O CURSO DO DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL NA VIDA ADULTA E NA VELHICE
Anita Liberalesso Néri O desenvolvimento intelectual é um dos temas centrais à psicologia que construiu teorias amplamente aceitas sobre como a inteligência evolui rumo a estágios superiores de integração, complexidade e flexibilidade, e como os ganhos nesses atributos conduzem o ser humano a crescente capacidade adaptativa. Segundo as visões clássicas o ápice desse processo evolutivo ocorre no inicio da vida adulta, e depois disso, nenhuma nova aquisição ou aperfeiçoamento acontece. Só na velhice ocorre mudanças dignas de nota, justamente porque associadas ao declínio das capacidades adquiridas na infância e na adolescência. Para os adeptos desse conceito, esse declínio redunda em diminuição na capacidade adaptativa. A partir das quatro tradições teóricas dominantes no campo: a psicometria (Schaie, 1996), a de analise dialética (Baltes, 1987), a derivada de Piaget (Krammer, 1983; Basseches, 1980) e a teoria de processamento da informação (Salthouse, 1985). Essas quatro tradições foram integradas na perspectiva de desenvolvimento ao longo da vida. Os desempenhos inteligentes e as competências intelectuais podem incluir uma grande quantidade de elementos e de denominações, que podem ser analisados em termos de capacidades , conteúdos e processos, dependendo do enfoque teórico adotado. As competências da VIDA diária representam a capacidade ou o potencial para realizar adequadamente as atividades consideradas como essenciais a vida independente. Embora s eja consideradas como universais, porque ligados a determinantes genético-biológicos, elas são contextualizadas por fatores socioculturais, que determinam que as tarefas sejam desempenhadas de modo peculiar em cada cultura. As competências da vida diária dependem de condições antecedentes, entre as quais estão a saúde e a cognição do individuo, bem como as oportunidades oferecidas pelo ambiente. As condições antecedentes afetam todos os domínios de competências e sua expressão física, mental e social. A influencia das condições antecedentes é moderada por crenças sobre controle e auto-eficácia. Também depende da regularidade com que o idoso desempenha as tarefas associadas a vida independente. O bem estar físico e psicológico é o principal produto da interação entre tais elementos. O termo inteligência pratica refere-se a expressas no âmbito da vida cotidiana, e que não são produto direto de educação formal, nem se expressam em situações de testes convencionais de inteligência. O interesse por essa dimensão do funcionamento intelectual é recente na área do estudo do envelhecimento. Indicando uma importante mudança no foco dos estudiosos, do laboratório para as condições praticas da vida real. A novidade da tarefa, sua complexidade e s eu grau de estruturação são elementos que interferem na solução de problemas práticos. Podem facilitar ou atrapalhar o desempenho, mas sua influencia depende da interação com fatores de personalidade. Adultos com alta tolerância a ambigüidade e com tendência a se empenharem na investigação e no esclarecimento de problemas são indivíduos que lidaram melhor com a novidade e com a desestruturação do que os que n ao possuem tais atributos. A maioria das atividades psicométricas sobre a inteligência são baseadas na analise multivariada, principalmente fatorial, aplicada aos dados decorrentes de medidas do desempenho intelectual. Os que adotam reconhecem que a inteligência é descrita mais adequadamente por teorias de capacidades múltiplas do que por teorias de capacidade geral. Thurstone (1938), desenvolveu o primeiro modelo fatorial de inteligência, contendo cinco capacidades mentais primarias: compreensão verbal, fluência verbal, orientação espacial, número e raciocínio, que são assumidas como precursoras do funcionamento da inteligência. Elas foram intensamente investigadas nos estudos sobre o desenvolvimento intelectual, no adulto e no idoso. Por enquanto é importante reter a informação de que há diferenças entre capacidades, áreas de conteúdo e processos intelectuais. As capacidades são assumidas como variáveis latentes e explicativas da proficiência dos desempenhos das múltiplas áreas de conteúdo. Os processos são operações por intermédio das quais a informação sensorial é transformada, reduzida, elaborada, armazenada, recuperada e usada. A inteligência fluida foi assim denominada porque, segundo fatores, flui por entre uma grande quantidade de atividades intelectuais. Reflete nas capacidades mentais primarias como: indução, flexibilidade figurativa e integração, evidenciadas pela proficiência no cumprimento das tarefas verbais, espaciais, e topológicas, e na derivação de informações visuoespacial complexa, nas situações em que o tempo de execução é controlado. Inteligência cristalizada foi denominada igualmente metafórica, cunhada por Horn e Cattell, porque achavam que sua origem pode ser comparada a precipitação de substancias sólidas numa solução, sob o efeito de um grande agente catalisador. As capacidades metais primarias seriam a compreensão verbal, a formação de conceitos, o raciocínio lógico e o raciocínio geral. Os efeitos negativos da idade podem ser acentuados por doenças, por depressão, pelo estilo de vida, e por oportunidades sociais e educacionais. O estudo não só mostrou que existe considerável heterogeneidade na velocidade e no resultado final do declínio intelectual, como tornou-se claro que o funcionamento altamente competente é a possibilidade, quando se trata do funcionamento intelectual em idade avançada. O declínio intelectual normal e o declínio intelectual de origem patológica coincidem com o envelhecimento, interferem na possibilidade do idoso manter vida independente e de se ajustarem as demandas sociais do dia-à-dia.