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oe ACL AS OBRAS DO MESMO AUTOR: LA VIE FAMILIALE ET SOCIALE DES INDIENS NAMBIK- WARA (Paris, Société des Américanistes, 1948) . LES STRUCTURES £LEMENTAIRES DE LA PARENTS (Prix Paul-Pellict) (Paris, Presses Universitaires de France, 1949). ‘RACE ET HISTOIRE (Paris, UNESCO, 1952). TRISTES TROPIQUES, 22° milheiro. Colegio Torre Humaine. (Librairie PLON, 1955). LE TOTEMISME AUJOURD'HUI (Paris, Presses Universitaires de France, 1962). LA PENSKE SAUVAGE (PLON, 1962). MYTHOLOGIQUES Le Cru et le Cuit (PLON, 1964). MYTHOLOGIQUES Du Miel aux cendres (PLON, 1966). EM COLABORAGAO: Georges Charbonnier: ENTRETIENS AVEC LEVI-STRAUSS (PLON,JULLIARD, 1961). : CLAUDE LEVI-STRAUSS 943-SS2 ANTROPOLOGIA ESTRUTURAL ‘Tradugio de CHAIM SAMUEL KATZ e EGINARDO PIRES Revisio etnolégica de SOLIO CEZAR MELATTI 29 edigio TEMPO BRASILEIRO Rio de Janeiro, 1985 rativa, Ao menos é 0 que a andlise de um texto indigena nos pareceu ensinar. Mas, em outro: sentido, sabese bem que todo Frito é uma procura ‘do tempo perdido, Esta forma moderna que & a psicanilise, tira, pois, seus caracteres particulares do fato de que, na civilizagio mecinica, hao ha mais lugar para o tempo mitico, seniio no préprio ho- mem, Desta constatagéo, a psicanilise pode recolher uma con- firmagdo de sua validade, ao mesmo tempo que a esperanga de aprofundar suas tieas e de melhor compreender 0 mecanismo des , por uma confrontagéo de seus mé- com os de seus grandes predeces- sores: os xamas € ‘iceiros. 236 CAPITULO XI A ESTRUTURA DOS MITOS (*) “pir-se-ia que 0s universos mitol6gi- cos so destinades a ser pulverizados mal aeabam de se formar, para que novos universos nasgam de seus frag- ‘mentos.” ‘Franz Boas, inttodugio az Ja- ‘mes ‘Teit, Traditions of the Thompeon River Indians of British Cobonbia, Memoirs of the American Folklore Sooiety, VI (1898), p. 18. Nes iiltimos vinte anos, apesar de algumas tentativas dis- persas, a antropologia parece ter-se afastado cada ver mais Go estudo dos fatos religiosos. Amadores de diversas provenién- cias se aproveitaram disto para invadir 0 dominio da etnolo- gia religioss, Seus passatempos ingénuos se desenvolvem no terreno que deixamos baldio, ¢ seus excessos se ajuntam & nossa caréneia, para comprometer o porvir de nossos trabalhos. re atentos aos problemas Célogos profissionais, no podiam manter-se a par da réj fevolugdo' das idéias psicoldgicas, e menos ainda pressenti-la. Suas interpretacdes passaram de moda to ripidamente quanto (1), Segundo o artigo original: The Structural Study of : Myra, A Symposium, Journal of American Folklore, ‘2 270, out-dez. 1958, pp. 428-444. Traduzido com alguns eomplementos ¢ modificagées. 237 Thes contudo.o de etnologia religiosa provém de uma psicologia intelectual ‘A partir de Hocart —que j4 o observara no comégo de icada— lamentar-se-d qi freqiiente- estudo da Ia psicoldgica... se s claras pudessem vida : acrescentava assim o nascer de emogoes confusas” (2). 105 quadros de nossa logica, par iversas das. s que mio deixam de tratou-se de redu- is, Bete método, conhe- gia, sobrétudo, que der-se-iam citar os trabal de H. Grégoire. Mas ées nfo pertencem propriemente einologia. Como hé cingiienta anos, esta continua a se com- prazer no caos. As antigas interpretagdes so_rejuvenesci- das: devaneios da con: coletiva, divinizagio de perso- nagens historicos, ou 0 inverso. De qualquer modo que se en- carem os mitos, parecem-se reduzir todos a um passatem gratuito, ou a uma forma grosseira Para compreender é um mi _ escolha senio entre a - dem que cada socieda ime, nos mitos, sentimentos fun- damentais, tais como o amor, o édio ou a vinganca, que so comuns a téda a humanidade, Para outros, os mitos consti- tuem tentativas de explicacio de fendmenos dificilmente com- preensiveis: astronémicos, meteorolégicos, etc. Mas as socieda- Ges no sio impermedvels 4 adocdo de interpretagées positivas, (2) A. M. Hocarr, Sooial Origins, Londres, 1954, p. 7 238 mesmo quando falsas; potque prefeririam, ao invés delas, re~ pentinamente, maneiras de pensar tio obscuras © complicadas? Por outro lado, os psicanalistas, do mesmo modo que alguns servagio c iz 2 hipétese, proprio dos mitos é de oferecer uma derivacéo a sentimentos reais, mas recalcados. Qualquer que seja a situagao ma tio versétil encontraré sempre o meio de atingir \saio. Reconhegamos, an a constatagées contr parece que a sucesséo nenhuma regra de légic possi se reproduzem com os mesmos caracteres e segundo os mesmos detalhes, nas diversas regiGes do mundo, Donde o proble se 0 contetido do mito é inteiramente contingente, como co preender que, de um canto a outro da terra, os mitos se pa Tegam tanto? & sdmente com a condigéo de tomar consciéncia desta antinomia fundamental, que provém da natureza do mito, perar resolvé-la. Com efeito, esta contradigio m que, em cada lingua, certos grupos de sons cor- fiam a sentidos determinados, e procuraram compreen- " desesperadamente, que necessidade interna unia ésses sen- tidos e ésses sons. A emprésa era va, que Os mesmos sons se encontram em outras Iinguas, mas ligados a sentidos 239 diferentes. A contradigéo s6 foi resolvida no dia em que s¢ aperceberam que a fungéo significativa da lingua nfo esti