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TUTELA ANTECIPADA DO PEDIDO INCONTROVERSO?


Uma Cisão do Julgamento de Mérito
(Vanessa Rocha Ferreira – Belém/PA)

INTRODUÇÃO

Hoje um dos maiores problemas que assolam o Poder Judiciário e a


efetividade do processo para a obtenção da justiça é o problema da morosidade
processual, onde o réu tem o fator tempo como um grande aliado. O que se
observa no sistema processual brasileiro é a falta de instrumentos hábeis a
realizar as pretensões do direito material do autor.
Veremos a em seguida que com base na instrumentalidade do processo e no
princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV da CF), buscou-se
mecanismos para a realização de um provimento mais justo e igualitário, onde o
ônus do tempo, que outrora era suportado somente pelo autor1, foi dividido entre
os litigantes.
Buscou-se como forma de solução ao problema uma tutela jurídica diferenciada,
dotada de dois mecanismos: 1) Procedimentos específicos2 de cognição plena e
exauriente (cada qual elaborado em função da especificidade da relação material);
2) Tutelas sumárias típicas, precedidas de cognição não exauriente, onde se
destacam os mecanismos de sumarização da cognição para a prestação de tutela,
caso este em que a tutela antecipada poderá ser concedida desde que estejam
presentes os requisitos exigidos em lei.
É a respeito dessa tutela que, por ora, nos interessa falar, já que ela pode ser vista
como uma tentativa de produção antecipada de alguns dos efeitos práticos
pleiteados na exordial3 antes da decisão que põe fim ao processo, em primeira
instância.
O ponto a ser discutido neste trabalho refere-se aos casos de
concessão de tutela quando se tratar de pedido incontroverso4, pois nesse caso
entendemos que há uma falha no atual sistema processual por ainda não ter
conseguido romper com alguns dogmas, i.e., o dogma da unicidade e unidade do
julgamento, como veremos detalhadamente mais adiante.
O que buscamos é uma solução a esse entrave, tendo em vista que
um sistema eficaz, que visa solucionar um problema gravíssimo da efetividade do
processo, que é a concessão de tutela antecipada, encontra limites legais que
impedem a sua plena realização. Por isso adentraremos na discussão acerca da
natureza jurídica da decisão que concede a Tutela Antecipada em decorrência do

1
O autor além de suportar o mal que lhe é feito geralmente pela privação de um direito tinha que suportar o
ônus da demora de forma integral.
2
Temos como exemplo alguns tipos de ação no Livro IV do Código de Processo Civil, bem como a Ação
Popular, a Ação Civil Pública etc.
3
É bom não olvidarmos que existe a possibilidade de aditamento do pedido antes mesmo da citação,
conforme os art. 294 c/c art.321, do CPC.
4
Art. 273, §6º do Código de Processo Civil: “A tutela antecipada também poderá ser concedida quando um
ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela dele, mostrar-se incontroverso”.
9

pedido incontroverso, bem como se tal decisão tem caráter provisório ou definitivo,
ou seja, se ela pode ou não ser revogada ao longo do processo.
Ao final, proporemos a cisão do julgamento com a possibilidade da
existência de uma sentença intermediária, quebrando o dogma da Unicidade do
Julgamento e mudando o entendimento de que a sentença é apenas o provimento
judicial que põem fim ao processo em primeiro grau, resolvendo as questões do
267 e do 269 do CPC; e passando a entender que sentença é o provimento que
põem fim a qualquer discussão controversa no processo.
Se essa sentença for concedida ao longo do processo normalmente,
após a instrução ou dilação probatória, ou no caso de julgamento antecipado da
lide, ela continua a ser o ato que põe fim aos pontos controvertidos no processo,
sendo o ato do juiz que implica em algumas situações do 267 e do 269 do CPC,
devendo acolher ou rejeitar o pedido formulado pelo autor, tendo a função de
pacificação dos interesses antagônicos ou controvertidos; se ela for concedida no
caso de pedido incontroverso, a decisão que a conceder será denominada de
sentença interlocutória (ou intermediária), com a produção de todos os efeitos de
uma sentença final, nos termos dos art. 162; 459; 472, e outros artigos do Código
de Processo Civil. Essa sentença é de mérito específico.
Essa cisão do julgamento de mérito, se fosse admitida por nosso
ordenamento jurídico, passaria a permitir, como veremos no decorrer deste
trabalho, que se atendam as necessidades do autor de plano, através da chamada
execução definitiva, o que daria uma maior efetividade e celeridade ao processo.

CAPÍTULO 1 Perspectivas
- Metodológicas:
Instrumentalidade do Processo e Acesso à Justiça

1.1. Instrumentalidade e Efetividade do Direito (Eficiência


do Provimento Jurisdicional):

Falar em instrumentalidade do processo é falar em formas da


legislação processual atinentes à realização do direito material das partes,
mediante a eliminação dos conflitos que as envolvem. Esse instituto mostra que
existem leis, normas processuais pré-existentes, destinadas a assegurar e realizar
todas as relações jurídicas do direito material. Ele mantém uma preocupação com
a lógica do procedimento e a sua celeridade, tornando a busca pelos direitos mais
justa, pública e acessível.
Todo processo busca produzir direitos efetivos às partes e é, por
definição, instrumental com relação a uma situação do direito material, e é esta a
sua razão de existir, já que busca não só aplicar, mas também proteger
efetivamente o direito substancial, servindo de meio para a sua correta e concreta
realização.
Antes de adentrarmos nessa discussão, faz-se necessário fazermos
um breve apanhado histórico sobre a evolução do direito processual como ciência,
para que possamos entender melhor a idéia de instrumentalidade que temos no
contexto atual.
10

A evolução do Direito Processual foi marcada basicamente por três


fases: a imanentista, a autonomista e a instrumentalista. Vejamos brevemente no
que consistiu cada uma dessas fases.
A fase imanentista se refere à época em que o direito processual não
era dotado de autonomia, sendo visto como um apêndice do direito material. Havia
uma nítida confusão entre o direito substancial e o direito adjetivo, onde o direito
processual era tido como o conjunto de formalidades para a atuação pratica do
direito material. Não havia de fato a existência de um direito processual; o
processo era tido como uma mera seqüência de atos e formalidades. Essa fase
teve seu término com os inúmeros questionamentos acerca da autonomia do
direito de ação e do próprio direito processual.
A fase autonomista teve como marco inicial a publicação, em 1868,
da obra Die Lehre Von Den Prozesseinreden5, que inaugurou6 a idéia do processo
como relação jurídica e traçou os princípios básicos do direito processual como
ciência autônoma, onde se destacavam dois planos com realidades distintas: o da
relação processual e o da relação do direito privado. Essa fase também merece
destaque por ter enumerado as premissas metodológicas do processo como
ciência, principalmente na criação de institutos processuais7.
A terceira fase, a instrumentalista, é a fase em que vivemos
atualmente, onde se busca um processo que deve cumprir os seus escopos
jurídicos, políticos e sociais, devendo ser analisado a partir de ângulos externos,
levando em conta os resultados a serem atingidos.
Note que o instrumentalismo antes apegado apenas à formalidade,
hoje tenta se colocar a serviço da substancialidade e materialidade do direito, para
o resguardar mesmo diante da inexistência ou ineficácia de normas processuais
capazes de solucionar os conflitos de interesses existentes. Ele é, em verdade, o
núcleo e a síntese dos movimentos pelo aprimoramento do sistema processual,
que visa a construção de um sistema jurídico apto a conduzir aos resultados
práticos desejados.
O que se busca, em verdade, é um processo civil de resultados,
onde o processo é um instrumento de positivação do acesso à ordem jurídica justa
e efetiva, apta a produzir o resultado que a parte espera. Esse é o aspecto positivo
do Instrumentalismo. Ao mesmo tempo em que isso acontece, essa
instrumentalidade também nega ao processo um fim em si mesmo, defendendo
que ele não pode ter um valor superior a essência do direito material. A forma não
pode assumir um valor preponderante, pois o que se busca com o processo é a

5
Teoria das Exceções e dos Pressupostos Processuais, do jurista alemão Oskar Von Bülow.
6
Cândido Rangel Dinamarco em sua obra, a Instrumentalidade do Processo defende que que Bülow apenas
racionalizou e desenvolveu uma idéia pré-existente, propondo os seus desdobramentos. Enfatizando que na
realidade ele não criou a idéia da relação jurídica processual, nem tão pouco a sua concepção tríplice.
(DINAMARCO, Cândido Rangel. Instrumentalidade do Processo. 10ª Ed. Editora Malheiros, São Paulo,
2001).
7
Segundo Alexandre Câmara, é nessa fase que surgem os maiores nomes do Direito Processual Civil de todos
os tempos, tais como: Guiseppe Chiovenda, Francesco Carnelutti, Piero Calamandrei, Erico Tullio Liebman,
dentre outros. (CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil.Vol.I. 9ª Ed. Editora
Lúmen Júris, Rio de Janeiro. 2003, p. 9).
11

efetivação de um direito substancial. Esse é o seu aspecto negativo, que pode ser
melhor vislumbrado no Princípio da Instrumentalidade das Formas.
Essa atual tendência do instrumentalismo tem como objetivo
precípuo conferir meios hábeis e eficazes aos jurisdicionados para que possam
satisfazer os direitos urgentes, ou aqueles que se encontrarem em situação de
perigo e dano iminente.
Segundo Cândido Rangel Dinamarco8, a efetivação da
instrumentalidade do processo, visa coloca-lo a disposição das pessoas com
vistas a eliminar as suas insatisfações, buscando a justiça e assegurando-lhes a
liberdade.

“(...) aqui está a síntese de tudo. É preciso romper preconceitos e


encarar o processo como algo que seja realmente capaz de ‘alterar o
mundo’, ou seja, de conduzir as pessoas à ‘ordem jurídica justa’. A maior
aproximação do processo ao direito, que em termos atuais é uma
vigorosa tendência metodológica das ciências jurídicas, exige que o
processo seja posto a serviço do homem, com o instrumental e as
potencialidades de que dispõe, e não o homem a serviço da sua
9
técnica”.

Note que a instrumentalidade do processo surge com o intuito de


satisfazer as necessidades humanas, onde a técnica processual deve, acima de
qualquer coisa, garantir os direitos dos indivíduos.
Para finalizar essa discussão acerca do instrumentalismo não
podemos deixar de citar que ele pode ser visto por dois prismas: o positivo, que
está vinculado à problemática da efetividade, para que se busque atingir a função
social, política e jurídica do processo; e o negativo, que mostra a negação do
processo como valor em si mesmo e a rejeição ao formalismo exagerado, já que o
que se busca com o processo é a valorização de um fim a ser atingido, dos
resultados práticos, e não necessariamente dos meios utilizados. É exatamente
por isso, que o processo serve como um instrumento para a realização do direito
material.

