre a renda de
agricultores familiares – mais de 50% das respostas dadas pelos quatro tipos de
agentes entrevistados acerca desse indicador apontavam que foi muito importante
– seguidos dos efeitos sobre a diversificação e o grau de tecnificação da produção e
sobre mudanças nos sistemas produtivos. Quanto ao desenvolvimento local, a ênfa-
se recaiu nos impactos do Pronaf sobre a fixação da população no campo – pratica-
mente mais de 45% das respostas dadas por agentes entrevistados indicaram que
foi um impacto muito importante – sobre as atividades comerciais locais/regionais e
sobre a arrecadação municipal.

43. A assistência técnica pública – que é fortemente financiada pelo Pronaf – tem
sido importante para a implantação do modelo de modernização tecnológica pre-
dominante na agricultura familiar do Paraná, tendo um efeito praticamente similar
ao produzido pela assistência técnica privada. Numa perspectiva de política pública
diferenciada, é uma séria limitação de tal tipo de assistência técnica: a baixa capaci-
dade de os serviços prestados influenciarem a mudança de rota do desenvolvimento
agrícola financiado pelo programa, ou seja, conseguir fazer prevalecer entre agricul-
tores familiares a tendência oposta à especialização produtiva.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 109


Isso ocorre, em parte, em virtude da lógica de financiamento do programa por
maio do Banco do Brasil, que se concentra em produtos específicos como forma de
estimular a produção de grãos, mas também está relacionada à forte associação his-
toricamente construída entre o modelo tradicional de modernização e a atuação da
assistência técnica e da extensão rural. Com isso, ganham força as potencialidades
para a expansão de um modelo monocultor no âmbito da agricultura familiar.

44. Verificou-se uma concentração das vendas em três tipos de intermediários – atra-
vessadores, comerciantes locais e cooperativas –, sendo as vendas para o comércio
local as mais importantes. Existem, não obstante, contrastes bem nítidos entre as
diferentes categorias de beneficiários. A venda direta ao público consumidor é uma
forma de comercialização para 12% de beneficiários do grupo C, mas é relevante
para apenas 4% do grupo E. O inverso pode ser observado no caso das vendas para
cooperativas: para 41% do grupo E esse é o principal canal de comercialização, en-
quanto é utilizado por apenas 19% de beneficiários do grupo C. O comércio local é
bem mais relevante para agricultores do tipo C, comparativamente aos do grupo E,
enquanto a figura do atravessador é importante para 20% do conjunto de benefici-
ários, embora seja mais essencial para agricultores do grupo C.

45. O processo de comercialização da produção agropecuária encontra limites no


âmbito do Pronaf, uma vez que o programa não tem sido capaz de estimular a cria-
ção de novos canais de comercialização. Essa percepção, comum aos agentes locais
– “criação de novos canais de comercialização” e “estrutura fundiária” são os dois
indicadores para os quais eles avaliam que os impactos do Pronaf sobre o desenvolvi-
mento local são os menos importantes – apareceu também nos estudos de caso, par-
ticularmente no Vale do Ribeira e no Sudoeste paranaense, locais onde outra política
pública (o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA) acabou preenchendo lacunas
deixadas pelo próprio Pronaf. Isso porque, em muitos lugares, mesmo que os(as)
agricultores(as) consigam produzir, os obstáculos à consolidação da agricultura fami-
liar aparecem fortemente no momento da comercialização da produção. 64% do to-
tal ponderado de beneficários dos grupos C, D e E consideram a “garantia de com-
pra da produção” uma política pública muito importante para o desenvolvimento da
agricultura familiar – dentre 12 políticas sugeridas para apreciação, essa foi a que ob-
teve a maior proporção de respostas que a consideram uma política muito importan-
te. Mais da metade do total ponderado de beneficiários das categorias C, D e E (54%)
também avalia que a criação de “novos canais de comercialização” é uma política
pública muito importante para a agricultura familiar.

46. A tendência constatada da lógica do Pronaf de não estimular a diversificação


produtiva encontra razões também nas dinâmicas regionais.
Na agricultura das regiões Oeste e Sudoeste do Paraná é notável a presença das
cadeias produtivas da soja, do frango, do milho e – de forma menos intensa, mas tam-
bém importante – dos suínos. No caso da soja, grande parte da produção é destinada
à exportação. Para os outros três produtos predomina a comercialização no merca-
do interno, embora no caso das carnes sejam grandes também os volumes comer-
cializados no exterior. Nessas cadeias produtivas, a liderança é exercida por grandes
empresas internacionais de comercialização de produtos agrícolas (soja e milho), por
tradicionais empresas agroindustriais brasileiras (frango, suínos e milho) e por coo-
perativas, muitas das quais de grande porte e, em geral, administradas com critérios
empresariais privados. Nesse contexto, recaem sobre a agricultura familiar – que é

IBASE : PRONAF . PARANÁ 110


o elo mais fraco e subordinado em todas essas cadeias – as maiores dificuldades,
decorrentes de oscilações na lucratividade ou de perversa partilha e apropriação do
excedente econômico, apurado em cada uma e no conjunto das etapas de produção
e de comercialização dos produtos.
Já no estudo de caso do Vale do Ribeira chama também a atenção para a exis-
tência de impactos positivos do Pronaf no desenvolvimento de cadeias produtivas
locais articuladas à agricultura familiar, bem como ao caráter educativo do programa
como indutor do aprendizado de agricultores quanto às decisões sobre produzir
e vender, ou seja, sobre seu relacionamento com os mercados, estimulando-os à
cooperação e à organização para fazer frente a muitas dessas decisões e criando
condições que favorecem a construção de um maior grau de autonomia ou de inde-
pendência dos bodegueiros, especialmente nas localidades mais distantes e de mais
difícil acesso.

47. Seja pelo poder que têm os atores produtivos dominantes nessas cadeias,
seja pela pouca informação e a insuficiente organização de agricultores familiares
que delas participam, não há ainda um forte clamor (ou demanda) por mudanças
– e menos ainda a mobilização necessária para alterar esse cenário. Os próprios
agricultores das três categorias (C, D e E) quando perguntados sobre quais são as
atividades e/ou políticas públicas que consideram mais importantes para o desen-
volvimento da agricultura familiar em suas regiões destacaram, em uníssono, um
“pacote” de políticas públicas que inclui comercialização, crédito rural, assistência
técnica e melhoria na infra-estrutura (eletricidade, estradas, etc), ou seja, um “pa-
cote” que pode ajudar a melhorar sua performance no modelo dominante, mas
que é insuficiente para mudar seu padrão de inserção ou para provocar alterações
significativas nele. Assim, os enormes obstáculos enfrentados para mudar o mode-
lo dominante não se devem apenas às dificuldades e às fragilidades da intervenção
governamental, mas estão também associados à força considerável do modelo
produtivista entre atores e beneficiários(as) do processo da política pública no
meio rural paranaense.

48. O predomínio do financiamento por produto, característica normativa do Pro-


naf, associado a uma modalidade de seguro agrícola também atrelado a culturas
particulares, representa um forte estímulo à especialização produtiva. Isso é fato,
mesmo quando se sabe que muitos agricultores solicitam o crédito para uma cultura
– normalmente a considerada menos arriscada pelo Banco do Brasil – e utilizam uma
parte desses recursos (usualmente pequena) para outros fins mais condizentes com
as exigências ou as precariedades de suas estratégias de reprodução familiar.

49. A incapacidade de o atual modelo do Pronaf implementar, de forma adequada e


maciça, as linhas de crédito especial para agroecologia, agrofloresta e agroindústria,
tem obstaculizado a possibilidade de o programa tornar-se um instrumento mais apro-
priado para a transformação do modo de produzir de agricultores familiares e para o
estímulo à diversificação produtiva. Apesar da demanda potencial existente por essas
linhas de crédito, predominam ainda entre agricultores(as) um grande desconheci-
mento das mesmas e quase intransponíveis dificuldades de acesso, que muito têm a
ver com as resistências bancárias à sua operacionalização conveniente e realista.

50. Na absoluta maioria dos estabelecimentos familiares do Paraná, ou seja, em mais


de 95% dos estabelecimentos dos grupos C, D e E, é praticada a forma tradicional

IBASE : PRONAF . PARANÁ 111


de produção agrícola, sendo insignificante o uso de práticas agrícolas alternativas,
como a agricultura orgânica e a agricultura agroecológica. Ademais, é baixíssima a
presença de propriedades que se encontram em processo de transição da agricultura
tradicional para a agroecológica.
O modelo tradicional de agricultura baseado na utilização de insumos modernos
está, de modo geral, consolidado no âmbito da agricultura familiar paranaense. O
Pronaf não apenas está sendo incapaz de alterar essa situação como tem reforça-
do a generalização desse modelo de produção entre agricultores(as) familiares do
estado. Uma das consequências dessa situação é o aumento do endividamento de
agricultores familiares do Paraná.

51. A implementação do Pronaf entre agricultores familiares do Paraná também não


teve muito sucesso na consolidação de um padrão mais diversificado de atividades e
de fontes de renda para esses agricultores. É muito reduzido o número de beneficiá-
rios das três categorias de crédito (C, D, E) que possuem renda advinda de produtos
processados nos estabelecimentos. Essa constatação põe em dúvida algumas teses
que destacam fortemente a importância do processamento na composição da ren-
da das unidades familiares de produção, além de questionar a própria política de
incentivo à agroindustrialização da produção familiar, que tem se mostrado, aparen-
temente, pouco efetiva no Paraná como instrumento de agregação de valor aos pro-
dutos agropecuários da agricultura familiar. Além disso, a renda advinda de outros
produtos, serviços e atividades não agrícolas (como restaurantes, hotéis, artesana-
to, turismo rural, etc.) é insignificante para a renda agregada dos estabelecimentos
agropecuários. Apenas merece referência a participação da renda proveniente do
trabalho agrícola familiar realizado em outros estabelecimentos, especialmente para
o caso do grupo C, pois cerca de 8% de beneficiários afirmaram ter esse tipo de
receita na composição geral da renda.

52. A reduzida relevância até agora das atividades não agrícolas para o desenvolvimen-
to da agricultura familiar paranaense é um consenso entre agentes locais (do Emater, do
Banco do Brasil, das prefeituras e dos STRs) entrevistados em 146 municípios do estado.
O impacto do Pronaf sobre o desenvolvimento de atividades não agrícolas é conside-
rado por eles o menos importante dos impactos do Pronaf sobre o desempenho da
agricultura familiar em suas regiões. Da mesma forma, na avaliação que fazem de um
elenco de políticas públicas importantes para o desenvolvimento da agricultura familiar
em suas regiões, o fomento ao artesanato e o fortalecimento do turismo aparecem
como as menos importantes. Essa percepção é idêntica à dos três grupos de beneficiá-
rios do Pronaf (C, D e E), quando confrontados com a mesma avaliação.

53. Há um nítido consenso entre os atores do Pronaf de que sua operacionalização


pelo Banco do Brasil ainda representa um dos obstáculos principais para a utilização
mais diversificada do crédito rural. A lógica bancária – de maior risco e custo dos
pequenos financiamentos – reforça a concentração dos financiamentos no custeio,
em detrimento do investimento, em poucos produtos, especialmente grãos, e cria
grandes empecilhos para a viabilização do crédito para agroecologia, agrofloresta,
agroindústria e outras linhas especiais já existentes no Pronaf (Mulher, Jovem, Turismo
Rural). Além disso, o Banco do Brasil é um agente público integrado e indispensável
ao processo de modernização tradicional da agricultura brasileira, especialmente no
Sul do país, desde a origem desse processo na década de 1970, incorporando uma
cultura institucional ainda muito resistente a mudanças nesse processo.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 112


54. O Sistema Cresol teve grande importância para o aumento do acesso ao crédito
por parte de agricultores familiares, principalmente os mais pobres. Os principais de-
safios do sistema são, por um lado, incidir sobre a mudança do modelo produtivo em
direção a um modelo sustentável, de transição para agroecologia e a diversificação
produtiva. Ao mesmo tempo, também ter acesso a outras fontes para operacionali-
zar o Pronaf, por exemplo, com recursos para o crédito de custeio obtidos pelo BN-
DES, contornando as dificuldades representadas pelo modelo operacional do Banco
do Brasil. O sistema tem enfrentado críticas em relação a sua função de agente para
o fornecimento de um crédito solidário para agricultores(as) do Paraná. Essas críticas
têm se concentrado no Oeste e no Sudoeste, em função dos dilemas enfrentados
pelo Cresol na relação entre crescimento, gestão eficiente e o atendimento de uma
população pobre e de mudanças no sistema produtivo. No caso do Vale do Ribeira,
as cooperativas do Cresol são reconhecidas como atores fundamentais para o au-
mento do acesso ao crédito de agricultores familiares, para a sua organização e para
a busca de alternativas para os sistemas produtivos predominantes.