di- Tetamente ligada aos préprios sons, mas 4 maneira pela qual 08 sons se encontram combinados entre Intimeras teorias recentes sdbre a mit de que os diversos sons possufam uma afinidade ste ou aquéle sentido: assim, as semi-vogais as vogais abertas seriam escolhidas de preferéncia para formar 0s nomes de objetos grandes, grossos, pesados ou sonoros, etc. O prinefpio saussureano do cardter arbitrério dos signos lin- | gilisticos deve ser certamente revisto e corrigido (4) ; mas to- dos os lingitistas estaréo de acérdo em reconhecer que, de um i © mito faz parte integrante da lingua; é pela pala- vra que éle se nos di a conhecer, éle provém do discurso, aspectos complementares: um estrutural, 0 outro estat tico; a lingua pertence ao dominio de um tempo reve € a palavra, ao dominio de um tempo irreversivel. Se iveis na linguagem, nada impede qué ingua e a palavra por meio dos ja uma pertence, Ora, também ema temporal que combina as ‘Um mito diz respeito, sempre, a sistemas temporais aos quai: © mito se define por um propriedades dos dois out: acontecimentos passados: éstes acontecimentos, que decorrem supostamente em um mo- mento do tempo, formam também uma estrutura permanente. pordneas, tal ‘© que faz 0 historiador quando evoca a Revolugéo Fran Ble ge refere a uma seqiiéncia de acontecimentos passados, conseqiiéncias Ionginqua: , ainda através de téda_uma s intermedidrios, Mas, par co € para os que 0 seguem, a Revolugdo Francesa é uma realidade de outra or~ dem: seqiiéncia de acontecimentos passados, mas também es- quema dotado de uma eficdcia permanente, permitindo inter- pretar a estrutura social da Franga atual, os antagonismos que nela se manifestam, i tura, Assim se expri dor ao mesmo bem O futuro estéve present pago da eternidade” tempo hi ‘mais tempo, um retémn- . Esta dupla estrutura, ao mesmo (5) Micumunr, Histoire de la Révolution frangaise, IV, 1. Empreato esta citago de Maurice Mantzau-PoNTY, les Aventu- ‘reo de Ia dialectique, Paris, 1955, p. 273. a4t Que se me permita abrir aqui um pequeno paréntese, para ilustrar, por uma observagio, a originalidade que oferece o mito fem relagéo a todos 05 outros fatos lingiistios. Poder-se-ia de- fini 0 mito como esta modalidade do discurso onde 0 valor da formula traduttore, taditore tende priticamente a zero. lugar do mito, na escala dos modos de » € oposto 20 da poesia, no importando ‘© qtie se tenha dito: para aproximé-los. A poesia é uma forma de linguagem sumamente dificil de ser traduzida para uma gua estrangeira, e qualquer tradugio acarreta miltiplas defor- magées. Ao contrario, o valor do mito como dispeito da pior tradugio. Qualquer que seja da lingua e da cultura da populagao onde € percebido como mito por qualquer leitor, no mundo ‘0. A substincia do mito néo se encontra nem no estilo, nem no modo de narragéo, nem na sintaxe, mas na histéria gue & relada, O mito € linguagem ; mas uma linguagem que em um nivel muito elevado, ¢ onde ido chega, dizer, a decolar do fundamento ico sébre o qual comegou rolando. Resumamos, pois, as conclus6es provisorias a que chega- mos. Elas sio em rumero de trés: 1) Se-os mitos tém um sentido, éste nfo pode se ater aos elementos isolados que en- tram em sua composicéo, mas & mancira pela qual éstes ele- mentos se encontram combinados. 2) O mito provém da or- dem da linguagem, ¢ faz parte integrante dela; entretanto, a linguagem, tal como é sta proprieda- des especiticas. 3) Essas propriedades das acima do nivel habitual da expressio as que se encontram numa expresso Ii de qualquer tipo. Se aceitarmos éstes trés prineipios, ao menos como hi im normalmente na estru- tura da lingua, ou seja, os fonemas, os morfemas e os seman- temas, Mas elas esto para os semantemas assim como os se- mantemas estio para os morfemas e assim como os morfemas 242 esti para os faneinas, Cada forma difete da que a precede, por um mais alto grau de complexidade. Por esta razio, de- ‘hominaremos os elementos que provém particularmente do mito (e que sio os mais complexos de todos): grandes unidades constitutivas. ‘Como se procederé para reoonhecer ¢ isolar essas grandes uunidades constitutivas, ou mitemas? Sabemos que elas néo nem aos fonemas, nem aos morferas, | nem nao o mito seria indistinto de qualquer outra forma de dis curso, Seré necessario pois procuréclas no nivel da oragio. No estigio preliminar da pesquisa, proceder-se-4 por aproxima- 60s, por ensaios e erros, guiando-se pelos principios que servem a wral sob tédas as suas formas: eco- nomia de-explicasao; unidade de solugio; possibilidade de re- ir 0 conjunto a partir de um fragmento ¢ de prever os iores a partir dos dados atuais ‘Até agora, utilizamos a seguinte técnica: cad: lisado independentemente, procurando-se traduzir acontecimentos por meio de frases o mais curtas possiveis, Cada frase € inscrita numa ficha que traz um nimero cor- respondente a seu lugar na narrativa. Percebe-se, entdo, que cada cartio consiste na atribuigéo de um predicado a um su- jeito, Ou melhor, cada grande ‘unidade «: tureza de uma relagéo. ‘A definigéo que precede no é ainda sat por duas razdes. Em primeito lugar, os das as que sejam isoladas, cot enga entre as grandes w , 0 método que acabamo: tempo reversivel ¢ irreversivel, sincrénica