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2004
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
SUMÁRIO
Pág.
LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................................................... II
i
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto
LISTA DE FIGURAS
Pág.
ii
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 1
Essa definição, apresentada por Lillesand e Kiefer (1994), basta para que o leitor
tome consciência de que, no simples ato de ler este texto, ele está utilizando o Sensoriamento
Remoto (SR). Nesse caso, os olhos atuam como sistemas sensores capazes de responder à
luz refletida por esta página.
De certa forma, o SR pode ser entendido como um processo de leitura. Por meio de
vários sensores, dados são coletados remotamente, para que sejam analisados no intuito de
gerar informação acerca de objetos, áreas, ou fenômenos sob investigação.
Ainda que o registro da radiação possa ser feito de várias maneiras, esta apostila irá
discorrer sobre sistemas, cujos dados registrados são apresentados sob forma de imagens.
1.1 - A FERRAMENTA SR
Para que se possa fazer bom uso dos sistemas sensores, o planejador militar deve ser
capaz de responder às seguintes perguntas:
O SR teve seu crescimento lado a lado com a ciência da computação, a partir do final
dos anos 50. Isso se deveu a uma grande necessidade do programa espacial norte -americano
nesse sentido. O desenvolvimento conjunto dessas tecnologias fez com que o SR viesse a
englobar não apenas diferentes tipos de imagens e sensores, mas também, devido ao emprego
de técnicas de processamento de imagens digitais, propiciar a geração de uma gama de
produtos bem mais variada que a oferecida até então pelas técnicas e sensores fotográficos
tradicionais.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 3
Qualquer que seja a caracterização dada, é possível verificar que todos os sistemas
de SR podem apoiar, de alguma forma, as atividades de inteligência, sejam quais forem suas
aplicações primárias. A Tabela 1.1 apresenta, sinteticamente, os principais sistemas e
produtos de SR.
SISTEMAS PRODUTOS/APLICAÇÕES
Imageadores infravermelho de visada frontal (FLIR) Imageamento noturno para fins diversos
(navegação, Busca e Salvamento, Esclarecimento
Marítimo, designação de alvos)
Caso a radiação empregada pelo sistema se situe no infravermelho termal, tal sistema
independe de iluminação solar (vide “espectro emitido” em 2.1 - Fontes de Energia e
Princípios da Radiação). Entretanto, esse sistema ainda depende de transparência
atmosférica, pelas mesmas razões mencionadas para sistemas que operam no espectro
refletido.
Para fazer uso de um sistema de SR, o planejador deve estar apto a considerar os
fatores que contribuem para a definição do sistema ideal para cada tipo de aplicação. Da
mesma forma que, em função de uma série de parâmetros, um “Jeep” é um veículo mais
adequado à prática do chamado “off-road” do que uma limusine, e uma aeronave do tipo C -5
(“Galaxy”) é ideal para o transporte de grandes cargas, ao contrário de um F-5E (“Tiger II”),
por exemplo, os sistemas de SR têm sua maior ou menor aplicabilidade em determinadas
situações em função de alguns parâmetros do sensor, que serão abordados a seguir.
Quando se fala em resolução, qualquer que seja, é preciso ter em mente que, nesse
caso, os termos melhor resolução e pior resolução são conceitos relativos e, portanto, não
estão ligados a valores absolutos. Em outras palavras, se um sistema apresenta uma resolução
espacial de 30 m., enquanto um outro possui 20 m., significa dizer que este último possui uma
melhor resolução espacial do que aquele de 30 m.
Caso haja interesse em adotar os termos maior ou menor, deve-se ter o cuidado de
acrescentar o conceito de poder de resolução, a fim de se evitar uma inversão nos
parâmetros considerados. Assim sendo, o sistema que possui 20 m. de resolução espacial, no
exemplo acima citado, detém um maior poder de resolução espacial do que o de 30 m., e não
uma resolução espacial maior.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 6
A Figura 1.1 ilustra uma mesma cena imageada com três resoluções espaciais
diferentes. No caso, um “pixel” (“picture element” - menor elemento da imagem) é disposto
de maneira exagerada para exemplificar os diferentes graus de abragência, em função da
resolução espacial considerada.
Na Figura 1.2, por exemplo, uma mesma cena é apresentada em 256 níveis de cinza
(a) e em quatro níveis de cinza (b), variando do preto ao branco. A quantidade de detalhes
perceptíveis na primeira é claramente maior que na segunda. Portanto a cena “a” possui
melhor resolução radiométrica que a cena “b”.
(a) (b)
Na Figura 1.3a, por exemplo, uma cena foi fotografada com filme pancromático (de
0,4 µm. a 0,9 µm.), no qual, tanto a grama natural (fora do estádio), quanto a artificial (no
interior do estádio), apresentam tonalidades fotográficas similares. A Figura 1.3b, no entanto,
mostra a mesma cena fotografada com filme infravermelho preto e branco, atuando entre
0,7 µm. e 0,9 µm. Nesse caso, a grama natural possui uma tonalidade fotográfica bastante
clara (alta reflectância no infravermelho próximo), ao contrário da grama artificial, que possui
tonalidade bastante escura (baixa reflectância no infravermelho próximo).
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 9
A faixa espectral, por sua vez, é definida como a região do Espectro Eletromagnético
na qual um sistema sensor opera. Ela determina o domínio do sistema sensor utilizado, em
função da característica da radiação por ele empregada.
