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INTERDISCIPLINARIDADE: O PENSADO O VIVIDO –DE SUA NECESSIDADE ÀS

BARREIRAS ENFRENTADAS

Adriana Azevedo Paes de Barros


Doutoranda em Comunicação Social e Professora UMESP

“ Não existe nada mais prático do que uma boa teoria.”


Kurt Levin

INTRODUÇÃO

1 – A construção da interdisciplinaridade

Interdisciplinaridade ou interdisciplinariedade? Ainda que possa parecer


algo moderno ou pós-moderno, parece que a idéia é antiga, o termo é
relativamente novo, mas essa tentativa de superar uma visão
fragmentária dos objetos e dos acontecimentos, de construírem
conhecimento da totalidade das coisas e de permitir um intercâmbio
entre os diversos conhecimentos, é uma atitude um pouco antiga.
Em Aristóteles por exemplo, encontramos preocupações
“interdisciplinares” , quando este, sendo o pai da idéia de dividir as
ciências de acordo com os tipos de objetos – para objetos distinto,
ciências distintas, que teriam metodologia e linguagem diferentes –
percebeu o perigo que isso representava, criando visões parciais da
totalidade do mundo. Assim, para superar esses conhecimentos
fragmentários , propõe unificá-los numa totalidade explicativa que seria
realizada pela filosofia.
A discussão aberta por Aristóteles perpassou gerações de pensadores
e já no século XVIII assistimos ao surgimento do enciclopedismo, que
foi uma tentativa interdisciplinar de reter todas as informações sobre o
mundo e sobre o homem num único livro, mesmo que com vários
volumes. O objetivo era que qualquer indivíduo pudesse ter acesso ao
conhecimento até então acumulado.
O fato é que as tentativas e ações interdisciplinares não são recentes,
porém sua prática efetiva tem sido um desafio constante a nós
educadores que acreditamos ser vital à educação (principalmente nos
cursos de comunicação) a construção de um espírito investigatório em
nossos educandos, baseados no hábito do debate e da pesquisa
científica.
Desta forma, inserida neste contexto de inquietude este trabalho nasceu, não
apenas das reflexões sobre a interdisciplinaridade e suas possibilidades teóricas,
mas da prática, da vivência de uma experiência de dois anos (1997 e 1998),
envolvendo duas disciplinas teóricas: teoria da comunicação e teoria e método
de pesquisa em comunicação, que compunham a grade curricular do segundo
ano do curso de jornalismo na Faculdade de Comunicação Social do Instituto
Varzeagrandesse de Educação no estado de Mato Grosso.
Primeiramente, para esta apresentação, pretendo recuperar, os fundamentos
para a compreensão de uma prática docente interdisciplinar, visando elucidar
com maior profundidade conceitos como o de parceira, por exemplo, que se
constitui condição de sobrevivência da prática interdisciplinar e por
conseqüência do conhecimento educacional.
A segunda etapa do trabalho será a descrição de um projeto de pesquisa nuclear,
já mencionado, que certamente ilustrará as questões teóricas tratadas. Ressalto
que a compreensão de interdisciplinaridade que norteia este trabalho, não é a de
uma categoria do conhecimento, mas de ação e é sobre isso que estaremos
dialogando interdisciplinarmente.
Acredito portanto, que faz-se necessário rever os fundamentos que
constituem-se em uma reflexão indispensável no sentido de nos
capacitar e nos comover à interdisciplinaridade, conforme a experiente
educadora Ivani Catarina Arantes Fazenda, que muito tem contribuindo
nas reflexões sobre este tema, a interdisciplinaridade é ação:
“ atitude interdisciplinar, uma atitude frente a alternativas para
conhecer mais e melhor; atitude de espera frente aos atos não
consumados, atitude de reciprocidade que impele à troca, que
impele ao diálogo, ao diálogo com pares anônimos ou consigo
mesmo, atitude de humildade frente à limitação do próprio saber,
atitude de perplexidade frente à possibilidade de desvendar novos
saberes, atitude de desafio, frente ao novo, desafio em
redimensionar o velho, atitude de envolvimento e
comprometimento com os projetos e com as pessoas neles
envolvidas, atitude pois, de compromisso em construir sempre da
melhor forma possível, atitude de responsabilidade, mas sobretudo
de alegria, de revelação, de encontro, enfim, de vida.” 1
2 – Fundamentos da interdisciplinaridade

Portanto, partindo das reflexões colocadas por Fazenda, mesmo em


tempos que já se fala de transdisciplinaridade, multidisciplinaridade e
outros neologismos, opto pela velha interdisciplinaridade, por ser esta,
ainda uma barreira e uma limitação presente em nossa prática
pedagógica.
Assim, o primeiro fundamento que gostaria de recuperar neste trabalho,
tem relação com aquilo que Fazenda define de atitude interdisciplinar, é
a compreensão e vivência do movimento dialético, ou seja, rever o
velho para torná-lo novo, tornando novo o velho. O pressuposto é que o
velho sempre pode tornar-se novo e há sempre algo de velho no novo.
Velho e novo, faces da mesma moeda, depende apenas da visão de
quem lê, se o faz disciplinar ou interdisciplinarmente.
O que se deve destacar neste fundamento é a importância do exercício
do diálogo realizado com nossas próprias produções, objetivando
extrair destes diálogos novos conhecimentos, novas posturas, novos
indicadores, novas possibilidades de trabalho.

