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Resumo
O trabalho analisa o impacto dos agrotóxicos na biologia do solo. Partindo de uma revisão de
literatura, procurou-se identificar qual é a importância da biologia do solo do ponto de vista de sua
fertilidade para, logo em seguida, identificar como os agrotóxicos agem nela. A maior parte dos
trabalhos indica que os agrotóxicos provocam pequenos impactos na biologia do solo, pois
identificava-se que a biomassa e a respiração microbiana, por exemplo, se recompunham em um
período de tempo bastante curto. Alguns trabalhos, no entanto, indicam que o consumo de
agrotóxicos tem promovido desequilíbrios na biologia do solo, levando à necessidade de aumentar a
aplicação de fungicidas para tentar conter este desequilíbrio. Isso porque alguns microorganismos
eram mais prejudicados em relação à outros, como os fixadores de nitrogênio em relação aos
patogênicos. Conclui-se que os impactos dos agrotóxicos na biologia do solo devem ser estudados a
partir da ótica da interação, pois estudos específicos, embora importantes, são insuficientes para se
fazer esta avaliação. Isto remete à necessidade de que a pesquisa seja desenvolvida a partir de um
novo paradigma, que considere as interações entre a biologia, a química e a física do solo.
1. Introdução
A biologia cumpre uma importante função na fertilidade dos solos: decomposição da
matéria orgânica e a mineralização e fixação de nutrientes. No entanto, o paradigma predominante
de nutrição de plantas, cujo precursor foi Liebig, orienta-se quase que somente pela nutrição
química, desprezando as interações com a biologia e a física do solo.
Estimulados pela chamada Revolução Verde, os agrotóxicos passaram a ser utilizados na
agricultura com o objetivo de controlar doenças, pragas e plantas indesejadas. De um lado, isto
contribuiu, juntamente com o uso de fertilizantes químicos, com a elevação da produção e da
produtividade agrícola, de outro lado, gerou diversos problemas sócio-ambientais, alguns mais e
outros menos conhecidos.
Os problemas sócio-ambientais mais conhecidos, de uma forma geral, são aqueles mais
facilmente visíveis e que se manifestam imediatamente. Em função da substituição dos agrotóxicos
de efeito agudo por aqueles de potencial bioacumulativo, os efeitos do uso destes produtos tendem a
ser menos visíveis.
O sistema plantio direto, que se caracteriza pelo não revolvimento do solo na implantação e
condução de cultivos agrícolas, tem permitido uma melhor conservação do solo e da matéria
orgânica deste, mas também a elevação do uso de agrotóxicos. O sistema passou a ser adotado no
1
Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento. Curitiba, 2008.
Brasil a partir de meados do início dos anos 70, mas foi na última década que realmente se
expandiu, passando de 1 milhão de hectares em 1990 para 17,3 milhões de hectares em 2000 e 25,5
milhões em 2005 (Febrapdp, 2008). Em 2005, a área cultivada em sistema plantio direto no mundo
era de 95,5 milhões de hectares, sendo os Estados Unidos, o Brasil e a Argentina os países que
possuem as maiores áreas neste sistema de cultivo.
Apesar do rápido crescimento da produção agrícola brasileira, pode-se afirmar que o
consumo de agrotóxicos tem se elevado ainda mais. Entre o início dos anos 90 e meados dos anos
2000 a produção de grãos aumentou 101%, enquanto isso os dispêndios com agrotóxicos
aumentaram 291% (MAPA, 2008; IBGE, 2008). O consumo de fungicidas foi o que mais se
destacou neste período, particularmente devido à expansão da área cultivada com soja. Estes dados
indicam a possibilidade de que o uso de agrotóxicos, que se elevou com o plantio direto, estar
interferindo no equilíbrio de fungos e bactérias do solo, modificando as interações descritas
anteriomente.
Para a Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (1999), “no contexto atual, o solo deixa de
ser meramente um meio de produção para também ser considerado valioso mediador dos processos
globais, desempenhando importantes serviços à natureza”. Assim, o solo passa a se tornar um
“recurso natural “não-renovável”, essencial, e que precisa ser explorado racionalmente, de modo a
preservar sua capacidade produtiva, devendo-se ainda promover a recuperação daqueles
naturalmente marginais ou espoliados por uso e manejo inadequados” (SOCIEDADE...., Prefácio,
1999).