5.2 RECOMENDAÇÕES

55. A experiência e os resultados da avaliação realizada no Paraná sugerem que a


manutenção do Pronaf como uma política pública diferenciada é de fundamental im-
portância para o desenvolvimento econômico e social mais equitativo do meio rural no
Brasil. Em oposição à caracterização do Pronaf como política assistencialista, queremos
reafirmar a efetividade e as potencialidades do programa como uma política pública
diferenciada indispensável para a melhoria das condições de vida e para a sustentabili-
dade da agricultura familiar e a democratização do desenvolvimento no campo.

56. No estágio já atingido pelo programa, a consecução desse objetivo exige, no entan-
to, um salto de qualidade substancial. Não basta a disponibilidade de crédito. É indispen-
sável que essa disponibilidade esteja cada vez mais adequada às exigências atuais das
estratégias de reprodução das famílias de beneficiários e do processo de desenvolvimen-
to e de consolidação da agricultura familiar. Urge, portanto, promover uma mudança
substantiva no modelo de concepção e de operacionalização do Pronaf.

57. O financiamento à agricultura familiar não deve mais privilegiar um produto ou


uma atividade específica, mas deve ter como sua referência principal a gestão do
estabelecimento familiar como um todo. O crédito rural tem de ser considerado na
perspectiva de estratégias de reprodução que articulam diferentes fontes e fluxos
de renda oriundos de um conjunto diversificado de atividades e que buscam com-
patibilizá-las com fluxos de despesas que ocorrem em períodos de tempo não coin-
cidentes. Reconhecida essa complexidade de fluxos temporais não coincidentes e
usualmente conflitantes, as modificações a serem feitas no Pronaf não devem seguir
um modelo único. Mas devem contemplar possibilidades de adaptação à diversidade
de condições concretas da agricultura familiar e de suas estratégias de reprodução e
de gestão, em diferentes regiões.

58. O financiamento à agricultura familiar deve estimular, de forma mais ampla e efe-
tiva, a transição dos sistemas atuais de produção para formas mais sustentáveis, am-
biental e economicamente, que assumam as características de agricultura agroecoló-
gica, orgânica ou outro tipo de agricultura alternativa que reduza consideravelmente a

IBASE : PRONAF . PARANÁ 113


dependência econômica de agricultores(as) familiares da aquisição de insumos in-
dustriais, normalmente associados à elevação dos custos econômicos e ambientais
da atividade produtiva. Sem modificações significativas nos sistemas de produção,
dificilmente a sustentabilidade da agricultura familiar será garantida no longo prazo.
Nesse sentido, um esforço concentrado para implementar de modo realista as linhas
especiais do Pronaf agroecologia e do Pronaf agroflorestal podem representar bons
começos nessa direção. É indispensável, portanto, apoiar e estimular os esforços que já
estão sendo feitos por organizações de agricultores familiares para dialogar com o Banco
do Brasil, tendo em vista a elaboração de planilhas bancárias adequadas para financia-
mentos que contenham prazos de carência com extensão compatível com os tempos
requeridos para as mudanças nos sistemas produtivos, e para obter soluções concretas à
diversidade de situações e de recursos característicos da agricultura familiar.

59. O financiamento à agricultura familiar deve estimular a diversificação produtiva e


de fontes de renda das famílias e dos estabelecimentos rurais, buscando reverter a ten-
dência à especialização agrícola, que já é uma realidade na agricultura familiar do Para-
ná. A potencialidade para a diversidade é a característica mais marcante da agricultura
familiar, o que lhe dá uma enorme atualidade e relevância estratégicas num momento
histórico em que preservação da diversidade – econômica, social, cultural, alimentar,
ambiental – é um dos maiores desafios em prol do desenvolvimento sustentável e da
redução das desigualdades. Sem compromisso com a diversidade produtiva, é impos-
sível pensar em transição dos sistemas produtivos, e a idéia de tratar a agricultura fami-
liar, para efeitos de políticas públicas, de uma perspectiva holística, fica praticamente
esvaziada. Aqui um ponto de partida pode ser a revisão e a implementação de forma
realista das linhas especiais do Pronaf já existentes – tais como Pronaf Jovem, Mulher,
Agroindústria – ou de outras que possam ser concebidas de forma mais apropria-
da para ampliar a diversidade produtiva ou de fontes de renda nos estabelecimentos
familiares (pluriatividade, agregação de valor dos produtos, etc.).

60. A realização dessas mudanças no modelo do Pronaf vai exigir que os diferentes
atores do processo da política – locais e federais, governamentais e não-governa-
mentais – definam uma estratégia de atuação com o Banco do Brasil, tendo em
vista a negociação de alterações nas normas e mesmo na estrutura do banco que
favoreçam uma maior flexibilidade operacional e melhor adaptabilidade do crédito à
lógica das estratégias de reprodução de agricultores(as). Dificilmente será revertida
a enorme discrepância existente entre o acesso ao crédito para custeio e para inves-
timento do Pronaf, sem que ocorram as mudanças sugeridas no modelo. Por outro
lado, o incentivo às cooperativas de crédito é uma política que deve continuar a ser
executada. Contudo, a exemplo do que está acontecendo com o Sistema Cresol no
Paraná, um modelo operacional mais adequado não será obtido pelas cooperativas
enquanto continuarem dependentes dos repasses via Banco do Brasil e, portanto,
das restrições impostas pelo modelo do banco. Talvez um comprometimento maior
do BNDES com os repasses do Pronaf, incluindo o crédito para custeio, seja um ou-
tro caminho a ser explorado, já que, nesse caso, não haveria os limites operacionais
impostos pelo agente financeiro Banco do Brasil.

61. O fortalecimento do tecido associativo é outro fator importante na construção de


condições que viabilizem a superação do modelo monocultor, por meio do incentivo
de práticas associativas de agregação de valor, de escoamento da produção, de acesso
a insumos não convencionais, etc. – como no caso das agroindústrias familiares, das

IBASE : PRONAF . PARANÁ 114


compras coletivas, dos pontos de venda, das marcas e dos selos de origem. Para
evitar que se formem associações com a única finalidade de obter crédito, poderiam
ser criadas, por exemplo, linhas de investimento voltadas exclusivamente ao financia-
mento de bens coletivos indivisíveis. A dimensão associativa é um fator igualmente
importante para a qualificação da assistência técnica e para a alteração de sua forma
convencional de atuação, por meio da troca de saberes e de técnicas a partir, por
exemplo, de práticas cooperativas. A proposta de Ater cooperativada apresentada
por diferentes sistemas cooperativos que atuam na região Sudoeste enquadra-se
perfeitamente dentro dessa concepção.

62. A assistência técnica não consegue por si só criar oportunidades e demandas


em favor da mudança do modelo de produção. Não obstante, à medida que se vão
criando novos espaços de comercialização, regras mais adequadas na orientação
do crédito, e em que o tecido associativo se fortalece e se renova, o incremento da
assistência técnica torna-se algo imperioso, até para a introdução de novas cadeias
produtivas ou para a consolidação das já existentes. Nesse sentido, é essencial um
esforço de adequação da Ater existente às demandas por mudança da base pro-
dutiva, o que requer, antes de tudo, um serviço que esteja orientado para a gestão
do estabelecimento familiar como um todo e não apenas para a difusão de uma
atividade ou cultura. Da mesma forma, é recomendável a ampliação do investimen-
to público em pesquisas e estudos acerca das mudanças técnicas e das vantagens
financeiras do sistema agroecológico, de modo a dar maior concretude e visibilidade
à agroecologia como horizonte para o desenvolvimento rural sustentável.

63. Outro esforço fundamental para viabilizar a sustentabilidade da agricultura fa-


miliar no Paraná tem a ver com a necessidade de maior interação entre as diversas
políticas públicas existentes, a qual poderia, ao mesmo tempo, criar um ambiente
de diálogo e de compartilhamento de experiências estimulantes ao surgimento de
propostas concretas para as transformações que estão sendo sugeridas no modelo
do Pronaf. Essa interação significaria, na prática, a tentativa de transformar políticas
isoladas, que muitas vezes assumem um caráter meramente assistencialista, em um
conjunto mais interativo, talvez mais efetivo e eficaz, de políticas públicas diferencia-
das para a agricultura familiar. Por exemplo, um limite destacado consensualmente
por agentes locais entrevistados refere-se ao baixo poder de intervenção do Pronaf
para alterar a estrutura agrária local e/ou regional prevalecente. Embora se reconhe-
ça que o foco do Pronaf não está direcionado a esse objetivo, o programa deveria,
não obstante, atuar de forma mais eficiente na construção de complementaridades
com as políticas específicas para o campo agrário. O mesmo se aplica aos casos da
comercialização e da assistência técnica, que são gargalos importantes para a sus-
tentabilidade da agricultura familiar. Assim, a construção de sinergias e de comple-
mentaridades cada vez mais intensas entre o Pronaf, o PAA, a política de Ater e as
políticas fundiárias poderá ser, no futuro próximo, um elemento indispensável para
a viabilização da sustentabilidade de amplos segmentos da agricultura familiar não
apenas no Paraná mas em todo o país.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 115


6 Referências
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http://www.pr.gov.br/seab/

IBASE : PRONAF . PARANÁ 117


PARTE II
1 Introdução
Nesta parte do relatório, pretende-se detalhar a metodologia utilizada para a cons-
trução da pesquisa. Muitas das questões tratadas nesta parte já foram apontadas na
parte de análise, mas estão apresentadas aqui de forma mais sistemática.
Esta é uma pesquisa-piloto. Portanto, um de seus objetivos é desenvolver e indi-
car formas de aperfeiçoar abordagens e instrumentos de pesquisa. Assim, também
se espera que os aspectos metodológicos sejam parte fundamental dos resultados
da pesquisa.
A avaliação de uma política pública como o Pronaf lançou desafios para a cons-
trução de abordagens que permitissem dar conta de uma realidade complexa, que
envolve questões sociais, econômicas e políticas. Assim, optou-se por construir
abordagens diversas e complementares.
Um dos instrumentos utilizados na pesquisa foi um questionário bastante longo,
direcionado aos(às) beneficiários(as) do Pronaf, que pretendeu oferecer um quadro
sobre as famílias, suas condições de vida, a produção nos estabelecimentos e das
perspectivas de futuro dos(as) agricultores(as) familiares. Como se verá a seguir, a
construção de dados estatísticos a partir desse questionário se deu sob rigor estatís-
tico, produzindo informações que podem ser expandidas.
Outro questionário aplicado segundo critérios diferentes de representatividade
(não a representatividade estatística) foi aplicado a representantes de instituições-
chave no âmbito local, no que se refere à operacionalização do Pronaf e à avaliação
de seus impactos.
Finalmente, buscando uma visão mais apurada sobre as particularidades regio-
nais dentro do Paraná, foram realizados os estudos de caso.
Assim, a metodologia aplicada seguiu como critério dar conta de analisar os
impactos do Pronaf a partir da sustentabilidade da agricultura familiar em diversas
esferas, desde a família até os impactos regionais.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 119


