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Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem da UFSC. Enfermeira chefe da Divisão de Enfermagem e Emergência do Hospital Universitário da UFSC.
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Enfermeira. Mestre em Sociologia Política pela UFSC. Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Pós-Doutorado na University of Amsterdam. Enfermeira. Professora da UFSC.
PALAVRAS-CHAVE: Orga- RESUMO: Trata-se de uma revisão de literatura que situa as principais abordagens teóricas da adminis-
nização e administração. Admi- tração destacando suas características, contribuições e limitações para a organização do trabalho na
nistração de serviços de saúde. sociedade. Mostra a influência destas teorias na organização do trabalho no setor saúde e especialmente
Serviços de saúde. na enfermagem demonstrando a influência predominante, até hoje, do modelo taylorista/fordista de
organização do trabalho e de duas teorias administrativas, a clássica e a burocrática. Conclui apontando
os limites destas teorias para enfrentar os desafios atuais da gestão no setor saúde e para a realização de
um trabalho de melhor qualidade.
KEYWORDS: Organization ABSTRACT: This study is a literature review that presents the main theoretical approaches of
and administration. Health administration, highlighting their characteristics, contributions, and limits for work organizations in
services administration. Health society. It also shows the influence of these theories in the organization of work in the health care
services. sector and especially in nursing. It demonstrates the predominant influence, until today, of the taylorist/
fordist model of work organizations and the influence of two administrative theories - the classic and
the bureaucratic. It concludes pointing out the limits these theories face with the current challenges of
administration in health care and in facing the necessity to improve the quality of care.
PALABRAS CLAVE: Organi- RESUMEN: El estudio trata de una revisión de literatura en donde sitúa los principales abordajes
zación y administración. teóricos de la administración destacando así, sus características, sus contribuciones y sus limitaciones
Adminitración de los servicios para la organización del trabajo en la sociedad. Así mismo, muestra la influencia que ejercen estas teorís
de salud. Servicios de Salud. en la organización del trabajo para el sector de la salud y especialmente, para la enfermería, demostrando
el predomínio de la influencia, hasta ahora, del modelo taylorista/fordista de la organización del trabajo
y de dos teorías administrativas, la clásica y la burocrática. Concluí señalando los límites de éstas teorías
para enfrentar los grandes desafíos actuales de la gestión en el sector de la salud y también, para la
realización de un trabajo de mejor calidad.
que envolvessem a tarefa, porém essa participação sofre gem Contingencial e marca o surgimento de um mo-
restrições e deve estar de acordo com o padrão de delo denominado orgânico nas organizações. Este
liderança adotado.1-4 modelo, dotado de grande flexibilidade,
A Teoria Estruturalista parte da análise e limi- descentralização e desburocratização, é colocado como
tações do modelo burocrático e declínio da teoria opção para ambientes em constante mutação e condi-
das relações humanas, de quem na verdade aproxi- ções instáveis, contrapondo-se, de certa forma, ao
ma-se conceitualmente. Inaugura um sistema aberto modelo mecanicista que prevalece em situações e am-
das organizações. Avança em relação às demais teo- bientes relativamente estáveis. No que se refere à or-
rias ao reconhecer a existência do conflito nas orga- ganização do trabalho esta abordagem privilegia a
nizações, assumindo que este é inerente aos grupos e análise tecnológica, entre as diversas contingências, no
às relações de produção.3,5 sentido de limites à reorganização do trabalho. Está
associada à participação do trabalhador, sendo que os
A Teoria Comportamentalista tem sua ênfase
estudos desenvolvidos colocam a participação relaci-
mais significativa nas ciências do comportamento e na
onada às variáveis de condições estruturais, que facili-
busca de soluções democráticas e flexíveis para os pro-
tam ou dificultam a interação trabalhador/gerência e
blemas organizacionais preocupando-se mais com os
a propensão dos trabalhadores para buscar a partici-
processos e com a dinâmica organizacional do que com
pação. Desmistifica a administração científica do tra-
a estrutura. Amplia a discussão sobre a motivação hu-
balho e reconhece os fatores contingenciais que inter-