e diacrénica — per- manece, pois, inexplicado. Estas observagées conduzem a uma nova hipétese, que nos situa no centro do problema. Supomos, com efeito, que as ver- dadeiras unidades constitutivas do mito nfo sio as relagdes isoladas, mas feixes de relagées, e que & simente sob a forma direita e de cima para baixo, Contudo, uma categoria de volu- mes permaneceré indecifravel desta mancira. Seréo as parti- turas de orquestra, conservadas no departamento de musicologia. Nessos sibios obstinar-se-do, sem divida, em ler as pauitas mu- sicais uma apés a outra, comegando pelo alto da pagina ¢ to- mandp-as tadas em sucesso; depois, perceberdo que certos grupo de notas se repetem com intervalos, de maneira idéntica | ow parcial, e que certos. contornos melédicos, aparenteiente || afastados uns dos outros, oferevem analogias entre si. Talvez se | perguntem, entdo, se éses contornos, ao invés de ser abor- Gados em ordem sucessiva, no devem ser tratados como os elementos de um todo, que € necessirio apreender globalmente. dades cujos mitos estuda, Nosso observador escutard as con- sultas, até mesmo as registrard num gravador, para poder estu- da-las e comparé-las & vontade, do mesmo modo como fazemos wonstragio” deve ser pois entendida, nio no sen- ‘mas, quando muito, no sentido ssultado, mas explicar, tio rapida- ionamento da pequena maquina trata de vender aos basbaques. mito vai ser manipulado como o seria uma partitura de orquestra que um amador perverso ‘tivesse transcrito, pauta apés pauta, sob forma de uma série melédica continua, e que ‘se procuratia reconstituir em seu arranjo inicial. Mais ou me- rnos, como se nos f6sse apresentada uma seqiiéncia de némeros 245 inteiros, do tipo 1, 2, 4, 7, 8, 2, 3, 4, 6, 8, 1, 4, 5, 7, 8 1, 2, 5, 7, 3, 4, 5, 6, 8, sendo-nos atribuida a tarefa de reagrupar todos 05 1, todos os 2, todos os 3 etc., sob forma de quadro: 12, 4 78 234 6 8 1 45 78 12 $7 3456 8 Proceder-se-4 do mesmo modo com o mito de Bdipo, expe- rimentando sucessivamente diversas disposigdes dos mitemas, até que se encontre uma que satisfaga as condigdes enumeradas & pig. 243. Suponhamos, arbitrariamente, que uma tal dispo- sicao seja representada pelo seguinte quadro (ficando entendido, t im nem mesmo de sugeri-lo, aos , que tentariam certamente modificd-lo, ou até mesmo rejeité-lo) : Pa, raptada por Zeus Cadmo mata o dngio ‘or Spartoi se ex- teeminam micua- mente Bdipo mata seu pai Lalo Ldipo imola a Esfinge Bidipo esposa Jo- asta, sua mie * paterna de Edipo. Mas o: Estamos assim perante quatro colunas verticais, cada qual agrupando inimeras relagdes pertencentes ao mesmo “feixe”. Se tivéssemos de narrar 0 mito, ndo levariamos em conta esta disposigao em colunas, e leriamos as linhas da esquerda para a direita ¢ de cima para baixo. Mas, desde que se trata de compreender o mito, uma metade da ordem diacr Para baixo) perde seu valor funcional, ¢ a “ esquerda para a direita, uma coluna apés a outra, tratando-se cada coluna como um todo. ‘Todas as relagdes agrupadas na mesma coluna apresentam, por hipétese, um trago comum que se de evidenciar. ‘Assim, todos 0s incidentes reunidos na primeira coluna es- concernem a parentes consangiiineos, cujas relagbes de idade s&o, por assim , exageradas: ésses paren- tes objeto de um tratamento mais imo do que o admitido pelas regras sociais. Admitamos, pois, que 0 trago comum A primeira coluna consista em relagées de parentesco ‘superestimadas, Evidencia-se imediatamente que a segunda Tuna traduz a mesma relagio, mas afetada de signo inverso: re- lagdes de parentesco subestimadas ou de; ciadas. A terceira coluna concerne a monstros e sua destruigio, Para a quarta, necessita-se de alguns esclarecimentos. Foi freqiientemente ob- servado 0 sentido hipotético dos nomes proprios da linhagem diistas no Ihe atribuem nenhuma regra, 0 sentido de um ro em todos os contex- nomes préprios esto, por \dade poderia parecer me- € reorganizado de tal ma- importancia, visto que, segundo térmo 86 pode ser definido substi nor com nosso método, pois 0 neira que éle proprio s¢ constitui como contexto. Nao é mais 6 sentido eventual de cada nome tomado isoladamente que ofe- , mas 0 fato de que os trés nomes tenham um caréter comum: a saber, de comportar significa- ‘¢6es hipotéticas, e que tddas evocam uma dificuldade em andar terroguemo-nos sobre a relago entre A terceira coluna se refere a mons ialmente, monstro ctgnico que € necessiirio que os homens possam nascer da Terra; em as duas colunas tros: 0 dragio destruir, a fim aur seguida, a Esfinge, que se esforga, por meio de enigmas que se referem também natureza humana, em arrebatar a exis- téncia as suas vitimas humanas. O segundo térmo reproduz, pois, o primeiro, que se refere 4 autoctonia do homem. Jé que ‘os dois monstros so, definitivamente, vencidos por homens, pode-se dizer traco comum da terceira coluna consiste na ‘negaéo da a (6) Sem s, que seria, de nossa parte, presungosa ¢ até sem sentido, ‘que o mito de Edipo 6 tomado aqui como um exemplo ex- de maneira arbitréria, 0 cardter ctdnico atribufde A Es- Einge pederie. surpreender, ¢ és itvoesremos 0 testemunho de Marie Deleourt: “Nas lendas arcaicas, Glos nascom certamente Terra” (Gdipe ou la légende du