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Banco do Brasil
História do
Banco do Brasil
Organizador:
Diretoria de Marketing
e Comunicação do Banco do Brasil
Coordenação editorial:
Fazenda Comunicação & Marketing Ltda.
Produção:
Fazenda Comunicação & Marketing Ltda.
Revisão tipográfica:
Aline Luz
Fotografias de capa:
Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil
Fotografia:
Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil
Banco do Brasil:
Diretoria de Marketing e Comunicação
ISBN 978-85-63961-00-6
CDU: 336.711(81)(09)
CDD: 981
A reforma bancária.................................................................................... 39
Há, na história das nações, momentos de especial significado, quando são toma-
das decisões que vão marcar e condicionar a evolução futura e ocorrem fatos destinados
a repercutir intensamente, e duradouramente, na vida dos povos. São pontos de infle-
xão, a indicar mudanças essenciais que, uma vez consumadas, permitirão afirmar-se
que afinação, o Estado, a sociedade não serão mais os mesmos.
O Banco do Brasil tem a particularidade de se mostrar presente a cada vez que o
país enfrenta um desses momentos cruciais. Foi assim quando o príncipe regente Dom
João (depois João VI) assinou o alvará que o fundou — o Brasil experimentava mo-
mento histórico que, do ponto de vista econômico, costuma ser comparado com o que
representou a independência política, ocorrida 14 anos mais tarde. Foi também assim
quando, graças à visão de estadista do visconde de Itaboraí, ex-primeiro ministro, ex-
ministro da Fazenda e presidente do Banco do Brasil, ocorreu o que se pode considerar
sua “segunda fundação”, num instante em que o Império superava os tempos críticos
da pós-independência e o conturbado período regencial e inaugurava fase de grande
dinamismo econômico.
Hoje, vivemos etapa semelhante. Quer do ponto de vista econômico, quer no
que toca à política e às transformações que se operam no tecido social, vive o país
período de grandes mudanças, com reivindicações crescentes da sociedade em seus
vários segmentos, para a conformação de um novo Brasil, poderoso economicamente,
democrático politicamente e solidário socialmente.
Mais uma vez, observa-se que o Banco do Brasil está no centro dessas mudanças.
Recuperando aceleradamente o terreno que perdeu em tempos recentes, assume no-
vas feições, em consonância com a modernização do capitalismo brasileiro.
É oportuno, por tudo isso, que nos detenhamos um pouco sobre a história da
instituição, até como forma de melhor compreendê-la, conhecendo seu passado para
melhor apontar os passos que dará no futuro. E - diga-se - essa compreensão e esse
conhecimento não dizem respeito apenas aos que mais de perto respondem pelos des-
tinos do Banco, como seus dirigentes e demais funcionários. Isso é da alçada de todos
os brasileiros, tenham ou não responsabilidade administrativa ou interesses financeiros
a defender.
Esta obra é uma tentativa de contribuir para tanto. Baseia-se em trabalho de
maior fôlego e envergadura, qual seja, a história do Banco do Brasil, brilhantemente
preparada por dois ilustres membros da comunidade do BB: os juristas Afonso Arinos
de Mello Franco e Cláudio Pacheco. Este, no caso, diretamente responsável, junta-
mente com a profícua equipe sob sua liderança, pelas pesquisas exaustivas realizadas
sobre a história do Banco, de cujos resultados oferecemos aqui uma síntese.
Síntese que, por definição, não pretende nem poderia atrever-se a conter toda
a amplitude, ou toda a profundidade da obra completa. Mas que pode prestar-se a
subsidiar todos os interessados em conhecer a história de nossa principal instituição
de crédito - que se confunde, como se verá nas páginas a seguir, com a própria história
econômica do Brasil.
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Capítulo 1
Foto: Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil
A primeira fundação,
em 1808
“Eu, o príncipe regente, faço saber aos que este meu alvará com força de lei vi-
rem: que atendendo a não permitirem as atuais circunstâncias do Estado, que o
meu Real Erário possa realizar os fundos, de que depende a manutenção da Mo-
narquia e o bem comum dos meus fiéis vassalos, sem as delongas que as diferen-
tes partes, em que se acham, fazem necessárias para a sua efetiva entrada; a que
os bilhetes dos direitos das Alfândegas tendo certos prazos nos seus pagamentos,
ainda sejam de um crédito estabelecidos, não são próprios para o pagamento, ain-
da sejam de um crédito estabelecido, não são próprios para o pagamento de sol-
dos, ordenados, juros e pensões, que constituem os alimentos do corpo político do
Estado, os quais devem ser pagos nos seus vencimentos em moeda corrente; e a
que os obstáculos, que a falta de giro dos signos representativos dos valores põem
ao comércio, devem o quanto antes ser removidos, animando e promovendo as
transações mercantis dos negociantes desta e das mais praças dos meus domínios,
e senhorios com as estrangeiras.”
1. Em março e abril de 1893, o Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, publicou, sem revelar a autoria, uma história do
Banco do Brasil, bem fundada, à luz da proximidade dos fatos e, presumivelmente, de documentos que, em boa parte,
não foram conservados. Utilizamos, por isso, essa fonte. A presente nota refere-se à edição de 26 de março de 1893.
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“Sou servido ordenar que nesta capital se estabeleça um Banco Público, que na
forma dos Estatutos, que este baixam, assinados por Dom Fernando José de Por-
tugal, do meu Conselho de Estado, ministro Assistente ao Despacho do Gabinete,
presidente do Real Erário e secretário de Estado dos Negócios do Brasil, ponham
em ação os cômputos estagnados, assim em gêneros comerciais, como em espé-
cies; Cunhadas; promova a indústria nacional pelo giro, e combinação dos capitais
isolados, e facilite juntamente aos meios, e aos recursos, de que as minhas rendas
reais e as públicas necessitarem para ocorrer às despesas do Estado.”
“Em todos os pagamentos que se fizerem à minha Real Fazenda, serão contem-
plados e recebidos como dinheiro os bilhetes do dito Banco Público pagáveis ao
portador ou mostrados à vista e da mesma forma se distribuirão pelo Erário Régio
nos pagamentos das despesas do Estado: e ordeno que os membros da junta do
Banco e os diretores dele sejam contemplados pelos seus serviços com as remu-
nerações estabelecidas para os Ministros e oficiais da minha Real Fazenda e ad-
ministração da justiça, e gozem de todos os privilégios concedidos aos deputados
da Real Junta do Comércio.”
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O historiador Horácio Say analisa, com uma visão abrangente, o processo da fun-
dação e do início do funcionamento do Banco:
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Ano Valor %
1810 10$283 1,28
1811 30$680 3,06
1812 40$665 4,06
1813 59$985 5,99
1814 96$717 9,67
1815 137$100 13,71
1816 189$607 18,96
1817 148$315 14,88
1818 171$804 17,18
1819 107$647 10,76
1820 101$062 10,10
1821 153$519 15,35
1822 119$605 11,98
1823 163$878 16,38
1824 163$157 16,31
1825 126$621 12,66
1826 169$869 16,98
1827 176$329 17,68
1828 187$567 18,75
1829 178$927 17,89
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tista de Oliveira, senador Ferreira Soares, J.F. Normano, Pandiá Calógeras, analisaram
e lastimaram a dissolução do Banco9. Pandiá Calógeras, por exemplo, assinalou que
na Câmara dos Deputados vários de seus membros insistiram nas vantagens de uma
reorganização do Banco do Brasil, ao invés de uma liquidação pura e simples. “A antiga
hostilidade contra o estabelecimento de crédito”, disse ele, levou a melhor, “escorada
nas acusações de dilapidações praticadas por diretores do estabelecimento e da retirada
em massa, por ocasião da volta de D. João a Portugal, em 1821, em metais preciosos
que pertenciam ao Banco”.
Transformado numa espécie de bode expiatório, o Banco acabou assumindo,
segundo Calógeras, a “responsabilidade pelas dificuldades de uma situação cujos erros
cabiam quase que exclusivamente ao governo, por causa dos empréstimos dispensá-
veis que solicitou, ou melhor, impôs”. Mas, prosseguiu, “quando votada a liquidação
do Banco e apresentado seu balanço, verificou-se que o papel-moeda em circulação
excedia apenas de soma ínfima a dívida do Tesouro com a instituição. Os acionistas
receberam 90% de seu capital integralizado, pagas todas as dívidas”.
Nenhuma crítica pode ser mais eloquente do que essas cifras, argumentou Co-
lágeras, porque “comprovam a solvência do estabelecimento, apesar do descrédito es-
palhado pelos exageros e acusações malévolas contra ele arguidos. E, sobretudo, liqui-
dado o Banco, a praça do Rio ficou longamente privada desse aparelho indispensável à
sua economia comercial, erro extremamente grave que lhe foi imposto por uma decisão
inconsiderada. Foi essa última consequência que motivou as críticas muito sérias e
amargas a elas dirigidas desde os primeiros momentos por financistas e estadistas, e
inspirou a ideia de tentar conter o desencadear das correntes que conduzissem a me-
didas extremas”.10
A primeira tentativa de restabelecimento de um banco nacional ocorreu atra-
vés da lei de 8 de outubro de 1833, mas não teve êxito, pela falta de apresentação de
acionistas. O governo chegou a nomear uma comissão para organizar o levantamento
do capital, mas apenas os integrantes dessa comissão animaram-se à subscrição. Com
a insuficiência de capital, o próprio ministro da Fazenda pronunciou-se, em novembro
de 1834, pela desistência oficial de restabelecimento do Banco, mandando reverter a
receita geral dos impostos que a lei criou com o objetivo de compor a cota de capital do
governo. E, até 1838, quando foi criado o Banco Comercial do Rio de Janeiro, nenhum
outro banco existiu, instruído formal e regularmente, no país.
Havia, naturalmente, financiamentos que proliferavam como negócios rendosos
e sem concorrentes legalmente instituídos, realizados pelos comerciantes, sob a for-
ma de adiantamento ou vendas a crédito, para seus fregueses e fornecedores. Ou, em
maior vulto, os empréstimos que os comissários, sobretudo os do comércio de exporta-
ção, faziam aos fazendeiros e lavradores, sob garantia da colheita.
Esporadicamente, havia casas bancárias em comandita, ou caixas econômicas de
instauração arbitrária ou variada. Também existia a agiotagem, à qual se referiu, em
9. Cláudio Pacheco, História do Banco do Brasil, 1973, vol. II cap. 1§§ 30 a 33.
10. A Política Monetária do Brasil, p. 45 e 46.
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Foi nessa época que começou o ocaso do período colonial – marcado inicial-
mente pela vinda da corte portuguesa para o Brasil -, com a consequente aceleração
do processo de independência política, paralelamente ao processo da independência
econômica, impulsionado por medidas como a abertura dos portos. A renda per capita
do país vinha caindo, continuamente, já durante o século anterior. Na primeira metade
do século XIX ainda não se via uma tendência de recuperação, mas o decesso estacio-
nava, em face da germinação profunda dos fatores que haviam de dar partida, embora
de forma incipiente, ao desenvolvimento brasileiro.
Esse período da história brasileira, chamado regencial, que englobou o final do pri-
meiro reinado até a consolidação do segundo, caracterizou-se, no plano político, por um
processo insurrecional, ao mesmo tempo prolongado e sangrento. Logo no começo vacilou
o trono imperial do Brasil, inclusive porque, sob o impacto da impopularidade e acusado
de preocupar-se mais com suas pretensões ao trono português do que com os problemas
brasileiros, D. Pedro I renunciou e deixou o trono a D. Pedro II, ainda menino.
Evidentemente, esse quadro influi negativamente na situação econômica e finan-
ceira do país. No período de 1836 a 1846, por exemplo, verificou-se que em todos os
anos, salvo no último, as somas das importações foram bem mais altas do que as das ex-
portações. O desequilíbrio econômico e, especialmente, o financeiro, que já se manifes-
tava anteriormente, tornou-se então, crônico, característica mantida até tempos recentes.
Se o período regencial foi, no plano político, marcado pela turbulência das desordens e
revoltas, no plano econômico caracterizou-se pela insuficiência da produção exportável
e por saldos negativos na balança do comércio exterior, com constante baixa dos valores
externos e internos da moeda. Manteve-se, ademais, o processo inflacionário.
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Capítulo 2
Foto: Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil
A economia floresce.
Surgem novos bancos
Os primeiros bilhetes emitidos pelo Banco do Brasil a partir de 1810, precursores das cédulas atuais,
eram apresentados em talões e tinham uma linha de corte para facilitar a verificação de autenticidade.
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“A instalação da sociedade anônima que tiver por fim fazer operações bancárias só
poderá ser autorizada quando se tenha realizada a quarta parte das ações; mas, se
não for completado o número total delas no prazo marcado no contrato constitu-
tivo, será a sociedade dissolvida, salvo se tiver do governo autorizações para fazer
suas operações com número maior de acionistas, do que o marcado no contrato; o
governo nomeará, todas as vezes que entenda conveniente, um ou mais agentes
para fiscalizar as operações das sociedades e poderá declará-las dissolvidas quando
se verificar que não cumprem as condições a que se sujeitaram.”
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dos ditos estabelecimentos, para elegerem a diretoria, que deve instalar o novo Banco
e dar princípio às suas operações”.
Segundo os estatutos, o novo Banco do Brasil poderia realizar somente as seguin-
tes operações:
1. descontar, sem exceder a décima parte do seu fundo efetivo e o prazo de quatro
meses, letras de câmbio, da terra e outros títulos comerciais à ordem e com prazo
determinado – garantidos por duas assinaturas de pessoas notoriamente abonadas,
uma pelo menos residente no lugar em que se fizer o desconto -, e escritos das
alfândegas e bilhetes do Tesouro;
2. encarregar-se, por comissão de compra e venda de metais preciosos, de apólices da
dívida pública e de quaisquer outros títulos de valores, bem como de cobrança de
dividendos, letras e de outros títulos a prazo fixo;
3. receber em conta corrente as somas entregues por particulares ou estabelecimen-
tos públicos e pagar as quantias de que estes dispuserem, até a importância do que
houver recebido;
4. tomar dinheiro a prêmio por meio de conta corrente ou letras, a prazo superior a
60 dias;
5. comprar e vender, por conta própria, metais precisos;
6. fazer empréstimos, sob penhor de ouro, prata, diamantes, apólices da dívida públi-
ca, de ações de companhias acreditadas que tenham cotação real e na proporção da
importância realizada; de títulos particulares que representem legítimas transações
comerciais e de mercadorias não sujeitas à corrupção, depositadas nas alfândegas
ou armazéns alfandegados, mas não podendo emprestar sobre penhor de suas pró-
prias ações;
7. fazer movimentos de fundos de umas para outras praças do Império;
8. efetuar operações de câmbio para importar metais preciosos, ou impedir a exporta-
ção deles;
9. emitir notas, isto é, bilhetes pagáveis, à vista e ao portador, os quais terão privilé-
gios exclusivos de serem bem recebidos em pagamentos nas repartições públicas.
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calçadas do Rio de Janeiro”. Mas o ágio não conteve o enorme fluxo de pedidos. Quan-
do novamente se abriu a subscrição, no dia 17 de outubro de 1853, em apenas duas
horas os pedidos excediam o limite de 30 mil ações.
No início de 1853, o Ministério presidido por Itaboraí demitiu-se, mas deixou
nomeado o primeiro presidente do Banco, o deputado e conselheiro Lisboa Serra,
mantido pelo novo Ministério, presidido pelo visconde de Paraná. Em novembro, fi-
nalmente, foi eleita a diretoria do Banco – exageradamente composta de 15 diretores,
além do presidente – , que se reuniu pela primeira vez em 5 de dezembro. Sempre a
passos lentos, os preparativos para o Banco funcionar se estenderam por mais quatro
meses. E, somente no dia 10 de abril de 1854, sem qualquer comemoração ou registro
solene, o estabelecimento abriu suas portas.
No fim de maio de 1854, quando o Banco do Brasil ainda não tinha completa-
do dois meses de operação, comentava-se que o seu sucesso já era extraordinário e
especulava-se sobre as suas expectativas de crescimento e lucratividade, consideradas
auspiciosas, o que provocou alta na cotação de suas ações.
Mas o Jornal do Commercio publicou comentários mais realistas em sua edição
de 29 de maio de 1854, ao analisar o primeiro balancete do Banco, concluindo que os
lucros registrados não poderiam manter o mesmo nível.
Prematuramente, a diretoria do Banco instalou caixas filiais nas províncias. Em
sessões realizadas nos meses de setembro e outubro de 1854 decidiu-se que “a caixa
filial do extinto Banco da Província de São Paulo ficasse, na forma dos estatutos, con-
vertida em caixa filial deste Banco”, que se criasse uma agência na cidade de Ouro
Preto, em Minas Gerais, e se estipulassem regras para a conversão da caixa filial do Rio
Grande do Sul.
Alguns bancos aceitaram sua conversão em caixas filiais, como os de Pernambu-
co, Maranhão, Pará e o Banco Comercial da Bahia. Essas caixas não eram propriamente
agências, pois desfrutavam de certa autonomia, inclusive com estatutos e diretoria pró-
prios. O objetivo de sua implantação era suprir as necessidades geradas pela vastidão
territorial do Brasil e as dificuldades de comunicação, mas essas mesmas circunstâncias
impediam que a direção central exercesse o necessário controle e vigilância, para evitar
os abusos e desvios que mais tarde acabariam ocorrendo.
Enquanto isso, o ritmo de emissões crescia e o Tesouro dentro da eterna linha
de insaciabilidade dos governos, apresentava-se para pleitear empréstimos. O Banco
inicialmente resistiu, mas, em novembro de 1854, cedeu emprestando ao Tesouro 500
contos de réis à taxa de 6%. Em 31 de dezembro, foi concedido mais um empréstimo
de 200 contos de réis, ao prêmio de 5%.
Cogitou-se, nessa época, da aquisição de imóvel para sede do Banco. Instalado
em um edifício, que o Banco Comercial construíra na rua da Alfândega, esquina com a
rua da Candelária, o Banco, no entanto, ali continuou por mais de 72 anos, e somente
em 30 de abril de 1926 mudou-se para a rua Primeiro de Março, número 66, onde a
sede permaneceu até a transferência para Brasília. Segundo o historiador Fernando
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“Não se pode deixar de atribuir grande parte da baixa do câmbio que se dera em
1857 e ainda persistia, em 1860, às emissões excessivas de notas do Banco do Bra-
sil; efetivamente, as emissões do Banco, auxiliando o espírito de empresa e de es-
peculação, foram além do que comportavam as condições em que nos achávamos;
a inconversibilidade dos bilhetes do Banco do Brasil era infringente do intento da
lei de 1853, ainda mais quando decidida por um simples ato de gestão ordinária do
estabelecimento, requerendo providências no sentido de se definirem terminan-
tes disposições para que de uma medida desta, tomada fora das condições e da lei
comercial, apenas se lançasse mão em caso extremo de salvação do Estado.”
Na verdade, essa crise representou, para o Banco do Brasil, uma das travessias
mais difíceis de sua história. A influência governamental e a pressão dos interesses pri-
vados sobre o Banco concorreram para que se tomassem medidas artificiais e precárias
de sustentação de câmbio, sem uma previsão de recursos e de apoio suficientes, ou
para o qual nem mesmo existisse, naquele tempo, todo o indispensável potencial eco-
nômico. Consequentemente, essas medidas trouxeram apenas correções efêmeras para
os malefícios da crise que, por sua própria natureza e contingência, eram passageiros e
de limitada gravidade.
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Capítulo 3
Foto: Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil
A reforma bancária
O prédio da segunda praça do Comércio, na rua Direita, com dois pavimentos, tinha na frente o peristilo
saliente com oito colunas dóricas, que sustentavam uma varanda ou terraço orlado de grades de ferro
presas a pilares. Uma gradaria de ferro, entre as colunas, fechava o vestíbulo, cujo pavimento era de
mosaico de mármore. No segundo pavimento funcionou o Tribunal do Comércio, instalado em janeiro
de 1851, local onde também, no mesmo ano, foram realizadas as reuniões preliminares da instalação
do Banco do Brasil, do grupo Mauá. Em 1864, foi a praça do Comércio ligada à Fortaleza de Santa
Cruz, pelo telégrafo elétrico, para melhor recepção dos avisos marítimos, de interesse dos comerciantes. À
esquerda, vê-se a Casa dos Contos. A área ocupada por esta e pela praça do Comércio, corresponde à que
posteriormente ocupam o Banco do Brasil e o Correio Geral.
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“O que não está suficientemente compreendido nem ainda pelas direções dos atu-
ais bancos, aliás compostas de pessoas habilitadas, é que a organização bancária se
liga tão estreitamente ao sistema monetário, que exige a maior conformidade de
vista. Sem emissões de papéis de crédito dificilmente se podem sustentar os bancos
e é muito fraco o auxílio que prestam à indústria: com a emissão, é preciso marcar-
lhe regras que a contenham nos justos limites e a conciliem com igual direito que
entre nós exerce o Tesouro na emissão de suas notas circulares. Entre nós, portanto,
ainda estão tão ligadas as questões de reforma do meio circulante e da organização
dos bancos, que indispensável é tratá-las juntas e combiná-las em um só plano”14.
14. Bernardo de Sousa Franco, Os Bancos do Brasil, 1848, p. 49, 85, 86 e 87.
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sembleia Legislativa, em 7 de maio de 1859. Mas, com isso, expôs-se aos ataques dos
seus adversários, divulgados abundantemente pela imprensa. Assim, quando o apre-
sentou à Câmara dos Deputados, em 15 de julho de 1859, a oposição já estava cerrada
contra o programa.
A proposta de Torres-Homem obrigava o Banco do Brasil, suas caixas filiais,
criadas através da lei de 1853 e todos os bancos de circulação autorizados por decreto
do Poder Executivo, a “realizar suas notas em ouro à vontade do portador”. Pruden-
temente, projetava a entrada em vigor dessa obrigação para três anos depois, apenas
forçando a emissão dos bancos, enquanto suas notas não se tornassem conversíveis em
ouro, à vontade do portador, ao máximo do que a cada um tivesse emitido nos meses
de fevereiro, março, abril e maio precedentes.
Os bancos que tivessem excedido este último limite ficariam obrigados a reduzir
a emissão no período de cinco meses, sob pena de perderem a faculdade de emitir
notas à vista e ao portador e de não poderem continuar a funcionar por mais de um ano
como bancos de depósitos e de descontos, sem nova autorização do governo. Logo se
estipulava que a essa limitação ficavam sujeitos os bancos que não realizassem suas
notas em ouro nos termos da primeira obrigação exposta. O projeto previa, também,
a nomeação, pelo governo, de um fiscal para cada banco, remunerado por este, com
atribuições de vigiar as operações do estabelecimento e fazer cumprir religiosamente
as disposições dos estatutos e da lei em que o projeto se convertesse.
De acordo com o projeto, o Banco do Brasil, enquanto sua emissão estivesse
limitada, ficaria liberado da obrigação de resgatar anualmente 2.000:000$000 do papel
do governo, imposta pela lei de 5 de julho de 1853. Também era dada permissão às cai-
xas matriz e filiais do Banco do Brasil para receberem pagamentos em notas dos outros
bancos de emissão, criados no lugar em que cada uma dessas caixas funcionasse.
Finalmente, o projeto dava força de lei às anteriores arguições de inconstitucio-
nalidade da reforma de Sousa Franco, por dispositivo assim proposto:
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Tudo indicava que o governo havia gastado força preciosa na difícil batalha que
tivera de travar na Câmara para fazer aprovar seu projeto de controle dos bancos emis-
sores. O dispêndio de força o teria exaurido ainda apenas na metade da luta. O projeto
aportou ao Senado, onde a batalha certamente recomeçaria, sem que o Gabinete tives-
se meios de se fortalecer, e tudo isso foi, sem dúvida, uma das causas mais importantes
da queda do Gabinete.
A questão bancária transformou-se em uma devoradora de governos. Primei-
ramente caiu o Ministério em que Sousa Franco atuava como ministro da Fazenda,
dedicando-se a destruir o trabalho iniciado por Itaboraí no sentido de constituir um
só grande banco de emissão, depósitos e descontos. Depois veio o Ministério presidi-
do por Abaeté, tendo Sales Torres-Homem como ministro da Fazenda, acionando a
contrarreforma, mas, desestabilizando-se e ruindo sob o impacto da poderosa corrente
de oposição que se levantou contra o seu programa. As opiniões dividiam-se em dois
grandes grupos, um defendendo a multiplicidade bancária e outro a favor da restaura-
ção da unidade.
O Banco do Brasil estava no centro dessa questão, era o foco principal de todos
os debates, o alvo de ataques e defesas. Além disto, sua posição era de constante em-
baraço, não só porque nem sempre coibia excessos emissionistas, como porque não
conseguia sustentar, de algum modo por um vício de origem, a suficiência do seu fundo
disponível, considerado lastro indeclinável de suas emissões.
