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E quem são, então, as entidades que levam a cabo esta tarefa de aplicação normativa?
Quem são os actores do Direito Tributário adjectivo? São eles a Administração
tributária (entidade pública administrativa), os Tribunais Tributários (entidades
públicas jurisdicionais) e também entidades privadas (v.g., sujeitos passivos de
imposto).
Nota: Por tributo entendemos toda a prestação coactiva com finalidades financeiras.
Os tributos abrangem, então, os impostos, as taxas e as contribuições especiais – v.
art. 4º LGT. Quando nos referimos a “tributo”, estamos a abarcar todas estas
realidades, ao contrário do que acontece quando nos referimos apenas a “fiscal” (uma
vez que neste caso, apenas nos referimos aos impostos).
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As disposições legais referidas nesta sebenta estão de acordo com a 3ª Edição das “Licões de
Procedimento e Processo Tributário”, de Joaquim Freitas da Rocha. Não obstante, alerta-se para o facto
de que o Procedimento e Processo Tributário é uma realidade dinâmica, regularmente sujeita a
alterações legislativas.
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“Procedimento e Processo Tributário” e não “Procedimento e Processo Fiscal”, ou
falarmos em “Tribunais Tributários” e não em “Tribunais Fiscais” – estas realidades
dizem, pois, respeito a todos os tributos, e não apenas aos impostos.
Vimos que o Direito Tributário adjectivo tem por referência a aplicação de normas
tributárias aos casos em concreto, e que tal aplicação terá como principais actores a
Administração tributária, os Tribunais tributários e os sujeitos privados.
O conjunto dos actos levados a cabo pela Administração tributária e que procedem à
aplicação das normas tributárias ao caso concreto tem o nome de actividade
administrativa – e será desenvolvida no ponto 3 da Parte Introdutória.
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manutenção da contabilidade organizada, a cobrança de IRS ou IRC por retenção na
fonte, etc.
Naturalmente que a prática de todos estes actos não se faz de uma forma súbita ou
instantânea, antes pressupondo um complexo de passos, uma série gradual de
operações, de onde resulta o carácter eminentemente faseado ou procedimental da
actividade tributária (isto mesmo confirmaremos ao estudar as características do
procedimento tributário).
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efeito na esfera jurídica do contribuinte), e os actos tributários negativos (actos
impeditivos da tributação, como é o caso de reconhecimento de um benefício fiscal
(Cf. art. 65.º e 66.º do CPPT);
4. A justiça tributária
O processo judicial tributário tem por função a tutela plena e efectiva dos direitos e
interesses legalmente protegidos (art. 96º do CPPT). Portanto, o edifício jurisdicional é
uma das traves mestras do edifício garantístico tributário, assentando, para tal, nos
seguintes princípios:
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a) Princípio da Constitucionalidade
Apontam neste sentido os artigos 203.º da CRP e 2.º do ETAF que dispõem que “os
tribunais da jurisdição administrativa e fiscal são independentes e apenas estão
sujeitos à lei”. Daqui resulta:
De acordo com os art. 202.º 1 da CRP e 1.º, n.º 1 do ETAF, os tribunais da jurisdição
administrativa e fiscal são os órgãos de soberania a quem está reservada a
competência para administrar a justiça em nome do povo e dirimir os litígios
emergentes das relações jurídicas administrativas.
A Constituição garante a todos uma tutela jurisdicional efectiva (art. 268.º, n.º 4 da
CRP), i.e., o acesso aos tribunais, à informação e consulta jurídicas, ao patrocínio
judiciário, a uma decisão jurídica em tempo razoável e a um processo equitativo. Para
tal, estão previstos meios de protecção dos direitos e interesses dos contribuintes no
âmbito do procedimento e processo tributário, como por exemplo os meios previstos
nos artigos 145º e 147º do CPPT.
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5. As garantias dos contribuintes
- instrumentos graciosos, que são aqueles que decorrem perante órgãos de natureza
administrativa garantias graciosas/administrativas;
Vamos analisar de uma forma sumária e introdutória cada uma destes tipos de
garantias, sendo certo que, em termos esquemáticos, elas se subdividem da seguinte
forma:
Reclamação
Graciosa
Impugnatórias
Recurso
Hierárquico
Administrativas
Direito à
Informação
Não
Impugnatórias
Direito à
Garantias
Participação
Direito de
Acção
Não Direito de
Administrativas Oposição
Direito de
Recurso
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a) Garantias administrativas não impugnatórias
i) O direito à informação
O art. 268º, n.º 1 da CRP prevê que “os cidadãos têm o direito de ser informados (…)
sobre o andamento dos processos em que sejam directamente interessados, bem
como o de conhecer as resoluções definitivas que sobre eles forem tomadas”; o direito
à informação é, pois, um pilar essencial do edifício da salvaguarda das posições
subjectivas dos contribuintes. Foi, então, consagrado um amplo conjunto de meios que
visam efectivar esse direito, de onde constam:
— o direito à comunicação das denúncias dolosas não confirmadas (arts. 67.°, n.° l,
alínea b), e 70.°, n.° 3, da LGT), para efeitos de eventual processo criminal;
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Nalguns casos, a participação do contribuinte é absolutamente obrigatória, como, por
exemplo, nos casos de aplicação de "medidas anti-abuso" (art. 63.°, n.° 4, do CPPT) ou
de revisão da matéria tributável fixada por métodos indirectos (art. 92.°, n.° l, da LGT).
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Note-se que apesar de estes critérios apontarem as diferenças “tendenciais” entre as duas figuras, não
se tratam de critérios absolutos, pois admitem excepções – cfr., por exemplo, o art. 75º e o art. 76º, n.º
1, ambos do CPPT). Assim, existem reclamações que são interpostas para órgãos de hierarquia superior
e recursos que se debruçam sobre a legalidade do acto impugnado. Vamos desenvolver as duas figuras
na parte dedicada aos procedimentos tributários em especial.
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reclamação consistir no pedido de sindicância de um determinado acto de natureza
administrativa junto da própria entidade que o praticou, enquanto o recurso consiste
num pedido de sindicância junto de uma entidade diferente daquela que praticou o
acto (designadamente, o superior hierárquico do autor do acto – e, daí, a designação
"recurso hierárquico").
Direito de reclamação
- situações de impugnação por erro nos pagamentos por conta (art. 133.°, n.os 2 e 3, do
CPPT);
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competência. Isto é assim devido ao princípio do duplo grau de decisão, que impõe
que a mesma pretensão do contribuinte não possa ser apreciada mais de duas vezes
por dois órgãos integrando a mesma Administração tributária.
O direito de acção judicial – que, em princípio, é irrenunciável (assim, art. 96.°, n.° l, da
LGT) - consiste na possibilidade de propor, junto de um tribunal, uma acção destinada
a proteger determinada posição jurídica resultante de normas substantivas. Segundo o
art. 268.°, n.° 4 da Constituição, "é garantido aos interessados recurso contencioso,
com fundamento em ilegalidade, contra quaisquer actos administrativos,
independentemente da sua forma, que lesem os seus direitos ou interesses
legalmente protegidos."
b) O direito de oposição
É o caso, por exemplo, da oposição à execução fiscal. Após a execução ter sido
instaurada pelo órgão competente da Administração tributária, o executado (v. g.,
sujeito passivo de imposto ou responsáveis subsidiários) é notificado para, entre
outras coisas, contestar, respondendo ao "ataque" da Administração.
O estudo aprofundado desta fase processual será efectuado mais à frente, mas fica já
salientado um aspecto: na fase da oposição à execução, em princípio, não é legítimo
invocar qualquer ilegalidade respeitante à liquidação da dívida exequenda.
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c) O direito de recurso (jurisdicional)
Este recurso (que também é, em princípio, irrenunciável) deve ser visto como um meio
de impugnação junto dos tribunais superiores das decisões dos tribunais inferiores
com o objectivo de modificar a decisão recorrida. Distingue-se, pois:
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PARTE I - O PROCEDIMENTO TRIBUTÁRIO
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Não obstante, veja-se o art. 54º, n.º 1 da LGT, relativamente ao procedimento.
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a referir os actos que são compreendidos no procedimento (art. 44º do CPPT) e no
processo (art. 97º do CPPT), e a referir-se às finalidades deste último (art. 96º CPPT),
quase o mesmo fazendo a LGT.
No entanto, também este critério merece a nossa crítica uma vez que existem
procedimentos em que há um fundo litigioso (é o caso dos procedimentos
impugnatórios como a reclamação graciosa e o recurso hierárquico) e existem
processos jurisdicionais sem fundo litigioso (é, por exemplo, o caso do divórcio por
mútuo consentimento).
