A taxa de produtividade da agricultura tem aumentado na última metade do séc. XX a fim de atender a demanda crescente de alimentos. Esse impulso na produção de alimentos deve-se, principalmente, a avanços científicos e inovações tecnológicas como o desenvolvimento de novas variedades de plantas, utilização de fertilizantes e agrotóxicos, o avanço no manejo e irrigação de plantações.
Contudo o sistema de produção global de alimentos está minando a
própria fundação sobre a qual foi construído pois a retiram excessivamente e degradam o solo, reservas de água e a diversidade genética natural pelo predomínio de monoculturas; tornando assim a agricultura moderna insustentável, pois sua produção sem os devidos cuidados deteriora as condições que tornam possível tal produtividade.
Práticas da agricultura convencional
A agricultura convencional visa maximização da produção e o lucro.
Procurando atingir essas metas desenvolveu-se um rol de práticas sem cuidar de suas conseqüências não intencionais, de longo prazo, e sem considerar a dinâmica ecológica dos agroecossistemas. Seis práticas básicas formam a espinha dorsal da agricultura moderna:
1 – Cultivo Intensivo do Solo – Baseia-se na prática de cultivar o solo
completa, profunda e regularmente; esse cultivo intensivo do solo tende a degradar a qualidade do solo de diversas maneiras. A matéria orgânica é reduzida devido à falta de cobertura e o solo é compactado devido o transito repetitivo das máquinas. A perda de matéria orgânica pelo cultivo intensivo reduz a fertilidade do solo e degrada sua estrutura, o cultivo intensivo também aumenta as taxas de erosão do solo por água e vento.
2 – Monocultura – Método de produção que vem crescendo entre os
agricultores nas últimas décadas, baseia-se na plantação de apenas um tipo de cultura em uma área extensa. A monocultura permite um uso mais eficiente da maquinaria agrícola para preparo do solo sendo economicamente favorável. A monocultura tende a favorecer o cultivo intensivo do solo, a aplicação de fertilizantes inorgânicos, a irrigação, o controle químico de pragas e as variedades especializadas das plantas. Devido a este último fator é importante ressaltar, que devido a baixa variabilidade genética nestes cultivos, estas plantações são mais suscetíveis a ataques devastadores de pragas específicas requerendo uma maior utilização de agrotóxicos como uma proteção química.
3 – Aplicações de Fertilizantes Sintéticos – Estes são produzidos em
grandes quantidades, a um custo relativamente baixo, a partir de combustíveis fósseis e da extração de depósitos minerais. Fornecem amplas quantidades dos nutrientes mais essenciais às plantas, permitindo assim que o agricultor ignore a fertilidade do solo a longo prazo, bem como os processos pelos quais ela é mantida. No entanto os componentes minerais dos adubos sintéticos são facilmente lixiviados do solo, e em sistemas irrigados esses fertilizantes podem terminar em córregos, rios e lagos causando eutrofização destes; também podem ser lixiviados para a água subterrânea que quando ingerida pode causar significativos danos a saúde.
4 – Irrigação – O fornecimento adequado de água é um fator limitante
para a produção de alimentos, assim ter reservas de água tem sido chave para aumentar o rendimento e a quantidade de terra que pode ser cultivada. A agricultura é um usuário pródigo de água tendo um efeito significativo na hidrografia do local, sendo a água local consumida mais rapidamente que renovada pelas chuvas; esse gasto excessivo pode causar um rebaixamento da terra e quando próximo a costa levar a intrusão de água salgada. A irrigação também aumenta a possibilidade de lixiviação de fertilizantes das lavouras para córregos e rios podendo aumentar acentuadamente a taxa de erosão do solo.
5 – Controle Químico de Pragas e de Ervas Adventícias – Agrotóxicos
podem baixar drasticamente a população de pragas a curto prazo, porém matam também os predadores naturais dessas pragas o que pode agravar o problema caso a infestação se repita, forçando o agricultor a utilizar mais agentes químicos. Isso leva a uma dependência de agrotóxicos titulada de “a rotina dos agrotóxicos” que leva a uma intensa seleção natural de pragas resistentes aos agrotóxicos. Outro ponto negativo é que agrotóxicos aplicados a lavouras são facilmente lixiviados para a água superficial e subterrânea, onde entram na cadeia alimentar afetando populações animais em todos os níveis tróficos, podendo persistir por décadas.
