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O
próprio Santos Dumont relata tário.
Alexandre Medeiros
em suas memórias que o seu Santos Dumont iniciou os seus es-
SCIENCO, PE
pai, um engenheiro que havia tudos mais avançados em Paris na pri- e-mail: alexandre@scienco.com.br
estudado na França, na École Centrale mavera de 1892 e logo em seguida, já ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

des Art et Métiers, conhecendo a sua em agosto daquele mesmo ano, rece-
paixão pelas questões técnicas e cientí- beria a terrível notícia do falecimento
ficas, recomendou que ele fosse para de seu pai no Brasil. Após a morte de
Paris onde deveria procurar um especia- Henrique Dumont, Alberto freqüentou
lista em Física, Química, mecânica e livremente, sem qualquer compromis-
eletricidade. Segundo relata Santos Du- so formal, durante cinco anos, de 1892
mont, o seu pai aconselhou-o ainda a a 1897, as aulas que lhe interessavam
estudar aquelas matérias e ter sempre nos cursos de engenharia na Sorbonne
em mente que o fu- e também no College
turo do mundo es- Sem jamais fixar-se em uma de France. Este é um
tava na mecânica. carreira em particular, detalhe muito im-
Analisando este tre- Santos Dumont passou pela portante de sua for-
cho das memórias Sorbonne e pelo College de mação intelectual,
de Santos Dumont e France entre 1892 e 1897; destacado por Gé-
tendo em mente que pela escola de navegação rard Hartmann, mas
a mecânica e a ele- no Merchant Venturers’ praticamente igno-
tricidade são partes Technical College em Bristol, rado por muitos dos
integrantes do que em 1893, para então voltar seus biógrafos.
denominamos de a Paris No ano seguin-
Física, somos tenta- te, de 1893, com 21
dos a achar o seu discurso um tanto anos de idade, Santos Dumont passou
redundante ou até mesmo equivocado. um tempo na Inglaterra, durante o
Entretanto, o verdadeiro significado qual freqüentou, novamente como um
presente nas palavras do velho Henri- aluno ouvinte, provavelmente aulas de
que Dumont deve ser interpretado navegação no Merchant Venturers’
como uma sugestão para que o jovem Technical College da cidade de Bristol1,
Alberto concentrasse os seus esforços onde alguns de seus primos eram estu-
nas mais recentes aplicações da mecâ- dantes regulares. Ele se interessou por
nica e da eletricidade, ou seja, nos cam- aquela instituição, que daria origem à
pos da engenharia mecânica e da nas- Universidade de Bristol, também
cente engenharia elétrica. provavelmente devido à sua forte
Além disso, o velho Henrique, co- reputação na área da engenharia,
nhecendo bem o espírito indômito po- especialmente na área de navegação.
rém introvertido de seu filho, que difi- Não existem, contudo, registros escri- Santos Dumont sempre guiou a si mesmo na
cilmente se adequaria a qualquer rigi- tos oficiais daquele seu período naquela conquista do conhecimento. Neste trabalho ve-
dez curricular, reforçou a recomen- instituição, pois um bombardeio ocor- remos como ele trilhou os primeiros passos de
dação dada ainda na primeira viagem rido na Segunda Guerra Mundial des- seus estudos técnicos. O presente artigo está
baseado em parte do primeiro capítulo do livro
a Paris para que ele procurasse um bom truiu uma parte relevante dos arquivos Santos Dumont e a Física do Cotidiano, do mesmo
professor particular como alternativa da instituição. autor (Editora Livraria da Física, São Paulo,
ao tradicional ensino formal universi- Como destaca Henrique Lins de 2006).