mana com base nas teorias da motivação de Maslow e
ferem nas organizações e nas relações funcionais.5
a teoria sobre os fatores que orientam o comporta-
mento das pessoas de Herzberg. Esta abordagem ga- De um amplo arranjo de teorias e técnicas das
nha impulso no início da década de 80 quando come- ciências comportamentais surge a Abordagem Sócio-
çam a aparecer um conjunto de idéias, experiências e Técnica com ênfase nas relações entre o funcionamento
princípios provenientes do estilo japonês de adminis- dos sub-sistemas social (os indivíduos e suas relações,
tração, que se preconizou chamar Teoria Z da adminis- relações sociais no trabalho e cultura), e técnico
tração. A teoria Z fundamenta-se nos princípios de: (tecnologia, máquinas e equipamentos, procedimen-
emprego estável; baixa especialização; avaliação perma- tos e tarefas); princípio da otimização conjunta; esco-
nente do desempenho e promoção lenta; democracia e lha organizacional; desenvolvimento de trabalho em
participação nas decisões; valorização das pessoas.1,3 grupos semi-autônomos; preocupação com evolução
e aprendizado contínuo. Coloca-se numa lógica dis-
A Teoria dos Sistemas surge de estudos do bió-
tinta e oposta de organização do trabalho em relação
logo alemão Ludwig Von Bertalanfly publicados en-
ao modelo taylorista-fordista.5
tre 1950 e 1968 e busca formulações conceituais pas-
síveis de aplicação na realidade empírica. Para este au- A partir dos anos 80 foram sendo difundidas,
tor “um sistema pode ser definido como um com- alternativas administrativas, de gestão e organização
plexo de elementos em interação”.6:84 Interação signi- do trabalho que estão associadas, freqüentemente, à
fica que os elementos estão em relação. E que o com- superação dos modelos taylorista/fordistas de orga-
portamento destes elementos modificam-se quando nização do trabalho, na medida em que podem favo-
há mudança na relação. recer a participação dos trabalhadores nos processos
de tomada de decisão. Enfatizam a cooperação; a va-
A Teoria do Desenvolvimento Organizacional
lorização de grupos de trabalho; a diminuição de ní-
surge de um conjunto de idéias a respeito do ser hu-
veis hierárquicos; auto-gerenciamento por setores e
mano, da organização e do ambiente na perspectiva
áreas; delegação de tarefas, responsabilidade compar-
de propiciar o crescimento e desenvolvimento
tilhada e transparência nas decisões.
organizacional, de acordo com suas potencialidades.
No entanto, as teorizações das diversas corren-
Volta-se para estratégias organizacionais planejadas atra-
tes administrativas acerca da organização do traba-
vés de modelos de diagnóstico, intervenção e de mu-
lho encontram-se ainda bastante centradas no aumen-
danças envolvendo modificações estruturais ao lado
to da produtividade e eficiência da organização, per-
de modificações comportamentais para melhorar a
manecendo o trabalhador em segundo plano, em-
eficiência e eficácia das empresas.1,3
bora, nem sempre, esta condição seja explicitada. A
A busca por modelos de estruturas discussão acerca dos modelos participativos traz uma
organizacionais eficazes, relacionando variáveis contribuição diferenciada no sentido de aliar produ-
ambientais e formas estruturais, dá origem a Aborda- tividade e participação.
Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2006 Jul-Set; 15(3):508-14.
Teorias administrativas e organizações do trabalho... - 511 -
numericamente menores em relação aos demais, sua Os modelos clássicos de gerenciamento influ-
influência é mais limitada. Nos serviços de nutrição, enciaram a administração de recursos humanos em
farmácia, laboratório, em que há pessoal com forma- saúde o que, nas últimas décadas, têm levado as orga-
ção técnica de segundo grau, o gerenciamento do ser- nizações a resultados insatisfatórios e ineficientes, pois
viço é realizado pelo profissional de nível superior, não respondem as necessidades atuais. A
reproduzindo uma organização interna semelhante a descentralização promovida pela implantação do SUS,
existente na enfermagem.7-9 no Brasil, as mudanças no modelo assistencial, bem
A estrutura organizacional dos hospitais segue ain- como outros fatores como uso intensivo de tecnologia
da nos dias de hoje as diretrizes estabelecidas por de ponta, flexibilização das relações de trabalho e ou-
organogramas clássicos, as estruturas hierarquizadas ver- tros exigem um gerenciamento voltado para a reali-
ticais, fragmentação das responsabilidades, formalização dade atual.12
das relações, pautando-se nas lógicas de autoridade le-
gal, herdados da concepção burocrática. No entanto, A enfermagem neste contexto...