6 – Manipulações de Genomas de Plantas – Avanços na técnica de
cruzamento permitiram a produção de sementes hibridas, que combinam características de duas ou mais linhagens de plantas; gerando plantas co maior aporte produtivo. Contudo variedades híbridas requerem ótimas condições para atingir seu potencial produtivo, necessitando assim de maior número de aplicações de agrotóxico devido apresentarem menor resistência a pragas quando comparadas a suas parentes não hibridas. Além disso, as plantas híbridas não são capazes de gerar sementes com o mesmo genoma que seus pais, torando os agricultores que a utilizam dependentes de produtores comerciais. Além de plantas híbridas avanços na engenharia genética permitiram também a criação de plantas transgênicas, nas quais inserem em seus DNA genes oriundos de outros organismos, garantindo a esta planta características anteriormente inexistentes. A uniformidade genética crescente deixa a cultura como um todo mais vulnerável não somente a pragas, mas também a mudanças no clima e a outros fatores ambientais. Por que a agricultura convencional não é sustentável
Os recursos agrícolas, como solo, água e diversidade genética, são
explorados demais sendo então degradados e os processos ecológicos globais para a renovação do meio são alterados. Isto justifica a estagnação na produção agrícola per capita a partir dos anos 90, sendo o resultado de aumentos menores de produtividade anual, combinados com um crescimento populacional em escala logarítmica.
Índice de produção agrícola líquida anual per capita, em nível mundial (Fonte:Gliessman, 2001).
1 - Degradação do Solo
A degradação do solo pode envolver salinização, alagamento,
compactação, contaminação por agrotóxicos, diminuição na qualidade da sua estrutura, perda da fertilidade e erosão, sendo a erosão o processo mais difundido. O preparo intensivo do solo, combinado com monocultivo e rotações de curtos períodos deixam o solo exposto aos efeitos erosivos do vento e da chuva; o solo perdido nesse processo é rico em matéria orgânica. De forma parecida a irrigação também é uma causa direta de erosão do solo agrícola pela água.
A erosão, combinada a outras formas de degradação, torna grande parte
do solo agrícola mundial cada vez menos fértil. A terra que ainda pode ser utilizada é mantida fértil por meios artificiais de manejo, adicionando-se fertilizantes sintéticos, que repõem apenas temporariamente os nutrientes perdidos, ou seja, não podem reconstruir a fertilidade nem restaurar a saúde do solo além de causarem sérios problemas, como a eutrofização, quando lixiviados. Sendo o estoque de nutrientes do solo agrícola finito e como os processos naturais não conseguem renová-lo ou restaurá-lo na rapidez em que é degradado, a agricultura moderna não é sustentável.
2 - Desperdício e Uso Exagerado de Água
A agricultura é responsável por aproximadamente dois terços do uso
global de água, sendo também uma das principais causas de escassez de água em algumas regiões. Porém mais da metade da água destinada as plantações não é absorvida pelas plantas, o restante evapora ou é drenada para fora da área. Grande parte dessa água poderia ser economizada se não visassem apenas a maximização da produção.Por exemplo, utilizando o sistema de gotejamento para a irrigação e plantações que necessitassem de um maior aporte de água fossem deslocadas de regiões com recurso hídrico limitado.
Continuando a usar a água desta maneira, sem preocupar com sua
renovação as crises regionais pela escassez de água serão cada vez mais comuns.
3 - Poluição do Ambiente
A agricultura polui principalmente a água, através do uso de agrotóxicos
(inclusive herbicidas), fertilizantes e sais. Os agrotóxicos, como já mencionado anteriormente, podem ir parar em córregos por meio da lixiviação e conseqüentemente serão levados para rios, lagos, até chegarem aos oceanos contaminando outros organismos podendo até afetar a capacidade reprodutiva de algumas espécies
O fertilizante lixiviado das plantações apresentam menor toxicidade,
porém seus efeitos são tão danosos ao ambiente quanto o agrotóxico; causam a eutrofização e a morte de muitos organismos.
Os sais contribuem para a destruição de criadouros de peixes e tornam
impróprios os banhados utilizados por aves. Conclusão
As práticas da agricultura convencional estão degradando o meio
ambiente, reduzindo bruscamente a biodiversidade, perturbando o equilíbrio natural dos ecossistemas e comprometendo a base de recursos naturais necessários ao ser humano e a agricultura.
Agricultura Sustentável (Agroecologia)
A preservação da produtividade da terra agrícola requer a produção
sustentável de alimentos. A sustentabilidade é alcançada através de práticas alternativas, baseadas nos processos ecológicos que ocorrem nas áreas produtivas visando não comprometer a capacidade do ecossistema de renovar- se e ser renovado.
A agroecologia visa à aplicação de conceitos e princípios ecológicos no
desenho e manejo de agroecossistemas sustentáveis. Proporciona o conhecimento e a metodologia necessários para desenvolver a agricultura sustentável, reduzindo assim os insumos externos comprados, diminuindo o impacto de tais insumos quando utilizados e estabelecendo uma base para esboçar sistemas que ajudem os produtores a sustentar seus cultivos e suas comunidades produtoras.