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Pesquisa sobre a formação de professores

O conhecimento sobre aprender a ensinar

Carlos Marcelo
Faculdade de Ciências da Educação, Universidade de Sevilha

Tradução de Lólio Lourenço de Oliveira


Trabalho apresentado na XX Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, setembro de 1997.

A pesquisa sobre formação de professores tem zacionais, curriculares e didáticas faz que, cada vez
crescido quantitativa e qualitativamente nos últi- mais, a pesquisa sobre a formação de professores
mos quinze anos. Pouco a pouco, tem-se consta- seja percebida como necessidade indiscutível.
tado um incremento na preocupação de conhecer Dada a amplitude e diversidade de temas e en-
mais e melhor a maneira como se desenvolve o pro- foques recentes na pesquisa sobre formação de pro-
cesso de aprender a ensinar. As perspectivas e en- fessores, uma síntese geral dessa pesquisa está muito
foques que se foram utilizando para abordar essa além das possibilidades deste artigo. Em trabalho
problemática também foram evoluindo. Assim, se recente podem encontrar-se mais detalhes dos con-
inicialmente a pergunta que nos fazíamos era: o teúdos que abordo aqui de maneira mais superfi-
que é um ensino eficaz?, pouco a pouco apareceram cial (Marcelo, 1994).
outros problemas como: o que os professores co- Se há um tema que surgiu com vigor nos últi-
nhecem? que conhecimento é essencial para o ensi- mos anos, obrigando a reformular os estudos sobre
no? e quem produz conhecimento sobre o ensino? formação de professores, referimo-nos certamente
(Fenstermacher, 1994). às pesquisas que se têm desenvolvido em torno do
Ao mesmo tempo que os problemas evoluíram, amplo descritor “aprender a ensinar”. Enraizadas
percebemos também uma maior preocupação em no que se denominou o paradigma do “pensamen-
ampliar e engrandecer os modelos de análise. As- to do professor”, a pesquisa sobre aprender a ensi-
sim, se inicialmente a preocupação centrava-se prin- nar evoluiu na direção da indagação sobre os pro-
cipalmente nos professores em formação, pouco a cessos pelos quais os professores geram conheci-
pouco foi aparecendo considerável literatura de pes- mento, além de sobre quais tipos de conhecimentos
quisa a respeito dos professores principiantes e dos adquirem. Há três anos tive a oportunidade de fa-
professores em exercício. A análise dos processos zer outra exposição, na qual revisei a contribuição
de inovação e mudança, suas implicações organi- da pesquisa sobre o conhecimento do professor, es-

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pecialmente do conhecimento didático do conteú- sa aprender. Os meios pelos quais se pode adquirir
do, para explicar o processo de aprender a ensinar esse conhecimento são três: aprendizagem direta,
(Marcelo, 1993). Os estudos segundo essa orienta- aprendizagem mediada (observação) e aprendiza-
ção centraram-se em três grupos. Em primeiro lu- gem tácita (experiência própria). Os elementos do
gar, os estudos sobre o processamento de informa- conhecimento prático, segundo Connelly e Clandi-
ção e comparação entre especialistas e principiantes, nin (1990), são: imagens, regras, princípios da prá-
cujo foco de atenção foram os processos mentais tica, filosofia pessoal e metáforas.
que os professores levam a cabo quando identificam Na análise realizada por Schön sobre a epis-
problemas, consideram aspectos do ambiente da temologia da prática, ele distingue entre o conhe-
classe, elaboram planos, tomam decisões e avaliam. cimento-na-ação e a reflexão-na-ação. O conheci-
Uma segunda linha de pesquisa centra-se no mento-na-ação é um tipo de conhecimento que as
estudo sobre o conhecimento prático dos professo- pessoas possuem ligado à ação, e é um conhecimen-
res, que “se refere, de forma ampla, ao conheci- to sobre como fazer as coisas. É um conhecimento
mento que os professores possuem sobre as situa- dinâmico e espontâneo que se revela por meio de
ções de classe e os dilemas práticos que se apresen- nossa atuação, mas que temos especial dificuldade
tam para levar a cabo metas educativas nessas si- em tornar verbalmente explícito. Diferentemente do
tuações” (Carter, 1990, p. 299). Em relação a essa conhecimento-na-ação, a reflexão-na-ação supõe
linha de pesquisa, Calderhead (1991) fez uma re- uma atividade cognitiva consciente do sujeito, que
visão das investigações em que se aborda o desen- se leva a cabo enquanto se está atuando. Como as-
volvimento do conhecimento durante os estágios de sinala Schön, consiste em pensar “sobre o que se
ensino, mostrando que os estudantes estagiários está fazendo, enquanto se está fazendo” (1983, p.
possuem um conhecimento inicial acerca do ensi- 26). Através da reflexão-na-ação o prático, o pro-
no, na medida em que tenham tido experiências com fessor, reage a uma situação de projeto, de inde-
crianças em classe. Além disso, afirma que o conhe- terminação da prática, com um diálogo reflexivo
cimento que os estudantes possuem no estágio pode mediante o qual resolve problemas e, portanto, gera
não ser o mais adequado para o ensino, já que as ou constrói conhecimento novo. A improvisação de-
pesquisas mostram que os estudantes estagiários po- sempenha papel importante no processo de refle-
dem possuir concepções errôneas ou baseadas em xão-na-ação, uma vez que o professor tem de ter a
modelos de ensino transmissivos. Essas concepções capacidade de variar, combinar e recombinar, em
podem impedir que os professores em formação movimento, um conjunto de elementos de uma da-
adquiram conhecimentos mais sofisticados sobre da situação.
o ensino e que predomine o que Doyle e Ponder A concepção do professor como profissional
(1977) denominaram a “ética do prático”. As pes- reflexivo e da reflexão-na-ação como estratégia que
quisas realizadas mostram que o conhecimento dos fundamenta a epistemologia da prática tem tido re-
professores em formação está associado a situações percussões tanto do ponto de vista da pesquisa di-
da prática, ainda que as relações entre pensamen- dática, quanto da formação de professores. As pes-
to e prática sejam pouco claras e conhecidas. De- quisas de MacKinnon (1986) descreveram o conhe-
monstrou-se que pode ocorrer contradição entre as cimento-na-ação e as reflexões-na-ação de profes-
teorias expostas e as teorias implícitas e que a mu- sores em formação. Por outro lado, Erickson in-
dança no conhecimento dos professores em forma- forma sobre a aplicação a professores em forma-
ção não conduz necessariamente a mudanças em ção das três estratégias de coaching recomendadas
sua prática. por Schön (1987): o Modelo Siga-me, o Modelo de
Outra das características do conhecimento Experimentação Conjunta e o Modelo da Sala dos
prático é que não se pode ensinar, ainda que se pos- Reflexos.

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Finalmente, em ordem cronológica, Carter co- o professor possui, assim como do conhecimento
loca as pesquisas sobre “conhecimento didático do pedagógico geral, e do conhecimento dos alunos, e
conteúdo” para referir-se àqueles estudos em que também é conseqüência da própria biografia pes-
se analisa especificamente o conhecimento que os soal e profissional do professor. Não obstante, nem
professores possuem a respeito do conteúdo que en- todos os autores concordam em aceitar que o co-
sinam, bem como — e isto é importante — a forma nhecimento didático do conteúdo existe como al-
pela qual os professores transpõem esse conheci- go distinto do conhecimento próprio do conteúdo.
mento a um tipo de ensino que produza compreen- Neste sentido, McEwan e Bull (1991) declaram que
são nos alunos. Como se pode observar, a mudança “estamos preocupados porque essa distinção entre
que se vem produzindo na pesquisa sobre o “pensa- conhecimento de conteúdo e conhecimento peda-
mento do professor” vai na direção de uma pesquisa gógico do conteúdo introduz uma complicação des-
mais comprometida com os conteúdos que os pro- necessária e insustentável no quadro do trabalho
fessores ensinam (Marcelo, 1993). conceitual em que se fundamenta a pesquisa” (p.
Em terceiro lugar, a pesquisa sobre o conheci- 318). Para esses autores, todo conhecimento de um
mento didático do conteúdo trouxe para a análise conteúdo ou de uma disciplina, seja de um profes-
do processo de aprender a ensinar um componente sor ou de um especialista, possui uma dimensão
de referência obrigatória. Assim, foi necessário pro- pedagógica. Assumem, assim, o princípio de que
por as questões: como se produz o processo de trans- somente se conhece aquilo que se pode ensinar ou
formação do conhecimento da matéria que o estu- comunicar.
dante possui em conhecimento ensinável? em que Mais recentemente, Foss e Kleisasser (1994)
medida o nível de compreensão que um professor analisaram as crenças de professores em formação
tenha de uma disciplina afeta a qualidade dessa relativamente à matemática, descobrindo que a de-
“transformação”? em que medida a formação ini- finição da matemática como procedimentos aritmé-
cial do professor contribui para facilitar o desenvol- ticos e resposta a problemas de cálculo manifestou-
vimento desses processos de transformação? que se em atuações coerentes com essas crenças de clas-
diferenças existem nesses processos segundo as dife- se durante os estágios. Juntamente com essa pesquisa
rentes disciplinas e níveis educativos? As respostas devemos destacar os trabalhos de Mellado, atual-
a essas perguntas vêm sendo produzidas por meio mente em desenvolvimento, na área de ciências ex-
de pesquisas desenvolvidas em diversas áreas de perimentais, em que ele analisa, mediante entrevis-
conhecimento (matemática, ciências sociais, língua, tas e observações, o conhecimento que alunos de ma-
ciências naturais), como tive ocasião de resenhar no gistério possuem sobre a ciência e seu ensino, con-
trabalho a que já me referi (Marcelo, 1993). Jun- trastando o conhecimento didático do conteúdo por
tamente com as pesquisas ali resenhadas cabe desta- meio do ensino de uma mesma lição, bem como a
car os trabalhos que atualmente se desenvolvem nes- pesquisa desenvolvida por Fuentes Abeledo a respei-
sa linha. Assim, cabe destacar os trabalhos de Blan- to do conhecimento didático do conteúdo de profes-
co Nieto que analisaram, mediante entrevistas e ob- sores de ciências sociais em formação, e o efeito dos
servações, o ensino interativo de professores de EGB estágios no desenvolvimento desses conhecimentos.
(Ensino Básico) com experiência e de alunos esta- As pesquisas levadas a cabo a respeito do co-
giários ensinando matemática, para contrastar pen- nhecimento dos professores foram criticadas por
samento e ação em relação ao ensino da matemá- Kagan (1992) “devido às amostras tão reduzidas,
tica, ou os de Mellado que analisam o conhecimen- à diversidade de contextos e à heterogeneidade na
to didático do conteúdo de professores de ciências. metodologia da pesquisa sobre aprender a ensinar”
O conhecimento didático do conteúdo cons- (p. 129-130). Insistindo sobre isso, Carter declara
trói-se a partir do conhecimento do conteúdo que que “os resultados apresentam-se de forma variada:

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disposições, orientações, perspectivas, conhecimen- damental do processo de aprender a ensinar apa-


tos, preocupações ou compromissos e, apesar da recem como tema destacado, tanto por variedade
aparente diferença em seu significado, esses termos temática e metodológica, quanto por quantidade de
freqüentemente são empregados de forma indistin- pesquisas realizadas. Em um livro editado em 1990
ta. Muitas vezes os contextos se definem de forma e intitulado Research in teacher education: inter-
insatisfatória e variam muito de um estudo para national perspectives, R. Tisher e M. Wideen apre-
outro” (Carter, 1990, p. 29). Essas limitações persis- sentam uma revisão de temas de pesquisa sobre for-
tem nas pesquisas que estão sendo realizadas atual- mação de professores em diversos países. Assim,
mente, de maneira que o objetivo de ir construindo mostra-se ali como no Canadá se tem levado a cabo
um modelo de desenvolvimento e aprendizagem pro- surveys nacionais para conhecer a opinião que es-
fissional vê-se limitado pelas dificuldades de com- tudantes e professores têm sobre os estágios; inves-
paração entre as diversas pesquisas realizadas. De tiga-se também a evolução, ou desenvolvimento,
qualquer forma, tem sido positivo dar ênfase ao que se produz à medida que os estágios progridem,
chamado conhecimento didático do conteúdo não bem como sua influência sobre as crenças e as ati-
só pelas oportunidades que oferece para esclarecer tudes dos estudantes. No Japão, desenvolveram-se
processo de aprender a ensinar, mas também por- estudos, com base em questionários, para conhecer
que, uma vez estabelecida sua importância para a o papel do professor estagiário, bem como o efeito
formação dos professores, esse conhecimento se dos estágios de ensino sobre o desejo de ser profes-
converte em critério apropriado para avaliar a qua- sor. Na Holanda, realizaram-se pesquisas para ava-
lidade das experiências oferecidas aos professores em liar reestruturações dos estágios, introduzindo um
formação para adquirir o referido conhecimento. componente cognitivo e centrado nas necessidades
dos estudantes. As pesquisas sobre estágios desen-
A pesquisa sobre a volvidas na Austrália centraram-se no estudo da
formação inicial de professores ansiedade dos alunos durante os estágios, o impacto
da socialização dos estudantes, as mudanças em
Ao falar de pesquisa sobre a formação inicial conhecimentos, competência e atitudes em relação
de professores deve-se fazer referência quase exclu- ao ensino, bem como na imagem pessoal e nas preo-
sivamente aos estágios de ensino e ao efeito que eles cupações. Os estudantes deram grande valor aos
têm sobre os professores em formação. O que vi- estágios como componente principal da formação
mos denominando genericamente “estágios de en- de professores. Por outro lado, na Alemanha, as
sino” refere-se ao que Zeichner define como “to- pesquisas mostram que os estágios de ensino são o
das as variedades de observação e de experiência componente mais valorizado pelos professores em
docente em um programa de formação inicial de formação. Por último, foram realizadas pesquisas
professores: experiências de campo que precedem sobre práticas de ensino em países asiáticos, como
o trabalho em cursos acadêmicos, as experiências em Cingapura, onde a pesquisa centrou-se sobre a
precoces incluídas nos cursos acadêmicos, e as prá- análise da validade e da fidedignidade das medidas
ticas de ensino e os programas de iniciação” (1992, empregadas para avaliar os alunos estagiários du-
p. 297). Referimo-nos, pois, ao estudo das carac- rante os estágios, bem como na formação de pro-
terísticas dos sujeitos, das interações que se produ- fessores supervisores mediante um programa basea-
zem, das estruturas e conteúdos programáticos, dos do na supervisão clínica, ou na Índia, com pesqui-
fatores contextuais e dos papéis que comportam sas que têm procurado avaliar diferentes estruturas
esses processos de formação prática. de programas de formação, descobrindo que os
No âmbito da pesquisa sobre formação de pro- principais problemas que afetam os estágios são a
fessores, os estágios de ensino como elemento fun- assessoria e a supervisão inadequadas por parte dos

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supervisores universitários e a falta de colaboração Na pesquisa sobre os estágios de ensino, ou-


e coordenação entre a escola e a universidade. tro enfoque é constituído pelos trabalhos que ana-
Em nosso país, no que diz respeito às pesqui- lisam as “crenças e imagens” que os professores em
sas financiadas pelo Centro de Investigação e Do- formação trazem consigo quando iniciam sua for-
cumentação Educativa (CIDE), foi-se verificando mação. Pajares (1992) chamou a atenção para a
progressiva diminuição de pesquisas referentes à dispersão semântica que tem caracterizado essas
formação inicial e, especificamente, a estágios de pesquisas, nas quais têm sido utilizados termos co-
ensino (Egido et al., 1993). Assim, enquanto no mo crença, atitude, valores, juízos, axiomas, opi-
período entre 1982 e 1989 encontramos até dez niões, ideologia, percepções, concepções, sistema
pesquisas financiadas, atualmente só existe uma conceitual, preconcepções, disposições, teorias im-
pesquisa em andamento, dirigida por González Gal- plícitas, teorias explícitas, teorias pessoais, proces-
lego, sob o título de Diseño del período “practi- sos mentais internos, regras da prática, princípios
cum” en la formación inicial del profesorado de práticos etc. Essa dispersão semântica está fazen-
enseñanza primaria y secundaria para el área del do que os resultados das pesquisas não possam ser
conocimiento del medio y geografia, historia y cien- comparados por não partilhar um mesmo padrão
cias sociales. Não obstante, têm sido realizadas nos conceptual. Diferenciando essa linha de pesquisas
últimos anos teses de doutoramento e pesquisas par- da que anteriormente comentamos, referente ao co-
ticulares a respeito dos estágios, que merecerão nos- nhecimento dos professores, Pajares, baseando-se
sa atenção mais adiante. num trabalho de Nespor (1987), distinguiu entre
Os estágios de ensino representam uma oca- conhecimento e crenças, ficando claro que as cren-
sião privilegiada para investigar o processo de apren- ças, diferentemente do conhecimento, possuem cla-
der a ensinar. Griffin (1989) destacava a necessidade ra conotação afetiva e avaliativa: “o conhecimen-
de pesquisar sobre os estágios, baseando-se nas se- to de um tema distingue-se dos sentimentos que te-
guintes razões: em primeiro lugar, os professores nhamos sobre esse tema, da mesma maneira que se
reconhecem que os estágios de ensino constituíram distingue entre autoconceito e auto-estima, entre
o componente mais importante de sua formação, conhecimento de si mesmo e senso do próprio va-
razão pela qual é de especial importância analisar lor” (Pajares, 1992, p. 309).
esse componente formativo. Em segundo lugar, mes- A partir dessa diferenciação, as pesquisas so-
mo sendo muitas as pesquisas, não podemos afir- bre estágios de ensino têm mostrado que
mar que exista um conhecimento sólido acerca dos
os professores em formação entram no programa de
estágios de ensino, de como se desenvolvem e que
formação com crenças pessoais a respeito do ensino,
resultados conseguem. Em terceiro lugar, porque os
com imagens do bom professor, imagens de si mesmos
estágios de ensino constituem o componente do pro-
como professores e a memória de si próprios como
grama de formação de professores mais destacado
alunos. Essas crenças e imagens pessoais geralmente
para estabelecer relações entre as escolas e a univer-
permanecem sem alteração ao longo do programa de
sidade. Uma quarta razão é determinada pela ne-
formação e acompanham os professores durante suas
cessidade de conhecer as características do profes-
práticas de ensino (Kagan, 1992, p. 142).
sor tutor eficaz, bem como das relações com os alu-
nos estagiários. Por último, Griffin assinala que os Algumas pesquisas têm permitido corroborar
estágios de ensino proporcionam a oportunidade de essas afirmações, como a desenvolvida por Hol-
estudar os professores em um contínuo de sua car- lingsworth (1989) com 14 professores em forma-
reira docente, por meio de estudos longitudinais ção, que ele entrevistou e observou durante seus
como os que se levam a cabo no NCRTE da Uni- estágios, descobrindo que a imagem que os profes-
versidade Estadual de Michigan. sores em formação possuíam de si mesmos como

