HÉRNIA DE DISCO

Uma incômoda
dor nas costas
Uma fissura no disco
que fica entre
duas vértebras pode
causar uma hérnia,
problema que,
em certos casos,
necessita de cirurgia
para ter cura.

C erca de 80% da população

mundial queixa-se, pelo
menos uma vez na vida, de
dores nas costas, embora a

maioria se recupere esponta-
neamente entre uma e quatro
semanas. No entanto, a dor
pode ser resultado de uma
hérnia de disco. Levantar
objetos pesados diariamen-
te, permanecer sentado na
mesma posição durante muito
tempo e postura incorreta são
algumas das situações que
podem custar a saúde das
suas costas.
Para compreender melhor,
veja como é a estrutura da
nossa coluna vertebral e dos
discos entre cada vértebra.
Uma coluna
em forma de S
A coluna vertebral, ou espinha
dorsal, suporta todo o esqueleto,
protege a medula espinhal (o
feixe nervoso que liga o cérebro
a todas as partes do corpo) e
forma o ponto de ligação dos
músculos das costas. Vista de
perfil, a coluna se assemelha
a um S com quatro curvaturas
naturais: para a frente, na altura
das vértebras cervicais; para
trás, na altura das dorsais; nova-
mente para a frente, ao nível das
lombares; e para trás, em direção
ao sacro e ao cóccix.
A coluna é formada por 33 vér-
tebras: 7 cervicais, 12 torácicas
ou dorsais, 5 lombares, o osso
sacro (que resulta da fusão de
cinco vértebras) e o cóccix (onde
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se reúnem as quatro últimas
vértebras rudimentares).
Entre uma vértebra e outra se
encontram os discos interver-
tebrais, em forma de anel. Eles
amortecem as pressões e faci-
litam a mobilidade da coluna.
O disco é constituído por um
núcleo central de consistência
gelatinosa (núcleo pulposo),
cercado por anéis fibrosos, e

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mantém uma certa elasticidade Às vezes, pode
durante os movimentos e cho- não haver dor
ques, funcionando como um Normalmente, as paredes dos
amortecedor. discos são retas, mas os anéis
O conjunto das vértebras e os fibrosos dos discos podem ras-
discos intervertebrais formam gar-se ou sofrer fissuras, permi-
um canal que abriga a medula tindo que o núcleo gelatinoso,
espinhal. Esta assegura a trans- naturalmente deformável, possa
missão dos impulsos nervosos sair por essas aberturas. Esses
entre o cérebro e o resto do rasgões progridem do interior
corpo, nos dois sentidos. Duas para o exterior. Ocorre a hérnia
raízes nervosas saem do canal de disco apenas quando os
raquidiano entre cada vértebra anéis fibrosos se rompem (veja
(à direita e à esquerda). A medu- a ilustração na pág. 34). Quando
la espinhal segue até a segunda o núcleo é apenas pressionado,
vértebra lombar, onde termina formando uma saliência, sem
num feixe de nervos, denomi- que haja rompimento do anel
nado cauda eqüina, ou cauda de fibroso periférico, acontece uma
cavalo, devido à sua forma. protusão do disco. Se essa sali-
Nossas 33 vértebras
Como é dividida nossa coluna vertebral.
Para amortecer os impactos
e permitir a flexão lateral
do corpo, as vértebras são
separadas pelos discos in-
tervertebrais.
❙ Curva I: para a frente, ao nível da colu-
na cervical – 7 vértebras.
❙ Curva II: para trás, na altura da coluna
dorsal, a parte mais rígida – 12 vértebras.
❙ Curva III: novamente para a frente, na
coluna lombar, a parte que sustenta todo
o peso do tronco – 5 vértebras
❙ Curva IV: para trás, em direção ao sa-
cro (5 vértebras soldadas e maciças) e ao
cóccix, um vestígio de apêndice caudal
(4 vértebras rudimentares).
ência ou a hérnia pressionarem
as raízes nervosas da medula
espinhal, poderão impedir a
irrigação sangüínea dos nervos,
provocando inflamações, dores
e formigamentos em braços ou
pernas, dependendo de sua lo-
calização na coluna. Nos casos
mais graves, algumas funções
nervosas podem ser destruídas.