Trata-se de um parâmetro somente aplicável aos satélites de SR, uma vez que estes
possuem órbitas de períodos regulares como característica imposta pela Mecânica Orbital, ao
contrário das aeronaves, por exemplo.
os tipos de alvos, enquanto um sistema com resolução espacial relativamente limitada permite
a identificação apenas dos alvos de grandes dimensões.
Assim sendo, pode-se dizer que todos os sistemas imageadores podem ser usados
para o reconhecimento estratégico, mas apenas os que possuem poder de resolução espacial
elevado se prestam ao reconhecimento tático.
Usando uma abordagem semelhante, em geral se pode dizer que os alvos de valor
estratégico são imóveis e sujeitos a poucas alterações no decorrer do tempo (refinarias de
petróleo, fábricas de armamentos, aeródromos), enquanto os alvos de valor táticos podem ser
movidos (tropas, embarcações, aeronaves), ou modificados (defesas de um aeródromo,
pontes móveis) com relativa rapidez.
Dessa forma, qualquer que seja a resolução temporal do sistema, ele se prestará para
o reconhecimento estratégico, mas somente os sistemas de alta resolução temporal poderão
ser considerados para o reconhecimento tático. Os princípios abordados acima são
sintetizados e esquematizados na Figura 1.4.
EMPREGO ESTRATÉGICO
resolução espacial
baixa repetitividade
pobre
EMPREGO TÁTICO
2 RADIAÇÃO ÓPTICA
À medida que esses elétrons mudam seus níveis de energia, eles absorvem e/ou
emitem energia na forma de radiação eletromagnética. Os elétrons podem ser estimulados a
fazer transições por meio de energia interna, reações químicas, ou fontes externas de energia,
como campos eletromagnéticos, por exemplo. A intensidade e os comprimentos de onda da
radiação emitida dependem da natureza da estimulação.
A luz visível é apenas umas das muitas formas de radiação eletromagnética (REM).
Outras formas familiares são as ondas de rádio, raios-ultravioleta, raios-X e o calor. Todos
esses tipos de REM são similares e são irradiadas segundo a Teoria Ondulatória.
Conforme mostra a Figura 2.1, essa Teoria nos ensina que a REM se propaga
segundo uma senoidal harmônica e à velocidade da luz (c). A distância entre dois picos de
onda determina o comprimento de onda (λ ) da REM, enquanto o número de picos a passar
num determinado ponto fixo no espaço, por unidade de tempo, determina a freqüência (ν)
dessa mesma REM.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 13
campo
elétrico
λ = comprimento de onda (distância
E entre dois picos de onda sucessivos)
distância
campo
magnético M
c
velocidade da luz
c = νλ. (2.1)
UV B G R IVP
Visível
(1 mm) (1 m)
-6 -5 -4 -3 -2 -1 2 3 4 5 6 7 8 9
λλ (µµ m ) 10 10 10 10 10 10 1 10 10 10 10 10 10 10 10 10 λλ ( µµ m )
Uma vez que a velocidade da luz é constante no meio em que se desloca (3 x 108 m/s
, no vácuo), note-se, pela Equação 2.1 que, para qualquer que seja a REM considerada, a
freqüência e o comprimento de onda serão sempre inversamente proporcionais. Em SR, a
forma mais comum para se categorizar a REM, ao longo do Espectro Eletromagnético
(EEM - Figura 2.2), é através do comprimento de onda. Entretanto, a partir das microondas
(λ ≥ mm), o emprego da freqüência torna-se mais usual.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 14
Q = hν. (2.2)
onde:
hc
Q = . (2.3)
λ
função da maneira utilizada para perceber a REM, do que por quaisquer diferenças inerentes
às características dos diversos comprimentos de onda.
Pode-se notar, ainda na Figura 2.2, que o EEM estende-se num contínuo
caracterizado por mudanças de magnitudes 1 da ordem de várias potências de 10. Assim
sendo, o uso de representações logarítmicas em gráficos é bastante comum.
Dessa forma, tendo uma amplitude de apenas 0,3 µm, a porção relativa ao Espectro
Visível2, nele representada, é extremamente pequena e é dividida, uma vez mais por
conveniência, em três faixas, que são as cores primárias. A cor azul ocorre entre 0,4 e
0,5 µm, a verde entre 0,5 e 0,6 µm e a vermelha entre 0,6 e 0,7 µm.
Essa restrição provoca dois grandes problemas quando grandezas fotométricas são
utilizadas para descrever dispositivos eletro-ópticos. Primeiro, o conceito de “observador
padrão” traz consigo incertezas na quantificação das medidas. Segundo, vários dispositivos
eletro-ópticos atuam numa faixa mais abrangente que aquela utilizada pelo olho humano. Não
faz sentido, por exemplo, caracterizar um sensor infravermelho, utilizando-se grandezas
fotométricas.
Energia Radiante
3 - Uma definição bastante simplificada para o termo eletro -óptica é “o estudo dos efeitos de campos
elétricos em fenômenos ópticos”.
4 - Esses símbolos e unidades já eram utilizados anteriormente à adoção do SI e aparecem na maioria dos
trabalhos científicos da área de SR.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 17
Fluxo Radiante
δQ
Φ= (W ) (2.4)
δt
Densidade Radiante
A densidade radia nte nada mais é do que a concentração de energia por unidade de
volume (derivada parcial da energia radiante - Q - em função do volume - V). É caracterizada
pelo símbolo w e é dada em joules por metro cúbico (J/m3 ).