2 Seleção do objeto
Em toda pesquisa que envolve trabalho de campo, o processo de modelagem e de-
senho da amostra são críticos para os resultados almejados. Tais etapas, por sua vez,
devem ser cuidadosamente planejadas, adequada e transparentemente discutidas e
negociadas com os demais parceiros envolvidos no trabalho, e finalmente meticulo-
samente documentadas.
Este capítulo pretende fornecer, dentro dos limites que um texto não exaustivo
pode dar, as principais informações para que se conheçam os pressupostos utiliza-
dos no trabalho, e portanto, a julgamento dos(as) próprios(as) leitores(as), o quão
apropriadas são as afirmações feitas e apresentadas na parte analítica do texto.
Como fartamente explicitado, este trabalho é um estudo sobre o impacto do
Pronaf no estado do Paraná. Vale lembrar que se trata de uma pesquisa que tem por
finalidade, não exclusivamente, o levantamento de pistas sobre as melhores soluções
ou sobre os problemas enfrentados na implementação dessa política pública, procu-
rando recomendações para a replicação deste trabalho em outras localidades.
A afirmação feita sobre o escopo da pesquisa merece explicações. O objetivo
inicial era realizar uma pesquisa de avaliação do Pronaf em todos os estados da
federação. O Brasil é um país que contempla grande diversidade regional, a qual se
manifesta localmente nos municípios e, por sua vez, nos estados.
Por outro lado, o próprio Pronaf é um programa que possui seu quinhão de
diversidade ao englobar em sua formação uma variedade de grupos de crédito, os
quais variam segundo o estágio em que o interessado, agricultor(a) familiar, encon-
tra-se, no tocante à sua capacidade de produção e necessidade de crédito.
Diante dessas constatações germinais, emerge uma questão-chave: como dar
conta de avaliar uma política pública como o Pronaf, objeto de estudo diversificado
em seu interior e que se distribui por realidades múltiplas?
Adicionalmente, é imperativo lembrar que as questões anteriormente levantadas guar-
dam estreita relação com duas variáveis-chave na negociação desse trabalho, sendo elas o
tempo e os recursos. Ainda que fosse desejável uma pesquisa sobre o Pronaf em todos os
seus grupos de crédito no Brasil inteiro, o custo para desenvolver esse trabalho, bem como
o tempo para realizá-lo, iria muito além do que tínhamos disponível. Passamos, então, a
considerar a possibilidade de uma pesquisa-piloto. A realização da avaliação do Pronaf em
uma localidade específica talvez permitisse que, em espaço de tempo inferior e com um
custo menor, fosse possível sua finalização e a elaboração de relatórios indicativos de situ-
ações que potencialmente estariam se manifestando em outras localidades do Brasil.
Para cada um desses conjuntos de questões foi adotado um procedimento. Em
relação à questão da diversidade da realidade sobre a qual esse programa ocorre,
decidiu-se que o atual trabalho seria um piloto, ou seja, seria um teste para o uso em
outras localidades. A idéia que perpassou essa decisão foi justamente a de aprovei-
tar a experiência para além das especificidades que o local escolhido para aplicação
apresentaria. Para essa pesquisa era importante, principalmente, avaliar o Pronaf
em um lugar em que o programa estivesse mais consolidado, o que implicaria focar
nosso estudo em grupos específicos do crédito.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 120


3 Beneficiários(as),
grupos de crédito e localidade
Os(as) beneficiários(as) do Pronaf são classificados em seis grupos. Os(as) agriculto-
res(as) familiares interessados(as) em acessar o crédito avaliam em qual dos grupos
se enquadram de acordo com seu perfil e, então, solicitam o financiamento a uma
instituição autorizada a conceder o crédito. A distribuição das operações pelos seis
grupos1 no Brasil pode ser visto na Tabela 1.

TABELA 1: NÚMERO DE OPERAÇÕES, POR GRUPO DE CRÉDITO, 2004–2005 – BRASIL

Grupos de crédito Grupo A Grupo A/C Grupo B Grupo C Grupo D Grupo E Total
Nº de operações 35.656 17.384 17.384 621.961 366.025 51.869 1.631.094
Porcentagem de operações 2,2 1,1 22,0 38,1 22,4 3,2 100,0
Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário

O crédito A, que representa pouco mais de 2% das operações no país, é direcio-


nado para assentados(as) da reforma agrária, e A/C para agricultores(as) egressos(as)
do grupo A que tenham renda entre R$ 2 mil e R$ 14 mil.2 O crédito B, criado para
combater a pobreza rural, atende aqueles(as) agricultores(as) com renda de até
R$ 2 mil e que tenham como base da exploração do estabelecimento o trabalho
familiar. O crédito C, que representa quase 40% de todos os contratos do Pronaf no
Brasil, é destinado a agricultores(as) que tenham no mínimo 60% da renda familiar
oriunda da exploração agropecuária ou não agropecuária do estabelecimento, po-
dendo fazer uso não contínuo de trabalho assalariado. Os(as) interessados(as) nesse
grupo de crédito precisam ter uma renda superior a R$ 2 mil. O crédito D é destinado
para aqueles(as) agricultores(as) com 70% da renda familiar proveniente da explora-
ção do estabelecimento e com renda superior a R$ 14 mil, ao passo que, para acessar
o E, é preciso que 80% da renda familiar venha da exploração do estabelecimento
e que a renda bruta familiar seja no mínimo R$ 40 mil. Esses dois últimos grupos de
crédito, que juntos representam 26% das operações do programa, já podem fazer uso
1
As operações que se
encontram fora dos seis grupos de trabalho de terceiros e ter até dois/duas empregados(as) permanentes.3
de crédito pertenciam ao item Para avaliar o Pronaf por meio de beneficiários(as) com uma produção mais
“exigibilidade bancária” ou a
“miniprodutores”. Significa que consolidada, decidimos, então, focalizar a pesquisa naqueles(as) agricultores(as) fa-
o que foi considerado não diz miliares que acessam os créditos C, D e E.
respeito ao total das operações
do Pronaf, mas quase a Seguindo esse raciocínio, fez-se necessário escolher em que localidade seria re-
sua totalidade.
alizado o trabalho de pesquisa, doravante denominado também de piloto. A etapa
2
Para todos os grupos de seguinte foi o mapeamento do Pronaf no Brasil por unidades da federação, ou seja,
crédito, o critério sobre renda
mínima é relativo à renda bruta
a menor unidade para a qual o piloto seria realizado Reforçando essa escolha, o
familiar anual, excluídos os gerenciamento do programa se dava por esse tipo de unidade na distribuição de
proventos de previdência rural e
programas sociais. recursos e contratos (operações do Pronaf).
A escolha do estado no qual seria realizada a pesquisa levou em conta a quantidade
3
Os critérios para o
enquadramento dos(as) de operações existentes em cada grupo de crédito e o montante geral de operações. Os
agricultores(as) familiares nos estados que apresentavam o maior número de contratos, como pode ser verificado na
grupos do Pronaf podem ser
vistos na íntegra no Anexo 6. Tabela 2, eram Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina e Bahia. Após

IBASE : PRONAF . PARANÁ 121


essa observação, direcionamos nossa atenção para os grupos a serem estudados, em
cada um dos cinco estados.

TABELA 2: NÚMERO TOTAL DE OPERAÇÕES POR UF 2004–2005*

Estado Operações Estado Operações


Rio Grande do Sul 280.796 Ronônia 30.990
Minas Gerais 146.967 Espírito Santo 30.009
Paraná 140.293 Alagoas 28.135
Bahia 125.251 São Paulo 26.477
Santa Catarina 106.842 Mato Grosso 16.376
Piauí 78.647 Mato Grosso do Sul 8.758
Rio Grande do Norte 70.993 Acre 8.218
Ceará 69.043 Rio de Janeiro 8.171
Maranhão 68.324 Tocantins 8.093
Pernambuco 48.476 Amazonas 7.054
Pará 38.461 Roraima 2.055
Sergipe 36.614 Amapá 1.261
Paraíba 32.638 Distrito Federal 227
Goiás 32.182 Total 1.451.365
Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário
*Operações sobre os grupos de crédito A, A/C, B, C, D e E

Bahia e Minas Gerais, apesar de um número total de operações significativo


– ainda que bastante inferior em relação aos estados do Sul –, apresentavam uma
quantidade muito pequena do grupo E em relação aos outros grupos de crédito no
estado (1% e 2%, respectivamente).
Sobre os estados sulinos, Santa Catarina apresenta a metade de crédito C em rela-
ção ao Paraná e menos de um quarto em relação ao Rio Grande do Sul. Como podemos
observar na Tabela 3, o crédito E também é inferior em Santa Catarina, assim como o
número total de contratos. Por fim, ficamos com Rio Grande do Sul e Paraná, que ti-
nham uma quantidade de operações suficientes para pesquisarmos C, D e E.

TABELA 3: NÚMERO TOTAL DE OPERAÇÕES C, D E E DOS CINCO MAIORES ESTADOS EM NÚMERO


DE CONTRATOS – 2004–2005

Estado C D E Total
Rio Grande do Sul 173.878 89.342 15.398 278.618
Paraná 81.907 41.512 14.238 137.657
Minas Gerais 44.704 63.047 2.846 110.597
Santa Catarina 39.714 56.930 9.246 105.890
Bahia 42.945 98.80 690 53.515
Outros 383.148 260.711 42.418 686.277
Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário

Em um segundo momento, fizemos um exercício para decidirmos, entre Paraná


e Rio Grande do Sul, qual seria o estado com melhores condições de receber a pes-
quisa. Nesse sentido, foram considerados a distribuição de operações pelos grupos
e as chances de elaborar estudos pelos três grupos de créditos em questão. Em
relação ao montante de operações, os dois estados possuem um número absoluto
de contratos do grupo C, D e E bastante significativo, destacando-se o Rio Grande

IBASE : PRONAF . PARANÁ 122


do Sul, que tinha, na safra 2004–2005, mais do dobro de contratos do que o Paraná
(278.618 e 137.657, respectivamente). No entanto, como apresentado na tabela a
seguir, podemos perceber que o Paraná, além de apresentar uma proporção maior
de operações dos três grupos de crédito a serem estudados, apresenta também uma
distribuição mais equilibrada entre eles. Tanto no Rio Grande do Sul como no Paraná,
os créditos C e D têm quantidades semelhantes. Entretanto, no Paraná o grupo de
crédito E tem o dobro de operações em comparação com o Rio Grande do Sul. Isso
permite que, no estado paranaense, a distribuição dos créditos seja mais equilibrada,
perfazendo um cenário mais favorável.

TABELA 4: GRUPOS DE CRÉDITO E PERCENTUAL DO TOTAL DO ESTADO

UF/Grupo de crédito C D E C, D e E
Paraná 48,4 24,5 8,4 81,3
Rio Grande do Sul 49,1 25,2 4,3 78,6
Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário

IBASE : PRONAF . PARANÁ 123


4 Cadastro
Outra questão importante foi a do ano a ser utilizado para os dados. Quando da
negociação do projeto e do início da realização da pesquisa, os dados relativos ao
ano-safra 2005–2006 ainda não haviam sido finalizados. Por esse motivo, sua utili-
zação foi uma escolha muito inconveniente para uma pesquisa amostral na qual o
universo seria desconhecido. A opção seguinte foi utilizar o ano mais recente para
o qual os dados fossem completos, o que conseqüentemente nos garantiria maior
adequação dos achados e das análises à realidade estudada.
Debruçamos sobre um conjunto de informações do Pronaf relativos então aos
dados 2004–2005, que envolve um cadastro com quase 140 mil registros do estado
do Paraná, elaborado sob um mesmo formulário, a Declaração de Aptidão ao Pronaf
(DAP). Esse cadastro, que armazena os dados sobre os(as) tomadores(as) de crédito,
mesmo sendo constituído a partir de informações padronizadas, apresenta algu-
mas inconsistências em relação ao nome do município de residência de certos(as)
beneficiários(as). Isso pode ter ocorrido pelo fato de a DAP ser preenchida por pessoas
de diversas instituições com variadas formações, ligadas de diferentes formas ao Pro-
naf. Esse contratempo foi observado logo ao iniciarmos o trabalho de campo.
Os(as) entrevistadores(as) – que foram selecionados(as) entre os(as) funcionários (as)
do Emater Paraná, instituição responsável pela aplicação dos questionários –, por conhe-
cerem muito bem as localidades a serem visitadas assim como os(as) tomadores(as)
de empréstimo a serem entrevistados(as), contornaram sem problemas esse impre-
visto, indo ao encontro de cada beneficiário(a) sorteado(a) mesmo com o endere-
ço incompleto. O resultado, após o trabalho de campo, foi de 101 entrevistas – o
que corresponde a 4% do total de questionários aplicados – realizadas com os(as)
beneficiários(as) originalmente sorteados(as), porém não na localidade apresentada
no cadastro.
Especialmente no trabalho de campo, a participação do Emater Paraná foi es-
sencial para a realização da pesquisa. Além dos contratempos que surgiram no de-
correr da aplicação dos questionários, os endereços dos estabelecimentos dos(as)
beneficiários(as) no cadastro traziam informações incompletas, na maioria das vezes
apenas o nome da estrada, sem o número, bairro ou CEP. Em função do conheci-
mento e competência dos(as) entrevistadores(as), foi possível encontrá-los(as) sem
maiores dificuldades.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 124


5 Plano amostral
5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

O universo da pesquisa é o conjunto de tomadores(as) de empréstimos Pronaf tipos


C, D e E, na safra 2004–2005 do estado do Paraná. Foram selecionadas três amos-
tras independentes, uma para cada tipo de empréstimo.
As amostras são de conglomerados em duas etapas. Na primeira etapa, foram
sorteados os municípios, com probabilidade proporcional ao tamanho (PPT). Nos
municípios, a medida de tamanho é o número de empréstimos do tipo pesquisado
no município.
Na segunda etapa, foram sorteados os(as) beneficiários(as) a serem entrevis-
tados(as) em cada município. Foram sorteados 2.400 beneficiários, sendo 800 no-
mes para cada tipo de crédito. Esse método dá aos(às) tomadores(as) de emprésti-
mos de cada tipo igual probabilidade de serem selecionados para a amostra.
Os erros de amostragem serão calculados a posteriori. O plano amostral refe-
rente aos “agentes” que serão entrevistados será oportunamente apresentado em
outro documento.