No entanto, se nenhuma pressão
for exercida sobre as raízes ner-
vosas, o paciente pode não sen-
tir qualquer dor, embora tenha
desenvolvido uma hérnia.
Cerca de 95% das hérnias são
lombares, perto da cintura,
mas também existem hérnias
na região torácica e na cervical
(região do pescoço).
Homens são
os mais afetados
Uma hérnia de disco pode resul-
tar de uma súbita sobrecarga ou
trauma severo sobre as costas
(por exemplo, o levantamento
de um objeto pesado – veja mais
no quadro da pág. 35) ou de má
posição das costas, mantida
durante bastante tempo (por
exemplo, quando está sentado).
A hérnia pode ser causada tam-
bém por alguma degeneração
prévia ou desgaste do disco
intervertebral.
Existe ainda a possibilidade de
que algumas pessoas tenham
uma predisposição para o des-
gaste do disco intervertebral,
mas o universo médico man-
tém-se bastante dividido a esse
respeito. Também as caracterís-
ticas genéticas são suspeitas de
aumentar o risco de hérnia.
Entre os 25 e os 50 anos, as
pessoas correm mais risco de
sofrer de uma hérnia. Depois
dos cinqüenta, o disco interver-
tebral começa a desgastar-se e
o núcleo gelatinoso endurece,
dificultando assim a saída da
HÉRNIA DE DISCO
sua cavidade.
A hérnia ataca duas a três ve-
zes mais os homens do que as
mulheres.
Ciática pode ser
sinal de hérnia
A existência de uma hérnia de
disco pode ser denunciada pela
presença de muitos sintomas.
No entanto, estes podem resul-
tar também de outros problemas
de saúde. Por isso, é importante
consultar o médico se sentir do-
res constantes ou outros sinto-
mas. Veja alguns que podem ser
indicativos de uma hérnia:
Lumbago – Trata-se de uma dor
aguda muito forte no fundo das
costas, que surge depois de um
esforço súbito. Essa pontada é
também conhecida como “dor
nos rins” e desaparece normal-
mente ao fim de alguns dias,
mas pode durar até seis sema-
nas. Uma dor lombar subaguda
(mais prolongada) prolonga-se
por seis a doze semanas. Se du-
rar mais tempo, trata-se de do-
res lombares crônicas. Em mais
de 90% dos casos, esta dor não
tem qualquer origem particular
e desaparece por si própria, ao
fim de um certo tempo.
Ciática – Existem 31 pares de
raízes nervosas que saem da
coluna e se distribuem para
todo o corpo. O maior nervo do
corpo, o ciático, é formado por
cinco dessas raízes, que des-
cem ao longo da perna. Quan-
do uma delas é comprimida
pela hérnia, ocorre dor ciática
e outros sintomas.
A dor na perna é irradiante e
pode afetar o quadril ou descer
até à barriga da perna ou o pé.
Normalmente, essa dor é pro-
vocada por uma hérnia, mas a
pressão pode também resultar,
por exemplo, de uma infecção,
de uma lesão ou de um tumor.
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Se, com o tempo, a dor se tornar
mais forte na perna do que nas
costas, é provável que se trate
de uma hérnia. Estima-se que
95% das pessoas que têm uma
hérnia de disco lombar sofrem
de ciática.
Dores durante ações repenti-
nas – A dor nas costas quando
se tosse, espirra ou efetua um
esforço repentino é uma grande
indicação de uma possível hér-
nia. Essa dor súbita é resultado
de uma pressão acrescida sobre
a raiz do nervo.
Perturbações sensoriais ou
motoras – A pressão exercida
pela hérnia de disco sobre as
raízes nervosas pode perturbar
a transmissão de alguns estí-
mulos sensoriais ou dos influxos
motores do cérebro para as per-
nas, que permitem a realização
de movimento. O paciente pode
sentir, nessas circunstâncias,
formigamento ou coceira na
perna, podendo até deixar de
sentir algumas zonas específi-
cas. A perturbação dos influxos
pode também provocar cãibras
ou fraqueza muscular na perna.
Nos casos mais graves, a pres-
são impede o funcionamento do
nervo, o que paralisa parcial ou
totalmente a perna.