δQ
w= ( J m3 ) (2.5)
δV
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 18
Energia Radiante Q joule (J); erg (erg); e Energia transmitida em forma de ondas
kilowatt-hora (kWh) eletromagnéticas.
Ângulo Sólido
Uma superfície com área “∆ A”, situada a uma distância “r” de uma fonte pontual,
define com esta uma direção e um ângulo sólido, caracterizado pela letra Ω . Sua unidade é o
esferorradiano 5 ou esterradiano (sr).
δA A 4π r 2
1 sr = δ Ω (unidade) = ⇒ Ω ( esfera ) = = = 4 π ( sr ) (2.6)
r2 r2 r2
δA r
FONTE
δΩ
ESFERA
Intensidade Radiante
É o fluxo por unidade de ângulo sólido irradiado numa certa direção a partir de uma
fonte pontual. É caracterizada pelo símbolo I e é dada em watts por esferorradiano (W/sr). A
Figura 2.4a ilustra uma fonte pontual irradiando energia num ângulo sólido.
5 - Grandeza correspondente ao ângulo sólido que, projetado em uma superfície esférica, cujo centro
1
encontra-se no vértice desse ângulo, forma uma área igual ao quadrado do raio, ou seja, da área total
4π
da esfera. Em outras palavras, como a área da esfera é dada por A = 4πr2, conclui-se que esta possui 4πr2/r2
esferorradianos, ou seja, 4π esferorradianos (vide Equação 2.6).
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 21
δΦ δ2Q
I= = (W sr) (2.7)
δΩ δtδΩ
δΦ δ2Q
M, E = = (W m 2 ) (2.8)
δ A δ tδ A
Radiância
É o fluxo radiante numa certa direção, a partir de uma superfície normalizada com
respeito à área da superfície e unidade de ângulo sólido. Para um ângulo de visada normal à
superfície emissora, conforme mostrado na Figura 2.4d, a radiância, caracterizada pelo
símbolo L, é dada por:
δI δ2Q δ 3Q
L= = = (W m 2 ⋅ sr) (2.9)
δ A δ Ωδ A δ t δ Ωδ A
Para direções outras que não a normal à superfície, vale ressaltar o fato de que a
superfície aparente é proporcional ao cos θ e inversamente proporcional a θ , onde θ é o
ângulo formado entre a normal à superfície e a linha de visada, que estabelece a superfície
aparente (Figura 2.4e).
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 22
Fonte pontual
Φ (W) Ângulo sólido
δΩ (sr)
Área da superfície δA (m2)
(a) (b)
δΦ δΦ
E= (W m 2 ) L=
δA δ A δΩ
Ângulo sólido (W/m 2 - sr)
δΩ (sr)
(c) (d)
δ S = δ A cos θ δS
θ
Linha de visada
(e)
Lei do Cosseno
Para a energia radiante emitida por uma superfície plana, a intensidade radiante I
(W/sr) varia com o cosseno do ângulo entre a linha de visada e a superfície normal.
Superfícies para as quais essa relação é válida são chamadas de superfícies lambertianas (ou
difusas). Considerando-se a geometria apresentada na Figura 2.5a, a intensidade radiante é
plotada no gráfico em 2.5b. Definindo-se Iθ como a intensidade radiante para o ângulo θ, e
In como a intensidade radiante normal à superfície, a Lei do Cosseno de Lambert é dada por:
I θ = I n cosθ (W sr ) (2.10)
δI I I cos θ
Lθ = = θ = n = L (W m 2 ⋅ sr) (2.11)
δ A δ S δ A cos θ
Normal
Direção de visada
θ Iθ , L θ
(a)
In
Iθ = In cos θ (W/sr)
−π 0 π θ
2 2
(b)
δI I I
Lθ = = θ = n = Ln = L (independente de θ)
δA δS δA
δS = δA cos θ
θ
Área da superfície δA (m )
2
(c)
Fig. 2.5 - Lei do Cosseno de Lambert para uma superfície difusa. (a)
Superfície lambertiana. (b) Intensidade radiante a partir de uma
superfície lambertiana. (c) Radiância a partir de uma superfície
lambertiana.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 25
I θ = I n cosθ (W sr )
π2 2π
Φ = ∫0 dθ ∫0 d Φ I n cos θ sen θ
In Φ M
L= = = (W m 2 ⋅ sr)
dA π dA π
Esse resultado provê relações simplificadas entre radiância (L), fluxo radiante (Φ ),
exitância radiante (M) e intensidade radiante (I), para uma dada fonte lambertiana.
r sen θ
θ rd θ
Superfície radiante Iθ
dA
area = r sen θ d θ dφ
2
dθ
dφ r sen θ dφ
A energia radiante incidente sobre a superfície de dado material pode ser absorvida,
refletida, ou transmitida através do material. O Princípio de Conservação de Energia requer
que a soma das energias absorvida, refletida e transmitida seja igual à energia incidente.
Entretanto, como resultado da energia absorvida pelo material, há um incremento no estado
energético interno desse material. Uma vez que, em equilíbrio, qualquer material possui uma
energia interna constante, conclui-se que deve haver outro mecanismo pelo qual parte da
energia é perdida pelo material na mesma razão em que é absorvida.