atualmente, muitos autores têm desenvolvido estudos Na 2ª metade do século XIX, o modelo pro-
em busca de novos rumos para a gestão e organização posto por Florence Nightingale na Inglaterra, influen-
do trabalho em saúde utilizando teorias administrativas ciado pela lógica de organização capitalista do traba-
mais atuais como a estruturalista, a contingencial e ou- lho, institui a divisão entre trabalho intelectual e manu-
tras, bem como tem apontado as dificuldades para pro- al e a hierarquização no trabalho da enfermagem, ain-
mover mudanças no modelo de gestão, em especial da tão presente em nossos dias. Neste modelo a en-
nos hospitais públicos brasileiros.7-11 fermeira desempenha a função de gerente centralizador
“A adoção de modelos mais democráticos e do saber, que domina a concepção do processo de
participativos implica em ‘mexer em esquemas de trabalho de enfermagem e delega atividades parcela-
poder’ e isto envolve uma gama de trabalhadores no res aos demais trabalhadores de enfermagem.7
meio hospitalar. Qualquer mudança na estrutura de A teoria da administração científica, que tem in-
gerenciamento destas organizações implica em ne- fluenciado a organização e gestão do trabalho indus-
gociações com os diversos segmentos para que se trial, também tem influenciado os serviços de saúde e
concretize”.9:317 a enfermagem. Como herança desta teoria, presente
A organização do trabalho, a divisão parcelar e até os dias atuais, destaca-se: a ênfase no “como fa-
a fixação do profissional a uma determinada etapa do zer”, a divisão do trabalho em tarefas, a excessiva pre-
processo terapêutico, tendem a produzir alienação. Para ocupação com manuais de procedimentos, rotinas,
mudar a realidade do trabalho em saúde “é necessário normas, escalas diárias de distribuição de tarefas, frag-
reaproximar os trabalhadores do resultado de seu tra- mentação da assistência, dentre outros. Destaca-se na
balho. [...] voltar a valorizar o orgulho profissional. É equipe a preocupação em cumprir a tarefa e o desem-
necessário que as instituições procurem mecanismos penho é avaliado pelo quantitativo de procedimentos
que favoreçam o envolvimento dos trabalhadores para realizados. Técnicos e auxiliares cuidam da assistência
efetuar as mudanças. [...] tornar a reinvenção uma pos- direta e a enfermeira assume a supervisão e o controle
sibilidade cotidiana e garantir a participação da maio- do processo de trabalho.13
ria nesses processos são maneiras de implicar traba- A enfermeira gerencia o trabalho da equipe com
lhadores com as instituições e com os pacientes”.10:234 muitas características das abordagens taylorista, fayolista
A perspectiva de construção de organogramas e burocrática. Volta-se para o cumprimento de nor-
mais horizontais, de um modelo de gestão mais mas rotinas e tarefas, reproduzindo aquilo que outros
participativa nestas instituições, implica em reunir os profissionais e a instituição esperam, deixando, muitas
profissionais naquilo que os mesmos têm em comum: vezes, de priorizar as necessidades do doente e geran-
o objeto de trabalho. A atenção ao usuário é a única do descontentamento e desmotivação nos trabalha-
proposta capaz de reunir grupos profissionais com dores de enfermagem. O poder de decisão é centrali-
interesses e lógicas de organização do trabalho tão di- zado no enfermeiro/a, enfatiza-se a disciplina
ferenciadas e esta proposta deve ser amplamente ne- desconsiderando as pessoas e as relações interpessoais.14
gociada entre os diversos segmentos, com vistas à Herda da teoria burocrática a excessiva
construção de uma proposta assistencial o mais burocratização. O pessoal de enfermagem assume
consensual possível.7-9 características de técnicos especializados, com com-
Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2006 Jul-Set; 15(3):508-14.
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portamento e posições definidas institucionalmente, trabalho em saúde percebe-se que os autores buscam
valorizando normas e regras. 12 As chefias de enfer- sustentação em diversas áreas do conhecimento, entre
magem assumem um papel administrativo voltado as quais se destacam as teorias da administração. As
para os interesses da instituição; a vontade do enfer- influências e mudanças, no entanto, ainda são embrio-
meiro se sobrepõe a dos demais trabalhadores, carac- nárias e insuficientes para apontar uma direção para a
terizando um processo de dominação, impessoalidade, gestão e organização do trabalho em saúde; são pou-
relações hierárquicas e ênfase na comunicação formal.13 co significativas considerando as dificuldades e a
Influenciada pelo movimento das relações hu- hegemonia das teorias clássicas e burocráticas; mas são
manas surge a discussão acerca da importância da li- muito significativas se considerarmos os avanços das
derança e da comunicação na formação do enfermei- últimas décadas.