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3. “Critério da Vontade Exteriorizada”. O procedimento é uma forma típica de exte-
riorização da vontade dos poderes legislativo e administrativo, enquanto o processo é
a forma típica de exteriorização de vontade do poder jurisdicional. Este é o critério que
verdadeiramente distingue o procedimento do processo tributário.
Fase
Fase da Fase Fase
Integrativa
Iniciativa Instrutória Decisória
de Eficácia
a) Fase da iniciativa
2. Podemos estar perante uma iniciativa oficiosa ou não oficiosa. A primeira é aquela
cuja decisão de iniciar não está na disponibilidade do sujeito propulsor (v.g., quando
estão em causa interesses públicos de superior relevo) enquanto a segunda está
subordinada à vontade do sujeito propulsor. O procedimento de aplicação de métodos
indirectos de tributação constitui um exemplo de uma iniciativa oficiosa.
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3. Relativamente aos procedimentos de iniciativa administrativa não oficiosa, podemos
estar perante uma iniciativa provocada ou não provocada, consoante a iniciativa seja
ou não provocada pelo sujeito propulsor. Nos procedimentos de iniciativa provocada,
a iniciativa é efectivada mediante pedidos, petições ou propostas, como acontece por
ex. nas situações de revisão dos actos tributários por iniciativa da Administração mas a
pedido do contribuinte (cfr. art. 78.° da LGT).
Oficiosa
Administrativa
Provocada
Não Oficiosa
Iniciativa Não
Provocada
Não-
Administrativa Não Oficiosa
b) Fase instrutória
"A direcção da instrução cabe, salvo disposição legal em sentido diferente, ao órgão da
Administração tributária competente para a decisão" (art. 71.° da LGT). Mas se "a
instrução for realizada por órgão diferente do competente para a decisão, cabe ao
órgão instrutor a elaboração de um relatório definindo o conteúdo e objecto do
procedimento instrutório e contendo uma proposta de decisão, cujas conclusões são
obrigatoriamente notificadas aos interessados em conjunto com esta" (n.° 2, do artigo
71º da LGT).
"O órgão instrutor pode utilizar para o conhecimento dos factos necessários à decisão
do procedimento todos os meios de prova admitidos em direito" (art. 72.° da LGT, que
consagra o “princípio da plenitude probatória”), "podendo designadamente juntar
actas e documentos, tomar declarações de qualquer natureza do contribuinte ou
outras pessoas e promover a realização de perícias ou inspecções oculares" (art. 50.°
do CPPT). Nesta fase, poderão então ser exibidos os documentos, actos de inspecção,
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visitas a locais determinados, emissão de actos consultivos como pareceres,
informações, etc., além de que poderão intervir órgãos administrativos, peritos,
contribuintes, avaliadores, testemunhas, etc. É, pois, uma fase de intervenções
múltiplas e de prática de actos de natureza diversa.
Merece aqui especial destaque a regra prevista no n.° l do art. 74.° da LGT, nos termos
da qual "o ónus da prova dos factos constitutivos dos direitos da Administração
tributária ou dos contribuintes recai sobre quem os invoque". Deve-se ainda ter
presente que:
Esta fase (e em rigor, todo o procedimento) deverá estar concluída o quanto antes, de
acordo com o princípio da celeridade. Assim, o procedimento de iniciativa do
contribuinte será arquivado obrigatoriamente se "ficar parado mais de 90 dias por
motivo a este imputável", devendo a Administração tributária, até 15 dias antes do
termo desse prazo, notificar o contribuinte, por carta registada, e informá-lo sobre os
efeitos do incumprimento dos seus deveres de cooperação (art. 53.° do CPPT).
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No entanto, refira-se que essa presunção cessa, nos termos do n.° 2 do mesmo artigo quando:
iii) a matéria tributável do sujeito passivo se afastar significativamente para menos, sem razão
justificada, dos indicadores objectivos da actividade de base técnico-científica previstos na presente lei."
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c) Fase decisória
Nesta fase, o órgão competente manifesta uma vontade livre (sem coações),
esclarecida (sem erros) e ponderada (que levou em atenção os elementos de prova
produzidos na fase anterior). Caso contrário, o acto tributário correspondente terá um
vício e poderá ser anulado.
- tiver sido ultrapassado o prazo legal de revisão do acto tributário (art. 78.° da LGT).
A decisão será expressa quando for feita por meio directo de manifestação da vontade
(palavras, escrito, etc.). Resulta, pois, de uma vontade manifestada inequivocamente
num dado sentido.
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A decisão será tácita quando não há uma manifestação de vontade expressa por parte
da Administração tributária, mas apenas o decurso do tempo; a decisão será, então,
tácita quando a decisão se deduz de factos que, com toda a probabilidade, a revelam.
Assim, nas situações em que o órgão decisor, estando obrigado a decidir, nada diz,
deve ser atribuído ao silêncio um valor declarativo tácito.
A decisão tácita pode dar lugar a uma manifestação de vontade positiva (deferimento
tácito) ou negativa (indeferimento tácito). Pode-se encontrar na lei procedimental
tributária casos quer de indeferimento tácito, quer de deferimento tácito.
Contudo, existem casos de deferimento tácito, que apenas serão de admitir quando a
lei expressamente os prever. Vejamos alguns exemplos:
ii) A reclamação dos pagamentos por conta. Estes pagamentos podem ser objecto de
reclamação graciosa quando o sujeito passivo entenda que são indevidos (art. 133.°,
n.os l, 2 e 4 do CPPT). Decorridos 90 dias sem que a reclamação tenha sido decidida,
considerar-se-á tacitamente deferida;
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Expressa
Indeferimento
Tácito
Regra (Art. 57º,
Decisão n.º 1 e 5 LGT) (V.
tb. 106º CPPT)
Uma vez proferida a decisão, torna-se necessário que essa decisão produza plena e
integralmente os seus efeitos, ou seja, que se torne plenamente eficaz. Isto é, em
princípio estamos perante uma decisão que existe e é válida, mas que ainda não está
apta a desencadear todos os seus efeitos jurídicos de uma forma completa – e é à
produção desses efeitos que se destina esta fase.
Diz-nos o art. 268º, n.º 3 CRP que “os actos administrativos estão sujeitos a notificação
aos interessados, na forma prevista na lei (…)”. Assim sendo, nos termos do art. 36.° do
CPPT "os actos em matéria tributária que afectem os direitos e interesses legítimos dos
contribuintes só produzem efeitos em relação a estes quando lhes sejam validamente
notificados", o que se conjuga com o art. 77.°, n.° 6, da LGT, segundo o qual "a eficácia
da decisão depende da notificação".
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No procedimento tributário, os actos integrativos de eficácia limitam-se,
essencialmente, à comunicação do teor do acto decisório ao interessado,
encontrando-se divididos em dois grandes grupos:
- notificação (art. 35.°, n.° l, do CPPT)5, que tem lugar quando o destinatário do acto
está individualizado;
- publicação6, que tem lugar quando o destinatário do acto ainda não está
individualizado.
5
Diferente da notificação é a citação — no âmbito do processo de execução fiscal — que se destina a
dar conhecimento ao executado de que foi proposta contra ele determinada execução ou a chamar a
esta, pela primeira vez, pessoa interessada.
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Um exemplo de tal publicação pode ser encontrado no art. 56.º do CPPT. a propósito das circulares
emanadas no âmbito do procedimento de orientações genéricas.
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Por sua vez, a LGT, no seu art. 8.°, n.° 2, alarga tal sujeição à lei às matérias
respeitantes à "regulamentação das figuras da substituição e responsabilidade
tributárias", "definição das obrigações acessórias", e às "regras de procedimento e
processo tributário".
Este princípio está previsto no art. 55º LGT, quando este art. refere que a
Administração tributária deve exercer as suas atribuições no respeito pelos princípios
da justiça e da igualdade.
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Note-se que o dever de cooperação no procedimento existe também para “os serviços,
estabelecimentos e organismos, ainda que personalizados, do Estado, das Regiões Autónomas e das
autarquias locais, as associações públicas, as empresas públicas ou de capital exclusivamente público, as
instituições particulares de solidariedade social e as pessoas colectivas de utilidade pública" – art. 49.°
do CPPT.
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A propósito do dever de prestação de esclarecimentos, o EBF prescreve no seu art. 8.° que "as pessoas
titulares do direito aos benefícios fiscais são obrigadas a declarar, no prazo de 30 dias, que cessou a
situação de facto ou de direito em que se baseava o benefício, salvo quando essa cessação for de
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Quando tal colaboração, sendo exigida ou exigível, não é prestada, desencadeia-se
uma série de consequências, nomeadamente:
— a perda de benefícios fiscais (art. 14.° n.° 2. da LGT e art. 12.°, n.° 2, e n.º 4 do EBF);
As questões jurídicas, litigiosas ou não, devem ser resolvidas em tempo útil (“Direito
que tarda não é verdadeiro Direito”). Este princípio exige que o procedimento seja
concluído num prazo razoável, o que comporta duas dimensões:
conhecimento oficioso". O art. 14.°, n.° 1 da LGT determina que "a atribuição de benefícios fiscais ou
outras vantagens de natureza social concedidas em função dos rendimentos do beneficiário ou do seu
agregado familiar depende (...) do conhecimento da situação tributária global do interessado".