1.2. Efetividade x Tempo: Morosidade Processual

Amparado pelo consagrado entendimento do mestre Rui Barbosa,


Luiz Guilherme Marinoni ao tratar da duração do processo10 diz que a morosidade
processual estrangula os direitos fundamentais do cidadão, exatamente por
entender que a justiça lenta é na realidade sinônimo de injustiça. A demora do
processo pode acarretar danos incalculáveis a quem espera uma tutela
jurisdicional efetiva, além de ser uma afronta ao princípio da igualdade, tendo em
vista que os mais pobres ou fracos, muitas vezes, preferem transacionar abrindo

8
Cândido Rangel Dinamarco, A Instrumentalidade do Processo, cit., p.331
9
Cândido Rangel Dinamarco, A Instrumentalidade do Processo, cit., p.365
10
Luiz Guilherme Marinoni, Novas Linhas de Processo Civil, 3ª ed. São Paulo. Malheiros, 1999. cit, p. 33
12

mão de parcelas dos seus direitos a ter que esperar um provimento final mais
demorado.
O Estado, que tem a incumbência de conduzir o processo em tempo
razoável11, deve ser dotado de meios capazes de proporcionar uma resposta
eficiente as demandas que lhe são propostas, e para isso deve usar de maneira
correta as técnicas que lhe são colocadas a disposição, v.g., técnicas da cognição,
da antecipação, das sentenças e da atuação dos direitos.
O que se espera, quando se busca a proteção a algum direito, é que
o Judiciário possa assegurá-lo de maneira eficaz, sem deixar que a demora
excessiva para a prestação dessa tutela, acarrete uma injustiça ou uma
inadequação à demanda pleiteada.
Cada vez mais a efetividade do processo mostra-se como um grande
problema a ser superado dentro do ordenamento jurídico. Acontece que ela está
ligada a uma série de fatores intrínsecos e extrínsecos do Poder Judiciário, que
abarcam desde a sua estrutura até o sistema de tutela de direitos. Temos que por
em prática os princípios e garantias constitucionais para que se tenha um melhor
exercício da função jurisdicional, a fim de se obter uma tutela adequada e justa,
sendo inclusive o ônus do tempo processual dividido de maneira equânime entre
as partes litigantes.
O que se busca, em verdade, é evitar protelações a fim de se obter a
efetividade da garantia constitucional de uma tutela jurisdicional12 tempestiva.
Destarte, a Tutela Antecipatória foi introduzida no nosso sistema processual como
uma técnica de distribuição do ônus do tempo na relação jurídica, tentando
restaurar a igualdade no procedimento.
Ora, a tutela antecipada veio corroborar com o Princípio da Máxima
Efetividade do Processo, visando não só a garantia da entrega da prestação
jurisdicional, mas também uma tutela satisfatória, tempestiva e completa.
Às vezes, a morosidade processual pode alterar a necessidade do
autor, pois se a tutela não for concedida de forma imediata, a demora pela
prolação da sentença de mérito pode equivaler a uma negação a própria justiça.
O que não podemos olvidar é que o direito a uma tutela jurisdicional
tempestiva é corolário do próprio direito de acesso à justiça.

11
Após a Emenda Constitucional nº 45/04, tal garantia passou a ser tratada de forma expressa na própria
Constituição, art. 5º, LXXVIII, que dispõe: “A todos, no âmbito de judicial e administrativo, são assegurados
a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. Antes da EC a idéia
de acesso à ordem jurídica justa já comportava por si só a idéia da efetividade e tempestividade da tutela.
Ponto importante sobre o tema, refere-se ao fato de, ainda que em lei infraconstitucional, já termos a idéia de
celeridade positivada no nosso ordenamento jurídico. Ver art. 5º, §2º da CF c/c art. 8º do Pacto de São José da
Costa Rica, ratificado pelo Brasil em 06.11.1992.
Art. 5º, § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja
parte.
Art. 8º, 1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por
um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de
qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de
natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.
12
Quando falamos em tutela jurisdicional, falamos na proteção que o Estado confere àquele que tem direito
ao bem jurídico da vida. Ela se dá por meio da atividade jurisdicional que deve ser provocada pela parte.
13

1.3. Acesso à Justiça

Ao falar de acesso à justiça somos imediatamente remetidos ao art.


5º, XXXV da Carta Magna, já que este dispositivo garante tanto o direito de defesa
quanto o direito a tempestividade da tutela, que se traduz no direito que todos têm
de ir a juízo e também no direito à tutela jurisdicional efetiva, adequada e
tempestiva. Exatamente por isso que esse princípio constitucional não pode ser
visto de maneira isolada, devendo ser vinculado ao Princípio da Efetivação da
Tutela Jurisdicional.
O legislador infraconstitucional busca construir procedimentos para
que se atinjam tais fins. Ele prevê tutelas que atuando internamente no
procedimento permitam uma racional distribuição do tempo no processo13, e a
entrega hábil do direito sem perder a segurança jurídica.
O que se busca com o acesso à justiça é garantir o acesso à ordem
jurídica justa. Esse direito não pode ser visto como uma garantia meramente
formal, devendo ser exercido através do processo, de forma a se atingir a
chamada justiça social, garantindo-se o direito de acesso ao processo da maioria
“não privilegiada” da população, tendo em vista que o alto custo do processo,
aliado a fatores sociais e culturais, pode acabar por limitar ou mesmo impedir que
o cidadão comum exerça esse direito de poder recorrer ao judiciário.
A idéia de acesso à justiça, juntamente com o Principio da
Inafastabilidade e do Devido Processo Legal visam garantir uma adequada tutela
jurisdicional, que seja ao mesmo tempo ágil e útil, efetiva. Não podemos deixar
que o cidadão tenha direitos e não tenha meios de exigi-los.
Para que possamos entender o amplo sentido dessa garantia é
imprescindível que tenhamos conhecimento acerca do que foram as chamadas
“ondas renovatórias”14 do acesso à justiça. Essas ondas constituem-se de três
fases:
1ª) Fase da Assistência Gratuita: nessa fase havia uma luta para que
a justiça fosse possível para todos, pois a sua onerosidade dificultava o acesso
dos menos favorecidos. Buscou-se meios para que todos tivessem acesso ao
poder judiciário, não importando se tinham ou não condições econômicas de arcar
com as custas processuais. Foi criada a Lei nº 1060/50, que assegurou a isenção
do pagamento de custas aos mais carentes, e a prestação de serviços de defesa
gratuita através da Defensoria Pública e dos Escritórios Modelos. Dessa forma,
todos podiam levar suas pretensões a juízo.
Embora tais garantias estivessem asseguradas, existiam direitos
(metaindividuais15) que continuavam sem proteção, exatamente pela vedação do

13
O tempo do processo, a morosidade processual, é um dos fundamentos dogmáticos que permite a concessão
da tutela antecipatória.
14
CAPPELLETTI, Mauro, Acesso à Justiça, Tradução de Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Fabris,
1988, p. 31.
15
Os direitos metaindividuais dividem-se em direitos difusos e direitos coletivos. São direitos que estão acima
dos indivíduos e pertencem a uma coletividade como um todo e não a algumas pessoas determinadas e
específicas.
14

art. 6º do nosso Código de Processo Civil, que proíbe que alguém pleiteie em
nome próprio direito alheio.
2ª) Fase da Proteção dos Direitos Supra-individuais: essa fase foi
marcada pela introdução no nosso ordenamento jurídico de meios hábeis a
proteção desses direitos, v.g, a ação popular, a ação civil pública, a ação civil
coletiva e o mandado de segurança coletivo.
3ª) Fase da Busca da Satisfação do Jurisdicionado ou da
Instrumentalidade do Processo: a terceira e ultima fase, é a que vivemos
hodiernamente; os processualistas buscam descobrir meios capazes de garantir
uma tutela jurisdicional justa e efetiva, capaz de satisfazer plenamente o
jurisdicionado.
É nesse contexto que está inserida a busca pela efetivação do
processo, bem como a criação de tutelas específicas capazes de satisfazer de
forma cada vez mais intensa e célere as pretensões de quem ingressa em juízo.

1.4. Solução do Sistema: Tutelas de Urgência

A universalização do procedimento ordinário teve grande parcela de


culpa na lentidão da justiça, em virtude da falta de efetividade do procedimento
comum. Com base nisso o Processo Civil Brasileiro tenta cada vez mais suprir
essas lacunas deixadas por essa universalização, que há tempos mostra-se
ineficaz a proteção de alguns direitos e situações de perigo. Desse modo o
processo deixa de atender as suas finalidades, sendo, de certa forma, inútil para
que se alcance a pretensão do autor.
Criou-se, então, uma necessidade de superação dessa
universalização e da idéia de o “juízo de certeza” como única forma de reconhecer
e conferir o direito à parte lesada de forma efetiva e eficaz.
Como vimos anteriormente o processo é naturalmente moroso, o que
pode acarretar a destruição do objeto da pretensão. O meio que o direito achou
para suprir essa demora foram as denominadas tutelas de urgência, que são
tutelas diferenciadas, onde o fator tempo deve prevalecer sobre o fator grau de
cognição. É gênero do qual são espécies a tutela antecipatória satisfativa e a
tutela acautelatória.
A expressão tutela de urgência tem utilização recente, e é usada
para designar um fenômeno jurídico que até meados de 1994 era conhecido por
Tutela Cautelar (Poder Geral de Cautela).
Elas são providências urgentes tomadas antes do desfecho natural
do processo, para afastar situações graves de risco de dano à efetividade,
prejuízos que decorrem da sua inevitável demora e que começam a se
consumarem antes desta.

“Os efeitos da tutela de urgência (provisória, temporária e reversível)


atuam para garantir a utilidade da prestação jurisdicional e dos direitos
sob ameaça, podendo ir além da simples garantia e chegar, desde logo,
a entrega do bem da vida a alguém. A função da urgência se origina da
15

necessidade de regular a situação de fato, que é uma antes do processo


16
e será outra depois dele.”

Essas tutelas visam conciliar17 os dois objetivos principais do


processo: a segurança jurídica e a celeridade processual. Através delas,
buscamos um processo mais célere, que seja ao mesmo tempo seguro, ou seja, é
um mecanismo destinado a proporcionar a efetividade do processo, da tutela
jurisdicional, sem comprometer a sua segurança.
As medidas de urgência não dependem de discussão e instrução
exauriente, e embora sejam uma providência que pode se antecipar ao
contraditório e a ampla defesa, o juiz deverá, sempre que possível, ouvir o réu
antes de ele decidir pelo cabimento ou não da medida emergencial18.
É importante frisar que as tutelas de urgência não são meras
faculdades do juiz, não podendo ser recusadas quando presentes os seus
pressupostos legais, e a parte assim o requerer.
Tendo em mente que não é somente através de um juízo de certeza
que se pode reconhecer e/ou conferir o direito à parte de forma eficaz e pautado
na segurança jurídica, buscou-se uma nova forma de reconhecimento de direitos,
através de outros meios de cognição, como por exemplo, a cognição exercida nas
tutelas de urgência.
A criação da chamada tutela antecipada foi uma dessas soluções
encontradas, onde, com base em uma cognição sumária, através de um juízo de
verossimilhança, tenta-se satisfazer o direito do autor.

CAPÍTULO 2 – TUTELA ANTECIPATÓRIA.

2.1. Evolução Histórica:

Como é sabido o direito processual brasileiro em sua configuração


clássica filia-se ao direito romano, que aquela época já era dotado de instrumentos
eficazes (ainda que de caráter provisório) para a proteção do direito. Temos como
exemplos, só para citar:
- Interdito (vem do latim: entre = inter / dicere = dizer): é a
manifestação da autoridade entre as partes em conflito
Características: caráter administrativo / condicionais / cognição
sumária / caráter provisório.
- Missio in possession: Imissão na posse de bens do devedor.