ro para qualificar o seu trabalho com o pessoal de Neste sentido, resgatar as teorias administrativas
enfermagem.12 em seus aspectos positivos e negativos, contribui para
Percebe-se que mais recentemente a enferma- a fundamentação de escolhas e para experimentação
gem tem sofrido a influência de outras teorias da ad- de novos modelos.
ministração. Estas influências ainda não são suficiente-
mente significativas e não representam mudanças mai- REFERÊNCIAS
ores na organização dos serviços de enfermagem. “A
busca por novas formas de gestão nos serviços de 1 Motta FCP. Teoria geral da administração: uma introdução.
saúde torna necessária à incorporação de novos co- 19a ed. São Paulo(SP): Pioneira; 1995.
nhecimentos e habilidades, sintonizados a uma prática 2 Tragtemberg M. Burocracia e ideologia. São Paulo (SP):
administrativa mais aberta, mais flexível e Ática; 1974.
participativa”.15:409 No entanto, o ensino da adminis-
3 Chiavenato I. Teoria geral da administração. v.1. 3a ed. São
tração nos cursos de enfermagem continua, predomi-
Paulo (SP): McGraw- Hill; 1987.
nantemente, voltado para as velhas teorias administra-
tivas, não preparando o enfermeiro para uma inter- 4 Larangeira SMG. Fordismo e pós-fordismo. IN: Cattani
venção adequada na realidade e para uma gerência ino- AD organizador. Trabalho e tecnologia: dicionário crítico.
vadora e centrada na aquisição de competências.16 2a ed. Petrópolis (RJ): Vozes Ed. UFRG; 1999. p.292.
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Disponível em: http://www.eps.ufsc.br/teses/valeska/
gem destacam-se contribuições teóricas e práticas en-
cap_4cap4.htm
volvendo a defesa e implementação dos chamados “cui-
dados integrais”; o envolvimento da equipe de enfer- 6 Bertalanffy LV. Teoria geral dos sistemas. Petrópolis (RJ):
magem, bem como do usuário e família no planeja- Vozes; 1973.
mento e avaliação da assistência; a gestão participativa 7 Pires D. Organização do trabalho na saúde. In: Leopardi
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educação no trabalho como forma de garantir o de- organização e subjetividade. Florianópolis (SC): UFSC/
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como fator de motivação para o trabalho. Livros; 1999. p.176.
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Para finalizar públicos: o difícil exercício da mudança. RAP. 1997 Maio-
Jun; 3 (3): 36-7.
Evidencia-se o crescimento, nos últimos anos,
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e organização do trabalho em saúde. A discussão ga- 1999 Jul-Dez; 4 (2): 315-29.
nha espaço no bojo das transformações que afetam o
mundo do trabalho, as organizações em geral e as or- 10 Campos GWS. Subjetividade e Administração de pessoal:
considerações sobre modos de gerenciar o trabalho em
ganizações de saúde. No Brasil merecem destaque às
equipes de saúde. In: Merhi EE, Onocko R., organizadores.
mudanças que vem ocorrendo a partir da Reforma Praxis en salud: um desafio para lo publico. São Paulo
Sanitária, estimulando intensamente este debate. (SP): Hucitec; 1997. p.229-66.
Na discussão sobre a gestão e organização do
11 Matos E, Pires D. A organização do trabalho da enfermagem 15 Galvão CM, Trevisan MA, Sawada NO. A liderança do
na perspectiva dos trabalhadores de um hospital escola. enfermeiro no século XXI: algumas considerações. Rev.
Texto Contexto Enferm. 2002 Jan-Abr;11 (1): 187-205. Esc. Enferm. USP. 1998 Dez; 32 (4): 302-6.
12 Castro JL. Nova agenda para a administração de recursos 16 Ferraz CA, Gomes ELR, Mishima SM. O desafio teórico-
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17 Ciampone MHT, Kurcgant P. O ensino de administração
13 Kurgant P, coordenadora. Administração em enfermagem. em enfermagem no Brasil: o processo de construção de
São Paulo (SP): EPU; 1991. competências gerenciais. Rev. Bras. Enferm. 2004 Jul-Ago;
5 (4): 401-7.
14 Collet N, Gomes ELR, Mishima SM. Método funcional na
administração em enfermagem: relato de experiência.
Revista Bras. Enferm. 1994 Jul-Set; 47 (3): 258-64.