A Seção 2.4 mostra que todos os materiais emitem energia, por causa de seus
estados internos de energia. Da Figura 2.7, podem ser extraídas as seguintes relações:
Refletida
Incidente
Absorvida
Emitida
Transmitida
Absortância
Qabsorvida
α= (adimencional) (2.14)
Qincidente
Reflectância
Qrefletida
ρ= (adimencional) (2.15)
Qincidente
Transmitância
Qtransmitida
τ= (adimencional) (2.16)
Qincidente
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 28
Emissividade
A emissividade é definida como a razão entre a energia radiante emitida pelo material
considerado e a energia radiante emitida por um corpo negro6 à mesma temperatura.
QCR
ε= (adimencional) (2.17)
QCN
Assim sendo, para qualquer material que seja considerado um radiador térmico,
temos:
α + ρ + τ =1 α =ε (2.18)
que grandezas radiométricas espectrais podem ser expressas em termos de fluxo de fótons
(fótons/s). Essa alternativa para grandezas radiométricas é útil na avaliação de sistemas eletro-
6 - Corpo negro é a expressão utilizada para definir um radiador hipotético ideal que absorve e reemite
completamente toda a energia nele incidente. Objetos reais apenas se aproximam deste ideal teórico.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 29
ópticos, nos quais efeitos quânticos são importantes. Por exemplo, vários tipos de ruído em
detectores quânticos são descritos em termos de fluxo de fótons. Uma prática comum para se
distinguir representações de fluxo de fótons de grandezas radiométricas é a utilização de um
“e” subscrito em cada um dos símbolos previamente definidos.
1. Discreto;
2. Banda estreita;
3. Banda larga.
Esses três tipos são ilustrados graficamente na Figura 2.8, que mostra o fluxo radiante
em função do comprimento de onda.
Fontes de banda estreita, como os LED (“Light-Emitting Diodes”), têm a maior parte
de sua energia radiante confinada a uma faixa relativamente curta de comprimentos de onda
(vide Figura 2.8b). A distribuição é considerada como sendo tipicamente contínua ao longo
da faixa, em contraste aos comprimentos de onda individuais de uma fonte discreta.
Fontes de banda larga (vide Figura 2.8c) incluem essencialmente todas as outras
fontes de radiação óptica. Uma subclasse de fonte de banda larga, o radiador de corpo
negro, será examinado em detalhes a seguir. Ele irradia em todos os comprimentos de onda,
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 30
de zero a infinito, com uma distribuição particular que é função do comprimento de onda e
tem um formato fixo para uma dada temperatura de fonte.
Φ (λ)
λ1 λ2
λ
(a)
Φ (λ)
λ
(b)
Φ (λ)
λ
(c)
O Sol é a mais óbvia fonte de energia para SR. Entretanto, toda matéria, cuja
temperatura exceda o Zero Absoluto (0 K, ou -273° C), emite radiação continuamente.
Assim sendo, todos os objetos dispostos na superfície terrestre são também fonte de
radiação, embora de magnitude e composição espectral consideravelmente distintas da
radiação solar.
Pode-se definir um absorvedor perfeito como sendo aquele que absorve toda a
radiação incidente sobre ele. Esse objeto será, obrigatoriamente, um emissor perfeito. Um
corpo com essas características é chamado de corpo negro e possui emissividade e
absortância igual a 1 em todos os comprimentos de onda, de zero a infinito. Um absorvedor-
emissor não tão perfeito, mas que possua uma absortância -emissividade constante e menor
que a unidade em todos os comprimentos de onda é chamado de corpo cinza.
Uma definição mais formal do radiador de corpo negro é “um radiador hipotético
(emissividade = absortância = 1; reflectância = transmitância = 0) que emite isotropica e
aleatoriamente energia radiante numa distribuição contínua de comprimentos de onda que
varia de zero a infinito. A exitância radiante, função da temperatura e do comprimento de
onda, é dada pela Lei de Distribuição de Planck”.
Lei de Planck
Detalhes dessa teoria podem ser encontrados em diversos textos de Física Moderna. A
precisão dessa lei de radiação foi verificada experimentalmente e é dada por:
c1 1
M λ (T ) = 5 c λT (W m2 − µ m) (2.19)
λ e − 1
2
onde:
2c 2 h 1
L λ (T ) = 5 c λT (W m 2 ⋅ µ m ⋅ sr ) (2.20)
λ e − 1 2
λT λT
Se e c 2 for maior do que 100, então o termo 1 ( ec 2
) é aproximado, numa
c1 − c λT
M λ (T ) ≈ e 2
(W m2 ⋅ µ m) (2.21)
λ5
0,31 cm⋅K. Em outras palavras, para uma dada temperatura T, a Lei de Wien pode ser usada
para representar, com precisão, a exitância radiante espectral para comprimentos de onda
variando de 0 a 3100 µm.