conquérant, Lidge, Por mais distante que esteja 0 nosso método do icourt (@ que estariam, sem divida também, nossas ‘éssemos competéncia pare abordar o problema profundamento), perecernao gre ela estuveleceu, do manera, con vineente o caréter da Esfinge na tradigio areaica: monstro fé Miles ue, na bela conopratie reunide por Delcourt’ ne Tim ‘de sua obra, o homem e a mulher se encontrem sempre em posi- io “céu/terra” invertida. Como indicamos adiante, escolhemos o mito de Kdipo como aparéncia enigma — isto 6, responde 4s investidas da encontraré em seu leito, ao despertar, um plendente que o far& chegar & soberania (: ignalmento eéltico). A Esfinge evoca Sore, aes, facie, no oxato momento em que paris, e que erra dai por Giante’no deserto, ‘Mae dos Animais, que’ cia recusa aos toe dores. Aquéle gue a encontea, as vestes ensangdentadas, “flea tao aterrorizado que tem uma erepio", da qual ela. so. aproveita ere’ violiclo, recompensando-o em seguida om um sucesso. infa- 248 Estas hipéteses ajudam a compreender o sentido da quarta coluna, Em mitologia é freqtiente que os homens nascidos da Terra sejam representados, no momento da emergéncia, como ainda incapazes de andar, ou andando desajeitadamente. Assim, entre 05 Pueblo, os séres ctBnicos, como Shumaikoli, on entio emergéncia, sio coxos (“PE ‘mesma, observagio vale para os Koskimo tl: depois que o monstro etdnico Tsiakish da mitologia 05 devorou, éles retornam A superficie terrestre, “cambaleando para a frente ou de lado”. O traco comum da quarta coluna poderia, pois, ser a persisténcia da autoctonia humana. Resulta disto que a quarta coluna mantém com a coluna 3 a mesma relagio que a coluna T, com a coluna 2. A impossiilidade de pir em cone grupon, de relagées & superada irmacio de que duas relagdes con- as, na medida em que cada uma de formular a estrutura do pensamento mitico no tem ainda senfo um valor aproximado, Ela nos basta por ora. se encontra uma sociedade que professa a crenga na autoctonia do homem (assim, Pausinias, VIII, XXIX, 4: o vegetal € 0 modélo do homem) de pastar, desta teoria, ao reconhecimento do fato de que cada um de nds nasceu realmente da unito de um homem e de uma mulher. A dificuldade ‘0 mito de Hdipo oferece uma espécie de i ito Iégico que permite langar uma ponte entre o problema nnascemos de um tinico ou de dois? — e o problema que se pode formular, aproximadamente: o mesmo nasce do mesmo ou de ‘outro? Por éste meio, uma correlagio se evidencia: a superes- tima do parentesco consangiiineo esti para a subestima déste, superdvel. Mas livel na_caga (ef. H, R, Yoru, The Oraibi Summer Snake Gere- mony, Field Cohembian Museum, publ. n° 88, Anthropol. Series, vol. II, n° 4, Chicago, 1903, pp. 352-353 e 983, n° I). (1) E nfo Masauw, ‘cujo nome aparece no texto inglés déste estido, em eonseqiiéncia de um érro de datilografia. 249 como o esférgo para escapar & autoctonia esta para a impossi- bilidade de consegui-lo. A experiéncia pode desmentir a teoria, mas a vida social confirma a cosmologia na medida em que ‘ambas traem a mesma estrutura contraditéria, Entio, & cos- & verdadeira. Abramos um paréntese aqui, para intro- ‘ir duas observagGes. Na tentativa de interpretagio que precede, foi possivel ne- gligenciar uma questo que preocupou bastante os especialistas do passado: a auséncia de certos motivos nas versées mais an- tigas (homéricas) do mito de Edipo, como 0 de Jocasta eo cegamento voluntirio de Edipo, Mas éstes motivos nio alteram a estrutura do mito, na qual podem, aliés, tomar lugar facilmente, o primeiro como um névo exemplo de auto-destrui- gio (coluna 3) ¢ 0 segundo como um névo exemplo de enfer- midade (coluna 4), Bstes acréscimos apenas contribuem para explicitar o mito, visto que a passagem do pé a cabeca aparece em correlacio significativa com outra passagem: a da autoc tonia negada 4 auto-destrui O método nos livra, p tituiu, até agor dos estudos mit tica ou primitiva. Nés propomos, ao contrério, njunto de tddas as suas verses. modo: © mito permanece mito enquanto é percebido como tal. Rete principio é bem ilustrado por nossa interpretacio do mito de Tidipo, que se pode apoiar sdbre a formulagio freudiana, € the € certamente aplicdvel. O problema pésto por Freud em térmos-“‘edipianos” no é mais, sem divida, o da alternativa entre autoctonia e reprodugo bissexual, Mas se trata sempre de compreender como um pode nascer de dois: como se dé que nao tenhamos um tnice genitor, mas uma mie, e um pai a mais? Nao se hesitaré pois em classificar Freud, depois de Séfocles, na relago de nossas fontes do mito de Edipo. Suas verses merecem o mesmo crédito que outras, mais antigas e, aparentemente, mais “auténticas”, Do que precede, resulta uma conseqiiéncia importante. Visto que um mito se compée do conjunto de suas variantes, a andlise estrutural deveré consideri-las, tédas, ao mesmo titulo. de que se cons- 250 ‘Apis haver estudado as variantes conhecidas da versio tebana, ter-se-d em vista, pois, também as outras: natrativas concer- nentes & linhagem colateral de Labdaco, que compreende Agave, Penteu ¢ a propria Jocasta; as vatiantes tebanas sébre Lico, onde Anfion e Zeto tém o papel de fundadores de cidade; outras, mais afastadas, relativas 2 Dionisio (primo matrilateral