Física na Escola, v. 7, n. 2, 2006 Santos Dumont e seu professor de Física 33


Barros, temos, entretanto, o relato de tornar-se cada vez mais íntimo dos se- este seu importante período formativo,
um colega seu daquela época, o brasi- gredos da máquina a explosão. justamente o período no qual Santos
leiro Agenor Barbosa. Segundo ele, San- Ele fez novamente outras tenta- Dumont estudou uma série de coisas
tos Dumont era um aluno pouco apli- tivas de voar em um balão esférico com que lhe interessavam, dentre elas a Fí-
cado, ou melhor, nada estudioso para as os demonstradores de feiras, mas todas sica. Como saber, portanto, como teria
‘teorias’, mas de admirável talento prático elas sem o esperado sucesso, pois sido esta sua formação?
e mecânico e, desde aí, revelando-se, em aqueles indivíduos exigiam-lhe quan- Paul Hoffman descreve este perío-
tudo, um gênio inventivo. tias absurdas e exageravam nos perigos do da vida de Santos Dumont como
O seu guia principal nos seus es- da aventura. Santos Dumont chegou uma fase na qual ele teria mergulhado
tudos acadêmicos não foi, entretanto, a comentar em seus escritos que era intensamente nos estudos, chegando a
nenhum dos professores a cujas aulas como se eles quisessem guardar os se- tornar-se um autêntico “rato de biblio-
tenha ele eventualmente assistido na gredos da aerostação apenas para si teca”. Não sabemos até que ponto uma
Sorbonne, no College de France e nem mesmos. Assim, entre algumas via- tal inferência é de fato verdadeira, mas
mesmo no Merchant Venturers’ Tech- gens, noitadas e passeios de automó- ela parece bastante factível, apesar das
nical College de Bristol. Naqueles locais, veis, ele seguia a sua vida de dedicação diversões já assinaladas, se levarmos
Santos Dumont nunca seguiu currí- aos estudos em Paris naqueles anos de em conta os seus interesses muito cla-
culos regulares, nem jamais estudou 1892 a 1897. ros nos conhecimentos que desejava
de um modo mais formal. Na verdade, Desde o início desse seu período for- adquirir. Não se deve, entretanto, inferir
o grande orientador dos seus estudos mativo em Paris, Santos Dumont se- de uma tal afirmação que ele tenha se-
foi ele mesmo, com a sua liberdade guiu à risca o conselho de seu pai e con- guido alguma coisa semelhante a um
indômita e o seu desejo incontido de seguiu um bom professor particular, rígido programa de estudos traçado pe-
guiar o próprio destino, de buscar os não propriamente para guiá-lo, mas lo tal professor Garcia, a quem ele pare-
seus próprios caminhos. sim para auxiliar nos seus estudos cia muito estimar. O verdadeiro
Durante aqueles cinco anos forma- individuais. Ele conta que logo conse- programa de estudos de Santos Du-
tivos, ele não apenas estudou, mas guiu como tutor um antigo professor mont foi estabelecido por ele mesmo,
também fez algumas viagens, não ape- universitário francês, de origem espa- certamente com a ajuda de Garcia, mas
nas à Inglaterra. Tudo isso fazia parte nhola, chamado Garcia e que veio a lhe jamais comandado por este.
de sua auto-educação. Há relatos na ensinar praticamente tudo o que sabia Peter Wykeham, outro importan-
literatura, por exemplo, sua escalada sobre a Ciência. te biógrafo, conjectura com muita
ao Monte Branco, o ponto mais alto O próprio Santos Dumont conta- sensatez que mercê das características
da Europa e que muito o teria deslum- nos, em seu livro O Que Eu Ví; O Que Nós muito peculiares da personalidade de
brado. O seu amor pelas alturas ultra- Veremos, que estudou com o professor Santos Dumont e dos seus interesses
passava agora em muito a simples Garcia por muitos anos e que de fato específicos de estudo, Garcia deve ter
subida da torre Eiffel realizada ainda não apenas estudou, mas que também sido não propriamente um guia, mas
em sua primeira viagem a Paris. viajou bastante naqueles anos forma- sim um conselheiro seguro, alguém em
Naqueles seus anos de estudos, ele tivos do seu conhecimento científico. que ele podia confiar e com quem po-
não ia muito a festas e bebia pouco, Não se sabe ao certo quem era esse dia tirar as suas dúvidas sobre os as-
mas já começava a freqüentar a ani- tal professor Garcia, onde ele havia le- suntos estudados. Ele, de início, deve
mada noite parisiense, embora sem o cionado nem mesmo qual era o seu ter tentado outros professores, como
mesmo destaque em relação ao que primeiro nome. Tudo o que se sabe, de conjectura Wykeham, mas não deve-
obteria anos depois, após os seus arris- fato, a respeito deste misterioso perso- ria ser tarefa fácil para mestres apo-
cados vôos de balão. nagem, é que ele pa- sentados enfrentar uma entrevista com
Para relaxar, ele re- (sobre Santos Dumont)... rece ter sido real- um jovem estrangeiro pequenino e
corria também aos pouco aplicado, ou melhor, mente a única pessoa dono de si mesmo, plenamente cons-
novos carros adqui- nada estudioso para as a ter lecionado deter- ciente de suas possibilidades. Garcia pa-
ridos. Deixou de la- ‘teorias’, mas de admirável minados conteúdos rece ter sido um achado feliz, um mes-
do o seu Peugeot e talento prático e mecânico e, de Física de forma re- tre, possivelmente aposentado, de Ciên-
comprou um novo desde aí, revelando-se, em gular a Santos Du- cias e engenharia e que teria tido uma
e mais potente De tudo, um gênio inventivo mont, ainda que de atitude positiva em relação a Santos
Dion e também um Agenor Barbosa, um modo bastante Dumont - sempre receoso do ridículo -
triciclo Dion-Button Colega de Dumont em Bristol informal e bem ade- e diante de quem Alberto não se sentia
com motor de dois quado à personali- constrangido em revelar os seus anseios
tempos. Ele tinha mais automóveis que dade do seu abastado, inteligente e aeronáuticos. Garcia visitava-o, prova-
qualquer outra pessoa em Paris, mas caprichoso aluno. velmente, todos os dias e trazia consigo
aquelas suas caras engenhocas que- Mas, afinal, como foram os tais es- algumas sugestões interessantes das
bravam freqüentemente. O lado bom tudos de Santos Dumont com esse tal muitas opções de estudo em Paris, de
dessa deficiência primitiva dos seus professor Garcia, entre 1892 e 1897? cursos que valeriam a pena serem
automóveis é que aquilo obrigava-o a Quase todas as suas biografias omitem seguidos ou de palestras que merece-