16
ASSIS, Araken de. “Fungibilidade das Medidas Inominadas Cautelares e Satisfativas”, Revista de
Processo, 100/39.
17
Note que essas tutelas de urgência também surgiram como um remédio provisório e necessário para tentar
compatibilizar o conflito entre duas garantias constitucionais: o devido processo legal e o acesso efetivo à
justiça.
18
“Não existe, no Estado de Direito, lugar para decisões fruto do poder arbitrário”. Bandeira de Mello, Celso
Antônio. Elementos de Direito Administrativo. Editora RT, São Paulo. 1980, pág. 20.
É relevante ressaltar que em 1980, essa idéia de arbitrariedade já existia, se contrapondo a idéias que hoje
ainda são recentes.
16

Características: preventiva/ provisória


- Operis novi nuntiatio (Nunciação de Obra Nova): Ato solene
extrajudicial destinado a proibir a alguém que prosseguisse uma obra iniciada.
Entre essas figuras temos o embrião da tutela de urgência, mas sem
similaridade com a Tutela Antecipada, que é uma forma refinada de adiantamento
dos efeitos do provimento final, tendo caráter, em regra, provisório, satisfativo e
revogável.
Ao proibir a autotutela o Estado chamou para si a responsabilidade
de tutelar adequada e efetivamente os diversos conflitos de interesses existentes
na sociedade. Diante dessa proibição, o Estado colocou a disposição da
sociedade o processo, para que as pessoas possam pleitear em juízo os seus
direitos; destarte, se uma situação requer uma tutela imediata de cognição
sumária, deve o Estado satisfazer essa necessidade através dos art. 273 e/ou do
art. 461 do CPC.
No Brasil, a Ação Cautelar surgiu como o primeiro instituto com a
finalidade de moderar a intensidade da mora processual. A tutela antecipada foi
introduzida no ordenamento Brasileiro através da lei nº 8952/94, tendo por base o
art. 285, do CPC de 1975, inspirado nos estudos do Doutrinador Ovídio de Araújo
Batista da Silva. Note que a Tutela Antecipada no Processo Civil Brasileiro não foi
novidade absoluta, pois já existia em legislações esparsas. Ex: Liminares
possessórias; em liminar de Busca e apreensão – DL 911/64; liminar19 na Ação
Civil Pública, as novas hipóteses de antecipação de efeitos executivos (despejo
liminar) contempladas pelo legislador no CPC de 1973, e também no Código de
Defesa do Consumidor (art.84, §3º do CDC).
A “ordinarização do Código de Processo Civil”, responsável pela
morosidade da justiça e desgaste da imagem do poder judiciário, precipitou a
reforma do CPC, que passou a admitir a Tutela Antecipada. É bom salientar que o
art. 273 apenas converteu em regra geral o que já estava prescrito para situações
particulares, no nosso ordenamento.
Esse artigo surgiu com um caráter progressista, rompendo com o
preconceito de que a antecipação de efeitos não se coadunava com o
acautelamento; buscando uma inovação imediata no sistema: redistribuir o ônus
do tempo no processo, e estabelecendo uma melhor sistematização da tutela de
urgência ao tentar recuperar a idéia de celeridade da prestação jurisdicional, e
tendo em mente que a tutela antecipada deve ser útil para o aperfeiçoamento da
Justiça.

2.2. Conceituação:

Como vimos anteriormente, o procedimento ordinário tornou-se


inefetivo. A tutela antecipada foi introduzida no Código de Processo Civil a partir
do momento em que a demora do procedimento comum não era mais suportável,

19
Também tem caráter especial e excepcional, porque a regra geral é que a execução seja precedida da
cognição (atos coativos somente após a sentença que declare o direito).
17

fazendo-se necessária uma tutela sumária capaz de satisfazer o direito, a fim de


resolver o conflito: tempo x grau de cognição.
O art. 798 do CPC passou a ser a válvula de escape para a
prestação das tutelas jurisdicionais. A tutela cautelar transformou-se em técnica de
sumarização, sendo utilizada como Tutela Antecipada contra a ineficiência do
procedimento ordinário. Essa distorção foi fruto da necessidade de uma tutela
efetiva, célere e justa.
A utilização da tutela cautelar com fins satisfativos ou como técnica
de antecipação da tutela de conhecimento, levou o legislador brasileiro a perceber
que essa tutela não mais poderia ser prestada sob o manto protetor da Tutela
Cautelar Inominada, o que levou a introdução, no final de 1994, a norma que hoje
está prevista no art. 273, do CPC.
A Tutela Antecipatória é um remédio jurídico que visa satisfazer a
pretensão do autor quando o processo corre o risco de demora excessiva capaz
de provocar um dano de difícil reparação. Tenta tutelar de forma mais eficaz o
direito do autor, sempre que ele preencher os requisitos exigidos pela lei. É
possível quando a defesa deixa entrever a grande probabilidade de o autor
resultar vitorioso.
Quando falamos em antecipação da tutela falamos em uma técnica
processual através da qual o litigante recebe antes, aquilo que só obteria em
momento posterior. De modo geral, essa tutela é provisória, já que é pautada em
um juízo de probabilidade, e tem caráter satisfativo.
Ela pode ser requerida tanto nos procedimentos ordinários quanto
nos sumários, bem como nos procedimentos especiais.
Quanto ao seu objeto, João Batista de Lopes20 entende que são
apenas os efeitos práticos da sentença, que podem assumir caráter executivo ou
mandamental; a eficácia declaratória, constitutiva ou condenatória não pode,
segundo esse doutrinador, ser objeto dessa antecipação.
Ela é um meio que visa resolver alguns problemas existentes no
nosso ordenamento jurídico, tais como: os males causados pela demora
processual, evitar danos irreparáveis ou de difícil reparação, tenta distribuir entre
as partes litigantes o tempo do processo.

“A técnica antecipatória visa apenas distribuir o ônus do tempo no


processo. É preciso que os operadores do direito compreendam o novo
instituto e o usem de forma adequada. Não há razão para timidez no uso
da tutela antecipatória, pois o remédio surgiu para eliminar um mal que
já está instalado. É necessário que o juiz compreenda que não pode
haver efetividade sem riscos. A tutela antecipatória permite perceber que
não o é só a ação (o agir, a antecipação) que pode causar prejuízo, mas
também a omissão. O juiz que se omite é tão nocivo quanto o juiz que
julga mal. Prudência e equilíbrio não se confundem com medo, e a
lentidão da justiça exige que o juiz deixe de lado o comodismo do
procedimento ordinário – no qual alguns imaginam que ele não erra –
para assumir as responsabilidades de um novo juiz, de um juiz que trata
dos “novos direitos” e que também tem que entender – para cumprir a
sua função sem deixar de lado a sua responsabilidade social – que as

20
LOPES, João Batista. Tutela Antecipada no Processo Civil Brasileiro. Saraiva, 2001. São Paulo.
18

novas situações carentes de tutela não podem, em casos não raros,


suportar o mesmo tempo que era gasto para a realização dos direitos de
60 anos atrás, época em que foi publicada a célebre obra de
Calamandrei, sistematizando as providencias cautelares.”21.

Ora, pelo trecho extraído da obra de Marinoni podemos observar a


importância da técnica antecipatória, devendo, o juiz, agir de forma prudente, mas
audaciosa, para eliminar os problemas gerados pela lentidão da justiça,
assumindo uma responsabilidade social para a realização dos direitos da
sociedade.

2.3. Tutela Antecipada e Tutela Cautelar:

A tutela antecipada não pode ser confundida com a tutela cautelar,


embora ambas sejam espécies do gênero Tutela de Urgência, que possuem em
comum a sua provisoriedade e a possibilidade de revogação. Enquanto que
aquela dá ao autor, desde logo, aquilo que ele somente obteria após a pronúncia
da sentença, ou seja, antecipa os efeitos preponderantes da sentença final, os
efeitos práticos da sentença; esta apenas assegura a possibilidade da realização
efetiva do direito, não podendo realiza-lo, porque a tutela cautelar não tem
conteúdo satisfativo22.
Além disso, a tutela cautelar tem base processual e procedimento
próprio, sendo concedida em razão da necessidade de se dar efetividade a outra
tutela jurisdicional. É daí que se permite inferir a sua instrumentalidade23 e
acessoriedade, existindo apenas para que uma outra tutela jurisdicional possa ser
efetiva do ponto de vista jurídico ou prático, ou seja, é uma tutela de conteúdo tão
somente conservativo, que está sempre ligada a uma tutela definitiva. Não tem
relação direta com a tutela final pleiteada no processo principal, não podendo,
dessa forma, antecipar a decisão sobre o direito material. Serve, em síntese, para
viabilizar a realização prática de um direito constante na ação principal, não
podendo viabilizá-lo.
Já a tutela antecipada tem conteúdo basicamente satisfativo. É uma
medida de urgência que se destina não a resolver a crise do direito material, mas
a conferir utilidade prática a tutela definitiva. Não se trata de uma antecipação de
tutela propriamente dita, mas sim de uma antecipação dos efeitos dela. É um
procedimento que visa pacificar um conflito com base na analise do mérito. É

21
Luiz Guilherme Marinoni, Novas Linhas de Processo Civil, pág.124; Idem, A Antecipação de Tutela,
pág. 24. Idem. Manual do Processo de Conhecimento, p. 234.
22
Note que a tutela que satisfaz o direito material não pode ser classificada como tutela cautelar, já que essa
não pode antecipar a tutela de conhecimento, pressupondo sempre a existência de um outro direito que é
pleiteado na ação principal. A tutela que realiza o direito seja com base na cognição sumária, seja com base na
cognição exauriente, não é e nem pode ser cautelar.
23
Segundo Cândido Rangel Dinamarco, em sua obra acerca da Instrumentalidade do Processo, quando o
juiz concede uma cautelar, optando por não deixar o direito material sujeito a sacrifício, ele está tomando uma
medida rigorosamente instrumentalista, porque ele usa o processo como um instrumento para conceder algo
(direitos) com base na possibilidade razoável e suficiente.
19

exercitável incidentalmente por requerimento. Sendo, pelo exposto,


completamente diferente da tutela cautelar.

2.4. Caracterização:

Para que a tutela antecipada seja concedida devem estar presentes


alguns pressupostos legais, que podem ser necessários e/ou cumulativos ou
alternativos. São pressupostos positivos para a concessão da tutela antecipada:
a) Necessários:
Pedido da parte: É um requisito ligado ao principio da
-
demanda, pelo que cabe à parte a iniciativa de provocar o exercício da função
jurisdicional.24
É a manifestação da parte pleiteando a concessão da medida. A
iniciativa da tutela é reservada à parte interessada, podendo ser pleiteada tanto
pelo autor quanto pelo réu, por qualquer terceiro interessado ou substituto
processual incluindo-se neste rol o Ministério Público. O que não se admite é que
o juiz conceda a medida de ofício, ainda que útil ou necessária (Art. 273, do CPC).
- Prova Inequívoca: É a prova capaz de convencer o
magistrado da verossimilhança da alegação. É aquela que só pode ser entendida
em um sentido.
É uma prova robusta, contundente, que dê maior margem de
segurança possível para o magistrado sobre a existência ou inexistência de um
fato. É aquela a respeito da qual não se admite qualquer discussão; ela é tão
robusta que não permite equívocos ou dúvidas. Embora o juiz não alcance a
essência da verdade, ele está convicto dela.
- Verossimilhança da alegação:
Aquilo que for narrado e provado deve parecer verdadeiro, deve ter
aparência de verdadeiro. Diz-se que é a razoável aceitabilidade da versão, a
plausibilidade de ser. É o juízo de probabilidade que resulta da análise dos
motivos que lhe são favoráveis e dos que lhe são contrários.
De Plácido e Silva diz que a verossimilhança resulta das
circunstâncias que apontam certo fato, ou certa coisa, como possível ou como
real, mesmo que não se tenham deles provas diretas.25
b) Cumulativos ou alternativos:
- Receio de Dano Irreparável ou de difícil reparação:
O sistema visa criar uma alternativa meta processual para situações
em que, de tão aguda que é a situação de dano irreparável, a decisão de ir ao
judiciário poderia redundar em ineficácia total de qualquer medida, mesmo que
vigente. Deve-se observar o trinômio (necessidade – utilidade – adequação) antes
da concessão da medida, de forma que se obtenha realmente a satisfação
jurisdicional, sem causar prejuízos irreversíveis26 a qualquer das partes.