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Esse prazo não é absoluto, pois existem situações em que um outro prazo pode ser previsto pelo
legislador. Cfr., por exemplo, o art. 66.°, n.° 5, do CPPT, nos termos do qual "os recursos hierárquicos
serão decididos no prazo máximo de 60 dias", ou o art. 92.°, n.° 2, da LGT. nos termos do qual o
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tributário não seja concluído no prazo referido de 6 meses, presume-se o
indeferimento da respectiva pretensão para efeitos de recurso hierárquico, recurso
contencioso ou impugnação judicial (indeferimento tácito)10); e
Os prazos referidos "são contínuos e contam-se nos termos do Código Civil" (art. 57.°,
n.° 3. da LGT). Os prazos suspendem-se no caso de a dilação do procedimento ser
imputável ao sujeito passivo por incumprimento dos seus deveres de cooperação (art.
57º, n.º 3 e n.º 4 da LGT).
procedimento de revisão da matéria tributável fixada por métodos indirectos "deve ser concluído no
prazo de 30 dias contados do seu início (...)". Cfr., ainda, art. 36.°, n.os 2 e 3, do RCPIT.
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Estão previstos, contudo, alguns casos de deferimento tácito - Cfr, por ex., o art. 64.°, n.° 3, do CPPT.
Esta matéria já foi estudada na fase decisória do procedimento tributário.
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apresentados, mas antes deve diligenciar no sentido de trazer para o procedimento
todos aqueles que lhe pareçam indispensáveis à descoberta da verdade material,
mesmo que desfavoráveis aos seus interesses de carácter patrimonial;
O princípio da participação dos destinatários dos actos nos procedimentos que lhes
dizem respeito tem em vista assegurar a sua co-responsabilização nas decisões
adoptadas11. A participação tem diversas dimensões jurídicas:
(ii) participação enquanto garantia dos contribuintes, que assume uma configuração
negativa ao impedir que os contribuintes sejam lesados por actuações administrativas;
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Cfr., por exemplo, o que refere a LGT acerca da participação dos contribuintes nos procedimentos de
avaliação indirecta (art. 82.º, n.º 3 da LGT) e de revisão da matéria tributável fixada por métodos
indirectos (art. 92.°, n.° 1 da LGT).
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3.6. O princípio da confidencialidade
Se por um lado, "os cidadãos têm (...) o direito de acesso aos arquivos e registos
administrativos" (art. 268º, n.º 2 da CRP), por outro, a todos é reconhecido o direito à
reserva da intimidade da vida privada e familiar (art. 26.° da CRP e art. 80.° do CC)12.
Assim sendo, quid iuris se alguém solicita à Administração tributária informações sobre
a situação de uma determinada pessoa perante o Fisco? Privilegiamos o direito à
informação ou a reserva da intimidade?
Ora, a solução passa pela compatibilização das duas soluções (como, aliás, resulta da
parte final do art. 268º, n.º 2 da CRP) mediante a figura jurídica do sigilo.
A violação do dever de sigilo é punida com pena de prisão ou multa (art. 91.° do RGIT).
- cooperação legal da Administração tributária com outras entidades públicas (v. g.,
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Este direito à reserva da intimidade da vida privada e familiar é ainda sustentado por outras garantias
constitucionais (como os direitos à inviolabilidade do domicílio e da correspondência e à protecção dos
dados informáticos).
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Do mesmo modo prescreve o art. 22.° do RCPIT que "o procedimento da inspecção tributária é
sigiloso, devendo os funcionários que nele intervenham guardar rigoroso sigilo sobre os factos relativos
à situação tributária do sujeito passivo ou de quaisquer outras entidades e outros elementos de
natureza pessoal ou confidencial de que tenham conhecimento no exercício ou por causa das suas
funções". Cfr. também o art. 127.° do CIRC.
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Ministério público, Procuradoria Geral da República, Assembleia da República,
ministérios, Ordem dos Advogados, etc. ...);
Uma última nota se impõe. Estivemos a abordar o dever de sigilo que impende sobre a
Administração tributária – sigilo fiscal! Por vezes, é a Administração que, por exemplo
no âmbito de um procedimento de inspecção tributária, tem de tem de pedir
informações a outras entidades (onde os bancos assumem especial relevo); ora, o
acesso a informação protegida pelo sigilo profissional, bancário ou qualquer outro
dever de sigilo legalmente regulado (sigilo extra-fiscal) depende, em regra, de
autorização judicial.
a) na fase da instrução,
b) na fase da decisão, esta deverá reflectir uma ponderação igualitária dos interesses
em causa.
Prescreve o art. 56.° da LGT que "a Administração tributária está obrigada a
pronunciar-se sobre todos os assuntos da sua competência que lhe sejam
apresentados por meio de reclamações, recursos, representações, exposições, queixas
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ou quaisquer outros meios previstos na lei pelos sujeitos passivos ou quem tiver
interesse legítimo". É natural que o interessado espere da parte da Administração uma
resposta em tempo útil.
Decisão
Dever de
Ponúncia
Resposta
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(ao contrário do que parecia resultar do disposto no art. 268º, n.º 3 da CRP; no
entanto, como o regime previsto na LGT é mais garantístico do que aquele que resulta
da própria CRP, deve a LGT sobrepor a sua solução neste concreto caso).
Essa fundamentação abrange quer o dever de motivação (i. é, a exposição dos motivos
e razões que conduziram à tomada daquela decisão, nomeadamente quando existirem
espaços discricionários), quer o dever de justificação (ou seja, a referência ordenada
aos pressupostos de facto e de direito que suportam essa mesma decisão).
- oficiosa, o que significa que ela não está dependente de pedido do interessado;
consiste num verdadeiro dever de agir dos órgãos administrativos tributários;
- clara, o que significa que a fundamentação não deve fazer apelo a demasiados
conceitos e expressões técnicas nem deverá conter obscuridades, ambiguidades ou
contradições;
- expressa, o que quer dizer que, em princípio, ela não poderá ser feita por remissão
para anteriores decisões ou pareceres. No entanto, face ao disposto na parte final do
n.º 1 do art. 77º da LGT admite-se que a fundamentação seja feita por remissão
quando essa remissão seja expressa.
Este princípio relaciona-se com a fase integrativa de eficácia. Segundo este princípio,
todos os actos administrativos e tributários devem ser publicitados, pelo que nenhuma
decisão do procedimento poderá produzir efeitos sem que o seu destinatário tenha,
ou possa ter, dela conhecimento.
O referido acto de publicidade pode consistir quer num acto geral (publicação), quer
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num acto individual (notificação).
De acordo com o art. 35.º do CPPT, a notificação é o acto pelo qual se leva um facto ao
conhecimento de uma pessoa e pode revestir a forma de notificação pessoal ou
notificação não pessoal (consoante, respectivamente, seja ou não feita de “viva voz”,
na própria pessoa do interessado). A notificação não pessoal, por seu lado, poderá ser
feita por meio de éditos (notificação edital) ou por via postal. Esquematicamente:
Pessoal
Notificação Edital
Não Pessoal
Postal
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No caso de um sujeito passivo de imposto, torna-se extremamente importante
conhecer o seu domicílio fiscal, cuja comunicação é obrigatória (art. 19.°, n.° 2, da
LGT), assim como a sua modificação, sendo esta absolutamente ineficaz se não for
devidamente comunicada (art. 19.°, n.° 3, da LGT e art. 43.°, n.° 2, do CPPT) – isto é, se
a modificação não for comunicada, essa modificação não produzirá efeitos em relação
à Administração tributária, não lhe sendo, portanto, oponível. Quanto aos sujeitos
passivos não residentes, existe uma obrigação de nomeação de um representante
residente em território nacional (art. 19.°, n.° 4, da LGT), consistindo a sua falta uma
contra-ordenação fiscal punível com coima (art. 124.° do RGIT).
Nos termos do art. 36º, n.º 1 do CPPT e do art. 77º, n.º 6 da LGT, a notificação tem um
efeito meramente declarativo (e não constitutivo); isto é, o acto tributário existe e é
válido, sendo que a notificação é uma condição de eficácia do mesmo (só com a
notificação é que o acto poderá começar a produzir efeitos jurídicos).