1
Fala da Professora Doutora Ivani Catarina Arantes Fazenda no Congresso Interdisciplinaridade/Educação-92, realizado
pelo Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso.
O exercício dialético, numa produção interdisciplinar é fundamental para
ensejar novos itens e proposições de sínteses que provocarão o
surgimento de tantas outras sínteses, numa constante dialética.
Para fazenda, outro fundamento importante para uma prática
interdisciplinar consistente é a parceria, que consiste numa tentativa de
incitar o diálogo com outras formas de conhecimento que não estamos
habituados, e nessa tentativa a possibilidade de interpenetração delas.
Nós educadores, somos e temos que ser parceiros, parceiros de outros
educadores que entendem a educação como um mecanismo de
melhoria da condição social dos educandos, parceiros dos teóricos que
lemos, parceiros de nossos alunos, de alguma forma estamos sempre
em parceria.
A parceria, seria então, conforme afirma Fazenda “ a possibilidade de
consolidação da intersubjetividade - a possibilidade de um pensar que
venha a se complementar no outro”.2
Creio que o sentido de um trabalho interdisciplinar está exatamente na
compreensão e na intencionalidade da efetivação de novas, melhores
e mais consistentes parcerias.
É portanto, correto e coerente afirmar neste momento que
interdisciplinaridade é fruto, muito mais, do encontro de indivíduos,
parceiros com idéias e disposição para o trabalho, do que de
disciplinas. Creio que a Frase de Danilo Gandin ilustra com precisão o
que afirmei sobre interdisciplinaridade até este ponto do trabalho, “ O
longo vôo das aves, desde o gelado Canadá ao calor do Brasil,
ultrapassa todas as dificuldades, porque as aves sabem o seu destino”,
têm um objetivo comum e sabem ser parceiras na longa jornada.
O último fundamento recuperado por Fazenda é o pressuposto de que
o conhecimento interdisciplinar busca a totalidade do conhecimento,
respeitando-se a especificidade das disciplinas, assim , o projeto, a
intencionalidade e o rigor tornam-se características fundamentais de

2
idem
uma forma de pensar e agir interdisciplinar, forma que infelizmente,
muitas vezes tem sido substituída pelo improviso e descompromisso.
Desta forma, um projeto interdisciplinar alicerça-se em pressupostos
epistemológicos e metodológicos que são sempre revisados.
Caracteriza-se pela ousadia da busca, da pesquisa, da transformação.