O novo governo, cujo Gabinete era chefiado pelo senador Ângelo Muniz da Silva
Ferraz, assumiu em agosto de 1859, mantendo atitude de cautela em relação à questão
bancária. É o que denota o discurso, que pode ser considerado de estreia da investidura
governamental, pronunciado pelo presidente do Conselho, perante o Senado, na ses-
são de 11 de agosto de 1859. Depois de tratar do programa do seu governo em linhas
gerais, passando à margem de definições programáticas, aterrou na questão bancária
com precaução:
“A nossa situação financeira não é lisonjeira, nem será decerto enquanto diferen-
tes causas que são geralmente conhecidas atuarem para o desequilíbrio entre a
receita e a despesa do Estado. (...) A mais rigorosa e estrita economia é, portanto,
uma lei de necessidade para nós e para vós (...). No nosso sistema econômico se
têm suscitado grandes questões que requerem um exame sério e profundo estudo.
Ocuparemos sobre elas a atenção da Câmara Legislativa em tempo oportuno”.
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“O Banco do Brasil, no Estado em que o colocou a facilidade com que até certa
época desenvolveu suas operações, sem atender à sua índole, natureza e fim, e
à necessidade, que depois lhe sobreveio de contraí-las, se viu quase reduzido a
operações de reformar títulos de seus devedores, sem poder auxiliar o comércio
nas próprias operações de efeitos essencialmente comerciais. É de se esperar que
a marcha cautelosa, que ora parece seguir, o habilite a conquistar a posição normal,
que lhe foi marcada pelos seus estatutos”.
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“Art. 1º - Nenhum dos bancos criados por decretos do Poder Executivo poderá
emitir, sob a forma de notas ou bilhetes ao portador, quantia superior ao termo
médio de sua emissão operada no decurso do primeiro semestre do corrente ano,
enquanto não estiver habilitado para realizar em ouro o pagamento de suas notas;
exceto se, além do fundo disponível ou de garantia e das outras condições estabe-
lecidas nos respectivos estatutos, tiver em caixa parte de seu capital equivalente
ao excesso do dito termo médio de emissão, e for esta parte representada por
moeda de ouro ou barras do mesmo metal do toque de 22 quilates, ou por barras
de prata de 11 dinheiros na relação fixada pelo art. 3º do decreto nº 1.721 de 5 de
fevereiro de 1856, contanto que o valor destas não exceda a quarta parte do da
moeda e barras de ouro.
Enquanto o Banco do Brasil não puder realizar também em ouro o pagamento
das respectivas notas, só poderá o governo conceder-lhe a faculdade de elevar a
emissão além do duplo do fundo disponível, nos termos do art. 1º § 7º da lei nº
683 de 5 de julho de 1853, e do art. 18 dos estatutos do mesmo Banco, quando
tal concessão não lhe der o direto de emitir quantia superior ao termo médio da
emissão por trimestre desde a sua instalação até o que se tiver completado em
março do corrente ano.
§ 1º - Se a emissão atual de qualquer banco exceder os limites fixados no princípio
deste artigo, será ele obrigado a reduzi-la a esses limites, dentro do prazo que o
governo determinar, nunca maior que o de seis meses.
§ 2º - Nenhum dos bancos criados por decretos do Poder Executivo poderá emitir
ou manter na circulação notas, bilhetes, e em geral escritos que contenham pro-
messa ou obrigação de valor recebido em depósito, ou de pagamento ao portador,
de quantia inferior a 50 mil réis na Corte e província do Rio de Janeiro, e a 25 mil
réis nas outras províncias.
Se dentro de seis meses, contados da publicação desta lei, o Banco do Brasil não se
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achar habilitado para realizar suas notas em ouro, não poderá daí em diante conser-
var na circulação mais de 25% da sua emissão total, representados pelos referidos
bilhetes de quantia inferior a 50 mil réis na Corte, e 25 mil réis nas províncias.
(.........................................................................................)
§ 5º - Será considerado falido o banco de circulação que não satisfizer à vista e em
moeda corrente, ou, verificadas as hipóteses do pagamento previstas pelo parágra-
fo antecedente, em moeda de ouro, à vontade do portador, a importância de seu
bilhete ou nota apresentada ao troco; e pelo tempo da mora o portador terá direito
ao juro corrente.
Ferraz iniciou de imediato a execução da lei de reforma bancária que fizera apro-
var, expedindo todos os atos governamentais necessários, entre os quais sete decretos
executivos, em rápida sucessão. Foi assim, intensa a sua atividade no trato da questão
bancária, desde a apresentação das suas emendas até a expedição imediata desses de-
cretos que, todavia, foram insuficientes. Foram necessárias novas medidas para com-
plementar os dispositivos legais e regulamentares.
Um exemplo foi o ofício que o Banco do Brasil encaminhou ao ministro da Fa-
zenda, em 22 de fevereiro de 1861, no qual explicava que somente a sua caixa matriz
estava habilitada a realizar em ouro o pagamento de suas notas, e por isso a diretoria
considerava inconveniente a abertura do troco unicamente no Rio de Janeiro, pois a
praça iria se ressentir com uma rápida e brusca mudança, que causaria a elevação exis-
tente. Assim, dizia o ofício, resolvera a diretoria do Banco não abrir o troco e solicitar ao
governo a expedição de ordens a respeito.
Ao responder, no dia 13 do mês seguinte, o ministro Ferraz ponderou que a
última parte do parágrafo 2º do artigo 1º da lei 1.083 determinava claramente que, se
dentro de seis meses o Banco do Brasil não se achasse habilitado a realizar as suas notas
em ouro, não poderia, daí em diante, conservar em circulação mais de 25% de sua emis-
são total, representados por bilhetes de quantia inferior a 50$000 na Corte e a 25$000
nas províncias, devendo sua substituição ou resgate ser operado dentro do prazo que o
governo marcasse. Sendo certo que os bilhetes de 25$000 das províncias não eram emi-
tidos pela caixa matriz, mas por suas filiais, nenhuma dúvida havia de que a expressão
Banco do Brasil referia-se a um complexo de todas as suas caixas, e que a diretoria não
cumpriria a disposição citada se abrisse o troco de suas notas por ouro no Rio de Janeiro
e não fizesse o mesmo nas províncias.
Ferraz não completou os atos de execução da lei. Embora se aponte uma causa
eleitoral para a mudança de gabinete, a questão bancária pode ter concorrido para a
queda do ministro, que acumulou descontentamentos da poderosa corrente que de-
fendia a pluralidade emissora. Em 2 de março de 1861, ele se demitiu, formando-se
um novo gabinete sob a presidência do Duque de Caxias, tendo como braço direito, na
pasta da Fazenda, José Maria da Silva Paranhos.
Assim, a execução da lei de 1860 ficou sob a responsabilidade de um novo
ministro da Fazenda, e Ferraz, nas sessões legislativas de 1861, alegou infidelidade
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empréstimo feito e até onde chegasse a soma disponível por parte do Banco; e, final-
mente, pedir autorização para elevar a emissão além do dobro, com certas restrições,
inclusive a de que seria esta uma faculdade de que só faria uso quando circunstâncias
imperiosas o aconselhassem para conservar o equilíbrio entre as suas emissões e o fun-
do disponível.
Em meados de 1860, foram verificadas diversas irregularidades, omissões e erros
nas caixas filiais da Bahia e de Pernambuco. A diretoria, entre outras medidas, resol-
veu que a direção dessas dependências devia ser mais concentrada nas mãos de seus
presidentes para que melhor se fizesse sentir a ação da caixa matriz e se conseguisse
mais ordem e harmonia no seu trabalho. Devia, ainda, ser baixado regimento interno,
definindo as atribuições dos diferentes níveis da administração.
Em janeiro de 1861, a diretoria considerou que, para prevenir as eventualidades,
devia o Banco do Brasil conservar sua emissão dentro dos convenientes limites e, além
de um forte fundo disponível em ouro, ter em carteira títulos de pagamento seguro no
dia do vencimento, para que assim pudesse, em qualquer emergência, recolher a emis-
são que excedesse. Em março, convenceu-se de que não era possível fugir ao regime
da lei de 1860 e tratou de adaptar os seus estatutos à nova regulamentação legal.
Admitiu, também, o Banco, a necessidade de levar ao conhecimento do Poder
Legislativo o fato de que, sobrecarregado de ônus tão pesados como os que resultavam
do contrato firmado com o governo, não podia continuar a desempenhar as obrigações
que contraíra. Afinal, as circunstâncias tinham variado, lutava-se com a concorrência de
outros estabelecimentos que gozavam das mesmas vantagens de emissões sem iguais
ônus e pesavam sacrifícios sobre os acionistas, que não eram compensados por vanta-
gens que deviam recair sobre os capitais.
A direção do Banco do Brasil chegou a considerar a hipótese da rescisão de seu
contrato com o governo, para continuar suas operações como simples banco de depósitos
e descontos, reavendo o valor do empréstimo que gratuitamente lhe fizera. Também foi
levantada outra hipótese, que era a da conveniência de um acordo com os bancos Agríco-
las e Rural, para constituir a unidade de emissão no distrito de circulação dessas duas ins-
tituições. A diretoria decidiu, então, pedir autorização à Assembleia Geral dos Acionistas
para efetuar um acordo com os bancos Agrícola e Rural, visando adquirir os seus direitos
de emitir notas à vista e ao portador e solicitar ao Legislativo a aprovação desse acordo e a
concessão do privilégio exclusivo ao Banco do Brasil de emitir notas à vista e ao portador
nas províncias do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
Mas a Assembleia Geral, reunida nos dias 1º e 2 de maio de 1861, não tomou co-
nhecimento do pedido, e resolveu nomear uma comissão para negociar diretamente com
o governo as novas condições de existência do Banco, autorizando-a até a propor rescisão
do contrato no caso de não serem as suas reclamações atendidas. Sentindo-se despresti-
giada, a diretoria renunciou coletivamente. Mas, ao se reunir, em 18 de maio, para eleger
os novos diretores, a Assembleia Geral reelegeu a maioria dos renunciantes.
A comissão nomeada pela assembleia para negociar com o governo apresentou
parecer retomando a fracassada pretensão de demonstrar que a lei de reforma bancária
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Comercial e Agrícola 24 mil ações ao par, para compensar desistência que este fazia
do seu direito de emissão; o Banco Comercial e Agrícola pagava ao Banco do Brasil o
valor real de 24 mil ações que recebesse na proporção das prestações realizadas, ou de
160$000 por ação, correspondentes ao capital de 3.840:000$000, ficando, além disso, os
possuidores das novas ações obrigados a completar o seu valor nominal quando fosse
exigido dos demais acionistas; o Banco do Brasil entregava ao Banco Rural e Hipotecá-
rio a soma de 400:000$000, para compensar a desistência que este fazia do seu direito
de emissão; logo que recebesse as 24 mil ações o Banco Comercial e Agrícola entraria
em liquidação, por sua conta e risco; após a entrega das 24 mil ações do Banco Comer-
cial e Agrícola e o pagamento ao Rural e Hipotecário de 400:000$000, nos termos do
acordo aprovado e dentro de um prazo inferior a 30 dias da data do decreto, começa-
riam a sair de circulação as notas dos dois bancos.
Em maio, ocorreram duas rápidas mudanças de governo. Saiu o Ministério presi-
dido pelo duque de Caxias, cujo ministro da Fazenda era José Maria da Silva Paranhos.
O líder da oposição, Zacarias Góes e Vasconcelos, foi chamado para compor o novo
Ministério, que durou apenas três dias, pois demitiu-se após ser derrotado por uma
votação na Câmara em questão de confiança. Em seu lugar tomou posse o Ministério
organizado pelo marquês de Olinda.
Em dezembro de 1862, surgiu o problema da insuficiência do fundo disponível
para a necessidade de emissão, levando a diretoria a solicitar ao governo a faculdade
de emissão ao triplo permitida pelo artigo 63 dos seus estatutos, conforme já havia
precedentes. O governo, inicialmente, recusou essa autorização, concedendo-a pos-
teriormente sob a condição de que, para usá-la, o Banco não podia elevar as taxas de
juros. O Banco não aceitou a condição e o governo acabou revogando a autorização.
Ocorreram, no período, alguns excessos na emissão, que o governo acabou tolerando,
confiante de que, prudentemente, a diretoria empregaria os meios necessários para
que não houvesse abusos.
Em outubro de 1863, o Banco do Brasil abriu o troco de suas notas. Ao mesmo
tempo, a diretoria esforçava-se para sustentar o fundo disponível da forma que deman-
dava a amplitude de suas operações. Para isso expedira ordens a Londres, a fim de im-
portar regularmente os metais de que precisava. Desse modo, foi feita uma importação
de 962.343 ½ soberanos, segundo os relatórios da época, “para fazer face ao troco das
notas do Banco”.
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Capítulo 4
Foto: Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil
1864: A grande crise
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ser considerado sinal de alguma crise iminente. Nessa ocasião, o clima de tranquilida-
de decorria do estado satisfatório em que se encontrava o fundo disponível, escorado
nas remessas de recursos recebidos da Inglaterra. A emissão circulante conservava-se
dentro do limite legal. O resgate do papel-moeda prosseguia normalmente; nas épocas
determinadas pelos estatutos, a diretoria do Banco retirava de circulação papel-moeda
na importância de 2.000:000$000, recebendo em pagamento do Tesouro Nacional o
valor equivalente. Nesse quadro destoavam, apenas, em junho de 1864, o aumento na
soma dos títulos em liquidação, a baixa das cotações das ações do Banco do Brasil e o
decréscimo dos respectivos dividendos.
Em janeiro desse ano, demitira-se o Ministério presidido pelo marquês de Olin-
da, após sofrer derrotas eleitorais. Assumiu em 15 de janeiro, mas saiu em agosto, antes
de completar oito meses, o Ministério presidido por Zacarias de Góes e Vasconcelos.
Em 31 de agosto, tomou posse o Ministério presidido por Francisco José Furtado. Es-
sas mudanças, no entanto, não representavam sinal de crise, pois a instabilidade dos
ministérios era tradicional no regime parlamentar do Império. Logo em seguida, no dia
10 de setembro, detonou-se o início da turbulência quando Antônio José Alves Souto,
o visconde de Souto, proprietário da Casa A.J.A. Souto & Cia., deu ordens para que
fosse encerrada a escrituração e suspenso o movimento de caixa e, assim, praticamente
se fechasse o seu estabelecimento, um ano e quatro meses depois de apelar ao Banco
do Brasil para que a salvasse do colapso. A esta altura, o seu débito nesse Banco subira
para mais de 20 mil contos.
O fechamento inesperado da Casa Souto espalhou o pânico por toda a cidade,
provocando a corrida de credores e depositantes aos estabelecimentos bancários. Os
estabelecimentos resistiram o quanto puderam. Durante todo o dia 10, noite aden-
tro, fizeram numerosos pagamentos. O Banco do Brasil não somente atendeu aos seus
clientes, como prestou socorro a diversos outros estabelecimentos.
A diretoria do Banco decidiu, em 11 de setembro, manter-se em sessão per-
manente, que durou até o dia 19. Resolveu, ainda, representar ao governo pedindo a
liquidação administrativa da Casa Souto, com a fiscalização dos maiores credores, mas
não foi atendida, sob a alegação de que esse ato seria de competência do Poder Legis-
lativo, que não estava reunido. Com a hesitação do governo, os fatos se agravaram e no
dia 13 ocorreu uma corrida extraordinária de portadores de notas ao balcão do Banco
do Brasil, exigindo que esses papéis fossem trocados por ouro. Casas bancárias e casas
comerciais já haviam fechado as suas portas. O tumulto crescia. O fundo metálico do
Banco do Brasil estava ameaçado de se esgotar.
No mesmo dia, o Banco solicitou medidas concretas ao governo, a começar pela
suspensão de todos os pagamentos na praça, pelo espaço de 30 dias. Pediu, também,
autorização para exceder o limite legal de emissão prescrito nos estatutos, alegando a
extraordinária demanda de descontos que tinha sido obrigado a fazer para auxiliar os
outros banqueiros e cobrir avultado troco de suas notas.
O governo decidiu então, por decreto, autorizar o aumento da emissão até o
triplo do fundo disponível e dar curso forçado, até posterior deliberação, aos bilhetes
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H ist ó r i a d o B a nc o d o B r a s i l
do Banco, que ficaria dispensado, transitoriamente, de trocá-los por ouro. No dia 17,
baixou novo decreto, mandando suspender e prorrogar por 60 dias, contados a partir de
9 de setembro, os vencimentos das letras, notas promissórias e quaisquer outros títulos
comerciais pagáveis na Corte e na província do Rio de Janeiro. Também suspendeu
e prorrogou, pelo mesmo período, os protestos, recursos em garantias e prescrições
desses títulos. A partir daí, a situação começou a acalmar. No dia 20, assinou decreto
regulando de modo especial as falências dos bancos e casas bancárias.
Muito se especulou sobre os efeitos e as causas da crise. As principais consequên-
cias foram as falências e concordatas que ocorreram na praça do Rio de Janeiro, no total
de 25, até o fim de março de 1865, de que resultaram perdas que se aproximaram de
70.000:000$000. Houve também queda do movimento comercial, baixa do câmbio e dos
valores dos imóveis, decesso das cotações das ações de companhias, inclusive das ações
do Branco do Brasil, elevação do preço da moeda de ouro e aumento extraordinário da
circulação fiduciária. A emissão do Banco do Brasil elevou-se quase ao quíntuplo do seu
fundo disponível.
Os efeitos da crise nas províncias foram moderados, exceto no Rio de Janeiro,
devido às suas estreitas ligações com a praça da Corte. As opiniões sobre as causas e os
efeitos da crise divergiam. Apontavam-se, entre as causas, a legislação econômica de
agosto de 1860; os efeitos remotos e mal curados da crise de 1857/1858; a decadência
econômica do país; a deficiência de colheitas; os abusos de crédito; os prejuízos de
longa data sofridos pelo comércio; a paralisação do comércio e o excesso de despesas
do Estado. Ao mesmo tempo, contestava-se a hipótese de decadência econômica, sob
o argumento de que havia muitos indícios de que o país progredia.
A causa mais frequentemente apontada foi o abuso do crédito, acusando-se o
Banco de dificuldades e má direção, citando-se como exemplo, a situação de exagerado
favorecimento da Casa Souto, que adotava procedimentos de operações e de contabi-
lidade bastante peculiares e insólitos. As opiniões de que a causa principal da crise de
1864 foi o abuso de crédito eram majoritárias. Mas é preciso reconhecer que, justamen-
te a partir de 1860, e acentuando-se em 1864, uma legislação rigorosa e uma decidida
execução governamental estavam produzindo efeitos no sentido de conter as emissões
bancárias, restringindo, consequentemente, o crédito. Restaurava-se no país o sistema
de unidade bancária de emissões, que decididamente apontava para o saneamento e
controle da circulação monetária e da irrigação creditícia. O Banco do Brasil, principal
provedor de crédito, vinha sendo contido no limite estatutário da sua emissão e manti-
do na rotina do troco de suas notas por ouro.
Com essas medidas não corriam propriamente abuso generalizado de crédito.
Existia, sim, uma conjuntura econômica que favorecia a eclosão de crise, agravada pela
falta de mecanismos administrativos de defesa. Ocorriam limitados extravasamentos
de créditos, praticados em menor escala por determinadas casas bancárias – entre as
quais se destacava, por sua crônica debilidade financeira, a firma A.J.A Souto & Cia. -,
escorados pela lacuna que existira na elaboração e na execução da lei bancária de 1860,
e que se refletia na própria ação de vigilância e inspeção das agências governamentais
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que lidavam com este setor de atividades. Com efeito, a lei nº 1.083 previu um rígido
controle das atividades dos bancos, mas deixou as casa bancárias fora de fiscalização,
livres de tutela governamental.
A posição do governo foi, inicialmente, de indecisão, dentro da preocupação de
não praticar atos exorbitantes. Mas houve firmeza no momento de tomar providências
para garantir a propriedade particular e a ordem. Desde o primeiro momento a força
pública compareceu para conter a multidão, mantendo guarda aos estabelecimentos
bancários, garantindo a integridade dos seus dirigentes, evitando distúrbios e excessos.
Nisso o governo agiu com eficiência e moderação.
Ao eclodir a crise, estava no poder, apenas há dez dias, o Ministério presidido por
Francisco José Furtado que, reconhecidamente, não era político de primeira linha, de
verdadeiro prestígio e experiência governamental. O posto mais importante que exer-
ceu foi o de presidente da Câmara dos Deputados, do qual saíra para a presidência do
Conselho. Era, assim, compreensível que não tivesse mostrado força de decisão.
Antes da crise, o Banco do Brasil estava devidamente enquadrado na sistemá-
tica da lei de reforma bancária de 1860, notadamente pelas duas medidas básicas de
contenção de suas emissões no limite estatutário e de rotineira troca por ouro de suas
notas, que assim ganhavam foros de conversibilidade. Desencadeada a crise, esse en-
quadramento foi interrompido com a autorização dada ao Banco para exceder o limite
da emissão e a decretação do curso forçado de suas notas, transgredindo a sistemática
da lei de reforma bancária. O governo adotou, então, posição contraditória em relação
ao Banco, de um lado exigindo sua volta à normalidade e de outro reclamando dele
recursos para cobrir os custos da guerra do Paraguai.
O próprio Banco, que tinha como novo presidente Francisco de Assis Vieira Bue-
no, nomeado em 8 de julho de 1865, admitia estar sob um regime de medidas excep-
cionais, entre as quais se destacavam a faculdade de elevar a emissão além do duplo
do fundo disponível e a suspensão do troco metálico das suas notas. Mas a diretoria
considerava essas providências indispensáveis, face à crise do ano anterior, e alegava
que não tinha sido prudente, passada apenas a intensidade visível da crise, retrair de
súbito a circulação.
Os dados estatísticos patenteavam a posição de anormalidade do Banco. O fundo
disponível que, em 30 de junho de 1864, se elevava a 14.212:729$637, embora refor-
çado com ouro importado, trocado no país, como moeda nacional e notas do governo,
reduzira-se a 10.676:931$175. O saldo da emissão que, em 31 de agosto de 1864, tinha
baixado para 25.167:150$000, já em 31 de outubro crescera para 45.790:870$000, total
mantido por muitos meses.
A soma das operações efetuadas pelo Banco durante o ano subira de
427.467:235$124 para 755.523:873$768. Isto não representava crescente prosperidade
dos diversos ramos de produção do país, e sim o resultado da profunda perturbação que
se operou em todas as transações, que convergiam para o Banco do Brasil, pois este,
como único emissor, é que era capaz de prestar socorro nos momentos de crise. A verba
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inquestionável que, se não tivesse havido tão copiosa emissão adicional de notas, não
teria o Tesouro encontrado da parte da praça ou dos particulares o auxílio que obteve.
Fora, pois, o Banco, em todas as circunstâncias, o instrumento de apoio às necessidades
do Estado, e era essa a verdadeira origem dos seus problemas de emissão19.
Sugestões para solucionar o problema do Banco não faltaram, como por exemplo,
a de que continuasse como emissor, mas fazendo uso moderado desse poder, restrin-
gindo-o ao limite legal; convertê-lo em Banco de depósito, descontos e empréstimos
hipotecários, somente; entrar numa liquidação lenta, entregando ao governo todo o seu
fundo metálico disponível e renunciando ao seu direito de emissão. O governo, no en-
tanto, hesitava. Em janeiro de 1866, limitou-se a pedir um parecer ao Conselho de Es-
tado. Em 9 de abril, enviou mensagem com proposta à Assembleia Legislativa, em que
declarou a intenção de corrigir os inconvenientes das providências extraordinárias que
promulgaram sob a pressão da crise de 1864, notadamente as de autorização ao Banco
do Brasil para elevar a sua emissão e para suspender o troco de suas notas por ouro.
Em relatório apresentado à Assembleia Legislativa, em 8 de maio, o ministro da
Fazenda, João da Silva Carrão, professor de economia política em São Paulo, analisou a
situação do Banco do Brasil, dizendo que a suspensão do troco das suas notas por ouro,
decretada para existir enquanto durassem os efeitos da crise de 1864, perdurava por
mais de 19 meses sem que o Banco se achasse em condições de voltar à normalidade,
ao mesmo tempo em que se tornou uma fábrica de papel-moeda. E apontou como um
dos efeitos dessa situação a dificuldade de remessa do dinheiro de umas para outras
praças do Império, principalmente do Rio de Janeiro para as praças do Norte.
Enquanto o governo vacilava, a diretoria do Banco do Brasil tentava solucionar,
no dia a dia, os problemas de emissão e de reforma ou liquidações de débitos. Através
do barão de Mauá, que se encontrava na Europa, tentou obter crédito externo, mas as
gestões feitas em Londres fracassaram e a diretoria resolveu aguardar melhor oportuni-
dade, enquanto adotava uma orientação de rigor na concessão de créditos.
Em representação ao Parlamento, a diretoria lembrou os importantes serviços
prestados durante a crise e admitiu que, para eliminar as dificuldades, bastaria cruzar os
braços, suspender as operações de descontos e, deixando vencer os títulos de sua carteira,
satisfazer o pagamento das notas que se apresentassem ao troco. Mas, se houvesse assu-
mido essa posição negativa de omissão, teria sido considerado culpado de incalculáveis
desastres, sem ao menos resguardar seus próprios interesse, pois se tornaria vítima das
perdas que a crise necessariamente havia de causar aos seus devedores. Ademais, desa-
pareceriam os capitais e o comércio não resistiria e iria à falência, em sua maior parte.