5.2 RESTRIÇÕES AO UNIVERSO

Antes de realizar o sorteio da amostra, foi necessário fazer algumas restrições ao


banco de dados com o objetivo de otimizar essa aplicação de recursos e adequar
aos pressupostos do trabalho.
Assim, sobre as 169.246 operações de todos os tipos referentes ao estado do
Paraná, passou-se a trabalhar apenas com os tipos C, D e E, constituindo o universo
de 137.657 operações e 39 microrregiões.
Em seguida, foi feita uma restrição em que apenas as microrregiões com os três
tipos de operações passaram a ser consideradas. Esse novo conjunto (subuniverso A)
se constitui com 134.405 operações em 37 microrregiões.
A seguir, foram excluídos do sorteio os municípios dessas microrregiões que ti-
nham um número de operações inferior ao dobro do número de entrevistas a serem
realizadas naquela localidade, ou seja, foram retirados aqueles municípios que ti-
nham um número de operações inferior a 20, visto que serão realizadas dez entrevis-
tas em cada localidade. Essa última restrição resultou no subuniverso B, constituído
por 131.814 operações, utilizado, de agora em diante, para o sorteio da amostra.

TABELA 5: ESTADO DO PARANÁ – UNIVERSO E SUBUNIVERSOS

Tipo Pronaf C D E
Universo 137.657 81.907 41.512 14.238
Subuniverso A 134.405 78.779 41.388 14.238
Subuniverso B 131.814 78.331 40.589 12.894

IBASE : PRONAF . PARANÁ 125


TABELA 6: DISTRIBUIÇÃO DA AMOSTRA POR TIPO

Tipo Total C D E
Municípios 144 77 76 62

No Anexo 1, apresenta-se uma tabela com a relação das microrregiões e dos


municípios sorteados. A numeração no interior da tabela representa os pontos sor-
teados referentes a cada município, ou seja, o número 1 na coluna D no município
Paranacity (411810, segundo codificação do IBGE) quer dizer que foi sorteado um
ponto nessa localidade na amostra do tipo D. Nesse município, então, foram rea-
lizadas apenas dez entrevistas com tomadores(as) de empréstimo do tipo D, dife-
rentemente do município Querência do Norte (412100), onde foram realizadas 20
entrevistas, das quais dez com tomadores(as) de empréstimos do tipo C e dez com
tomadores(as) de empréstimos do tipo E.

5.3 SORTEIO DOS(AS) BENEFICIÁRIOS(AS)

O sorteio dos(as) beneficiários(as) foi feito de forma aleatória por município e tipo
de empréstimo. Para cada ponto apresentado na Tabela 6, foram sorteados dez
beneficiários(as) para serem entrevistados(as) e dez para eventuais substituições, ou
seja, houve um total de 20 beneficiários(as) sorteados(as) por ponto.
O resultado desse sorteio foi apresentado em listas nominais, para cada catego-
ria (“a entrevistar” e “eventuais substitutos”), ambas elaboradas com os elementos
necessários à localização do sorteado, por município e por tipo de crédito.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 126


6 Questionários
6.1 APLICAÇÃO

Antes de iniciarmos a aplicação dos questionários, realizamos um treinamento com


todos(as) os(as) funcionários(as) do Emater Paraná que iriam a campo. Os(as) 168
entrevistadores(as) foram treinados(as) em quatro turmas, cada uma localizada em
pontos estratégicos para facilitar o encontro dos(as) funcionários(as) das diversas
Emater regionais espalhadas por todo o estado. Como sugestão do próprio Emater,
que também se responsabilizou em mobilizar e organizar a atividade, realizamos
treinamento nas cidades de Cascavel, Pato Branco, Ponta Grossa e Maringá.
Nesse encontro, apresentamos detalhadamente o questionário, além do manual
do(a) entrevistador(a), documento desenvolvido para auxiliar na aplicação desse ins-
trumento junto aos(às) beneficiários(as). Após o treinamento, fizemos um adendo
do manual considerando as sugestões e críticas feitas em cada uma das quatro
turmas, que foi enviado posteriormente para os(as) representantes regionais das
Emater, que repassaram para cada entrevistador(a).
A devolução dos questionários já preenchidos para o Ibase, instituição respon-
sável pelo processamento e tratamento dos dados, também foi feita por meio dos
representantes regionais das Emater, que, por sua vez, validava cada um dos ques-
tionários recebidos dos(as) entrevistadores(as). Pelo correio, esses(as) representantes
enviavam lotes para Curitiba, capital do estado, onde mais uma vez os questionários
eram revisados pelo supervisor estadual da instituição. Posteriormente, eram envia-
dos para o Rio de Janeiro, cidade onde o Ibase está sediado.
Foram realizadas no total 2.308 entrevistas, sendo 756 do grupo C, 785 do grupo
D e 767 do grupo E. Esses números ficaram numa margem absolutamente aceitável,
levando-se em conta as entrevistas programadas e a preservação do rigor estatístico.

6.2 QUESTIONÁRIO APLICADO ENTRE BENEFICIÁRIOS(AS) DO PRONAF

Um dos principais instrumentos utilizados na pesquisa foi um questionário diri-


gido a beneficiários(as) do Pronaf. Os questionários foram aplicados e preenchi-
dos por técnicos(as) do Emater do Paraná de acordo com as respostas dos(as)
beneficiários(as). Os(as) técnicos(as) realizaram entrevistas em áreas em que atuam
profissionalmente, tendo em mãos os nomes e endereços dos(as) beneficiários(as)
sorteados na amostra.
O questionário divide-se em oito blocos e está incluído no anexo. A divisão em
blocos é sempre arriscada, uma vez que sugere uma divisão em esferas distintas de
questões que, na realidade, estão juntas e são interdependentes. Esse risco foi as-
sumido para facilitar o preenchimento e a compreensão das questões por parte de
entrevistadores(as) e entrevistados(as). O primeiro bloco trata da identificação do(a)
entrevistado(a) e da operação de crédito a partir da qual o seu nome foi sorteado
para a entrevista.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 127


O segundo bloco se refere à caracterização do(a) beneficiário(a) e de sua famí-
lia, a partir de dados como idade, escolaridade e raça. Também nesse bloco tentou-
se dar conta de alguns aspectos sobre a participação dos(as) familiares na economia
do estabelecimento.
O terceiro bloco se refere ao estabelecimento do(a) beneficiário(a) e suas carac-
terísticas econômicas, ao mesmo tempo que fornece uma idéia sobre o patrimônio
e as condições mais gerais dos estabelecimentos, como a presença de determinadas
benfeitorias e a área.
O quarto bloco trata da produção e de outros componentes da renda da família.
Para isso, foram separados os tipos diversos de produção (agrícola, animal, produtos
transformados, etc.), ao mesmo tempo que se deu conta da forma como esses bens
são produzidos, que insumos e técnicas são utilizados nos estabelecimentos. Outros
aspectos ligados à produção, como a caracterização da assistência técnica e o uso
de técnicas de conservação ambiental, também foram integradas a essa parte do
questionário.
As condições de moradia foram objeto do quinto bloco, dando uma idéia geral
sobre o modo como vivem as famílias e a respeito dos impactos do Pronaf sobre
esse aspecto.
O sexto bloco trata da ocupação. Nesse bloco, o objetivo foi traçar não apenas um
perfil do tipo de trabalho presente nos estabelecimentos de agricultura familiar, mas
também dar conta da evolução na ocupação de mão-de-obra no estabelecimento.
O sétimo bloco tratou primeiramente de caracterizar todas as operações de cré-
dito a que o(a) beneficiário(a) teve acesso pelo Pronaf. Além disso, também esti-
veram presentes questões sobre a avaliação que os(as) beneficiários(as) fazem dos
impactos sobre a produção e a região.
O oitavo e último bloco trata das perspectivas das famílias, contendo questões
de avaliação sobre suas condições de vida e de que forma vêem o seu futuro.
A complexidade do questionário se deveu à pretensão de dar conta de uma
realidade também muito complexa. Em se tratando de uma pesquisa cujo objeto im-
plica estruturas familiares e econômicas interdependentes, foi preciso construir um
instrumento que, além dessas duas esferas, também pudesse fornecer informações
que possibilitassem uma análise diacrônica.
A presença de algumas questões em que se demandava dos(as) entrevistados(as)
opinião acerca de sua situação socioeconômica e de seu futuro se justifica fortemente,
uma vez que as estratégias usadas pelas famílias (sociais e econômicas) estão baseadas
na avaliação que fazem sobre as possibilidades e potencialidades existentes a sua volta.

6.3 QUESTIONÁRIO APLICADO ENTRE AGENTES LOCAIS


4
Na análise que segue, falamos
em prefeituras, porém o mais
rigoroso seria falar em poder Entre os objetivos da pesquisa realizada pelo projeto está a tentativa de captar
municipal, pois, entre as pessoas
entrevistadas dessa instituição,
a percepção sobre os impactos do Pronaf de alguns agentes locais importantes
figuram não apenas prefeitos, do processo da política pública no meio rural paranaense. Para tanto, foram sele-
vice-prefeitos e secretários
municipais, mas também cionadas quatro instituições – prefeituras municipais, sindicatos de trabalhadores
vereadores. O total de agentes rurais (STRs), Emater e Banco do Brasil – para a aplicação dos questionários, res-
entrevistados nas quatro
instituições foi de 502 pessoas, pondidos por representantes dessas instituições em 146 municípios, listados na
de modo que foram ainda parte anexa. Ao todo, foram entrevistadas 519 pessoas, assim distribuídas: 98 do
entrevistados 17 representantes
de outras instituições Banco do Brasil, 136 do Emater, 120 dos STRs e 148 das prefeituras.4 Partindo da
(classificados como “outros”).
Essas informações (“outros”)
hipótese de que as quatro instituições escolhidas são atores públicos fundamentais
não são consideradas na análise. do meio rural paranaense, o questionário pretendeu apreender a percepção desses

IBASE : PRONAF . PARANÁ 128


agentes locais sobre os impactos do Pronaf em dois campos: no desempenho da
agricultura familiar e no desenvolvimento local ou regional. Além disso, buscou
averiguar a sua visão sobre a importância relativa de determinadas políticas pú-
blicas e atividades produtivas para o desenvolvimento da agricultura familiar nas
regiões onde atuam.5
Os questionários respondidos pelos agentes locais foram aplicados nas insti-
tuições sediadas nos municípios onde foram também realizadas as entrevistas com
os(as) beneficiários(as). Buscamos, dessa forma, captar os impactos do Pronaf
por meio da percepção tanto dos(as) tomadores(as) de crédito – no caso, os(as)
agricultores(as) – como de agentes governamentais e não-governamentais cuja atu-
ação influencia de forma significativa, direta ou indiretamente, a implementação do
programa.
A aplicação desses questionários ficaram, assim como na pesquisa com os(as)
beneficiários(as), sob a responsabilidade do Emater. Os(as) mesmos(as) entre-
vistadores(as) deixaram, em cada uma das quatro instituições do município no qual
fariam as entrevistas com os(as) beneficiários(as), os questionários para serem res-
pondidos por representantes de cada uma dessas instituições. Posteriormente, como
acordado na entrega do questionário na instituição, o(a) entrevistador(a) recolhia o
questionário já respondido.
Queremos deixar bem claro, no entanto, que as informações aqui apresentadas
não podem ser expandidas para o estado como um todo – já que não foi sorteada
uma amostra específica para tal a partir do universo das quatro instituições –, à di-
ferença do que pode ser feito com os dados do questionário respondido pelos(as)
beneficiários(as). As informações coletadas com os agentes referem-se aos 502
representantes das quatro instituições, em 97% dos municípios da amostra de
beneficiários(as).6 Ou seja, esses dados possuem uma indiscutível representatividade
social, pois expressam a opinião de agentes ligados a essas instituições em quase
todos os municípios em que foram realizadas entrevistas com os(as) tomadores(as)
de crédito.