34 Santos Dumont e seu professor de Física Física na Escola, v. 7, n. 2, 2006


riam ser assistidas. Ele deveria auxiliar um simples ornamento dispensável. fundaram inicialmente apenas uma escola
Santos Dumont, sobretudo, a ter uma Também por isso, Santos Dumont de navegação, tendo sido ela uma das pri-
atitude de avaliação crítica em face das optou, mais uma vez, pela sua liber- meiras instituições de treinamento técnico
muitas possibilidades de acesso ao co- dade, por não seguir nenhum curso da Inglaterra. Exatamente em 1893, no ano
em que Santos Dumont foi estudar em
nhecimento disponíveis naquela grande universitário. Ele não se formou em en-
Bristol, aquela Sociedade dos Mercadores
cidade. Garcia dava-lhe aulas particu- genharia aeronáutica, ele se fez a si pró- decidira transformar a sua velha escola téc-
lares sobre conteúdos específicos, dis- prio um engenheiro aeronáutico, um nica do século XVI em uma Faculdade
cutia com ele as coisas interessantes que pioneiro autodidata que daria passos Técnica, o Merchant Venturers’ Technical
houvesse visto em alguma palestra ou importantes para a inauguração de College, que posteriormente viria a trans-
aula que tivesse presenciado recente- uma nova era nas conquistas tecno- formar-se na atual Escola de Engenharia
mente em alguma Universidade, algu- lógicas aeronáuticas da humanidade. da Universidade de Bristol. Na verdade, o
ma questão interes- Mas, afinal, co- controle daquele College permaneceu sob
sante aparecida nos Com uma fortuna crescente mo podemos saber o a responsabilidade da Sociedade de Merca-
face a boas aplicações na dores até 1949, quando foi finalmente
livros que ele lia que Santos Dumont
incorporado pela prefeitura da cidade e deu
com freqüência e, bolsa de valores, é notável e aprendeu de Física e origem simultaneamente à Escola de Enge-
além disso, tirava as surpreendente que Santos quanto esse conheci- nharia da Universidade de Bristol, à Uni-
suas dúvidas, quan- Dumont tenha se mento influenciou versidade Técnica de Bath e à Escola Politéc-
do necessário. interessado pelos estudos em sua trajetória nica de Bristol.
O professor seguinte de conquis-
Garcia dava-lhe, sem dúvida, uma ajuda tas tecnológicas? Leia mais
inestimável, mas não era jamais um Que conteúdos de Física eram esses Henrique Lins de Barros, Santos Dumont e a
verdadeiro guia. Ele não conduzia, não se sabe ao certo, mas uma análise Invenção do Avião (Rio de Janeiro, Jorge
Zahar Editor, 2003).
verdadeiramente, o processo educativo cuidadosa dos trabalhos e das aventu- Fernando Hippolyto da Costa, Santos Du-
de Santos Dumont; essa era uma tarefa ras de Santos Dumont, assim como dos mont: História e Iconografia (Villa Rica
que cabia ao próprio Dumont fazê-lo, seus escritos sobre os mesmos, pode Editoras Reunidas Ltda, Belo Horizon-
sob a sua própria conta e risco. Não era, conduzir-nos a inferirmos os seus pos- te, 1990).
Gérard Hartmann, Les Machines Volantes de
assim, um relacionamento propria- síveis conhecimentos nesta área. Santos-Dumont. Dossiers Historiques
mente entre um mestre e o seu discípulo. Cremos que com um tal esforço analí- et Techniques Avions et Moteurs.
A influência exercida era útil, mas con- tico podemos desvendar muito do que, Decembre, 2005.
trolada pelo próprio Santos Dumont. O de fato, Santos Dumont estudou e Paul Hoffman, Asas da Loucura: A Extraor-