24
Ver também o §2º do art. 262 do CPC.
25
Revista Forense, vol. 334/472
26
Sobre o tema ver também item 2.5, página 32 deste trabalho.
20

Quando se concede uma tutela antecipada, o juiz a concede, em


regra, com base na cognição sumária, e é isso que determina a provisoriedade da
medida, que deverá ser negada se houver perigo de irreversibilidade da medida.
- Abuso do direito de defesa ou manifesto propósito
protelatório do réu:
É o exercício anormal, irregular, egoístico do direito com o propósito
de prejudicar. É a prática pelo réu de atos indevidos ou duvidosos, desnecessários
ao processo. Ainda que o art. 5º, LV da Constituição Federal assegure o direito à
ampla defesa, o que é assegurado é uma defesa adequada a natureza do
processo em que é exercida; e não uma defesa ilimitada como se imagina. Essa
defesa ilimitada, se houver um desvio de finalidade, será abusiva.
Na maioria dos casos observa-se uma tendência do réu a protelar o
resultado do processo, pois o seu interesse é de manter o status quo, enquanto
que o interesse do autor é modificar a realidade empírica, já que esta privilegia o
réu de alguma forma.

2.5. Espécies de Tutela Antecipada:

De modo geral a Tutela Antecipada pode ser:


a) De urgência: Art. 273, I do CPC, que são tutelas que
reclamam a urgência para a sua concessão.
b) Sem urgência: Art. 273, II do CPC, são tutelas com caráter
punitivo e Art, 273, § 6º do CPC são tutelas para a concessão de um julgamento
parcial. Para essas tutelas antecipar o que viria com a sentença já basta.
- Fundado Receio de Dano:
A tutela antecipada concedida com base em fundado receio de dano
requer a existência de dois pressupostos básicos: o fundado receio de dano
irreparável (efeitos irreversíveis) ou de difícil reparação e a alegação verossímil.
Embora o art. 273 fale em prova inequívoca27, exige-se que seja
demonstrada apenas a probabilidade do direito invocado, ou seja, uma prova
suficiente para o verossímil, e não para a declaração de existência ou inexistência
do direito. A verossimilhança a ser exigida pelo juiz deve considerar: o valor do
bem jurídico ameaçado, a dificuldade de o autor provar a sua alegação, a própria
urgência descrita e a credibilidade da sua alegação.
Como a dilação probatória acarreta o ônus do tempo, a Tutela
Antecipatória pode ser concedida antes dessa produção; se isso ocorrer dizemos
que a tutela foi concedida com a postecipação da produção de provas; que devem
ser produzidas normalmente após a concessão da Tutela Antecipada, a fim de se
obter uma cognição exauriente.
Essa tutela geralmente é requerida junto com o pedido inicial, na
exordial, mas também pode ser requerida após o encerramento da fase instrutória,
ou após ter sido proferida a sentença.

27
“Deixe-se claro destarte, que estamos estudando a ‘prova inequívoca’ suficiente para o surgimento da
verossimilhança necessária para a concessão da tutela antecipatória de cognição sumária baseada em fundado
receio de dano” (Marinoni, Luiz Guilherme. Manual do Processo de Conhecimento. P.248.).
21

Quanto ao momento de sua concessão este pode ser: antes da oitiva


do réu, quando isso for comprometer a efetividade do direito de ação, e a
efetividade do direito afirmado e demonstrado como provável. Ela também é
possível ser concedida após a contestação onde o procedimento deve caminhar
para a produção de provas.

“TUTELA ANTECIPADA – PROVIMENTO ANTE A PRESENÇA DOS


REQUISITOS EXIGIDOS NO ART. 273 DO CPC – Concessão de liminar
sem a oitiva da parte contrária – Possibilidade – Faculdade reservada ao
julgador – Possibilidade, na espécie, frente ao iminente risco de
frustração do objeto visado na medida – Inexistência de afronta ao
princípio do contraditório”. (TJPR, 1ª CC, AI 49.155-8, rel. Dês. Ulysses
Lopes, julgado em 06.08.1996).

- Manifesto intuito protelatório do réu; ou abuso do direito de


defesa:

O que tem se observado no processo civil brasileiro é que o tempo


do processo sempre prejudica o autor que tem razão, beneficiando o réu, que se
utiliza dessa morosidade para protelar, o máximo de tempo possível, o término do
processo.

“Se o réu tende a abusar do seu direito de defesa, igual ou maior é o


seu interesse em abusar do direito ao recurso, seja para conservar o
bem disputado em seu patrimônio, seja ainda para tentar tirar do autor
alguma vantagem econômica em troca do tempo (bastante longo)
necessário ao processamento e ao julgamento do recurso”28.

O que se busca com a tutela antecipada em decorrência do abuso do


direito de defesa é distribuir entre as partes litigantes, de acordo com a evidência
do direito afirmado pelo autor e a fragilidade da defesa apresentada pelo réu, o
ônus do tempo do processo.
Essa tutela pode ser antecipada em muitos casso, pois o abuso do
direito de defesa pode ser observado: no caso de exceção substancial indireta
infundada; a partir da técnica monitória; através das técnicas da não contestação e
do reconhecimento parcial do pedido; do julgamento antecipado de um ou mais
pedidos cumulados e do julgamento antecipado de parcela do pedido.
Nessa modalidade de tutela se busca dar ao autor a antecipação,
não pelo perigo da demora, mas sim pela injustiça que se forma diante do abuso
do réu ao exercer o seu direito de defesa.
- Em virtude da falta de controvérsia sobre parte da pretensão
formulada pelo autor (§6º):
A tutela antecipada concedida com base no pedido incontroverso é o
ponto central de análise neste trabalho.

28
Marinoni, Luiz Guilherme. Tutela Antecipada e Julgamento Antecipado. P.161
22

Embora a doutrina já admitisse a Antecipação da Tutela em relação a


parte da demanda que se mostrasse incontroversa, foi a lei nº 10.444/02 que a
introduziu de forma expressa no nosso ordenamento jurídico. Ela pode ser
concedida tanto com base na técnica da não-contestação ou do reconhecimento
parcial do pedido quanto pela técnica do julgamento de parcela do pedido ou de
um dos pedidos cumulados.
Segundo o Princípio da Impugnação Específica (Art. 302, c/c art.
334, II e III do CPC), o que não for impugnado é presumidamente verdadeiro. A
falta de impugnação especificada assemelha-se, em tese, a uma revelia. Há
também uma presunção de veracidade, já que é fornecido ao juiz um mecanismo
para analisar antecipadamente o pedido ou parte dele, que não foi impugnado
pelo réu. Para que seja possível um julgamento antecipado desse pedido, com
fulcro no §6º do art. 273, do CPC, faz-se necessário que pelo menos um dos
pedidos ou parcela dele esteja em condições de ser imediatamente julgado, e o
outro pedido (ou a outra parcela dele) necessite de instrução dilatória.
Veremos mais detalhadamente esse tipo de tutela nos itens
subseqüentes.
Antes de finalizarmos essa classificação resta-nos falar da
irreversibilidade das tutelas antecipatórias.
Quanto a irreversibilidade das tutelas antecipatórias temos que ter
bastante cuidado, visto que, embora o §2º do art. 273 proíba que se conceda a
tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado, quando
estivermos diante do inciso I para que se evite um dano irreparável, não podemos
levar em conta tal proibição, pois se o fizermos estaremos dizendo que o direito
provável deve ser sempre sacrificado diante da possibilidade de prejuízo
irreversível de direito improvável. Na realidade faz-se necessário uma ponderação
de direitos, e o magistrado com base no caso concreto deve analisar qual o direito
que deve prevalecer.
Também no caso do §6º do art. 273 do CPC, entendemos que uma
vez concedida a tutela, esta não poderá mais ser revogada, levando em conta que
esta foi concedida, como veremos detalhadamente mais adiante, com base em
uma cognição exauriente, em um juízo de certeza.

2.6. Pedido e Tipos de Pedido:

Segundo Cândido Rangel Dinamarco29 o objeto do processo é a


pretensão posta em juízo, em busca da satisfação. É o pedido formulado ao juiz
para que ele tome uma providência de interesse do autor. Falar em pedido,
portanto, é falar da pretensão do autor (ou do réu, i.e., reconvenção), da
providência jurisdicional que ele pede ao juiz.
O pedido é o objeto litigioso; é o que fixa os lindes da atuação
jurisdicional, e o juiz decidirá as lides nos limites em que ela for proposta. O
pedido relaciona-se diretamente com as condições da ação e com os fundamentos

29
A Reforma da Reforma, p.100.
23

da sentença. Cada pedido corresponde a uma demanda e conseqüentemente a


um capítulo da sentença.
Raramente o processo é formado por uma só pretensão, que não
possa ser decomposta. Falamos em objetos: simples, composto ou decomponível.
O objeto composto é aquele formado por várias pretensões, que
podem ser trazidas pelo autor (ou por ele e outro sujeito). O autor dá ao processo
um objeto composto quando cumula demandas e o réu quando reconvém ou
deduz pedido contraposto ao do autor (ações dúplices); já o terceiro, ao deduzir
uma oposição interventiva30.
São exemplos de demandas cumuladas as baseadas em: pedidos
cumulados que são aqueles pedidos onde existe apenas conexão subjetiva, que
admitem fracionamento do mérito e conseqüentemente julgamento parcial;
pedidos sucessivos que são aquelas em que ocorre uma prejudicialidade entre os
pedidos. Um pedido é prejudicial do outro ou outros. Julgado o pedido em
determinada direção, o juiz deve rejeitar o pedido ou pedidos prejudicados;
pedidos alternativos que são aqueles em que, pela natureza da obrigação, o
devedor pode cumprir a prestação de mais de um modo. Quando, pela lei ou pelo
contrato, a escolha couber ao devedor, o juiz lhe assegurará o direito de cumprir a
prestação de um ou de outro modo, ainda que o autor não tenha formulado pedido
alternativo. O que ocorre na realidade é uma reunião de demandas distintas em
um só processo, embora haja uma complexidade de seu objeto. A instrução, de
acordo com o sistema vigente deve ser uma só, bem como a sentença que deve
ser em capítulos distintos.
Acerca desse tema Marinoni, ao criticar o sistema vigente tem o
seguinte entendimento:

“Nessa perspectiva de tempestividade, a cumulação de pedidos – que


sempre foi estimulada em nome da economia processual-, por poder
gerar situações em que um pedido se torne pronto para o julgamento
bem antes do outro, também pode atentar contra tal direito fundamental
31
ao se insistir na impossibilidade de fragmentação da demanda” .

Para que o juiz possa decidir sobre parte do objeto do pedido, é


necessário que esse pedido seja ou composto ou decomponível. Resta-nos falar
apenas do pedido decomponível.
O pedido decomponível é aquele em que podemos fracionar o objeto
pleiteado. Refere-se a bens sujeitos a algum tipo de quantificação. Ocorre no caso
de coisas fungíveis em geral (dinheiro etc.), onde o juiz pode determinar que o réu
conceda ao autor apenas parcela do objeto do litígio.
Tendo com fulcro o que motiva o §6º do art. 273 do CPC, falaremos
primeiramente do que decorre a incontrovérsia de um pedido, para tratar com mais
segurança o tema do item seguinte.
O pedido incontroverso que é aquele sobre o qual não há tensão das
partes, ou seja, quando há ausência de um confronto de afirmações em torno de

30
Art. 59 do CPC.
31
Marinoni, Luiz Guilherme. Técnica Processual e Tutela de Direitos, Ed. RT. São Paulo, 2004. p. 143
24

um fato alegado pelo autor. A incontrovérsia de um pedido pode ser em


decorrência: da revelia do réu, ou seja, quando ele deixa de impugnar os fatos
alegados ou parte de um deles; quando há apenas questão só de direito sem
controversia fática; ou quando existe controvérsia fática, mas as provas
documentais são suficientes para a concessão do pedido; ou simplesmente
quando houver evidência do direito.
Falar em incontrovérsia não é apenas falar em um pedido que não foi
contestado ou em um pedido que foi reconhecido. A incontrovérsia de que trata o
§ 6º do art. 273 do CPC é muito mais abrangente. Não há dúvidas de que o que
não foi contestado ou o que foi reconhecido, resta incontroverso, porém essa
noção se refere a tudo aquilo que está maduro para o julgamento, podendo
resultar inclusive da própria audiência preliminar, quando ficar claro, por exemplo,
que não há mais provas a serem produzidas sobre determinado assunto, ou seja,
quando houver demonstração de que um direito é evidente.