5
As respostas obtidas na
aplicação dos questionários
estão apresentadas em tabelas
anexas ao texto.

6
Dos 144 municípios da
amostra onde foram realizadas
entrevistas com beneficiários(as),
apenas em cinco não foram
aplicados questionários para os
agentes. Por outro lado, esses
questionários foram aplicados
em seis municípios não incluídos
na amostra de beneficiários(as).
Para evitar confusão, note-se
que a amostra de agricultores(as)
beneficiários(as) do Pronaf
incluiu 144 municípios, ao passo
que os questionários para os
agentes locais foram aplicados
em 146 municípios.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 129


7 Estudos de caso
O eixo analítico condutor desta abordagem é a sustentabilidade da agricultura fa-
miliar e seu principal objetivo é avaliar o impacto do Pronaf sobre ela em regiões
selecionadas. Neste estudo, entende-se por sustentabilidade da agricultura familiar a
capacidade de as famílias implementarem estratégias de reprodução que viabilizem,
ao longo do tempo, a melhoria de suas condições sociais e econômicas, conservan-
do e usufruindo a diversidade de recursos naturais, culturais, econômicos e sociais
de que disponham, bem como dos agroecossistemas existentes.
O ponto de partida dos estudos de caso7 foi, então, a identificação e a carac-
terização dos padrões de inserção socioeconômica e cultural da agricultura familiar
em ambientes econômico-sociais determinados, o que, na análise empírica, será
aproximado inicialmente pela descrição da relação entre agricultores(as) familiares
heterogêneos(as) e cadeias produtivas diferenciadas. Nesse sentido, o conceito de
cadeia produtiva é um conceito-chave nessa abordagem, desde que compreendido
como o conjunto de estruturas e de relações econômicas, sociais e tecnológicas que
se estendem da produção à comercialização de bens e/ou de serviços resultantes de
uma atividade agropecuária ou de um conjunto dessas atividades. Entendido dessa
forma, o conceito contempla a possibilidade de situações em que a cadeia produtiva
esteja “incompleta”, o que ocorre quando esse conjunto de estruturas e de relações
econômicas, sociais e tecnológicas, anteriormente mencionado, está presente ape-
nas de modo parcial.
Com o tempo bastante exíguo que se dispôs para a visita às regiões, utilizou-se
um roteiro, apresentado em capítulo anexo, para orientar, de forma bastante flexí-
vel, a coleta de informações sobre os seis elementos anteriormente delimitados.
7
Entende-se por estudo de Estabelecido o referencial básico para a realização dos estudos de caso, a
caso a tentativa de observar
e caracterizar especificidades equipe do projeto viajou a Curitiba para entrevistar dirigentes, técnicos(as) e
regionais dos impactos do pesquisadores(as) de instituições governamentais e não-governamentais relevantes,
Pronaf, levando-se em conta
documentos e informações buscando subsídios para a escolha de três regiões do Paraná onde os estudos de
disponíveis e, em especial, caso deveriam ser realizados. Chegou-se, então, a um consenso de que a avaliação
as visões de informantes
considerados(as) privilegiados(as) dos impactos do Pronaf sobre a sustentabilidade da agricultura familiar deveria con-
em virtude da posição que
centrar-se nas regiões Oeste, Sudoeste e Vale do Ribeira.
ocupam como atores nos
processos sociais, econômicos A escolha do Oeste deveu-se principalmente ao fato de que é a região onde o mo-
e políticos que influenciam a
agricultura familiar no Paraná.
delo tradicional de modernização da agricultura mais avançou no estado, com o pre-
O termo “estudo de caso” foi domínio da integração de agricultores(as) familiares mais consolidados(as) nas cadeias
empregado por ser o que mais
se aproxima daquilo que se agroindustriais empresariais de aves e de suínos ou nas cadeias produtivas de soja e de
pretende como uma análise mais milho, que representam cerca de 80% da produção total de grãos no Paraná.
focada, localizada e baseada
em visitas a campo por parte O Sudoeste foi selecionado porque – além de ser uma região onde o modelo
dos(as) pesquisadores(as). O tradicional de modernização agrícola mais avançou, à semelhança do Oeste – carac-
rigor metodológico a que se
propõe esta parte do trabalho teriza-se historicamente pelo desenvolvimento de um forte tecido associativo, o que
de pesquisa está baseado nas
determina a presença de organizações econômicas importantes de agricultores(as)
demandas impostas pelo objeto
e pela abordagem proposta, e familiares, dando-lhes maior capacidade de acesso às políticas públicas para o meio
não se atém a qualquer definição
canônica ou consagrada do
rural, bem como a existência de algumas experiências de transição de sistemas pro-
termo “estudo de caso”. dutivos tradicionais para agroecológicos.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 130


Por fim, ao contrário das outras duas, o Vale do Ribeira é uma região historica-
mente abandonada pelas políticas governamentais, onde predomina uma agricul-
tura familiar caracterizada pelas próprias lideranças dos(as) agricultores(as) como
“agricultura cabocla” e com um tecido associativo considerado ainda relativamente
frágil, não obstante a expansão recente de cooperativas do Sistema Cresol. Nesse
contexto, o Pronaf surge como a primeira oportunidade de os(as) agricultores(as)
familiares regionais terem acesso ao crédito rural, o que torna especialmente rele-
vante tentar avaliar seus impactos sobre a sustentabilidade desse tipo particular de
agricultura familiar, comparando, ademais, este caso com os das duas outras regiões
onde predominam agricultores(as) familiares mais consolidados(as) e com maior ca-
pacidade de acesso às políticas governamentais.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 131


8 Organização para
execução da pesquisa
Para a execução da pesquisa foi adotado um arranjo organizacional, sediado no Rio
de Janeiro, assim esquematizado:
CONSELHO DE
COORDENAÇÃO

COORDENAÇÃO
TÉCNICA
COORDENAÇÃO
SECRETÁRIA
ESTATÍSTICA
COORDENAÇÃO
TÉCNICA

SUPERVISOR I SUPERVISOR II SUPERVISOR III

A equipe encarregada dos estudos foi composta por:


CONSELHO DE COORDENAÇÃO
Cândido Grzybowski (Sociólogo, diretor geral do Ibase)
João Roberto Lopes Pinto (Cientista político, coordenador do Ibase)
COORDENAÇÃO TÉCNICA
Sebastião Soares (Engenheiro aposentado do BNDES, coordenador técnico da pesquisa)
COORDENAÇÃO ESTATÍSTICA
Leonardo Méllo (Sociólogo, coordenador do Ibase)
Márcia Tibau (Economista, pesquisadora do Ibase)
Marco Antonio Aguiar (Assessor estatístico da pesquisa)
EQUIPE DE SUPERVISÃO E ASSESSORIA
Nelson Giordano Delgado (Economista, professor da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, supervisor I da pesquisa)
Luciano Cerqueira (Cientista político, pesquisador do Ibase, supervisor II da pesquisa)
Eugênia Motta (Antropóloga, pesquisadora do Ibase, supervisora III da pesquisa)
Lauro Mattei (Economista, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, assessor
especial da pesquisa)

SECRETÁRIA
Ana Xavier
APLICAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS E APOIO PARA OS ESTUDOS DE CASO
Equipe Emater–PR (responsáveis)
Sérgio Roberto Auffinger (Implementador de crédito rural)
Ademar Jorge Dressler (Coordenador de Desenvolvimentos de inclusão Social e Turismo Rural)

IBASE : PRONAF . PARANÁ 132


As entrevistas com os(as) beneficiários(as) sorteados(as), mediante a apli-
cação do Questionário I, bem como com os “agentes” locais, utilizando o Ques-
tionário II, foram realizadas por cerca de 150 técnicos(as) do Emater do Paraná,
supervisionados(as) diretamente pelos(as) respectivos(as) gerentes regionais. A li-
derança de todo o trabalho realizado por esse conjunto de profissionais, e a ligação
com o Ibase no Rio de Janeiro, ficou a cargo de Ademar Dressler e Sérgio Auffinger,
do Emater.
Para a execução dos estudos de caso nas mesorregiões Oeste e Sudoeste e no
Vale do Ribeira, a equipe do Ibase – dividida em três subgrupos e com o apoio logís-
tico do Emater – visitou essas regiões coletando dados e informações e realizando
entrevistas com atores relevantes, vinculados a cooperativas, entidades financeiras,
agricultores(as) familiares e suas associações e organizações, entidades sindicais,
ONGs, técnicos(as) do Emater, entidades governamentais federais e estaduais, fó-
runs e conselhos de desenvolvimento. Os três subgrupos realizaram, ao todo, 42
entrevistas e/ou visitas a projetos e eventos específicos, relacionados no Anexo 6.
O processamento dos dados colhidos na amostra de beneficiários(as) (Ques-
tionário I) e com os “agentes” locais (Questionário II), bem como a tabulação dos
resultados, foi realizado, sob a supervisão do Ibase, por empresa especializada, con-
tratada especificamente para realizar essas tarefas.

IBASE : PRONAF . PARANÁ 133


9 Agradecimentos
Gostaríamos de agradecer a contribuição e o esforço de algumas pessoas, sem as
quais este trabalho não seria possível.
Em primeiro lugar, agradecemos aos(às) mais de 160 técnicos(as) da Emater
do Paraná, que aplicaram os questionários em todo o estado, tendo somado mais
esta tarefa ao seu trabalho com agricultores(as). Agradecemos também aos(às) ge-
rentes locais que nos acompanharam nas viagens que fizemos, contribuindo com
seu profundo conhecimentos das realidades regionais. Também foram de grande
importância as contribuições aos nossos instrumentos de pesquisa. Agradecemos
especialmente a Ademar Jorge Dressler, responsável direto na Emater pelo acompa-
nhamento de toda a pesquisa e a Sérgio Roberto Auffinger. A dedicação e esforço
desses profissionais foi essencial para que pudéssemos produzir, em pouco tempo,
um trabalho que, esperamos, possa contribuir para o desenvolvimento da agricul-
tura familiar.
Agradecemos também à equipe da SAF, especialmente a Marcia Muchagata,
que acompanhou todo o nosso trabalho, estando sempre à disposição para viabilizar
a pesquisa.
Por fim, mas não menos importante, agradecemos à equipe de apoio do Ibase,
especialmente a Ana Xavier, secretária da pesquisa, sempre eficiente e essencial no
apoio ao dia-a-dia do nosso trabalho. Agradecemos também à equipe de Comunica-
ção, responsável por dar forma final ao texto, especialmente a AnaCris Bittencourt.