(i) Requisitos formais. Prendem-se, naturalmente, com a forma que deve revestir a
notificação, devendo ser aqui distinguidas três situações:
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Quanto às notificações em matéria tributária feitas a mandatários (v. g., advogados) e a pessoas
colectivas, cfr., respectivamente, arts. 40.º e 41.º do CPPT.
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for assinado pelo próprio. Se o aviso for assinado por terceiro presente no domicílio, a
notificação tem-se por efectuada na pessoa do notificando, presumindo-se que esse
terceiro lhe entregou a carta (art. 39.°, n.° 3, do CPPT)15;
— a liquidação de impostos periódicos – isto é, aqueles cujo facto constitutivo não tem
natureza ocasional - feita no prazo legalmente previsto deverá ser efectuada por
simples via postal (art. 38.°, n.° 4, do CPPT);
— todos os restantes actos deverão ser comunicados por carta registada, que, assim,
parece configurar-se como a regra nesta matéria (v. art. 38.°, n.° 3, do CPPT)16. A
notificação considera-se efectuada no 3.° dia posterior ao do registo (ou no primeiro
dia útil seguinte a este, quando esse 3.° dia não seja útil — art. 39.°, n.° l, do CPPT).
— a decisão;
— os fundamentos da decisão;
— os meios de defesa; e
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Quanto às situações de devolução ou não assinatura do aviso de recepção, vale o n.° 5 do mesmo
artigo.
16
Neste caso, e no da liquidação de impostos periódicos feita no prazo previsto legalmente as
notificações ainda poderão ser feitas por internet, quando possa haver posterior confirmação da
mensagem enviada (art. 38.°, n.° 8, do CPPT).
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3.11. O princípio do duplo grau de decisão
Uma mesma pretensão do contribuinte não pode ser apreciada por mais de dois
órgãos integrando a mesma cadeia hierárquica (como forma de assegurar, na medida
do possível, alguma celeridade para obter a última palavra). O que significa que:
Este princípio tem o seu âmbito de aplicação no quadro dos procedimentos petitórios
— nos quais se pede algo: a anulação de um acto, a sua revogação, o reconhecimento
de um benefício, etc. — e naqueles casos em que o particular, no seguimento de uma
decisão desfavorável, e antes de recorrer ao tribunal, procura uma "segunda opinião"
dentro da Administração, quer essa "segunda opinião" seja obrigatória (recurso
necessário - cfr., por exemplo, arts. 86°, n.° 5, da LGT e 117.° do CPPT), quer o não seja
(recurso facultativo - cfr. arts. 66.°, n.° 2. e 76.°, n.° l, do CPPT).
A este propósito prescreve o art. 47.° do CPPT, no seu n.° l, que "no procedimento
tributário vigora o princípio do duplo grau de decisão, não podendo a mesma
pretensão do contribuinte ser apreciada sucessivamente por mais de dois órgãos
integrando a mesma Administração tributária", e, como modo de efectivar esse duplo
grau, estabelece a regra de que "o pedido de reapreciação da decisão deve, salvo lei
especial, ser dirigido ao dirigente máximo do serviço ou a quem ele tiver delegado essa
competência"18. Para estes efeitos, considera-se que a pretensão é a mesma em caso
de identidade do autor e dos fundamentos de facto e de direito invocados (art. 47.°,
n.° 2).
Se esta nova pronúncia administrativa continuar a ser desfavorável, não poderá ser
emitida uma terceira, restando ao interessado a abertura da via contenciosa.
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Tal não significa, contudo, que o acto não pudesse já anteriormente ser objecto de controlo em
tribunal. Em matéria tributária, muitas vezes não se exige a definitividade vertical como condição prévia
de acesso ao controlo jurisdicional (pense-se, por exemplo, no acto de liquidação, directamente sujeito
a tal controlo).
18
Cfr. ainda art. 66.°, n.º 2, do CPPT. Uma excepção à regra de que a reapreciação deve ser dirigida ao
dirigente máximo do serviço pode ser encontrada, por exemplo, no art. 3.°, n.° 8, do DL 360/99, de
acordo com o qual as decisões somente podem ser objecto de recurso para o superior hierárquico
imediato.
32
4. AS PARTES NO PROCEDIMENTO
Para se intervir num procedimento como actor ou como parte é necessário que se
tenha:
De acordo com o art. 9.°, n.° l, do CPPT, têm legitimidade para participar no
procedimento tributário:
- a Administração Tributária,
33
- as partes nos contratos fiscais e
Embora em abstracto a Administração tributária possa ser encarada como uma parte
interessada no procedimento – ou seja, enquanto credor tributário que subordina a
sua vontade a um interesse financeiro de arrecadação de receitas públicas e que,
assim, é interessada numa dada solução -,o certo é que a correcta captação do seu
papel passa pela sua consideração como um actor procedimental isento, que aplica o
Direito e prossegue o interesse público na sua vertente de justiça e verdade material.
— a direcção geral das alfândegas e dos impostos especiais sobre o consumo (DGAIEC)
- Cfr. DL 360/99 e Portaria 705-A/2000, de 31 de Agosto, que aprovam, res-
pectivamente, a estrutura orgânica e o regulamento orgânico e de funcionamento da
DGAIEC.
34
A actuação da Administração tributária não é uma actuação livre, mas um actuação
vinculada à Constituição e à Lei; assim:
19
Dado que o art. 10.°. n.° l, alínea j) do CPPT inclui na competência dos serviços da Administração
tributária a “realização dos demais actos que lhes sejam cometidos por lei”.
35
— proceder à revisão oficiosa dos actos tributários (art. 78.º da LGT);
— receber e tratar as petições nos processos de impugnação judicial (arts. 103 e ss. do
CPPT);
36
115.°, n.° 2, do CIMI) ou à apreciação de reclamações (art. 131.° do CIMI).
4) Por fim, a competência pode ainda ser determinada em função da área onde se
deve efectuar, ou efectuou, o acto tributário por excelência: a liquidação.
Este critério é normalmente utilizado nos denominados “procedimentos de
segundo grau”, como a impugnação administrativa ou reclamação do acto de
liquidação, ou o reconhecimento de um benefício fiscal. Por exemplo, nos termos do
art. 65.°, n.° 2, do CPPT, "os pedidos de reconhecimento [de benefícios fiscais] serão
apresentados nos serviços competentes para a liquidação do tributo a que se refere o
benefício...'".
37
Titular Órgão
Ministro (das finanças) Ministério
Outros exemplos estão ainda previstos no art. 112º, n,º 1 e 2 do CPPT e no art. 197º
também do CPPT.
O valor da causa é aferido pelos critérios traçados pelo próprio legislador no art. 97º-A,
n.º 1 – e que, embora traçados apenas para o processo, podem ser aplicados
analogicamente no procedimento.
38
Os conflitos de competência
Pode por vezes suceder que da aplicação dos critérios acima referidos surja um
conflito positivo (dois ou mais órgãos consideram-se competentes para decidir) ou
negativo (nenhum órgão se considera competente para decidir) de competência.
Nestes casos, o legislador prevê uma nova série de critérios (art. 11.° do CPPT):
A Incompetência
39
b) Ou pela consideração do acto em causa como anulável.
Pode acontecer que a entidade incompetente pratique actos procedimentais,
decidindo sem ter competência para tal. Nestas situações, o acto em causa pode ser
atacado quer administrativamente (reclamação graciosa), quer jurisdicionalmente
(impugnação judicial), existindo aqui uma ilegalidade susceptível de conduzir à sua
anulação (Cfr. arts. 70.°, n.° l, e 99.°, alínea b), do CPPT).
Em matéria de impostos deve ser feita a distinção entre o sujeito passivo directo e o
sujeito passivo indirecto:
Todos eles - sujeitos passivos directos e indirectos - têm legitimidade para intervir no
procedimento tributário, embora com regras de tempestividade distintas. A título de
exemplo, pode-se referir que o sujeito passivo directo pode reclamar graciosamente
da liquidação dos tributos que lhe digam respeito no prazo de 120 dias a contar do
termo do prazo de pagamento voluntário [arts. 70.°, n.° l, e 102.°, n.° l, alínea a), do
CPPT]; já o responsável subsidiário pode reclamar no mesmo prazo contado a partir da
citação em processo de execução fiscal [art. 102.°, n.° l, alínea c), do CPPT e art. 22.°,
n.° 4, da LGT].
40
Devemos distinguir os seguintes tipos de procedimentos:
Assim sendo, este procedimento, ao contrário dos outros, não culmina na emanação
de um acto tributário individual e concreto, mas antes na emissão de um acto de
conteúdo geral e abstracto: uma circular administrativa (art. 55.°, n.° 3, do CPPT), que
41
deve ser emanada pelo dirigente máximo do serviço em causa, ou funcionário em
quem ele tenha delegado essa competência.