O trabalho foi elaborado a partir de duas questões: a) Qual é a importância da biologia do
solo? b) Qual é o impacto dos agrotóxicos na biologia do solo? Procurando responder a estas
questões, o trabalho trata da dinâmica da biologia do solo, dos agrotóxicos na biologia do solo e,
por último, apresenta algumas considerações finais analisando a possibilidade de um novo
paradigma baseado no conhecimento das interações da biologia do solo.
Primavesi (1980), citando Dunger (1964) e Kevan (1965), apresenta uma lista de
organismos encontrados em 1 m2 de solo pastoril a 30 cm de profundidade que totalizam cerca de
619g, significando 0,206% do peso total do solo, indicando que mais importante que o volume de
organismos presentes no solo, é a sua taxa de renovação, onde seres como amebas, podem
apresentar 3 a 4 gerações em um só dia, indicando alta taxa de atividade biológica.
A esta enorme diversidade presente nos solos corresponde um complexo sistema de relações
estabelecidas entre os organismos, destes com as plantas e com os restos vegetais e animais que
compõe a matéria orgânica do solo, contribuindo de forma determinante na dinâmica de ciclagem e
disponibilização de nutrientes, agregação e estrutura do solo e até na proteção de plantas.
Como forma de compreender melhor estas dinâmicas, se buscará descrever, de forma
sintética, por não ser este o tema de fundo deste artigo, quais os principais grupos que compõe a
biologia do solo, as relações que estabelecem entre si, com o meio de demais organismos e quais
suas funções na dinâmica dos solos.
2.1 Estrutura e grupos que compõe a biota do solo
O estudo da pedobiologia pode ser feito através de diferentes categorias de atividades ou
presença de organismos, Berthelin et al (1994, apud Lopes Assad, 1997) sugere que é possível
realizar estes estudos de acordo com os grupos de organismos (fauna e microrganismos), pelos
ciclos de carbono (carbono, nitrogênio, fósforo, enxofre, ferro e outros), pelas funções (nitrificação,
celulolise, etc.) ou ainda pelos tipos de ambiente (florestas temperadas, tropicais, savanas, etc.).
Para a descrição neste trabalho, adotaremos o mecanismos de organização através dos
grupos de organismos. Neste sentido, pode-se organizar os organismos que vivem nos solos em dois
grandes e grupos, que depois apresentarão subdivisões ao interior de cada grande categoria.
Inicialmente observa-se um grande grupo formado pelos microrganismos, chamado de microflora,
composto por fungos (Reino Fungi) e bactérias (Reino Monera) e são os grandes responsáveis pela
decomposição da matéria orgânica e mineralização de nutrientes, porém de forma estreitamente
relacionada com a fauna do solo. (LOPES ASSAD, 1997; PRIMAVESI, 1980).
A chamada fauna do solo é composta pela comunidade de invertebrados que vive ou passa
um ou mais de ciclos no solo. Este grupo está divido em três grandes sub-grupos que por sua vez
comportam uma série de reinos e filos. O critério adotado para divisão dos sub-grupos está
relacionado com o tamanho dos seres, formando as categorias de micro, meso e macrofauna.
Existe consenso na nomeclatura estabelecida a esses grupos, porém, a forma de agrupar os
diferentes organismos varia de autor para autor. Para este artigo se adotará o critério estabelecido
por Aquino (2005), baseado no modelo proposto por Lavelle et al (1994), que adota o tamanho e
mobilidade dos seres como critério de classificação. Nesta classificação a microfauna agrupa
invertebrados com diâmetro do corpo inferior a 100 µm, incluindo protozoários (Reino Protista) e
nematóides (Reino Animalia). Os organismos que compõe a microfauna são hidrófilos (necessitam
de água livre no solo), são ligeiramente mais móveis que os microrganismos e alimentam-se destes
(Figura 1).
