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DE RESPOSTA
IMUNOLÓGICA 1
CONCEITO
Imunidade é a capacidade do organismo de reconhecer substâncias, considerá-las
estranhas e promover uma resposta contra elas, tentando eliminá-las.
A palavra imunidade origina-se do latim immunis, que se referia a indivíduos livres
de impostos, de encargos pesados, a pessoas protegidas ou beneficiadas em relação às
demais.
A grande maioria das substâncias que o organismo reconhece como “estranhas”
consiste em microrganismos ou substâncias que não são próprias dele e, portanto, a
eliminação desses agentes é um mecanismo de proteção. No caso de existirem células
anômalas, como células neoplásicas, também ocorre defesa diante do agente endógeno.
Assim, quase sempre a imunidade é benéfica ao indivíduo.
Em uma minoria de casos, o organismo passa a reconhecer
como agente “estranho” um componente endógeno próprio
do organismo ou responde de forma exacerbada contra certos Figura 1.1
agentes exógenos. Nesses casos, a defesa passa a ser prejudi- Conceito de imunidade.
cial.
Assim, imunidade não é sinônimo de defesa benéfica, em-
bora isso se dê na maioria dos casos.
A imunidade ocorre por meio do reconhecimento, da me-
tabolização, da neutralização e da eliminação de substâncias
consideradas estranhas ao organismo (Figura 1.1).
IMUNOLOGIA E IMUNOPATOLOGIA
Imunologia é o estudo da imunidade, cujo sufixo tem origem
no grego logos, que significa palavra, discurso sobre. Imuno-
patologia é o estudo das alterações da imunidade, cujo sufixo
18 capítulo 1 IMUNIDADE E TIPOS DE RESPOSTA IMUNOLÓGICA
SISTEMA IMUNOLÓGICO
O sistema imunológico é aquele responsável pela imunidade, ou seja, que determina
a defesa do indivíduo contra agentes agressores.
Anatomicamente, é constituído por dois sistemas: monocítico – macrofágico ou
fagocítico mononuclear; e linfocítico ou linfocitário – daí ser referido como sistema
linfocítico-macrofágico (Figura 1.4). Anteriormente, o sistema monocítico-macrofágico
era conhecido como sistema reticuloendotelial (SRE).
O sistema monocítico-macrofágico atua com uma constante vigília para o hospedei-
ro. Diante de agentes estranhos, principalmente microrganismos intracelulares e célu-
las neoplásicas, as células deste sistema realizam quimiotaxia, fagocitose e sintetizam
citocinas. O sistema monocítico-macrofágico tem, ainda, grande importância por pro-
Figura 1.4 mover a apresentação de antígenos ao sistema linfocítico, sendo que muitas das células
Conceito e denominação do siste-
linfocíticas só são ativadas mediante esta apresentação antigênica (Figura 1.5).
ma imunológico.
Entre as funções do sistema linfocítico, destacam-se a vigilância, uma defesa espe-
cífica mediada por mecanismos complexos e a produção de citocinas. É peculiar a
este sistema uma memória imunológica para o agente agressor, que pode perdurar
por vários anos (Figura 1.6).
IMUNOLOGIA 19
Figura 1.6
Funções do sistema linfocítico.
Figura 1.5
Funções do sistema monocítico-macrofágico.
RESPOSTA IMUNOLÓGICA
A resposta imunológica é o mecanismo pelo qual o organismo reconhece e responde
à substância que considera estranha (Figura 1.7).
As células da resposta imunológica são oriundas de células primordiais da medula
óssea, as quais dão origem à linhagem linfóide e à linhagem mielóide, ambas indepen-
dentes quanto às células a que darão procedência. Poderá haver comprometimento
nas células do tronco linfóide, sem que isso implique deficiência do tronco mielóide,
Figura 1.7
sendo também verdadeiro o inverso (Figura 1.8).
Conceito de resposta imunológica.
A célula primordial linfóide, na presença principalmente de interleucina 3 e 7 do
estroma da medula óssea, dá origem aos linfócitos. Neutrófilos, monócitos, macrófagos,
mastócitos, basófilos, eosinófilos e plaquetas são provenientes da linhagem mielóide,
na presença de IL-3, fator estimulador de crescimento de colônias de granulócitos,
monócitos/macrófagos (GM-CSF) e fator estimulador de crescimento de neutrófilos
(G-CSF), células estas de importância no desenvolvimento de uma resposta
imunológica. A maioria das células dendríticas tem origem mielóide, entre-
tanto, algumas destas células têm progenitores linfóides.
Figura 1.18
Origem da imunidade celular e humoral.
24 capítulo 1 IMUNIDADE E TIPOS DE RESPOSTA IMUNOLÓGICA
EXEMPLOS CLÍNICOS
Caso 1
Criança com oito meses de idade, do sexo feminino, apresentando coriza e tosse produtiva há um dia. Iniciou o
quadro com febre, diarréia e vômitos há seis horas. Ao exame, apresentava desidratação moderada e ausculta de
roncos pulmonares.
Evolução: Foi tentada a hidratação oral, porém, apesar dos antieméticos, continuou a apresentar vômitos. Foi
então internada para hidratação endovenosa e observação. Após seis horas da internação, foram observadas
manchas de Köplick. A criança foi isolada, e foi administrada vacina contra sarampo aos demais pacientes da
enfermaria com idade inferior a um ano ou que haviam recebido apenas a primeira dose da vacina, ou na
incerteza de vacinação prévia.
Discussão: Até 48 a 72 horas após o contato, dá-se preferência à resposta ativa atenuada, por meio da imunização
contra vírus do sarampo, por ter resultados tão ou mais rápidos do que a resposta ativa pelo vírus do sarampo in
natura. É preferível a imunização de crianças contactantes de baixa idade à observação da possibilidade de
desenvolver a doença. A imunização ativa contra sarampo feita precocemente é prejudicada pela presença da
resposta passiva por anticorpos maternos recebidos por via transplacentária. Antes de um ano de idade, anticorpos
maternos contra sarampo ainda estão presentes na criança, o que diminui a eficácia vacinal. Até há algum
tempo, a primeira dose da vacina anti-sarampo era feita em crianças com menos de um ano de vida e repetida
depois, por ser o sarampo até então endêmico. Pelo controle da doença, principalmente por intermédio da imuni-
zação ativa, houve mudança no calendário vacinal, tentando-se evitar a menor eficácia da resposta ativa à vacina
com a interferência da resposta passiva dos anticorpos maternos.
Caso 2
Paciente com 37 anos de idade, do sexo feminino, apresentando febre, dor de garganta, dificuldade de ingestão
e irritabilidade há um dia. Há duas horas começou a ter contratura em braços e pernas. Ao exame físico, apre-
sentava trismo, espasmos tônicos, generalizados e dolorosos. Foi encontrada lesão de ferimento cortante infectado.
Não sabia referir sobre vacinas.
Evolução: Foi diagnosticado tétano, que evoluiu com piora dos espasmos. Foi realizada intubação endotraqueal,
debridamento do ferimento e administração de penicilina e antitoxina tetânica.
Discussão: No caso em questão, com quadro de tétano instalado, a toxina do bacilo tetânico pode se unir à célula
nervosa, determinando o quadro clínico. Ao se administrar antitoxina, a toxina do agente irá se unir à an-
titoxina, poupando a célula nervosa.
IMUNOLOGIA 25
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