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ATIVIDADE DE FILOSOFIA
MAQUIAVEL
POLO GUARULHOS
PERÍODO 1 – 1º SEM 2011
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No cotidiano as palavras “força”, “poder” e “política” são utilizadas por muitos como
se fossem parecidas. É muito comum escutar que tal político usou do seu poder para fazer isso
ou aquilo ou que esse presidente tem mais ou menos força do que o outro. É comum também
o uso da palavra política como uma capacidade de persuasão, de convencimento. Dizemos
que tal pessoa conquistou um cargo na empresa, pois “ela ou ele é política”, ou seja, consegue
fazer acordos, atrair aliados, mediar conflitos, agradar “gregos e troianos” para, enfim,
alcançar um objetivo, uma meta, que muitas vezes nada mais é do que o próprio poder. Essa
última forma, parece-nos a mais comum: política seria o uso de recursos e estratégias (força)
para se alcançar o poder.
Mas o senso comum é repleto de armadilhas e muitas vezes nos dá uma visão ingênua
e parcial da realidade, quando não uma visão até distorcida do real. O dicionário de política
organizado por Norberto Bobbio nos oferece uma visão acerca dessa indeterminação:
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BOBBIO, Norberto, Dicionário de política. Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino; trad.
Carmen C, Varriale et ai.; coord. trad. João Ferreira; rev. geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. -
Brasília : Editora Universidade de Brasília, 1 la ed., 1998.
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O propósito dessa reflexão é refletir acerca do pensamento de Maquiavel, partindo da
visão política grega.
Vejamos o diz a professora Marilena Chauí acerca disso:
Política e Filosofia nasceram na mesma época. Por serem contemporâneas, diz-se que
"a Filosofia é filha da polis" e muitos dos primeiros filósofos (os chamados pré-socráticos)
foram chefes políticos e legisladores de suas cidades. Por sua origem, a Filosofia não cessou
de refletir sobre o fenômeno político, elaborando teorias para explicar sua origem, sua
finalidade e suas formas. A esses filósofos devemos a distinção entre poder despótico e poder
político.
Quando lemos os filósofos gregos e romanos, observamos que tratam a política como
um valor e não como um simples fato, considerando a existência política como finalidade
superior da vida humana, como a vida boa, entendida como racional, feliz e justa, própria dos
homens livres. Embora considerem a forma mais alta de vida a do sábio contemplativo, isto é,
do filósofo, afirmam que, para os não-filósofos, a vida superior só existe na Cidade justa e,
por isso mesmo, o filósofo deve oferecer os conceitos verdadeiros que auxiliem na
formulação da melhor política para a cidade.
Para Aristóteles a polis (cidade) existe por natureza e é da natureza humana buscar a
vida em sociedade.
“Toda cidade [pólis], portanto, existe naturalmente, da mesma forma que as
primeiras comunidades; aquela é o estágio final destas, pois a natureza de uma coisa
é seu estágio final. (...) Estas considerações deixam claro que a cidade é uma
2
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000.
3
criação natural, e que o homem é por natureza um animal político” (o grifo é
nosso) 3
3
ARISTÓTELES. Política. 3. ed. Trad. de Mário da Gama Kuri. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1997.
4
A palavra que os gregos usavam, scholé, originou "escola" e o nexo entre nossa escola e o ócio grego está,
justamente, nessa oportunidade de se refletir, que deveria estar no centro da escola.
5
Idem
6
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São
Paulo: Moderna, 2003.
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Diante disso podermos observar a estreita ligação entre política e moral, com a
exigência de se formar o governante justo, não-tirânico, que por sua vez consiga obrigar,
muitas vezes pelo medo, à obediência aos princípios da moral cristã:
Dois amores construíram duas cidades: o amor de si levado até ao desprezo de Deus
edificou a cidade terrestre, civitas terrena; o amor de Deus levado até ao desprezo de
si próprio ergueu a cidade celeste; uma rende glória a si, a outra ao Senhor; uma
busca uma glória vinda dos homens; para a outra, Deus, testemunha da Consciência,
é a maior glória (Santo Agostinho)7.
7
Idem
5
unificado, com poder político forte e centralizado. Maquiavel intercedeu favoravelmente à
separação entre política e moral no exercício do poder.
Se por um lado, na antiguidade clássica, Aristóteles sublinha a convergência entre
política e ética, afirmando que as virtudes morais individuais são indispensáveis para
engendrar a cidade feliz, por outro, Maquiavel na modernidade dava aos governantes
capazes dos grandes feitos a licença de não se obrigariam sequer a cumprir os pactos e a
palavra empenhada. Em nome do bem comum e da manutenção do poder, nos momentos das
grandes decisões, seria necessário ter força e astúcia, simbolicamente, agir como o leão e
como a raposa), e saber, quando necessário, dissimular:
Todos sabem que, para um príncipe, é uma boa coisa manter a palavra e viver uma
vida fiel. A história de nossos tempos mostra, contudo, que os príncipes que fizeram
grandes coisas tiveram pouca consideração em manter a fé. Com o correr do tempo,
foram capazes de ultrapassar aqueles que tornaram a lealdade e a honestidade a base
de sua lei... um príncipe de êxito deve imitar a raposa e o leão, pois o leão não pode
se proteger das armadilhas , e a raposa não pode se defender dos lobos. Portanto,
precisa ser ao mesmo tempo uma raposa para reconhecer as armadilhas e um leão
para afugentar os lobos. Os que desejam ser apenas leões não compreendem este
fato importante. Um príncipe não deve manter sua palavra quando fazê-lo for contra
seus interesses, e, quando não existam mais as razões que o motivaram
originalmente. Se os homens fossem todos bons, esta regra não seria muito certa.