A mesofauna está composta pelos organismos invertebrados de tamanho médio,
compreendendo 100 µm a 2 mm, onde estão incluídos seres do filo Arthropoda tais como ácaros
(Classe Arachnida, Ordem Acarina) , colêmbolos (Classe Entognatha, Ordem Collembola),
proturos (Classe Insecta, Ordem Protura) e dipluros (Classe Insecta, Ordem Diplura), seres
higrófilos, que necessitam de umidade, ou seja de uma atmosfera do solo com presença de vapor
d’água, se movimentam pelos espaços porosos do solo, porém não são capazes de criar galerias
próprias, sendo muito afetados por processos de compactação do solo.
Figura 1:
Classificação
dos
organismos do
solo com base
no diâmetro
do corpo
Os organismos que compõe a macrofauna possuem grande mobilidade no solo, criam suas
próprias galerias, rompendo as estruturas dos horizontes minerais e orgânicos do solo, são grandes
transportadores de materiais e compreendem invertebrados de tamanho entre 2mm a 20mm. Na
macrofauna estão incluídas minhocas (Classe Oligochaeta Ordem Haplotaxida), formigas (Classe
Insecta, Ordem Hymenoptera), cupins e térmitas (Classe Insecta, Ordem Isoptera), podendo incluir
também miriápodos (Classes Chilopoda, Diplopod e, Symphyla), aracnídeos, moluscos e crustáceos
(Aquino, 2005; Lopes Assad, 1997).
Bachelier (1978) e Berthelin et al (1994), citados por Lopes Assad (1997), classificam a
fauna do solo tendo como critério o tamanho destes em escala logarítmica, sendo que nesta
classificação, ainda seria formado um quarto grupo de megafauna (acima de 80mm), composto por
répteis, batráquios e mamíferos (como tatus e ratos).
2.2 Funções e relações entre os organismos vivos do solo
O conhecimento das relações entre os organismos do solo, bem como suas funções dentro
do processo de decomposição de matéria orgânica, mineralização de nutrientes e estruturação do
solo, são de fundamental importância para o estabelecimento de formas de uso e manejo dos solos,
principalmente me atividades agrícolas e florestais.
No entanto, são recentes os estudos que avaliam o comportamento e o papel dos organismos
do solo, sendo principalmente voltados ao papel dos microrganismos (microflora), sendo que
somente nos últimos anos se passou a centrar as pesquisas na micro, meso e macrofauna. Na Tabela
2, modificada por Aquino (2005) a partir de Hendrix et al (1990), elenca algumas das influências
dos microrganismos e dos diferentes grupos da fauna do solo no funcionamento dos ecossistemas.
A principal reação estabelecida entre os organismos do solo está no nível trófico. No que e
refere a macrofauna, esta atua na fragmentação de resíduos, que facilitam a decomposição por parte
dos microrganismos, porém a principal interação ente estes dois grupos se dá pela ingestão dos
microrganismos por parte da macrofauna junto com a serrapilheira, podendo ali se estabelecerem
relações favoráveis, facilitando a digestão – uma vez que os invertebrados não possuem a
capacidade de produzir enzimas que digiram compostos como celulose e lignina – ou inibidoras,
estabelecendo um balanço que regula os processos de decomposição (CORREIA & OLIVEIRA,
2005).
Correia & Oliveira (2005) afirmam que esta relação pode se dar ao acaso, de forma
acidental, e não necessariamente ser mutualística, no entanto, Lopes Assad (1997) citando Lavelle
et al (1995), reforça o caráter de mutualismo destas relações e distingue quatro sistemas digestivos
possíveis:
a) digestão direta - ocorre, por exemplo, em espécies de térmitas que possuem celulases no tubo digestivo;
b) digestão do tipo rume externo - característica de invertebrados que não sintetizam celulase; periodicamente
reingerem seus dejetos e aproveitam-se dos compostos assimiláveis produzidos pela atividade microbiana;
c) mutualismo facultativo - observada em algumas larvas de coleópteros, em térmitas e em minhocas; no tubo
digestivo desses invertebrados, a microflora não específica, ingerida com o material do solo ou da serrapilheira,
encontra condições favoráveis e produz compostos que são assimilados por aqueles organismos;
d) simbioses entre fauna do solo e sua microflora específica - ocorre em espécies de térmitas que possuem
protozoários flagelados e bactérias, encontrados apenas no tubo digestivo desses animais, que digerem a lignocelulose.