2.7. Pedido Incontroverso:

Iniciado o processo o autor deve expor os fatos e fundamentos que


embasam a sua pretensão. Com base nos fatos alegados pelo autor o réu deverá
apresentar contestação impugnando especificamente cada uma das alegações
(Ônus da Impugnação Específica - Art. 302, c/c art. 334, II – III, do CPC). Essa
impugnação é que transforma os fatos em pontos controvertidos (questões) e dão
propulsão ao processo, ocasionando a necessidade de instrução.
No caso de pedido incontroverso, entende-se que é necessário que o
juiz determine a oitiva da parte ré (via contestação – fase postulatória), e isso irá
possibilitar ao juiz a verificação da ausência de litígio acerca do pedido (ou parte
dele) formulado pelo autor. Aqui o juiz estará fazendo uma análise com base em
um juízo de certeza, em uma cognição exauriente, já que o pedido encontra-se em
fase de julgamento.
Qualquer fato não impugnado pelo réu será presumido verdadeiro32,
tornando-se incontroverso. O mesmo ocorre no caso de transação ou renúncia
parcial de direito33 e no caso de confissão quanto a pedido ou parcela dele34.
Uma vez incontroverso desnecessária é a produção de provas com relação a ele,
permitindo ao magistrado um juízo de certeza e um pronunciamento definitivo
acerca dele.
Deve ser lembrado que não é o fato de haver incontrovérsia pela
falta de contestação ou confissão35 que obriga o juiz a conceder a tutela
antecipada. Devem ser analisados outros requisitos, como, i.e., se o pedido do
autor é lícito ou se tal antecipação é admissível nos termos legais do nosso
ordenamento jurídico.

32
Exceto nos casos legalmente previstos nos art. 302 e incisos e no 320, do CPC
33
Ver o que dispõem o art. 269, II, III e V do CPC
34
Este caso é também denominado doutrinariamente como reconhecimento do pedido, e pode ser: total, que
impõe a extinção do processo com julgamento de mérito; ou parcial, que supõe a possibilidade de
fracionamento do julgamento.
35
Art. 334, II e III do CPC.
25

Cumprido esse requisito o juiz poderá conceder a tutela antecipada,


entendemos que através de uma sentença de mérito (título executivo).
Note que diante da incontrovérsia do pedido, não é razoável que o
autor aguarde toda a fase instrutória referente as demais matérias, para ter o seu
direito realizado. A prestação jurisdicional deve ser célere, e o autor não pode nem
deve ser obrigado a arcar com o ônus do provimento final, se o seu pedido ou
parcela encontram-se incontroversos. Deve-se respeitar o principio de que o
processo não pode prejudicar o autor que tem razão, tornando a prestação
jurisdicional mais efetiva e evitando, inclusive, um possível abuso do direito de
defesa por parte do réu.

2.8. Antecipação da Parte Incontroversa da Demanda:

Ao prever a possibilidade de também se antecipar a tutela quando


estivermos diante de parcela, um ou mais pedidos incontroversos, a lei nº
10.444/02 trouxe, com a introdução do §6º do art. 273 do CPC uma grande
novidade ao nosso sistema processual. Essa alteração visou atender ao princípio
da máxima efetividade da tutela jurisdicional, que é um princípio voltado para a
concessão de uma prestação jurisdicional adequada, que respeite a idéia de
tempo suportável para a obtenção de um resultado justo e eficiente que seja ao
mesmo tempo dotado de segurança jurídica.
Quando falamos do §6º do art. 273 do CPC não estamos apenas
diante de um tipo específico de antecipação de tutela, mas sim de um caso de
tutela antecipada para julgamento antecipado parcial da lide36. Trata-se de um tipo
de antecipação de tutela somente naquilo que diz respeito à possibilidade, a sua
incidência concreta capaz de reconhecer efeitos práticos e reais de uma decisão
que, de outro modo seria ineficaz. Não é tutela antecipada no que diz respeito aos
outros requisitos, como por exemplo: possibilidade de sua revogação (§4º) ou
necessidade de sua confirmação (§5º).
Cássio Scarpinela Bueno bem salientou em sua obra acerca da
Tutela Antecipada que se trata muito mais de uma técnica de desmembramento
de pedidos cumulados ou de parcela deles, do que de uma tutela antecipatória
propriamente dita. É como se naqueles casos em que ela tem aplicação houvesse
uma verdadeira cisão de pedidos (de parte deles ou de pedidos cumulados). “O
que já é possível deve ser julgado e efetivado, o que não é, deve ser levado à fase
instrutória do procedimento, para que seja provado37”.
O grau de convicção do juiz é inegável, pois o grau de cognição de
algo incontroverso é maior, exatamente para não depender de prova

36
Segundo Carnelutti lide é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida.
37
Em consonância com esse entendimento escreve Marinoni: “Não pode admitir protelação, razão pela qual o
procedimento deveria viabilizar a tutela imediata de parcela do pedido ou mesmo de um dos pedidos
cumulados tornados incontroversos no curso do procedimento que ainda deve caminhar adiante para a
elucidação da outra parcela do pedido, ou do outro pedido cumulado, ainda dependente de esclarecimento”.
(MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela antecipatória e Julgamento Antecipado: Parte Incontroversa da
Demanda, 5ª Ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2002, p.20).
26

complementar, dispensando inclusive o ônus da prova, pois já está


suficientemente comprovado.
O que se observa é que o atual diploma legal trata desse mecanismo
como se estivéssemos diante de um provimento provisório enquanto que na
prática estamos diante de um provimento definitivo, que em tese é antecipado38.
Dizemos que esse provimento é definitivo, porque observamos uma certa
segurança jurídica pautada na incontrovérsia, justamente por estarmos diante de
um juízo de certeza.
Existe um interesse notável de se dar máxima efetividade a solução
imposta, pois mesmo que não seja necessário um conhecimento profundo e
amplo, a certeza do direito existe e é isso que gera segurança jurídica nas
decisões judiciais.
A tutela que é prestada em razão da urgência tem por característica
a sumariedade de uma cognição porque o objeto do conhecimento é limitado em
extensão (alcance) e profundidade (verticalidade). Ora, se o direito em que se
funda o pedido é incontroverso e determinado, não há dúvidas acerca desses
elementos, sendo este pautado de definitividade e segurança jurídica.
A concessão de tutela fundada no § 6º foge a regra das demais
tutelas, pois não precisa ser impulsionada pela urgência, dispensando-se tanto o
periculum em mora quanto o fundado receio de dano irreparável ou de difícil
reparação; bastando que esteja presente o requisito da incontrovérsia; na
realidade ele deve obedecer ao princípio de que as partes devem ser tratadas de
forma isonômica no processo, distribuindo-se equitativamente o ônus do tempo
que assola o processo.
É evidente a timidez com a qual tal instituto foi introduzido no
ordenamento pátrio. Veremos mais adiante que estamos diante de um provimento
definitivo, de uma decisão interlocutória com força de sentença, que inclusive
produz efeito preclusivo parecido com o efeito produzido pela sentença de mérito.
De nada adianta termos uma técnica processual preocupada em ser
eficaz, evitando que o tempo traga danos ao processo e ao seu conteúdo, se
mesmo com a concessão da tutela não é possível a sua realização por conta de
obstáculos formais impostos pelo próprio ordenamento jurídico.
É até injusto obrigar o autor a esperar a realização de um direito que
não se mostra mais controvertido, tendo em vista que ele tem razão. O que deve
ser feito é: o processo deve prosseguir tão somente em relação ao que necessita
de dilação probatória, enquanto que o que não está mais controvertido deve ser
julgado antecipadamente, de forma a agilizar a tutela ao direito do autor.

2.9. Julgamento Antecipado do Mérito ou Tutela


Antecipada Provisória?

Antes de adentrar nessa discussão temos que ter em mente que não
é o momento em que é proferida a decisão que vai definir se ela é ou não de

38
Entende parte da doutrina que esse parágrafo deveria ter sido introduzido no art. 330 do CPC, como um dos
casos de julgamento antecipado da lide.
27

mérito, mas sim o grau de cognição exercido pelo juiz. A partir disso veremos se
estamos diante de Tutela Antecipada ou de um Julgamento Antecipado, de uma
decisão final com formação de coisa julgada material.
Estamos diante um caso de Tutela Antecipada quando o juiz, com
base em uma cognição sumária, antecipa os efeitos da sentença.
Falar de tutela antecipada fundada em pedido incontroverso é falar
de julgamento antecipado parcial da lide. Não estamos diante de uma mera tutela
antecipatória, mas sim diante de uma decisão interlocutória com força de
sentença, pois está havendo um julgamento sobre parte do mérito, fundado em
um juízo de certeza, de cognição exauriente, apto a produzir coisa julgada
material.
Note que a decisão interlocutória, ainda que seja de mérito, não faz
coisa julgada material, podendo no máximo estar acarretada pela segurança da
preclusão, o que torna inviável a possibilidade de execução definitiva do
provimento judicial proferido, tendo em vista que essa decisão interlocutória não
pode fazer coisa julgada material, exatamente pelo fato de não transitar em
julgado.
Por não se tratar de um título executivo judicial essa decisão não
pode dar ensejo a uma ação de execução, então diante do não cumprimento
espontâneo da determinação judicial, o autor fica sem meios de efetivar essa
tutela39.
Nesse sentido, temos o entendimento do doutrinador Sérgio Fadel,
em seu livro acerca da Antecipação da Tutela:40

“Com toda a certeza, a decisão que antecipa a tutela não constitui título
executivo judicial, qualificação que o art. 586 do CPC reserva as
sentenças ali referidas, com as quais não se confunde o ato judicial de
que se cuida.

Tanto não existe titulo executivo na antecipação de tutela que o §3º do


art. 273 do CPC, embora se refira a ‘execução da tutela’ manda que se
41
observe, no que couber o disposto nos incisos II e III do 588 do CPC,
que cuidam da execução provisória.”

Além disso, uma tutela antecipada provisória pode ser revogada na


sentença, exatamente o que tentamos evitar com a tese defendida.
Surge então uma discussão em torno da limitação da tutela do §6º
pelo requisito da revogabilidade42 das tutelas antecipadas (§2º do art. 273 do
CPC). Seria o §2º uma limitação ao §6º?