A circular administrativa que contém uma informação genérica não se trata, pois, de
um mero parecer ou indicação! Trata-se antes de uma verdadeira circular normativa
sobre a interpretação e aplicação de preceitos legais, com efeito vinculativo. O próprio
legislador prevê tal efeito vinculativo ao prescrever, na alínea b) do n.° 4 do art. 68.° da
LGT que a Administração tributária está vinculada "às orientações genéricas
constantes de circulares, regulamentos ou instrumentos de idêntica natureza emitidas
sobre a interpretação das normas tributárias que estiverem em vigor no momento do
facto tributário".
20
Também existe uma outra forma de conhecimento das orientações genéricas ou das circulares em
que elas se incorporam: comunicação individual da orientação genérica mediante um requerimento
formulado pelo interessado num determinado procedimento e dirigido ao dirigente máximo do serviço
em causa (art. 56.°, n.os 3 e 4, do CPPT).
21
Prescreve o art. 67.°, n.° l, alínea c), da LGT que "o contribuinte tem direito à informação sobre (...) a
42
b) os pressupostos de quaisquer benefícios fiscais22.
O pedido deve ser feito/apresentado por quem? Pelos próprios sujeitos passivos ou
outros interessados (v.g., ex-cônjuges, ex-sócios), ou ainda pelos representantes legais
de uns ou de outros (art. 68.°, n.º 4, da LGT).
A quem deve ser dirigido o pedido? Ao dirigente máximo do serviço, que é a entidade
competente para proferir a decisão (art. 68.°, n.º l, da LGT).
43
As informações vinculativas caducam no caso de alteração superveniente dos
pressupostos de facto ou de direito em que assentaram (v. art. 68º, n.º 15 LGT).
De salientar, por último, que as informações prestadas não poderão, a posteriori, ser
alteradas nem revogadas com efeitos retroactivos, em nome do princípio da segurança
jurídica e da protecção da confiança (neste caso, das legítimas expectativas criadas
pelos destinatários das informações). As informações vinculativas também não são
impugnáveis ou recorríveis, uma vez que não incorporam qualquer acto lesivo (neste
sentido, acórdão do STA de 08 de Novembro de 2006).
Para a prossecução destes objectivos, e nos termos do art. 2º, n.º 2 do RCPIT, o
procedimento de inspecção tributária compreende, entre outras, as seguintes
actuações:
23
A disciplina jurídica do procedimento de inspecção tributária consta do Regime Complementar do
Procedimento de Inspecção Tributária (RCPIT), aprovado pelo DL 413/98, de 31 de Dezembro. Nos
termos do art. 4º do RCPIT, aplica-se subsidiariamente a este procedimento o disposto na LGT, no CPPT,
nos demais códigos e leis tributárias (por exemplo, arts. 134.º e 135.º do CIRS), na lei orgânica da
Direcção-Geral dos Impostos e respectivos diplomas regulamentares e no CPA.
44
b) Espécies de inspecção tributária
A Administração tributária
Conforme já foi abordado, para que os actos procedimentais possam ser considerados
válidos, têm de ser praticados pelo respectivo órgão competente. Ora, os órgãos da
45
Administração tributária competentes em matéria de inspecção tributária constam do
art. 16.° do RCPIT e são:
Os sujeitos passivos
As pessoas ou entidades visadas pela inspecção podem ser seleccionadas nos termos
do art. 27º, n.º 1 e 2 do RCPIT, que aponta as seguintes formas de selecção:
- por iniciativa do próprio sujeito passivo ou de terceiro que prove interesse legítimo
(art. 27.º, n.° 2).
46
O visado pelo procedimento de inspecção deverá ser notificado — pessoalmente ou
por via postal (art. 38.° do RCPIT) — com indicação da identificação do funcionário, dos
elementos pretendidos no âmbito do procedimento de inspecção, da fixação do prazo,
local e hora de realização dos actos de inspecção e da informação sobre as
consequências da violação do dever de cooperação (art. 37.°, n.° 2 do RCPIT).
Nas situações de inspecção externa, o início do procedimento deve ser notificado com
uma antecedência mínima de 5 dias por carta-aviso elaborada de acordo com modelo
aprovado pelo Director-Geral dos Impostos24, contendo os seguintes elementos (art.
49.°, n.os l e 2 do RCPIT)25:
a) No caso das pessoas singulares, deve-se observar o disposto nos arts. 35.º e ss.
CPPT, com as adaptações resultantes da aplicação do art. 39.° do RCPIT:
24
A notificação ao contribuinte do despacho do início da acção de inspecção externa faz suspender o
prazo de caducidade da liquidação do tributo em causa (art. 46.º. n.º l, da LGT). Nos casos em que a
duração da inspecção externa ultrapasse o prazo de 6 meses após a notificação, tal suspensão cessa e
como que se transforma em interrupção, passando-se a contar o prazo de caducidade desde o início.
25
Contudo, deve-se alertar para o facto de que existem situações que justificam uma dispensa de
notificação. Tais situações estão previstas no art. 50.° e são as seguintes:
— se o fundamento do procedimento for participação ou denúncia efectuada nos termos legais e estas
contiverem indícios de fraude fiscal;
47
carta registada com aviso de recepção para o domicilio fiscal do sujeito passivo ou
obrigado tributário, dando-lhe conhecimento do conteúdo da notificação, do dia, da
hora e da pessoa em que foi efectuada;
A falta de colaboração ilegítima dos sujeitos obrigados pode ter como consequência,
não apenas a responsabilidade disciplinar, contra-ordenacional ou criminal da pessoa
em causa, mas igualmente a aplicação de métodos indirectos de tributação (cfr. art.
32º e 10.°, ambos do RCPIT)26.
26
Tal falta de colaboração, contudo, será legítima quando estiverem em causa actuações que impliquem
(art. 63.°, n.° 4, da LGT):
— a consulta de elementos abrangidos pelo segredo profissional, bancário ou qualquer outro dever de
sigilo legalmente regulado, salvos os casos de consentimento do titular ou de derrogação do dever de
sigilo bancário pela Administração tributária legalmente admitidos;
48
d) Conteúdo do procedimento de inspecção
Prescreve o art. 28.° que "no âmbito do procedimento de inspecção e para efectivo
exercício da função inspectiva, a Administração faz uso das prerrogativas previstas no
artigo 63.° da Lei Geral Tributária". Assim, constituem actos inspectivos aqueles que se
consubstanciam nas seguintes actuações:
Quanto ao momento da realização dos actos inspectivos, o art. 35.° do RCPIT estipula a
— a violação dos direitos de personalidade e outros direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, nos
termos e limites previstos na Constituição e na Lei.
Nestes casos, a diligência só poderá ser realizada mediante autorização concedida pelo tribunal da
comarca competente com base em pedido fundamentado da Administração tributária (n.° 5).
49
regra de que os actos de inspecção se realizam no horário normal de funcionamento
da actividade empresarial ou profissional, não devendo implicar prejuízo para esta.
27
Note-se que se tiver sido decretado na pendência de procedimento de inspecção tributária um
eventual arresto de bens, este fica sem efeito se a entidade inspeccionada não for notificada do
relatório de inspecção no prazo de 90 dias a contar da data do seu decretamento (art. 137.°, n.° 2, do
CPPT).
50
— acréscimos patrimoniais injustificados ou despesas desproporcionadas efectuadas
pelo sujeito passivo ou obrigado tributário no período a que se reporta a inspecção;
Este relatório definitivo, que poderá ser sancionado pelo Director-Geral dos Impostos
(art. 64.°, n.° 1 do RCPIT)28, produz efeitos vinculativos (inter-partes) para o
contribuinte e a Administração, que não pode proceder em sentido diverso ao teor das
conclusões (art. 64º, n.º 4 do RCPIT):
28
O pedido de sancionamento poderá ser efectuado no prazo de 30 dias após a notificação das
conclusões do relatório e identificará as matérias sobre as quais o requerente pretenda que recaia
sancionamento, considerando-se tal pedido tacitamente deferido se a Administração Tributária não se
pronunciar no prazo de 6 meses (art. 64.°, n.os 3 e 4 do RCPIT).
51
operações activas e passivas nela registadas faz parte da esfera da sua vida privada29 e,
por isso, não está sujeita a divulgação livre, mas antes a um dever de sigilo bancário
que impende sobre os membros dos órgãos de Administração e das instituições de
crédito, relativamente à identidade dos clientes, às contas de depósito, aos
movimentos respectivos e às demais operações bancárias. Portanto, a regra é a do
respeito pela intimidade da vida privada dos contribuintes.
b) contudo, existem casos em que a Administração tributária pode aceder aos dados
cobertos pelo sigilo bancário — que constem de documentos bancários30 — sem
dependência de tal autorização. Estes casos estão previstos no art. 63º-B da LGT, e são
simplificadamente os seguintes:
29
Cfr. acórdão do TC n.° 278/95.