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professores tinha muito a ver com sua própria ima- dificuldade de abordar as situações e contextos
gem como alunos. Os alunos estagiários desenvol- mais conflitivos, experimentando mais êxito do que
vem suas crenças em relação aos alunos a partir aqueles professores com uma imagem fraca.
de suas próprias experiências como estudantes, su- As pesquisas sobre as crenças dos professores
pondo que os alunos possuem os mesmos estilos de em formação analisaram a evolução que nelas se
aprendizagem, aptidões, interesses e problemas que produz em conseqüência dos estágios de ensino,
o próprio professor estagiário. Na mesma linha, entendendo-as como um período de socialização
Rodríguez (1993) realizou um estudo com seis pro- profissional. A partir dessa perspectiva, analisaram-
fessores em formação que entrevistou e observou se as crenças dos alunos estagiários relativas ao con-
durante os estágios para conhecer como se modifi- trole e à disciplina. Quase sem exceção, a literatu-
cam suas crenças anteriores. Para conhecê-las apre- ra de pesquisa considera que os estágios de ensino
sentou aos estudantes gráficos que representavam fazem que os alunos estagiários sejam mais autori-
seis diferentes metáforas: pessoas trabalhando com tários, impessoais, burocráticos e controladores.
barro, um guia e viagem, trabalhadores de constru- Isso se explica na medida em que os alunos estagiá-
ção, um frentista pondo gasolina. Os resultados rios encontram-se com uma cultura escolar em que
mostram que as crenças anteriores a respeito do os professores tutores pressionam em favor da or-
ensino e da aprendizagem existem e que pouco se dem, do controle e do cumprimento de objetivos
alteram durante os estágios. instrumentais. Nessa linha, Hoy e Woolfolk (1990)
Constata-se, pois, que os professores em for- realizaram uma pesquisa para analisar a influência
mação possuem crenças e imagens anteriores que das práticas de ensino sob três aspectos: as crenças
os acompanham ao longo de sua formação. Cren- quanto ao controle, quanto a resolução de proble-
ças e imagens contra as quais, até agora, a forma- mas e quanto à própria eficácia. Os sujeitos foram
ção de professores pouco tem podido fazer. Como 191 professores em formação que responderam,
reconheciam Cole e Knowles, “é amplamente aceito antes e depois dos estágios, a uma bateria de ins-
que a formação formal de professores exerce in- trumentos: Escala de Eficácia do Professor, PCI (Pu-
fluência importante mas secundária sobre o pensa- pil-Control Ideology) e o Inventário de Problemas
mento e a prática dos professores; sendo esta últi- na Escola. Os resultados mostraram que, igual ao
ma muito influenciada pela vida, a escola e as ex- que ocorre em outras pesquisas, ao finalizar os está-
periências anteriores ao ingresso em um programa gios os estudantes adotam crenças mais conservado-
de formação de professores” (1993, p. 8). Sobre as ras e mais preocupadas com o controle dos alunos.
experiências anteriores, foram realizadas algumas A revisão realizada por Zeichner e Gore (1990)
pesquisas que se centram na análise biográfica dos relativamente à literatura sobre socialização dos
professores em formação. Nesse sentido, Knowles professores vem mostrar também que os estudan-
(1992) investigou cinco alunos estagiários e desen- tes iniciam sua formação com algumas idéias, co-
volveu um modelo que caracteriza a influência das nhecimentos e crenças fortemente assentadas, que
histórias pessoais sobre a prática docente, conside- afetam a forma como interpretam e assimilam a
rando as interações entre a biografia e o contexto nova informação. A influência dos cursos acadêmi-
escolar. Estabeleceu relações entre o êxito e o fra- cos de formação na mudança dessas crenças é li-
casso na prática do ensino com a imagem do ensi- mitada e pouco conhecida, como o que ocorre com
no formada ao longo de anos de experiências edu- os estágios de ensino, sobre os quais afirma-se que
cativas na família, na classe e na escola. Em seu “apenas começamos a conhecer os fatores especí-
estudo, os professores em formação com uma iden- ficos que afetam o processo de aprender a ensinar”
tidade forte (fundamentada numa vida formativa e (Zeichner e Gore, 1990, p. 338). De qualquer for-
em experiências escolares positivas) tiveram menor ma, verificou-se, isto sim, que o processo de socia-

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lização não é de modo algum linear, mas que os alu- professores, em formação ou em exercício. Uma
nos e a ecologia da classe, os professores tutores, das classificações muito difundidas corresponde à
bem como a cultura escolar, influem e determinam desenvolvida por Van Maanen, que Zeichner e Lis-
formas diversas de resolução do referido processo. ton (1985) aplicaram na análise do discurso super-
Como conseqüência da pesquisa sobre cren- visor, diferenciando entre discurso prudencial, fac-
ças e teorias dos professores em formação, tem-se tual, justificatório e crítico. Destaca-se também, no
contemplado a necessidade de modificar as referi- âmbito do programa PROTEACH desenvolvido
das crenças e concepções mediante a reflexão. Nes- por Ross na Universidade da Flórida, uma escala,
se sentido, um dos principais esforços das investi- que aparece no quadro seguinte, para avaliar os
gações tem consistido em desenvolver instrumen- níveis de reflexão atingidos pelos alunos em está-
tos, escalas e/ou taxonomias para verificar e ava- gios de formação. Esses níveis são os que aparecem
liar as mudanças nos níveis reflexivos por parte de no Quadro 1.

Quadro 1
Taxonomia de Ross para avaliar as reflexões dos professores (Ross, 1990)

NÍVEL 1 NÍVEL 2 NÍVEL 3


1. Dar um exemplo de professor que 1. Realizar uma crítica coerente de 1. Ver as situações de ensino a partir
implementa ou não implementa uma atuação a partir de uma de múltiplas perspectivas (avaliar
um resultado de pesquisa (dar perspectiva, mas sem considerar as decisões de ensino em termos
poucos detalhes quando se que podem existir outros fatores a de conflitos de objetivos; ver um
descreve uma conduta; não levar em conta (criticar uma aspecto simultaneamente da
justificar as razões da conduta do atuação a partir de uma perspectiva de várias pessoas —
professor). perspectiva; não reconhecer a alunos, professores, pais).
interação de fatores).
2. Descrever uma atuação de um 2. Proporcionar uma grande 2. Reconhecer que as ações do
professor como consistente com quantidade de detalhes ao professor têm uma influência
os resultados da pesquisa quando analisar uma atuação docente permanente para além do
somente parte de sua atuação o é (proporcionar uma ampla relação momento do ensino.
(centrar-se somente num aspecto de condutas docentes boas e não
da conduta do professor). tão boas, mas sem justificar as
diferenças entre ambas).
3. Mostrar-se de acordo com um 3. Reconhecer que o ensino deve
planejamento do artigo lido, modificar-se em função dos
simplesmente repetindo a objetivos e das características dos
colocação (fazendo-o com suas alunos, mas confundindo a base
próprias palavras, sem reconhecer sobre a qual se devem tomar essas
outras causas que possam haver decisões (não dar razões para
influído no professor). decidir quando e que estratégias
utilizar com respeito aos objetivos
e alunos).

Outro programa de formação de professores microensino, diários e tarefas escritas para promo-
baseado na reflexão é o denominado CITE (Col- ver a capacidade de análise, de formulação de per-
laboration for the Improvement of Teacher Edu- guntas e de reflexão nos professores em formação.
cation), que inclui práticas de campo estruturadas, Para avaliar o desenvolvimento da reflexividade dos

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professores em formação, foi elaborada uma taxo- de confirmação com os professores em formação e
nomia que inclui as seguintes categorias: 1. não- entrevistas com os professores tutores. Os dados são
descrição; 2. descrição simples; 3. denominação de congruentes com as conclusões anteriores e indicam
sucessos mediante conceitos pedagógicos; 4. expli- que, por si sós, as reflexões escritas não conduzem
cação utilizando somente a tradição ou as preferên- necessariamente a um pensamento mais analítico
cias pessoais; 5. explicação utilizando princípios sobre os processos de ensino e aprendizagem, em
pedagógicos; 6. explicação utilizando princípios pe- particular se os níveis de preocupações dos profes-
dagógicos e o contexto; e 7. explicação com consi- sores em formação são pessoais. Esses achados são
derações éticas/morais. Na avaliação do programa, familiares para nós, uma vez que, numa pesquisa
os professores em formação só chegaram até o ní- que realizamos para promover a reflexão em pro-
vel 6 (Sparks e Colton, 1991). fessores principiantes a partir da análise de grava-
Em geral, as pesquisas que se desenvolvem nes- ções em vídeo e da redação de diários, descobrimos
sa esfera tomam a reflexividade como variável de- que os níveis do discurso reflexivo se evidenciam
pendente, analisando as mudanças que se produ- mais mediante a análise de gravações de vídeo dos
zem como conseqüência de programas completos, próprios professores principiantes do que median-
ou de elementos programáticos mais específicos, te a análise de diários (Marcelo, 1995a).
como podem ser a redação de casos, os diários, a Para a análise dos níveis de reflexão em diá-
biografia, os registros pedagógicos etc. Nessa linha, rios de alunos estagiários, Surbeck, Han e Moyer
Wedman et al. (1990) estudaram o efeito de um (1991) elaboraram uma taxonomia que incluía três
programa de nove semanas de estágios de ensino dimensões: reação, que inclui as respostas dos es-
projetados para promover a capacidade de reflexão. tudantes aos conteúdos da classe, como o ensino em
Durante os estágios, analisou-se o ensino dos alu- equipe, discussões, atividades, ensino etc. — essa
nos estagiários, as conferências de supervisão, de- categoria divide-se em outras subcategorias: senti-
senvolveram-se seminários, os estudantes redigiram mentos positivos e negativos, preocupações pesso-
diários e realizaram pesquisas-ação. Os resultados ais —; elaboração, que se refere a explicações dos
indicam que, ao incluir os componentes anteriores, alunos estagiários nas quais mostram seus sentimen-
os alunos estagiários podem desenvolver um ensi- tos, verificam seu pensamento, dão exemplos ou se
no mais reflexivo. Igualmente, Trumbull e Slack referem a outras situações — as subcategorias aqui
(1991) analisaram o efeito da utilização de entre- são: elaboração concreta, comparativa e generali-
vistas estruturadas para desenvolver a reflexão de zada —; a última categoria denomina-se medita-
professores de ciências em formação, utilizando as ção, que inclui as anteriores mas, além disso, in-
categorias de Van Maanen: técnico, prático e críti- corpora um pensamento sobre problemas pessoais,
co. Os resultados indicam que a maioria dos alu- profissionais ou ético/sociais.
nos estagiários refletiram sobre aspectos de sua con- Baseando-se no trabalho desses autores, Ro-
duta em classe e sobre os resultados dos alunos, mas dríguez Lopes (1994) terminou recentemente um
que os níveis de reflexão crítica só são atingidos trabalho de tese de doutoramento no qual analisa
mediante as entrevistas clínicas, mais do que me- a evolução do pensamento reflexivo de cinco alu-
diante os diários. nos estagiários mediante um diário, bem como en-
Também Hoover (1994) analisou o tipo de trevistas com sujeitos selecionados. Para a seleção
reflexividade que provoca em professores em for- dos sujeitos, valeu-se do Inventário de Teorias Im-
mação a redação de diários, bem como a análise de plícitas elaborado por Marrero, mediante o qual
lições com base na reflexão-na-ação e na revisão de identificou nos professores em formação caracte-
vídeos. Para tanto, utilizou questionários no início rísticas de diferentes teorias implícitas. A análise
e no fim dos estágios, entrevistas autobiográficas e qualitativa dos diários e das entrevistas foi realiza-