39
É importante ressaltar que as “astrentis” previstas no art. 461 do CPC não podem ser utilizadas no caso de
não cumprimento do art. 273, 6º do CPC por parte do réu, pois estas se destinam às obrigações de fazer e não
fazer.
40
FADEL, Sérgio Sahione. Antecipação da Tutela no Processo Civil. São Paulo: Dialética, 1998, p. 68
41
É importante mencionar que depois da edição da lei 11.232/05, tal dispositivo foi relocado para o art. 475-O
do Código de Processo Civil Brasileiro.
42
Trata-se de um requisito negativo para a concessão da Tutela Antecipada, pois é necessário que a
antecipação não implique na concessão de efeitos irreversíveis para que possa ser concedida.
28

Bem, depende do entendimento a ser adotado: entendermos que no


caso do §6º estamos diante de um julgamento antecipado parcial da lide,
obviamente que não há de se falar em qualquer limitação por conta da
irrevogabilidade da decisão, porque esta, uma vez concedida, é com caráter
definitivo, pois não há mais nenhum ponto a ser discutido a seu respeito, o que
ocasionou um juízo de certeza, de cognição exauriente, do magistrado que a
concedeu.
Agora se entendermos que essa tutela é apenas uma tutela
antecipada, o parágrafo segundo deve ser uma forma de limitar a sua concessão,
porque, em princípio, só os efeitos reversíveis da sentença que poderiam ser
antecipados. Note que esse entendimento deixa de resguardar uma série de
direitos que poderiam ser concedidos e não o são, além de prejudicar a celeridade
e efetividade do processo.
Uma vez concedida a tutela com base no §6º do art. 273, do CPC
entendemos não ser possível a revogação ou modificação dessa tutela, porque a
decisão que a concede é uma decisão definitiva, com conteúdo de sentença,
como veremos mais adiante, e sentenças não são modificáveis ou revogáveis no
nosso ordenamento jurídico (ressalvada a exceção do art. 296 e do 285-A, §1º do
CPC, alterado pela lei 11.277 de 07.02.2006), restando apenas ao Tribunal, ao
julgar um recurso, cassar ou reformar a decisão que a concedeu. Contra essa
decisão o recurso cabível é a Apelação, e após a formação de Coisa Julgada
Material, tal decisão só poderá ser modificada via Ação Rescisória.
Destarte, entendemos que o §6º também pode ser chamado de
“tutela antecipada para julgamento antecipado parcial da lide”. Nesse sentido
temos também o entendimento de doutrinadores como Marcelo Abelha, Fredie
Didier e Flávio Jorge Cheim43:

“Embora não tenha sido expressamente acolhida pelo legislador


reformista, essa técnica é perfeitamente aplicável, pois, com a
introdução do §6º no art. 273, rompeu-se com o dogma da unicidade do
julgamento. Tudo quanto se disser sobre resolução parcial do mérito por
incontrovérsia deve-se dizer sobre a resolução parcial de mérito pelo
julgamento de parte de um dos pedidos cumulados. São técnicas
semelhantes com função idêntica: possibilitar a solução paulatina (não
concentrada) do mérito da causa.”

Pode-se afirmar, sem dúvida, que agora, sempre que possível,


poderá o magistrado resolver parcialmente o mérito da causa, fracionando sua
apreciação, antes restrita ao momento de prolação da sentença.
Embora exista o dogma da proibição de ser cindido o julgamento
com a antecipação da decisão ao pedido que já se encontra apto para apreciação,
o art. 273, §6º do CPC, de forma inovadora e revolucionária rompeu com essa
idéia, e hoje parte da doutrina já entende ser possível o julgamento antecipado
parcial da lide e alguns já inclusive defendem a possibilidade da existência de
duas sentenças.
43
ABELHA, Marcelo; DIDIER, Fredie Jr.; CHEIM Flavio Jorge. A Nova Reforma Processual. 2ª Ed.
Saraiva. São Paulo, 2003, p.71.
29

Ex.: Caso de Litisconsorte Ativo Facultativo: juiz indefere para um


dos litisconsortes (sentença nos termos do art. 267, CPC). A lide continua para o
outro litisconsorte até o provimento final: note que na prática o que temos são
duas sentenças, a que excluiu um dos litisconsortes e a sentença final.
Ex.²: Quando duas pessoas cumularem pedidos, e uma delas decidir
fazer um acordo sobre a sua pretensão, caso de acordo parcial. Teremos uma
“sentença antecipada”, ou uma sentença interlocutória. Diante do não
cumprimento espontâneo desse acordo parcial não havia, de acordo com o
ordenamento vigente, como executar definitivamente essa decisão.

CAPÍTULO 3. Sentença:

3.1. Conceituação:

Quando falamos em atos do juiz, falamos de atos ordinátórios, que


são aqueles destinados a dar andamento ao processo, e de atos decisórios, que
são os atos emanados do juiz, quer sobre questões processuais, quer sobre
questões de mérito.
Segundo o art. 162 do Código de Processo Civil o ordenamento
brasileiro diz que os atos processuais consistem em sentenças44, decisões
interlocutórias e despachos. Por hora nos interessa apenas estudar o que diz
respeito a sentença45.
Ao longo do estudo acerca do tema, foi constatado que no direito
romano o termo “sententia” era sinônimo de sentença definitiva, ou seja, de
decisão emanada do juiz, que recebe ou rejeita a demanda. Era um provimento do
juiz que resolvia o pedido do autor. Já no processo comum medieval, que teve
influência do processo germânico, a sentença não era apenas o nome dado a uma
decisão de fundo, mas também a questões processuais incidentes. Eram
reconhecidos dois tipos de sentença: as interlocutórias e as definitivas.
O nosso código processual, como podemos observar em seu art.
162, §1º adotou a idéia de sentença oriunda do direito romano, e a doutrina tem
reservado a expressão sentença para as decisões de fundo ou de mérito, com as
quais o juiz de primeiro grau resolve a lide, nos termos do art. 267 e/ou 269 do
Código de Processo Civil. É um ato que ostenta conteúdo pré-definido em lei.
Antes de qualquer outra observação acerca do tema, temos que falar
dos requisitos processuais da sentença, previstos no art. 458 do CPC, são eles:

44
O §1º do art. 162 do CPC versa que a sentença é o ato do juiz que implica em algumas situações previstas
nos art. 267 e 269 desta lei.
45
Marcelo Abelha, em sua obra Elementos de Direito Processual Civil, vol.2, pág. 242, faz uma crítica a
imprecisão técnica quanto ao conceito de sentença, dizendo que nem sempre a sentença é o ato pelo qual o
juiz põem fim ao processo, que, na maioria das vezes termina por acórdão. Sugere que melhor teria sido essa
conceituação se o legislador tivesse dito que sentença é o pronunciamento pelo qual o juiz põe termo ao
procedimento em primeiro grau de jurisdição, decidindo ou não o mérito da causa.
Ainda nesse sentido, José Frederico Marques, Instituições de Direito Processual Civil, vol. III, p. 392-393.
30

- Relatório: é um sumario do processo. Contem os dados e


informações necessárias ao julgamento. É o relatório que determina o objeto da
sentença. Ele prepara o processo para o julgamento.
- Fundamentação: São as razões de fato e de direito que motivam a
decisão do magistrado. É a análise do direito material aplicado ao caso concreto.
- Dispositivo: É a decisão propriamente dita. É a resposta ao pedido
do autor, onde o juiz diz se acolhe ou não o pedido. É a parte da sentença que
transita em julgado.
A falta de quaisquer um desses requisitos, de acordo com o Código
de Processo Civil Brasileiro, acarreta a nulidade da sentença46.
Entende-se por sentença a técnica processual que torna possível a
prestação de tutela aos direitos. É o instrumento técnico através do qual o juiz
deve, ao término do processo, tutelar o direito objeto da lide.
São classificadas quanto a definitividade em: terminativas (que são
aquelas sentenças que põe fim ao processo sem lhe resolverem o mérito) e
definitivas (que são aquelas que decidem o mérito da causa, no todo ou em parte),
e quanto ao pedido imediato temos dois tipos de classificação defendida pela
doutrina: a quinária e a trinária.
Com relação a classificação trinária, as sentenças se subdivide em
declaratórias, condenatórias e constitutivas. Já no que diz respeito a classificação
quinária a doutrina acrescenta dois outros tipos de sentença: a mandamental e a
executiva.
A edição da lei nº 11.232/05, que unificou o processo de execução e
pôs fim ao critério topológico antes adotado pelo nosso ordenamento jurídico
quebrou também uma série de outros dogmas, mas não modificou a classificação
admitida pelo ordenamento vigente, que é a trinária.
Vejamos agora, o que caracteriza cada um dos tipos de sentença, e
o que as distingue.
Em regra, o processo só atua quando o direito não for suficiente para
se tornar efetivo. Dentre as crises que afetam o direito, é a crise de certeza que dá
ensejo ao processo de conhecimento, que requer um desses tipos de decisão. Ei-
las:
1) Declaratória: Apenas declara a existência ou inexistência, o modo
de ser da relação jurídica; visa conservar ou preservar o estado de coisas entre os
litigantes, até que o conflito se encerre. É esse tipo de sentença que faz atuar o
direito no caso concreto, declarando que está certo ou errado. Requer uma ampla
cognição. Tem diversas fases, exatamente para que a jurisdição possa reconhecer
o conflito como um todo. A carga de eficacia meramente declaratória é suficiente
para resolver a crise.
O Tribunal de Santa Catarina tem o seguinte entendimento em RT
629/206:

“A Ação Declaratória é meio processual hábil para se obter a


declaração de nulidade do processo que tiver corrido à revelia do réu por
ausência de citação ou por citação nulamente feita”47.

46
Vale lembrar que a lei nº 9099/90, que é a lei dos Juizados Especiais, em seu art. 38 dispensa o relatório.
31

2) Constitutiva: É a sentença que ao mesmo tempo declara quem


tem razão e constitui uma nova situação jurídica. É aquela sentença que antes de
criar modificar ou extinguir uma relação jurídica, declara algo que possibilita a
constituição ou desconstituição. Segundo Humberto Theodoro Júnior48 ela tem a
subfunção de definir o direito do caso concreto.

EX: Ação de Separação para desconstituição da Sociedade


Conjugal.

3) Condenatória: É aquela sentença que pode dar ensejo ao


processo de execução, por possuir sanção executiva.
Segundo Lieberman49 cabe à sentença condenatória reconhecer o
inadimplemento da obrigação do devedor para determinar e impor-lhe a sanção
respectiva, que, na espécie, é a sujeição à “execução forçada”, de sorte que
“condenar o devedor a pagar cem significa submete-lo a execução para a indicada
quantia”.
4) Mandamental: É a sentença que contém além da declaração do
Estado, uma ordem. Ela serve para que na prática as coisas se ordenem de
acordo com essa declaração. Ela visa eliminar a resistência que é fruto da dúvida,
ou seja, ela entende que a parte deve se comportar da maneira que a declaração
ordenou.
5) Executiva latu senso: É aquela sentença que conta com um
aparelho instrumental de múltipla resolução do conflito. É uma sentença que deve
ser multieficaz para que consiga resolver o litígio em todos os âmbitos que forem
necessários.
Ex: Ação de Despejo
Ainda no que tange a definição, o art. 459 do CPC versa que o juiz
proferirá a sentença acolhendo no todo ou em parte o pedido formulado pelo réu.
Infelizmente o direito brasileiro ainda entende como decisão
interlocutória a decisão que negar ou conceder a antecipação de tutela (lato
sensu).
Entende-se que em situações especiais, onde não há controvérsia
acerca do pedido do autor, deveríamos seguir a linha de raciocínio adotada pelo
sistema germânico, admitindo a existência de uma sentença interlocutória, pois o
que deve ser levado em consideração não é a mera nomenclatura ou a posição
onde este ato está localizado no processo, nem mesmo os efeitos gerados por
este (art. 262, CPC) ou o momento em que é proferido, mas sim o seu conteúdo
decisório, como finalmente passou a ser o entendimento adotado pelo nosso
ordenamento jurídico com base em uma perspectiva instrumentalista, após a
edição da recente lei nº 11.232/05.

47
Apud Marinoni, Luiz Guilherme. Manual do Processo de conhecimento, p. 464.
48
Theodoro Jr. Humberto. Sentença, p. 167
49
LIEBERMAN, Processo de Execução, 4ª ed., São Paulo, Saraiva, 1980, nº 7, p.17, apud Humberto
Theodoro Jr. em Sentença, p. 169.
32

Se essa sentença fosse admitida legalmente pelo nosso


ordenamento jurídico passaríamos a observar que apesar de ela não por fim ao
processo, ela resolve (ainda que em parte) o pedido do autor50, pondo fim a essa
controvérsia e permitindo que ele, o autor, tenha acesso ao seu pedido, sem
necessariamente precisar esperar a conclusão do processo, garantindo assim a
verdadeira aplicação dos princípios constitucionais da jurisdição como a
indeclinabilidade, a substitutividade, a segurança jurídica, a paz social, o acesso
justo e eficaz a justiça e a supremacia da norma de direito.
Note que se isso realmente acontecesse, esse instituto cumpriria
com a sua finalidade precípua que é a resolução do mérito (ou parte dele),
atendendo a perpectiva da instrumentalidade do processo, que busca um
processo civil de resultados, garantindo ao cidadão o acesso a uma ordem jurídica
justa.