Equipe Ibase

IBASE : PRONAF . PARANÁ 134


ANEXOS

IBASE : PRONAF . PARANÁ 135


Anexo I
DISTRIBUIÇÃO DA AMOSTRA POR MICRORREGIÃO, MUNICÍPIOS E TIPO DE EMPRÉSTIMO

Microrregião Municípios Nome C D E


410101 411810 Paranacity 1
411840 Paranavaí 1
412100 Querência do Norte 1 1
412590 São Pedro do Paraná 1
410102 410050 Altônia 1
410990 Icaraíma 1
411060 Iporã 1
412535 São Jorge do Patrocínio 1 1
412810 Umuarama 1
410103 411240 Japurá 1
412790 Tuneiras do Oeste 1
410204 410390 Campina da Lagoa 1 1
411295 Juranda 1 1 1
411610 Moreira Sales 1 1
410205 410170 Araruna 1
410655 Corumbataí do Sul 1
411373 Luiziana 1
411400 Mamborê 1 1
411880 Peabiru 1
412250 Roncador 1
412720 Terra Boa 1
410306 410590 Colorado 1
411000 Iguaraçu 1
410309 411420 Mandaguari 1
411480 Marialva 1 1
410310 411210 Jandaia do Sul 1
410311 411370 Londrina 1
412667 Tamarana 1
410313 410440 Cândido de Abreu 1
411150 Ivaiporã 1 1 1
411342 Lidianópolis 1
411450 Manoel Ribas 1
412217 Rio Branco do Ivaí 1
410415 410640 Cornélio Procópio 1
410416 410360 Cambará 1
411180 Jacarezinho 1
412180 Ribeirão Claro 1
410418 412540 São José da Boa VIsta 1
412780 Tomazina 1
410519 411730 Ortigueira 1
412170 Resena 1 1 1
412750 Tibagi 1
410521 410490 Castro 1
411770 Palmeira 1 1
Continua na próxima página

IBASE : PRONAF . PARANÁ 136


Microrregião Municípios Nome C D E
410622 410200 Assis Chateaubriand 1 3
410820 Formosa do Oeste 1
410880 Guaíra 1
411460 Marechal Cândido Rondon 1 2
411722 Nova Santa Rosa 1
411790 Palotina 1 2
411845 Pato Bragado 1
412085 Quatro Pontes 1
412545 São José das Palmeiras 1
412575 São Pedro do Iguaçu 1 1
412740 Terra Roxa 1 1
412770 Toledo 1 3
410623 410345 Cafelândia 1
410460 Capitão Leônidas Marques 1
410480 Cascavel 1 1 2
410500 Catanduvas 1
410630 Corbélia 1 1
410930 Guaraniaçu 1 1
411345 Lindoeste 1
412382 Santa Lúcia 1
412402 Santa Tereza do Oeste 1
410624 410530 Céu Azul 1
411580 Medianeira 2 3
411605 Missal 1
412570 São Miguel do Iguaçu 1
412635 Serranópolis do Iguaçu 1
410725 410100 Ampére 1
410450 Capanema 2 1 1
411900 Pérola d´Oeste 1
411980 Planalto 1 1
412035 Pranchita 1
412140 Realeza 1
412380 Santa Izabel do Oeste 1
410726 410315 Bom Jesus do Sul 1
410720 Dois Vizinhos 1 1
410740 Enéas Marques 1 1 1
410785 Flor da Serra do Sul 1
410840 Francisco Beltrão 2 2
411435 Manfrinópolis 1
411540 Marmeleiro 1 1
411695 Nova Esperança do Sudoeste 1
411725 Nova Prata do Iguaçu 1
411925 Pinhal de São Bento 1
412300 Salto do Lontra 1 1
412440 Santo Antônio do Sudoeste 1 1
412520 São Jorge d´Oeste 1
412860 Verê 1 1
410727 410322 Bom Sucesso do Sul 1
410540 Chopinzinho 1 1
410650 Coronel Vivida 1 3
411120 Itapejara d´Oeste 2
411530 Mariópolis 2
411850 Pato Branco 1 1 1
412480 São João 1 3
412870 Vitorino 1 1
410828 410304 Boa Ventura de São Roque 1 1
411573 Mato Rico 1
411780 Palmital 1 1 1
411960 Pitanga 1 1 2
Continua na próxima página

IBASE : PRONAF . PARANÁ 137


Microrregião Municípios Nome C D E
410829 410442 Candói 1 1
410940 Guarapuava 1
411020 Inácio Martins 1
411330 Laranjeiras do Sul 2 1
411545 Marquinho 1 1
411705 Nova Laranjeiras 1
411930 Pinhão 1
412015 Porto Barreiro 1
412090 Quedas do Iguaçu 1
412175 Resena do Iguaçu 1
412215 Rio Bonito do Iguaçu 1 1
410830 410570 Clevelândia 1
410965 Honório Serpa 1 1 1
411440 Mangueirinha 1 3
410931 410773 Fernandes Pinheiro 1
410895 Guamiranga 1
411010 Imbituva 1 1
411050 Ipiranga 1 1 1
411140 Ivaí 1
412060 Prudentópolis 2 2 1
410932 411070 Irati 1
412150 Rebouças 1
412200 Rio Azul 1 1 1
410933 410290 Bituruna 1 1
410680 Cruz Machado 1 1
410850 General Carneiro 1
412820 União da Vitória 1
410934 412510 São João do Triunfo 1 1 1
412560 São Mateus do Sul 1 1
411036 411320 Lapa 1 1 1
411037 410180 Araucária 1 1
410425 Campo Magro 1
410620 Contenda 1
410690 Curitiba 1
411430 Mandirituba 1 1
412220 Rio Branco do Sul 1 1
412550 São José dos Pinhais 1
411038 410120 Antonina 1
411039 410410 Campo do Tenente 1
411910 Piên 1
412230 Rio Negro 1 1
TOTAL 80 80 80

IBASE : PRONAF . PARANÁ 138


Anexo II
Espacialização da amostra

IBASE : PRONAF . PARANÁ 139


IBASE : PRONAF . PARANÁ 140
IBASE : PRONAF . PARANÁ 141
IBASE : PRONAF . PARANÁ 142
Anexos III e IV
(conforme originais)

IBASE : PRONAF . PARANÁ 143


ANEXO 3

QUESTIONÁRIO DOS(AS) BENEFICIÁRIOS(AS)

PROJETO DE AVALIAÇÃO DO PRONAF


PARANÁ - 2006

IDENTIFICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO

No do questionário: |__|__|__|__|
Grupo de crédito: C D E

Linha de crédito especial: ___________________________________ Não se aplica

Tipo : 1. Investimento 2. Custeio

Município: ___________________________________

Microrregião: ___________________________________

Data da entrevista: _____/_____/ 2006

Entrevistador: ___________________________________

Supervisor (Emater): ___________________________________

Supervisor (Ibase): ___________________________________


BLOCO 1 – IDENTIFICAÇÃO DO BENEFICIÁRIO

1) CARACTERIZAÇÃO: BENEFICIÁRIO E OPERAÇÃO

Dados do beneficiário
1.1) Nome do beneficiário:
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
1.2) CPF |__|__|__|.|__|__|__|.|__|__|__|-|__|__|
1.3) Localização do estabelecimento:
_________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________
1.4) Telefone(s): |__|__| |__|__|__|__|-|__|__|__|__| ou |__|__| |__|__|__|__|-|__|__|__|__|
1.5) Município: __________________________________________________________

Dados contratuais (Safra 2004/2005)


1.6) Número do contrato: ___________________________
1.7) Atividade financiada: _________________________________________________
1.8) Valor financiado R$ |__|__|__|.|__|__|__|,|__| |__|
1.9) Agente financeiro: ________________________ 1.10) Agência: __________
1.11) Município da agência: ________________________________________________
BLOCO 2 – CARACTERIZAÇÃO DO BENEFICIÁRIO E DA FAMÍLIA

Idade % de tempo Contribui para


Relação com o trabalhado a renda
Nome Sexo (anos Cor Onde reside Grau de instrução Estuda Trabalha
beneficiário na familiar
completos)
propriedade

01. Fem. 99 NS/NR 01. Branca 01. Próprio 01. Mesmo 01. Analfabeto 01. Sim 01. Sim 99. NS/NR 01. Sim,
02. Mas. 02. Negra 02. Cônjuge estabelecimento- 02. Sabe ler/ escrever 02. Não 02. Não 02. As vezes
03. Amarela 03. Filho(a) mesma casa 03. 1º grau incompleto 99. NS/NR 99. NS/NR 03. Não
04. Parda 04. Pai/mãe; 02. Mesmo 04. 1º grau completo
05. Indígena sogro/sogra estabelecimento- 05. 2º grau incompleto
90. Não 05. Outros outra casa 06. 2º grau completo
declarou parentes 03. Mesmo 07. Curso Técnico
06. Agregado Município 08. 3º grau incompleto
07. Outros 04. Em outro 09. 3º grau completo
Município 99. NS/NR
3) O(a) sr(a). participa de algum tipo de organização? Qual(is)?

01.não participa
02.sim, como sócio No caso da resposta 04,
Tipo
03.sim, como diretoria qual?
04.sim, outro vínculo
01. Associação de moradores |__|
02. Cooperativa de produção e/ou comercialização |__|
03. Cooperativa de crédito |__|
04. Associação de produtores |__|
05. Sindicato |__|
06. Fórum de economia solidária |__|
BLOCO 3 – CARACTERIZAÇÃO DO ESTABELECIMENTO/PATRIMÔNIO

4) Estabelecimento
Parcela Condição Localização Área (ha)
Parcela em que reside o beneficiário
Parcela 2
Parcela 3
Parcela 4
01. Proprietário 01. No mesmo
02. Arrendatário município em que reside o
03. Posseiro beneficiário
04. Parceiro 02. Em outro município
05. Meeiro 99. NS/NR
06. Assentado pelo PNRA
07. Beneficiário do Banco da Terra
08. Comodatário
09. Uso coletivo
10. Outro. Qual? Anotar.
99. NS/NR

5) Rebanho:
Tipo Quantidade de animais
01. Bovinos
02. Caprinos
03. Eqüinos
04. Ovinos

6) Utilização do espaço do estabelecimento:


Tipo de ocupação Área (ha)
01. Área de floresta
02. Área de reflorestamento
03. Cultura temporária
04. Cultura permanente

7) Quais das seguintes benfeitorias existem no estabelecimento?


(pode-se marcar mais de uma alternativa)
01. Açude
02. Apiário
03. Aviário
04. Casa
05. Cerca
06. Chiqueiro / pocilga
07. Curral / potreiro
08. Estábulo
09. Galinheiro
10. Obras de drenagem
11. Obras de irrigação
12. Paiol
13. Outro(s). Qual(is)? __________________
8) Há energia elétrica no estabelecimento?
01. Sim
02. Não PASSE PARA A QUESTÃO 10

9) É adequada para as necessidades do estabelecimento?


01. Sim
02. Não
BLOCO 4 – PRODUÇÃO NO ESTABELECIMENTO E RENDA FAMILIAR

10) Tipo de agricultura:


01. Agroecológica
02. Orgânica
03. Tradicional
04. Em transição para orgânica
05. Em transição para agroecológica

11) Produção agrícola, fruticultura e horticultura (Ano-safra 2004/2005)


Produto Área plantada (ha) Produção total (kg) Valor total de venda (R$)

SISTEMA DE PRODUÇÃO E GRAU DE TECNIFICAÇÃO


12) Quais destes equipamentos são usados no estabelecimento?
USA , não
Como adquiriu os equipamentos?
PRÓPRIO 01.Pronaf
Tipos próprio No caso de a resposta ser o nº 03, qual a
(Quantidade) 02. Outro crédito bancário
(Quantidade) fonte?
03. Outra fonte
Batedor de cereais
Botijão de sêmen
Caminhão/utilitários
Colheitadeira
Freezer
Ordenhadeira
Plantadeira
Pulverizador
Tanque resfriador de leite
Trator
13) Quais tipos de insumo produtivos são utilizados no estabelecimento?
Como adquiriu os insumos?
01. Pronaf
Tipos 02. Outro crédito bancário No caso de a resposta ser o nº 04,
03. Produção no estabelecimento qual a fonte?
04. Outra fonte
01. Agrotóxicos / defensivos
02. Fertilizantes orgânicos
03. Fertilizantes químicos
04. Inseticidas / fungicidas naturais
05. Produtos para agroindústria / beneficiamento
06. Produtos veterinários (rações,
suplementos alimentares, medicamentos)
07. Sementes melhoradas
08. Outros. Quais?
a)
b)

14) O(a) senhor(a) recebe assistência técnica?


01. Sim. Desde quando? __________________ (ano)

02. Não. PASSE PARA A QUESTÃO 17

15) Com que freqüência o(a) senhor(a) recebe assistência técnica?