Síndrome da cauda eqüina
– Esta grave afecção neurológica
deriva da compressão dos nervos
da “cauda de cavalo” entre duas
vértebras lombares, devido,
por exemplo, a uma hérnia.
Felizmente, este é um problema
pouco freqüente. Os sintomas
possíveis são: dores no fundo
das costas, ciática, perturba-
ções motoras nas pernas ou nos
pés, perda de sensibilidade da
bexiga ou do reto, incontinência
urinária noturna ou distúrbios
sexuais. Pode mesmo ocorrer
uma paralisia das pernas ou
incontinência permanente.
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Dores nos membros supe- rios. Geralmente, realiza-se todos mais comuns e precisos,
riores – Enquanto uma hérnia uma tomografia computado- mas também os mais caros.
lombar provoca dores em uma rizada ou uma ressonância Tanto a tomografia computa-
ou em ambas as pernas, uma magnética. Radiografias per- dorizada como a ressonância
hérnia cervical pode ser acom- mitem apenas excluir outras magnética são desaconselhá-
panhada por uma dor irradian- causas (fraturas, infecções, veis para as grávidas. A pri-
te, formigamento ou coceira câncer etc.). Apenas hérnias meira, por comportar grande
e, eventualmente, por perda antigas, se estiverem calcifi- quantidade de raios X; e a
de sensibilidade no ombro, no cadas, podem ser visíveis ao segunda, pela potência dos
braço ou no antebraço, e tam- raio X. Os exames de resso- campos magnéticos, o que
bém freqüentemente nas mãos nância magnética são os mé- pode ter efeitos adversos so-
e nos dedos. Também podem
ocorrer dores ao se mexer a
cabeça e os braços, porque os
músculos podem ficar debili- Como surge a hérnia
tados. Tal como acontece na
hérnia de disco lombar, a dor Disco invertebral
aumenta sempre que se tosse,
espirra ou há um movimento
Núcleo pulposo
de grande esforço.
Anéis fibrosos periféricos
Exame físico já Raiz nervosa
permite diagnóstico Medula espinhal
Se você reconheceu algum
dos sintomas de uma hérnia
de disco, consulte um médi-
co, especialmente se estiver
Uma vértebra normal: o núcleo é
perdendo algumas das suas
protegido pelos anéis.
capacidades (por exemplo, em
caso de incontinência). Geral-
mente, após algumas pergun-
tas e um simples exame físico, Protusão do disco: os
o médico já poderá levantar anéis sofrem fissuras e
como hipótese a presença de permitem que o núcleo,
uma hérnia de disco. Alguns pressionado, forme uma
procedimentos simples pode- saliência.
rão ser úteis – por exemplo,
com o paciente deitado sobre
as costas, o médico tenta le-
vantar a perna afetada, sem
flexionar o joelho. Se as do-
res impedirem esse procedi-
mento, é mais uma indicação A hérnia: os anéis se
de hérnia. O médico também rompem e o núcleo se
pode recorrer a outro méto- expande. Chegando à
do, a eletroneuromiografia, raiz nervosa da medula,
um exame que permite medir provoca dor.
a atividade elétrica dos mús-
culos e o estado de condução
dos estímulos nervosos.
Se persistir a dúvida, outros
exames poderão ser necessá-

bre o feto. Já os portadores
de um marca-passo ou de pró-
teses metálicas também não
deverão recorrer a esse méto-
do, igualmente por causa da
ação do campo magnético.
Normalmente,
cura é espontânea
Geralmente, a hérnia é um pro-
blema que se resolve esponta-
neamente com um tratamento
que elimina os sintomas, sem
ser necessário recorrer a uma
operação. Antigamente reco-
mendava-se o repouso abso-
luto, na cama, durante várias
semanas. De fato, nesta posi-
ção alongada, a pressão sobre
o disco intervertebral diminui
e o paciente sofre menos. No
entanto, longos períodos de
cama podem enfraquecer os
músculos, dificultando o retor-
no às atividades normais.
Atualmente, aconselha-se cada
vez mais o prosseguimento
normal das atividades diárias,
com repouso freqüente e evi-
tando movimentos dolorosos.