(Lopes Assad, 1997)
Se por um lado, microrganismos faciltam o processo de digestão dos invertebrados,
permitindo que assimilem substância que seu próprio trato digestivo não permitiria, por outro seres
da macrofauna no solo possibilitam uma maior mobilidade dos microrganismos no solo, ampliando
sua dispersão.
Como forma de estabelecer uma classificação para estas relações e interações dos
organismos do solo, Lavelle (1997) citado por Correia & Oliveira (2005), identificou três
associações de invertebrados, agrupados de acordo com o recurso que exploram e a relação que
establecem com os microrganismos. São três guildas propostas: i) microteias alimentares (ou
micropredadores), ii) transformadores de serrapilheira (decompositores) e iii) engenheiros do
ecossistema. A Figura 2 explicita os mecanismos de regulação entre os diferentes grupos funcionais
em escalas de tempo e espaço.
Figura 2: Regulação das atividades microbianas pelas três associações de invertebrados do solo, em escala de
tempo e espaço.
Engenheiros do
ecossistema
Transformadores de
serrapilheira
Incremento da digestão
de compostos orgânicos
Microflora
complexos
Incremento na formação de
estruturas do solo
Figura 3: Cadeia alimentar dos decompostos, tendo como exemplo área de plantio direto
Macrofauna
Minhocas predadora
Nematóides predadores
Densidade
da
Nematóides Nematóides
bacterívoros fungívoros
Mesofauna
Protozoa saprófagos
Bactérias Fungos
Macrofauna
saprófagos
“Recurso-base”
Fonte: Siqueira & Trannin, 2003, apud Moreira e Siqueira, 2006, p.165)
3. Os agrotóxicos na biologia do solo
A partir da compreensão da presença e dinâmica dos organismos do solo, notadamente das
interações que se estabelecem entre os diferentes grupos que compõe os níveis tróficos da cadeia da
biota do solo: microrganismos, micro, meso e macrofauna; parte-se neste item para a observação
dos possíveis impactos dos agrotóxicos nesta biota do solo.
Para iniciar esta discussão buscamos estabelecer um contexto geral sobre a introdução dos
agrotóxicos na agricultura, seus benefícios e efeitos, compreendidos de uma forma mais ampla, para
então observar como se dá o efeito destes nos diferentes grupos de organismos do solo.
Como aspecto final deste tópico, faremos uma abordagem da relação entre uso dos
agrotóxicos, controle de pragas e doenças, efeitos na biota do solo e rendimentos agrícolas,
baseados numa leitura a partir da Teoria da Trofobiose, proposta por Francis Chaboussou,
estabelecendo relações que apresentam questionamentos sobre a eficácia e a necessidade do uso de
agrotóxicos na produção agrícola.
700
600
500
400
300
200
100
0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Produção 100 87,0 94,7 94,9 104,1 105,3 124,5 122,7 156,7 148,8 140,5
Área 100 88,7 91,9 90,8 97,0 99,6 98,5 105,7 116,2 126,0 127,8
Inseticidas 100 110,8 137,1 171,6 175,8 203,5 186,1 138,0 213,9 314,6 348,3
Fungicidas 100 121,7 157,0 192,2 186,1 167,6 159,7 158,8 314,3 611,5 480,0
Herbicidas 100 120,4 145,5 163,9 140,8 155,8 136,9 118,3 182,5 219,2 207,9
Agrotóxicos total 100 116,7 142,0 166,5 151,6 162,8 148,9 127,1 204,2 292,6 276,3
Gráfico 1: Evolução da área agrícola, produção de grãos e do dispêndio com agrotóxicos no Brasil (1995=100).
Fonte: MAPA (2008); IBGE (2008).