Alegou o Banco, na representação, que suas dificuldades teriam desaparecido
se se restabelecesse a confiança na instituição. A garantia dos depósitos permitiria as
retiradas dos títulos descontados, a diminuição da emissão e, finalmente, restituiria ao
Banco as condições normais anteriores à crise. Com a guerra, o Tesouro passou a absor-
ver a maior soma do capital flutuante e disponível, que deveria ter sido destinado ao
Banco e aos outros estabelecimentos, para garantir a diminuição da emissão.
19. Jornal do Commercio, edição de 18 de julho de 1866.
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Não teria sido inferior a 40.000:000$000 a soma das importâncias que o Tesouro
retirou de circulação para cobrir as despesas com a guerra, para a qual teriam concor-
rido não só os capitais que se retiraram da praça, como grande parte dos que achavam
depositados no Banco do Brasil e outros estabelecimentos de crédito. Se a esse total
se acrescentassem os 8.000:000$000 emprestados pelo Banco diretamente ao Tesouro,
concluir-se-ia que a emissão não excederia o limite máximo de 50.000:000$000.
Enquanto se mostrava tímido nas medidas que deveria tomar pela via legislati-
va, o governo atuou mais decididamente pela via administrativa, ao nomear, em abril
de 1866, o visconde de Jequitinhonha para substituir Francisco de Assis Vieira Bueno
na presidência do Banco. Embora tomasse posse com manifestações de moderação,
o novo presidente não tardou a assumir uma atitude agressiva, procurando conter as
concessões de crédito e as emissões e até obrigar o Banco a fornecer ao governo a lista
dos seus devedores.
Ao mesmo tempo, contraditoriamente, o governo exercia pressão sobre o Banco
para obter recursos acentuadamente, em meados de 1866. Autorizou-o, por exemplo,
a exceder-se na emissão para auxiliar o London and Brazilian Bank, que havia entra-
do em dificuldades. É possível entender que a passividade da diretoria do Banco
diante das exigências do governo pudesse ser classificada como patriótica, dentro do
princípio de contribuir para aliviar as extremas dificuldades resultantes das grandes
despesas para custear a guerra contra o Paraguai. Mas chegou-se a temer que, ao
concentrar-se no atendimento das necessidades do governo, o Banco sacrificasse o
apoio às indústrias do país.
O Tesouro continuava sugando recursos e, em maio de 1866, a sua dívida junto
ao Banco já passava de 20 mil contos de réis, sem que cessassem as exigências de mais
fornecimentos. A partir daí, ao contrário, o governo começou a tirar ouro do Banco,
autorizando-o a fazer operações de crédito para importar metais, para reduzir a emissão,
mas logo depois se apoderou das cambiais que pagou com bilhetes do Tesouro. Em
várias ocasiões, o governo já não solicitava recursos ao Banco e sim mandava-lhe ofícios
determinando que fizesse entregas de recursos, inclusive metálicos, ao Tesouro.
Enquanto isso, acentuavam-se as reações, em vários setores do país, principal-
mente no próprio Parlamento, ante a incapacidade do governo para tomar medidas
positivas de solução dos problemas financeiros. As dificuldades agravaram-se quando
chegaram notícias de uma crise financeira que eclodira na Inglaterra e que, natural-
mente, provocaram apreensões na praça do Rio de Janeiro. O clima de contestação à
inatividade do governo contagiou um dos próprios membros do Ministério, Paula e
Souza, ministro da Agricultura, que tomou a iniciativa de apresentar à Câmara, em 11
de junho de 1866, um projeto de lei que divergia da proposta que o ministro da Fazen-
da apresentou no começo de abril.
O projeto continha duas autorizações ao governo: a primeira, para permitir ao
Banco do Brasil elevar a emissão de suas notas até 8.000:000$000 além do triplo do fun-
do disponível, para atender às necessidades da praça e descontar bilhetes do Tesouro,
devendo os lucros provenientes desta emissão adicional serem entregues ao próprio
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Tesouro; a segunda, para o próprio governo emitir até 4.000:000$000 em notas do Te-
souro, nos valores de 1$000, 2$000, 5$000 e 10$000, com carimbo especial, as quais
teriam curso unicamente na Corte e província do Rio de Janeiro e seriam recolhidas
dentro de um ano pela renda geral ou por emissão de apólices.
A segunda autorização tinha o objetivo de resolver ou atenuar o problema do
troco na praça do Rio de Janeiro, que se tornava mais premente. Por isso, mesmo a ma-
téria do projeto passou a figurar, nos registros parlamentares, sob o título de “Emissão
do Banco do Brasil e trocos miúdos”. Esse projeto, apoiado pelo ministro da Fazenda,
considerado como do próprio governo, discutido e combatido na Câmara – onde se
destacou na oposição, pelo brilho da palavra, poder de argumentação e revelação de co-
nhecimentos, o deputado José Bonifácio -, foi parcialmente aprovado. Antes da aprova-
ção definitiva, no entanto, o seu próprio autor, o ministro da Agricultura, alegando que
as últimas notícias vindas da Europa eram bastante esperançosas, pediu o adiamento
da votação do projeto por 48 horas, tirando-o de cena.
O Ministério não foi, assim, capaz de conceber e apresentar um plano de capta-
ção de recursos para o custeio da guerra externa, como a opinião pública e as próprias
câmaras desejavam e, certamente, aprovariam. Preferiu ficar no terreno movediço dos
artifícios financeiros. Mas, compreende-se esse quadro quando se constata que, a partir
do começo de 1866, o Ministério entrou, internamente, num verdadeiro processo de
dissolução, acentuado por divergências entre seus membros.
Com as hesitações do governo, acabou sendo aprovado um projeto de iniciativa
individual para solucionar os problemas do Banco. Na sessão de 3 de julho de 1866,
o senador Silveira da Mota apresentou e fundamentou um projeto de lei destinado a
“mudar a natureza do Banco do Brasil” e corrigir os inconvenientes acumulados como
banco emissor. Explicou Mota que o objetivo era, “ao mesmo tempo, substituir esse
banco de circulação, de descontos, de depósitos, por uma instituição que o país mais
altamente reclama, a de um banco hipotecário: o meu fim é melhorar a circulação e al-
terar a instituição desse banco de circulação, de modo que ele possa servir mais eficaz-
mente à indústria principal do país, que é a lavoura, oprimida pela falta de capitais que
a alimentem para o futuro, e sob pressão dos pagamentos das dívidas que a oneram”.
Mas o projeto, ressalvou o senador, não representava apenas a sua opinião pessoal, pois
ouvira diferentes especialistas, particularmente Torres-Homem e Itaboraí.
A Comissão de Fazenda do Senado, que o aprovou com poucas alterações, apre-
sentou substitutivo propondo que o governo ficasse autorizado a modificar o contrato
primitivo com o Banco do Brasil, mesmo alterando disposições de lei e de estatutos; o
Banco cessaria sua emissão e continuaria fazendo as operações autorizadas e os emprés-
timos hipotecários; o Banco ficaria dividido em duas repartições, que teriam a mesma
administração e fundos separados – uma delas, a de hipotecas, receberia, como fundo
exclusivamente destinado às suas operações, a soma de 35.000:000$000 em títulos da
carteira, para serem convertidos em títulos hipotecários; o governo pagaria ao Banco a
importância do papel-moeda resgatado na forma dos artigos 2º e 4º da lei de 5 de julho
de 1853 e dos bilhetes ou letras do Tesouro que existissem na carteira, mas essas duas
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parcelas e o produto dos metais que o Banco tivesse em caixa seriam integralmente
empregados para retirar da circulação igual valor de suas notas; para esses e outros pa-
gamentos o governo tinha de fazer emissão de papel-moeda.
As notas do Banco que restassem na circulação continuariam, de acordo com o
substitutivo, a ser recebidas nas estações públicas e seriam resgatadas, anualmente pelo
estabelecimento, na razão de 5% a 8% de sua importância primitiva, cabendo ao gover-
no, ouvida a administração do Banco, fixar anualmente a cota do resgate. O serviço de
emissão do Banco e da guarda do material que lhe pertencia seria entregue à Caixa de
Amortização, ficando punível com as penas do Código Criminal quem fosse responsável
por emissão ou saída de papel-moeda, a não ser para substituição ou entrega ao Tesouro
em virtude de lei autorizadora. Logo que cessasse o estado de guerra, a Assembleia Geral
Legislativa consignaria no orçamento quantia a ser aplicada no resgate do papel-moeda
em cada exercício. Se o Banco não concordasse, dentro do prazo de 30 dias, com a modi-
ficação de seu contrato com o governo nos termos prescritos, ficava revogado o decreto de
14 de setembro de 1864, que o autorizava a suspender os trocos de suas notas por ouro,
medida de coação suficiente para afastar qualquer hipótese de recusa.
O Ministério liderado pelo marquês de Olinda demitiu-se em julho de 1866 e foi
substituído por outro, presidido por Zacarias de Góes e Vasconcelos, que acumulou a
pasta da Fazenda. Torres-Homem foi nomeado para a presidência do Banco do Brasil.
Enquanto isso, o substitutivo, discutido na Câmara e no Senado, expressamente adota-
do pelo governo, contestado principalmente pelo visconde de Jequitinhonha e defen-
dido por Itaboraí e Zacarias, recebeu apenas leves alterações e foi finalmente aprovado
e sancionado, em 12 de setembro de 1866, como lei nº 1.349.
Entre as justificativas apresentadas para facilitar a sua aprovação, estavam as de
que permitira a melhoria do meio circulante, a correção dos abusos cometidos pelo
Banco do Brasil como instituto emissor, a provisão de recursos ao governo nas situações
de crise e de guerra e a reforma do Banco. O certo, porém, é que o verdadeiro motivo
foi a requisição insaciável de recursos, em espécies metálicas, para o custeio da guerra,
que colocava e por vários anos iria manter o Tesouro sob déficits orçamentários. Com
efeito, o governo precisava, pelo menos para avaliar os desequilíbrios financeiros, das
espécies metálicas que constituíam o fundo disponível do Banco do Brasil e que se
tornariam dispensáveis, até mesmo inúteis, com a cassação do direito à emissão a que
serviam de lastro.
Reunida em 20 de setembro de 1866, a Assembleia Geral dos Acionistas decidiu
aceitar a reforma estabelecida na lei. No dia 11 de outubro, foi assinado com o governo
o contrato da reforma. No mesmo mês, o governo baixou o decreto nº 3.720, que dispôs
sobre a execução da lei nº 1.349 em relação à emissão do Banco do Brasil e ao paga-
mento da dívida do Tesouro ao estabelecimento. No dia 30 do mesmo mês, o Banco
vendeu ao governo toda a sua reserva metálica, prevalecendo o câmbio de 24 ¼ para
a venda das libras esterlinas e de 25 para a venda do outro amoedado e em barras, no
prazo de seis meses. O valor total, que incluía 2.395:344$000 do ágio sobre o preço de
custo, foi de 25.766:781$248.
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Partido Conservador. O Partido Liberal, que estava desgastado por dissidências, logo
se mostrou unido para se opor ao novo governo.
Um decreto imperial dissolveu a Câmara e fez-se nova eleição, manobrada pelo
poder de influências e pressão do governo. Elegeu-se maioria conservadora poderosa,
quase unânime. Dissolvida a Câmara antes que estivessem votadas as medidas orça-
mentárias e as autorizações financeiras indispensáveis para o custeio da guerra e para
a própria subsistência governamental, o novo Ministério encabeçado por Itaboraí teve
de lançar mão de um recurso arbitrário. Assim, o Executivo ultrapassou o limite de sua
competência baixando um ato de típica função legislativa, o decreto nº 4.232, de 5 de
agosto de 1868, que autorizou o ministro da Fazenda a emitir, no exercício de 1868-
1869, até a importância de 40 mil contos de réis de papel-moeda, “para acudir a urgen-
tes despesas da guerra contra o governo do Paraguai e às demais obrigações contraídas
pelo Tesouro”, e sob a condição de que seria solicitada a aprovação da Assembleia
Legislativa logo que se reunisse.
Prometeu o ministro, perante o imperador, que o Tesouro faria todos os es-
forços para se manter nos limites da emissão autorizada. Pouco depois, o decreto nº
4.244, de 15 de setembro de 1868, autorizou o ministro da Fazenda a contrair, por
subscrição pública, um empréstimo que não excedesse a 30 mil contos de réis. O
sucesso dessa operação surpreendeu o governo, pois apresentaram-se 4.146 subscri-
tos pleiteando a tomada de 105.836 apólices, quando 120.000:000$000 foram postos
à sua disposição. Realizou-se um rateio equitativo e o Banco do Brasil figurou entre
os subscritores, com uma proposta de 20 mil apólices. O empréstimo provou que o
país ainda mantinha sua vitalidade econômica e deu ao governo meios para evitar ao
máximo o apelo à emissão.
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Capítulo 5
Foto: Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil
Guerra do Paraguai
abala economia
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seus capitais no seu movimento operacional, ainda mais num momento em que havia
carência de recursos para financiamentos.
Outra decisão da diretoria que provocou censuras foi a de aplicar recursos da Car-
teira Hipotecária na compra de apólices. No Parlamento, na sessão legislativa de 1870, o
senador Silveira da Mota declarou que o Banco estava reduzido à função de comprar apó-
lices e bilhetes do Tesouro e que, se lhe aparecesse uma letra de lavoura ou do comércio,
não a descontaria. Segundo ele, “o Banco estava desnaturado, desvirtuado completamen-
te, pois não era de descontos, não era hipotecário. Era só banco para fazer transações com
o governo, não servindo à indústria comercial, cujos descontos eram muito limitados”.
Em 22 de abril de 1870, a Assembleia Geral dos Acionistas votou e aprovou
emendas aos estatutos, entre as quais as de facilitar as reuniões da Assembleia Geral e
compor a administração do Banco com um presidente e um Conselho de seis membros,
entre os quais se escolheria o vice-presidente. Pouco tempo depois, Militão Máximo
de Sousa renunciou à presidência, sendo eleito para substituí-lo José Machado Coelho
de Castro, que permaneceria muito tempo no cargo. Em setembro de 1870, demitiu-
se o Ministério presidido por Itaboraí, sob suspeitas de que se opunha às medidas de
abolição da escravatura preconizadas pelo imperador.
O Ministério formado para substituir o de Itaboraí, presidido pelo visconde de
São Vicente, foi mal organizado e durou pouco mais de cinco meses. Foi chamado o
visconde do Rio Branco para organizar um novo Ministério, onde atuou como presi-
dente e ministro da Fazenda, por um período extraordinário, pois só se retiraria em 25
de julho de 1875, com mais de quatro anos de trabalho. Um dos seus primeiros atos foi
contratar um empréstimo de três milhões de libras na praça de Londres, que já vinha
sendo tentado por seu predecessor, para cobrir o resgate da dívida flutuante, o custeio
do prolongamento da Estrada de Ferro D. Pedro II e a escassez de recursos normais
para despesas extraordinárias dos ministérios da Guerra e da Marinha.
Como primeiro resultado de reforma dos estatutos do Banco do Brasil, já a partir
do final de 1870, descongestionava-se a pauta das sessões da diretoria. Novo emprésti-
mo foi deferido à Casa Mauá e nova compra de apólices feita ao Tesouro, no valor de
18.300 contos de réis. O dividendo pago pelo Banco foi reduzido e fixado, no ano de
1871, em 8$000 por ação, sob o fundamento de “garantir o futuro do estabelecimento e
consolidar seu capital e os rendimentos que em alguns anos escassearam com o resgate
da emissão a que o Banco estava obrigado”.
Em relatório apresentado à Assembleia Geral dos Acionistas em 31 de julho de
1871, o presidente do Banco propôs a ampliação do crédito agrícola – antes a orientação
era de restrição das operações da Carteira de Hipotecas – e apresentou um programa
que se poderia considerar adiantado e precursor, pois continha ideias como as de prazos
longos, juros módicos, pauta moderada de amortização por parte dos lavradores e até
previsão das perdas de safras. Mas a este programa, quando aprovado pela Assembleia
dos Acionistas, acrescentaram-se alguns pedidos de compensações, inclusive a prorro-
gação do prazo de duração do estabelecimento por mais 14 anos e a redução da amorti-
zação das suas notas em circulação.
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dívida flutuante, ou, na falta destes, de outros títulos considerados seguros. Transfor-
mada em projeto, a proposta foi debatida e aprovada, resultando na lei nº 2.565, de 29
de maio de 1875. Já então havia sido emprestada aos bancos a soma de 16.033:250$000,
sob garantias de apólices, paga com presteza.
A crise deve ter influído para que, em julho daquele ano, o visconde do Rio
Branco decidisse exonerar-se, como todo o Ministério, encerrando assim o seu longo
governo de quatro anos. Teriam mais decisivamente contribuído para sua demissão,
no entanto, as acusações de ter concedido exagerados favores ao visconde de Mauá,
causando elevado prejuízo ao Tesouro, entre os quais o de confiar à Casa Mauá 756 mil
libras esterlinas, por meio de cambiais negociáveis pelo Tesouro para serem pagas em
Londres. O pagamento não foi feito e houve o recâmbio.
Graças ao auxílio do governo, a maior parte dos bancos escapou à derrocada, mas
os seus depósitos continuaram reduzidos. O relatório do Banco aos acionistas, em junho
de 1877, observava que, embora tivesse ocorrido aumento dos depósitos a juros, tanto
em conta corrente, quanto por letras a prazo fixo, não houve correspondente acréscimo
de transações, em consequência “de causas gerais e locais que têm provocado liquida-
ções parciais em diversos ramos de negócios”. Moratórias foram concedidas a diversos
devedores de uma avultada soma de capital. Houve atraso de devedores da lavoura no
pagamento de juros vencidos. Tudo isso concorreu para que a conta de lucros deixasse
de apresentar resultado mais vantajoso.
O mesmo relatório assinalou movimento muito limitado na repartição hipote-
cária, devido à falta de capital próprio e à acanhada circulação da letra hipotecária. O
Banco do Brasil, por sua vez, despojado do poder de emissão, desobrigado de se trans-
formar na fonte de pronto-socorro a bancos e casas bancárias ameaçados de ruína, pôde
atravessar a crise sem se envolver com riscos de perda, embora tivesse se beneficiado
com suporte de recursos do governo, que logo conseguiu repor.
A 6 de novembro de 1875, foi sancionado o decreto legislativo nº 2.687, autori-
zando a fundação de bancos de crédito real, com base no plano traçado na lei nº 1.237,
de 24 de setembro de 1864, e engenhos centrais. Essa resolução resultou de um longo
parecer e de um projeto de lei, apresentados à Câmara dos Deputados e lidos na sessão
de 20 de julho de 1875 pela sua Comissão de Fazenda e por uma comissão especial
nomeada para estudar os meios de auxílio à lavoura.
O parecer levantava a tese de que a agricultura era a principal fonte de riqueza
nacional, sendo por isso indispensável à proteção dos poderes públicos para que lhe
fosse prestado o necessário apoio pois, desta forma, estaria se equipando o país dos
meios capazes de ampliar sua receita. Analisava ainda, com profundidade, as raízes
das causas que reduziram o setor agrícola ao estado de atraso e decadência em que se
achava, entre as quais relacionava a falta de conhecimentos profissionais e de estradas,
os elevados impostos de exportação, carência da mão de obra e escassez de capital.
O projeto passou por longas e acaloradas discussões e por profundas modificações
nas duas casas do Parlamento. Durante os debates surgiram referências ao Banco do
Brasil, que se comprometera a dar financiamento à lavoura, até 25 mil contos, a juros de
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Capítulo 6
Foto: Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil
A escravidão chega ao fim.
Novas crises
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do à frente o visconde de Ouro Preto, que logo em novembro sofreu a derrocada que
resultou na proclamação da República.
Em junho de 1881, admitindo que as operações de câmbio davam prejuízo, o
Banco retraiu-se no mercado. O fato repercutiu no Parlamento através de pedidos de
informações, apreciações e conjecturas que procuraram devassar as suas operações.
Respondendo, embora com relutância, a um pedido de informações do Parlamento, o
Banco esclareceu que, até 1880, tivera lucros nas operações de câmbio, mas sofrera pre-
juízo, em 1881, de 798:403$887. No Senado, Teixeira Júnior, utilizando até cálculos de
probabilidades, procurou demonstrar que esses prejuízos foram muito mais elevados.
No relatório apresentado à Assembleia Geral dos Acionistas, em 30 de julho de
1881, o Banco assinalou que, na Carteira Hipotecária, as concessões de créditos con-
tinuavam limitadas ao valor das amortizações recebidas, dentro do propósito de não
estender o círculo dessas operações, embora continuasse satisfatório o estado da repar-
tição hipotecária, com regulares serviços de juros e amortizações. O atraso, afirmou, era
meramente de rotina.
Em 1882, divulgou-se que a balança das transações do Brasil com o exterior apre-
sentava um desequilíbrio no valor de 49 mil contos de réis, disto resultando a lenta,
mas constante baixa do câmbio. Em 1883, o governo autorizou emendas nos estatutos
do Banco que haviam sido aprovadas pela Assembleia Geral dos Acionistas, e que am-
pliaram algumas operações autorizadas e liberaram outras.
O relatório do presidente do Banco aos acionistas, em 20 de agosto de 1883,
registrou reduções no movimento operacional e reconheceu que a má situação da la-
voura se acentuou no ano bancário que terminava. Enquanto, no ano anterior, 70%
dos contratos hipotecários estavam sendo pagos em dia, no final do ano seguinte essa
proporção baixou a 65% para os contratos de agricultura, mantendo-se em 50% para os
urbanos. Na Assembleia dos Acionistas, realizada em 9 de outubro de 1883, reclamou-
se que a soma confiada pelo estabelecimento ao governo era muito alta, pois chegava a
um total de 45 mil contos, superior ao do capital. Esta aplicação, defendeu-se a direto-
ria, não levava o Banco a regatear créditos ao comércio e à indústria.
No período de 1883 a 1884, o movimento do Banco do Brasil, que se recuperava
da depressão ocorrida no ano anterior, voltou ao normal. Registraram-se, então, altas
cotações das suas ações, em torno de 300$000, e elevações no movimento de caixa,
nos pagamentos de cheques, nos lucros, nos descontos de letras, nas contas correntes
garantidas e nas contas correntes credoras. As perspectivas de uma abolição da escra-
vatura próxima geraram incertezas na economia do país e, sem a necessária segurança
para a realização de empréstimos à lavoura, o Banco decidiu manter uma atitude de vi-
gilância, sustentando os contratos. Nessa altura, somente 54% dos devedores estavam
pagando pontualmente as suas prestações.
Pouco tempo depois a situação agravou-se. No segundo semestre de 1884, cresceu
o número de pedidos de moratória e de liquidações com abatimentos por parte dos clien-
tes. O capital da Carteira Comercial estagnou, sob o peso dos protestos, falências e mora-
tórias. Lucros e fundos de reserva foram afetados. Os dividendos baixaram de 10% para
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8,5%. As cotações das ações caíram até 220%. O lucro líquido, que no ano anterior chegou
a mais de 5 mil contos, declinou para pouco menos de 4 mil contos. O fundo de reserva,
que deveria elevar-se para pouco mais de dez mil contos, desceu a 7.775:777$635. O
saldo da conta de títulos em liquidação, que em julho de 1884, estava em quase 1.600
contos, subiu no ano seguinte para pouco mais de 5 mil contos. Os índices numéricos do
movimento do Banco acusavam baixa generalizada. Registrava-se uma depressão, embo-
ra leve e passageira, que já no ano seguinte cederia aos indícios de recuperação.
Os governos sucediam-se a pequenos intervalos, abalados pelas dificuldades fi-
nanceiras e pelo movimento abolicionista, que já tinha apoio da Casa Imperial e mar-
chava para uma vitória. Não o abrandou a aprovação, pelo Parlamento, de um projeto
que tentava atenuar a escravidão, inclusive com a emancipação dos sexagenários. Não
existiam propriamente adversários da abolição, mas sim, duas correntes de abolicionis-
tas: uma que a queria logo e total e outra que a preconizava progressiva, para amortecer
o abalo que sofreria a lavoura com a súbita escassez de mão de obra escrava.
O imperador tentou manter o Partido Liberal no poder, mas suas lideranças já
não mais tinham condições de organizar ministérios. Chamou, então, ao governo, em
agosto de 1885, o Partido Conservador, conferindo ao barão de Cotegipe a missão de
organizar e presidir o Ministério. No mesmo mês, a Assembleia dos Acionistas apro-
vou uma reforma dos estatutos – sancionada pelo governo somente dois anos depois,
por decreto de 4 de agosto de 1887 -, que prorrogava o prazo de duração do Banco
até o ano de 1910 e admitia o voto de acionistas na Assembleia por procuração com
poderes especiais.