A Figura 2.9 mostra uma série de curvas de distribuição de corpos negros em várias
temperaturas. Essas curvas mostram que, à medida que a temperatura aumenta, há um desvio
na direção daquelas cur vas com menor comprimento de onda situado no pico de distribuição
da radiação do corpo negro, que determina o comprimento de onda dominante. Esse
comprimento de onda, no qual uma curva de radiação de corpo negro atinge o seu máximo de
emissão, está relacionado à sua temperatura através da Lei de Deslocamento de Wien, que
estabelece o seguinte:
c3
λ m = . (2.22)
T
onde:
O Sol emite radiação da mesma forma que um corpo negro cuja temperatura é de
cerca de 6.000 K (Figura 2.9). Muitas lâmpadas incandescentes emitem radiação similar à de
um corpo negro à temperatura de 3.000 K. Conseqüentemente, elas apresentam baixa
emissão de radiação azul e não possuem a mesma constituição espectral da luz solar.
fotografias resultantes do processo terão uma coloração amarelada. A solução para tal é a
utilização de um “flash” com alta emissão de radiação azul, a fim de compensar o efeito
indesejado. Uma outra solução aplicável é a adoção de filmes balanceados especialmente
para ambientes fechados, com iluminação artificial.
O Sol possui um pico de energia bem superior ao da Terra. Esse pico ocorre a
aproximadamente 0,5 µm e o olho humano, da mesma forma que os filmes fotográficos, são
sensíveis a essa radiação. Portanto, somente podemos observar objetos na superfície
terrestre em virtude da radiação solar nelas refletida, obviamente quando há iluminação solar.
Por essa razão, nunca é demais repetir, comprimentos de onda maiores emitidos por
objetos na superfície terrestre só podem ser observados por sistemas de SR não-fotográficos.
A “linha divisória” entre o infravermelho refletido e o emitido localiza-se em torno de 3 µm.
Abaixo desse comprimento de onda, predomina a radiação refletida, enquanto acima dele,
prevalece a radiação emitida.
Determinados sistemas sensores, como os radares, trazem consigo sua própria fonte
de energia para “iluminar” os alvos de interesse. São denominados sistemas ativos, em
contraste com os sistemas passivos, descritos anteriormente, que detectam a energia
naturalmente disponível.
Lei de Rayleigh-Jeans
c1 T 2π ckT
M λ ( T) = = (W m 2 ⋅ µ m ) (2.23)
c2 λ 4
λ4
A maior dificuldade com a Equação 2.23 é que ela se torna insolúvel à medida que λ
tende a zero. Uma análise mais detalhada mostra que essa Equação é derivável como um caso
limite da Lei de Planck. A partir da Equação 2.19, ao se expandir o termo exponencial do
denominador, obtém-se o seguinte:
−1
c c 1 c 2
M λ (T ) = 15 2 + 2 + ⋅⋅⋅ + ⋅⋅⋅ (2.24)
λ λ T 2 ! λ T
−1
c c c1 T
M λ (T ) ≈ 15 2 = (2.25)
λ λ T c2 λ 4
máxima de 1%, a inequabilidade começa com λ T maior que 7,2 × 105 (µm⋅K).
Lei de Stefan-Boltzmann
M = σ T4 . (2.26)
onde:
Sempre que a energia total emitida por um objeto varia em função de mudanças na
sua temperatura, a distribuição espectral da energia emitida por esse objeto também irá variar.
Na Figura 2.9, que mostra curvas de distribuição de corpos negros com temperaturas
variando entre 200 e 6.000 K, as unidades no eixo das ordenadas (W⋅m-2 ⋅µm-1 ) expressam a
potência radiante emitida por um corpo negro, em intervalos espectrais de 1 µm.
A área sob cada uma das curvas de distribuição, portanto, é equivalente à exitância
total (M). Dessa forma, as curvas ilustram graficamente aquilo que a Lei de Stefan-Boltzmann
expressa matematicamente: quanto maior a temperatura do radiador, maior quantidade de
radiação ele emite.
Os LED são semi-condutores que emitem radiação óptica, quando são induzidos por
corrente elétrica. A radiação óptica é de faixa estreita (normalmente alguns décimos de
mícrons) e a largura de faixa se modifica em função da magnitude da corrente. O domínio de
comprimentos de onda depende primariamente do material semi-condutor.
Antes do desenvolvimento do laser, fontes ópticas coerentes eram obtidas por meio
de filtragens de fontes seletivas espectralmente. Filtros ópticos passivos com largura de faixa
relativamente estreita já estavam disponíveis então.
Quando a REM incide sobre qualquer superfície, pode interagir com esta de três
modos: refletindo-se na superfície, sendo absorvida pela superfície e transmitindo-se através
da superfície. Tais interações podem ocorrer simultaneamente como ilustra a Figura 3.1.
Aplicando-se o princípio da conservação de energia, pode-se estabelecer a relação entre
essas três interações como sendo:
onde Qi representa a ene rgia total incidente, Qr a energia refletida, Qa a energia absorvida e Qt
a energia transmitida, todos os componentes sendo função do comprimento de onda.
No que concerne a essa relação, dois pontos devem ser notados. Em primeiro lugar,
as proporções de energia refletida, absorvida e transmitida irão variar para diferentes objetos,
dependendo do tipo e das condições do material de que são compostos. São essas variações
que permitem distinguir diferentes feições numa imagem.
podem ser indistiguíveis numa determinada faixa espectral e serem completamente diferentes
noutra faixa.
No Espectro Visível, tais variações espectrais resultam no efeito visual chamado cor.
Por exemplo, chamamos de azuis objetos que possuem alta reflexão na porção azul do
espectro. O mesmo ocorre com o verde e assim sucessivamente. Portanto, o olho humano
utiliza variações espectrais, na magnitude da energia refletida, para discriminar os vários
objetos.
ou seja, para um dado objeto, a energia refletida é igual à energia incidente, reduzida das
energias absorvida e transmitida por aquele objeto.