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da utilizando as dimensões pessoal, curricular e ins- a ensinar; representam também uma oportunidade
titucional como categorias principais de análise. Os de desenvolvimento e aprendizagem para outros pro-
dados mostram que, em primeiro lugar, as teorias tagonistas: os professores tutores (professores em
implícitas dos sujeitos investigados não se modifi- exercício, aos quais são confiados alunos estagiá-
cam em conseqüência dos estágios de ensino. Em rios) e professores supervisores (professores da uni-
segundo lugar, que as reflexões dos professores em versidade). A literatura de pesquisa tem sido mais
formação, segundo o sistema de Surbeck, Han e generosa no caso dos primeiros do que dos últimos.
Moyer (1991), são escassas, e poucas se referem ao Em um trabalho que terminamos recentemen-
nível de elaboração. te, analisamos, por meio de entrevistas e questio-
Outra das estratégias utilizadas para desenvol- nários, as valorações de um grupo de 19 professo-
ver a capacidade reflexiva dos professores em for- res tutores de ensino primário e secundário relati-
mação durante os estágios de ensino tem sido os vamente aos estágios de ensino (Zabalza e Marce-
registros escritos, documentos pessoais ou, em in- lo, 1993). Estes aceitam alunos estagiários porque
glês, portfolios. É o caso de ROSE (Record of Stu- gostam de ajudar a formar futuros professores, ain-
dent Experience), entendido como um documento da que se preocupem com as limitações de tempo,
estruturado em que os alunos estagiários descrevem a possível influência negativa no andamento da clas-
e procuram analisar experiências significativas que se, o tipo de aluno estagiário, bem como, e especial-
tenham tido antes e durante sua formação. Incor- mente, a avaliação destes. Crêem que os estágios
pora uma série de tarefas reflexivas ao longo do ajudam os estudantes a perder o medo, a enfrentar
período formativo, que pode incluir um registro uma classe e familiarizar-se com um grupo de alu-
biográfico das experiências como estudantes, regis- nos e com um centro educativo: “para mim, o va-
tros escritos de suas experiências em diferentes cur- lor formativo é o contato que podem ter com a rea-
sos, diário de acontecimentos significativos etc. Esse lidade do centro, saber que os centros não são tão
material é revisto em conjunto com o tutor e com bonitos nem tão maus como os pintam; na realida-
os colegas, e pretende ajudar os alunos estagiários de, nos centros há coisas positivas e coisas negati-
a descrever, analisar e refletir sobre sua experiên- vas, e o contato com essas pessoas que vão ser seus
cia docente. De igual maneira, Bullough avaliou a companheiros e com os garotos para perder o medo
utilização de textos pessoais de ensino como instru- [...]”. Os aspectos que os professores tutores do
mento para propiciar a reflexão de professores em curso primário mais valorizam nos alunos estagiá-
formação. Por meio deles, pretendia-se que os es- rios são “seu amor às crianças” e sua “disponibili-
tudantes fossem desenvolvendo um dossiê sistema- dade”, ao passo que, para os do curso secundário,
tizado e organizado de suas atividades, de forma o mais importante é “sua preparação técnica”. Con-
que este lhes facilitasse a auto-análise e a compa- sideram que essa atividade nada lhes traz em nível
ração. Conclui que: “Os textos permitem que os profissional e que é um trabalho não reconhecido
professores em formação estejam em contato com pela administração. Segundo suas próprias percep-
seu próprio desenvolvimento: aumenta sua auto- ções, as características mais importantes dos pro-
confiança; ajuda-os a verem-se a si próprios como fessores tutores, segundo os professores de curso
produtores de conhecimento legitimado, ajuda-os primário, seriam as relacionadas com o trato pes-
a considerar seus valores [...] facilita a reflexão dos soal com o aluno estagiário: bom caráter, tolerân-
professores” (Bullough, 1993, p. 394). cia, abertura, receptividade e capacidade de diálo-
Até aqui, temo-nos ocupado dos alunos esta- go, ao passo que, no caso dos professores do curso
giários como os protagonistas principais dos está- secundário, o importante seria a habilidade como
gios de ensino. Mas os estágios de ensino não são professor, o domínio dos conteúdos da matéria e ter
somente uma ocasião para os alunos aprenderem vocação para educador. Além disso, informam que

Revista Brasileira de Educação 59


Carlos Marcelo

as tarefas a que habitualmente se dedicam os alu- ram, nas conferências de supervisão, de aspectos
nos estagiários são as relacionadas com explicar relacionados com os alunos, ao passo que os tuto-
lições, ajudar os alunos a fazerem tarefas, observar res ficaram mais centrados no conteúdo ensinado.
como se dirige a classe e corrigir o trabalho dos A maioria dos tutores utilizou um estilo direto de
alunos. No âmbito do centro educativo, os alunos supervisão, mais prescritivo, dando orientações so-
estagiários no curso primário realizam as tarefas bre os métodos e os conteúdos. Na pesquisa reali-
de fiscalizar o refeitório, tomar conta dos recreios, zada por Borko e Mayfield (1993), eles estudaram
ajudar na biblioteca, ao passo que, no caso dos pro- também a natureza das relações de assessoria e su-
fessores do curso secundário, essas tarefas pratica- pervisão durante os estágios de ensino desenvolvi-
mente não existem. Finalmente, propõem, para me- dos por professores de universidade e por profes-
lhorar os estágios, que se aumente sua duração, que sores tutores, e a influência que isso tem nas cren-
lhes seja proporcionado algum treinamento, bem ças, conhecimento e conduta dos alunos estagiá-
como que se estimule a coordenação entre os tuto- rios. Descobriram que as conversas entre professo-
res e a escola de magistério, de forma que possam res tutores e alunos estagiários raramente dizem res-
saber o que se espera deles como tutores. peito a temas de ensino e aprendizagem, e que as
Com respeito aos professores tutores, as pes- conversas com professores de universidade eram
quisas têm reconhecido neles uma influência im- realizadas com muita urgência e baseadas em dados
portante na socialização dos alunos estagiários. Os insuficientes sobre o ensino dos alunos estagiários.
professores tutores tendem a preocupar-se em ser Nessa mesma linha, Chastko (1993) analisou
um modelo adequado para os alunos estagiários, as conversas mantidas entre 28 alunos estagiários
bem como em contribuir para sua formação. Com e 8 professores tutores durante sessões de análise de
relação às entrevistas de supervisão, a revisão rea- classes em um programa de ciências. Encontram-se
lizada por Guyton e McIntyre (1990) mostrava que diferenças nas interações entre professores tutores
“a maioria [delas] implicam uma díade em lugar e alunos estagiários em função da experiência do-
duma tríade. As entrevistas são dominadas pelos cente dos tutores, de forma que alguns professores
professores tutores e os alunos estagiários assumem com experiência centram-se mais no conteúdo es-
um papel passivo. As entrevistas implicam um bai- pecífico, nos propósitos ou nas estratégias de ensi-
xo nível de pensamento: predominam as descrições no, ao passo que outros dão mais ênfase a princí-
e as interações em que se fornecem diretrizes. A pios gerais e máximas de ensino. Kremer-Hayon
análise e a reflexão sobre o ensino não são freqüen- (1991) também analisou as diferenças entre seis
tes” (p. 525). A essa mesma conclusão chegam pes- professores tutores de alunos estagiários (três prin-
quisas mais recentes, como a levada a cabo por Ben- cipiantes e três experimentados) mediante entrevis-
Peretz e Rummey (1991). Na primeira foram ob- tas, descobrindo que os tutores com maior experiên-
servadas sessões de ensino de alunos estagiários e cia faziam mais referências a reflexão e crítica, a
as entrevistas entre estes e seus professores tutores, conhecimento e mudança e a ideologia e valores do
bem como as mantidas com supervisores de univer- que os tutores principiantes, embora não tenha ha-
sidade. Os resultados mostram que, nas entrevistas vido diferenças quanto a aspectos referidos a rela-
de análise, os alunos estagiários foram passivos, ções humanas e dificuldades.
aceitando e concordando com o que diziam seus Do mesmo modo, encontram-se diferenças en-
tutores. As entrevistas com os professores de uni- tre os professores tutores em função dos estilos de
versidade duraram pelo menos o dobro do tempo supervisão que utilizam. Dunn e Taylor (1993) es-
das dos tutores. Os supervisores universitários ofe- tudaram oito pares de professores tutores e alu-
receram mais alternativas de ação, especialmente em nos estagiários, gravando em áudio suas reuniões
relação às estratégias de ensino, bem como trata- durante um período de duas semanas. Identificaram

