O tipo de alimentação conhecido por dieta do paleolítico é o que se julga ter
sido a alimentação dos humanos que viveram entre 40 000 e 10 000 anos antes de nós.
Há 10 000 anos a civilização humana começou a utilizar o fogo. Este facto veio modificar radicalmente a alimentação humana pois permitiu começar a cozinhar os alimentos.
A dieta do paleolítico é pois o regime alimentar usado pelos humanos antes de
terem a possibilidade de cozinhar os alimentos e antes de terem iniciado as actividades de produção agrícola.
Nessa época os humanos eram caçadores recolectores.
Que alimentos comiam esses nossos antepassados?
Comiam toda a carne de caça que conseguiam, insectos, ovos, algumas
raízes, abundante quantidade de folhas, frutos, bagas e sementes oleaginosas. Em algumas regiões dos grandes lagos e da orla costeira de África, comiam ainda peixe, marisco e bivalves.
Sob o ponto de vista nutricional a dieta do paleolítico tem as seguintes
características:
• É muito rica em fibras (algumas raízes, abundante quantidade de folhas,
frutos, bagas e sementes); • É muito rica em proteínas (carne de caça, insectos, ovos, peixe, marisco e bivalves); • Tem grande quantidade de óleos polinsaturados essenciais ómega 3 (peixe, marisco e bivalves); • É muito rica em vitaminas, minerais e antioxidantes (abundante quantidade de folhas, frutos, bagas); • Tem pequena quantidade de gordura saturada (a carne de caça é pobre em gordura saturada e tem alguns óleos ómega 3); • Não tem hidratos de carbono de alto ou médio índice glicémico; • Não tem lácteos nem derivados.
Em resumo podemos dizer que a dieta do paleolítico era rica em proteínas,
moderada em gordura, baixa a moderada em carbo-hidratos, rica em fibras, com baixo conteúdo em sal e muito rica em vitaminas minerais e antioxidantes.
A dieta do paleolítico e as enzimas digestivas
Sabemos que as enzimas digestivas necessárias para digerirmos bem e
assimilarmos convenientemente um novo alimento, quer dizer, para sermos capazes de aceitarmos e integrarmos no nosso organismo os constituintes de um novo alimento, podem demorar ente 5 000 a 10 000 anos a serem criadas em resposta ao repetido contacto com esse novo alimento. Significa isto que actualmente as enzimas digestivas de que dispomos não serão muito diferentes das que os nossos antepassados tinham há 10 000 anos.
O conjunto de alimentos que constituiu o regime alimentar humano ao longo
destes 10 000 anos foi sendo gradualmente modificado. No entanto, foi durante os últimos 100 anos que houve uma alteração muito marcada do regime alimentar. Nas últimas décadas assistimos à introdução de milhares de novas moléculas no regime alimentar das sociedades industriais desenvolvidas. Para além da transformação industrial dos alimentos levar à criação de inúmeras novas moléculas no alimento transformado, a adição de corantes, conservantes, aditivos alimentares e organismos geneticamente modificados multiplica de uma forma quase incalculável a quantidade de novas substâncias que ingerimos e para as quais não temos enzimas capazes de poderem metabolizá-las.
Os defensores da dieta do paleolítico referem que esta falta de enzimas,
capazes de lidar com todas estas novas substâncias que inundam os alimentos actuai, são uma das causa de doenças crónicas dependentes dos alimentos e ressaltam a vantagem de manter um regime alimentar para o qual nos fomos preparando durante muitos milhares de anos, justamente a dieta que permitiu aos nossos antepassados evoluírem e desenvolverem o seu potencial cognitivo.
A dieta do paleolítico e o desenvolvimento cognitivo
Contrariamente a outros, os habitantes da região africana dos grandes lagos,
zona de onde se acredita ter emergido o Homo sapiens, podiam dispor para se alimentarem de abundante quantidade de bivalves e marisco, alimentos muito ricos em ácidos gordos polinsaturados ómega 3. Segundo alguns autores, foi exactamente a ingestão destas generosas quantidades de ácidos gordos polinsaturados ómega 3 que permitiu a estes nossos antepassados do paleolítico desenvolverem o seu cérebro e as suas capacidades cognitivas de uma forma jamais conseguida por nenhum outro ser vivo. O cérebro humano é um órgão com grande percentagem de gordura constituída essencialmente por ácidos gordos polinsaturados ómega 3, com especial relevância para o DHA. Na falta destes nutrientes essenciais as células do cérebro não podem desempenhar as suas funções e é frequente surgirem dificuldades de memória e de concentração, perturbações de sono, e o aumento de manifestação de sinais de ansiedade, irritabilidade e depressão.
A dieta do paleolítico evita o perigo das lectinas dos cereais
Nessa época muito distante a espécie humana aprendeu que muitos
tubérculos, grãos de cereais e leguminosas não podiam ser comidos, pois causavam avultados danos no organismo. Eram simplesmente tóxicos.