de fidipo), © as lendas atenienses onde a fungio reservada por Tebas 2 Cadmo cabe a Cecrops, ete. Para cada uma dessas variantes, estabelecer-se-4 um quadro, onde cada elemento sera disposto de modo a permitir a comparagéo com o elemento cor- respondente dos outros quadros: a desiruigao da serpente por Cecrops com o episédio paralelo da his dono de Dionisio o de Bdipo; “Pé-Inchado isto € andando as avessis; a busca de Europa ea de Antiope; a fundagio de Tebas, ora pelos Spartoi, ora pelos didscuros ‘Anfion e Zeto; Zeus raptando Europa ou Antiope, ¢ 0 episodio onde Sémele serve de vitima ; o Bdipo tebano ¢ o Perseu argivo, ete, Obter-se-o assim intimeros quadros de duas di- menses, cada qual consagrado a uma variante, e que se justa- 261 porio como outros tantos planos paralelos, para chegar a um ‘conjunto tri-dimensional, o qual poderd ser “lido” de trés modos diferentes: da esquerda para a cima para baixo, da frente para o fundo (ou inversamente). Bsses qua- deixario de observar, oferecem entre si correlagées sis s, que permite sub- meter seu conjunto a operacées ss, e de chegar fin fe 2 lei estrutural do Objetar-se-4, talvez, que uma tal emprésa no poderia ser Tevada a0 seu térmo, visto que as tinicas verses de que dis- pomos sio as atualmente conhecidas. O que aconteceria, se uma nova versio desordenasse os resultados obtidos? A dificuldade € real quando se dispée de versées muito pouco numerosas, mas ela se torna rapidamente tebrica & proporgéo que. seu mé- mero se acresce, A experiéncia ensinard a ordem de grandeza aproximada do mimero de versbes requeridas; nio poderia ser muito elevado, Se nés conhecemos o mobilidrio de um quarto ¢ sua distribuigio sémente por intermédio de imagens enviadas por dois espelhos fixados em paredes opostas, podem se dar this casos, Com os expas rigorosamente paalelos, 9. - ‘um dos espelhos fésse situado obliquamente em relagéo 20 ésse nimero diminuiria rapidamente, em proporsio ao angulo. ‘Mas, mesmo neste iiltimo caso, quatro ou cinco imagens bas- tariam, sen&o para nos fornecer uma informacio total, ao me~ nos para nos assegurar que nenhum mével importante péde permanecer desapercebido, ‘Ao contrario, néo se insistird jamais demasiado sébre a absoluta necessidade de no omitir nenhuma das variantes que tenham sido reoolhidas. Se os comentdrios de Freud sébre 0 complexo de Eidipo fazem — como o cremos — parte integrante do mito de Bdipo, a questio de saber se a transcrigio feita por Cushing do mito ‘de origem dos Zuni é bastante fiel para ser conservada, nao tem mais sentido, Nao existe versio “verda- deira”, da qual tédas as outras seriam cépias ou ecos defor- mailos, Tédas as versdes pertencem ao mito. 252 Sipe remo Eisnos em posigio de compreender porque muitos estu- des de mitologia geral produrium resultados desalentaores, iramente, 05 compatatistas quiseram selecionar versées mi iadas, ao invés de considerar tédas. Depois, vimos que a ang estrutural de wma variante de um mito, recolhido em es, até em uma aldeia), chega a um esquema tribo, © esquema se torna tri-di ional, € se se quer ampliar a comparagéo, o nimero de imens6es requeridas eresce tio masiado complexos para nossos métodos empiricos tradicionais, Nés experimentamos, em 1952-1954 (8), verificar a teoria sumariamente exposta nas piginas precedentes, por uma andlise exaustiva de tédas as versées conhecidas dos mito Zuni de origem © de comers: Cush a, 1883 © 1896; Stevenson, ia das Planicies. Cada vez, os resultados 3. Nao sdmente a mitologia norte-ameri- lo, mas chegou-se a entrever, e as vézes a definir, opera~ Ges logicas de um tipo muito freqiientemente negligenciado, ou que haviam sido observadas em dominios bastante afastados do (8° Cf, Annuaire de Boole pratique des Hautes Studes, Scctiar, ea Selences rligiouses, 19621053, pp. 10-21 « 1958-1964, 258 : nosso, Nao é possivel entrar em detalhes aqui, ¢ limitar-nos- emos a apresentar alguns resultados. Um quadro, sem diivida excessivamente simplificado, do mito Zuni de emergéncia ofereceria o aspecto geral abaixo (pig. 255). ‘Basta um rapido exame déste quadro, para compreender sua natureza. B uma espécie de instrumento logico, destinado a operar uma mediagéo entre a vida e a morte. A passagem é dificil para o pensamento Pueblo, pois éle concebe a vida hu- mana de acérdo com o modélo do reino vegetal (emergéncia fora da terra). Esta interpretagio Ihe € comum com a Grécia antiga, ¢ néo foi de modo absolutamente arbitrario que toma- mos 0 mito de fdipo para primeiro exemplo: No caso ameri- cano agui considerado, a vida vegetal é sucessivamente anali- sada sob varios aspectos, ordenados do mais simples ao mais complexo. A agricultura ocupa o lugar supremo e, contudo, oferece um caréter periddico, ou Seja, consiste em uma alter- némeia de vida ¢ de morte, em contradigéo com o postulado i Que se negligencie esta contradicao, e ek ressalta, mais adiante, no quadro: a agricultura é fonte de alimentagio, de vida, pois; ora, a caga também acarreta a alimentacio, asse~ methando-se A guerra, que é morte. Existem, diferentes maneiras de tratar o problema. A. versio Cushing esté centrada numa oposicéo entre as atividades alimentares cujo resul- tado é imediato (coleta de plantas silvestres) ¢ aquelas cujo resultado néo pode ser auferido seno no fim. Dito de outro modo, a morte deve ser integrada A vida a fim de que a agri- cultura seja possivel. Na versio Parsons, passa-se da caga a agricultura, en- quanto a versio Stevenson procede em ordem inversa. Tédas as outras diferencas entre as trés vers6es podem ser correla- cionadas com essas estruturas fundamentais. Assim, as trés ‘vers6es descrevem a grande guerra travada pelos ancestrais dos Zuni contra uma populago mitica, os Kyanakwe, introduzindo na narrativa variagées significativas que consistem: 1.9 na alianga ou na hostilidade dos deuses; 2.