01. Semanal
02. Quinzenal
03. Mensal
04. Bimestral
05. Semestral
06. Anual
07. Outra. Qual? _______________________

16) Quem fornece a assistência técnica? (pode-se marcar mais de uma alternativa)
01. Técnicos autônomos
02. Técnicos da Emater
03. Técnicos da prefeitura municipal
04. Técnicos de agroindústria
05. Técnicos de cooperativas ou associações de produtores
06. Técnicos de empresa de planejamento/empresas privadas
07. Técnicos de empresas fornecedoras de insumos
08. Técnicos de sindicatos
09. Técnicos de ONGs
10. Outros. Quais? _________________________
17) Produtos processados / transformados (Ano-safra 2004/2005)
Produção total
Produto Unidade Valor total de venda (R$)
(quantidade)

18) Quais as técnicas de conservação / uso do solo adotadas no estabelecimento? (pode-se


marcar mais de uma alternativa)
01. Adequação das estradas e carreadores
02. Adubação orgânica
03. Adubação verde
04. Calagem
05. Cordões de pedra e vegetal
06. Faixas de retenção
07. Plantio na palha/plantio direto
08. Queimada
09. Reflorestamento conservacionista
10. Rotação de cultura
11. Terraceamento
12. Outras. Qual(is)? ________________________________________
13. Nenhuma técnica

19) Quais ações voltadas para a preservação ambiental são adotadas no estabelecimento?
(pode-se marcar mais de uma alternativa)
01. Adubação verde / orgânica
02. Agrotóxicos seletivos
03. Controle de erosão
04. Correção de solo (calagem)
05. Destinação adequada de recipiente de agrotóxico
06. Destinação adequada dos resíduos da produção
07. Manejo integrado de pragas
08. Plantio direto na palha
09. Plantio em nível
10. Proteção de fontes
11. Reflorestamento ciliar / conservacionista
12. Sistemas agroflorestais
13. Tratamento adequado da água utilizada
14. Outras. Qual(is)? _________________
15. Nenhuma ação
20) Qual a principal forma de abastecimento de água para atividade agrícola / agroindustrial?
01. Açude
02. Carro-pipa
03. Cisterna
04. Poço ou nascente
05. Rede geral
06. Rio
07. Outra. Qual? ________________________________________

21) Nas últimas três safras, houve problema de estiagem?


01. Sim

02. Não. PASSE PARA A QUESTÃO 23

22) Quais as providências adotadas para reduzir as perdas? (pode-se marcar mais de uma
alternativa)
01. Camalhões
02. Construção de açude
03. Construção de cisterna/outras formas de captação de água da chuva
04. Contratação de carro-pipa
05. Práticas de cobertura de solo
06. Uso de irrigação
07. Uso de variedades resistentes ou mais bem adaptadas
08. Outras. Qual(is)? ______________________________________________________
09. Nenhuma providência
23) Produção animal e venda (ano-safra 2004/2005)
Tipo Quantidade Unidade Valor total de venda (R$)
01. Bovinos UNIDADE ANIMAL

02. Caprinos UNIDADE ANIMAL

03. Eqüinos UNIDADE ANIMAL

04. Frangos UNIDADE ANIMAL

05. Leite LITROS

06. Ovinos UNIDADE ANIMAL

07. Ovos DÚZIAS

08. Outras aves UNIDADE ANIMAL

09. Produtos da piscicultura KG

10. Produtos da maricultura KG

11. Suínos UNIDADE ANIMAL

12. Outros. Quais?


a)
b)
24) Extrativismo:
Produção Total
Produto Valor total de venda (R$)
Quantidade Unidade

25) Outros produtos / serviços (2005)


Tipo de serviço Renda obtida (R$)
01. Hotelaria / Hospedagem
02. Restaurante
03. Passeios / visitas / turismo rural
04. Artesanato
05. Aluguel de máquina e equipamentos agrícolas
06. Trabalho agrícola em outro estabelecimento
07. Outros.
a)
b)

26) Quais as formas de comercialização usadas pelo(a) senhor(a)? (pode-se marcar mais de uma
alternativa)
Programas governamentais
Venda direta aos consumidores
Venda em centrais urbanas de abastecimento
Venda para atravessador
Venda para comércio local
Venda para cooperativa
Venda para indústria alimentícia
Outra. Qual? ____________________________________

27) Outras fontes de renda:


Fonte Valor mensal atual (R$)
01. Remuneração de familiares que trabalham fora do estabelecimento
(incluindo o beneficiário)
02. Programas de ajuda governamental
03. Aposentadoria de membros da família
04. Outras
a)
b)
28) O(a) senhor(a) possui algum destes benefícios? (pode-se marcar mais de uma alternativa)
01. Aplicação financeira
02. Outros seguros (de vida, de automóvel, etc.)
03. Poupança
04. Seguro de saúde
05. Nenhum desses
BLOCO 5 - CONDIÇÕES DE MORADIA
29) Qual o principal material utilizado na construção da residência?
01. Alvenaria
02. Madeira
03. Madeira reciclada
04. Taipa revestida
05. Outro. Qual? ________________________________

30) Qual o número de cômodos da residência? __________ (Anotar 99 para NS/NR)

31) Na sua moradia houve reforma ou melhoria nos últimos cinco anos?
01. Não. PASSE PARA QUESTÃO 32

02. Sim. De que tipo? (pode ser marcada mais de uma resposta)
01. Construção de novo cômodo / expansão de cômodo
02. Instalação / melhoria de rede de água e esgoto
03. Instalação / melhoria de rede elétrica
04. Pintura / colocação de azulejos
05. Outra. Qual? ____________________________________

32) Quantos desses objetos existem na sua casa?


(Anotar zero para os equipamentos que não possuir)
01. Televisão |___|
02. Antena parabólica |___|
03. Aparelho de DVD |___|
04. Geladeira |___|
05. Telefone fixo |___|
06. Telefone celular |___|
07. Computador |___|
08. Computador com acesso à Internet |___|

33) Qual a principal forma de abastecimento de água utilizada na moradia?


01. Poço ou nascente
02. Rede geral
03. Rio ou açude
04. Outra. Qual? ______________________________

34) Qual o principal tipo de instalação sanitária utilizado na moradia?


01. Fossa comum (rudimentar)
02. Fossa séptica
03. Outro. Qual? _______________________________
04. Não tem
BLOCO 6 – OCUPAÇÃO

35) Qual o número de pessoas que trabalham ou trabalharam no estabelecimento?


Safra 2003/2004 Safra 2004/2005 Safra atual
Categorias
Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres
Assalariados permanentes
Assalariados temporários
Familiares

36) Quantos dos assalariados têm carteira assinada? ________ (Anotar 99 para NS/NR)

37) Qual a idade e o sexo das pessoas não familiares que trabalham no estabelecimento?
Faixas Etárias Homens (quantidade) Mulheres (quantidade) Quantas estudam?
Até 10 anos
de 11 a 16 anos
de 17 a 18 anos
de 19 a 21 anos
de 22 a 45 anos
de 45 a 60 anos
Mais de 60 anos

38) Se houve mudança no número de trabalhadores nos últimos anos, ela se deveu ao Pronaf?
01.Sim, totalmente
Categorias 02. Sim, parcialmente
03. Não
01. Assalariados permanentes |__|
02. Assalariados temporários |__|
03. Familiares |__|
BLOCO 7 – IMPACTOS DO FINANCIAMENTO

39) Já havia utilizado crédito do Pronaf?


01. Sim
02. Não PASSE PARA A QUESTÃO 46

40) Utilização de créditos do Pronaf:


TIPO DE UTILIZAÇÃO
(MARCAR “X”)
GRUPO DE
VALOR TOTAL DE CRÉDITOS
SAFRA CRÉDITO LINHA ESPECIAL
PRONAF POR SAFRA (R$)
CUSTEIO INVESTIMENTO (A, B, C, D ou E)

1999/2000

2000/2001

2001/2002

2002/2003

2003/2004

2004/2005

2005/2006
Apenas para quem marcou INVESTIMENTO no tipo de utilização

41) Destino do crédito investimento (Pronaf): (pode-se marcar mais de uma alternativa)
01.… Compra de animais
02.… Compra de terras
03.… Culturas perenes
04.… Instalações e benfeitorias
05.… Máquinas, equipamentos e implementos
06.… Transição para orgânico
07.… Transição para agroecologia
08.… Outras atividades não agrícolas. Qual(is)? ____________________________________
09.… Outros. Qual(is)? ________________________________________________________
Æ PASSE PARA A QUESTÃO 43

Apenas para quem marcou CUSTEIO no tipo de utilização

42) Destino do crédito custeio: (pode-se marcar mais de uma alternativa)


01. Comercialização
02. Compra de insumos
03. Pagamento de serviços
43) Teve alguma dificuldade para pagar o(s) empréstimo(s) obtidos pelo Pronaf?
01. Sim
02. Não. PASSE PARA A QUESTÃO 45

44) Caso a resposta seja “sim”, qual dificuldade: (pode-se marcar mais de uma alternativa)
01. Baixa produtividade
02. Baixo preço de comercialização
03. Custo de produção
04. Condições de crédito (prazos, juros, etc.)
05. Frustração da safra
06. Outra. Qual? __________________________________________

45) Depois de ter começado a receber financiamento do Pronaf, sua produção:


01. Aumentou muito
02. Aumentou
03. Permaneceu igual. PASSE PARA A QUESTÃO 47
04. Diminuiu
05. Diminuiu muito

46) Se houve mudança, atribui ao Pronaf?


01. Não
02. Em parte
03. Totalmente
47) Houve mudanças na região depois da criação do Pronaf?
01. Não houve mudanças PASSE PARA A QUESTÃO 48
02. Sim. Quais?
01.Mudou para melhor
Tipo 02.Mudou para pior
03.Não mudou
Na vida das famílias |__|
No desenvolvimento |__|
Na produção agrícola |__|
Na preservação do meio ambiente |__|
Na vida comunitária |__|
No emprego |__|
Na produção da agricultura familiar |__|
Outras. |__|
a)
b)

48) Utiliza outras fontes de financiamento (além do crédito Pronaf concedido ao beneficiário)?
01. Sim
02. Não. PASSE PARA A QUESTÃO 50

49) Quais as outras fontes de financiamento que utiliza? (pode ser marcada mais de uma
resposta)
01. Cooperativa de crédito
02. Cooperativa ou associação
03. Comerciante
04. Crédito Pronaf para outro membro da família
05. Empresa integradora. Qual? __________________________
06. Parentes (empréstimos)
07. Particulares (não parentes)
08. Programa 12 meses
09. Programa Biodiversidade
10. Outra. Qual? ______________________________________
BLOCO 8 - PERSPECTIVAS

50) Como avalia a sua qualidade de vida e a de sua família nos seguintes aspectos: (marcar
“X”)
Aspecto Muito bom Bom Regular Ruim NS/NR

Alimentação
Acesso a serviços públicos (saúde, educação, etc.)
Consumo
Educação
Infra-estrutura pública (estradas, ruas, eletricidade, etc.)
Integração na comunidade
Meio ambiente
Moradia
Oportunidade de melhorar o negócio
Saúde familiar

51) Como vê o futuro da sua família?


01. Será melhor
02. Será pior
03. Nada vai mudar

52) Seus filhos pretendem continuar o trabalho rural?


01. Sim
02. Não
03. Não se aplica (não tem filhos)

53) Pretende investir no próximo ano para: (pode-se marcar mais de uma alternativa)
1. Agregar valor
2. Ampliar a produção
3. Diversificar a produção
4. Não pretende investir PASSE PARA A QUESTÃO 55

54) Pretende usar o Pronaf para isso?


01. Sim
02. Não

55) Passou a integrar alguma organização depois que passou a receber financiamento do
Pronaf? (pode-se marcar mais de uma alternativa)
01. Associação de moradores
02. Associação de produtores
03. Cooperativa de crédito
04. Cooperativa de produção e/ou comercialização
05. Fórum de economia solidária
06. Sindicato
07. Outro. Qual(is)? _______________
08. Não
56) Em que aspecto o(a) senhor(a) acha que o Pronaf deve mudar?
(pode-se marcar mais de uma alternativa)
01. Não deve mudar
02. Aumento do valor do crédito
03. Diminuição dos juros
04. Exigência de contrapartida por parte do banco
05. Menos burocracia
06. Menos exigência de garantias
07. Mudança no prazo para pagamento
08. Outro. Qual? __________________________________________________________

57) O que o(a) senhor (a) acha que é importante para o desenvolvimento da agricultura
familiar na sua região? (marcar um número por alternativa)

Descrição Pouco importante ↔ Muito importante


01.Crédito fundiário 1 2 3 4 5
02.Diversificação da produção 1 2 3 4 5
03.Fomento ao artesanato 1 2 3 4 5
04.Fortalecimento do associativismo / cooperativismo 1 2 3 4 5
05.Fortalecimento do turismo 1 2 3 4 5
06.Garantia de compra 1 2 3 4 5
07.Incentivo à agroindústria 1 2 3 4 5
08.Mais assistência técnica 1 2 3 4 5
09.Mais crédito para produção 1 2 3 4 5
10.Melhoria da infra-estrutura (eletricidade, estradas, etc.) 1 2 3 4 5
11.Melhoria na educação 1 2 3 4 5
12.Novos canais de comercialização 1 2 3 4 5
ANEXO 4

QUESTIONÁRIO DOS AGENTES

PROJETO DE AVALIAÇÃO DO PRONAF


PARANÁ - 2006
QUESTIONÁRIO PARA AGENTES LOCAIS

MUNICÍPIO: _________________________________

1) Sexo:
01. Masculino 02. Feminino

2) Idade: |__|__| anos

3) Há quanto tempo o(a) senhor(a) reside neste município? |__|__| anos

4) Qual o cargo que o(a) senhor(a) ocupa nesta instituição?