dinária Vida de Santos Dumont (Editora
resultado prático era que apesar da sua aprendeu e que tipo de potencial inter- Objetiva Ltda, Rio de Janeiro, 2004).
educação ser ampla e entusiasticamente pretativo da Natureza um tal conheci- Fernando Jorge, As Lutas, a Glória e o Mar-
conduzida, ela era também caracte- mento lhe propiciou. Do mesmo modo, tírio de Santos Dumont (T.A. Queiroz
Editor, São Paulo, 2003).
rizada por uma certa superficialidade. também, podemos reconhecer as pos-
Alexandre Medeiros, Santos Dumont e a Física
Pode-se conjecturar que a sua edu- síveis deficiências e limitações deste seu do Cotidiano (Editora Livraria da Física,
cação científica poderia ter sido bem conhecimento. Além disso, em um tal São Paulo, 2006).
mais sólida, se não houvesse sido ele percurso, podemos ser levados a ana- João Musa, Marcelo Mourão e Ricardo Til-
kian, Alberto Santos-Dumont: Eu Na-
mesmo o próprio guia de todo o seu lisar uma série de fenômenos do coti- veguei pelo Ar. Da Conquista da Dirigi-
processo educativo; se não fosse ele diano à luz das leis da Física em bilidade dos Balões ao Mais Pesado que
mesmo que estivesse sempre no co- situações diversas ensejadas por Santos o Ar (Editora Nova Fronteira, Rio de
mando das direções a seguir. Mas isto Dumont e, desta forma, refletirmos, Janeiro, 2003).
Aluizio Napoleão, Santos Dumont e a Con-
seria praticamente impossível, pois aprendermos e ensinarmos uma série quista do Ar (Editora Itatiaia Ltda., Belo
Alberto aprendia sempre pelos seus de conteúdos interessantes e úteis na Horizonte, 1988).
próprios métodos de estudo. compreensão do universo que nos cer- João Spacca Oliveira, Santô e os Pais da Avia-
Com a fortuna que possuía e que ca. Este, entretanto, é um desafio que ção (Companhia das Letras, São Paulo,
2005).
não parava de crescer em face das boas transcende a extensão deste presente Alberto Santos Dumont, A Conquista do Ar
aplicações que ele havia feito em ações artigo e que nos remete necessaria- pelo Aeronauta Brasileiro Santos Du-
na bolsa de valores, o admirável mes- mente para estudos mais específicos mont. (Aillaud & Cia., Paris, 1901).
mo é que ele tenha de fato estudado! E que contemplem um tal tema. Alberto Santos Dumont, O Que eu Vi. O Que
Veremos (Editora Herdra, São Paulo,
a admiração maior é pelo fato dele ter 2002).
Nota
perseverado em seu objetivo de cons- 1
Alberto Santos Dumont, Os Meus Balões
A Universidade de Bristol teve a sua origem (Fundação Projeto Rondon, Brasília,
truir a sua auto-educação.
nesta escola que tinha, de fato, uma longa 1986).
Em seu tempo, ainda não existi-
tradição na área de navegação. Esta escola Nancy Winters, O Homem Voa! A Vida de
am, obviamente, cursos de engenharia superior originou-se de uma instituição Santos Dumont, o Conquistador do Ar
aeronáutica. Deste modo, ele jamais po- ainda mais antiga fundada em 1595 pela (DBA, São Paulo, 2000).
deria ter se formado em um curso Sociedade dos Mercadores Aventureiros de Peter Wykeham, Santos-Dumont: A Study in
Obsession (Harcourt, Brace & World,
universitário desta natureza. E outros Bristol. Esta Sociedade dedicava-se ao arris- New York, 1963).
títulos seriam para ele não mais do que cado comércio marítimo e os seus membros

Física na Escola, v. 7, n. 2, 2006 Santos Dumont e seu professor de Física 35

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