° na outorga da vitéria final a um dos campos; 3.9 na funcio simbélica atribuida aos Kyanakwe, ora descritos como cagadores (tém entio arcos de 254 ens ES ‘MUDANGA MORTE uso mecinico dos emergéncia, con- incest do irmio exterminio dos Veaerais (escadas duzida pelos Gé- ¢ da irmi (ori- filbos dos ho- Pee air doe meot Bem-Ama- gem da igus) mene pelos dew mundos inferio- dos ss (por afogt- me) mento) torneio mégico Jo simentar dat snigasio, condu- isan a aa ‘ travado contra o Sat civedieszide "pelos doit Bane sleet Fao oo Povo. do" Ore or cee Tho’ “Goteors = coe sa sacrifice da um jnmio ¢ de uma zo aliments das gis clit a adogio de um ie- ioe de oma ie Ba cea rect 60 milho) cariter_peri6dico dae aividedss Sgrcolar 4 guerra contsa os Ryanaksre (aec- fultore contra ‘asadore) uso alimentar da salvagio da tribo (Gescoberta do 3 (para ven fr 0 Bilévi) corda feitos de tendées animais), ora como agricultores (seus arcos so guamecidos de fibras vegetais) : PARSONS STEVENSON Kyanakwe, sés, cordas|Deuses, { Miados. utili. jarani zando cordae eget HHomens { egcsis | Vencedores dos: | Vencedores dos: Como a fibra vegetal (: a) & sempre superior & corda de tenddes (caga), e como (em menor medida) a alianga dos deuses € preferivel & sua hostilidade, resulta que, na versa Cushing, o homem esta com dupla d asso que a versio Par- sons ilustra uma situacio intermediéria (deuses propicios, mas cordas de tendées, visto que a humanidade primitiva vive da caca). Oposigées Cushing Parsons_—_Stevenson deuses/homens = + ee ‘fibra/tendio _ = + A versio de Bunzel oferece.a mesma estrutura que a de Cushing. Mas difere dela, assim como da versio Stevenson, de que essas duas versdes apresentam a emengéncia como o resultado dos esforgos dos homens para escapar de sua condi¢io miseravel nas entranhas da Terra, enquanto a versio Bunzel representa a emergéncia como a consegiiéncia de um apélo feito aos homens pelas poténcias das regides superiores. ‘Também, entre Bunzel de uma parte, Stevenson e Cushing de empregados para a emergéncia se sucedem ‘a € inversa, Em Stevenson e Cushing, das is; em Bunzel, dos mamiferos aos insetos, € dos insetos as plantas, 256 Em todos 0s mitos dos Pueblo ocidentais, a formalizacéo Jogica do problema permanece a mesma: ponto de partida ¢ (0 panto de chegada do raciocinio so inequivocos, e a ambi- giidade aparece no estado. intermiediario vipa (= cupscrmEnTo) ‘Uso (mecinieo) do reino ve- Tevando em conside- ‘somente o erescimento conte couen AGRICULTURA Uso alimentar do rein¢ mal limitado aos ani » 2) cage Destruigéo do reino animal, ‘estendida 20s homens Monts (= DE-CRESCIMENTO) © aparecimento de um térmo contraditério justamente no meio do processo dialético esta em relagio com a emergéncia de uma dupla série de pares dioscaricos, cuja fungio € operar uma iagdio entre 0s dois polos: 1. 2 mensageiros 2 palhagos cerimoniais 2 deuses da guerra ‘divinos 7 ae par heterogéneo Patidscuros os (2 irmios) _ isto é, uma série de variantes combinatérias que preenchem a Teams Ting em contextos diferentes, Compreende-se assim ‘porque 0s palhagos podem, no ritual Pueblo, ver-Ihes atribuidas fungSes guerreiras. O problema, que fora freqiientemente con- jerado insolivel, desaparece quando se reconhece que os pa- s ocupam, em relagio @ produgio alimentar (éles sio rées que podem abusar impunemente dos produtos agricolas) 1 elut 257 ‘a mesina fungo que os deuses da guerra (a qual apareee, no proceso dialético, como um abuso da’ caga: -caga ad-homem, ‘em lugar de animais préprios 20 constimo huiano). Alguas mitos dos Pueblos centrais e orientais procedem de outra maneira. Comegam por estabelecer a identidade es- sencial da caga e da agricultura. Esta id por exemplo, do mito da origem do milho, o qual € obtido pelo | Pai dos Animais, semeando, & guisa de grios, espordes de que se desdobram (como as 2 irmas dos Pueblo orientais), a0 passo que um simples térmo mediador aparece em ‘primeiro plano (o Poshaiyanne dos Zia), mas éle proprio dotado de atributos equivocos. Gragas a éste esquema, podem-se até de~ duzir 09 atributos que possuiré ésse “messias” nas diversas verses, segundo o momento em que faga sua igo a0 licamos. smente éste método de andlise estrutu- tédas as variantes conhecidas de um mito em uma séri tagdes, onde as da série oferecem, métrica, mas inversa, Introduz-se, pois, um inicio de ordem ‘onde niio havia senio caos, e ganha-se a vantagem suplementar de distinguir certas operagies légicas que estio no funda- mento do pensamento mitico (9). Desde j4, trés tipos de ope- rages podem ser isolados. ~ "© personagem geralmente denominado trickster na mito- logia: americana constituiu por muito tempo um enigma. Como ‘explicar que, em quase tdda a América do Norte, ésse papel tes situadas em ambas as extremidades em relago a outra, uma estrutura. si- (9) Pari uma outra aplicagio déste método, ver nosso es- ‘tudo: On four Winnebago Myths, que deveré aparecer em 1958, em um volume'do homenagera ao Prof. Paul Radin, por oeasiéo do sou 75.0 aniversirio 258 fasse destinado ab coiote ou ao corvo? A razSo dessas escolhas aparece, se reconhecermos que o pensamento mitico procede da tomada’de consciéncia de certas oposigées © tende-& sua me- diagdo progressiva, Estabelecamos, pois, que dois-térmos, en- tre os quais a passagem parece impossivel, sejam inicialmente substituidos por mos equivalentes que admitem um outro como intermediari, Apés o que, um-dos térmos pola- res ¢ 0 térmo intermedirio sic, por sua vez, substituides por tuma nova triade, ¢ assim por diante. Obtém-se entio uma es- trutura de.mediagio do seguinte tipo: Par inicial —,—-Primeira triade Segunda triade Vida Agricultura Herbivoros Caga Carniceiros Guerra Predadores Morte Esta estrutura substitui 0 raciocinio implicito: os carni ceiros sio como os predadores (cons mento ani mas so também como os produtores de nfo matam 0 que comem). Os Pueblo, para quem a vida cola & mais “significante” do.que a casa, formulam 0 mesmo raciocinio de maneira um pouco diversa: 0s corvos estio para as plantagées, assim como os predadores estéo para os herbi- voros, Mas jé era possivel tratar os herbivoros como media~ so como coletores (vegetarianos) ¢ dores: com efe fornecem um res, Obtém-se mediadores de pri ceiro graus, etc., cada térmo gerando o seguinte por oposico mncia de operagées € to evidente na mitologia que pode ser ordenada numa série: (privade de sucesso) entre Céu e Terra: “Star-Husband”). 259 Engquaiito qué, entre os Pueblo (Ztini), a série corres Pondente € do tipo: Mediador (coroado de sucesso) entre Céu e Terra: (Poshaiyanki) . Par sem:-homogéneo de mediadores: (Uyuyewi ¢ Matsailema) . Par homogéneo de mediadores: (os dois Ahaiyuta), Correlagées do mesmo tipo podem aparecer também num eixo horizontal (isto é verdade, mesmo no plano lingiistico, como as conotagées. miltiplas da raiz pose em Tewa, segundo Parsons: coiote, néve ‘calpo, ete.). O coiote (que é um camiceiro) é intermediario entre herbivoros ¢ carnivoros como a névoa entre Céu ¢ Terra; como o escalpo ‘entre guerra ¢ agricultura (o escalpo é uma “colheita” guerreira) ; como a alforra entre plantas silvestres e plantas cultivadas (éla se de- senvolve s6bre as iiltimas, do mesmo modo que as primeiras) ; como as vestimentas entre “natureza” ¢ “cultura”; como o lixo entre a aldeia habitada ¢ o mato; como as cinzas (e a fuligem) entre a lareita (no chio) ¢ o telhado (imagem da abdbada ce~ este). Esta cadeia de mediadores — se € licito exprimir-se — oferece uma série de articulagées légicas que permitem resolver diversos problemas da mitologia americana: porque © deus do orvalho é também um senhor dos animais; porque 0 deus detentor de ricas vestimentas é muitas vézes um Cinde- relo macho (Ash-boy) ; porque os escalpos produzem o orvalho; porque a Mae dos Animais esta associada a alforra, etc. Mas, também podemo-nos interrogar se nfo atingimos, por éste meio, um modo universal de organizar os dados da expe- riéncia sensivel. Quando se comparam aos exemplos que pre- cedem és: névoa, lat, nebula; e o papel de trazedor de sorte atribuido na Europa ao lixo (sapatos velhos), as cinzas e 4 fuligem (cf. o rito de beijar o limpa-chaminé pare também o ciclo americano de Ash-Boy e 0 ciclo indo-euro- peu da Cinderela. Ambo3 os personagens sio figuras fli (mediadores entre os sexos) ; senhores do orvalho ¢ dos ani- mais selvagens; possuidores de vestimentas suntuosas; e me- diadores sociolégicos (alianga matrimo: » entre ricos e pobres). Ora, & impossivel atribuir-se 260 é limo a um empréstimo (como o pretenderam algu- mas ire), po a narravas reas ao Ash-Boy ¢ & Cin- derela so. simétricas e inversas nos minimos detalhes, enquanto a narrativa de Cinderela, tal como foi efetivamente reprodu- zida na América (ef, 0 conto Zuni da Guardadora de perus), permanece. paralela ao protétipo. Donde o quadro: Ewropa América fominino masculino ie familia familia duple sem familia (brf80) a bontn rapar repelente a a boni 95 aiade jum a ama mor mao retribuide eoberta de vestimentas| despojado de sua aps- transformagéo [roberta de vest apo de fun ape: cas a uma ajuda so- Brenatural Como Ash-Boy ¢ Cinderela, o trickster & pois, um me- diador, e esta fungio explica porque éle retém qualquer coisa da dualidade que fem por funcéo superar. Donde seu cardter ambiguo e equivoco, Mas d trickster nao oferece a fr mula possivel de mediagéo, Alguus mitos parecem inteira~ mente consagrados a esgotar tédas as modalidades possiveis da passagem da dualidade & unidade. Quando se comparam tédas as variantes do mito de emergéncia Zuni, chega-se a extrair uma série ordendvel de fungdes mediadoras, cada uma resul- tante da precedente, por oposi¢éo e correlagéo: messias > diéscuros > trickster > $i, par de r avd \ grupo de S 5. Fedo > neo > Ftemos 2 tide Na versio Cushing, esta dialética & acompanhada da pas- sagem de um meio espacial (mediagéo entre Céu e Terra) a um meio temporal (mediagio entre yerfo ¢ inverno, ou melhor, entre nascimento e morte). Todavia, ¢ se bem’ que a passagem se opere do espaco ao tempo, a férmula iiltimia (a triade) rein- ROL térmos de tempo estava, contudo, © messias implora, apds 0 que os didscuros descem do Céu. Vé-se pois que a construcéo logica do mito pressupde uma dupla permutagio de fungdes, retornaremos a éste ponto, depois que i m outro tipo de operagées. ‘Apés 0 car ristica dos séres m Temos em vista fazeja, ora mal- as variantes do vemos que & possivel ordend-las em fungio da seguinte estrutura (Masauwt : 2) = (Muyingwé : Masauwé) = (Shalako : Muyingwi) = (y : Masauw) 86, € no em relagdo com ausente (ver- sho 3), € assi lo por fungées que permane relativas, Na primeira versio, Masauwa (s6) & prest relagto aos versio 4 éle na versio 3, Pode-se reconstruir uma versées Keresani de um mito (Poshaiyanki : 2) = (Lea : Poshaiyanki) = (Poshaiyanki s ‘Tiamoni) = (y : Poshaiyanki) 262, ios: 0 das relagdes de subordinagio entre os galindceos € outros animais (pecking-order); e © dos sistemas de pa- rentesco, onde o denominamos de troca generalizada, Isolan- do-o agora num terceiro plano —o do pensamento mitico— podemos esperar estar em melhor .posigéo para discernir seu verdadeiro papel nos fendmenos sociais e para Ihe dar uma interpretago teérica de alcance mais geral. Enfim, se se chega a ordenar uma série completa de va- iantes sob a forma de um grupo de permutagées, pode-se ¢s- perar descobrir a Jei do grupo, No estado atual das pesquisas, deveremos nos contentar aquti com indicacées bastantes aproxi- mativas, Quaisquer que sejam as precisées e modificagdes ca- recidas pela formula abaixo, estamos desde logo convencidos que todo mito (considerado como o conjunto de suas varian- tes) redutivel a uma relagéo canénica do tipo: F, (0) Fy (b) = Fe (b) : Fas (9) uma relagéo de equivaléncia entre duas. situagées, respectivamente por uma inverséo de térmos © de relagées, sob duas condigées: 1° que um dos térmos seja substituido por seu contrério (na expresso acima: @ e @-1); 2° que uma inversio correlativa se produza en funcio € 0 valor de térmo de dois elementos (acit yea). ‘A formula acima adquirird todo seu sentido se nos Te- cordarmos que, para Freud, sio exigidos dois traumatismos (e no ay um, como se tem a tendén freqiientemente) para que nasca ésse consiste uma neurose. Tratando de ap lise désses traumatismos (dos quais se postulard que satisfagam respectivamente as condig6es 1 ¢ 2 acima enunciadas), chegar- se-d sem diivida a dar, da let genética ‘do mito, uma expres- sio mais precisa e rigorosa. Principalmente, estariamos habi- Titados a desenvolver paralelamente 0 estudo gociologico ¢ psi- colégico do pensamento mitico, tratando-o, talvez, até mesmo 209 como no laboratério, submetendo as hipdteses de trabalho 20 contréle experimental. E lamentével que as condigGes precdtias da pesquisa cien- tifica na Franga no permitam, no momento, o desenvolvimento do trabalho, Os textos miticos sio extremamente volumosos, Sua andlise em unidades constitutivas exige um trabalho de equipe e um pessoal técnico. Uma variante de dimensio média fornece algumas centenas de cartées. Para descobrir a melhor disposigio désses cartées em colunas ¢ em linhas, seriam ne- cessarios classificadores verticais de aproximadamente 2m x 1,50m, guarnecidos de compartimentos onde se padessem repartir e deslocar os cartées a vontade. E desde que nos pro- ponhamos elaborar modelos de trés dimensées, para comparar diversas variantes, so necessarios tantos tas variantes houver, bem como um espago suficiente para mo- ‘vé-los ¢ dispé-los livremente, Enfim, se o sistema de referéncia apela para mais do que trés dimensdes (0 que esté sujeito a acontecer rapidamente, como 0 mostramos na pag, 252) seré necessario recorrer aos cartées perfurados ¢ & mecanografia, Sem esperanga, to momento, até de obter 0s locai siveis para a constituiggo de uma dni nos-emos em apresentar trés so desta exposisdo. junas), Todo mito possui transparece na superficie, de repeticao. Contudo (e € 0 segundo ponto), as camadas nfo sio ja- mais rigorosamente idénticas. Se é verdade que 0 objeto do mito é fornecer um modélo légico para resolver uma contra digo (tarefa irrealizavel, quande a contradig’o é real), um é licito dizer, no e pelo proceso 264 miimero tebricamente infinito de camadas sera eriado, cada qual ligeiramente diferente da que a precedeu, O mito se desenvol- vera como em espiral, até que duziu seja esgotado, O cresei ‘em oposigio @ sua estrutura, qui co & um ser verbal que gat comparavel Aquele que ia, com eieito, n agregado culas e a prépria estrutura molecular ”@-0 pensamento cien- wwocando diferencas quali- to humano trabalha aqui ¢ © espirito se aplicava sempre aos mesmos objetos. ‘As paginas que precedem conduzem a uma outra concep: gio. A logica do pensamento mitico nos pareceu tio quanto aquela na qual Fepouss 0 pensamento px ha ‘bastante tempo, em sew d logos se aperceberam, a um machado de pe um machado de fer que ento se posta aplicar ciéncia por palco, de faculdades con longa histéria, continuamente 45 voltas com novos objetos. 265

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