Com a possibilidade de cozer os alimentos verificou-se que tubérculos e grãos,
que eram tóxicos se comidos crus, passavam a ser melhor tolerados quando cozinhados. Cereais e tubérculos vieram então a integrar a alimentação humana e foram tanto mais utilizados quanto a agricultura se desenvolveu e permitiu a sua produção em maior escala.
Hoje sabemos que os grãos de cereais e alguns tubérculos têm na sua
superfície lectinas, substâncias químicas que servem para defender esses grãos do ataque de microrganismos - bactérias, vírus, fungos e parasitas - e que são tóxicas para o nosso organismo, embora possam diminuir a sua toxicidade quando os alimentos são submetidos a cozedura.
As lectinas são, pois, substâncias bioquimicamente muito activas. Trabalhos
publicados na última década demonstraram que conseguem manter a sua actividade mesmo depois dos alimentos serem cozinhados. As lectinas ingeridas com os cereais, as leguminosas e alguns tubérculos estão, recentemente, a ser associadas ao desencadear e manutenção, no organismo humano, de alergias, inflamação e hiperpermeabilidade intestinal bem como a algumas doenças autoimunes.
Estes conhecimentos permitem compreender os sucessos que são atribuídos à
dieta do paleolítico no equilíbrio e tratamento de doenças alérgicas e autoimunes ou doenças que envolvem processos inflamatórios crónicos.
Que alimentos compõem a actual Dieta do Paleolítico?
Os alimentos constituintes desta dieta definem-se melhor por exclusão.
Na Dieta do Paleolítico não podem entrar:
• Açúcar ou quaisquer alimentos adoçados;
• Leite e todos os alimentos lácteos; • Cereais e todos os alimentos produzidos com cereais; • Batata ou batata doce; • Leguminosas, incluindo, feijão, soja e lentilhas.
A Dieta do Paleolítico será então constituída por:
• Carne e peixe o menos processada possível. É habitual o recurso a
estes alimentos crus ou fumados; • Ovos, marisco e bivalves; • Sementes de oleaginosas; • Legumes folhosos e frutos em abundância. São preferidos os frutos silvestres e os morangos, sendo evitados os frutos que foram sofrendo muitas alterações de melhoria de produção e têm maior valor calórico; • Muito raramente pode ser usado algum mel.
No Paleolítico o homem era essencialmente colector e caçador. Por isso tinha
uma alimentação à base de frutos frescos e secos, raízes, alguns vegetais, carne selvagem e peixe. O açúcar que comia era o da fruta mas, em dias de sorte, quando era descoberta uma colmeia, tinha direito a mel... A dieta do Paleolítico foi referida pela primeira vez pelo gastroenterologista Walter Voegtlin, no seu livro "The Stone Age Diet", publicado na Vantage Press em 1975. Voegtlin defende nesse livro que o homem é um animal carnívoro geneticamente adaptado à dieta dos seus ancestrais que viveram há 10.000 anos. A observação da anatomia do tubo digestivo humano, incluindo o formato e o tipo de dentes, o tipo de estômago, o comprimento do intestino e o apêndice vestigial, levou-o à teoria de que a dieta ideal para a saúde e o bem- estar dos seres humanos deve ser semelhante à dos seus antepassados paleolíticos.
O interesse da comunidade científica pela alimentação pré-histórica tem vindo
a crescer. Um estudo realizado recentemente na Universidade de Lund, na Suécia, mostrou que se tratava do tipo de alimentação ideal para controlar a diabetes tipo 2. Staffan Lindeberg, o médico responsável por essa investigação, tem procurado compreender os efeitos que os regimes alimentares têm na saúde humana. Algumas populações, como os habitantes das ilhas de Kitava e Trobriand, na Papua Nova-Guiné, onde não existe comida de origem agrícola, "apresentam uma notável ausência de problemas cardiovasculares ou diabetes". A explicação é simples: a agricultura tornou acessíveis os produtos que hoje nos fornecem a maior parte das calorias, como os cereais, lacticínios, gorduras, açúcares simples, etc.
Na verdade, o aparecimento da agricultura foi o primeiro acontecimento
histórico a contribuir para o aumento da obesidade. Com uma fonte de alimentação estável e regular, o homem passou de nómada a sedentário, condição que ainda hoje mantém. Passou a produzir tudo o que queria, que é bem diferente daquilo que precisa. Começou a consumir alimentos mais refinados e ricos em açúcares simples que fazem aumentar rapidamente o nível de glicose no sangue. Como resposta a este aumento o pâncreas descarrega insulina. Os níveis de açúcar baixam e o cérebro interpreta esse sinal como um pedido de socorro. Surge então a sensação de fome, dando origem a um novo ciclo. Com sucessivas situações deste género, a obesidade e a diabetes vão avançando, só sendo possível intervir nestes altos e baixos glicémicos com uma resposta insulínica moderada. Para isso necessitamos de ingerir alimentos mais complexos, em vez dos refinados, mais vezes ao dia e em menor quantidade de cada vez, tal como faziam os nossos antepassados na Idade da Pedra. Isto é, precisamos na alimentação de um regresso ao passado.