30
Para este efeitos, e nos termos do n.° 10 do art. 63.°-B da LGT, considera-se documento bancário
qualquer documento ou registo, independentemente do respectivo suporte, em que se titulem,
comprovem ou registem operações praticadas por instituições de crédito ou sociedades financeiras no
âmbito da respectiva actividade, incluindo os referentes a operações realizadas mediante utilização de
cartões de crédito.
52
para o recurso a uma avaliação indirecta.
Todas as informações deverão ser solicitadas (ie, o pedido deve ser formulado) pelo
Director-Geral dos Impostos ou pelo Director-Geral das Alfândegas e dos Impostos
Especiais sobre o Consumo, ou seus substitutos legais (sem possibilidade de delegação
— cfr. art. 63.°-B, n.° 4, da LGT), com expressa menção dos motivos concretos que as
justificam.
Avaliar significa fixar o valor de determinado bem ou conjunto de bens, para efeitos
tributários. Ora, existem vários tipos de avaliações tributárias, dos quais vamos estudar
os três tipos mais importantes: a avaliação prévia, a avaliação directa e a avaliação
indirecta.
- Avaliativa porque tem por intuito proceder à avaliação de bens ou direitos que
constituem a base de incidência de qualquer tributo;
53
uma liquidação);
Quem tem legitimidade para instaurar este procedimento? Nos termos do art. 58.°, n.°
1, do CPPT, têm legitimidade para instaurar o procedimento os contribuintes com
interesse legítimo nessa avaliação.
Qual o principal efeito deste procedimento? Nos termos do art. 58º, n.º 2 do CPPT, o
principal efeito consiste na já referida vinculação da Administração tributária por um
prazo de 3 anos ao resultado da avaliação. Esta vinculação cessa nos termos do n.º 3
do art. 58º do CPPT - se for interposta reclamação administrativa ou impugnação
judicial do valor resultante da avaliação.
Esta avaliação pode ser efectuada, consoante os casos, pela Administração tributária
ou pelo sujeito passivo (nos casos de autoliquidação). Uma das formas pelas quais se
efectua a avaliação directa é exactamente através dos dados constantes das
declarações apresentadas pelo contribuinte ou dos dados ínsitos na sua contabilidade
ou escrita, dados esses que se presumem verdadeiros e de boa-fé nos termos do art.
54
75.°, n.° l, da LGT.
- sob o ponto de vista horizontal, nos termos do art. 54.° do CPPT, "não são
susceptíveis de impugnação contenciosa os actos interlocutórios do procedimento".
Assim sendo, apenas quando a avaliação directa NÃO for seguida de uma liquidação
será susceptível de controlo jurisdicional imediato;
- sob o ponto de vista vertical, antes de recorrer a tribunal, o sujeito impugnante deve
auscultar a Administração tributária uma vez mais, já que a impugnação contenciosa
"depende do esgotamento dos meios administrativos previstos para a revisão" do acto
(art. 86.°, n.° 2, da LGT). O contribuinte, para tal, pedir um segundo acto de avaliação
— no caso de bens imóveis, arts. 71.° e ss. do CIMI — ou utilizar o procedimento de
revisão dos actos tributários, previsto no art. 78.° da LGT. Só após a decisão
desfavorável é que se abre a via contenciosa.
Segundo o art. 85.°, n.° l, da LGT, apenas se recorre à avaliação indirecta quando a
avaliação directa dos rendimentos ou dos bens sujeitos a tributação não for possível
ou conveniente. De facto, ao contrário do que acontece com a avaliação directa, o
procedimento de avaliação indirecta já não busca a efectiva verdade material da
tributação, mas apenas uma “verdade material aproximada” – no procedimento de
avaliação indirecta, o objectivo é de determinação do valor dos rendimentos ou bens
tributáveis a partir de indícios, presunções ou outros elementos. Assim se compreende
o carácter excepcional e subsidiário da avaliação indirecta face à avaliação directa.
55
Administração tributária (e já não ao contribuinte). Nos termos do art. 77.°, n.o 4 da
LGT, "a decisão da tributação pelos métodos indirectos (...) especificará os motivos da
impossibilidade da comprovação e quantificação directas e exacta da matéria
tributável, ou descreverá o afastamento da matéria tributável do sujeito passivo dos
indicadores objectivos da actividade de base científica ou fará a descrição dos bens
cuja propriedade ou fruição a lei considerar manifestações de fortuna relevantes, ou
indicará a sequência de prejuízos fiscais relevantes, e indicará os critérios utilizados na
avaliação da matéria tributável". Portanto, sobre a Administração tributária recai o
ónus da prova da verificação dos pressupostos de aplicação desta avaliação, cabendo
ao sujeito passivo o ónus da prova do excesso na respectiva posterior quantificação –
v. art. 74º, n.º 3, da LGT.
Portanto,
No entanto, Avaliação Indirecta tem lugar nos casos previstos no art. 87º da LGT.
Segundo o art. 87.°, n.º 1 da LGT, a avaliação indirecta só pode efectuar-se em caso de:
56
b) impossibilidade de comprovação e quantificação directa e exacta dos
elementos indispensáveis à correcta determinação da matéria
matéria tributável de qualquer
imposto;
f) existência de uma divergência não justificada de, pelo menos, um terço entre
os rendimentos
tos declarados e o acréscimo de património ou o consumo evidenciados
pelo sujeito passivo no mesmo período de tributação.
Como se pode constatar, não existe homogeneidade material entre as várias hipóteses
de recurso lícito à avaliação indirecta, pois as situações
situações revestem natureza bastante
diferente entre si. No entanto, podemos identificar dois grupos de situações:
Situação
ituação não patológica Situações patológicas
57
a) A aplicação do regime simplificado de tributação – Situação não patológica
Os sujeitos abrangidos por este regime encontram-se previstos no art. 28º, n.º 2 do
CIRS e no art. 53º do CIRC e o cálculo do imposto é feito com as particularidades
referidas no art. 31º do CIRS e art. 53° do CIRC.
Este caso abrange as situações em que não é possível a comprovação nem directa,
nem exacta, da base tributária. A comprovação directa não é possível quando, por
exemplo, não existe contabilidade ou declarações do sujeito em causa, ao arrepio do
que era exigido; a comprovação exacta não tem lugar quando, por exemplo, apesar de
existirem elementos de contabilidade, estes apresentam erros significativos.
58
1. Que se verifique alguma das anomalias e incorrecções previstas no art. 88º da
LGT e que são as seguintes:
59
empresas ou entidades que tenham relações económicas com o contribuinte (método
das informações cruzadas);
Esta situação diz respeito exclusivamente a sujeitos passivos que exerçam actividades
empresariais (portanto, diz respeito à categoria B de IRS e ao IRC).
Ora, a aplicação dos métodos indirectos com base neste fundamento apenas pode ser
efectuada se cumpridos os seguintes requisitos cumulativos:
2) desde que tenham decorridos mais de 3 anos sobre o início da actividade do sujeito
passivo (art. 89.°, n.° 1 da LGT);
60
3) quando o afastamento é:
- de mais de 30%, para menos, da matéria tributável por declarada pelo sujeito
passivo em relação à que resultaria da aplicação dos indicadores objectivos (e sem
qualquer requisito temporal); ou
Há lugar à
Presume-se que
aplicação de
tenham certo
Contribuintes que métodos
padrão de
apresentem indirectos de
rendimentos (que
certas avaliação (por
não foi traduzido
manifestações de forma a tributar
nas declarações
fortuna de acordo com o
apresentadas por
rendimento-
tais contribuintes)
padrão)
As manifestações de fortuna constam da tabela prevista no art. 89.°-A, n.° 4 da LGT (v.,
também, o art. 89.°-A, n.° 2. da LGT):
61
a) imóveis de valor de aquisição igual ou superior a € 250.000;
d) aeronaves de Turismo; e
c) valor do barco de recreio no ano de registo, com o abatimento de 20% por cada um
dos anos seguintes;
d) valor da aeronave de turismo no ano de registo, com o abatimento de 20% por cada
um dos anos seguintes; e
62
A, n.° 5 da LGT).
f) Existência de uma divergência não justificada de, pelo menos, um terço entre os
rendimentos declarados e o acréscimo de património ou o consumo evidenciados
pelo sujeito passivo no mesmo período de tributação – situação patológica
Trata-se de uma situação que, em rigor, pode já ter sido englobada em alguns dos
casos anteriores, embora possam existir situações que justifiquem a autonomização.