2 – Relato de experiência

Chamo de relato de experiência o tópico que reservei para


expor/descrever sobre a operacionalização, execução e resultados
obtidos no projeto desenvolvido no segundo ano do curso de jornalismo
da Faculdade de comunicação Social do Instituto Varzeagrandesse de
Educação.
O projeto foi concebido sob a ótica das disciplinas teoria da
comunicação e teoria e método de pesquisa em comunicação. Por ser o
curso de jornalismo anual, a execução do projeto foi, de certa forma
facilitada, pois o primeiro semestre foi exclusivamente teórico, tanto em
Pesquisa quanto em Teoria da Comunicação. Os pressupostos teóricos
e metodológicos para o desenvolvimento de um projeto de pesquisa
integrado foram sendo desenvolvidos durante todo o primeiro semestre
e a proposta prática surge ao final do primeiro período.
O objetivo maior do trabalho foi o de superar a dicotomia entre ensino e
pesquisa, visando transformar a sala de aula do curso de jornalismo
num local de pesquisa.
Para isso, no fim do primeiro semestre (tanto em 1997, quanto em
1998), de posse dos conteúdos e pressupostos trabalhados pela
disciplina de pesquisa e Teoria, os alunos delimitavam um tema de
pesquisa circunscrito ao campo da comunicação e a partir da
delimitação do tema, nós professores passamos a dedicar das duas
aulas que tínhamos por semana, uma aula para assessorias aos
grupos, que logo no início de segundo semestre letivo já iniciavam a
pesquisa bibliográfica referente ao tema escolhido.
O primeiro passo era a apresentação de um pequeno projeto de
pesquisa contendo o objeto da pesquisa, o objetivo, a metodologia, o
cronograma e a bibliografia selecionada. Tal projeto era a primeira
etapa da avaliação do trabalho final.
A partir da aprovação do projeto os alunos passavam a se dedicar a
pesquisa contando sempre com a possibilidade de trazer para sala de
aula as discussões referentes às temáticas que cada grupo estava
pesquisando.
Percebi no decorrer dos dois anos de desenvolvimento desse projeto,
que o segundo semestre letivo tinha um sabor diferente para os alunos,
a participação, a vibração, o entusiasmo em trazer as novidades de seu
tema de pesquisa para a sala de aula alimentavam diversos debates e
enriqueciam grandemente as discussões tanto em Teoria da
Comunicação quanto em Teoria e Método de Pesquisa em
Comunicação que mesmo nos momentos reservados para as aulas
expositivas e dialogadas sobre o conteúdo específico da disciplina,
eram permeadas por debates dos temas de pesquisa dos alunos.
A biblioteca da faculdade e das demais Instituições do Estado
passaram a ser visitadas com freqüência pelos alunos de jornalismo, os
temas das mais variadas áreas da comunicação ( programas infantis,
televisão e adolescente, televisão e criança, rádio para jovens,
jornalistas e ética no jornalismo, comunicação empresarial, jornal
feminino, jornal da noite, entre outros), passaram a fazer parte do
roteiro acadêmico dos alunos de tal forma que estes passaram a
buscar auxílio também com os demais professores do curso que não
estavam envolvidos no projeto.
Seria enganoso não reconhecer as falhas, pois foram com elas que
aprendemos a fazer melhor e com maior qualidade o nosso trabalho.
Por vezes, a falta de um planejamento claro ( dos professores e
alunos), entendendo planejamento enquanto o processo de explicar a
realidade existente tendo como rumo aquela desejada, impossibilitou
atingir melhores resultados pois, é o planejamento a inteligência que dá
eficácia ao processo.
Apenas para registrar, gostaria de destacar uma de nossas alegrias
enquanto professores e orientadores desses projetos integrados foi
assistir em Recife/98, a apresentação de um dos trabalhos, intitulado:
“A influência da TV na educação infantil” desenvolvido pelo aluno
Gastão Marques Filho, hoje formando de jornalismo, que apresentou os
seus resultados de sua pesquisa no XXI Congresso Brasileiro de
Ciências da Comunicação - INTERCOM, no Grupo de Trabalho:
Comunicação e Educação.
Outros trabalhos foram apresentados em eventos científicos locais e
regionais, trazendo grande satisfação e motivação para alunos,
professores e para a Instituição de Ensino por eles representada.
Ao final deste trabalho de dois anos, numa tentativa interdisciplinar, fica
claro que existe a possibilidade de construção coletiva de um novo
conhecimento, prático e teórico, fica também a certeza de que a
interdisciplinaridade não é uma categoria do conhecimento mas é ação,
ação que transforma e constrói o novo.
Hoje como professora na Universidade Metodista de São
Paulo/UMESP, nos cursos de Publicidade e Propaganda e Relações
Públicas da Faculdade de Comunicação e Cultura, vivo novos desafios
interdisciplinares que certamente serão compartilhados em novos
trabalhos acadêmicos, pois acredito ser a pesquisa interdisciplinar um
excelente objeto do conhecer pois conforme afirma o inesquecível
Paulo Freire:
“ Conhecer, na dimensão humana, (...) não é o ato através do qual um
sujeito, transformado em objeto, recebe, dócil e passivamente, os
conteúdos que outro lhe dá ou impõe.
O conhecimento, pelo contrário, exige uma presença curiosa do sujeito
em face do mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade.
Demanda uma busca constante. Implica em invenção e reinvenção.
Reclama a reflexão crítica de cada um sobre o ato mesmo de conhecer,
pelo qual se reconhece conhecendo e, ao reconhecer-se assim,
percebe o “como” de seu conhecer e os condicionamentos a que está
submetido seu ato.
Conhecer é tarefa de sujeitos, não de objetos. E é como sujeito e
somente enquanto sujeito, que o homem pode realmente conhecer.
Por isso mesmo é que, no processo de aprendizagem, só aprende
verdadeiramente aquele que se apropria do aprendido, transformando-o
em apreendido, com o que pode, por isso mesmo, reinventá-lo; aquele
que é capaz de aplicar o aprendido-apreendido a situações existenciais
concretas” (Freire.1977, P.27, 28).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREIRE, Paulo. Extensão e comunicação? Tradução de Rosisca Darcy de Oliveira. 9ª


edição, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
FAZENDA, Ivani C.A. Interdisciplinaridade – um projeto em parceria. São Paulo: Ed. Loyola,
1991.

FREITAS, Luís Carlos de. A questão da interdisciplinaridade: notas para a reformulação dos
cursos de pedagogia. São Paulo: Revista Educação e Sociedade, agosto de1996.

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