3.2. Sentença Interlocutória:

A decisão que antecipa a tutela antes do processo estar encerrado é


interlocutória por definição. Aliás, qualquer decisão que resolve questão incidental,
mas não encerra o processo, é interlocutória (art. 162, §2º do CPC)51. O recurso
cabível para re-analisar esta decisão é o Agravo de Instrumento, nos termos do
art. 522, também do CPC.
A efetivação daquilo que é incontroverso faz-se como se sentença
fosse. Só não se trata de sentença mesmo por causa da sua função processual.
Essa decisão resolve a lide (ou parcela dela), mas não encerra o processo. É
formalmente uma decisão interlocutória, mas substancialmente é uma sentença,
pois ou tem conteúdo do art. 267, e/ou, mais provavelmente, conteúdo do art. 269
do CPC.
Nesses casos, o procedimento a ser adotado pelo juiz, em caso de
recurso contra essa decisão parcial (sentença interlocutória), deveria ser o
desmembramento do processo, para possibilitar o prosseguimento da ação em
relação aquilo que ainda se encontra controverso nos autos.
Exatamente por isso que o que estamos defendendo ao longo deste
trabalho é que a tutela antecipada fundada em pedido incontroverso deveria ser
caso de julgamento antecipado parcial da lide, logo, não se trata de simples tutela
antecipatória, como vimos anteriormente, mas sim de uma decisão interlocutória
com força de sentença, que deveria produzir os mesmos efeitos de uma sentença
final de mérito. Se é assim, porque não falar em sentença interlocutória??? Porque
50
Em sentido contrário: “A idéia de sentença é incompatível com a de interlocução, pois aquela tem por
objetivo final julgar (procedente ou improcedente) o pedido do autor, esta visa, precisamente, a preparar a
solução final. Logo, apóiam-se em noções que se excluem: interlocução é antecedente, que tem na sentença o
conseqüente ( E. D. Moniz de Aragão, Comentários ao Código de Processo Civil, Rio de Janeiro, Forense,
1ª ed, pp 39-40).
No mesmo sentido, Manuel José de Arruda Alvim Neto, Manual de Direito Processual Civil, São Paulo,
RT, para quem as decisões interlocutórias preparam o processo para receber a sentença final (Ambos apud J.
E. Carreira Alvim, em Elementos de Teoria Geral do Processo).
51
Há quem defenda que para evitar a procrastinação processual o recurso cabível contra a decisão que
concede tutela antecipada de pedido incontroverso é a apelação com a extração de uma carta de sentença.
33

não conceder a parte uma forma de efetivar o exercício pleno desse direito que já
é seu, sob o qual não pairam dúvidas fáticas?
A vantagem de se adotar esse entendimento, que aparentemente
está longe de ser admitido pelo nosso ordenamento jurídico justamente por conta
do conservadorismo reinante de dogmas e princípios que não foram quebrados ou
desmistificados, é que a sentença encontra-se no rol dos títulos executivos
judiciais, cabendo desde logo a execução definitiva daquilo que é incontroverso e
foi concedido em sede de tutela antecipada.
Ainda que houvesse recurso da decisão que a concedeu, este seria a
Apelação52 que seria julgada imediatamente pelo Tribunal, não sendo necessário
aguardar toda a fase de instrução processual.
Note que embora o efeito suspensivo seja a regra no nosso
ordenamento jurídico (Art. 520, caput do CPC), a apelação, neste caso, deverá ter
necessariamente apenas o efeito devolutivo (Art. 520, VII do CPC).
Nesses casos o juiz deverá determinar o desmembramento do
processo (art. 125; 262 c/c Poder Geral de Cautela) em caso de recurso contra tal
sentença interlocutória parcial, possibilitando o prosseguimento da ação em
relação à parte de pedido ou pedidos controvertidos.

3.3. Cisão do Julgamento:

Quando analisamos o CPC brasileiro concluímos que ele não permite


o julgamento antecipado do pedido, ou de um dos pedidos cumulados; isso porque
adotamos o princípio da unidade e unicidade do julgamento, que determina que o
mérito não pode ter o seu julgamento fracionado no processo53.
Ocorre que muitas vezes o julgamento final mostra-se intempestivo,
o que acarreta um ônus muito grande ao autor; além disso, há casos em que há
motivos para que o julgamento do mérito seja cindido, como, v.g., no caso em que
o demandado confirma parcela do débito, neste momento, essa parcela do pedido
se torna ponto incontroverso, não havendo motivos para que o demandante tenha
que esperar a decisão da parcela controvertida.
Em conformidade com esse entendimento, temos os escritos de Luis
Guilherme Marinoni:

“... Se o Código de Processo Civil, em homenagem ao princípio da


economia processual, admite a cumulação de pedidos, e um dos
pedidos está maduro para julgamento, enquanto o outro está a exigir
prova testemunhal e/ou prova pericial, é descabido penalizar o autor que
foi autorizado a cumular pedidos, obrigando-o a esperar por uma tutela

52
Sobre o tema vide também item 3.3, p. 48 deste trabalho.
53
“Esse principio quer expressar que o mérito não deve ser resolvido pelo juiz em partes, pois seria mais
adequado considerar toda a sua extensão quando do julgamento. Como conseqüência lógica, o processo
deveria viabilizar somente uma oportunidade – uma sentença – para a sua solução”. (Marinoni, Luiz
Guilherme. Técnica Processual e Tutela de Direitos, Ed. RT. São Paulo, 2004. p. 141.
34

jurisdicional que lhe poderia ser prestada com mais imediatidade caso
54
não houvesse optado pela cumulação” .

Exatamente por isso, entendemos que o legislador deu um passo


muito tímido em busca da efetividade do processo, pois aqui resta claro que
estamos diante de um provimento definitivo, de uma decisão interlocutória com
força de sentença, que inclusive produz efeito de coisa julgada55, sendo vedado
pelo sistema processual brasileiro o julgamento parcial de mérito.

“Que pena! O legislador não quis ousar mais, a ponto de autorizar


nesses casos um parcial julgamento antecipado do mérito (art. 330,I),
como fazem os art. 277, 2ª parte, e 278, do códice italiano. A rigidez do
procedimento brasileiro, no qual o mérito deve ser julgado em sentença
e a sentença será sempre uma só no processo (art.459, c/c art.269, inc. I
e art. 162, §1º), é somente um dogma estabelecido no direito positivo,
que bem valia a pena desmitificar; as duas Reformas do Código de
Processo Civil vêm proclamando a conveniência de agilizar o processo
com medidas pragmáticas e vêm debelando vários dogmas, o que
deveria ter conduzido a uma solução mais eficaz e menos tímida que
essa do novo § 6º do art. 273.

Mais otimista, Marinoni sustenta que o direito positivo brasileiro já


comporta aquelas cisões do julgamento da causa, para que algum dos
pedidos cumulados já receba julgamento de meritis e a instrução
prossiga com referência aos fatos controvertidos; associa seu alvitre à
técnica italiana chamada provvisionale, medida com que o juiz condena
o réu em parte do pedido genérico, quando a instrução já feita o permitir
(c.p.p., art. 278). Oxalá os tribunais o ouçam, especialmente agora que o
§ 6º do art. 273 do código brasileiro abriu caminho à desmitificação do
56
dogma da unidade do julgamento de mérito”.

Ainda sobre o assunto Marinoni vem reforçar o dizer de Dinarmarco


ao criticar o referido dogma:

“A realidade da prática forense demonstrou a necessidade da cisão do


julgamento do mérito. Por exemplo: se o demandado se limita a
constestar parcela do credito cobrado, a outra parcela da soma
postulada, como é obvio, não foi controvertida. No entanto, estabelecer
apenas um único momento para atender o contestado e ao não
controvertido implica em dilação indevida da realização do direito do

54
Luiz Guilherme Marinoni, Novas Linhas de Processo Civil, pág.124
55
Em sentido contrário: José Wilson Boiago Júnior – “Da Tutela Antecipada em decorrência do pedido
incontroverso”. www.jus.com.br - pág.06 - “… no caso da tutela do parágrafo 6º do artigo 273 do CPC,
parece que o melhor entendimento é de dar o caráter de decisão interlocutória, e não de uma sentença, pois
não há permissivo legal no ordenamento jurídico brasileiro que possibilite a divisão de julgamento em um
único processo, ou seja, não pode haver duas sentenças para analisar os pedidos de uma única petição inicial,
até porque, o objeto do processo é concentrado exclusivamente nos pedidos do autor, e com isso, o juiz deve
analisá-los todos de uma só vez ao proferir a sentença”
56
DINAMARCO, Cândido Rangel. A Reforma da Reforma. 3ª Edição. Editora Malheiros. São Paulo,
2002. p. 96; ver também: MARINONI, Luiz Guilherme. A Antecipação de Tutela, p. 345 e seg.
35

autor e, assim, constitui atentado contra o direito fundamental à tutela


57
jurisdicional efetiva”.

Ora, basta que paremos um pouquinho para analisar alguns


institutos jurídicos que já fazem ou fizeram parte do nosso ordenamento jurídico e
que coadunam com essa idéia.
A ação de prestação de contas é um exemplo, ela sempre existiu,
admitindo-se em seu corpo duas sentenças e isso nunca foi problema para o seu
desfecho, nem tão pouco para o nosso ordenamento jurídico. Outro exemplo
clássico é a Antiga Ação de Liquidação de Sentença, já extinta do nosso
ordenamento jurídico pelas atuais inovações legislativas. Nela também se
admitiam duas sentenças.

3.4. Problemas a serem enfrentados:

É evidente que com uma modificação tão drástica do ponto de vista


estrutural do processo civil venha a suscitar algumas indagações e dúvidas acerca
do procedimento a ser adotado diante da admissão dessa tese.
Antes de mais nada é necessário se ter em mente que um mero
procedimento formal não pode, de modo algum, inviabilizar os meios para que se
atinja a justiça aplicada ao caso concreto. Nenhum direito pode ser privado sobre
o mero argumento da formalidade processual.
Passaremos então aos pontos que parecem ser os mais difíceis de
serem compreendidos que são a fase recursal e a fase da execução dessa
sentença interlocutória, caso não haja recurso e a decisão transite em julgado.
Primeiramente já deixamos claro em capítulos anteriores que o
recurso cabível, no nosso entendimento, seria a Apelação, exatamente por se
tratar de uma decisão definitiva, por ter conteúdo de sentença e assim a
entendermos ser. Acontece que a primeira vista pode parecer que tal
procedimento nos levaria a uma enxurrada de apelações, o que embora tornasse
o direito do autor mais efetivo, abarrotaria o segundo grau. Essa é uma falsa
impressão, pois os julgamentos proferidos de acordo com a hipótese do §6º do art.
273 do CPC são realizados com base em uma cognição exauriente, decorrente da
incontrovérsia. Note que se o réu confessa um pedido ou parcela dele, faz uma
transação parcial, ou mesmo uma renúncia parcial dificilmente contestará em
segundo grau algo que outrora afirmou, transacionou ou renunciou em primeiro.
Por outro lado, o próprio reconhecimento da procedência do pedido constitui fato
impeditivo do poder de recorrer (preclusão lógica), pois ao reconhecer a
procedência do pedido, o réu praticou um ato incompatível com o desejo de ver
improcedente o pedido do autor.
É evidente que em alguns casos poderá o réu apelar dessa decisão,
como, v.g., nos casos em que houver presunção de veracidade de fatos, com
base nos efeitos do art. 302, do CPC, pois diante da não impugnação específica