Em 1886, o Banco, finalmente, mudou de presidente. Coelho de Castro, que du-
rante muitos anos vinha exercendo o cargo, demitiu-se e deu lugar ao visconde de To-
cantins. No mesmo ano, entre março e abril, o Banco entrou em acordo com o ministro
da Fazenda para encarregar-se de abrir, por conta do Tesouro, subscrição pública “para
o empréstimo de 50 mil contos de réis nominais”, percebendo a comissão de 0,5% so-
bre o valor nominal subscrito. Foi também contratado um empréstimo no exterior, de 6
milhões de libras. Um dos motivos apresentados foi a consolidação da dívida flutuante
do Tesouro, já em torno de 100 mil contos de réis.
O ministro Francisco Belisário Soares de Sousa, da Fazenda, apontou na Câmara,
nesse ano, a gravidade de situação das finanças do país e lembrou que “o déficit orça-
mentário foi quase uma constante por todo o Império, desde 1826 até 1886, pois, em
60 anos, somente registraram-se saldos em sete exercícios”. No final desse ano cresce-
ram, na imprensa, as críticas à administração do Banco do Brasil, ao qual se atribuíram
prejuízos de até 8.830:681$000.
Segundo documentos do próprio Banco, ocorreu, no começo de 1887, o aumento
de 9% dos dividendos relativos ao segundo semestre de 1886, base mantida no ano de
1887. No começo do segundo semestre de 1887, o Banco envolveu-se com vários casos
de liquidações e falências, inclusive de firmas importantes na cidade do Rio de Janeiro.
O movimento abolicionista também contribuía para as dificuldades do Banco,
principalmente nos casos de proprietários que resolviam dar espontaneamente eman-
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“Só um dos dois bancos são obrigados sempre a operar, qualquer que seja a taxa
dos descontos. No dia em que sustassem as operações, dar-se-ia uma crise. Na
praça do Rio de Janeiro esta função é principalmente exercida pelo Banco do Bra-
20. Retrospecto do Jornal do Commercio, publicado em 9 de janeiro de 1888.
21. Antônio Carlos, Os Bancos de Emissão no Brasil, 1923, p. 201 e 202.
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sil. Todos os outros bancos podem restringir seus negócios. O do Brasil é obrigado
a fazê-lo sempre; no dia em que parasse as suas operações haveria uma crise.”
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feitos empréstimos com penhor agrícola, sob caução de títulos da dívida pública, ou de
ações de companhias garantidas pelo Estado e por letras com duas firmas, pelo menos,
de lavradores abonados, ou de mutuário lavrador e de outra pessoa abonada, vigorando,
nesta parte, a arbítrio do Banco, por um a dois anos.
Foi aprovada, por 70 votos contra 40, na sessão de 26 de julho, uma simples
moção dizendo que a Câmara concordava com a solicitude do governo em acudir às
urgências da agricultura. Com isso, em agosto e outubro, foram assinados contratos
entre o Banco e o governo para conceder auxílios ao campo e estendê-los a agricultores
de Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte e Sergipe, com um capital de três mil
contos de réis, entrando cada parte com a metade. Não faltaram críticas a esses acordos,
sob alegação de que o governo tinha tirado recursos do Tesouro a fim de entregá-los a
um estabelecimento bancário, para conceder pequenos créditos que serviriam a alguns
lavradores, com o agravante da preferência por estabelecimento que não tinha cum-
prido o seu contrato anterior. O governo, argumentava-se, iria fazer muitos favores ao
Banco para que cumprisse o que já era claramente sua obrigação.
Na realidade, o auxílio à área rural foi prestado, embora deficiente. A utilização
dos empréstimos não foi grande e isto permitiu que se publicasse que a abolição não
causou, como antes se temia, a perda total da atividade agrícola e nem a ruína das for-
tunas. Pelo contrário: as colheitas cresceram. Divulgou-se, também, que o produtor en-
frentou a nova situação com coragem e dignidade, tornando atrativo o trabalho agrícola
para o trabalhador livre e nacional, empregando o emigrante europeu e comprovando
as vantagens do trabalho remunerado22.
Ao assumir o poder, presidindo o Ministério, de 7 de junho de 1889, e ocupando
a pasta da Fazenda, o visconde de Ouro Preto alertou sobre a insuficiência dos auxí-
lios prestados à agricultura e resolveu intensificá-los, não somente com o aumento do
valor de recursos fornecidos pelo Tesouro, como pela maior disseminação territorial
dos financiamentos, empenhando-se em ampliá-los a um número maior de estabeleci-
mentos bancários. Em alguns casos também foram celebrados acordos, estendendo-se
empréstimos aos engenhos centrais, indústrias ligadas à agricultura, províncias, mu-
nicipalidades e empresas de viação, fábricas centrais e outras. Não faltaram críticas,
entre as quais de que o governo fugiu ao seu dever de indenizar a lavoura, preferindo
oferecer-lhe o auxílio oneroso do crédito.
Para apoiar a agricultura a longo prazo, o Ministério apresentou à Câmara um
projeto de concessão de garantia governamental para a fundação de banco de crédito
real, pelo qual o governo era autorizado a conceder a garantia de juros de 5% e amorti-
zação de letras hipotecárias, emitidas por bancos que se fundassem sob o plano da lei
nº 1.237. Aprovado, não chegou a ser discutido no Senado. Outra proposta de reforma
bancária foi apresentada na sessão do Senado, de 19 de junho de 1887, pelo senador
Teixeira Júnior, visando à reimplantação dos bancos de emissão. Sua ideia central era
de que, com base em autorização do Poder Executivo, poderiam emitir bilhetes ao
portador e à vista, conversíveis em moeda corrente do Império, os bancos de depósitos
22. Jornal do Commercio, edição de 24 de abril de 1889.
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de agosto de 1889, havia sido convidado para tomar parte, com outros bancos, em um
empréstimo de 100 mil contos a ser lançado pelo governo, e já tinha assinado contrato
garantindo, por sua parte, a soma de 25 mil contos de réis.
A abolição da escravatura provocou retrocesso nas operações do Banco do Brasil.
No período de 1887-1888, caiu o movimento de caixa. A administração, embora sem
recusar a assistência creditícia, dirigiu as operações de modo cauteloso, procurando
garantir a sua segurança. Caiu o movimento dos descontos, embora aumentasse o das
contas correntes com garantia. O resultado inevitável foi a diminuição dos lucros líqui-
dos, que se situaram em 3.889:265$283, ainda assim permitindo a distribuição de um
dividendo de 9% e o reforço do fundo de reserva com o valor de 845:150$283. No ano
bancário de 1888 a 1889, os lucros líquidos baixaram a 3.551:607$502 e os dividendos
foram pagos à razão de 8$000.
Em 1889, a imprensa advertiu que o Banco do Brasil estava se expondo a riscos,
pois não era um só banco, mas dois, sob uma só denominação – um hipotecário e agrí-
cola e o outro de depósitos e descontos. Não era possível, argumentava-se, conciliar
as exigências dos negócios hipotecários, que eram operações de longo fôlego que re-
clamavam empates permanentes de capital, com as exigências das operações de des-
contos e depósitos, que só podiam ser feitas com recursos de pronta mobilização. Em
novembro, o Exército conquistou o poder, proclamando a República, que representou
um ato de intervencionismo militar, recebido sem resistência pela coletividade e pela
cúpula monárquica. O novo governo pôs em prática o regime federal de Estado, dando
ao país o nome oficial de República dos Estados Unidos do Brasil, adotou nova bandei-
ra, estabeleceu a liberdade de cultos, a separação entre o Estado e a Igreja e o sufrágio
universal, e eliminou o Conselho de Estado.
Convocou, também, a Assembleia Constituinte que, reunida, em 15 de novembro
de 1890, elaborou, com base num projeto apresentado pelo governo provisório, a nova
Constituição, promulgada em 25 de fevereiro de 1891. Por pequena maioria, o Congresso
elegeu primeiro presidente da República o marechal Deodoro da Fonseca, que procla-
mou o novo regime e chefiou o governo provisório. Para vice-presidente foi eleito o
marechal Floriano Peixoto, que não era o candidato da preferência de Deodoro.
Os primeiros anos do regime republicano foram de discórdias políticas e difíceis
ajustes. O presidente da República chegou a dissolver o Congresso, numa atitude ti-
picamente monárquica. Fortes resistências levaram o presidente a renunciar, sendo
substituído pelo vice, Floriano Peixoto, que permaneceu no cargo até o fim do manda-
to, embora devesse, antes, convocar nova eleição.
Na área econômica, a República estreou com a atuação de Rui Barbosa na pasta
da Fazenda. Ele manteve, inicialmente, com prudência, a execução da política finan-
ceira conduzida pelo último Ministério imperial. A faculdade de emitir foi concedida
a novos bancos e mantidos os compromissos de auxílio à agricultura. Mas, criticando
a política agrícola e financeira dos governos anteriores, o novo ministro desencadeou,
posteriormente, várias mudanças, até que, em 17 de janeiro de 1890, promoveu a sua
reforma financeira, através de quatro decretos que foram baixados no mesmo dia.
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“Como se vê, esse mecanismo por demais complicado para poder funcionar com
segurança era, sobremodo, delicado para ser posto em prática, por conter os ger-
mes das mais perigosas aventuras financeiras, como a imobilidade de fundos em
empresas a longo prazo e de êxito pouco seguro, comprometendo, assim, a pers-
pectiva do reembolso eventual da dívida contraída com o público pela emissão dos
bilhetes. Isso era tanto mais arriscado porquanto as ideias financeiras do momen-
to, voltadas inteiramente para a especulação, estimularam de maneira irresistível
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A execução dos planos devia ocorrer durante um longo tempo e, assim, dependia
vitalmente da continuidade da ação governamental. Mas a gestão de Rui Barbosa na
pasta da Fazenda foi breve, pois ele demitiu-se em janeiro de 1891. Julgou, Rui Bar-
bosa, que o plano de suas reformas foi uma obra de conjunto, “um sistema cheio de
correspondências complexas e sutis, onde não poderia tocar em qualquer parte sem
modificar a ação das outras e que então foi fácil destruir este plano, o que se fez a gol-
pes cegos, pela introdução de enxertos bastardos” 24.
Entretanto, bem diferente dessa ideia de um conjunto harmonioso, o que se
viu na execução das reformas de Rui Barbosa foram desajustes e desafinações, que
exigiram o constante recurso de remendos e correções. Assim, foram desencadeadas
medidas sucessivas, que ora significavam avanço, ora retrocesso, ora tomavam uma
ou outra direção, de tal modo que a reforma foi criticada por não obedecer a qualquer
princípio, justapondo bancos, uns emitindo à base de apólices, outros sobre base de
moeda corrente e ainda outros sobre base metálica. Dessa forma acabaram proliferan-
do, na massa do papel flutuante, vários tipos de moedas de menor compatibilidade,
como o papel-moeda do Estado, o resto do papel inconversível do Banco do Brasil, o
papel conversível do Banco Nacional, o do Banco de São Paulo e o papel inconversível
de outros bancos.
Naturalmente, tudo isso contribuiu para afetar as atividades econômicas. A cor-
rente emissora resultante das reformas financeiras propostas pelo ministro Rui Barbosa
não foi o ponto de partida da turbulenta fase de especulações, principalmente da Bolsa,
que surgiu nos primeiros anos da República. Esse processo teve início no último ano
do Império, quando o visconde de Ouro Preto, à frente do Ministério da Fazenda,
procurou coibí-la. No entanto, Pandiá Calógeras, ao mesmo tempo em que descreveu
o grau de delírio a que chegaram as especulações, carregou nas acusações de responsa-
bilidade a Rui Barbosa 25.
Apesar de manter cautela perante esse quadro, o Banco do Brasil mostrou-se dis-
posto a cooperar na gestão financeira do primeiro governo republicano, realizando, com
este fim, entendimentos bastantes cordiais com o ministro da Fazenda que, em fins de
abril de 1890, ofereceu-lhe a incumbência de auxiliar o crédito público. Era uma volta
ao antigo recurso de sustentação do câmbio, que o Banco não rejeitou.
Em junho de 1890, o Conselho Fiscal do Banco proclamava que a sua situa-
ção econômica e financeira era próspera e segura, apesar de ter passado por grande
transformação e de ter precisado se reorganizar. A nova emissão sobre base metálica,
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Capítulo 7
Foto: Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil
O difícil resgate
do papel-moeda
Bolsa de Fundos Públicos do Rio de Janeiro, instalada na rotunda da terceira Praça do Comércio.
Desenho de Bryan de Grineau para La Nación de Buenos Aires (1922).
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bônus emitidos e a eficiência das garantias oferecidas em cada empréstimo. Isto ali-
mentou novas críticas ao Banco, com acusações de irregularidades cometidas à sombra
desses auxílios. Os deputados Francisco Glicério e Sebastião de Lacerda defenderam
o Banco, que acabou enviando à Câmara relação das empresas beneficiadas e a especi-
ficação das somas emprestadas a cada uma delas.
O ano de 1894 marcou, também, mudança no governo federal. O vice-presidente
Floriano Peixoto, já sem saúde, não contou com apoio suficiente para continuar no
poder. Sem concorrentes, Prudente de Morais foi eleito presidente da República. A
partir de agosto, a diretoria do Banco, com vistas a tratar de uma revisão do acordo so-
bre o débito do estabelecimento com o governo, fez uma investigação interna, na qual
verificou que o capital estava reduzido a 12.000:000$000. O novo ministro da Fazenda,
Rodrigues Alves, realizou entendimentos com o Banco para analisar a possibilidade
de obter recursos para o Tesouro. Foi atendido, com restrições e condições. O lucro
líquido do Banco, durante o ano, baixou para 11.938:397$220. Ainda assim, foi mantido
o dividendo de 6% por semestre.
No princípio de 1895, o governo realizou com sucesso um empréstimo externo,
no valor de 100.000:000$000, com a colaboração do Banco da República, em parte com
o objetivo de resgate de papel-moeda. Preocupado com a baixa do câmbio, o ministro
Rodrigues Alves conseguiu dois empréstimos no exterior, mas o problema persistiu. O
ministro solicitou, então, a intervenção do Banco da República, que, embora relutante,
decidiu agir, impedindo que a taxa cambial descesse a menos de nove.
Em setembro do mesmo ano, Rangel Pestana renunciou ao cargo de presidente,
em caráter irrevogável e foi acompanhado por alguns diretores, sob motivos que não
ficaram bem esclarecidos. Por propostas do ministro Rodrigues Alves, foi nomeado
Afonso Pena para a presidência, tomando posse em 19 de outubro.
Logo, o novo presidente mostrou capacidade e segurança no desempenho das
suas funções, mantendo na diretoria um ambiente de bom entendimento, sem discri-
minações de caráter pessoal ou funcional, mesmo em relação aos dois grupos de dire-
tores – os nomeados pelo governo e os eleitos pelos acionistas. No dia 28 do mesmo
mês, a diretoria resolveu restaurar, em nova tentativa, a Câmara de Compensação, ou
Clearing House, dissolvida em 25 de fevereiro de 1890.
O governo mostrou-se omisso e indeciso na execução de vários dispositivos da
lei de fusão dos bancos, como no caso da conversão dos lastros das emissões bancárias
e da indenização, aos bancos emissores, das vantagens e direitos que lhes foram cassa-
dos. O ministro da Fazenda havia adiado essas medidas, primeiro por falta de verbas
e depois para permitir uma decisão do Congresso que, no entanto, discutiu o assunto
sem chegar a nenhuma conclusão. Terminava o ano de 1895 sem que o decreto e a lei
sobre a fusão tivessem sido adequadamente executados. A fusão foi realizada, mas as
disposições reguladoras do meio circulante não foram cumpridas.
No relatório apresentado à Assembleia dos Acionistas, reunida em abril de 1898,
o presidente do Banco da República, Afonso Pena, argumentou que seria mais con-
veniente atribuir exclusivamente ao Estado a responsabilidade pelas emissões bancá-
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rias, passando a pertencer ao Tesouro os lastros que lhes serviriam de base. O Banco
mantinha, então, a preferência e os privilégios, assegurados por lei, no caso de futuras
emissões em notas ao portador, conversíveis em ouro e resgate do papel-moeda. Os
acionistas aprovaram moção de apoio à ideia.
Era de se presumir que Afonso Pena e o ministro da Fazenda agiriam de comum
acordo, pois Rodrigues Alves, logo em seguida, pronunciou-se a favor da ideia em re-
latório ao presidente da República. No documento, destacou que a União dispunha de
um forte direito creditório sobre o Banco da República – dívida que o estabelecimento
não podia solver rapidamente sem comprometer a sua própria existência -, e que se
encontravam aí os recursos adequados ao resgate do papel-moeda, sem necessidade
de aumentar as responsabilidades do Tesouro e provocar abalos na circulação. Encam-
padas as emissões bancárias pela transferência ao Tesouro das apólices e do ouro que
lhes serviram de base, o primeiro efeito, explicou Alves, seria a redução do quantum da
dívida consolidada atribuída à nação.
Mensagem apresentada pelo presidente da República ao Congresso, em maio de
1896, também apoiava a ideia de encampação das emissões bancárias pelo Estado, que
habilitava o Tesouro a acelerar o resgate, no momento oportuno, por meio das apólices
tiradas da circulação. Em 31 de julho de 1896, a Comissão de Finanças do Senado,
em sintonia com essa orientação, apresentou projeto de lei. Durante discussões do
projeto revelou-se que a dívida do Banco da República ao Tesouro chegava à soma de
184.000:000$000, maior, portanto, do que o seu capital e a sua capacidade de pagar.
Aprovado e transformado em lei, o projeto foi logo executado através de uma
série de decretos do Poder Executivo. Merece destaque a disposição que autorizou a
substituição do bônus por notas do Tesouro Nacional. Regularizando e uniformizando
o meio circulante, essa providência contribuiu eficazmente para diminuir as dificul-
dades com que lutava a praça. Também foi determinando o resgate gradual do papel-
moeda, reservando-se recursos para isso.
Aprovada pela Assembleia dos Acionistas em abril e pelo governo, em decreto de
maio de 1897, realizou-se uma reforma nos estatutos do Banco da República, que intro-
duziu, entre outras, as seguintes alterações: redução do capital social, em três anos, para
100 mil contos; supressão das disposições estatutárias que autorizavam e regulavam o
direito de emissão do Banco e as incumbências relativas ao resgate ou substituição do
papel-moeda da União ao serviço da dívida interna nacional, ficando expresso que o
Banco passaria a operar somente como de depósitos e de descontos; redução, para cin-
co, do número de membros da diretoria, que ficaria com um presidente nomeado pelo
governo e quatro diretores eleitos pelos acionistas.
Durante 1896 e no começo de 1897, acentuou-se a preocupação da diretoria a
respeito de um reajuste dos débitos ao Tesouro. Com base no artigo 2º da lei nº 427, de
9 de dezembro de 1896, foram realizados entendimentos entre o Banco e o Tesouro.
Afinal, foi formalizado um acordo, em 18 de maio de 1897, com essas disposições: o
Banco desistiu de qualquer direito a reclamar contra a extinção da sua faculdade emis-
sora e dos demais favores de suas concessões; o remanescente da dívida foi apurado
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Por este ajuste, o governo pagaria aos seus credores, durante três anos, os juros a
vencer da dívida externa e mais as garantias de juros prestadas às estradas de ferro, com
títulos de um novo empréstimo, até o total de dez milhões de libras esterlinas. Esti-
pulou-se, ainda, que a amortização das dívidas ficaria suspensa durante três anos. Este
acordo, o primeiro dessa espécie a ser firmado pelo Brasil, foi denominado de funding
loan. Aqui e no exterior o acordo foi recebido, com poucas exceções, de modo favorá-
vel. Defendendo-o das violentas críticas feitas no Senado por Oiticica, Rodrigues Alves
expôs as vantagens do contrato, mas, cautelosamente, declarou que o acordo atendia
realmente às grandes necessidades do momento, mas não resolvia a crise financeira.
O próprio governo estava convencido disso. O momento exigia que o governo e
o Congresso unissem seus esforços, de forma que o ajuste celebrado tornasse possível
seguir, segundo Alves, o “bom caminho de uma perfeita reconstituição financeira”.
Também defendendo o acordo, Serzedelo Correia advertiu, na Câmara:
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Também foi aprovado pelo Congresso um projeto que criava os fundos de res-
gate e garantia de papel-moeda, com a cláusula de flexibilidade pela qual, sempre que
a situação cambial e o estado de circulação aconselhassem recursos de um dos fundos,
poderiam ser empregados no aumento do outro, até metade dos seus importes. A exe-
cução desse programa de contenção foi lenta e difícil e os primeiros sinais de melhoria
surgiram a partir do ano de 1899.
A mensagem apresentada pelo presidente da República ao Congresso Nacio-
nal, em maio de 1900, abriu-se em previsões otimistas, chegando a firmar que eram
evidentes e incontestáveis os sinais de redução da intensidade de crise financeira e
econômica. O relatório do ministro da Fazenda, em 1901, anunciava bons resultados na
execução do programa governamental, como o restante de 100.000:000$000 de papel-
moeda; dotação ao fundo de garantia no valor de um milhão e meio de esterlinos; ele-
vação da taxa cambial a 10,5%; acumulação de recursos de Londres, da ordem de mais
de dois milhões de esterlinos; pagamento de dívidas do Tesouro e aperfeiçoamento da
arrecadação das rendas federais.
O governo conseguiu algum resultado no esforço para arrendar estradas de ferro
e encampar ferrovias, visando acabar com o sistema adotado no Império e seguido pela
República, segundo o qual o Estado concedia garantia de juros de 7% sobre o capital ne-
las empregado. O artigo 5º da lei nº 741, de 26 de dezembro de 1900, que orçou a receita
geral para o exercício de 1901, apresentou uma disposição elevando de 15% para 25% a
cobrança em ouro dos direitos de importação, reservados 5% ao fundo de garantia.
Em 1898, as atividades do Banco da República transcorreram num clima de se-
gurança e otimismo, como se deduz do parecer do Conselho Fiscal e do relatório do
presidente do Banco à Assembleia dos Acionistas, em 1899. De acordo com esses do-
cumentos, o Banco, auxiliando o comércio, obteve um lucro líquido de 7.657:826$000,
o que permitiu dividendo ainda maior do que o proposto pela diretoria. Assim, tão
estável, o Banco decidiu propor um acordo ao governo para liquidar a sua dívida de
186.000:000$000 com o Tesouro, pagando à vista a quantia de 50.000:000$000. Lavrou-
se, então, o acordo, em 10 de março de 1900, com prévia autorização de decreto presi-
dencial. Dele constou que o Banco da República pagaria à vista metade daquela impor-
tância de 50 mil contos de réis e em quatro prestações semestrais a outra metade.
O acordo foi duramente criticado, sobretudo devido ao grande abatimento, mas
o próprio ministro da Fazenda, na sua exposição de motivos, explicou que o desconto
era vantajoso e a operação constituía uma verdadeira antecipação de pagamento, sem
prejuízo algum para o Tesouro. Além de outras vantagens, a operação libertava o Ban-
co dos seus vínculos com o governo. Em 26 de abril do mesmo ano, a Assembleia dos
Acionistas reuniu-se e aprovou as modificações estatutárias que adaptavam o estabele-
cimento ao regime comum das sociedades anônimas, passando a sua administração a ser
exercida por uma diretoria composta de um presidente e quatro diretores, todos eleitos
pela Assembleia. Assim, deixavam de existir diretores nomeados pelo governo.
Ganharam corpo, novamente, as acusações de que o governo lesava o Tesou-
ro, liquidando uma dívida de 186 mil contos por 50 mil. E, novamente, o governo
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defendeu-se, alegando que a dívida só teria aquele alto valor ao fim de 18 anos. Não se
tratava, na versão oficial, de uma dívida de 186 mil contos, mas de uma dívida que, no
fim de 18 anos atingiria essa importância. Para atualizar o valor e fazer a liquidação, o
governo empregou os mesmos processos de descontos que eram realizados em milha-
res de transações diárias entre o comércio e os bancos.
A desvantagem do acordo veio à tona posteriormente quando o Banco entrou em
colapso e então se verificou que foram desembolsados, para antecipar pagamentos ao
Tesouro, recursos de que o Banco não podia abrir mão para manter-se estável e justa-
mente numa ocasião em que os bancos estrangeiros ganhavam a preferência dos depó-
sitos do público, já decrescentes nos bancos nacionais. De acordo com documentos in-
ternos do Banco, o declínio da instituição tinha raízes nos anos de 1898 e 1899, quando
a diretoria ocupava-se em apreciar propostas de liquidações nas múltiplas modalidades.
Era baixo o volume de decisões sobre propostas de novos empréstimos, denotando que
o Banco perdia a capacidade ou retraia a sua disposição para distribuir o crédito.
Em novembro de 1898, Afonso Pena pedira demissão do cargo de presidente
do Banco, sendo substituído por Luiz Martins do Amaral. Na mesma ocasião, Campos
Sales tomou posse como presidente da República.