A maneira como um objeto reflete energia é um fator importante que deve ser levado
em consideração. Esse fator é função primária da rugosidade8 superficial do objeto.
A maioria das superfícies presentes na Terra, entretanto, não são nem perfeitamente
especulares, nem perfeitamente difusas. Suas características se encontram, via de regra, numa
posição intermediária àqueles dois extremos.
A Figura 3.3 ilustra curvas de reflectância espectral típicas para as três feições básicas
encontradas na superfície terrestre: vegetação verde sadia, solo exposto seco e água lacustre
limpa. As linhas apresentadas no gráfico da Figura 3.3 constituem a média da medição de
várias amostras e são representativas das três classes consideradas. Embora a reflectância das
feições, individualmente, varie bastante em torno da média, essas curvas denotam alguns
pontos fundamentais no que diz respeito à reflectância espectral.
Por exemplo, curvas de reflectância espectral de vegetação verde sadia quase sempre
manifestam a configuração de “vales” e “picos” ilustrada na Figura 3.3. Os vales no visível
decorrem dos pigmentos das folhas. A clorofila, por exemplo, aborve fortemente nos
comprimentos de onda de 0,45 e 0,67 µm. Dessa forma, o olho humano percebe a vegetação
sadia como sendo de cor verde, por causa da alta absorção de radiação azul e vermelho,
aliada à forte reflexão da radiação verde pelas folhas.
Reflectância (%)
A reflectância das plantas na faixa entre 0,7 e 1,3 µm resulta basicamente da estrutura
interna das folhas. Pelo fato dessa estrutura sofrer grandes variações de espécie para espécie,
medições de reflectância nessa faixa possibilitam a discriminação entre diferentes espécies
vegetais, mesmo que pareçam iguais no visível. Do mesmo modo, várias formas de estresse
afetam as plantas nessa faixa espectral e sistemas sensores podem ser utilizados para a
detecção desses fenômenos.
relacionada de forma inversa ao total de água nela contido. Esse total de água, por sua vez, é
função tanto do conteúdo de umidade quanto da espessura da folha.
Outros fatores que reduzem a reflectância do solo são a sua rugosidade, seu conteúdo
de matéria orgânica e a presença de óxido de ferro (especialmente no visível). Em qualquer
um dos casos, é fundamental que o analista tenha um bom conhecimento das condições
vigentes.
A água limpa absorve relativamente pouca energia abaixo de 0,6 µm. A característica
marcante desses comprimentos de onda está na alta transmitância, cujo máximo ocorre nos
comprimentos concernentes ao azul e ao verde. A presença de matéria em suspensão na água
determina a sua turbidez, e a variação desta altera drasticamente a transmitância e,
conseqüentemente, a reflectância.
importante o entendimento acerca da natureza da área sob observação, não somente para
reduzir os efeitos indesejáveis da variabilidade espectral, mas também para realçar essa
variabilidade, quando aplicações particulares a requerem.
Até aqui, foram tratadas algumas características de objetos que, por si só, influenciam
seus padrões de resposta espectral. Efeitos temporais e efeitos espaciais também devem
ser considerados em qualquer análise a ser conduzida. Os efeitos temporais são quaisquer
fatores que mudem as características espectrais de um objeto ou feição ao longo do tempo.
As características espectrais de muitas espécies vegetais, por exemplo, estão num estado
quase contínuo de mudanças durante a estação de crescimento. Essas mudanças
freqüentemente influenciam a coleta de dados de um sistema sensor para uma aplicação
particular.
Os efeitos espaciais, por sua vez, referem-se a fatores que causam, em tipos iguais de
objetos ou feições (culturas agrícolas, por exemplo) e ao mesmo tempo, o aparecimento de
diferentes características em diferentes localizações geográficas. Análises conduzidas em
imageamentos de pequenas áreas podem reduzir os efeitos espaciais. No entanto, quando são
analisadas imagens de satélite, as localizações geográficas podem distar dezenas de
quilômetros umas das outras, onde condições bastante distintas de solo, clima e práticas de
cultivo podem existir. Tal distanciamento pode provocar enormes diferenças nos resultados
daquelas análises.
Um exemplo de efeito espacial bastante útil está na mudança morfológica das plantas
quando essas estão submetidas a alguma forma de estresse. Quando parte de uma cultura de
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 48
razoável extensão está infectada por alguma doença que provoque modificação na estrutura
original de suas folhas, haverá uma sensível mudança no padrão de resposta espectral da
porção infectada em relação à cultura como um todo. Nesse caso, o efeito espacial pode ser
justamente o ponto mais importante para uma dada aplicação em particular.
Além das influências causadas pelas características espectrais e pelos efeitos temporal
e espacial, os padrões de resposta espectral também são afetados pela atmosfera. A energia
gravada por qualquer sistema sensor é sempre modificada de alguma forma pela atmosfera
presente entre o alvo e o sistema sensor. Naturalmente, a significância desse efeito varia de
sensor para sensor. Neste trabalho, será dado um tratamento genérico que proporcione ao
leitor um entendimento da natureza dos efeitos atmosféricos.
A Figura 3.4 ilustra a situação típica encontrada quando um sistema sensor grava a
energia solar refletida por um alvo na superfície. A atmosfera afeta o brilho (radiância) de
qualquer alvo disposto na superfície de duas maneiras paradoxais. Primeiro, ela atenua a
energia que “ilumina” a superfície, e que será refletida, em seguida, pelos objetos. Em
seguida, a atmosfera atua como um refletor, adicionando uma radiância extra na trajetória que
leva ao sensor, provocada por efeito de espalhamento (vide 4.1).