57
Marinoni, Luiz Guilherme. Técnica Processual e Tutela de Direitos, Ed. RT. São Paulo, 2004,p. 143
36

ou da revelia propriamente dita, há apenas uma presunção não absoluta, que


poderá ser rediscutida, via apelação.
Embora seja esse o nosso entendimento, admitimos a possibilidade
de se observar tal questionamento por um outro prisma, pois alguns juristas ou
mesmo estudantes da ciência jurídica podem questionar: mas “se é uma decisão
interlocutória, ainda que a denominássemos de sentença, o recurso cabível
deveria ser o Agravo, exatamente por ser um provimento interlocutório!”.
Entendemos tal crítica, embora discordemos. Mas se a questão é basicamente o
tipo de recurso cabível, podemos até admitir que o recurso interposto seja o
agravo, desde que pautados no princípio da instrumentalidade e da efetividade do
processo, passemos a mitigar o principio da adequação.
Só para ressaltar, há quem defenda que para evitar a procrastinação
processual o recurso cabível contra a decisão que concede tutela antecipada de
pedido incontroverso é a apelação com a extração de uma carta de sentença, para
que seja possível a execução da medida concedida.
Passemos então ao segundo problema aparente, que é o fato de
haver recurso impugnando a decisão desta sentença interlocutória e o restante do
processo (referente a parte controversa da demanda) continuar o seu curso
normal. Aqui, estamos diante de mera questão procedimental, a qual resolvemos
facilmente com a cisão também do processo, pois deveremos fazer autos
suplementares, com bases procedimentais próprias para cada demanda. Daí, o
processo com a sentença interlocutória pode ser reanalisado, respeitados os
limites preclusivos supracitados, e executado definitivamente, como se ação
autônoma o fosse58.
Note que embora o efeito suspensivo seja a regra no nosso
ordenamento jurídico (Art. 520, caput do CPC), a apelação, neste caso de cisão
do julgamento, deverá ter necessariamente apenas o efeito devolutivo (Art. 520,
VII do CPC).
Diante dessa situação o juiz deverá determinar o desmembramento
do processo (art. 125; 262 c/c Poder Geral de Cautela) em caso de recurso contra
tal sentença interlocutória parcial, possibilitando o prosseguimento da ação em
relação à parte de pedido ou pedidos controvertidos.

CAPÍTULO 4 – CRÍTICAS E SUGESTÕES:

4.1 - Crítica Dogmática:

58
Não há nenhum impedimento legal no nosso ordenamento jurídico que impeça tal procedimento, pois há
autorização expressa no CPC permitindo que se criem autos suplementares (art.159, do CPC). Além disso, o
nosso ordenamento jurídico admite essa cisão do processo, como por exemplo no caso de litisconsortes
multietudinários, onde se permite que o juiz separe em demandas autônomas, ou limite o numero de
litisconsortes a tantos quantos achar viável.
37

A Reforma advinda com a lei nº 10.444/02 foi tímida porque,


conforme vimos anteriormente, não rompeu com o velho Princípio Chiovendiano
“della unità e unicità della decisione” 59.
O § 6º do art. 273 do CPC parece, na prática, ser contrário a essa
afirmação, pois este apresenta esse espírito de rompimento com tal Dogma,
admitindo, quando na hipótese de sua incidência, a fragmentação do julgamento;
pois se ele fosse apenas mais um tipo de tutela deveria estar no inciso III do 273,
do CPC, só que o que observamos neste caso é uma figura um pouco diferente.
Os pressupostos específicos para a concessão da tutela do § 6º do
art. 273 do CPC, como já exposto neste trabalho, não são os mesmos que se
exige nos casos de concessão de tutela previstas nos inciso I e II. Aqui não se
exige a verossimilhança da alegação, pois o pedido não apresenta qualquer
controvérsia, tornando-se indiscutível; tão pouco se exige perigo de dano ou
quaisquer outros requisitos do art. 273 do CPC. O que se exige é a instrução do
contraditório (limitado a contestação) para que o Estado-Juiz possa aferir a
ausência de litígio acerca do direito pleiteado.
Note que estamos diante de uma antinomia criada entre a regra geral
(art. 162, §1º do CPC), que constitui um verdadeiro dogma do direito processual e
a norma peculiar ou especial (art. 273, §6º do CPC). E como é sabido, quando
isso ocorrer, o que deve prevalecer dentro do ordenamento jurídico é a lei
especial, já que mais específica sobre o tema.

4.1. Sugestão de redação de dispositivo:

Exatamente por entender que o critério topográfico do instituto da


Tutela Antecipada em relação a parcela incontroversa da demanda encontra-se
equivocado, é que venho defender que tal instituto refere-se a um caso de
resolução parcial da lide, e não de uma mera tutela antecipada; pois não estamos,
nesse caso, diante de mera antecipação dos efeitos da sentença final, mas sim de
uma decisão definitiva, pautada em uma cognição exauriente e capaz de produzir
coisa julgada material, que não precisa ser confirmado em decisão futura.
Por conta da absoluta autonomia deste instituto é que entendo tratar-
se de uma nova modalidade de julgamento conforme o estado do processo60,
tratando-se de um dos casos de julgamento antecipado da lide, só que de forma
parcial.
O nosso sistema processual sempre utilizou o julgamento antecipado
da lide para resolver toda a questão processual posta em juízo, ou seja, nos casos
em que a causa não dependesse mais de novas provas. Ocorre que com a
previsão da tutela antecipada do art. 273 do CPC houve o rompimento dessa
unidade da sentença, permitindo que se decida parcela do pedido, somente em
relação ao pedido ou a parte do pedido que já se encontrar madura para o
julgamento.
59
É o conhecido Princípio da Unidade e Unicidade do Julgamento. Esse princípio determina que a Ação
proposta deve ser julgada de uma só vez, sendo inviável a fragmentação do julgamento.
60
Também nesse sentido ABELHA, Marcelo; DIDIER, Fredie Jr.; CHEIM Flavio Jorge. A Nova Reforma
Processual. 2ª Ed. Saraiva. São Paulo, 2003, pág. 75.
38

Em decorrência desse entendimento é que propomos a modificação


de alguns dispositivos do Código de Processo Civil, que aparentemente está longe
de ser admitido por nosso ordenamento jurídico.
Note que embora o capítulo no qual está inserido o art. 330 do CPC
refira-se ao julgamento antecipado da lide, e trate de uma forma de julgamento da
lide integralmente conforme o estado do processo, quando vamos observar o art.
330, ele fala em julgamento do pedido, o que nos permite fazer uma inclusão da
idéia defendida ao longo deste trabalho, nesse tópico do código. Vejamos como
ficaria:
Art. 330, III, do CPC: nos casos previstos no art. 273, § 6º do CPC,
prosseguindo-se o processo quanto a parte controversa da demanda.
Faz-se necessário uma reforma no art. 520, VII, que deveria ser
redigido, se tal entendimento fosse admitido no nosso ordenamento jurídico, de
forma a prever o recurso de apelação para esses casos.
Art. 520, VII do CPC: “... Sentença que confirmar os efeitos da tutela
ou que concede-la antecipadamente nos casos do art. 330, III do CPC”.
Também é possível se mexer em outro dispositivo processual,
embora entendamos que seria mais adequado alterar o art. 330 do CPC.
Vejamos como ficaria a outra sugestão. Temos a seguinte redação
para um possível § 6º - A do art. 273:
“Nos casos do parágrafo anterior, o juiz poderá cindir o julgamento
de mérito, proferindo sentença intermediária em relação a parte incontroversa da
demanda”.
Temos como exemplo, os casos de acordo parcial, onde o juiz, após
homologar parcialmente o acordo deveria cindir o julgamento, dando as partes o
direito acerca do qual já não havia mais qualquer discussão fática.
Outro exemplo também pode ser vislumbrado no caso de pedidos
cumulados, quando um dos pedidos já se encontrar maduro para o julgamento, e
o outro pedido ainda necessitar de dilação probatória, ou mesmo nos casos em
que o juiz pode (depois da edição da lei nº 11.280/06) proferir de oficio a sentença
que pronuncia a prescrição.
Teríamos que fazer um link do art. 459 do CPC com o artigo
supracitado. Para essa situação, sugerimos a seguinte modificação.
O art. 459 do CPC seria acrescentado do § 1º e passaria a ter a
seguinte redação:
Art. 459, §1º do CPC: O juiz também proferirá sentença de mérito
nos termos do art. 273, §6º-A.
Além disso, para que tal modificação ficasse com um certo rigor
técnico, também se faz necessário uma reforma no art. 520, VII, do CPC, já que é
esse dispositivo que trata do cabimento do recurso de apelação, a fim de abrange
a sentença intermediária, por ora proposta. É evidente que tal dispositivo deveria
ser redigido, se tal entendimento fosse admitido no nosso ordenamento de forma a
prever o recurso de apelação para esses casos.
Art. 520, VII do CPC: “Sentença que confirmar os efeitos da tutela ou
que a conceder antecipadamente”.
39

CONCLUSÃO:

O objetivo precípuo deste trabalho vai muito além de uma mera


critica dogmática. O que tentamos na realidade foi demonstrar que a criação de
um novo instrumento processual pode ser capaz de agilizar o procedimento e dar
uma maior efetividade à pretensão do autor.
Com a evolução da sociedade, os conflitos de interesse tornam-se
mais complexos, e cabe a nós: operadores, criadores e estudiosos do direito,
buscar meios alternativos mais eficazes e céleres para que se alcance a tão
sonhada justiça.
É por isso que ao longo desse estudo sugerimos a chamada
“sentença interlocutória”, pois pouco importa a natureza jurídica de um
determinado pronunciamento jurisdicional; o que se busca vai muito mais além de
nomenclaturas e limites técnicos; o que se busca é a efetivação do direito do autor
em tempo hábil, capaz de satisfazer a sua pretensão de forma segura e eficaz,
exatamente por isso que tentamos sempre dar uma visão instrumental ao
processo, para que as formas não preponderem sobre o direito material.
Devemos tentar superar as dificuldades formais, porque a forma não
pode definir a função do processo, ou seja, a decisão formal não pode dificultar os
efeitos regulares que o processo possa surtir. Sendo assim, não há que se falar
em execução provisória diante da existência prática de um provimento definitivo,
como tem acontecido nos caso de concessão de tutela antecipada por motivo de
pedido incontroverso. É imprescindível que o processo esteja dotado de uma
técnica que, atuando no seu interior viabilize a tutela do direito que está a exigir o
julgamento imediato.
O foco do processualista não deve se limitar a mera concessão da
tutela, mas também a fornecer meios capazes de efetivar a sua realização
concreta. Exatamente por isso que o processo se põe como instrumento do direito
material, para que se busque a realização de justiça social eficaz e equânime.
Não podemos deixar que as formalidades processuais e o preciosismos do
sistema seja ineficaz.

Como brilhantemente comenta Marinoni, em sua obra acerca da


Antecipação de Tutela e Julgamento Antecipado61:

“Se a Antecipação possui a finalidade de conferir tutela jurisdicional mais


célere, impedindo que aquele que recorrer ao Poder Judiciário seja
prejudicado pelo tempo da “justiça”, é pouco mais do que evidente que
somente há efetiva antecipação da tutela quando esta é executada....
... Se a Tutela depende de atos executivos, ela somente é efetivamente
entregue ao seu destinatário no momento em que é executada”.

61
MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela Antecipatória e Julgamento Antecipado: Parte Incontroversa da
Demanda, 5ª Ed. São Paulo: Editora RT, 2002, p. 202.
40

As divergências e disparidades de opinião sempre vão existir e são


elas que servem de estimulo para as transformações sociais, culturais e históricas.
O dinamismo da vida moderna exige mudanças e superações, tanto de leis quanto
de dogmas. Não podemos nos prender a visões arcaicas e ultrapassadas, temos
que estar em constante superação.
É assim que o direito evolui.

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41

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