Até 6 de setembro de 1900, as atas da diretoria não abordavam as grandes difi-
culdades que assoberbavam o Banco e que o levariam a um verdadeiro colapso. Subi-
tamente, na ata da sessão de 10 de setembro, o presidente Luiz Martins do Amaral
relatou um quadro de verdadeira derrocada. Explicou que diversas retiradas enfraque-
ceram a caixa do Banco, obrigando-o a apelar ao governo por recursos de reforço. No
entanto, estes só viriam através de cambiais, que o Banco ainda teria de vender, para
obter o numerário em moeda nacional.
As dificuldades de caixa continuavam. O Banco apelou ao governo para que fi-
zesse emissão e lhe fornecesse até 50 mil contos de réis. O governo alegou que o seu
programa e a própria lei vedavam emitir. Os entendimentos se processaram no mais
alto nível, até com a presença do presidente da República. Cogitou-se, então, em en-
tregar a direção do Banco ao próprio governo, e foi admitido, como diretor, Otto Peter-
sen, designado pelo governo e ligado a um banco estrangeiro.
A divulgação das notícias de que o Banco e o governo não chegavam a um
acordo sobre o apoio que deveria ser dado à instituição acabou provocando uma cor-
rida de depositantes. Finalmente, o governo assumiu a direção do estabelecimento,
com a intenção de organizá-lo com duas carteiras, a antiga liquidação e a nova em
operações de depósitos e descontos. Precisou, no entanto, solicitar provimento ao
Congresso. Coube ao deputado Serzedelo Correia apresentar na sessão da Câmara,
em 18 de setembro de 1900, em nome da Comissão de Orçamento, um projeto de
lei que, simplesmente, autorizava o governo a recolher em conta corrente do Banco
da República até a soma de um milhão de esterlinos, retirados do fundo de garantia
criado pela lei nº 581, de 20 de julho de 1899.
Em 14 de setembro, o deputado apresentou um aditivo ao projeto. Foi incluída
uma autorização ao governo para emitir até 100.000:000$000 em apólices nomina-
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tivas destinadas a pagar os credores do Banco e abrir, ao mesmo Banco, uma conta
corrente de até 25.000:000$000, para auxiliar operações de descontos ao comércio.
Apesar das críticas, o projeto foi finalmente aprovado e sancionado como lei nº 689,
de 20 de setembro de 1900.
Por exigência dessa lei, reuniu-se a Assembleia dos Acionistas para aprovar o
novo regime do Banco. Com poucos votos contrários, decidiu-se que a administração
do estabelecimento seria confiada ao governo, com faculdade de dar-lhe a organização
que julgasse mais conveniente. Também ficou expresso que a Assembleia Geral Ordi-
nária seria convocada anualmente, mas apenas para que a administração fornecesse aos
acionistas informações sobre a situação do Banco.
Em 16 de outubro de 1900, acordo firmado entre o governo e o Banco consolidou
a transferência, ao primeiro, da administração e de todo o patrimônio social do segun-
do, e estipulou que os acionistas não teriam direito a reclamar do Tesouro qualquer in-
denização pelo resultado da liquidação. O governo baixou decreto dispondo que a nova
administração seria exercida por dois diretores nomeados pelo ministro da Fazenda, ao
qual competiria também demiti-los e decidir nos casos de desacordo entre os dois.
Otto Petersen e Custódio de Almeida Magalhães foram os primeiros diretores
nomeados pelo governo para dirigir o Banco da República na sua nova fase. Petersen,
cuja inclusão na diretoria havia sido muito criticada por ser estrangeiro e com uma
administração classificada de infeliz, pediu exoneração, alegando motivos de saúde,
em setembro de 1901. Foi substituído por Raimundo de Castro Maia, que se manteve
até julho de 1906. Em novembro de 1902, o governo aumentou o número de diretores
para três. Serviram como diretores, em sequência de substituições, Carlos Augusto de
Carvalho, Custódio José Coelho de Almeida, Duque Estrada, Ubaldino do Amaral,
Bulhões de Carvalho e José Inácio Everton de Almeida.
Os primeiros diretores do Banco sentiram-se forçados pelas circunstâncias a par-
tirem para uma decisão drástica de sacrificar, pelos preços de um mercado em crise,
bens ou títulos que em épocas normais alcançariam melhores cotações. Durante esta
gestão a rotina do Banco transcorreu em quase completa obscuridade. Não se divulga-
ram relatórios, nem balanços, não se reuniu a Assembleia dos Acionistas, não se distri-
buíram dividendos e nem se lavraram atas de sessões dos órgãos dirigentes. Nem se
cumpriu o mínimo dever de prestar contas aos acionistas e à opinião pública.
É de se reconhecer, no entanto, que não houve excesso de crédito, mas alegou-
se que, no início, muitas irregularidades foram cometidas nas operações de câmbio. Ao
longo de uma linha restritiva de financiamentos, os lucros foram muito reduzidos. No
período de 5 de novembro de 1900 a 31 de dezembro de 1901, por exemplo, o lucro
líquido da nova Carteira Comercial chegou a apenas 724:926$964.
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Capítulo 8
Foto: Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil
Reforma de estatuto
ampliou a ação do Banco
Em 1908, quando a Amazônia vivia o ciclo da borracha, o Banco do Brasil instalou em Manaus sua
primeira filial - a Sede e Agência Central eram no Rio de Janeiro -, materializando a vocação para
dinamizar o interior e apoiar no processo de integração nacional.
Nesse mesmo ano, eram também inauguradas sucursais em Belém e Santos, esta última pioneira na
assistência financeira ao café.
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ca. E o destino de grandeza que o Banco conseguiu realizar, apesar das dificuldades,
tropeços e até retrocessos, provou que não houve erro em simplesmente dar continui-
dade ao que estava feito, em lugar de se fazer tudo de novo.
Vale ressaltar que o Banco do Brasil reatou suas atividades, em 1906, com uma
participação que o renovava e que ia manter-se e ampliar-se para o futuro: era o ingresso
do governo como acionista, com metade do capital, o que reforçava o seu poder de inter-
ferência nas Assembleias Gerais, às quais os acionistas particulares compareciam, geral-
mente dispersos, com limitado poder de voto. O controle do governo reforçava-se com a
faculdade que lhe cabia de nomear o presidente e o diretor da Carteira de Câmbio.
Consolidando os dispositivos dos estatutos, o presidente da República baixou o
decreto nº 6.169, de 31 de outubro de 1906, concedendo autorização ao Banco do Brasil
para receber depósitos de ouro e em moeda legal, entregando aos depositantes quantia
equivalente em notas conversíveis à vista, fornecidas pelo Caixa de Amortização. O
Banco podia, também, emitir cheques-ouro, pagáveis à vista, ou requisitar da Caixa de
Amortização notas conversíveis à vista, desde que provasse ao ministro da Fazenda a
existência, em seus cofres, de depósitos de ouro de sua propriedade, que garantissem
o valor da emissão. A providência tinha o objetivo de facilitar o manejo do numerário
metálico e de retê-lo em circulação. As notas eram um instrumento mais útil do que os
vales, que vinham sendo empiricamente utilizados.
Apesar de sua pouca ligação com a história do Banco do Brasil, duas providências
governamentais da época merecem ser destacadas: o Convênio de Taubaté e a Caixa
de Conversão. Os preços do café estavam, há tempo, em baixa, e o problema carecia de
solução, através de medidas estáveis que provocassem a valorização do produto. Mas o
governo de Rodrigues Alves conservava-se inativo, sem romper a política de contenção
rigidamente executada por Campos Sales.
A interpretação, então, era de que a baixa cotação do café resultava da superpro-
dução, cuja solução só podia estar na contenção ou mesmo na redução das colheitas.
Mas, nas regiões cafeeiras e, sobretudo, no estado de São Paulo, levantou-se um mo-
vimento de reivindicações de uma política de valorização, encabeçado pelo presidente
do Estado, Jorge Tibiriçá, e com base na lei da receita orçamentária para 1906. Essa lei
deu autorização ao governo federal para entrar em acordo com os governos dos estados
produtores para regular o comércio do café, promover a sua valorização, organizar e
manter serviço de propaganda do produto, a fim de aumentar o seu consumo e, ainda,
para endossar as operações de crédito.
Reunidos em 25 de fevereiro na cidade de Taubaté, já ao final do governo de
Rodrigues Alves, os presidentes Jorge Tibiriçá, de São Paulo, Nilo Peçanha, do Rio
de Janeiro e Francisco Sales, de Minas Gerais, convocados por Peçanha, resolveram
solicitar ao presidente da República que convocasse o Congresso Nacional, em sessão
extraordinária e urgente, para a decretação de uma lei criando um órgão destinado à
emissão de papel-moeda conversível em ouro, a uma taxa prefixada, ao qual se deno-
minaria Caixa de Conversão. O lastro seria a importância do empréstimo contratado
pelos estados com o endosso da União.
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Nessa mesma ocasião foi aprovado um convênio, mais tarde aditado por outro
em Belo Horizonte, reunindo um elenco de medidas de intervenção governamental
no mercado de café, e cuja execução coincidiu com uma grande safra, nos anos de 1906
a 1907. O plano consistia em retirar do mercado a produção excedente, o que requeria
recursos para adquiri-la. Mas não foi possível obter logo um empréstimo externo pre-
visto no acordo. O governo de São Paulo, com insuficiente cooperação dos governos
dos dois outros estados, procurou sustentar os preços, através da compra do produto
no mercado de Santos e, depois, no mercado do Rio de Janeiro. Empréstimos parciais
obtidos no exterior e no Banco do Brasil foram empregados para comprar e afastar do
mercado uma parte da produção, conseguindo-se atenuar a depressão de preços, cuja
tendência era se agravar.
O Convênio de Taubaté visou também a criação da Caixa de Conversão, que
concorreria para a estabilidade do câmbio, evitando principalmente as elevações das
respectivas taxas, que reduziriam internamente os rendimentos dos produtos em pa-
pel-moeda. Sancionado como decreto nº 1.575, de 6 de dezembro de 1906, instituiu a
Caixa, especialmente destinada a receber moedas de ouro de curso legal, entregando-
se, em troca, bilhetes ao portador, com valor igual aos das moedas de ouro recebidas,
fixado em 15 esterlinos por mil réis.
De acordo com o decreto, os bilhetes teriam curso legal, possuindo, assim, efeito
liberatório para contratos de pagamentos que seriam resgatados e pagos à vista, a quem
os entregasse, para serem trocados por moeda de ouro na Caixa. O ouro recebido pela
Caixa, em troca dos bilhetes que emitisse, seria conservado em depósito e não poderia
ser destinado, em caso algum, a outro fim que não fosse o de converter os bilhetes ao
tipo de câmbio fixado. Cessariam as emissões da Caixa quando os bilhetes emitidos por
ela atingissem o valor de 320.000:000$000. Seriam transferidos, sem mudança de apli-
cação, para a Caixa de Conversão, os fundos de resgate e de garantia do papel-moeda.
Inicialmente, a Caixa funcionou com grande êxito. Houve até fluxo de capitais
estrangeiros. Mas a situação mudou quando o dinheiro inconversível do Tesouro alcan-
çou melhor câmbio, e piorou com a guerra europeia de 1914. A Caixa sofreu um duro
golpe, que provocou sua extinção, quando, entre as medidas governamentais para fazer
face à crise provocada pela deflagração da guerra, foram suspensas as suas operações.
Como era de se prever, o novo Banco do Brasil enfrentou dificuldades, pois o
sistema de continuidade ao Banco da República transmitia-lhe o legado de uma crise
prolongada, que obrigou a diretoria a ocupar-se, por longo tempo, em avaliar uma va-
riada gama de propostas de liquidações e de compras de bens adquiridos em muitas
liquidações anteriores. Decorridos quatro anos da transformação, em julho de 1910,
ainda assinalavam-se em ata da diretoria liquidações diárias de contas com abatimentos
de 80% a 90%.
Em março de 1908, o presidente do Banco, João Ribeiro de Oliveira e Souza,
apresentou à diretoria os resultados medíocres dos dois semestres do ano anterior,
confessando-se apreensivo. Com dificuldade, foram distribuídos escassos dividendos,
em meados de 1907 e no começo de 1908. Em 45 falências abertas, coubera ao Banco,
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largo quinhão de prejuízos. Assim, só era possível prever pequenos lucros líquidos. As
cotações das ações do Banco subiram de 114$000 para 197$000.
No relatório que apresentou, em 1909, o ministro da Fazenda disse que a esta-
bilidade do câmbio, então verificada, devia-se “a ação conjugada da Caixa de Conver-
são e do Banco do Brasil, que em todos os tempos contou com o auxílio do governo”.
Nesse ano, o presidente do Banco, João Ribeiro, exonerou-se e foi substituído por
Ubaldino do Amaral Fonseca.
Em agosto de 1910, o presidente da República, Nilo Peçanha, que sucedeu
Afonso Pena, falecido em 1909, enviou mensagem ao Congresso, pedindo permissão
para subscrever mais 62.500 ações do Banco, ou seja, metade da emissão de 125.000
ações que, pelos estatutos, deviam ser lançadas à subscrição pública. Assim, o governo
iria manter-se como detentor definitivo da metade do capital do estabelecimento.
O país foi sacudido, em 1910, pela campanha da eleição presidencial, quando, pela
primeira vez, defrontaram-se dois fortes candidatos à Presidência: Rui Barbosa e o mare-
chal Hermes da Fonseca. Rui Barbosa levantou a bandeira da preservação civilista, en-
quanto o seu adversário era acusado de ser um candidato militarista. Apoiado pela grande
maioria da classe dominante nos estados, Hermes da Fonseca foi eleito e empossado.
Em abril de 1911, foi nomeado presidente do Banco do Brasil, João Alfredo Cor-
rea de Oliveira, o estadista, já então com 75 anos de idade, que se distinguira politi-
camente no regime monárquico, especialmente por sua participação como presidente
do Conselho de Ministros, na abolição da escravatura. Oliveira anunciou que havia
anormalidades a corrigir, especialmente quanto à quebra da antiga tradição pela qual
o Banco esmerava-se em sua função essencial de fazer circular rapidamente o dinheiro
por todo comércio.
Nada menos de dois terços do capital formado pelo Banco tinham sido, até en-
tão, colocados em poucas mãos e nelas ficaram represados pelas contínuas reformas e
prorrogações de prazos. O novo presidente preconizou a volta à disseminação de cré-
dito. Como se verificaram graves desvios nas agências do Pará e de Manaus, para elas
foi mandado o próprio advogado do Banco, para tomar medidas corretivas. Naquele
tempo, o Banco ainda não aproveitava como gerente de suas filiais os seus próprios
funcionários. Em 1913, a diretoria aprovou um regulamento para as agências e a criação
de um órgão central destinado a fiscalizá-las.
Na sessão de abril de 1913, da Assembleia Geral dos Acionistas, foi aprovada,
embora sem o apoio do representante do Tesouro, uma proposta de Pedro Betim Paes
Leme destinada a beneficiar os funcionários através das seguintes medidas: aquele
que fosse considerado inválido por uma junta médica, se contasse mais de dez anos de
serviço ativo teria direito à aposentadoria com tantas trigésimas partes dos vencimentos
do seu cargo quantos fossem os anos de serviços apurados; para esse fim o cálculo seria
sobre o vencimento do trabalho exercido durante dois anos, pelo menos, ou sobre o
do ano anterior quando o tempo não tivesse sido preenchido; quem contasse mais de
30 anos de serviço efetivo teria direito a ser aposentado com todos os vencimentos do
cargo que exercesse, se provasse invalidez.
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Capítulo 9
Foto: Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil
O esforço de produção
e a crise do café
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negócios conduziu a praça do Rio de Janeiro a uma relativa escassez de numerário, que
se propagou a todas as outras, com elevação das taxas de desconto e uma diminuição
geral de depósitos. Com isso, o Banco foi levado a diminuir as operações. O relatório
apresentado no ano de 1921 foi mais incisivo, ao assinalar que a depressão financeira
universal, a fraqueza dos mercados consumidores e a hostilidade dos respectivos go-
vernos a qualquer incremento de importação burlaram as esperanças de instauração de
uma fase de prosperidade.
Manifestou-se, assim, no fim de 1920, crise que se acentuou ainda mais, em 1921
e 1922. O governo procurava manter o propósito de não emitir e, com isso, segundo se
informou no Congresso, estava desaparelhado para acudir às necessidades do Tesouro,
cuja situação se tornou delicada, faltando numerário para pagamento de contas de for-
necimento e até mesmo de pessoal, principalmente nas delegacias fiscais dos Estados.
Em dezembro, José Maria Whitaker assumiu a presidência do Banco.
Em 1922, a diretoria do Banco do Brasil preocupava-se com a baixa cambial,
considerada alarmante e para a qual estariam contribuindo, entre outras coisas, a falta
de letras de exportação, a baixa das cotações dos produtos brasileiros e o desequilíbrio
orçamentário e na balança exterior. Também o governo foi apontado como culpado
da crise cambial, porque encampou estradas de ferro e porto no Rio Grande do Sul,
pagando em francos, empregou um milhão de libras esterlinas equivalente ao resgate
antecipado de títulos da nossa dívida externa e proibiu a exportação de açúcar.
O governo não deixou de intervir contra a baixa de câmbio, embora cautelosa-
mente. Nomeado para a direção da Carteira de Câmbio, Custódio Coelho assim des-
creveu a atuação desse órgão:
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lando na Assembleia dos Acionistas, realizada bem mais tarde, em 28 de abril de 1924,
Coelho refutou as acusações, explicando que, de julho de 1922 ao começo de 1923, o
Tesouro Nacional, nas suas relações com o Banco do Brasil, só usufruiu de benefícios
e reais vantagens.
Em 13 de novembro de 1920, foi aprovada pelo Congresso e sancionada, sob o
nº 4.128, uma lei que, entre outras providências, instituiu no Banco do Brasil a Car-
teira de Emissão e Redescontos, cujo limite de operações, no valor de 100 mil contos
de réis, não podia ser excedido, salvo por ato do presidente da República. Figuraram
outras disposições restritivas: só iam ser admitidos a redescontos efeitos do comércio,
letras de câmbio e saque emitidos em moeda nacional, à ordem de valor não inferior a
5:000$000, garantidos, pelo menos, por duas firmas comerciais ou bancárias, plenamen-
te idôneas; os prazos dos títulos redescontados não deviam exceder quatro meses e a
taxa de redescontos de 6% ao ano; só seriam admitidos a redescontos papéis emitidos
para fins agrícolas e industriais.
A Assembleia dos Acionistas, de 10 de dezembro de 1920, aprovou reforma dos
estatutos, que tratava das bases para ajustar com o governo as condições de organiza-
ção e funcionamento da carteira, inclusive um dispositivo que a constituía como seção
autônoma, para funcionar sob a inspeção direta do governo, de acordo com as leis,
regulamentos ou avisos, instruções ou ordens do Ministério da Fazenda. O contrato
entre o governo e o Banco para a instalação e organização da carteira foi assinado a 11
de dezembro de 1920.
Figuraram, finalmente, na lei do orçamento da receita para 1921, novas dispo-
sições, entre as quais merecem destaque estas duas: a emissão, autorizada no artigo 9º
do decreto nº 4.182, deveria ser feita diretamente pelo Tesouro Nacional, mediante
requisição fundamentada do presidente do Banco do Brasil, ficando todo o ativo da
carteira para responder integral e principalmente pela restituição ao Tesouro das
importâncias deste recebidas; só deveriam ser aceitos para redescontos títulos que
não resultassem de negócios de mera especulação e cuja importância tivesse sido ou
devesse ser aplicada em legítima transação de movimento, relativa à agricultura, à
indústria e ao comércio.
Depois que começou efetivamente a funcionar a partir de sua instalação, em 1º
de fevereiro de 1921, a carteira foi bastante elogiada. Com ela, implantou-se a tran-
quilidade na vida econômica; dotou-se de maior elasticidade o sistema monetário; tor-
nou-se possível restituir à circulação uma soma calculada em mais de 400 mil contos,
que se conservava improdutiva nas caixas do Banco, aumentou a eficiência do capital,
preparando-se para mais tarde uma redução considerável na taxa de juros. Conferiu-se,
por fim, ao governo federal, o poder de influir diretamente na economia nacional, fo-
mentando a produção ou reprimindo a especulação através de modificações oportunas
na taxa de juros das quantias que fornecesse.
Por outro lado, a carteira deu ao Banco do Brasil uma posição de prestígio e a fa-
culdade para operações de rendimento considerável, que logo se refletiriam nos lucros,
elevados a uma soma nunca anteriormente atingida. Segundo relatório apresentado,
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Estouraram revoltas, principalmente em São Paulo e no Rio Grande do Sul, que ter-
minaram, em 1926, na formação da “Coluna Prestes”, que percorreu grande parte do
interior do país em movimento de agitação e rebeldia.
Ao assumir, Artur Bernardes enviou ao Congresso uma exposição que lhe fizera o
ministro da Fazenda, e que descrevia em cores sombrias a situação financeira, abalada
pelo endividamento do Tesouro e pelos déficits orçamentários. Preconizou um progra-
ma de reforma, saneamento e austeridade, vinculado à colaboração de todas as classes e
à dedicação patriótica de todos os habitantes do país, o que lhe faltou em grande parte,
pois defrontou-se todo o tempo com a campanha oposicionista e revoltas.
Enquanto criava agências na Argentina e no Uruguai, o Banco continuou abrindo
suas filiais no interior do país. Só no ano de 1923 foram inauguradas 22. Outras estavam
em trabalhos de instalação definitiva ou em fases preliminares. No início de maio de
1924, o número chegava a 74. Havia, ainda, deficiências em algumas agências, que a
diretoria procurava sanar sem retardar o progresso do Banco.
As relações da instituição com o governo mantinham-se no maior grau de cor-
dialidade. Como lhe cumpria e lhe convinha, o estabelecimento punha à disposição
do poder público todas as vantagens que estivessem ao seu alcance, entre as quais,
rotineiramente, as transferências de fundos, as operações de emissão e resgate de che-
ques-ouro e os pagamentos do exterior, principalmente Londres, Paris e Nova Iorque,
onde transações avultadas eram realizadas com correção e pontualidade.
O Banco elevou o seu capital para 100 mil contos de réis e o fundo de reserva para
50 mil contos de réis. Registrou extraordinário aumento no percentual dos dividendos,
que pagos à base de 10% no primeiro semestre de 1919, subiram a 12% no primeiro e
a 18% no segundo semestre de 1921. No ano de 1922, os lucros líquidos elevaram-se a
43.979:804$777. Distribuiu-se o dividendo de 20%.
Os índices do crescimento das operações do banco foram realmente expressivos,
como se vê através da comparação entre os totais verificados em 31 de dezembro de
1920 e em igual data de 1922: depósitos – 288.698:429$196 e 1.089.986:665$757; letras
descontadas – 139.157:735$305 e 802.499:640$000; operações de câmbio – 38.431.381
e 140.544.95 libras esterlinas.
No fim de junho de 1921, o Banco fundou a Câmara de Compensação de Che-
ques, que logo começou a funcionar no Rio de Janeiro e depois em São Paulo, Santos,
Porto Alegre, Bahia e Recife. Para estimular a dedicação dos funcionários, a diretoria
estabeleceu, em 1921, uma tabela de participação nos lucros, que contemplou inspeto-
res de agências, gerentes, contadores, chefes de seção e ajudantes de seção.
Atribuiu-se a José Maria Whitaker, como presidente do Banco, a elevação do
nível dos salários dos funcionários, com a introdução do sistema de gratificações semes-
trais. Coube-lhe, também, a iniciativa de fornecer recursos para estudo e aperfeiçoa-
mento do pessoal. Em 10 de março de 1922, a diretoria resolveu criar o cargo de con-
sultor jurídico, de confiança do presidente, com a atribuição de dirigir todo o serviço do
litígio. O jurista Carvalho de Mendonça recebeu convite para exercê-lo.
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à emissão, agora do tipo bancário, com tendência a excessos, pois após abril de 1924
elevou-se a 709.900:000$000.
Quando o processo relativo à reforma foi submetido ao Congresso, comissões da
Câmara e do Senado, reunidas, deram parecer e apresentaram um projeto de restrição
dos privilégios e isenções e aumento dos encargos estabelecidos em relação ao Banco
do Brasil, na lei e no contrato de sua transformação em banco emissor. Isto refletia
uma nova posição do presidente da República, decidido a mudar a sua orientação e,
para isto, afastar os responsáveis pela política financeira. Com efeito, logo depois, Artur
Bernardes demitiu o ministro da Fazenda e o presidente do Banco do Brasil, nomeado
para substituí-los Aníbal Freire e James Darcy, respectivamente.
Em seguida, em mensagem apresentada ao Congresso Nacional, em 3 de março
de 1925, Bernardes não hesitou em afirmar que houve excessos na emissão do Banco
do Brasil. Mencionou também a ocorrência da baixa do câmbio, elevação de preços e
encarecimento da vida, relacionando-as às emissões e aos créditos facilitados pela ins-
tituição. Em vez do desejado incremento da produção, faltaram várias mercadorias e,
para suprir o consumo interno, o governo precisou importar. Deu-se uma valorização
de produtos com alta enorme nos preços de gêneros de alimentação, provocada pela
inflação do papel-moeda e pela facilidade do crédito.