______________________________________

5) Qual o grau de escolaridade do(a) senhor(a)?


01. Primeiro Grau Incompleto
02. Primeiro Grau Completo
03. Segundo Grau Incompleto
04. Segundo Grau Completo
05. Superior Incompleto
06. Superior Completo

MARQUE COM UM “X” O QUE MELHOR EXPRESSA A SUA OPINIÃO SOBRE CADA
UMA DAS OPÇÕES NAS QUESTÕES ABAIXO.
Obs.: Caso a sua opção não seja pela primeira coluna (não houve / não é importante), marque a coluna
correspondente a um dos números de 1 a 4, significando a opção 1 “pouco importante”, e a 4, “muito importante”.

6) Como o(a) senhor(a) avalia os impactos do Pronaf no desempenho da agricultura familiar?

Mudanças Não ↔ Muito


Pouco importante
houve importan te
1 2 3 4
Na diversificação da produção
Na mudança dos sistemas de produção
No grau de tecnificação da produção
No desenvolvimento de atividades não agrícolas
Na renda do(a) agricultor(a) familiar
No cuidado do(a) agricultor(a) com o meio ambiente
7) Como o(a) senhor(a) avalia os impactos do Pronaf no desenvolvimento local / regional?

Mudanças Não Pouco importante ↔ Muito importante


houve
1 2 3 4
Na estrutura fundiária
Na fixação da população no campo
No desenvolvimento de cadeias produtivas
Na arrecadação municipal
Na criação de novos canais de comercialização
No grau de organização dos(as) agricultores(as)
Na criação de postos de trabalho
Na atividade comercial local/regional

8. O que o(a) senhor(a) acha que é importante para o desenvolvimento da agricultura familiar
na sua região?

Não é
Mudanças importante Pouco importante ↔ Muito importante
1 2 3 4
Crédito fundiário
Diversificação da produção
Fomento ao artesanato
Fortalecimento do associativismo / cooperativismo
Fortalecimento do turismo
Garantia de compra da produção
Incentivo à agroindústria
Mais assistência técnica
Mais crédito custeio para produção
Mais crédito investimento para produção
Melhor infra-estrutura (eletricidade, estradas, etc.)
Melhoria na educação
Novos canais de comercialização
Anexo V
Roteiro para a coleta de informações
para os estudos de caso
1. CARACTERÍSTICAS DAS PRINCIPAIS CADEIAS PRODUTIVAS E TIPO DE IN-
SERÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR

• Principais cadeias produtivas existentes na região.


• Caracterização mínima das cadeias produtivas. Sua evolução recente.
• Principais atores envolvidos nas cadeias produtivas.
• Tipos de vinculação/integração dos(as) agricultores(as) familiares às cadeias
produtivas.
• Grau de autonomia e poder de barganha dos(as) agricultores(as) familiares nas
diferentes cadeias produtivas.
• Possibilidades de geração de empregos nas cadeias produtivas.
• Impactos ambientais causados pelas diversas cadeias produtivas e principais
atores responsáveis.
• Impacto dos créditos do Pronaf nos(as) agricultores(as) familiares em cada cadeia
produtiva: (1) em sua autonomia e em seu poder de barganha; (2) em suas condições
de produção e de permanência na atividade agrícola; (3) em sua renda agrícola.
• Cenários de sustentabilidade econômica, social, ambiental das cadeias produ-
tivas existentes na região.

2. ESTRATÉGIAS DE REPRODUÇÃO DOS(AS) AGRICULTORES(AS) FAMILIARES


QUE FAZEM PARTE DAS CADEIAS PRODUTIVAS

• Avaliação das condições atuais de produção dos(as) agricultores(as) familiares


(a terra é suficiente, produzem bem, geram emprego e renda no município,
dinamizam a economia local, etc.).
• Como a questão da terra se expressa para os(as) agricultores(as) familiares da
região (insuficiência, falta de documentação, conflitos, etc.)?
• Fontes de renda das famílias, além da produção agrícola: assalariamento de
membros da família, aluguel de máquinas, atividades não agrícolas, etc. Quais
são as principais fontes de renda?
• Quais as principais razões que levam os(as) agricultores(as) familiares a combinar
trabalho agrícola com não agrícola? Em que atividades isso é mais comum?
• Como se dá a participação das mulheres na diversificação das atividades pro-
dutivas nas unidades de produção?
• As fontes de rendimento fora da atividade agrícola são diferenciadas para mu-
lheres e homens? Por quê?
• Principais dificuldades para os(as) agricultores(as) familiares participantes das
cadeias produtivas regionais adotarem atividades não agrícolas e tornarem-se
pluriativos(as).
• A pluriatividade é importante para a reprodução das famílias ou é o primeiro
passo para que abandonem a agricultura futuramente? As atividades não agrí-
colas têm sustentabilidade econômica na região?

IBASE : PRONAF . PARANÁ 165


• A existência do Pronaf é importante para o desenvolvimento de atividades não
agrícolas pelos(as) agricultores(as) familiares? A maneira como o “modelo do
Pronaf” está estruturado (i) facilita o acesso aos créditos especiais? (ii) estimula
a pluriatividade entre os(as) agricultores(as) familiares? Quais são as principais
dificuldades encontradas em (i) e (ii)?

3. TECIDO ASSOCIATIVO LOCAL DA AGRICULTURA FAMILIAR

• Tipos de organização econômica e social dos(as) agricultores(as) familiares


existentes na região.
• Formas de articulação regional dessas organizações e tipos de articulação com
outras organizações de fora da região.
• A organização dos(as) agricultores(as) familiares tem trazido benefício para
eles(as)? De que tipo?
• As organizações dos(as) agricultores(as) familiares conseguem influenciar ou
mesmo alterar as formas de vinculação/integração predominantes nas cadeias
produtivas existentes na região?
• As organizações dos(as) agricultores(as) familiares conseguem influenciar a in-
trodução de atividades não agrícolas nas estratégias de reprodução desses(as)
agricultores(as)?
• O Pronaf tem contribuído para aumentar o grau de organização dos(as)
agricultores(as) familiares? De que forma?
• Uma organização maior e melhor dos(as) agricultores(as) familiares melhora
seu acesso aos créditos do Pronaf? Por quê? Melhora o acesso ao crédito de
investimento? Aos créditos especiais? Por quê? Melhora a qualidade de utiliza-
ção desses créditos? Por quê?
• Atuação das organizações dos(as) agricultores(as) familiares em relação à ques-
tão da sustentabilidade ambiental na região.

4. TRANSIÇÃO DO SISTEMA PRODUTIVO TRADICIONAL PARA O AGROECOLÓGICO

• Incidência da transição agroecológica na região. Que tipos de agricultores(as)


familiares estão especialmente envolvidos nesse processo?
• Tendo em vista as cadeias produtivas existentes na região, quais são as razões
principais para fazer a transição agroecológica? E para não fazer?
• As formas de vinculação/integração dos(as) agricultores(as) familiares às ca-
deias produtivas e o tipo particular de cadeia produtiva considerada facilitam
ou bloqueiam esse tipo de transição?
• As formas de organização dos(as) agricultores(as) familiares ajudam a promo-
ver a transição para a agroecologia? Como?
• Os(as) agricultores(as) familiares têm acesso ao Pronaf agroecologia? Por quê?
O “modelo” atual do Pronaf estimula ou dificulta essa transição? Por quê?
Que alterações deveriam ser feitas no “modelo do Pronaf” para melhorar essa
situação?
• Quais os impactos do Pronaf sobre a implementação e a sustentabilidade das
novas atividades (de transição agroecológica)?

IBASE : PRONAF . PARANÁ 166


5. OUTRAS POLÍTICAS PÚBLICAS EXISTENTES NO LOCAL E SUA ARTICULAÇÃO
COM O PRONAF

• Outras políticas públicas (federais, estaduais, municipais) existentes e que são


consideradas importantes para a melhoria das condições de geração de renda
e de emprego para os(as) agricultores(as) familiares da região.
• Como se dá o acesso dos(as) agricultores(as) familiares a essas políticas? Os(as)
agricultores(as) familiares têm canais de participação nos quais suas priorida-
des possam ser discutidas e incorporadas às políticas?
• No processo de articulação dessas outras políticas com o Pronaf, existem ele-
mentos que favorecem a articulação e/ou obstáculos que inviabilizam esse pro-
cesso? A organização dos(as) agricultores(as) favorece ou dificulta esse proces-
so? Por quê?
• Existem políticas públicas cuja existência torna o impacto do Pronaf mais efe-
tivo? Quais? Por quê? Atenção especial deve ser dada à existência ou não de
políticas de comercialização (PAA).

6. RELAÇÕES DE GÊNERO E DE GERAÇÃO ENTRE OS(AS) AGRICULTORES(AS)


FAMILIARES

• Como se dá a participação das mulheres em fóruns e encontros de agricultores(as)


familiares e qual o nível associativo das mulheres agricultoras familiares? Exis-
tem movimentos de mulheres na região? Qual o nível associativo dos(as) jo-
vens? Existem movimentos de jovens na região?
• Que tipos de trabalho se apresentam como alternativa de vida aos(às) jovens
rurais?
• Mulheres e jovens têm acesso aos créditos do Pronaf? Por quê? Que tipos de
créditos são esses (custeio, investimento, especiais, etc.)? Por quê? O “modelo”
atual do Pronaf facilita ou dificulta o acesso de mulheres e jovens ao crédito?
Por quê?
• Há diferenciação na administração dos recursos do Pronaf entre homens, mu-
lheres e jovens? Por quê? Quais são as conseqüências?
• O crédito do Pronaf tem sido usado para criar atividades no estabelecimento
voltadas aos(às) filhos(as)?
• O Pronaf tem estimulado a redução do trabalho infantil – por exemplo, pais
e mães têm contratado trabalhadores(as) para as tarefas que eram realizadas
pelos(as) filhos(as)?
• Como homens e mulheres, adultos(as) e jovens, avaliam os impactos do Pronaf?
As percepções são semelhantes? Diferentes? Por quê?

IBASE : PRONAF . PARANÁ 167


Anexo VI
ENTIDADES VISITADAS EM CURITIBA NOS DIAS 11 E 12 DE ABRIL DE 2006
1 – Deral
2 – Ipardes
3 – Aopa
4 – Fetraf Sul
5 – Emater/ PR
6 – Fetaep
7 – Unicafes
8 – Deser
9 – Cedraf
10 – DRA/ MDA

ENTIDADES VISITADAS NA REGIÃO OESTE


1 – Emater
2 – Coopavel
3 – Cresol/ Cascavel
4 – Banco do Brasil/ Corbélia
5 – STR/ Corbélia
6 – Coopacol
7 – Cppperlac
8 – Sicredi / Medianeira
9 – Cooperativa LAR
10 – Organização dos Produtores Familiares para Melhorias na Produção de Leite da Região
11 – Associação de Pequenos Produtores da Agricultura Familiar
12 – Itaipu Binacional

ENTIDADES VISITADAS NA REGIÃO SUDOESTE


1 – Assessoar
2 – Sisclaf
3 – Coopafi
4 – Cresol Baser
5 – Afasp
6 – Cooperapis
7 – Cresol Coronel Vivida
8 – Cooper Iguaçu
9 – Fórum de Entidades
10 – STR/ Francisco Beltrão
11 – Capa

IBASE : PRONAF . PARANÁ 168


ENTIDADES VISITADAS NA REGIÃO VALE DO RIBEIRA
1 – Cresol/ Itaperuçu
2 – Aopa
3 – Cresol
4 – Cresol Cerro Azul
5 – Asstraf
6 – Banco do Brasil / Rio Branco do Sul
7 – Associação do Conselho Agrícola/ Rio Branco do Sul
8 – Conab Paraná
9 – Agência de Desenvolvimento da Mesorregião Vale do Ribeira
10 – Coordenação estadual do MST
11 – STR/ Itaperuçu
12 – Cresol/ Itaperuçu
13 – Fórum de Desenvolvimento Sustentável do Vale do Ribeira
14 – Coordenação de Projetos Especiais de Enfrentamento à Pobreza (PAA)

IBASE : PRONAF . PARANÁ 169

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