Estima-se que no mundo sejam comercializados atualmente mais de cem mil fórmulas, a
base de cerca de 1.500 princípios ativos diferentes e que de 1945 até os dias de hoje, tenha se
passado de um consumo anual de praticamente zero para cerca de 2,6 milhões de toneladas de
princípio ativo por ano (RIECHMANN, 2003, p. 151/152).
Interessante observar como, na maioria das situações, o desenvolvimento de um princípio
ativo se apresenta como solução eficaz e de baixo impacto para o ambiente e saúde humana, o que
normalmente torna-se falso com o decorrer dos anos, tal qual ocorreu com os organoclorados,
altamente difundidos nos 50 e 60, apontados como solução inequívoca para o controle de patógenos
e doenças, tendo como ícone a ampla difusão do DDT, hoje proibido mundialmente pelos seus
efeitos tóxicos à saúde humana e pela sua alta persist6encia no ambiente - solo e água (RÜEGG et
al, 1991; RIECHMANN, 2003).
Assim se apresentam os atuais agrotóxicos, dentre eles o herbicida de uso mais destacado, o
glifosato (nome comercial Round-up), apontado como herbicida de rápida degradação e baixa
toxicidade, mas para o qual já se têm observado efeitos para espécies de predadores benéficos tais
como artrópodes, coleópteros e ácaros; e detritívoras como os anelídeos e para o qual se verifica um
alto grau de acumulação em frutos e tubérculos; e para o qual, apesar de seu rápido grau de
degradação no solo, observa-se um maior acúmulo em aquíferos (RIECHMANN, 2003, p. 168 e
175).
Agrega-se a esta perspectiva, o fato de se haverem poucos estudos, principalmente àquele de
médio e longo prazo, sobre os efeitos dos agrotóxicos no ambiente e saúde humana, da falta de
técnicas que permitam a identificação de algumas formulações e, principalmente, dos metabólitos
formados a partir do processo de degradação das formulações iniciais, os quais podem ser tanto ou
mais perigosos que seus compostos originais (ZILLI et al, 2008; RIECHMANN, 2003).
Aspectos observados no âmbito da difusão planetária dos agrotóxicos apontam para os
riscos pouco avaliados dos impactos do uso deste tipo de substância, onde:
“o chamado efeito de destilação global determina que os contaminantes orgânicos
persistentes, como os compostos organoclorados e outros, se deslocam pela atmosfera
desde regiões tropicais e temperadas até as latitudes mais altas, onde se condensam e
impregnam a vegetação, o solo e a água.
Por isto se tem encontrado contaminantes como estes nas árvores e no gelo das
regiões árticas e subárticas, ou nos lagos de alta montanha, antes tidos como áreas
impolutas. (...)
(...) Na Europa, um grupo de pesquisadores suiços descobriu que grande parte da
água de chuva européia contém níveis de agrotóxicos tão elevados, que esta seria ilegal se
fosse ministrada como água potável.” (RIECHMANN, 2003, p. 165)
Figura 8: Percentagem relativa das principais ordens da comunidade de macro e mesofauna no solo (a) e na
serapilheira (b) das áreas com cultivo de algodão orgânico e convencional, no município de Tauá-CE.
Para Moreira & Siqueira (2006), os pesticidas interferem direta ou indiretamente na biota
associada. No primeiro caso, a própria biota é atingida pelo pesticida e, no segundo caso, a biota
sofre a interferência através de sua cadeia trófica. Os autores descrevem esta interferência conforme
a figura a seguir.
Figura 9: Possíveis efeitos dos pesticidas sobre os componentes bióticos do agroecossistema (Moreira e Siqueira,
2006, p. 266).
São poucos os estudos que avaliam o impacto dos xenobióticos à macrofauna, apesar de sua
importância na cadeia trófica de uma forma geral. Para Brown, “as minhocas são os principais representantes
da macrofauna e são importantes no ciclo de nutrientes, estando relacionadas à decomposição do material
vegetal, distribuição de nutrientes no solo, disponibilizando-os para a absorção pelas plantas” (BROWN et
al. 1998, apud FREITAS, 2007).
Figura 10: Atividade da biomassa em relação à transformação dos xenobióticos no solo (MOREIRA e
SIQUEIRA, 2006, p. 283).
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