Acrescentou que, contra a expectativa e as metas do governo, as emissões atingi-
ram, em 6 de outubro de 1924, excessivo valor, provocando providências para que o Ban-
co retrocedesse e deflacionasse o meio circulante, até o limite de uma elevação razoável
no valor da nossa moeda. Esse trabalho foi iniciado com bons resultados e a perseverança
nessa política traria, segundo o presidente, inestimáveis benefícios ao país.
Cincinato Braga defendeu-se da acusação de abuso de emissões, contestando
as palavras do presidente da República, argumentando que o Banco tinha sofrido
grandes apertos em sua caixa, devido ao aumento constante da conta do Tesouro
por antecipação de receita e pela diminuição dos depósitos no primeiro semestre de
1923. Portanto, não teria sido avolumando as suas operações de crédito comercial que
abusou da faculdade emissora. Inverteu-se uma antiga situação: antes, o Banco devia
ao Tesouro; agora, o Tesouro devia ao Banco, sendo apontado como “o freguês mais
pesado que o Banco tinha”.
Transformado, o Banco do Brasil, em emissor, naturalmente extinguiu-se a sua
Carteira de Redescontos, nessa ocasião apontada como benéfica, mesmo porque as
suas emissões que teriam dado ótimos resultados e incrementado a produção foram
honestamente restituídas às fornalhas da Alfândega para serem incineradas29.
Em 31 de dezembro de 1925, a dívida pública externa chegava a 102.529.944
libras esterlinas, 336.548.500 francos franceses e 63.717.167 dólares. A dívida inter-
na fundada importava em 2.137.424:300$000. Concorria a dívida externa, com grande
parcela, para as necessidades de remessas de dinheiro para o exterior que, segundo
calculou o deputado Bento de Miranda, estavam em 30 milhões de libras no ano de
1925. Embora Artur Bernardes se declarasse avesso a essa prática, em junho de 1926, o
29. Carta de Afonso Viseu, publicada no Jornal do Commercio, edição de 11 de outubro de 1925.
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Sancionada a lei que determinava essa reforma, o governo acionou sua execução e
cedo começou a anunciar os seus bons resultados. O próprio Washington Luís não tardou
em afirmar que a estabilização se fez completa e natural. Nenhum empréstimo externo
contraído, em 1927, destinou-se a pagamento da dívida flutuante. O país já possuía mais
de 30 milhões de libras esterlinas em depósito e na Caixa de Estabilização.
Em relatório apresentado à Assembleia dos Acionistas, em 1928, o presidente
do Banco do Brasil disse que a primeira parte do programa do governo foi cumprida
integralmente, pois a taxa cambial se manteve estável, sem sacrifício para o Tesouro
ou para o Banco. A dívida flutuante já estava em vias de ser completamente resgata-
da. Faltava, para completar o programa, apenas a reforma do Banco do Brasil, visando
aparelhá-lo para a futura conversão, em ouro, do papel em circulação. Para esse fim, os
acionistas seriam convocados em Assembleia Geral.
Entretanto, os críticos do programa advertiam que a reforma ignorava as vanta-
gens da existência de um banco central para normalizar a circulação, afastando o Banco
do Brasil do seu papel de banco central emissor. A execução da reforma, argumentava-
se, era dispendiosa e gerava sacrifícios, inclusive com perda para a economia. Acusava-
se, ainda, que, em meados de 1927, o governo havia desviado metade do fundo de
garantia constituído pelos dez milhões de libras, mas pressionado pelas críticas, repôs
o valor; que a taxa do câmbio, fixada para a estabilização, e mantida à custa de emprés-
timos onerosos, que não foram empregados no fomento à produção e no aumento das
riquezas do país, mas para cobrir déficits orçamentários e na balança de pagamentos.
Dizia-se, também, que a reforma foi parcial, pois não foi feita a alteração dos es-
tatutos do Banco do Brasil e o governo não executou os artigos que mandavam adotar o
cruzeiro; que a reforma deixou ao Banco do Brasil apenas o papel de realizar a política
de contraespeculação no mercado cambial; que a própria indústria, ao pedir aumento
de tarifas alfandegárias, demonstrou que havia perdido com o câmbio baixo e que tam-
bém a lavoura sofria com a elevação dos seus custos de produção.
Os quatro últimos meses do ano de 1929 foram marcados pela derrocada da Bolsa
de Nova Iorque, que gerou uma crise profunda e prolongada no mundo inteiro. No
Brasil, a baixa do câmbio foi atenuada devido ao programa de estabilização do gover-
no, ou, segundo outras interpretações, às reservas de moeda forte, num total de 31,5
milhões de libras. A circulação de notas conversíveis da Caixa de Estabilização girava
em torno de 860.000:000$000. Nunca a reserva do país esteve tão forte, capaz de com-
pensar a temporária falta de letras de exportação.
Uma das primeiras consequências da crise foi a marginalização do Banco do Bra-
sil, que deixou de vender cambiais, exceto para o governo federal e para suas cobranças,
abandonando, assim, a política de estabilização. Os adversários de Washington Luís
proclamavam que, tanto a política de estabilização, como a de defesa do café tinham
fracassado completamente, desabando sob o grande impacto da depressão mundial.
O Banco do Brasil era acusado de sempre usufruir privilégios, com os quais pro-
duziu grandes lucros, mas de proceder de modo reprovável em casos de emergência.
De outubro até dezembro, o estabelecimento se manteve na defesa do câmbio, mas
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Assim, o Tesouro teve crédito para pagar ao Banco aquele débito e ainda para
ficar com um saldo no valor de 188.831:848$203. Para o Banco, cessou a obrigação de
revender ao Tesouro dez milhões de libras esterlinas pelo preço de 300 mil contos de
réis, conforme estipulou o mesmo contrato. Sendo definitiva a sua propriedade sobre
essa quantia em libras, o Banco passou a utilizá-la para remessas ao estrangeiro, em
cobertura dos seus saques, eliminando desse modo a escassez de letras de exportação.
O governo de Washington Luís baixou, ainda, o decreto nº 19.372, de 17 de
outubro de 1930, que reconhecia o caso de necessidade extrema para a emissão de
emergência de notas do Banco do Brasil, nos termos do contrato de 24 de abril de 1923,
e o autorizava a emitir 300.000:000$000, pré-fixando a importância de um milhão de
libras para o lastro ouro e completando o restante com títulos de crédito. Dessa quantia
o Banco lançou mão de 120 mil contos de réis.
Já a junta de governo, composta de militares, que dirigiu o país desde a deposição
de Washington Luís até a posse de Getúlio Vargas, baixou um decreto que ratificou,
por 30 dias, a disposição que mantinha a cargo exclusivo do Banco do Brasil a compra
de letras de exportação e o fornecimento de coberturas aos demais bancos.
O governo provisório, através do decreto nº 19.423, de 22 de novembro de 1930,
extinguiu a Caixa de Estabilização e transferiu as funções que lhe restavam ao Banco
do Brasil. Manteve suspensa a troca de suas notas e autorizou o governo a utilizar o
ouro existente apenas para pagamento de prestações da dívida externa, sempre que
houvesse absoluta escassez de letras de exportação e uma vez que ficassem reservados,
no Banco do Brasil, recursos correspondentes para o resgate das notas em circulação.
Outro decreto assinado em 20 de novembro, sob o nº 19.416, para atender à
necessidade de mobilizar ouro suficiente para suprir as deficiências temporárias de ex-
portação, decorrentes da situação revolucionária, liberou o lastro ouro de um milhão de
libras, que garantia a emissão de 300 mil contos réis. Essa emissão seria integralmente
resgatada pelo Banco do Brasil no prazo de seis anos, em cotas semestrais de 25 mil
contos cada. Sobre as importâncias emitidas, o Banco do Brasil pagaria ao Tesouro juros
à taxa de 6% ao ano.
De outubro a novembro, não foram lavradas atas das reuniões da diretoria, embo-
ra se praticassem atos importantes, como a reforma do contrato com o Tesouro, emissão
de papel-moeda e mudanças na Presidência. Em 28 de novembro, a Assembleia Geral
dos Acionistas reuniu-se em sessão extraordinária, embora com quorum insuficiente,
pois não chegou a dois terços, aprovou reforma dos estatutos, que reduziu de sete para
cinco o número de diretores e determinou que o mandato dos diretores em função
cessasse de imediato.
O governo provisório acusou o governo deposto de ter elevado a dívida interna
e externa do país em 1.338.439:943$277 e aumentado a circulação e papel-moeda em
170.000:000$000. Advertiu, ainda, que a responsabilidade do Tesouro na circulação
total cresceu 592.000:000$000 pela encampação das notas do Banco do Brasil. Argu-
mentando que o Tesouro estava completamente sem recursos e reconhecendo os in-
convenientes do pagamento mais ou menos compulsório de dívidas com títulos que
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“Em primeiro lugar, pagaremos, tomando por base o valor dos nossos títulos, um
juro que corresponde ao próprio juro do contrato, considerando o desvalor atual
desses títulos e, daí, a aceitação geral do esquema; em segundo, os credores, em
virtude desse pagamento, dão a quitação integral, uma vez que, recebendo 1%
onde tinham de pagar 5% eles entregam um cupom inteiro, que venceria 5%. O
país recebe a quitação integral durante esses quatro anos”.
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30. Relatório apresentado à Assembleia Geral dos Acionistas pelo presidente do Banco do Brasil, em abril de 1934,
p. 16 e 17.
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Capítulo 10
Foto: Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil
Carteira de Crédito Consolidada.
Apoio à produção
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contos de réis, tendo o saldo baixado para 43.024 contos de réis, em 31 de dezembro.
Dizia-se, a respeito, que a contenção de empréstimos pouco significava, já que a ação
do órgão era, principalmente, de assegurar a estabilidade do sistema bancário.
Durante muito tempo circulou a ideia de criação do Banco Central, através da
transformação do Banco do Brasil ou da criação de uma nova instituição. O deputado
Mário Ramos apresentou na Câmara uma série de projetos sobre a matéria monetária,
inclusive bancária, sobre seguros e sobre a criação do Banco Central, propondo a trans-
formação do Banco do Brasil. Queixou-se, então, que os ministros da Fazenda não lhe
deram ouvidos, criticou as péssimas bases da nossa circulação fiduciária e as perdas de
substância da nossa economia, e acusou o Banco de ser uma repartição oficial, marcada
pelo excesso de oficialismo e burocracia.
O ministro da Fazenda, Sousa Costa, em reunião da Comissão de Finanças da
Câmara dos Deputados, realizada a 9 de setembro de 1937, também apresentou pro-
posta, com o plano denominado “Banco Central de Reserva do Brasil”. A solução dos
problemas do país passava, necessariamente, pela prévia solução da questão financeira.
Na sua proposta, o “Banco Central” teria a capacidade de regularizar o meio circulante
e defender o valor dos mil réis, assegurando o poder aquisitivo ajustado economica-
mente e permitindo que os produtos brasileiros competissem nos mercados interna-
cionais. O seu projeto mantinha o Banco do Brasil, em ação paralela, mas diversa à do
Banco Central, o qual teria maiores poderes e atuaria como aparelho disciplinador das
emissões do papel-moeda.
Na imprensa e no Congresso essa proposta do ministro da Fazenda foi bastante
criticada, principalmente por Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, que advertiu que o
Banco do Brasil, ao perder as vantagens da Carteira de Emissão e Redescontos, per-
deria os benefícios decorrentes da sua Carteira de Câmbio. Ele destacou que se devia
manter o Banco do Brasil no centro do regime bancário enquanto o clima monetário,
financeiro e econômico estivesse dentro do mesmo quadro, a moeda em declínio, as
contas financeiras em déficits, a altíssima dívida flutuante e com a situação econômica
sangrando no mais importante dos seus produtos.
O presidente do Banco do Brasil manifestou sua preocupação com os prejuízos
que a instituição iria ter ao ministro da Fazenda, que prometeu poupar o Banco. Havia,
também, o problema dos elevados débitos do Tesouro junto ao Banco, resultantes de
cobertura de necessidades orçamentárias. O Banco retirava de sua caixa importantes
somas que, ao invés de fomentar o crescimento com a aplicação nas atividades produ-
tivas e do comércio, eram entregues ao Tesouro. Anualmente, esses débitos cresciam
conforme as necessidades do governo e depois diminuíam através de manejos, em
grande parte, somente contábeis.
No começo do ano de 1938, o total da dívida do Tesouro junto ao Banco subia
a 934.774 contos, devido, principalmente, às contas de arrecadação de 1937, que se
elevaram a 853.997 contos, sendo necessário, para encerrar o ano fiscal, que o Tesouro
emitisse, em favor do Banco, promissórias no mesmo valor. O Tesouro adotava, assim,
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a técnica astuciosa de pagar dívidas com novas dívidas, inclusive com emissões, que
deixavam de ser dívidas.
Depois de sofrer uma queda de lucros, de cerca de 21%, em 1937, o movimento do
Banco do Brasil expandiu-se, em 1938. Os depósitos alcançaram a média de 3.622.000
contos de réis, aumentando 62,1% em relação ao ano anterior. Os empréstimos subiram
à média de 3.288.000 contos de réis, com um aumento de 15,2%. Os empréstimos ao
público cresceram de 694 mil para 758 mil contos de réis e, ao Tesouro, de 794 mil para
1.466.000 contos de réis. O lucro líquido chegou a 71.554 contos de réis34.
O número de funcionários do Banco também subiu de 3.156, em 1935, para
3.642, em 1938. A diretoria preocupava-se em proporcionar aos servidores não só remu-
neração satisfatória, como condições de segurança e tranquilidade no trabalho. Decidiu
ampliar, em 1935, os serviços de assistência médica direta, que já beneficiavam o pes-
soal do Rio de Janeiro, para as agências de São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Recife,
Santos, Belo Horizonte e Vitória. A Caixa de Empréstimos aos funcionários, instituída
em 1934, iniciou operações no começo de 1935, e, em 1937, efetuou 1.107 emprésti-
mos, no valor de 5.208 contos de réis.
Em 8 de maio de 1935, uma portaria apresentada pelo presidente do Banco do
Brasil e aprovada pela diretoria havia instituído, como órgão consultivo, a Comissão de
Promoções. O grupo deveria estudar documentos que exprimissem o grau de mere-
cimento de cada funcionário e admitir recursos ou apresentações na reivindicação de
direitos à promoção. Em 15 de julho de 1937, a diretoria resolveu estabelecer cursos
de aperfeiçoamento, a nível superior, para os funcionários. Nessa época, o Banco ainda
não se dispusera a expandir a implantação de agências no interior do país. O número
das filiais era de 90 no ano de 1938.
Na terceira década do século XX, o comércio exterior do Brasil ainda permanecia
numa posição de atraso e desequilíbrio. A exportação reduzia-se a produtos primários
e agrícolas e a importação a manufaturados e matérias-primas como carvão, trigo, ferro,
combustíveis e óleo. A reduzida entrada de capital para empréstimos ou investimentos
subordinava a economia brasileira essencialmente à exportação, da qual dependia para
a importação, para os serviços de juros e amortização da dívida externa e para o custeio
de serviços no exterior.
Na área de exportação ainda predominava, embora declinante, a produção do
café; notava-se o crescimento quase constante da tonelagem e decréscimo do valor
em libra-ouro. A arrecadação crescia e, com isso, o governo, apesar das adversidades,
alegava que ali estava um indicativo da firmeza e do acerto de suas manipulações finan-
ceiras. Mas, também, as despesas cresciam e o déficit mantinha-se alto.
Já nesse tempo, dizia-se que o esforço do ministro da Fazenda em favor do equi-
líbrio orçamentário era prejudicado pela falta de uniformidade, neste propósito, de
todos os ministérios. Nos anos de 1937 e 1938, a situação agravou-se com a queda
brusca dos preços do café e de quase todos os outros produtos de exportação. O fato
foi apontado como decorrência da depressão mundial dos preços dos produtos de base.
34. Relatório do presidente do Banco do Brasil à Assembleia dos Acionistas, em 22 de abril de 1939, p. 10 a 13.
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A exportação que, em 1937, chegou a 42.500.000 libras ouro, baixou, em 1938, para
39.900.000 libras ouro. Também a importação decresceu.
O valor do mil réis voltou a cair ao final de 1937. O dólar, que baixara para 15$000,
subiu, no último trimestre de 1937, para 17$510. A alta deveu-se, na área internacional,
à grande procura da moeda americana, em virtude de migração de capitais europeus
em busca de maior segurança e, na área brasileira, à redução do valor das exportações.
Falou-se até em nova depressão econômica mundial. Em face dessa situação, o gover-
no federal mais uma vez decretou o monopólio cambial, em dezembro de 1937.
Os atrasados comerciais aumentaram, depois do acordo de 1933, avolumando-se
mais durante os anos de 1934 e 1935. Certo de que representavam uma fonte de per-
turbações para as relações internacionais, o governo buscou acordos no exterior. O pró-
prio ministro da Fazenda foi aos Estados Unidos e à Inglaterra, onde firmou contratos
pelos quais o Brasil pagaria uma parte dos débitos à vista e o restante em prestações.
Coube ao Banco do Brasil executá-los. Ao serem submetidos à aprovação do Congres-
so, os acordos foram criticados. Argumentava-se, então, que o representante brasileiro
não defendeu devidamente os interesses do país.
Na versão do governo, a carência de recursos internos não podia ser suprida pela
antiga manobra de contrair empréstimos externos. Assumindo no exterior a responsabi-
lidade pelas dívidas dos nosso importadores e outros que precisavam remeter cambiais
para fora, lançou mão, então, dos respectivos depósitos congelados, mas o fez com preju-
ízo para o Tesouro. Houve, assim, modalidade de empréstimo, e bastante onerosa.
O governo já havia admitido que o controle de câmbio era uma das causas dos
atrasados comerciais, cuja liquidação foi necessária para aliviar a pressão do merca-
do, para desfazer repercussão desfavorável no estrangeiro e até para afastar o risco de
confisco de valores brasileiros no exterior. Por isso, o Conselho Federal do Comércio
Exterior reformou o sistema de câmbio, em fevereiro de 1935. Decidiu-se, assim, a
venda compulsória ao Banco do Brasil, à taxa oficial de 30%, do valor das cambiais
das mercadorias exportadas, cujo produto destinou-se exclusivamente aos serviços da
dívida pública e externa e à liquidação dos atrasados comerciais; e que todas as outras
operações de câmbio reverteriam ao mercado livre.
Na década de 1930, fazia-se exportação pelo regime de compensação. A Alema-
nha, assim como outros países industrializados, naquele tempo desprovidos de capi-
tais e reservas, possuía estoques de carvão e de artigos manufaturados de que o Brasil
precisava, mas não podia importar por falta de divisas necessárias. Por sua vez, o Brasil
dispunha de café, borracha, couro, lãs, peles, algodão, minerais, carnes e outras mer-
cadorias, de que a Alemanha necessitava ou podia re-exportar, mas não tinha dinheiro
para pagá-las. Assim, o Brasil mandava as suas mercadorias e em pagamento recebia
uma moeda especial, só aceita para comprar na Alemanha.
Considerada isoladamente, a comercialização do café foi difícil. O país manti-
nha um sistema de pesadas taxas internas para os produtores e de valorização artifi-
cial dos preços no exterior. Apenas os concorrentes eram beneficiados e recusavam
qualquer acordo que lhes transferisse parte dos encargos dessa política sustentados
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“Tentávamos, com êxito, a ampliação dos mercados. Esse era, aliás, um ponto
básico. Não era preciso acentuar muito que havia enormes mercados potenciais
ainda não trabalhados e que, se verificássemos a extensão das áreas e o consu-
mo per capita, encontraríamos margens para colocar toda produção no nível em
que se encontrava. A questão era de propaganda bem dirigida nos países que já
consumiam o nosso produto, por forma a aumentar-lhes o consumo, de comércio
direto com os países que recebiam a nossa mercadoria por intermédio de outros
e de obtenção de tarifas convenientes dos que sobretaxavam. De tudo isto co-
gitava o governo”35.
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Capítulo 11
Foto: Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil
A herança da inflação
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92 agências e 118 subagências; casas bancárias – 235 sedes, 45 filiais e uma agência. O
crescimento do número de instalações bancárias, no entanto, não correspondia às reais
necessidades do país, resultavam de depósitos especiais de fundos de entidades da
administração indireta, como a Caixa Econômica e os institutos de previdência, que
concediam esses favores sob pretexto de alcançar juros mais altos como depositantes.
O Banco do Brasil não era considerado um banco especializado pois, além de
fazer todos os tipos de operações inerentes à atividade bancária, como o crédito comer-
cial, industrial e agrícola, realizava a compra do ouro e atendia, com assistência credi-
tícia, o Tesouro Nacional, os estados da federação, os municípios, o Departamento do
Café. Funcionava, ainda, como emissor, através de sua Carteira de Redescontos, que
conferia elasticidade ao meio circulante. Regia, também, o câmbio.
Na verdade, o Tesouro Nacional era não só o maior cliente do Banco do Brasil,
mas um cliente privilegiado. Mais de dois terços de todas as suas aplicações eram ab-
sorvidas pelas entidades públicas. Houve até quem afirmasse que o Banco do Brasil já
havia se transformado em Banco Central, característica que se acentuou com a criação
da Carteira de Exportação e Importação, em 1941. Sua ação como organismo de apoio
ao desenvolvimento já era tamanha que, em sete anos, se duplicaram os saldos totais
dos seus empréstimos para o crescimento dos meios de produção.
O movimento operacional do Banco, tal como ocorreu, em 1938, continuou em
expansão no período de 1939 a 1942. O volume dos recursos globais, em milhares de
contos de réis, estava em 5.625 no ano de 1939. Em 1943, subiu para 9.794. Os em-
préstimos cresceram, passando de 3.834 contos de réis, em 1939, para 6,325 milhões de
cruzeiros, em 1942. Mas os resultados financeiros não foram obtidos da mesma linha de
expansão. O lucro líquido que, em 1939, foi de 89.730 contos de réis, em 1941, chegou
a 102.146 contos, mas diminuiu, em 1942, para 97.031.
A justificativa para a retração variava, fundando-se, segundo a diretoria, “no au-
mento das reservas especiais de segurança, representativas de fundos livres utilizáveis
pelo Banco em situações de emergência; na liquidação de créditos que se tornassem
inseguros e, ainda, no aumento constante do campo de ação do Banco, que o deixou
sujeito a maiores e naturais riscos, razão pela qual se mantinha a norma, vigente nos
anos anteriores, de conservar o ativo ininterruptamente em situação de perfeita auto-
liquidez”. Além disso, mais atento às necessidades nacionais do que às suas próprias
conveniências, o Banco mantinha a preocupação de baratear as taxas de seus emprésti-
mos. Recorria, frequentemente, à Carteira de Redescontos, com o fim de incrementar
o volume de seus recursos37.
O débito do Tesouro com o Banco chegou a 1.795.338 contos de réis ao en-
cerrar-se o ano de 1939, mas foi baixando nos anos seguintes, até atingir, em 31 de
dezembro de 1942, Cr$ 1.458.042.000,00. Cresceram também os débitos dos estados e
municípios para com o Banco, elevando-se de 566.059 contos de réis, em 1939, a Cr$
1.081.688.000,00 em 31 de dezembro de 1942. O Departamento Nacional do Café, que
37. Relatório apresentado à Assembleia dos Acionistas pelo presidente do Banco do Brasil, em 30 de abril de 1943, p.
117 e 118.
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aos seguintes fatos: a posição do câmbio, nos dois últimos meses, registrava sensível
declínio, baixando mais de 10% em 60 dias; metade, aproximadamente, dessa posição,
estava em “libras aéreas”, só utilizáveis para os pagamentos na área britânica. Em fun-
ção desses fatos, solicitou-se ao ministro que, na medida do possível, se diminuísse a
utilização de dólares até o restabelecimento normal do comércio de café para os Esta-
dos Unidos. O país matinha, intactos, os depósitos em ouro no estrangeiro e ainda não
estava utilizando o crédito rotativo de 25 milhões de dólares.
Após chegar ao auge de 1943, com a ocupação da Europa, Ásia e parte da África,
o poder de fogo das potências totalitárias não resistiu à reação das nações aliadas e, a
partir da batalha de Stalingrado, foi cedendo a novas derrotas, até a rendição incondi-
cional, em 1945.
No Brasil, a ditadura de Getúlio Vargas, que utilizava o pretexto da guerra para
ampliar o seu poder totalitário, perdeu também a capacidade de sustentação e foi de-
posta, em 1945, abrindo espaço para a eleição de uma Assembleia Constituinte, de um
novo presidente da República – o general Eurico Dutra – e para a elaboração de outra
Constituição. A ditadura deixou, no Brasil, a herança da inflação, que se acentuou a
partir de 1943, e chegou a ser encarada como sinal de desenvolvimento.