Dessa maneira, em 80% dos
casos, as dores desaparecem
em quatro a seis semanas. Se
necessário, o paciente pode
tomar analgésicos receitados
pelo médico. Medicamentos
capazes de levar a um relaxa-
mento muscular são também
por vezes prescritos, mas a sua
eficácia é questionada por al-
guns especialistas.
Pode-se também reduzir a dor
com uma injeção epidural de
corticosteróides (cortisona).
Esse é um modo de aliviar as
dores de forma quase imediata,
mas não conduz a uma melho-
ria significativa a longo prazo.
Sessões de fisioterapia, de gi-
nástica de reabilitação, de hi-
droginástica ou de terapia de
manipulação da coluna verte-
bral ou das articulações (assim
como a quiropraxia – manipula-
ção que se aplica nas termina-
ções nervosas, nas regiões aco-
metidas nas áreas de contração
muscular) são, por vezes, acon-
selhadas e podem ser bastante
úteis. No entanto, é preciso ser
prudente: manipulações mal-
feitas poderão deixar a coluna
pior do que já está.
Casos especiais
exigem cirurgia
Como os sintomas de uma hér-
nia de disco se resolvem ge-
ralmente sozinhos, ao fim de
algumas semanas, os médicos
não recorrem imediatamente
a uma operação. Há, contudo,
exceções. Uma operação é ab-
solutamente necessária quan-
do se registrar a síndrome da
cauda eqüina ou se houver
sérias perdas de capacidade,
como a paralisia (completa ou
parcial) de uma das pernas ou
incontinência.
Há vários tipos de operações
para a hérnia de disco. Algu-
mas consistem em retirar ou
dissolver o núcleo pulposo.
Outras, em substituir o disco
intervertebral deteriorado por
uma prótese. No Brasil, nos
últimos anos, há uma técnica
cirúrgica baseada na videoen-
doscopia, que vem se expan-
dindo. O método escolhido
depende da gravidade e do
posicionamento da hérnia, da
existência evidente de proble-
mas neurológicos em progres-
são e até da experiência do ci-
rurgião. Embora o tratamento
cirúrgico das hérnias do disco
esteja disponível no SUS, não
é facilmente acessível.
Em geral, os planos de saúde
permitem as cirurgias, mas
quem optar pelo tratamento
particular pode ter um gasto
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que varia de 2,5 mil a 10 mil internação hospitalar de cerca
reais – dependendo do cirur- de três dias, em média.
gião, do hospital e da cidade Na presença de uma simples
na qual o procedimento é rea- saliência, ou seja, quando o
lizado. O tratamento requer o anel fibroso exterior do disco
trabalho de pelo menos dois intervertebral não está ras-
cirurgiões e um anestesista e gado, uma operação quase
é necessário um período de nunca é realizada.
Mantenha a postura
O risco de vir a sofrer de uma hérnia nunca pode ser completamente
excluído. No entanto, é possível evitar ou atenuar numerosas dores
nas costas adotando uma boa postura, quando estiver sentado, de pé
ou deitado. Isso significa respeitar, sempre que possível, a curvatura
natural da sua coluna vertebral.
O primeiro passo é escolher um
colchão de densidade adequada
a seu peso, se for de espuma, ou
✓
que não seja nem muito duro,
nem muito mole (leia mais na
PRO TESTE no 44, fev/06). Para
dormir, deite-se de lado, com
os joelhos flexionados. Coloque
o travesseiro entre a cabeça e
os ombros a fim de sustentar
a nuca. Se já tiver uma hérnia,
deite-se de costas, eventualmen-
te com uma almofada grande
sob a barriga das pernas, de
maneira a que estas formem
um ângulo de cerca de 90º (para
reduzir a pressão sobre a raiz Ao erguer um objeto pesado do chão,
o correto é flexionar as pernas (figura
do nervo). acima) e não curvar as costas.
Não permaneça sentado ou de
pé por muito tempo, na mesma
posição. Mude regularmente de
posição e desentorpeça as per-
✗
nas de tempos em tempos.
Tenha cuidado ao erguer ob-
jetos, evitando forçar a coluna
(veja a maneira correta nas
fotos ao lado).
É também importante manter
uma boa condição física, já
que, quanto mais os músculos,
principalmente os das costas, es-
tiverem desenvolvidos, menos a
coluna vertebral será forçada.
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