ρ Eτ
L tot = + Lt . (3.3)
π
onde:
ρ = reflectância do objeto
τ = transmitância atmosférica
L t = radiância do trajeto a partir da atmosfera (e não do objeto)
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 49
sensor
Note-se que todos os fatores acima dependem do comprimento de onda. Além disso,
conforme mostra a Figura 3.4, a irradiância (E) é proveniente de duas fontes: (1) luz solar
diretamente refletida e (2) luminosidade do céu, que nada mais é que a luz solar previamente
espalhada pela atmosfera. O relativo domínio da luz solar sobre a luminosidade em qualquer
imagem é fortemente dependente das condições meteorológicas. Da mesma forma, a
irradiância varia com as mudanças sazonais no ângulo de elevação e com a variação de
distância entre a Terra e o Sol.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 50
Deve-se ter em mente que, devido à natureza variada dos efeitos atmosféricos, esse
assunto deve ser tratado segundo uma abordagem caso a caso, conforme o sistema sensor
considerado. Neste trabalho, será introduzida a noção de que a atmosfera pode ter um efeito
profundo sobre a intensidade e a composição espectral da REM, entre outras coisas. Esses
efeitos são causados principalmente pelos mecanismos atmosféricos conhecidos como
espalhamento e absorção.
4.1 - ESPALHAMENTO
4.2 - ABSORÇÃO
Visível
Energia
Energia da Terra (300 K)
IV
UV
Comprimento de Onda
(a) Fontes de Energia
Transmissão
Energia
Bloqueada
Visível
IV
UV
(b) Transmitância Comprimento de Onda
Atmosférica
Fig. 4.1 - Características espectrais de (a) fontes de energia e (b) efei- tos
atmosféricos. (Note-se que a escala é logarítmica.)
FONTE: Adaptada de Lillesand e Kiefer (1994), p. 11.
Ao se processar uma fotografia, uma gravação dos sinais por ela detectados é obtida.
Assim sendo, o filme age, a um só tempo, como meio de detecção e de gravação. Os sinais
de sensores eletrônicos, por outro lado, são geralmente gravados em fitas magnéticas.
Conseqüentemente, os sinais podem ser convertidos no formato de uma imagem
fotografando-se a tela de um monitor, ou utilizando-se um gravador de filmes específico para
esse tipo de tarefa. Nesses casos, o filme fotográfico é utilizado apenas como meio de
gravação, e não mais de detecção.
de detecção original da imagem considerada. Como o termo imagem diz respeito a qualquer
produto pictorial, todas as fotografias são imagens. Nem todas as imagens, entretanto, são
fotografias.
Na Figura 5.1 (a), é mostrado um total de 320 linhas e 480 colunas de pixels.
Enquanto é impossível a distinção individual dos pixels nessa Figura, as ampliações mostradas
na Figura 5.1 (b) e (c) apresentam pixels prontamente notáveis. Essas ampliações
correspondem a áreas menores, vizinhas ao ponto “X” destacado na imagem (a). Em (b), a
ampliação possui 19 linhas por 27 colunas, enquanto a ampliação apresentada em (c) é de 10
linhas por 15 colunas. Em (d), são apresentados os números digitais individuais
correspondentes à radiância média registrada em cada pixel mostrado em (c).
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 56
54 40 31 27 27 28 39 51 52 50 45 25 24 24 23
55 37 37 35 31 27 26 35 58 66 38 13 17 21 19
56 40 39 45 39 32 27 26 36 52 50 28 14 13 14
52 39 33 42 49 48 36 31 26 33 51 51 31 16 16
42 34 24 30 60 67 49 33 27 28 31 47 51 35 24
26 29 26 44 76 76 49 37 33 30 29 29 44 52 44
14 31 36 50 85 70 36 37 38 30 25 29 28 40 52
20 31 39 51 72 56 35 35 37 35 31 27 29 31 36
21 26 36 46 58 49 37 35 36 37 34 33 26 29 30
(d) 21 20 29 43 54 53 40 31 30 32 30 29 24 22 27
SAÍDA
(série de valores)
ENTRADA
(sinal contínuo)
tempo
valor discreto de
amostragem intervalo de
curva analógica contínua
Os níveis de cinza que formam uma imagem digital são gravados em intervalos
numéricos que podem variar de 0 a 63, 0 a 127, 0 a 255, 0 a 511, ou de 0 a 1023. Esses
intervalos representam os conjuntos de inteiros que podem ser gravados, utilizando-se
códigos binários de 6, 7, 8, 9, ou 10 bits, respectivamente. Em tais formatos, os dados
contidos nas imagens podem ser rapidamente analisados com a ajuda de um computador.
Esses dados podem ter variadas formas e podem derivar de diferentes fontes. Por
exemplo, os dados necessários para uma análise em particular podem ser oriundos de um
mapa de solos, um relatório laboratorial sobre a qualidade de determinada água, ou de uma
fotografia aérea. Também podem ser provenientes de um trabalho de campo sobre a
identidade, extensão, e condição de culturas vegetais, uso da terra, inventário florestal ou
poluição aquática.