O governo ditatorial tomou providências de contenção do meio circulante, de
efeito parcialmente anti-inflacionário, através de dois decretos, expedidos em 24 de ja-
neiro de 1944. O primeiro, criando um imposto sobre lucros extraordinários e o segun-
do instituindo “certificados de equipamentos” e “depósitos de garantias”. Conforme
alterações constantes de um novo decreto, os certificados seriam emitidos pelo Banco
do Brasil, com garantia do governo federal, na data em que fosse possível ao portador
adquirir máquinas e utensílios para o reaparelhamento de sua empresa. Os depósitos
deveriam também ser feitos no Banco do Brasil, sob a responsabilidade do governo.
Tinham objetivos como o de cobrir prejuízos de depositantes caso comprometessem
profundamente a situação da empresa, podendo também ser liberados total e parcial-
mente desde que o seu titular destinasse a respectiva importância a melhorar ou am-
pliar a produção, aperfeiçoar o acondicionamento de gêneros alimentícios, atender ao
problema de transportes em geral ou a qualquer outro fim de utilidade comprovada.
O imposto sobre lucros extraordinários foi criticado por manter um sistema com-
plexo e de difícil fiscalização. Assinou-se, então, o decreto-lei nº 9.159, de 10 de abril
de 1946, que estabeleceu o imposto adicional de renda em substituição ao anterior, em
um depósito compulsório. Oficialmente, confirmou-se que esses decretos-leis objeti-
vavam conservar congelados os recursos auferidos na exportação e no comércio interno,
formando reservas para aplicação depois da guerra e evitando que engrossassem os
meios de pagamento.
No ano de 1945, o meio circulante elevou-se para Cr$ 17.538.269.000,00 e, em
1946, para Cr$ 20.494.000.000,00. A compra de ouro pelo Banco do Brasil foi refreada,
em 1945, ainda no regime ditatorial, quando a Superintendência da Moeda e do Cré-
dito baixou instruções suspendendo temporariamente a obrigatoriedade da venda de
ouro de produção nacional ao Banco do Brasil e permitindo compras diretas dos consu-
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midores nas fontes de produção. Autorizou, ainda, a venda ao público, até o limite de
Cr$ 300 milhões, da parcela do ouro que o Tesouro Nacional depositou no Banco do
Brasil. Com essas providências, o governo de Getúlio Vargas tentava presumivelmente
impedir a expansão inflacionária.
Com a queda da ditadura, em outubro de 1945, Marques dos Reis deixou a pre-
sidência do Banco do Brasil, assumindo em seu lugar Manuel Guilherme da Silveira
Filho. O relatório apresentado aos acionistas, em 1946, atacou agressivamente a po-
lítica econômico-financeira do governo ditatorial e apontou, como causa principal da
inflação, o aumento das emissões. A Carteira de Redescontos foi acusada de fugir às
suas verdadeiras finalidades e de ter funcionado como mais um acelerador do desregra-
mento do crédito que potencializou, por sua vez, o surto inflacionário.
Ao assumir a Presidência da República, após a queda de Getúlio, em 1945, o pre-
sidente do Supremo Tribunal Federal, ministro José Linhares, revelou-se comprome-
tido com as forças contrárias ao regime abolido e que, constituídas de civis e militares,
haviam contribuído para apressar o fim da ditadura. Mesmo transitório, o novo governo
tomou providências para remover os escombros do sistema que foi denominado “Esta-
do Novo”, procurando, assim, abrir caminho para a democracia.
Com a liberação dos meios de comunicação, a opinião pública manifestava o
descontentamento com a política econômico-financeira do governo deposto e a expec-
tativa de que o novo governo pusesse em prática medidas corretivas, sobretudo quanto
às despesas e investimentos governamentais. Mas o governo não resistiu à pressão das
reivindicações e, em novembro de 1945, baixou um decreto-lei concedendo a todos os
servidores federais um abono de emergência, logo incorporado às suas remunerações.
O presidente Linhares autorizou vendas de ouro, que chegaram a ser feitas por
mais de três mil quilos, num valor de mais de Cr$ 80 milhões41. Como essa venda não
fosse suficiente, teve o governo de recuar: em dezembro emitiu Cr$ 630 milhões e,
no final de janeiro, outros Cr$ 170 milhões. Em 31 de janeiro de 1946, o general Eu-
rico Gaspar Dutra assumiu a Presidência da República, recebendo o difícil legado da
inflação e do acréscimo das despesas públicas, que agravaria ainda mais a questão dos
déficits orçamentários.
Os propósitos de austeridade do novo presidente não conseguiram sustar a forte
pressão dos fatores inflacionistas durante todo o ano de 1946. As emissões não podiam
ser estancadas rapidamente. Em 1945, tinham-se elevado a Cr$ 3.073 milhões. Em
1946, apesar de reduzidos, ainda chegaram a Cr$ 2.959 milhões. Concorreram para for-
çar emissões, especialmente, a compra de letras de exportação e a impossibilidade de
contrabalancear esta compra com a venda de divisas para pagamentos de importações.
O saldo positivo do balança do comércio exterior, em 1946, atingia Cr$ 5.214 milhões,
excedendo em Cr$ 1.663 milhões o saldo de 1945. Prudentemente, o Banco do Brasil
se empenhou no combate à inflação.
A política do governo não visava a deflação de créditos para as legítimas ativida-
des econômicas, mas, sim, e com todo empenho, o fim das especulações. O combate
41. Relatório apresentado à Assembleia dos Acionistas pelo presidente do Banco do Brasil, em 30 de abril de 1946, p.
56 e 57.
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Havia quem sugerisse a valorização do cruzeiro, mas a isto resistiu o governo dita-
torial. O ministro da Fazenda, Souza Costa, em 27 de junho de 1945, explicava porquê:
“Pelos fins de 1939 e durante 1940, o dólar alcançou a casa dos Cr$ 20,00 e, nessa
época, a oferta e a procura eram de modo a permitir o encontro da realidade das
cotações. Hoje, com as reservas que possuímos e apto o Banco do Brasil a atender
qualquer necessidade, só no sentido de valorização do cruzeiro se apresenta o
mercado. A política do governo no setor cambial foi sempre serena, mas segura e
42. Relatório do presidente do Banco do Brasil, à Assembleia dos Acionistas, em 30 de abril de 1947, p. 26, 29, 53, 54
e 56 a 58.
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caracterizado pela constância do déficit. Atingir o equilíbrio e reter a inflação eram me-
tas somente viáveis em tempos normais.
Embora o governo apregoasse medidas visando o equilíbrio, o déficit orçamen-
tário registrou-se, em 1941, em 673.305 mil cruzeiros; 1942 – 1.355.478 mil cruzeiros;
1943 – 501.363 mil cruzeiros; 1944 – 88.115 mil cruzeiros; 1945 – 994.169 mil cru-
zeiros e 1946 – 2.632.968.265,50 mil cruzeiros. Ao encerrar-se o exercício de 1946,
a dívida consolidada da União expressava-se nos seguintes totais: externa – Cr$
1.124.182.817,50; e interna, compreendendo apólices da dívida pública, obrigações do
Tesouro Nacional, obrigações rodoviárias, obrigações ferroviárias, obrigações de guerra
e portadores de comprovantes de recolhimento da conta de obrigações de guerra – Cr$
11.089.641.351,50, o que representava notável incremento sobre o mesmo total no en-
cerramento de 194546.
De 1943 a 1944, o governo realizou entendimentos e um novo acordo com os
credores estrangeiros e, conforme o decreto-lei nº 6.019, de 23 de novembro de 1943,
fixou normas definitivas para o pagamento do serviço da dívida externa. Para arrecadar
os recursos necessários ao pagamento, o governo, pelo decreto-lei nº 7.253, de 18 de
janeiro de 1945, autorizou o ministro da Fazenda a contrair um empréstimo interno,
denominado “empréstimo de conversão da dívida externa”, até a importância de Cr$
1.800.000.000,00.
Deposto o governo ditatorial, o Estado Novo passou a ser descrito, nos meios
da imprensa, agora livre da censura, como incompetente, perdulário e improdutivo.
Apontava-se, ainda, o antigo desequilíbrio entre os preços agrícolas, sempre crescendo
menos, e os industriais, sempre mais favorecidos pelas medidas governamentais.
É creditada ao governo de Getúlio Vargas orientação frequentemente favorável
ao Banco do Brasil, ao qual poupou restrições, seja da prematura instalação de um ban-
co central, seja da criação de bancos especializados de crédito à atividade rural e o co-
mércio exterior. Desse modo, o crédito rural e o crédito destinado ao comércio exterior
ficaram inseridos na estrutura já bem solidificada, desenvolvida e altamente lucrativa
do Banco do Brasil.
46. Relatório do ministro da Fazenda ao presidente da República, relativo ao exercício de 1946, p. 124 a 126.
167
Capítulo 12
Foto: Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil
O esforço de guerra.
Redescontos superam limites
Rotunda, interior do prédio do Banco do Brasil, ainda conservado, na rua Primeiro de Março.
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pessoas; foram proibidos quaisquer empréstimos para aquisição de gado fino e adiados
os financiamentos a industrias, com recomendação de que os gerentes se esforçassem
no sentido de reduzir o máximo possível o montante geral dessas operações.
Ficaram excluídos dos limites os empréstimos determinados por lei, como os
financiamentos do algodão em pluma, o custeio para recuperação econômica das la-
vouras de café, do arroz, das cooperativas produtoras de lã do Rio Grande do Sul e o
financiamento de cereais, dentro dos objetivos do plano governamental estabelecido
pelo decreto-lei nº 7.774, que dispôs sobre o financiamento da produção de gêneros de
primeira necessidade.
Ao fim de 1945, o ciclo dos empréstimos pecuários alcançou extraordinário de-
senvolvimento, que atingiu o seu clímax em 31 de dezembro, quando chegou ao alto
nível de Cr$ 3.329.024.412,00, correspondente a quase 60% do total das aplicações da
carteira. Foi, então, que se registraram os elevados preços do gado indiano, especial-
mente em Minas Gerais e Goiás. A carteira expediu circular às agências, chamando a
atenção para o problema que se aproximava e recomendando medidas de prudência.
No início de 1946, quando os empréstimos pecuários baixaram para apenas Cr$
3.250 milhões, a influente classe dos pecuaristas protestou. A administração do Banco
explicou, então, que não houve deflação do crédito à pecuária, e sim a simples estagna-
ção, decorrente de um conjuntural imperativo de prudência. E tomou medidas desti-
nadas a evitar que a limitação ao crédito pudesse concorrer para gerar alarmes. Entre as
ações estava a autorização, às agências, para prorrogar contratos, independentemente
das amortizações vencidas, dos criadores de gado zebu, pelo prazo de um ano.
O Banco do Brasil concluiu nessa época que continuavam insuficientes os recur-
sos concedidos à carteira, que já aplicava Cr$ 5.015.041.015,70. Para cobrir esse total,
recorreu à Carteira de Redescontos, com a soma de Cr$ 2.392.187.293,50, e teve de
entrar com suprimentos do seu encaixe geral, no valor de Cr$ 1.205.908.195,00.
No relatório que apresentou ao presidente da República, relativo ao exercício
de 1943, o ministro da Fazenda informou que a Carteira de Redescontos vinha regis-
trando crescimento em suas operações. O redesconto ganhava terreno no comércio
bancário, passando a ser operação indispensável e de apoio direto aos estabelecimentos
que, através desse recurso, se habilitavam a dispensar maior assistência creditória ao
comércio e à indústria47.
Em 1944, sob justificativa da necessidade de ampliar os empréstimos de natu-
reza econômica e da sua obrigação de financiar as necessidades do governo, o Banco
do Brasil recorreu, com mais frequência, à Carteira de Redescontos, movimentando
títulos no valor de Cr$ 4.459 milhões. Além disso, o decreto-lei nº 6.634, de 27 de
junho, aumentou o limite de redescontos a que tinham direito os bancos, inclusive o
Banco do Brasil.
Em 1945, os redescontos, que em grande parte avolumavam-se para atender às
necessidades do Tesouro, sofreram uma forte redução limitando-se ao montante de
47. Relatório apresentado à Assembleia dos Acionistas pelo presidente do Banco do Brasil, em 30 de abril de 1946, p. 103.
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Naquele e nos anos seguintes, uma das grandes preocupações na área econômica
era o controle da inflação. O governo do general Dutra começou disposto a combatê-la,
baixando o decreto-lei nº 3.159, de 10 de abril de 1946, que regulava a distribuição de lu-
cros, instituía o imposto adicional de renda e determinava a obrigatoriedade de depósitos
bloqueados na Superintendência da Moeda e do Crédito. Além disso, tentou controlar as
finanças, buscando, sobretudo, o equilíbrio orçamentário, mas não obteve êxito.
O relatório do Banco do Brasil, de 1947, trazia resultados animadores, dizendo
que, apesar da forte pressão inflacionista, registrou-se a emissão de apenas Cr$ 100
milhões nesse ano. Em 1950, o governo esteve às voltas com um enorme saldo negativo
no balanço de suas receitas e despesas. Recorreu ao Banco do Brasil que, por sua vez,
não tendo recursos ilimitados, apelou para a Carteira de Redescontos, que recorreu ao
sistema de emissões até obter Cr$ 7,2 bilhões. O total líquido das emissões, no período
de janeiro de 1946 a dezembro de 1950, chegou a Cr$ 1.090.000.000,00. Consequente-
mente, aumentaram o meio circulante e os níveis do custo de vida.
Em 1946, no início do governo Dutra, a preocupação com o aumento do custo de
vida levou à adoção do controvertido sistema do controle de preços, através do decreto-
lei nº 9.125, de 4 de abril. Alegando a “urgência de adotar medidas tendentes a impedir
a elevação do custo de vida no país, impondo a necessidade de reduzir os preços atuais,
de modo a proporcionar ao povo melhores condições de existência”, o decreto instituiu
a Comissão Central de Preços.
O governo Dutra também se propôs a lutar contra o déficit orçamentário, que era
de Cr$ 2.633.000.000,00, em 1946. Mas, em 1947, anunciou um saldo no valor de Cr$
460 milhões. No ano seguinte, anunciou um saldo de Cr$ três milhões, a despeito de
um novo aumento dos servidores públicos. As fontes governamentais proclamaram,
com ufanismo, que este resultado recompunha a boa ordem financeira e abria caminho
para o desenvolvimento econômico. No ano de 1949, houve novo déficit, que, conforme
reconheceu o ministro da Fazenda, subiu a Cr$ 2.810 milhões. Durante o ano de 1950,
o governo procurou conter as despesas, prevendo déficit ainda maior. Coube a Getúlio
Vargas fazer o balanço e anunciar que o déficit chegava a Cr$ 4.297.066.064,70.
A crise da pecuária e o poder de influência dos pecuaristas pressionaram o go-
verno no sentido da decretação da moratória geral. Produziu-se, então, uma série de
decretos-leis e de leis votadas pelo Congresso, outorgando benefícios aos pecuaristas,
até que estes obtivessem a dispensa parcial de débitos, por força da lei nº 1.002, de 24
de dezembro de 1949, a qual, basicamente, definiu com a participação da União Fede-
ral no pagamento das dívidas.
Em março de 1947, o presidente Eurico Gaspar Dutra anunciou que o saldo da
balança comercial permitiu, em 1946, alterações de grande significação na política cam-
bial, entre as quais aquela que assegurou a liberdade de compra e venda de moedas
estrangeiras e aboliu o mercado de câmbio “livre e especial”, que sujeitava as remessas
para viagens e manutenção a uma taxa mais elevada.
Não tardaram, no entanto, a surgir dificuldades, cujo exemplo típico foi o da In-
glaterra, onde o Brasil tinha considerável saldo em libras. O governo britânico decidiu
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Capítulo 13
Foto: Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil
Democracia, inflação e crises
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Para o café, o período de 1946 a 1950 foi de boas negociações. Em 1947, o produ-
to valorizou-se com a expansão do mercado americano e com a reabertura do mercado
europeu. Considerando que os estoques em poder do Departamento Nacional do Café
influíam para a instabilidade do mercado e alimentavam a especulação, o governo au-
torizou a sua venda, executada sob o fogo cruzado das críticas, especialmente dos pro-
dutores. Tudo isso refletiu na posição estatística do mercado. O valor médio da saca de
café, que, em 1946, manteve-se em Cr$ 415, em 1947, subiu para Cr$ 523 e, em 1948,
baixou para Cr$ 516, aumentado, em 1949, para Cr$ 599 até disparar, em setembro de
1950, para Cr$ 1.041.
Em 1949, além de atuar como agente financeiro da União para o recolhimento
das receitas, aberturas de créditos e movimentos de fundos por todo o território na-
cional, o Banco já exercia as seguintes atribuições, delegadas pelo governo: execução
e controle das operações de câmbio em todo o país; controle das exportações e impor-
tações, mediante serviço de licença-prévia; operações de redesconto bancário; agente
financeiro da Caixa de Mobilização Bancária; fiscalização bancária sobre operações de
câmbio; controle e liquidação de bens de súditos de países que estiveram em guerra
com o Brasil; compra de ouro (20% da produção das minas nacionais); cooperações
especializadas de assistência ao comércio exportador e importador; operações especia-
lizadas de crédito agrícola, pecuário e industrial; operações de defesa de mercados de
produtos agrícolas.
Pra enfrentar os riscos e ônus decorrentes dessas múltiplas tarefas, o Banco pre-
cisou acumular recursos ponderáveis, desde 1945, dentro da concepção de que sua
função não era a de uma simples empresa mercantil, mas se confundia com a do po-
der público53. Críticas não faltavam. Ignorando-se o fato de que o Banco era um mero
executor de planos governamentais, lançavam-se contra a instituição acusações de res-
ponsabilidade pela escassez de numerário, principalmente quando o governo, em suas
fases de austeridade, continha o fluxo das emissões, ou então quando, ao contrário,
ocorria excesso de crédito com efeito inflacionário.
A presidência do Banco estava, desde 22 de novembro de 1945, sendo exercida
por Manoel Guilherme da Silveira Filho, que a ocupava pela segunda vez e permane-
ceu no cargo até 11 de junho de 1949. Em 29 de julho, tomou posse Ovídio Xavier de
Abreu, que já vinha servindo ao Banco como diretor, atuando na presidência até 18 de
dezembro de 1950.
No período de 1947 a 1950 os totais de reservas e lucros foram, respectiva-
mente, os seguintes: 1947 – Cr$ 2.577.815.320,30 e Cr$ 79.537.162,60; 1948 – Cr$
2.701.212.073,10 e Cr$ 108.421.480,80; 1949 - Cr$ 2.793.688.747,70 e Cr$ 77.612.297,10;
1950 – Cr$ 2.958.262.479,50 e Cr$ 85.180.590,20. Pagou-se aos acionistas, no mesmo
período, o dividendo na base de 20% sobre o capital de Cr$ 100.000.000,00.
As cotações em Bolsa, das ações do Banco do Brasil, oscilavam nessa época acima
do nível de Cr$ 500, enquanto o valor nominal continuava em Cr$ 200. Em 1950, a
53. Relatório apresentado pelo presidente do Banco do Brasil à Assembleia dos Acionistas, em 27 de abril de 1950, p.
24 e 25.
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cotação média chegou a Cr$ 529. O número de funcionários aumentou, em 1947, para
10.536, chegando a 12.405, em 1950. Em 1948, três caixas já estavam em atividade,
para conceder aos funcionários benefícios, empréstimos, assistência e previdência. O
Banco continuava crescendo e já contava, nesse ano, com 279 agências.
As operações da Carteira de Crédito Geral registraram aumentos regulares, de
ano a ano. Em 1947, por exemplo, o saldo médio chegou a Cr$ 9.924 milhões, e o
conjunto dos empréstimos, em 1949, chegou a Cr$ 30.519 milhões de saldo médio. Na
área da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial, permanecia o problema dos recursos
para as aplicações, e as operações dependiam de redescontos e de cobertura da caixa
geral do Banco. Os recursos provenientes dos bônus agrícolas somente cobriam parte
das aplicações totais da carteira.
O governo concluiu, em fins de 1948, que as medidas de restrição adotadas a
partir de 1946 para conter a expansão dos meios monetários estavam dificultando o
crescimento da área rural, conforme relatório do ministro da Fazenda ao presidente
da República, relativo ao exercício de 1949. Para apoiar o crédito rural aprovou-se a
lei nº 482, de 12 de novembro de 1948, autorizando o Poder Executivo a contratar
com o Banco do Brasil, por intermédio da carteira, o financiamento agrícola das en-
tressafras. Manteve-se, ainda, o regime de preços mínimos para o financiamento ou
aquisição de cereais e outros gêneros de primeira necessidade da produção nacional,
nas safras de 1948 e 1951.
O crédito industrial concedido pela carteira expandiu-se nos anos de 1947 a 1950,
de Cr$ 205.373.000,00 para Cr$ 905.590.000,00. Em 1949, o Banco liberou créditos
vultosos para financiar o desenvolvimento do país. Foram, assim, distribuídos recursos
para o reaparelhamento do parque açucareiro nacional; aquisição de combustíveis, ma-
térias e equipamentos destinados a ferrovias; obras rodoviárias, inclusive da estrada de
rodagem do Rio a São Paulo; obras constantes do plano aprovado pelo governo federal
a cargo da Companhia de Carris, Luz e Força do Rio de Janeiro; melhoramentos no
porto de Santos; importação de equipamentos industriais e de navios e instalação de
refinaria de petróleo.
Apesar da criação, em 1945, da Superintendência da Moeda e do Crédito, cres-
cia, no início do governo Dutra, a ideia de criação do Banco Central. Argumentava o
ministro da Fazenda, Correia e Castro, que, apesar do funcionamento satisfatório da
Superintendência, o sistema bancário precisava se aparelhar mais eficientemente para
acompanhar o processo de desenvolvimento e transformação da economia do país.
O governo elaborou, então, um projeto, encaminhado, em 1947, ao Congresso
Nacional, que propunha a criação, como órgão de cúpula, do Conselho Monetário, e
apontava para a necessidade de implantação, não apenas do Banco Central, como tam-
bém de um Banco Rural e Hipotecário e outros de Exportação e Importação Industrial
e Investimentos. Dentro do sistema proposto, o Banco do Brasil figuraria como institu-
to especial de depósitos e descontos.
Já havia sido criada, à época, junto à Superintendência da Moeda e do Crédito, a
Caixa Hipotecária de Liquidação, destinada a ampliar os estabelecimentos de crédito,
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Gudin previu, ainda, que o Banco Central seria desmoralizado de início, obri-
gado a emitir para o governo54. O projeto foi finalmente adiado, mas as discussões
levantaram, entre os acionistas, preocupação com os prejuízos que a reforma pudesse
acarretar ao Banco do Brasil. O presidente do Banco, Manoel Guilherme da Silveira Fi-
lho, explicou, na ocasião, que a criação do Banco Central não podia, de nenhum modo,
concorrer para o enfraquecimento do Banco do Brasil, uma instituição centenária, com
relevantes serviços prestados à nação. “Enfraquecer o Banco do Brasil”, advertiu, “se-
ria enfraquecer o próprio Brasil”. Ele esclareceu, também, que os órgãos que o Banco
poderia perder com a criação do Banco Central, como a Carteira de Redescontos, a
Caixa de Mobilização Bancária, a Carteira de Câmbio, a Carteira de Exportação e Im-
portação e a Superintendência da Moeda e do Crédito, não eram fontes decisivas de
lucros e, além do mais, vinham onerando o estabelecimento.
Segundo os relatórios do Banco, no ano de 1948, acentuou-se o movimento de
redescontos, que se elevou a Cr$ 6.618 milhões. Em 1949, atingiram o valor de Cr$
10.490 milhões. A mesma progressão continuou, em 1950, quando ao valor subiu a Cr$
16.876 milhões. A Caixa de Mobilização operava em linha paralela com a Carteira de
Redescontos, com a diferença de que podia operar a longo prazo e, a segunda, somente
a curto prazo.
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O governo do general Eurico Gaspar Dutra chegou ao fim sem ter conseguido
manter uma linha firme e coerente de ação em prol do saneamento financeiro. Mas
concorreu para a restauração democrática e disseminou os benefícios de investimentos
governamentais pelo interior do país, quebrando a linha de prosperidade que os dirigia
maciçamente para os grandes centros. E adotou medidas de planejamento, como o lan-
çamento do plano “Salte”, que previa investimento nos setores de saúde, alimentação,
transporte e energia.
Parecer da Comissão de Finanças da Câmara dos Deputados, em 27 de julho
de 1950, assinalou que os números comprovavam a crise nas finanças e na economia
nacional. A moeda continuava a se desvalorizar cada vez mais, a dívida flutuante, o
índice do custo de vida e as despesas públicas cresciam de ano para ano, os impostos
ultrapassavam as possibilidades da população, a produção não supria as necessidades
do consumo, a política cambial se mantinha em estado de crise permanente e os títulos
do governo caíam de valor exercício para exercício.
No plano político, o país mantinha obstinada fidelidade à figura carismática do
ditador deposto, em 1945. Durante o processo de escolha do sucessor de Dutra, a opo-
sição udenista lançou novamente a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes. O PSD,
partido do presidente, acabou indicando o mineiro, pouco conhecido e sem liderança,
Cristiano Machado. Enquanto isso Getúlio Vargas, retornando de seu exílio nas fron-
teiras do Sul, revitalizou sua aliança com o líder paulista Adhemar de Barros e foi nova-
mente eleito presidente da República.