60 Set/Out/Nov/Dez 1998 N º 9
Pesquisa sobre a formação de professores

dois tipos de assessoria: consultiva, que se refere ressaltar o estudo de caso realizado por Villar An-
especificamente aos alunos concretos, à matéria gulo (1992) sobre um professor da Escola Univer-
concreta a ensinar, com escassa elaboração ou in- sitária de Magistério. O estudo adota uma perspec-
terpretação; e a docente, que incorpora elaboração, tiva de biografia profissional, coletando dados a
juízos e procura promover a transferência e a refle- partir de 11 entrevistas gravadas e transcritas. A
xão. A assessoria foi 45% do tipo consultivo e 55% opinião desse supervisor é especialmente relevante
docente. Com relação aos estilos de supervisão, como coordenador dos estágios na especialidade de
Sánchez Moreno (1994) elaborou um Inventário de ciências sociais. Suas avaliações são críticas relati-
Crenças do Supervisor, baseando-se nos trabalhos vamente à organização dos estágios, bem como em
de Glickman, que lhe permitiram identificar três relação à importância que a instituição formativa
concepções a respeito da supervisão: colaborativa, e seus docentes atribuem a esses estágios. Frases
diretiva e não diretiva. como: “seria melhor assumir uma postura radical
Juntamente com a pesquisa sobre os estilos de e não realizar estágios até que se solucionem” ou
supervisão, vale a pena destacar a preocupação por “[...] trata-se de professores [de EUM] que não
aquilo que Kagan e Warren (1991) denominaram possuem interesse algum, relação alguma com o
“supervisão diferencial”, que se refere à evolução tema dos estágios; trata-se apenas de professores
que se deve produzir no tratamento supervisor, à que têm horário sobrando e que o empregam em
medida que a relação de supervisão se vai firman- estágios” são prova da opinião de um professor
do e que o aluno estagiário vai ganhando confian- supervisor que valoriza a importância da supervi-
ça e habilidade docente. Mediante um estudo de são que os professores universitários devem reali-
caso, a autora propõe que a seqüência mais ade- zar durante os estágios de ensino. Podemos con-
quada para proporcionar uma supervisão compõe- trapor essas opiniões às que foram expressas pelos
se das seguintes fases: modelar, quando o especia- alunos estagiários na pesquisa a que já nos referi-
lista leva a cabo uma tarefa e o principiante obser- mos (Zabalza e Marcelo, 1993). Por meio do ques-
va e desenvolve um modelo conceitual; supervisão, tionário, descobrimos que os alunos estagiários con-
quando o especialista observa a atuação do princi- sideram que a atenção recebida, as reuniões reali-
piante e lhe proporciona retorno; escalada, quan- zadas e o acompanhamento durante os estágios de-
do o especialista apóia o principiante, que, de for- veriam ser melhorados. Para isso, deveriam ter li-
ma progressiva, passa a atuar com independência, berdade de resolver os problemas dos alunos, preo-
mediante indicações ou perguntas do especialista; cupar-se com estar a par do andamento de cada um,
articulação, quando o especialista pede ao princi- garantir que o que se faz no colégio seja formativo
piante que verbalize seu conhecimento, raciocínio e colaborar com os alunos no desenvolvimento de
ou processos de resolução de problemas; reflexão, seu próprio plano de estágios.
quando o principiante compara, por um processo Os professores supervisores e tutores repre-
intelectual, sua atuação com a do especialista; e sentam dois conjuntos de pessoas de especial im-
exploração, quando o principiante expõe suas pró- portância para o êxito dos estágios de ensino. Mas,
prias metas e atua com independência. Essas fases para melhorar sua atuação, os estágios devem con-
podem permitir que a supervisão dos alunos esta- verter-se, também para eles, em uma ocasião para
giários se adapte melhor às possibilidades e exigên- aprender a ensinar — nunca se acaba de aprender.
cias de cada situação prática. Para isso, é imprescindível, nas palavras de Glick-
Relativamente aos professores supervisores de man e Bey,
universidade, as investigações são menos numero-
sas e se referem, principalmente, às relações diádicas proporcionar treinamento de supervisão, tanto para
com os alunos estagiários. Em nosso país, deve-se os supervisores universitários quanto para os tutores;

Revista Brasileira de Educação 61


Carlos Marcelo

selecionar cuidadosamente os professores tutores, de Um segundo aspecto a destacar da definição


acordo com sua influência potencial como modelo, e dada por Wilson e D’Arcy (1987) é a concepção do
por suas experiências anteriores de supervisão; aten- desenvolvimento profissional como um contínuo,
tar aos estilos de supervisão e relacioná-los com o au- de forma que os professores não são concebidos
toconceito e com os níveis conceituais dos alunos es- como produtos acabados mas, ao contrário, como
tagiários; e delimitar claramente as responsabilidades sujeitos em evolução e desenvolvimento constantes.
e expectativas entre professores universitários, profes- Os primeiros anos de ensino são especialmente
sores tutores e alunos estagiários (1990, p. 561). importantes porque os professores devem realizar
a transição de estudantes a professores e, por isso,
A pesquisa sobre professores surgem dúvidas e tensões, devendo eles adquirir
principiantes e iniciação profissional adequado conhecimento e competência profissional
em breve período de tempo. Nesse primeiro ano, os
A iniciação ao ensino deve ser entendida “co- professores são principiantes e, em muitos casos, até
mo parte integrante do contínuo do processo de mesmo no segundo e terceiro anos podem ainda
desenvolvimento profissional do professor” (Vonk, estar lutando para firmar sua própria identidade
1993, p. 4). Nesse sentido, esse período de forma- pessoal e profissional.
ção é desenvolvimento profissional, na medida em Está fazendo dez anos que demos início a uma
que se pretenda que os professores adquiram conhe- linha de pesquisa centrada no estudo do processo
cimentos, destrezas e atitudes adequadas ao desen- de aprender a ensinar durante os primeiros anos de
volvimento de um ensino de qualidade. ensino. No ano de 1988, o Centro de Investigación
A iniciação ao ensino, como dissemos, é o pe- y Documentación Educativa aprovou um projeto de
ríodo de tempo que abrange os primeiros anos, nos pesquisa nosso, cujo objetivo era obter informações
quais os professores deverão realizar a transição de a respeito de professores principiantes e de seu pro-
estudantes para professores. As pesquisas têm de- cesso de socialização.
monstrado que é um período de tensões e aprendiza- Nessa pesquisa, propúnhamo-nos a conhecer
gens intensivas, em contextos geralmente desconhe- os problemas e preocupações de uma amostra de
cidos, e durante o qual os professores principian- professores principiantes de Sevilha e Granada. Para
tes devem adquirir conhecimento profissional, além tanto, foram entrevistados 107 professores princi-
de conseguir manter um certo equilíbrio pessoal. piantes da EGB, BUP (Ensino Secundário) e FP (For-
Wilson e D’Arcy definem a iniciação como “o mação Profissional), que responderam a questioná-
processo mediante o qual a escola realiza um pro- rios sobre crenças e problemas percebidos (Marce-
grama sistemático de apoio a professores para in- lo, 1991). No decorrer dessa pesquisa, ficamos sa-
troduzi-los na profissão, ajudá-los a abordar os pro- bendo que os professores principiantes são profis-
blemas de maneira a fortalecer sua autonomia pro- sionais preocupados em melhorar como docentes,
fissional e facilitar seu contínuo desenvolvimen- mas com a consciência de que sua formação esta-
to profissional” (1987, p. 143). Como vemos, a va inacabada; que os primeiros anos de ensino são
iniciação, desse ponto de vista, é uma atividade em anos difíceis, tanto pessoal quanto profissionalmen-
que a escola, como unidade, desempenha papel fun- te, especialmente no caso atípico dos professores
damental como serviço de apoio aos professores substitutos. Ficamos sabendo também que os pro-
principiantes. Não obstante, como mencionaremos fessores principiantes se diferenciam em função dos
mais adiante, outros estamentos podem estar impli- contextos em que ensinam; que as experiências ob-
cados no desenvolvimento dos programas de desen- tidas como estudantes influenciam em grande me-
volvimento profissional dos professores, quais se- dida os professores principiantes do curso secundá-
jam a universidade, os centros de professores etc. rio, não ocorrendo o mesmo com os professores de