Estamos novamente a falar de divergências, aqui entre os valores declarados e
acréscimo de património ou o consumo evidenciados pelo sujeito passivo no mesmo
período de tributação. Suspeita-se de que o sujeito passivo não cumpriu os seus
deveres de cooperação e cessa, pois, a presunção de boa fé de que gozam as suas
declarações.
63
passivo não é totalmente alheado do acto de fixação de valor. Assim, ele deve:
- mais tarde, e se for caso disso, participar no acto de revisão da avaliação indirecta
(arts. 82.°, n.° 4 e art. 91.°, ambos da LGT).
Uma vez fixado pela Administração o valor dos rendimentos ou dos bens tributáveis a
partir de indícios, presunções ou outros elementos (art. 90.° da LGT), é possível colocar
em crise esse valor através de impugnação graciosa e contenciosa?
64
Consideram-se benefícios fiscais as medidas de carácter excepcional instituídas para
tutela de interesses públicos extra-fiscais relevantes que sejam superiores aos da
própria tributação que impedem – art. 2º, n.º 1 EBF.
Uma das formas que o legislador encontrou para combater as condutas elisivas dos
contribuintes (na tentativa de “fugir aos impostos”) foi recorrer a presunções.
Inúmeras vezes, não sendo possível atingir a verdadeira e efectiva capacidade
contributiva dos sujeitos, o sistema tributário contenta-se com uma capacidade
contributiva aproximada, baseada em presunções. Ora, as presunções consagradas nas
normas de incidência tributária admitem sempre prova em contrário (v. art. 73.° da
LGT) e existe um procedimento especificamente pensado para o efeito, previsto no art.
31
O reconhecimento não poderá ser concedido "quando o sujeito passivo tenha deixado de efectuar o
pagamento de qualquer imposto sobre o rendimento, a despesa ou o património e das contribuições
relativas ao sistema da segurança social" e desde que a dívida em causa "sendo exigível, não tenha sido
objecto de reclamação, impugnação ou oposição e prestada garantia idónea, quando devida" (art. 11.°-
A do EBF).
32 os
Os casos de suspensão estão previsto no art. 12.°, n. 5 e 6, do EBF.
65
64.° do CPPT.
Refere o n.° 1 do referido art. 64º do CPPT que "o interessado que pretender ilidir
qualquer presunção prevista nas normas de incidência tributária deverá para o efeito,
caso não queira utilizar as vias da reclamação graciosa ou impugnação judicial de acto
tributário que nela se basear, solicitar a abertura de procedimento contraditório
próprio". Portanto, resulta deste preceito legal que o contribuinte tem ao seu dispor
dois meios para ilidir a presunção em causa:
66
5.5. Procedimento de liquidação
- Liquidação provisória. A liquidação provisória é aquela que é feita com base nos
elementos declarados pelos sujeitos passivos e que está sujeita a uma averiguação e
controlo posterior. Constitui um meio de propiciar receitas rápidas para os cofres do
Estado uma vez que pode dar origem a um pagamento antecipado (pagamento por
conta ou retenção na fonte com a natureza de pagamento por conta).
67
a receber é o resultado daquilo que o próprio sujeito avalia e estima33.
33
No âmbito do nosso ordenamento tributário, os casos mais visíveis de autoliquidação de impostos
estão consagrados em sede de IRC (art. 82.°, alínea a), do CIRC), de IVA (art. 26.°, n.° l, do CIVA) e de
Imposto de Selo (art. 23°, n.° l, do Código do Imposto de Selo).
68
Contudo nem sempre assim acontece, pois:
- pode extinguir-se a dívida por dação em pagamento, quer antes (no âmbito do
processo conducente à celebração de acordo de recuperação de créditos do Estado),
quer depois de instaurada a execução, e em pedido dirigido ao ministro ou órgão
executivo de que dependa a Administração tributária (arts. 87.° e 201.° do CPPT);
- podemos ainda estar perante uma compensação de créditos tributários, nos termos
dos arts. 89.° e 90.° do CPPT.
69
b) os casos de avaliação da matéria colectável baseada em manifestações de
fortuna (art. 89.°-A, n.° 6, da LGT acho que é n.º 7).
34
Nestes casos, o pedido de revisão é necessário nos casos de impugnação judicial, nos termos do
referido art. 117º, n.º 1 do CPPT.
70
a realizar no prazo máximo de 15 dias - art. 91.°, n.os 3 da LGT. (Note-se que quer o
sujeito passivo, quer a Administração tributária podem designar um perito
independente, nos termos do art. 91º, n.º 4 da LGT).
Depois, surge a fase do debate contraditório (v., assim, art. 92º, n.º 1 da LGT) e da
decisão deste procedimento. Como vimos, o objectivo do procedimento consiste em
fixar um acordo (entre peritos) quanto ao valor da matéria tributável a considerar para
efeitos de liquidação; ora:
- Se houver acordo, o tributo será liquidado com base na matéria colectável acordada
(art. 92.°, n.° 3, da LGT);
- Caso não haja acordo, o órgão competente para a fixação resolverá de acordo com o
seu prudente juízo, tendo em conta as posições dos peritos. Se houver um perito
independente, a decisão deverá obrigatoriamente fundamentar a adesão ou rejeição
do seu parecer (art. 92.°, n.° 7, da LGT), sendo esta decisão, ou a liquidação –
entretanto suspensa - susceptível de reclamação graciosa ou impugnação judicial nos
termos do art. 92.°, n.os 1 e 8, da LGT.
Este procedimento diz respeito àquelas situações em que o acto tributário vai ser
reapreciado pelo próprio órgão que o praticou, nos termos do art. 78º, n.º 1 da LGT.
A revisão de acto tributário pode ser feita oficiosamente (por impulso da própria
Administração tributária) ou a pedido do sujeito passivo.
71
se o tributo já houver sido pago ou a todo o tempo se não o houver sido. Admite-se
também uma revisão com base numa injustiça grave ou notória ou numa duplicação
da colecta, não podendo ser utilizado qualquer outro fundamento, nomeadamente a
ilegalidade do acto impugnado. Permite-se assim a revisão fora dos prazos de
reclamação administrativa (3 e 4 anos, respectivamente), em face da gravidade das
situações (Cfr. art. 78.°, n.os 4 e 6. da LGT).
Esquemática e resumidamente:
72
A revisão pode ser efectuada a favor da Administração tributária ou a favor do sujeito
passivo; assim:
- Nos casos de revisão a favor da Administração tributária, há lugar, a maior parte das
vezes, a uma liquidação adicional, cuja possibilidade vem prevista em várias normas
dos diversos códigos fiscais - Cfr., por exemplo, art. 89.° do CIRS e art. 91.° do CIRC. Em
rigor, esta possibilidade não se configura como um verdadeiro instrumento
impugnatório ao favor dos contribuintes.
- o contribuinte tenha solicitado essa revisão e ela se efectuar mais de um ano após o
seu pedido (salvo se o atraso não for imputável à Administração) – art. 43º, n.º 3, al. c)
da LGT.
73
tributária (e não o seu mérito ou oportunidade).
a) Enquadramento jurídico
Este procedimento não tem, em princípio, efeito suspensivo da liquidação que se está
a reclamar (cfr. art. 69.°, alínea f), do CPPT]), o que quer dizer que o contribuinte,
mesmo reclamando, deve proceder ao pagamento do tributo em causa, sob pena de
se poder confrontar com um processo de execução fiscal35. Por outro lado, a
instauração da reclamação faz interromper o prazo de prescrição da obrigação
tributária (art. 49.°, n.° l, da LGT).
- Deve ser dirigida ao órgão periférico regional (art. 73.°, n.° l, do CPPT), cujo dirigente,
em princípio, é competente para decidir (art. 75.° do CPPT). (Verifica-se, pois, uma
dualidade competencial quanto ao órgão a quem entregar e quanto ao órgão que vai
35
Contudo, tal efeito suspensivo pode ser conseguido se for prestada garantia adequada. Tal garantia
deve (i) ser requerida pelo contribuinte juntamente com reclamação, e (ii) prestada no prazo de 10 dias
após a notificação para o efeito pelo órgão periférico local competente.
Para este efeito, uma "garantia adequada" será a que for prestada nos termos do art. 199." do CPPT,
podendo consistir numa garantia bancária, caução, seguro-caução ou qualquer meio susceptível de
assegurar os créditos da Administração tributária.
74
decidir a reclamação).
b) Fundamentos da reclamação
A reclamação graciosa visa, como já foi referido, a anulação de actos tributários. Mas
pode ser deduzida com que fundamentos?