Apoiado no voto de quase metade dos eleitores, Getúlio Vargas tomou posse em
31 de janeiro de 1951 e iniciou um governo conturbado, interrompido de forma trágica
três anos depois. Uma forte campanha oposicionista, que se desencadeou na imprensa
e envolveu amplos setores das Forças Armadas, foi desenvolvida contra a pessoa de
Vargas, atingindo acusações, inclusive, de homicídio e corrupção. Sem apoio militar e
na iminência de deposição, Vargas cometeu suicídio dia 24 de agosto de 1954 e a pre-
sidência foi ocupada pelo vice, Café Filho. Seu curto período de governo destacou-se
pelas iniciativas de criação do Banco do Nordeste, da Petrobras e da Carteira de Colo-
nização do Banco do Brasil.
A campanha oposicionista chegou também ao Banco do Brasil, cujo presidente
era, na época, o industrial Ricardo Jafet. Os deputados José Monteiro de Castro, Bilac
Pinto, Aliomar Baleeiro e José Bonifácio, acionistas do estabelecimento, acusaram a
administração do Banco de praticar graves irregularidades e negar informações a res-
peito de vultosos empréstimos, concedidos, por motivos políticos, a pessoas físicas e
jurídicas. Mencionaram, também, a recusa de remessa de um inquérito para apurar
irregularidades ocorridas no Banco. E exigiram a divulgação de informações preci-
sas sobre os negócios das empresas pertencentes ao grupo do presidente Jafet com
o Banco. Em janeiro de 1953, Ricardo Jafet deixou a presidência, substituído pelo
general Anápio Gomes.
Pela presidência do Banco passaram, por curtos períodos, Marcos de Sousa Dan-
tas (18.08.1953 a 06.09.1954), Clemente Mariani Bittencourt (06.09.1954 a 14.04.1955),
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Alcides da Costa Vidigal (14.04.1955 a 15.10.1955), Artur Ferreira dos Santos, interino
(15.10.1955 a 17.11.1955) e Antônio Maria Caldeira Brant, interino (17.11 a 16.12.1955).
Reconhecia-se ao Banco, nessa época, o papel de poderoso agente impulsionador do
progresso nacional, agindo em íntima conexão com a política econômico-financeira do
governo e garantindo ao país os recursos necessários para o desenvolvimento.
Em 1955, Café Filho adoeceu e foi substituído pelo presidente da Câmara dos
Deputados, Carlos Luz. Em 3 de outubro, a população elegeu presidente da Repúbli-
ca, por maioria relativa, Juscelino Kubitschek de Oliveira e, para vice, João Goulart.
Em novembro, o governo, sob influência da UDN, derrotada na eleição presidencial
ao sustentar a candidatura do general Juarez Távora, articulou um golpe de Estado para
impedir a posse de Juscelino.
Com a interferência do ministro da Guerra, general Henrique Teixeira Lott,
no entanto, o golpe foi dominado e o presidente Carlos Luz, ministros e colabora-
dores deixaram o Catete e embarcaram no cruzador Tamandaré rumo a Santos. A
Câmara dos Deputados reuniu-se e decretou o impedimento do presidente que se
ausentava, dando posse a Nereu Ramos, presidente do Senado. Do mesmo modo foi
declarado o impedimento de Café Filho, quando, restabelecido, tentar reassumir a
Presidência da República.
Sem choque armado e sem derramamento de sangue, garantiu-se a posse de
Juscelino Kubitschek de Oliveira, no dia 31 de janeiro de 1956. Foi nomeado, então,
para a presidência do Banco do Brasil, Sebastião Paes de Almeida. Em seu primeiro
relatório, apresentado à Assembleia dos Acionistas, em 25 de abril de 1956, o novo
presidente declarou que o quadro da economia brasileira, no fim daquele ano, foi do-
minado por duas ocorrências de efeitos depressivos: a redução, em valor, do comércio
internacional, e a permanência da pressão inflacionária.
Para a queda do intercâmbio brasileiro com o exterior concorreram, de um lado,
as exportações, reduzidas, em 1955, em quase US$ 140 milhões e, de outro, as im-
portações, que caíram cerca de US$ 330 milhões. Apontou-se como causa da queda
das exportações a baixa dos preços do café e do cacau, que não pôde ser compensada
pelo substancial aumento de vendas do principal produtor e de outros de importância
secundária. Nessa época o Banco do Brasil financiava, por intermédio da Carteira de
Crédito Agrícola e Industrial, as produções de algodão, agave, arroz, borracha, café,
cana-de-açúcar, cacau, cera de carnaúba, juta e trigo, além de apoiar também os peque-
nos produtores e a pecuária.
De acordo com parecer do Conselho Fiscal do Banco, em 22 de março de 1956,
relativo ao exercício de 1955, em todos os setores e atividades do Banco assinalou-se,
nesse período, desenvolvimento digno de realce, quer pelo aperfeiçoamento dos servi-
ços, quer pelo incremento dos negócios, que correspondiam às reais conveniências da
economia nacional. Registrou-se, também, expansão na safra nacional de algodão, além
de sensível melhoria na posição do café, em confronto com o exercício precedente.
O Banco, em 1957, continuava cumprindo sua dupla missão de assistir financei-
ramente o poder público e apoiar as atividades privadas, mas mantendo os crescentes
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Capítulo 14
Foto: Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil
A reforma bancária de 1964
O logotipo atual do Banco do Brasil foi escolhido em 1968 por meio de concurso
e que passaria por pequenas modificações ao longo do tempo.
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“Ao assumir a direção dos destinos do país, em 1º de abril de 1964, o governo revo-
lucionário defrontou-se com perspectivas sombrias quanto à situação econômico-
financeira. Depois de registrados aumentos de 55% e 81%, em 1962 e 1963, no
primeiro trimestre de 1964 os preços haviam-se elevado em 25%, admitindo-se
que, em face da sua aceleração, a taxa de inflação pudesse alcançar cerca de 150%
ao final do ano. Cumpria, portanto, adotar programa de contenção do processo
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O governo militar anunciou que a sua política financeira visaria perseguir, entre
outros, os seguintes objetivos: combate à inflação, retomada do ritmo de desenvol-
vimento econômico do país e regularização da dívida externa. O combate à inflação
seria executado de forma progressiva, por se considerar que uma ação drástica poderia
acarretar consequências imprevisíveis sobre o ritmo do desenvolvimento econômico,
podendo prejudicá-lo.
Em 1965, foi, finalmente, sancionada a lei nº 4.595, que implantou a reforma
bancária. Estabelecendo a política para as instituições monetárias, bancárias e credi-
tícias, incluindo cooperativas e bolsas de valores, a reforma bancária criou o Conselho
Monetário Nacional, em substituição ao Conselho da Superintendência da Moeda e do
Crédito. A função do novo órgão era reger a política monetária do país, a níveis inter-
no e externo, tendo em vista o desenvolvimento harmônico da economia nacional e a
prevenção dos surtos inflacionários ou deflacionários. A lei 4.595 extinguiu, também, a
Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), transformando-a em autarquia, sob
a denominação de Banco Central da República do Brasil, que incorporou a Carteira de
Redescontos e a Caixa de Mobilização Bancária do Banco do Brasil, além de assumir
algumas funções controladoras antes atribuídas à Carteira de Câmbio. O novo órgão te-
ria ampla competência sobre a atividade econômica nacional, destacando-se a emissão
de papel-moeda, execução dos serviços do meio circulante, recebimento de depósitos
compulsórios, operações de redesconto, depósitos das reservas internacionais do país,
controle de capitais estrangeiros e de crédito, sob todas as formas.
A nova lei conceituou o Banco do Brasil como “instrumento de execução da
política creditícia e financeira do governo federal”. Ao Banco, na qualidade de agente
financeiro do Tesouro Nacional, couberam as seguintes funções: receber, a crédito do
Tesouro, as importâncias provenientes da arrecadação de tributos ou rendas federais
e o produto das operações ligadas à colocação de obrigações, apólices ou letras do Te-
souro Nacional; realizar os pagamentos e suprimentos necessários à execução do Orça-
mento Geral da União e leis complementares, de conformidade com as autorizações do
Ministério da Fazenda, as quais não poderia exceder o nível global dos recursos a ele
recolhidos, sendo vedada ao estabelecimento a concessão de créditos de qualquer na-
tureza ao Tesouro. Cumpria-lhe, ainda: conceder aval, fiança e outras garantias, conso-
ante expressa autorização legal; adquirir e financiar estoques de produção exportável;
executar a política de preços mínimos dos produtos agropecuários, ser agente pagador
e recebedor fora do país; executar o serviço da dívida pública consolidada.
Em virtude das novas disposições legais, o Banco do Brasil deixou de realizar as
operações de redesconto e o financiamento das necessidades de caixa do Tesouro Na-
cional. Foram transferidos para o Banco Central o controle e regularização do mercado
do câmbio, as operações com os outros bancos, a fiscalização destes e as ações concer-
nentes às relações do governo com os organismos estrangeiros ou internacionais. As
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bem como de flores, legumes e hortaliças. Apesar de 1972 ter sido um ano desfavorável
à atividade agrícola, o produto nacional manteve ritmo de crescimento acelerado, com
índice superior, a 10% graças ao dinâmico desempenho dos setores pecuário, mineral e
de serviços. O lucro líquido foi de Cr$ 829 milhões, superior em 35% ao de 1971.
Em 1973, Nestor Jost relatou que sua gestão coincidiu com o período em que
ocorreu a mais profunda e acelerada transformação da história econômica do Brasil, “o
que levou o estabelecimento a constantes revisões das normas operacionais e à perma-
nente atualização de sua estrutura administrativa, para atender com segurança e pres-
teza às exigências da nação, que requeriam soma cada vez mais ponderável de recursos
financeiros para as iniciativas que se multiplicavam em todos os setores”.
Segundo Jost, a expansão do Banco além-fronteiras, correspondendo a objeti-
vos superiores da política de desenvolvimento, tinha assegurado a presença do Brasil
nos maiores centros financeiros do mundo e “evoluía no sentido de consolidar nossa
capacidade de negociação nos mercados internacionais, para que não mais fosse mero
espectador dos grandes acontecimentos mundiais”.
O Banco do Brasil participava, então, das seguintes entidades internacionais,
associado aos maiores bancos do mundo: Eurobraz (European Brazilian Bank P.I.C.)
– Londres, Cia. Arabe et Internationale D’Ivestissement – Luxemburgo, Banque Arabe et
internationale D’Investissemente – Paris e Brazilian American Merchant Bank (de exclusivo
capital do Banco do Brasil), em Grand Cayman.
No Brasil, o Banco popularizou-se ao modernizar e adotar o cheque-ouro, que
representou um grande avanço, os caixas executivos, em que foi pioneiro, e um novo e
moderno logotipo, escolhido por concurso público, que teve mais de 400 concorrentes.
Preparou também funcionários, com especializações a nível de mestrado nos Estados
Unidos e estágios nas agências no exterior, para aproveitamento em setores especiali-
zados. A política de desenvolvimento dos recursos humanos resultou, em cinco anos,
em 20.709 funcionários treinados no sistema próprio do Banco e instituições escolares
do país; e 178 qualificados em universidades estrangeiras.
Em 15 de março de 1974, Ernesto Geisel, eleito por voto indireto, assumiu a
Presidência da República e trouxe para a presidência do Banco do Brasil, Ângelo Cal-
mon de Sá. A crise provocada pela primeira grande escalada dos preços do petróleo
alastrava-se pelo mundo e afetava a posição econômica do Brasil. A taxa de inflação foi
bem superior à de anos anteriores. Para combatê-la e estimular as atividades produtivas
praticou-se amplamente a política de crédito seletivo.
O relatório relativo ao ano de 1975 observava que até os países desenvolvidos
tiveram suas receitas comprometidas com a crise mundial de energia. O Brasil, que
vinha crescendo em ritmo acelerado – com elevada demanda de importação e níveis
ainda não satisfatórios de exportação -, não permaneceu incólume. Seu problema maior
era o balanço de pagamentos. A retomada do processo de incentivo às exportações e
desestímulo à importação e a abertura para os contratos de risco para prospecção de pe-
tróleo representavam parte do esforço despendido pelas autoridades para amenizar os
efeitos da crise. A economia cresceu 4,2%. O Banco já estava presente, então, nos cinco
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do Brasil -, que superou todas as metas fixadas para 1980, mostrando ainda amplas
perspectivas para 1981.
Na área internacional, a atuação do Banco contribuiu para a expansão do inter-
câmbio comercial e para a captação, através de empréstimos e lançamento de bônus,
das divisas de que o país necessitava. Só a título de empréstimo, conseguiu levantar
nada menos que US$ 2.206 milhões. Nada seria possível se o Banco não contasse com a
performance da sua rede externa, então com 61 unidades, além de três subsidiárias sob
seu controle. Presente em Viena e inaugurada a dependência de Macau, no Extremo
Oriente, já cogitava a instalação do Banco em Varsóvia.
Em 1981, a escalada das taxas de juros no mercado internacional ainda penaliza-
va fortemente o Brasil e outros países, obrigados a recorrer a recursos externos. Entre-
tanto, foi possível reduzir a inflação a nível de dois algarismos, após 16 meses de resis-
tência. Obteve-se notável desempenho do setor exportador, que cresceu 16%, numa
vigorosa demonstração de força num ano difícil para o comércio mundial. A política de
substituição do combustível importado, particularmente significativa pelo que repre-
sentava em termos de alívio cambial, foi impulsionada com o incremento registrado na
produção interna de petróleo e na incorporação de sucedâneos nacionais.
No relacionamento com o exterior, para onde o Banco se voltou com decidido
empenho, destacaram-se: a atenção especial para com a região do Caribe, onde se inau-
guraram duas novas dependências; ultimação dos estudos para reforçar a posição no
Extremo Oriente, onde logo o Banco contaria com cinco filiais; e a expansão na África,
com a prevista elevação para 12 do número de representações. Criou-se o Banco Bra-
sileiro Iraquiano, primeiro banco binacional integrado ao Banco do Brasil, que via na
experiência forma viável de penetrar seguramente na região.
O Banco caminhava para se transformar em ágil conglomerado internacional.
Em 1982, firmou contrato com a Petrobras para arrendamento de plataformas de
prospecção submarina, no valor aproximado de Cr$ 800 milhões, com reflexos posi-
tivos sobre a balança comercial. Constituiu, para operar especialmente nesse tipo de
negócio, uma subsidiária – a BB-Leasing Company Ltd., sediada em Grand Cayman.
Na África Mediterrânea, abriu dependências no Cairo, Casablanca e Túnis; ao sul
do Saara, em Dakar e Libreville. Inaugurou também o BB-Tours-Voyages Et Touris-
me, empresa sediada em Paris, visando basicamente à ampliação do ainda incipiente
fluxo turístico para o Brasil.
Em meados do mesmo ano, o Banco e o Ministério das Relações Exteriores
celebraram convênio para a implantação do programa Comércio, Desenvolvimento
e Cooperação Internacional, com o objetivo de promover as exportações brasileiras.
Reformulou-se o programa assistencial prestado aos servidores e seus familiares, que
passaram a dispor de Centro de Assistência ao Pessoal – Ceasp, em todas as capitais,
além de postos de assistência em cidades do interior.
O destaque do ano ficou por conta da autorização do Conselho Monetário Nacio-
nal, obtida pelo presidente Oswaldo Colin, para o Banco instalar 1.134 novas agências,
em sua quase totalidade situadas nas mais remotas regiões do Brasil. A participação do
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Banco revelou-se decisiva não apenas na produção de alimentos básicos, como também
no amparo à lavoura canavieira e à produção de borracha, que registrou a maior safra
de todos os tempos. Os recursos do Banco eram, preferencialmente, direcionados às
empresas de menor porte.
Em 1983, como reflexo da crescente racionalização organizacional e de austera
política de gastos, verificou-se o acentuado declínio na relação despesas administra-
tivas/receita total auferida, que, ao logo do último biênio, foi reduzida de 33% para
26,8%. O lucro líquido de Cr$ 489,9 bilhões foi 175,8% superior ao obtido no final do
exercício anterior, de Cr$ 177,6 bilhões.
Na área de serviços, ressaltou-se a expansão do Sistema de Apoio integrado às
Micro, Pequenas e Médias Empresas (Sebrae), que abrangia mais de 13 mil empresas
em todo o país. Destacaram-se, ainda, a consolidação do saque eletrônico, em Brasília,
com adesão de 40 bancos comerciais, já programado para estender-se ao Rio de Janeiro
e São Paulo; a implantação da Compensação Nacional; e as atividades dos fundos es-
peciais instituídos pelo Banco.
De 1983 para 1984, o ativo total subiu em milhões de cruzeiros, de 52.208.379
para 151.017.735; os empréstimos, de 46.103.113 para 128.927.501; os depósitos, de
24.450.951 para 57.820.954; o patrimônio líquido, de 3.280.562 para 12.325.801; o capi-
tal social, e 461.203 para 2.152.967; o lucro líquido, de 489.881 para 1.826.090.
Em 1984, o rígido controle sobre as aplicações possibilitaram a expansão dos
saldos de empréstimos em apenas 130% e a queda real do volume das aplicações não
afetou os padrões de rentabilidade do Banco – situados acima da média da rede bancá-
ria em virtude de austera fiscalização sobre as despesas administrativas. O lucro líquido
atingiu Cr$ 1.226 bilhões, crescendo 272,8% em relação a 1983.
Para democratizar o capital da empresa, o Banco fez a oferta pública de 2,9 bi-
lhões de ações, no montante de Cr$ 174 bilhões, incorporando, em apenas 13 dias, 273
mil novos acionistas. Realizaram-se, naquele ano, os primeiros acordos com os órgãos
classistas dos bancários, inaugurando, no âmbito estatal, forma de aberta negociação
entre empregado e empregador.
Nos seis anos de gestão do presidente Oswaldo Roberto Colin, o Banco instalou
cerca de dois mil postos de atendimento – quase metade no Nordeste. Em 1984, o
Banco já reunia mais de 116 mil servidores em ininterrupto processo de treinamento –
cerca de 3.600 cursos, com 113 mil participantes nos últimos três anos.
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Capítulo 15
Foto: Acervo Arquivo Histórico do Banco do Brasil
Na era da
ciência e tecnologia
“Os nossos ativos representam, em termos reais, cerca de 78% da posição registra-
da, em 1978; o volume de créditos concedidos no ano passado igualava-se, tam-
bém em termos reais, ao valor de 1972; a empresa, que se posicionara durante
vários anos entre os 20 maiores bancos do mundo, passou ao 39º lugar; segundo a
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A essa altura, o Banco do Brasil já acelerava seu Projeto de Banco Múltiplo, que
visava justamente reagir ao progressivo esvaziamento constatado no período anterior.
O projeto alcançava sua maior significação no que se referia à atuação do BB como
banco comercial: pretendia-se que ele estendesse sua operação aos diversos segmentos
do mercado financeiro, sem abandonar suas demais funções de agente financeiro do
Tesouro Nacional, de banco de fomento do setor privado, de banco internacional e de
banco social.
Até então, a única incursão do Banco do Brasil no segmento não-monetário con-
sistia na colocação de Recibos de Depósito Bancário, depois Certificados de Depósito
Bancário, no mercado interno, operação iniciada, em 1980. Seu peso, todavia, era muito
pequeno pois no momento de extinção da “conta movimento” atingia apenas 1,9% do
total de haveres do sistema financeiro.
É de se lembrar que os demais bancos haviam-se lançado, particularmente após
dezembro de 1983 – quando a inflação brasileira ultrapassou 200% -, na intermediação
de recursos de curto prazo, como o open market, transformado na grande opção para os
aplicadores. Puderam, assim, ampliar seus contingentes de pessoal e investir em infor-
mática, com o objetivo de intensificar a captação de recursos. O Banco do Brasil estava
impedido de participar desse esforço.
A essa altura fizeram-se sentir também os efeitos de dois decretos-leis, os de nú-
meros 2.283, de 27 de fevereiro, e 2.284, de 10 de março, que implementavam o plano
de estabilização financeira conhecido como Plano Cruzado. Eles significaram uma re-
versão do processo, na medida em que bloquearam o avanço da inflação e extinguiram
a correção monetária. Sobre o sistema bancário, essas medidas tiveram um impacto
forte, traduzido na inédita e violenta retração do mercado não-monetário.
Notou-se aí, mais uma vez, a dimensão de banco social do Banco do Brasil. As
instituições financeiras de capital particular optaram por fechar agências e demitir pes-
soal. Já o Banco do Brasil, com agências espalhadas em todos os pontos do país, inclu-
sive nas áreas mais carentes e desatendidas, manteve sua rede. O enxugamento de
despesas deu-se apenas em áreas consideradas supérfluas – principalmente no exterior
-, sem se proceder à dispensa de funcionários, mas sim ao estímulo às transferências,
além de sustar a criação de novas dependências.
Como um efeito da revisão a que vinha procedendo, o Banco do Brasil reorien-
tou a política operacional da área internacional, concentrando seus esforços em áreas
consideradas supérfluas. Enquanto isso, passava a operar em outras áreas, dentro da
política delineada no Projeto Banco Múltiplo.
Operações como as de seguros, arrendamento mercantil, factoring, cartões de
crédito e crédito direto ao consumidor constituem esse plano. Os primeiros passos
no sentido da operacionalização do projeto foram a instalação da BB Distribuidora
de Títulos e Valores Mobiliários; o lançamento do Fundo Mútuo de Investimentos
Ações-Ouro; e o lançamento da Caderneta ouro, com recursos destinados ao crédito
rural, a partir de autorização concedida, a 14 de agosto de 1986, pelo presidente da
República.
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Essa diversificação ainda não havia produzido seus frutos quando, no segundo
semestre de 1986, o Banco do Brasil pôde demonstrar um lucro de aproximadamente
Cz$ 7,7 bilhões, antes da correção monetária, do imposto de renda e das participações
estatutárias, resultado positivo em um momento no qual as demais instituições finan-
ceiras encontravam dificuldades só mais tarde superadas.
A correção monetária de balanço apresentou um impacto líquido negativo de
Cz$ 4,834 bilhões. Assim, deduzido o imposto de renda, obteve-se um resultado de
Cz$ 2,449 bilhões, dos quais se destinou Cz$ 1,934 bilhão para a constituição de reser-
vas e as participações estatutárias e Cz$ 397 milhões para a distribuição de dividendos.
O dividendo correspondeu, portanto, a Cz$ 6,01 por lote de mil ações.
Ao longo da história podemos observar que os números refletidos em diferentes
estatísticas de desempenho demonstram que o Banco do Brasil sempre foi capaz de
enfrentar as incertezas provocadas por adversidades econômicas da história do país,
adaptando-se à circunstâncias políticas e superando crises. Tem sido esse, com efeito,
o escopo do Banco do Brasil, desde sua fundação.
Essa agilidade, no entanto, não se obteve à custa da consciência social que deve,
necessariamente, orientar os passos de uma instituição que, antes de tudo, pertence à
sociedade. O Banco do Brasil sempre buscou demonstrar que essa consciência social
não é, de forma alguma, incompatível com a eficiência. É que o processo de competi-
ção tonifica o sistema financeiro, beneficiando principalmente o consumidor de pro-
dutos e serviços bancários.
O Banco tem desempenhado, no curso da história, o papel de instrumento do
desenvolvimento, estabelecendo regras de competitividade no mercado sem ter como
único objetivo o lucro, mas, ao contrário, promovendo o repasse de benefícios sociais
a todos os brasileiros. Tradicionalmente, é forte aliado da livre iniciativa, com índole
privatizante que privilegia todos os segmentos econômicos.
A partir de 1986 deixou de operar a Conta Movimento. Assumiu, entretanto,
características que o equiparam aos grandes conglomerados financeiros, recebendo au-
torização para lançar a Poupança-Ouro (Caderneta Rural), o Ourofix (Fundo de Renda
Fixa), o OuroCard (Cartão de Crédito) e o Caixa-Ouro. Com um leque de novos pro-
dutos, o Banco ampliou a ofensiva de conquista de mercados. Consolidou-se, assim,
o embrião da “Família-Ouro”, que aproveita o marketing do Cheque-Ouro, o cheque
garantido mais conhecido e popular do mercado. Isso aumentou o raio de ação do Ban-
co e, também, melhorou substancialmente os serviços que presta a seus clientes tradi-
cionais. Começou, aí, uma nova e significativa etapa na vida do Banco do Brasil como
instituição competitiva que não perde de vista seus objetivos.
É nessa dinâmica que vive o Banco do Brasil. Uma instituição privatizante, cujos
lucros são distribuídos a toda a sociedade. Um Banco que se moderniza a cada dia,
preparando-se para atender às crescentes exigências do desenvolvimento socioeconô-
mico do Brasil.
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O livro
História do Banco do Brasil
foi composto pela tipologia Casablanca, corpo 11
e impresso em papel Pólen Soft 80g
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