62 Set/Out/Nov/Dez 1998 N º 9
Pesquisa sobre a formação de professores

educação geral básica. Constatamos também que os holandês, o primeiro ano caracteriza-se por ser, ge-
problemas dos professores referem-se principalmen- ralmente, um processo de aprendizagem intensa —
te a aspectos didáticos, mais do que a aspectos pes- na maioria dos casos, do tipo ensaio-e-erro — ca-
soais ou organizacionais. racterizado por um princípio de sobrevivência e por
As mudanças sofridas pelo professor ao passar um predomínio do valor do prático. Os programas
de estudante a professor principiante e, deste, a ex- de iniciação procuram estabelecer estratégias para
perimentado, sucedem-se mediante uma série de eta- reduzir ou reorientar o chamado “choque de reali-
pas e transições entre etapas, “que normalmente se dade”. Os professores principiantes vêem-se dian-
vêem de certa maneira como irreversíveis” (Burden, te de certos problemas específicos de sua condição
1990, p. 311). O que leva à mudança são, funda- profissional. Valli (1992) sugere que os problemas
mentalmente, fatores maturativos dentro do indi- que mais ameaçam os professores principiantes são
víduo e fatores interativos entre as características a imitação acrítica de condutas observadas em ou-
pessoais e o estímulo que recebem do ambiente. tros professores; o isolamento em relação a seus
Para Burke et al., a etapa de iniciação do pro- colegas; a dificuldade para transferir o conhecimen-
fessor to adquirido em sua etapa de formação; e o desen-
volvimento de uma concepção técnica do ensino.
define-se geralmente como os primeiros anos de em-
prego, quando o professor se socializa no sistema. É
A pesquisa sobre o
um período em que o professor principiante se esforça
desenvolvimento profissional
por aceitar os estudantes, os colegas e supervisores e
procura atingir um nível de segurança no trato com
Como colocamos no princípio deste artigo,
os problemas e questões de cada dia. É possível que os
uma das novidades mais relevantes nos últimos anos
professores também experimentem esse começo quan-
foi o início de pesquisas centradas não só no pro-
do mudam para outro nível, outro edifício, ou quan-
cesso de aprender a ensinar dos professores, quer
do mudam inteiramente de distrito (1984, p. 14-15).
experientes, quer especialistas, como também a
Para alguns autores, o primeiro ano não só preocupação em analisar, de uma perspectiva mais
representa uma oportunidade de aprender a ensi- global e sistêmica, os processos de mudança e ino-
nar, como também pode implicar transformações vação a partir de dimensões organizacionais, cur-
em âmbito pessoal. Sobressai como característica riculares, didáticas e profissionais. Assim, foram-se
desse período a insegurança e a falta de confiança desenvolvendo estudos que analisam e avaliam os
em si mesmo de que padecem os professores princi- modelos de desenvolvimento profissional, bem co-
piantes. Como assinalam Johnston e Ryan, “os pro- mo as diferentes fases desse processo.
fessores em seu primeiro ano de docência são estran- Nessa linha, e em outro trabalho a que já alu-
geiros em um mundo estranho, mundo que ao mes- dimos, analisamos diversas e interessantes aborda-
mo tempo conhecem e desconhecem. Embora te- gens dos professores e de sua aprendizagem. Uma
nham dedicado grande número de horas nas escolas delas refere-se ao estudo dos processos de mudan-
vendo professores e envolvidos nos processos esco- ça dos docentes. Os diversos pesquisadores parecem
lares, os professores principiantes não estão fami- coincidir quanto a que os processos de mudança
liarizados com a situação específica na qual come- devem atender necessariamente ao que temos cha-
çam a ensinar” (Johnston e Ryan, 1983, p. 137). mado de “dimensão pessoal da mudança” (Marce-
Foi Simon Veenman (1984) que popularizou lo, 1995b), ou seja, a atenção ao impacto que a pro-
o conceito de “choque de realidade” para referir- posta de inovação tem, ou pode ter, sobre as cren-
se à situação que muitos professores atravessam em ças e os valores dos professores. Não obstante, será
seu primeiro ano de docência. Segundo esse autor preciso que se espere mudar as crenças dos profes-

Revista Brasileira de Educação 63


Carlos Marcelo

sores para posteriormente decidir-se a incorporar identificou os professores com uma orientação in-
a inovação proposta em seu repertório docente? A terna, que eram sujeitos que preferiam aprender por
esse respeito, Guskey (1986) oferece-nos sua pro- si mesmos, sem diretrizes externas. No extremo
posta de modelo de mudança do professor, que oposto, estavam os professores com uma orienta-
parte do princípio de que as crenças e atitudes dos ção externa: aqueles que preferiam aprender me-
professores só se modificam na medida em que os diante diretrizes externas — um supervisor, um li-
docentes percebam resultados positivos na apren- vro, um assessor etc. Por outro lado, Huber e Roth
dizagem dos alunos. (1990) falam de duas outras possíveis orientações
Por outro lado, recentemente, Peterson, Clark dos professores ao aprender: por um lado, os pro-
e Dickson (1990) reconheceram a necessidade de fessores estariam orientados para a incerteza, que
estudar o processo de aprendizagem dos professo- é a orientação de algumas pessoas em relação a si-
res como pessoas adultas. Do mesmo modo Oja tuações de resultado incerto, bem como a tendên-
(1991) mostrou a utilidade de aplicar os estudos cia a levar em conta os pontos de vista dos outros.
sobre a aprendizagem e o desenvolvimento adulto Em situações de aprendizagem, esses sujeitos pre-
para a formação de professores. Esses autores, jun- ferem situações cooperativas que lhes permitam ela-
tamente com os que serão mencionados ao longo borar diferentes pontos de vista e inclusive integrá-
deste artigo, indicam-nos a necessidade de capita- los. De outro lado, estariam os professores orien-
lizar e incorporar aos estudos sobre o professor, sua tados para a certeza. Estes procuram a clareza e a
formação, desenvolvimento, melhora e mudança, os segurança, tendendo a seguir a opinião da maioria.
princípios, teorias e modelos que, ao longo dos úl- Em situações de aprendizagem preferem situações
timos trinta anos, vêm sendo elaborados a partir da individuais ou competitivas, em que possam man-
psicologia da aprendizagem adulta. ter suas próprias idéias.
Assim sendo, mostra-se necessário conside- Paralelamente ao desenvolvimento das dife-
rarmos os professores como sujeitos cuja ativida- rentes teorias da aprendizagem adulta, têm sido ela-
de profissional os leva a envolver-se em situações boradas diversas teorias que se aproximam do es-
formais de aprendizagem. E é importante levar em tudo das pessoas adultas. As etapas do desenvolvi-
conta esse aspecto, na medida em que, como afir- mento cognitivo centram-se nos aspectos cognitivos
ma Tiezzi (1992), e emocionais que distinguem cada etapa do desen-
volvimento. Descrevem as transformações produ-
reconhecer que os professores são sujeitos que apren-
zidas nas formas de construir e dar sentido às ex-
dem, em lugar de meros implantadores ou obstáculos
periências por parte dos adultos. Para estes, a ma-
para a mudança, exige que a pesquisa sobre o desen-
turidade é um processo na direção de um tipo de
volvimento profissional continue a pesquisar as for-
pensamento mais universal e mais capaz de abor-
mas pelas quais os professores aprendem novas for-
dar relações abstratas.
mas de pensar o ensino e a aprendizagem dos conteú-
Tanto as teorias sobre o ciclo vital das pessoas
dos, bem como as condições que facilitam a aprendi-
adultas, a que nos referiremos mais adiante, como
zagem dos professores (p. 19).
as do desenvolvimento cognitivo proporcionam
Em primeiro lugar, e do mesmo modo que se uma informação imprescindível para explicar e
vem investigando sobre diferentes estilos de apren- compreender melhor as necessidades dos professo-
dizagem ou, ainda, estilos cognitivos dos estudan- res em cada uma das diferentes etapas de seu desen-
tes, podemos referir-nos a estilos de aprendizagem volvimento. Servirão também de fundamento quan-
das pessoas adultas. Assim, Korthagen (1988) clas- do propusermos o conceito de trajetória formativa
sificou os professores de sua pesquisa em dois tipos dos professores para nos referirmos à relação ne-
de orientações de aprendizagem: em primeiro lugar, cessária que se deve estabelecer entre as demandas

64 Set/Out/Nov/Dez 1998 N º 9
Pesquisa sobre a formação de professores

de cada uma das diferentes etapas pelas quais pas- Talvez o trabalho mais difundido nos últimos
sam os professores e as ofertas formativas adequa- anos relativo ao ciclo vital dos professores seja a
das a essas necessidades. pesquisa realizada na Suíça por Huberman (1989),
Têm sido analisadas as diferentes contribui- mediante questionários e entrevistas com 160 pro-
ções realizadas por diversos autores relativamente fessores do ensino secundário. Este trabalho preten-
às etapas do desenvolvimento das pessoas adultas. de superar a aparente linearidade das fases identi-
Nessa linha, entende-se que o desenvolvimento é um ficadas por Sikes.
processo que não é estático nem uniforme, mas sim A primeira etapa identificada por Huberman
caracterizado por uma mudança constante e, por é a entrada na carreira, que inclui as fases de sobre-
isso, os modelos teóricos devem centrar-se na des- vivência e de descobrimento. A sobrevivência tra-
crição e na explicação da natureza das mudanças e duz-se no “choque com a realidade”: a preocupa-
dos processos de mudança das pessoas adultas. ção consigo mesmo, as diferenças entre os ideais e
Uma via complementar para compreender a a realidade. O descobrimento traduz o entusiasmo
evolução das pessoas adultas, em particular dos pro- do começo, a experimentação, o orgulho de ter a
fessores, são os estudos que pretenderam estabele- própria classe, os alunos, de fazer parte de um cor-
cer conexões entre as idades e ciclos vitais dos pro- po profissional. A experiência de entrada, segundo
fessores e suas características pessoais e profissio- Huberman, pode ser vivida, segundo os professo-
nais. Nesse sentido, as diversas pesquisas realizadas, res, como fácil ou difícil. Os que informam que é
como indica Sikes (1985), têm mostrado que “di- uma etapa fácil mantêm relações positivas com os
ferentes experiências, atitudes, percepções, expec- estudantes, considerável senso de domínio do en-
tativas, satisfações, frustrações, preocupações etc. sino e mantêm o entusiasmo inicial. Os professo-
parecem estar relacionadas com diferentes fases da res que informam que é uma situação negativa as-
vida dos professores e de sua carreira” (p. 29). As sociam-na a uma carga docente excessiva, à ansie-
pesquisas sobre o ciclo vital dos professores su- dade, a dificuldades com os estudantes, a grande
põem, portanto, que existem diferentes etapas na investimento de tempo, ao sentimento de isolamen-
vida pessoal e profissional que influem sobre o pro- to etc. Isso é algo que constatamos em nosso estu-
fessor como pessoa. Não obstante, não se deve en- do sobre o processo de socialização de professores
tender que cada uma das etapas ou fases, de que a principiantes (Marcelo, 1991).
seguir trataremos, são de “cumprimento obrigató- Entre os quatro e seis anos de experiência do-
rio”. Há influências pessoais, profissionais e con- cente, produz-se a fase de estabilização. Freqüen-
textuais que influem sobre os professores. A isso se temente ela coincide com a obtenção de um cargo
refere Huberman ao afirmar que efetivo como professor (ser aprovado em oposicio-
nes)1 e com o estabelecimento de um compromis-
o desenvolvimento de uma carreira é, pois, um pro-
so deliberado com a profissão. Esta etapa caracte-
cesso, não uma série de acontecimentos. Para alguns,
riza-se por um maior sentimento de facilidade no
esse processo pode parecer linear mas, para outros, há
desenvolvimento das classes, domínio de um reper-
oscilações, regressões, becos sem saída, declives, des-
tório básico de técnicas instrucionais, assim como
continuidades. O fato de encontrar seqüências-tipo
de ser capaz de selecionar métodos e materiais apro-
não deveria ocultar o fato de que há pessoas que jamais
priados em função dos interesses dos alunos. Os
deixam de explorar, ou que jamais chegam a estabili-
professores nesta etapa atuam de forma mais inde-
zar-se, ou que se desestabilizam por motivos de ordem
psicológica (tomada de consciência, mudança de in-
teresses, mudança de valores) ou externas (acidentes,
1 Na Espanha, para efetivar-se como professor, deve-
mudanças políticas, crises econômicas) (p. 142).
se passar por um exame chamado oposición. (N. E.)