Dados de referência são usualmente denominados verdade terrestre. Esse termo não
tem significado literal, uma vez que várias formas de dados de referência não são coletados na
superfície e podem, no máximo, se aproximar das condições reais da superfície. Por exemplo,
a verdade terrestre pode ser coletada no ar, sob a forma de fotografias aéreas detalhadas e
utilizadas como dados de referência em relação a imagens de resolução espacial mais pobre,
como fotografias aéreas de grande altitude ou imagens de satélite.
Dados de referência podem ser utilizados para um ou até mesmo todos os seguintes
propósitos:
2. Calibrar um sensor; e
Para que assim seja, dados de referência devem ser coletados em concordância com
os princípios estatísticos de amostragem.
Após terem sido introduzidos alguns conceitos básicos, o leitor tem, à sua disposição,
os elementos necessários para formular um sistema ideal de SR. Fazendo isso, o estudioso de
SR estará apto a apreciar alguns dos problemas encontrados no projeto e na aplicação de
vários sistemas reais de SR com que virá a se deparar no futuro. Entender a utopia de um
sistema ideal é, portanto, um exercício da maior importância.
1. Uma fonte de energia uniforme. Essa fonte poderia prover energia em todos os
comprimentos de onda, em grande quantidade, de forma constante e conhecida,
independentemente de tempo e lugar.
2. Uma atmosfera transparente. Seria uma atmosfera que não provocaria mudanças de
qualquer ordem na energia proveniente da fonte, estivesse essa energia a caminho da
superfície terrestre, ou partindo dela. Novamente, seria independente de comprimento
de onda, tempo, lugar e da altitude de aquisição envolvida.
6. Múltiplos usuários dos dados. Essas pessoas teriam uma bagagem de conhecimentos
de grande profundidade, tanto em suas respectivas disciplinas, quanto nas técnicas de
aquisição e análise de dados de SR. O mesmo conjunto de dados se converteria em
informação para diferentes usuários, dada a grande capacidade de conhecimento destes
acerca dos recursos sob investigação. Tal informação estaria disponível a esses
usuários de maneira mais rápida, mais barata, e sobre áreas maiores do que as
informações disponíveis em qualquer outro formato. De posse da informação, os vários
usuários estariam aptos a estabelecer e implementar decisões corretas e de longo
alcance sobre como gerenciar os alvos sob investigação.
Infelizmente, um sistema ideal de SR, da forma como foi descrito acima, não existe.
Os sistemas reais de SR estão bem distantes do ideal em todos os pontos apresentados.
λ λ
(5) Sistema de
processamento de dados em
(2) resposta única
Atmosfera para cada
transparente feição
4. O sensor. A esta altura, não constitui qualquer surpresa a afirmação de que um super-
sensor simplesmente não existe. Nenhum sensor isolado é sensível a todos os
comprimentos de onda. Todos os sensores reais possuem limites fixos de sensibilidade
espectral. Eles também possuem um limite de quão pequeno um objeto na superfície
pode ser percebido individualmente. Esse limite, denominado resolução espacial de
um sensor, é uma indicação de seu nível de capacidade em registrar detalhes de
natureza espacial.
A escolha de um sensor, para qualquer tarefa, sempre envolve compromissos. Por
exemplo, sistemas fotográficos possuem, em geral, ótimas características de resolução
espacial, mas carecem de maior sensibilidade (abrangência) espectral, possível com
sistemas não-fotográficos que, por sua vez, apresentam fracas características de
resolução espacial. De maneira similar, muitos sistemas não-fotográficos (e alguns
sistemas fotográficos) são bastante complexos óptica, mecânica e/ou eletronicamente
falando.
Eles podem ter, ainda, restrições quanto a potência, espaço físico e requisitos de
estabilidade. Tais requisitos freqüentemente ditam o tipo de plataforma, ou de veículo, a
partir do qual um sensor pode ser operado. As plataformas podem variar desde uma
simples escada até uma estação espacial. Dependendo da combinação
sensor/plataforma necessária a uma dada aplicação, a aquisição de dados de SR
podem ser um esforço extremamente caro.
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 64
6. Os múltiplos usuários dos dados. As pessoas que utilizam os dados gerados por
qualquer sistema de SR são essenciais à aplicação bem-sucedida desse sistema. Os
dados gerados por procedimentos de SR somente se tornam informação se e quando
alguém possui um bom entendimento acerca de sua geração, interpretação e melhor
forma de utilização. Um entendimento detalhado do problema a ser solucionado é
mister para a aplicação produtiva de qualquer método de SR. Além disso, não há
combinação simples de procedimentos de aquisição e análise de dados que satisfaça as
necessidades de todos os usuários desses dados.
Considerando que a interpretação de fotografias aéreas têm sido utilizadas como
uma prática fonte de informações há cerca de um século, as outras formas de SR são
meios para adquirir informação relativamente novos, técnicos e fora do convencional.
Essas fontes mais novas de SR têm satisfeito muito poucos usuários até recentemente, o
que afasta-os do modelo ideal mencionado na Seção anterior.
Entretanto, à medida que novas aplicações continuam a ser desenvolvidas e
implementadas, um número cada vez mais crescente de usuários está atento ao
potencial, da mesma forma que às limitações, das técnicas de SR.
Em suma, mais informação pode ser obtida por meio da análise de múltiplos enfoques
do terreno, ao invés da observação singular do mesmo. Num ponto de vista similar, o
Princípios Físicos de Sensoriamento Remoto 66
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
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