Nos termos do art. 70.° do CPPT, "a reclamação graciosa pode ser deduzida com os
mesmos fundamentos previstos para a impugnação judicial". Ora, o art. 99º do CPPT
aponta como fundamento para a impugnação judicial “qualquer ilegalidade”,
designadamente (isto é, enumeração não exaustiva):
A errónea qualificação dos factos tributários diz respeito àquelas situações em que a
Administração tributária usou uma deficiente qualificação jurídica dos mesmos. Assim
acontece, por exemplo, no caso de um sujeito passivo auferir um rendimento de
capitais e ser qualificado pela Administração tributária como uma mais-valia ou um
sujeito passivo auferir uma pensão que foi erradamente qualificada como rendimento
do trabalho dependente.
75
A errónea quantificação dos factos tributários diz respeito a questões técnicas de cariz
contabilístico, tais como as questões relacionadas com o cálculo de uma indemnização
para efeitos de sujeição a imposto ou com a quantificação a partir de métodos
indirectos.
— a duplicação da colecta, entendendo-se que esta existirá quando, estando pago por
inteiro um tributo, se exigir da mesma ou de diferente pessoa um outro de igual
natureza, referente ao mesmo facto tributário e ao mesmo período de tempo (v. art.
205º do CPPT).
c) Tempestividade
No entanto, existem alguns prazos excepcionais (sendo que “lex specialis derogat
generali”); temos, designadamente, os prazos previstos para as hipóteses de
reclamação necessária - art. 131.°, n.º l (dois anos), o art. 132.°, n.º 3 (dois anos), e o
art. 133.°, n.° 2 (trinta dias), todos do CPPT.
76
d) Tramitação do procedimento
II. Nos restantes casos, o órgão periférico local elabora uma proposta
fundamentada de decisão (art. 73.°, n.° 2 do CPPT) e remete a reclamação para o
dirigente do órgão periférico regional (art. 73.°, n.° 5 do CPPT), que é a entidade
competente para a decisão nos termos do art. 75.°, n.° l, do CPPT.
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Consequentemente, o acto
tributário é total ou parcialmente
anulado e:
- devem apagar-se os seus
efeitos com eficácia ex tunc,
Deferimento - deve-se restituir o que haja sido
Expresso da prestado,
pretensão do
contribuinte - e caso se prove ter havido erro
imputável aos serviços, devem
pagar-se juros indemnizatórios
desde a data do pagamento.
Órgão decisor (cfr. art. 43º, n.º 1 da LGT e 61º,
pronuncia-se sobre n.º 3 do CPPT).
a pretensão do
contribuinte. Em
que sentidos o pode
fazer?
Consequentemente, o acto
tributário mantém-se no
ordenamento jurídico,
Indeferimento
produzindo os seus efeitos, e
Expresso da
podendo mesmo ser aplicado
pretensão do
um agravamento à colecta
contribuinte
quando se considere que a
reclamação foi infundada (cfr.
art. 77º do CPPT).
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Em regra, entende-se que a Consequentemente,
reclamação foi indeferida o acto tributário
(indeferimento tácito da mantém-se e
pretensão). É o que resulta do continua a produzir
art. 57º, n.º 1 e n.º 6 da LGT e o efeitos.
art. 106º do CPPT.
Órgão decisor não
se pronuncia sobre
a pretensão do
contribuinte. Qual
o sentido a atribuir Pode também entender-se que
a esta actuação? a reclamação foi deferida
(deferimento tácito da Consequentemente,
pretensão do contribuinte). É o o acto tributário é
que acontece, por exemplo, anulado, com os
nas situações de reclamação efeitos já
dos pagamentos por conta, nos assinalados.
termos do art. 133º, n.º 4 do
CPPT.
e) Impugnação da decisão
- 15 dias, nos casos de indeferimento expresso da reclamação graciosa (art. 102.°, n.°
2, do CPPT);
- 90 dias nos casos de indeferimento tácito da reclamação graciosa [art. 102.°, n.° l, alí-
nea d), do CPPT];
- 30 dias nos casos de reclamação graciosa prévia necessária nos casos de:
. impugnação por erro nos pagamentos por conta (art. 133.°, n.os 2 e 3, do CPPT).
79
Não obstante, no caso de indeferimento da reclamação graciosa, o interessado pode
ainda recorrer hierarquicamente, no prazo de 30 dias (artigo 66º, n.º 2 do CPPT). No
caso de indeferimento do recurso hierárquico, a decisão é objecto de recurso
contencioso (aqui utilizada no sentido de impugnação judicial), salvo se de tal decisão
já tiver sido deduzida impugnação judicial com o mesmo objecto (Cfr. art. 76.°, n.os l e
2, do CPPT). A referida impugnação judicial do indeferimento do recurso hierárquico
poderá ser deduzida:
Todavia, existem situações em que o sujeito passivo, se quiser recorrer à via judicial,
deve primeiro esgotar a via administrativa, lançando mão dos meios graciosos que o
legislador coloca ao seu dispor, conseguindo a definitividade vertical do acto e, só
então, abrindo o canal contencioso. Estamos a falar de casos em que as reclamações
têm natureza necessária – são as reclamações necessárias, também designadas por
reclamações prévias. São três as situações mais importantes de reclamações
necessárias - as autoliquidações, as retenções na fonte e os pagamentos por conta.
80
Nesta situação, o legislador não lhe permite o acesso directo à via contenciosa,
obrigando-o a esgotar primeiro as vias administrativas, impondo-lhe a utilização da
reclamação graciosa. Refere, assim, o art. 131.°, n.° l, do CPPT que "em caso de erro na
autoliquidação, a impugnação será obrigatoriamente precedida de reclamação
graciosa dirigida ao dirigente do órgão periférico regional da Administração tributária,
no prazo de 2 anos após a apresentação da declaração."36
Quando os pagamentos por conta que foram efectuados são considerados indevidos,
tais pagamentos são susceptíveis de impugnação judicial com fundamento em erro
36
De facto, nestas situações ainda não existe propriamente um conflito de pretensões entre o credor
tributário e o sujeito passivo que justifique a entrada em cena de um órgão jurisdiconal (até por força do
princípio da economia dos meios processuais).
37
Uma vez que a Administração já se “pronunciou” sobre a matéria.
81
sobre os pressupostos da sua existência ou do seu quantitativo. No entanto, tal
impugnação depende, aqui, de prévia reclamação graciosa para o órgão periférico
local da Administração tributária competente, no prazo de 30 dias (Cfr. art. 133.°, n.os l
e 2, do CPPT). E caso a reclamação seja expressamente indeferida, o contribuinte
poderá impugnar em Tribunal, no prazo de 30 dias.
Importa lembrar que este é um dos poucos casos em que se prevê um deferimento
tácito — nos termos do art. 133.°, n.° 4, do CPPT "decorridos 90 dias após a sua
apresentação sem que tenha sido indeferida, considera-se a reclamação tacitamente
deferida".
O recurso hierárquico deve ser dirigido ao mais elevado superior hierárquico do autor
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do acto de que se recorre nos termos dos arts. 66º, n.º 2 do CPPT e 80º da LGT
(embora deva ser entregue junto do órgão recorrido).
- Recurso hierárquico facultativo, quando não seja indispensável para atingir a via
contenciosa, podendo o interessado recorrer a tribunal mesmo que não recorra
hierarquicamente.
Nos termos do art. 67.°, n.° l, do CPPT, "os recursos hierárquicos, têm natureza
meramente facultativa e efeito devolutivo"38. O recurso hierárquico funciona assim
38
Como exemplo de um recurso hierárquico com efeito suspensivo, pode apontar-se o previsto no art.
75.°, n.° 2, do CIVA.
83
como uma espécie de "filtro administrativo", na medida em que evita o recurso
imediato a tribunal e dá ao superior hierárquico a possibilidade de revogar o acto do
inferior hierárquico.
a) Todas aquelas em que a lei prevê expressamente essa possibilidade, como, por
exemplo, os casos de reclamação graciosa indeferida (art. 76.°, n.° 2, do CPPT) ou de
não reconhecimento de benefícios fiscais (art. 65.°, n.° 4, do CPPT)
O interessado que lançar mão deste procedimento não pretende “impugnar” qualquer
acto da Administração – no sentido de atacá-lo com fundamento em ilegalidade,
buscando a sua anulação -, mas tão somente solicitar a sua correcção/reparação pelo
facto de ele ter sido emanado com base num erro material e manifesto, mas não
particularmente grave.
Este procedimento poderá, então, ser usado, por exemplo, numa situação em que o
contribuinte, apresentando uma matéria colectável de EUR 32 567 e sendo-lhe
aplicada uma taxa de 12%, é-lhe notificado na liquidação um valor a pagar de EUR 39
008 e não de EUR 3908.
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deveria ter seguido inicialmente.
Os procedimentos cautelares (art. 51.°, n.º 3 da LGT) que podem ser adoptados pela
Administração são:
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