Mas como são maus e não honrariam sua palavra com o príncipe, este não tem
obrigação moral de lhes ser fiel. Além disso, um príncipe sempre pode encontrar
uma desculpa para não cumprir a palavra dada. Qualquer um pode apresentar uma
série de exemplos modernos desta afirmação, e pode demonstrar quantas vezes a paz
foi rompida e promessas rejeitadas por príncipes desonestos. Os que conseguiram
imitar a raposa foram os que obtiveram mais êxito. Mas um príncipe deve ter o
cuidado de disfarçar bem estas características. Os homens são tão tolos e qualquer
um que os deseje enganar, sempre pode encontrar quem o permita.8
8
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: [tradução Maria Júlia Goldwasser]. 2ª Ed. – São Paulo: Martins Fontes,
1996. – (Clássicos)
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Tal afirmação leva as pessoas a considerar que Maquiavel estaria defendendo o
político imoral, os corruptos e os tiranos. Disso derivou-se o adjetivo maquiavélico. A má
fama do pensador italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527) é bastante antiga. Data de meados
do século XVI. Ao longo do tempo, ele foi inúmeras vezes considerado um autor maldito, a
ponto de seu nome ter dado origem a um apelido para o diabo em inglês: "old Nick".
O lirvo “O Príncipe” constava no Index Librorum Prohibitorum, lista de publicações
proibidas pela Igreja Católica, de "livros perniciosos" contendo ainda as regras da igreja
relativamente a livros.
Para muitos não se trata disso. O adjetivo maquiavélico não cabe em Maquiavel. A
novidade do pensamento de Maquiavel, justamente a que causou maior escândalo e críticas,
está na reavaliação das relações entre ética e política. Maquiavel apresenta uma moral laica,
secular, de base naturalista, diferente da moral cristã; por outro, estabelece a autonomia da
política, negando a anterioridade das questões morais na avaliação da ação política.
Pode-se dizer que a política de Maquiavel é realista, pois procura a verdade efetiva, ou
seja, "como o homem age de fato". As observações das ações dos homens do seu tempo e dos
estudos dos antigos, sobretudo da Roma Antiga, levam-no à constatação de que os homens
sempre agiram pelas vias da corrupção e da violência. Partindo do pressuposto da natureza
humana capaz do mal e do erro, analisa a ação política sem se preocupar em ocultar o que se
faz e não se costuma dizer:
Mas pretendo escrever alguma coisa útil. Examinarei os fatos da política, em vez de
extrair minhas provas de governos imaginários, que, de fato, nunca existiram. Existe
uma grande diferença entre a maneira de vivermos e como deveríamos viver. Na
política, um homem deveria ser guiado pelo que é, e não pelo que deveria ser. Um
homem que fez apenas o que é certo fracassará logo entre tantos, indignos de
confiança.10
9
Idem
10
Idem
7
A nova ética analisa as ações não mais em função de urna hierarquia de valores dada a
priori, mas sim em vista das conseqüências, dos resultados da ação política. Não se trata de
um amoralismo, mas de uma nova moral centrada nos critérios da avaliação do que é útil à
comunidade: o critério para definir o que é moral é o bem da comunidade, e nesse sentido às
vezes é legítimo o recurso ao mal (o emprego da força coercitiva do Estado, a guerra, a prática
da espionagem, o emprego da violência). Estamos diante de uma moral imanente, mundana,
que vive do relacionamento entre os homens. E se há a possibilidade de os homens serem
corruptos, constitui dever do Príncipe manter-se no poder a qualquer custo.
Os problemas colocados por esse tipo de interpretação são imensos. No fundo volta-se
à relação entre moral e política. Maquiavel, de certo modo, não renega a moral cristã, apenas
mostra que a política obriga, em circunstâncias dadas, a agir guiado por outros valores. Lança,
assim, as sementes de idéias como a incomensurabilidade e mesmo a incompatibilidade de
valores que convivem na mesma cultura e entre os quais não existem padrões racionais de
escolha.
Entretanto, acreditamos que defender que o poder e a ética são instâncias separadas é
perigoso. Max Weber em sua obra A política como vocação, na qual o maior sociólogo do
século passado analisa os êxitos e fracassos dos políticos no afã de modificar o curso das
coisas. As dez últimas páginas da conferência expressam à perfeição as angústias dos
políticos conscientes de seu papel. O tema da ética de responsabilidade e da ética de
convicções é exposto magistralmente pelo mestre alemão: "Se fizermos qualquer concessão
ao princípio de que os fins justificam os meios, não será possível aproximar uma ética dos
fins últimos (de convicções) e uma ética da responsabilidade, ou decretar eticamente que fim
deve justificar que meios.11”
Longe que querer esgotar o assunto, acreditamos que Maquiavel sempre será um
pensador “atual”. Sua atualidade reside no fato dele ter tratado de um tema que permeia a
esfera da vida humana tanto individual como coletiva: o poder.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
11
WEBER, Max. Ciência e Política. Duas Vocações. São Paulo: Cultrix, 2004.
8
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução
à filosofia. São Paulo: Moderna, 2003.
ARISTÓTELES. Política. 3. ed. Trad. de Mário da Gama Kuri. Brasília: Ed. Universidade de
Brasília, 1997.
BOBBIO, Norberto, Dicionário de política. Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e
Gianfranco Pasquino; trad. Carmen C, Varriale et ai.; coord. trad. João Ferreira; rev. geral
João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. - Brasília : Editora Universidade de Brasília, 1
la ed., 1998.
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe: [tradução Maria Júlia Goldwasser]. 2ª Ed. – São Paulo:
Martins Fontes, 1996
WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 2004.