Revista Brasileira de Educação 65


Carlos Marcelo

pendente e geralmente se sentem razoavelmente bem ções. Os de um segundo grupo, no entanto, se imo-
integrados com os colegas e começam a pensar na bilizam, tornam-se amargurados e é pouco prová-
sua promoção. vel que se interessem pelo próprio desenvolvimento
A terceira fase denomina-se experimentação profissional. É a fase chamada conservadorismo:
ou diversificação. É uma fase que não é igual para tem a ver com a atitude, de alguns professores entre
todos os professores. Para alguns deles, suas ener- 50 e 60 anos, de queixa sistemática contra tudo: os
gias se canalizam principalmente na melhora de sua colegas, os alunos, o sistema. É uma queixa não cons-
capacidade como docente: diversificam métodos de trutiva e, pois, conservadora (Huberman, 1989).
ensino, experimentam novas práticas e freqüente- A última etapa identificada por Huberman é
mente buscam fora da classe um estímulo profis- a preparação para a aposentadoria. Encontram-se
sional. Outro grupo de professores centram seus es- três padrões de reação diante dessa etapa: uma é
forços na busca da promoção profissional pelo de- um enfoque positivo, e supõe um interesse em es-
sempenho de funções administrativas. Um tercei- pecializar-se ainda mais, preocupando-se mais com
ro grupo de professores caracteriza-se por ir, pou- a aprendizagem dos alunos, trabalhando com os
co a pouco, diminuindo seus compromissos profis- colegas com quem se dá melhor. Um segundo pa-
sionais, abandonando alguns a docência ou dedi- drão é o “defensivo”, que, sendo semelhante ao
cando-se paralelamente a alguma outra coisa. Para anterior, mostra menos otimismo e uma atitude
esses professores, esta fase supõe uma reformulação, menos generosa relativamente às experiências pas-
cujas características podem ir de um ligeiro senti- sadas. Finalmente, Huberman encontra os “desen-
mento de rotina a uma crise existencial real em re- cantados”, pessoas que adotam padrões de desen-
lação à continuação na carreira (Huberman, 1988). canto com respeito às experiências passadas, estão
A quarta etapa representa a busca de uma si- cansadas e podem ser uma frustração para os pro-
tuação profissional estável, e desenvolve-se entre os fessores mais moços.
40 e os 50-55 anos. Este é um período que pode ser Juntamente com as pesquisas que investigaram
de mudança mais ou menos traumática para os pro- os processos de mudança, aprendizagem e desenvol-
fessores, que freqüentemente se questionam sobre vimento dos professores, têm sido realizadas pes-
a própria eficácia como docentes. Influi também o quisas sobre os processos de desenvolvimento pro-
fato de estarem rodeados de gente mais jovem, tanto fissional. Um desses processos é o de diagnóstico de
alunos (que cada vez chegam mais jovens) como necessidades. As necessidades formativas dos pro-
seus próprios colegas. Há dois grupos de professo- fessores foram definidas como “aqueles desejos,
res: o primeiro caracteriza-se pela serenidade e dis- problemas, carências e deficiências percebidas pelos
tanciamento afetivo. Trata-se, como assinala Leith- professores no desenvolvimento do ensino” (Mon-
wood (1992), mais de um estado de ânimo em que tero, 1987, p. 10). Dessa perspectiva, representam
os professores se sentem menos enérgicos, até mes- autopercepções individuais relativas a dificuldades,
mo menos capacitados, porém mais relaxados, me- problemas, identificados de forma individual ou
nos preocupados com os problemas cotidianos da coletiva. Por outro lado, Blair e Lange (1990) pro-
classe. Vai-se produzindo, também, um distancia- põem que uma necessidade “define-se pela discre-
mento afetivo com relação aos alunos, provocado pância entre o que é (a prática habitual) e o que
principalmente porque estes vêem o professor mais deveria ser (a prática desejada). Portanto, as neces-
como um pai do que como um igual. Esses são pro- sidades devem ser levadas em conta em função de
fessores que deixam de preocupar-se com a promo- metas especificadas” (p. 146). Dessa perspectiva, o
ção profissional e se preocupam mais em ter prazer critério de referência da necessidade não é tanto
com o ensino. Esses professores convertem-se na co- interior (autopercepção), como exterior, sobre a
luna vertebral da escola, os guardiães de suas tradi- base das metas identificadas pelo sistema.

66 Set/Out/Nov/Dez 1998 N º 9
Pesquisa sobre a formação de professores

As estratégias utilizadas para o diagnóstico de 1. O que o professor pensa sobre o ensino de-
necessidades proporcionam-nos, em princípio, uma termina o que o professor faz quando ensina.
informação importante quanto ao modelo de desen-
2. Quase todos os professores podem aplicar
volvimento profissional pressuposto pela instância
uma informação que seja útil para suas classes, quando
responsável por esse diagnóstico. O procedimento
o treinamento inclui quatro fatores: a) apresentação
mais freqüentemente utilizado tem sido o questio-
da teoria; b) demonstração da nova estratégia; c) prá-
nário. Em nosso país temos alguns exemplos da
tica inicial no seminário; d) retorno imediato.
aplicação dessa metodologia para detectar as ne-
cessidades de um coletivo amplo de professores. 3. É provável que os professores mantenham e
Sendo este o objetivo, os itens do questionário ge- utilizem estratégias e conceitos novos, caso recebam
ralmente fazem referência a conhecimento e destre- assessoria (de especialistas ou de colegas) enquanto
zas genéricas de ensino. Os trabalhos de Montero estiverem aplicando as novas idéias a suas classes.
Mesa na Universidade de Santiago são caracterís-
4. Os professores competentes com alta auto-
ticos dessa modalidade. Em sua pesquisa de 1987,
estima geralmente obtêm maiores benefícios nas ati-
com base num questionário (com duas dimensões:
vidades de desenvolvimento profissional.
conhecimentos sobre conteúdos e conhecimentos
psicopedagógicos), analisou as necessidades de 344 5. A flexibilidade de pensamento ajuda os pro-
centros de EGB da Galícia, descobrindo que as ne- fessores a aprender novas destrezas e incorporá-las a
cessidades mais importantes eram: o tratamento de seu repertório.
dificuldades de aprendizagem, motivação, técnicas
de pesquisa na aula etc. (Montero, 1987). Essa au- 6. Os estilos de ensino e os valores dos pro-

tora desenvolveu recentemente outra pesquisa, neste fessores não afetam a capacidade dos professores de

caso especificando as necessidades de formação dos aprender com uma atividade de desenvolvimento pro-

professores de ensino médio em função de sua es- fissional.

pecialidade acadêmica (Montero, 1990). 7. É necessário que os professores possuam um


Juntamente com os trabalhos de Montero, me- nível básico de conhecimento ou destreza relativamen-
recem menção os trabalhos de Fuentes et al. (1989) te a um novo enfoque a aprender para que os profes-
para analisar as necessidades formativas de profes- sores possam envolver-se.
sores de ciências sociais da Galícia; de Sánchez Fer-
nández et al. (1992) para analisar as necessidades 8. O entusiasmo inicial dos professores quando
formativas de professores em Melilla; de Montero participam de atividades de desenvolvimento profis-
Alcalde (1992) na mesma linha, em Sevilha, junta- sional serve para dar segurança aos organizadores,
mente com Balbás Ortega (1995), que analisou as mas afeta pouco a aprendizagem dos professores.
necessidades formativas de professores tutores em
9. Parece não importar onde e quando se reali-
aulas de integração.
za a atividade de formação, como também não inte-
Os processos de diagnóstico de necessidades
ressa o papel do formador. O que influi é o projeto
dão lugar ao planejamento de processos de forma-
do programa de formação.
ção. Nesse sentido, é de grande utilidade conhecer
os resultados da meta-análise das pesquisas sobre de- 10. Da mesma forma, o efeito da atividade de
senvolvimento profissional realizado por Showers, formação não depende de serem os professores os que
Joyce e Bennett (1987), encontrando aproximada- organizem e dirijam o programa, ainda que a coesão
mente duzentos e chegando a estabelecer as conclu- social e as metas compartilhadas facilitem a disposi-
sões que apresentamos a seguir: ção dos professores a colocar em prática novas idéias
(Showers, Joyce e Bennett, 1987).

Revista Brasileira de Educação 67


Carlos Marcelo

A pesquisa sobre formação de professores em dade e programa é muito influenciada por seu contex-
exercício centrou-se também na descrição e avalia- to. A energia e o interesse das escolas e dos professo-
ção da qualidade dos processos formativos desenvol- res aumenta ou diminui os efeitos da atividade de for-
vidos. Neste sentido, são de especial importância as mação. Terceiro, as atividades de desenvolvimento
palavras de Joyce e Showers quando afirmam que: profissional têm como meta última influir na apren-
dizagem dos alunos a partir de uma cadeia de fenôme-
Projetar a avaliação de programas de desenvol- nos [...] Deve-se estudar a seqüência completa. Quarto,
vimento profissional é difícil pelas razões que se se- a medida de muitas das variáveis apresenta dificulda-
guem. Primeiro, é claro, o sistema é amplo e compli- des técnicas. Para informar sobre o desenvolvimento
cado. Segundo, a forma como se executa cada ativi- de uma atividade de formação exige-se a coleta de

Gráfico 1

MODELOS DE DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Cursos de formação Autônomo

Investigação Baseado na reflexão


Apoio profissional e supervisão

Desenvolvimento curricular e
formação em centros

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL


Objetivos e metas
Conteúdos
Processos de formação: estratégias e componentes
Participantes: formadores
Condições de desenvolvimento
Ambiente
Recursos e materiais

OS PROFESSORES COMO SUJEITOS:


EFEITOS EM: A ESCOLA:
(a curto e médio prazo)
• Conhecimentos • Gestão escolar
• Destrezas, habilidades • Clima escolar
• Preocupações • Liderança
• Níveis de desenvolvimento reflexivo • Cultura escolar
A CLASSE:
• Concepções, teorias implícitas • Coordenação
• Estrutura SOCIAL:
• Implicação profissional • Implicação, comunidade
clima relacional, comunicação, atividades
• Metas compartilhadas
• Estrutura ACADÊMICA:
• Participação
tarefas
• Tomada de decisões
• Estrutura DOCENTE:
• Micropolítica
métodos, estratégias

OS ALUNOS:
• Resultados cognitivos: fatos, conceitos, destrezas de pensamento, hábitos de estudo
• Resultados sociais: destrezas relacionais, comunicação
• Resultados pessoais: autoconceito, satisfação, integração

68 Set/Out/Nov/Dez 1998 N º 9
Pesquisa sobre a formação de professores

dados por parte de observadores treinados [...] Quinto, conhecer os efeitos que se produzem nos próprios
as limitações orçamentárias quase sempre produzem professores, em seu ensino, na escola e nos alunos.
a necessidade de estudar amostras em lugar da popu- Nesta linha, gostaríamos de comentar o últi-
lação total. Sexto, as boas avaliações são realizadas mo trabalho de pesquisa em que temos trabalhado,
de maneira oposta ao que habitualmente se entende centrado na análise e na avaliação de projetos de
por “avaliações”. A prática mais comum consiste em inovação educativa. Para tanto, elaboramos um
utilizar questionários nos quais se pede aos participan- modelo de processo (Gráfico 2) para a análise da
tes, e freqüentemente ao formador e aos organizado- inovação educativa, que parte da análise do con-
res, que avaliem a atividade (Joyce e Showers, 1988, texto onde surgem os projetos de inovação, o tipo
p. 111-112). de centro, de professorado, as experiências ante-
riores em outras inovações ou atividades formati-
A avaliação das atividades de desenvolvimento vas, a participação dos pais etc. Em segundo lugar,
profissional deveria contemplar tanto os processos é importante conhecer de que modo se inicia o
que envolve, quanto os resultados que atinge. Nes- projeto, quem decide o tema, como se decide, qual
te sentido, elaboramos um gráfico (Gráfico 1) que o nível de participação dos professores, como se
inclui, em primeiro lugar, os diferentes modelos de constrói o projeto etc. Em terceiro lugar, e já com
desenvolvimento profissional: autônomo, baseado o projeto de inovação aprovado, parece-nos im-
na reflexão, inovação e formação centrada na esco- prescindível conhecer o próprio desenvolvimento
la, pesquisa e cursos de formação. Em relação a es- do projeto e o ciclo de transformações que nele se
ses modelos, seleciona-se uma série de variáveis a produzem: que atividades são realizadas, como se
considerar, quais sejam os objetivos, conteúdos, es- incorporam às aulas as idéias do projeto, como
tratégias, ambientes etc. Por último, parece neces- funciona o grupo, qual sua incidência na vida do
sário incorporar nas avaliações de atividades de for- centro, qual o papel da equipe diretiva etc. (Mar-
mação de professores uma atenção especial para celo et al., 1995).

Gráfico 2

CONTEXTUALIZAÇÃO

INÍCIO DO PROJETO

DESENVOLVIMENTO

CICLO DE TRANSFORMAÇÕES

ASSESSORAMENTO RESULTADOS

Revista Brasileira de Educação 69


Carlos Marcelo

Elaboramos Questionários sobre Projetos de > Qual a influência dos estilos de apren-
Inovação Educativa (Versão Grupal e Individual) dizagem dos professores?
aos quais responderam 81 projetos de inovação
> Que relações existem entre o desenvol-
educativa e 455 professores respectivamente. Esses
vimento pessoal, profissional e social dos pro-
questionários incluem perguntas fechadas e aber-
fessores?
tas que foram analisadas qualitativa e quantitati-
vamente. A partir da análise dos questionários pro- > Que ambientes favorecem a aprendiza-
cedemos à seleção de sete estudos de caso corres- gem dos professores?
pondentes a diferentes representantes de uma tipo-
logia de projetos de inovação, fruto da diferente 2. Sobre os professores e o desenvolvimento do
combinação de variáveis que consideramos relevan- currículo
tes e críticas: número de professores participantes
> Da pesquisa sobre o professor como in-
do projeto, anos de antigüidade do projeto, atitu-
divíduo à investigação de processos grupais: do
de da equipe diretiva, estilo de coordenação do pro-
Departamento e do Centro Educativo como
jeto, ter ou não introduzido mudanças em nível de
ambientes de formação.
centro e grau de satisfação com estas mudanças,
haver ou não introduzido mudanças em nível de > Que processos e modelos de planeja-
classe e grau de satisfação com essas mudanças. A mento estão sendo postos em prática na ela-
partir dessas variáveis, procedemos, mediante aná- boração de Projetos Curriculares?
lise fatorial de correspondências múltiplas, à repre-
> Como se transformam os conteúdos
sentação de quatro estruturogramas que nos per-
curriculares em propostas de ensino?
mitiram identificar os agrupamentos mais repre-
sentativos. A partir daí, selecionamos os casos ob- > Como se selecionam e se ordenam con-
jeto de estudo e os abordamos de uma perspectiva teúdos nas áreas específicas?
qualitativa.
O que apresentamos neste artigo foi uma sín- 3. Sobre os professores e o desenvolvimento da
tese reduzida de temas importantes de pesquisa so- escola
bre formação de professores. Para finalizar, gosta- > Em que medida se produzem mudan-
ria de fazer uma proposta temática e metodológica ças na cultura escolar como conseqüência/con-
que oriente e direcione futuras pesquisas relativas dição de atividades de formação?
à formação de professores. Utilizei o formato de
> Que influência tem a liderança orga-
perguntas sobre alguns temas que parecem essen-
nizativa no desenvolvimento dos processos de
ciais, que são:
mudança?

1. Sobre os professores e os processos de mu- > Que modalidades de formação de pro-


dança: como aprendem os professores? fessores têm maior capacidade de impacto so-
bre a aprendizagem dos professores?
> Quais as influências das etapas do de-
senvolvimento cognitivo nos processos de mu- > Quais as características das escolas que
dança? favorecem a implantação de inovações?

> As trajetórias profissionais podem ser-


4. Sobre os próprios processos de formação
vir para analisar a evolução em conhecimen-
tos, destrezas e atitudes de professores? > Como se diagnosticam necessidades de
formação?

70 Set/Out/Nov/Dez 1998 N º 9
Pesquisa sobre a formação de professores

> Como se planejam atividades de forma- conveniência. É necessário que se utilizem ou-
ção de professores? que elementos/estratégias tros critérios no momento de justificar a sele-
contêm? que modelos assumem? ção dos casos a estudar.

> Que tipo de interações se produzem em > Do estudo de caso pontual ao estudo
situações de formação de professores? de caso longitudinal: parece necessário estudar
os processos em evolução, descrevendo as mu-
> Que ambientes favorecem a aprendiza-
danças que se produzem ao longo do tempo,
gem dos professores?
entendendo que esses processos são tanto pes-
> Que estratégias formativas são utiliza- soais quanto institucionais.
das? Em que medida favorecem/propiciam a
> Da triangulação metodológica à trian-
reflexão?
gulação na análise dos dados: parece necessá-
> Que modalidades de formação facili- rio que a análise dos dados incorpore esforços
tam a transferência de aprendizagem? de integração de evidências procedentes de di-
ferentes fontes.
5. Sobre as relações entre as instituições de
> Do uso exclusivo de dados qualitativos
formação inicial e as escolas
à combinação inteligente de dados quali/quan-
> Quais as condições necessárias para es- titativos.
tabelecer programas de colaboração?
> A necessidade de assegurar a fidedig-
> Qual pode ser o conteúdo desses pro- nidade das interpretações: parece necessário
gramas de colaboração? que os pesquisadores levem ao máximo as pre-
cauções ao analisar e interpretar os resultados,
> Como se podem envolver os professo-
dando importância à transparência do proces-
res nos processos de produção e utilização de
so de análise dos dados.
conhecimento?
> Da análise qualitativa por vinhetas à re-
6. Sobre as novas figuras formativas presentação gráfica dos dados: parece neces-
sário buscar formas de representar e interpre-
> Que estilos de assessoria são utilizados?
tar os dados qualitativos de forma criativa e
> Que processos de comunicação do co- sugestiva.
nhecimento conduzem os processos?

> Que necessidades de formação?

> Qual o perfil do assessor?


CARLOS MARCELO é catedrático do Departamen-
Juntamente com essa lista de questões de pes- to de Didática da Faculdade de Ciências da Educação da
Universidade de Sevilha, especializado em formação de pro-
quisa parece-nos necessário fazer algumas propos-
fessores. Seus trabalhos mais recentes fornecem uma concei-
tas metodológicas: tualização da formação de professores, como em Formación
del profesorado para el cambio educativo (EUB, 1994), e a
> Do estudo de caso por conveniência ao
inovação como formação e o papel dos formadores de for-
estudo de caso de máxima variação/representa-
madores, como em Innovación, asesoramiento y desarrollo
tividade: parece conveniente superar a debili- curricular (Madri: CIDE, 1996) e, mais recentemente, Ase-
dade que possuem muitos projetos de pesqui- soramiento curricular y organizativo en educación (Barce-
sa por selecionar casos por proximidade ou lona: Ariel, 1997).

Revista Brasileira de Educação 71


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